Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Departamento de Física
Curso: Física Bacharelado
Disciplina: Introdução a Mecânica Quântica I - CD0262
Professor: Dr.José Ramos Gonçalves

Avaliação I.

Matheus Henrique de Sousa Macedo - 412760

Fortaleza-CE
20 de novembro de 2021
Sumário
Problema 1 2
Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

Problema 2 8
Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Problema 3 9
Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Problema 4 10
Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

1
Problema 1
Considere um sistema físico cujo espaço de estados, que é tridimensional, é gerado por uma
base ortonormal formada por três kets |ui i, |u2 i, |u3 i. Nesta base, os operadores A e B são
representados, respectivamente, pelas matrizes
   
a 0 0 b 0 0
A = 0 −a 0  ; B = 0 0 −ib
   

0 0 −a 0 ib 0

em que a e b são constantes reais.


• Obviamente A exibe um espectro degenerado. O operador também exibe um espectro
degenerado?
• Mostre que A e B são operadores Hermitianos e que comutam.
• Encontre um novo conjunto de kets ortogonais que são simultaneamente autokets de A e
B. Especifique os autovalores de A e B para cada um dos três autokets. Sua especificação
dos autovalores completamente caracteriza cada autoket?

Solução
A base dos espaço de estados dada pelo enunciado corresponde ao conjunto dos kets

E = {|u1 i, |u2 i, |u3 i} (1.1)

Dizer que E é uma base ortonormal equivale a dizer que:

(i) hu1 |u1 i = hu2 |u2 i = hu3 |u3 i = 1


(ii) hu1 |u2 i = hu2 |u1 i = hu1 |u3 i = hu3 |u1 i = hu2 |u3 i = hu3 |u2 i = 0

Além disso, E é uma base completa, ou seja, seus elementos obedecem à relação de fechamento

3
X
1= |uj ihuj | = |u1 ihu1 | + |u2 ihu2 | + |u3 ihu3 | (1.2)
j=1

Lembremo-nos de que os operadores podem ser representados como matrizes de dimensão


N × N , onde N corresponde à dimensão do espaço de estados em questão (no caso desse
exercício, N = 3). Os elementos de matriz de um operador, digamos A, na base escolhida

2
para o espaço de estados é, por sua vez, nada mais do que

Aij = hui |A|uj i

É importante notar que o índice i refere-se à linha da matriz, enquanto que j refere-se à
coluna. Desse modo, Aij corresponde ao número (que pode ser real ou complexo) que estará
na i-ésima linha e j-ésima coluna da representação matricial do operador A. Isso posto, as
representações matriciais dos operadores A e B, dados no enunciado, na base |u1 i são
   
hu1 |A|u1 i hu1 |A|u2 i hu1 |A|u3 i a 0 0
A = hu2 |A|u1 i hu2 |A|u2 i hu2 |A|u3 i = 0 −a 0  (1.3)
   

hu3 |A|u1 i hu3 |A|u2 i hu3 |A|u3 i 0 0 −a

e    
hu1 |B|u1 i hu1 |B|u2 i hu1 |B|u3 i b 0 0
B = hu2 |B|u1 i hu2 |B|u2 i hu2 |B|u3 i = 0 0 −ib (1.4)
   

hu3 |B|u1 i hu3 |B|u2 i hu3 |B|u3 i 0 ib 0

(a): É necessário encontrar os autovalores e autovetores da matriz (1.4), ou seja, temos que
resolver a equação de autovalores
    
b 0 0 v1 v1
0 0 −ib v2  = λ v2  (1.5)
    

0 ib 0 v3 v3
 
v1
onde v = v2  correspondem aos autovetores e λ aos respectivos autovalores de B. Podemos
 

v3
reescrever (1.5) da seguinte maneira
  
b−λ 0 0 v1
 0 −λ −ib v2  = 0 (1.6)
  

0 ib −λ v3

ou, equivalentemente [B − λ1]v = 0. Sabemos, da álgebra linear que (1.6) tem solução não
trivial se  
b−λ 0 0
det  0 −λ −ib = 0 ⇒ (λ − b)2 (λ + b) = 0 (1.7)
 

0 ib −λ

3
As raízes da equação característica (λ − b)2 (λ + b) = 0 nos dão os autovalores de B e,
já que se trata de uma equação de terceiro grau, temos três autovalores, sendo dois deles
degenerados:
λ1 = λ2 = b e λ3 = −b

Vamos, agora, calcular os autovalores para cada um dos autovalores:


1. Para λ3 = −b   
2b 0 0 v1
[B + b1]v = 0 ⇒  0 b −ib v2  = 0
  

0 ib b v3
Então, para encontrarmos as componentes v1 , v2 e v3 do autovetor relativo a λ3 , temos que
resolver o sistema linear 

 2bv1 = 0
bv2 − ibv3 = 0 (1.8)

ibv2 + bv3 = 0

Note que as duas últimas equações do sistema (1.8) são linearmente dependentes. De
(1.8), obtemos v1 = 0 e v2 = iv3 . Portanto,
   
v1 0
v = v2  = v3  i 
   

v3 1

Exigindo que v seja normalizado, encontrarmos v3 = 1/ 2. Logo, para o autovalor λ3 = −b,
 
q 0
1 
temos o autovetor v = 2  i , ou, em termos dos kets da base |u1 i
1
r
1
v= [i|u2 i + |u3 i] (1.9)
2

2. Para λ1 = λ2 = b
  
0 0 0 w1
[B − b1]w = 0 ⇒ 0 −b −ib w2  = 0
  

0 ib −b w3

Nesse caso, temos apenas duas equações (que são linearmente dependentes) no sistema linear

4
− bw2 − ibw3 = 0
(1.10)
ibw2 − bw3 = 0
de modo que tanto w1 quanto w2 (ou w3 ) ficam indeterminados. De (1.10), obtemos w3 = iw2 .
Logo:        
w1 w1 1 0
w = w2  =  w2  = w1 0 + w2 1
       

w3 iw2 0 i
   
1 0
Note que w1 0 + w2 1 são ortogonais entre sí e também são ortogonais ao autovetor
   

0 i
da equação (1.10). Assim,
 
1
w(1) = 0 = |u1 i (1.11)
 

0
e  
r 0 r
1  1
w(2) = 1 = (|u2 i + i|u3 i) (1.12)
2 2
i
são os dois autovetores ortonormais relativos ao autovalor degenerado λ1 = λ2 = b. Portanto,
o espectro de B, assim como o de A é degenerado. Resumindo os resultados do item (a), os
autovalores1 e respectivos autoestados do operador B são:

b1 = b → |b1 i = |u1 i
r
1
b2 = b → |b1 i = [|u2 i + i|u3 i]
2
r
1
b3 = −b →|b3 i = [|u2 i + i|u3 i]
2

b): Mostremos que A e B são Hermitianos:


 T ∗  ∗  
a 0 0 a 0 0 a 0 0
A† = 
  
0 −a 0  = 0 −a 0  = 0 −a 0  = A
   
  
0 0 −a 0 0 −a 0 0 −a
1
Importante: mudei a notação que estava utilizando até o momento: chamei λ1 = b1 , λ2 = b2 e λ3 = b3 .

5
 T ∗  ∗  
b 0 0 b 0 0 b 0 0
B† = 
  
0 0 −ib  = 0 0 ib = 0 0 −ib = B
   
  
0 ib 0 0 −ib 0 0 ib 0

Por fim, mostremos que A e B comutam:


    
a 0 0 b 0 0 ab 0 0
AB = 0 −a 0  0 0 −ib =  0 0 iab
    

0 0 −a 0 ib 0 0 −iab 0
    
b 0 0 a 0 0 ab 0 0
BA = 0 0 −ib 0 −a 0  =  0 0 iab
    

0 ib 0 0 0 −a 0 −iab 0
Logo,
AB = BA ⇒ [A, B] = 0 ⇒ A e B comutam!!

(c) Note que o operador A já é diagonal na base E , Eq.(1.1). Então, seus autovalores e
auto-estados são:
a1 = +a → |a1 i = |u1 i
a2 = −a → |a2 i = |u2 i
a3 = −a → |a3 i = |u3 i
como a2 e a3 são autovalores degenerados de A, qualquer combinação linear dos kets |a2 i e
|a3 i continuam sendo auto-estados de A com autovalor −a. Pois,

A(α|a2 i + β|a3 i) = αA|a2 i + βA|a3 i = −a(α|a2 i + β|a3 i)

Em particular, podemos tomar as combinações lineares


r r
1 1
[|u2 i + i|u3 i] e [i|u2 i + |u3 i]
2 2

Portanto,
|v1 i ≡ |u1 i (1.13)

r
1
|v2 i ≡ [|u2 i + i|u3 i] (1.14)
2
e r
1
|v3 i ≡ [i|u2 i + |u3 i] (1.15)
2

6
são autovetores comuns a A e B. Ou seja, na base formada pelos kets |v1 i, |v2 i e |v3 i, tanto
A quanto B são diagonais. Mostramos que (1.13), (1.14) e (1.15) são autovetores comuns a
A e B. Esses kets são relativos aos seguintes autovalores de A e B:

Autovalores de A autovetores de B autoestados


+a +b → |vi1 = |u1 i ≡ |a, bi
r
1
−a +b → |u2 i = [|u2 i + i|u3 i] ≡ |−a, bi
r 2
1
−a −b → |u3 i = [i|u2 i + |u3 i] ≡ |−a, −bi
2

Portanto, cada possível dupla de autovalores de A e B determina unicamente um autoestado


comum
r desses operadores: por exemplo, o único estado relacionado aos autovalores −a e b
1
é [|u2 i + i|u3 i]. Uma vez que os operadores A e B apresentam uma base comum que
2
os diagonaliza e seus auto-estados em comum são unicamente determinados pelas duplas de
autovalores, A e B formam um conjunto completo de observáveis que comutam (C.C..C).

7
Problema 2
Mostre que
Tr(ABC) = Tr(BCA) = Tr(CAB)

Solução
Temos que
!
X X X X
Tr(ABC) = hui |ABC|ui i = hui |A |uj ihuj | BC|ui i = hui |A|uj ihuj |BC|ui i
i i j i,j
| {z }
1
!
X X X X
= huj |BC|ui ihui |A|uj i = huj |BC |ui ihui | A|uj i = huj |BCA|uj i
i,j j i j
| {z }
1

= Tr(BCA)

e analogamente,
!
X X X X
Tr(ABC) = hui |ABC|ui i = hui |AB |uj ihuj | C|ui i = hui |AB|uj ihuj |C|ui i
i i j i,j
| {z }
1
!
X X X X
= huj |C|ui ihui |AB|uj i = huj |C |ui ihui | AB|uj i = huj |CAB|uj i
i,j j i j
| {z }
1

= Tr(CAB)

assim,
Tr(ABC) = Tr(BCA) = Tr(CAB)

8
Problema 3
Mostre que o produto de dois operadores unitários é também um operador unitário.

Solução
Um operador U é unitário se
U U † = U †U = 1

isto é, se sua inversa é igual ao seu adjunto. Tomemos dois operadores unitários U e V , então

U †U = U U † = 1
V †V = V V † = 1

Então, usando-se do fato de que (U V )† = V † U †

(U V )† (U V ) = V † U †
|{z}U V = V †V = 1
1

(U V )(U V ) = U V V † U† = UU† = 1
|{z}
1

o que mostra que de fato o produto entre os operadores U V é unitário.

9
Problema 4
i
Usando-se a relação hx|pi = (2π~)−1/2 e ~ px , encontre as expressões hx|XP |ψi e hx|P X|ψi em
termos de ψ(x). Esses resultados podem ser encontrados diretamente, usando-se o fato de
que na representação {|xi}, P age como hi dx d
?

Solução
• hx|XP |ψi pela representação {|pi}:
No livro do Cohen é mostrado que

i
hx|pi = (2π~)−1/2 e ~ px

deste modo calculemos hx|XP |ψi:


Z
hx|XP |pi = dphx|X|pihp|P |ψi

mas pela Equação (E-22-a) do Cohen cm ψ → p, temos que

i
hx|X|pi = xhx|pi = x(2π~)−1/2 e ~ px

e pela Equação (E-24-a) e (E-8-b) do Cohen:

hp|P |ψi = php|ψi = p ψ(p)

ao passo que Z h i
i
hx|XP |pi = dp x(2π~)−1/2 e ~ px p ψ(p)
 Z +∞ 
1 i
px
=x √ dp e ~ p ψ(p)
2π~ −∞
todavia, lembremos de que [Equação (E-25-a) do apêndice 1 do Cohen]
     Z 
d 0 ip ~ 1 0 − ~i px0 d 0
F ψ(x ) = ψ(p) ⇒ √ dx e ψ(x ) = p ψ(p)
dx0 ~ i 2π~ dx0

o que nos leva para


 Z +∞   Z 
1 i
px ~ 1 0 − ~i px0 d 0
hx|XP |pi = x √ dp e ~ √ dx e ψ(x )
2π~ −∞ i 2π~ dx0

10
ou,  Z  Z 
~ 1 0 d 0 1 i
p(x−x0 )
hx|XP |pi = x √ dx ψ(x ) √ dp e ~
i 2π~ dx0 2π~
mas Z
i 0
dp e ~ p(x−x ) = 2π~ δ(x0 − x)

finalmente obtemos que


 Z  
~ 1 0 d 0 1 0
hx|XP |pi = x √ dx ψ(x ) √ 2π~ δ(x − x)
i 2π~ dx0 2π~
Z
~ d
=x dx0 δ(x0 − x) 0 ψ(x0 )
i dx
~ d
=x ψ(x)
i dx

• hx|XP |ψi pela representação {|xi}:


Note que Z +∞
hx|XP |ψi = dx0 hx|X|x0 ihx0 |P |ψi
−∞
Z +∞
= dx0 xhx|x0 ihx0 |P |ψi
−∞
Z +∞
=x dx0 δ(x − x0 )hx0 |P |ψi
−∞

= xhx|P |ψi
porém,
~ d
hx|P |ψi = ψ(x)
i dx
o que implica que
~ d
hx|XP |pi = x
ψ(x)
i dx
o que mostra que hx|XP |ψi pode ser encontrado diretamente usando o fato de que P na
representação da posição é (~/i)(d/dx).
• hx|P X|ψi pela representação {|xi}:
Z +∞
hx|P X|ψi = dx0 hx|P |x0 ihx0 |X|ψi
−∞

note contudo que por (E-26) do Cohen com r → x e ψ → x0 :

~ d ~ d
hx|P |x0 i = hx|x0 i = δ(x − x0 )
i dx i dx

11
e por (E-22-a) com r → x0
hx0 |X|ψi = x0 hx0 |ψi = x0 ψ(x0 )

estes resultados implicam que


Z +∞ Z +∞ 
0~ d ~ d
hx|P X|ψi = dx δ(x − x0 )x0 ψ(x0 ) = 0 0
dx δ(x − x )x ψ(x ) 0 0
−∞ i dx i dx −∞
~ d
= (xψ(x))
i dx

o que mostra que hx|P X|ψi pode ser encontrado diretamente usando o fato de que P na
representação da posição é (~/i)(d/dx).
• hx|P X|ψi pela representação {|pi}:
Z +∞
hx|P X|ψi = dphx|P |pihp|X|ψi
−∞
Z +∞   Z +∞
~ d
= dp hx|pi dx0 hp|x0 ihx0 |X|ψi
−∞ i dx −∞
Z +∞   Z +∞  
~ d 1 i
0 1 − ~i px0
= dp √ e ~
px
dx √ e x0 hx0 |ψi
i −∞ dx 2π~ 2π~
Z +∞  −∞
 Z +∞ 
~ d 1 i
px 1 0
 i 0
− px 0 0
= dp √ e~ √ dx e ~ x ψ(x )
i dx −∞ 2π~ 2π~ −∞

onde troquei a ordem da derivada com a integral em virtude da integração ser em relação a
p e não em x, portanto
 Z +∞ Z +∞ 
~ d 1 0 0 0 i
p(x−x0 )
hx|P X|ψi = dx x ψ(x ) dp e ~
i dx 2π~ −∞ −∞

todavia Z +∞
i 0
dp e ~ p(x−x ) = 2π~ δ(x0 − x)
−∞

logo, Z +∞ 
~ d 0 0 0 0
hx|P X|ψi = dx δ(x − x)x ψ(x )
i dx −∞
~ d
= (xψ(x))
i dx

12

Você também pode gostar