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FICHAMENTO
CAICÓ-RN
2021
André Felipe Gabriel Tavares
PRIORI, Mary del & VENÂNCIO, Renato Pinto. Ancestrais: uma introdução à História da
África Atlântica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004
“cada grupo estendia ou diminuía suas fronteiras de acordo com a variedade de situações:
guerras, aumento de população, secas, ameaça de temidos feiticeiros, podiam levar jovens do
sexo masculino a abrir frentes e estabelecer-se em outros territórios, nas vizinhanças”
(PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.03)
“Os já mencionados dogons reuniam originalmente grupos de tradições e línguas tão diversas
que, muitas vezes, vizinhos há poucas centenas de metros não se compreendiam. Mas foi essa
diversidade que permitiu a criação de uma sociedade extremamente móvel, pronta a se
deslocar cada vez que seus recursos pareciam limitados ou ameaçados.” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.04)
“Começava, assim, um novo tempo, tempo livre do nomadismo que tradicionalmente obrigva
grupos de famintos a procurar novas terras” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.05)
“Tais aldeias separavam-se umas das outras por grande extensão de terra desabitada. Aí, as
primeiras estruturas políticas importantes tomaram forma antes do ano 1000” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.08)
“Exceto nas regiões mais secas, a malária era o mais fatal dos males, ceifando muitos recém-
nascidos. Em razão de essa doença não se ter disseminado nas altas terras de Camarões, a
região conheceu uma colonização intensiva” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.08)
“O banto primitivo possui um radical para a palavra remédio, “ti”. que é o mesmo para árvore,
indicando que as práticas de cura guardavam estreita relação com o conhecimento das
plantas” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.08)
“Autores árabes contam, por exemplo, que no meado do século XI um soberano de Malal, no
Mali, teria posto fim à fome convertendo-se ao Islã: “na hora em que pronunciou a prece da
sexta-feira, a chuva caiu”” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.09)
“as fomes, contudo, eram horrivelmente destrutoras. Eles empurravam os grupos a trocar suas
crianças por comida, famílias a vender seus filhos e dependentes por um alqueire de sorgo ou
milhete, e homens e mulheres a se deixar escravizar para não morrer de inação.” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.09)
“Foi assim, também, em 1736 e 1756, quando a região foi assolada por secas e gafanhotos.
Teria morrido, provavelmente, metade da população de Tombuctu, localizada na encruzilhada
das mais ricas rotas transaarianas, levando Akbar Molouk a anotar: “As pessoas mais distintas
só comiam grãos e ervas e toda a sorte de cereais que em tempos normais eram comidos pelos
mais pobres”; esses últimos, segundo alguns autores, ficaram sujeitos a comer-se entre si, o
que na África era considerado um crime gravíssimo.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.11)
“Estas terríveis realidades levavam os africanos ocidentais a dar a maior importância à sua
descendência. Não à toa, um provérbio iorubá sublinhava: “Sem filhos, estás nu.” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.12)
“Filhos garantiam seu bem-estar na velhice, asseguravam sua sobrevivência como ancestrais,
determinavam a existência de grupos familiares em sociedades por vezes, violentas.”
(PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.12)
“O fator que delimitava o número de filhos não era a contracepção voluntária, mas o
aleitamento materno, tão necessário, muitas vezes, o único alimento da criança.” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.13)
“A despeito dos ferozes castigos impingidos a adúlteras, essa situação conviveu com ligações
extraconjugais, e registradas por Ibn-Batuta no seguinte comentário: “é pior uma mulher ser
acusada de esterilidade do que por adultério”.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.14)
“A vida urbana era regida por várias atividades lúdicas: canto, jogos, danças, sem falar nas
cerimônias religiosas tradicionais. Ela estava fundada na organização familiar, na repartição
de funções entre homens e mulheres, velhos e crianças. Convenções especiais definiam quase
sempre o lugar e o estatuto de estrangeiros.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.19)
“Onde a organização das aldeias era forte, a religião apoiava-se em sociedades secretas cujo o
objetivo era tirar força dos espíritos para curar doenças, assegurar fertilidade e combater
feitiços” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.26)
“Ala fundiu-se com o espírito criador. Emprestou-se da nova fé a ideia de anjos e demônios.
Adotou-se a idéia de uma figura profética capaz de revelar o saber divino aos homens.
Resultou disso, uma variedade de crenças que os soberanos encorajavam na preocupação de
manter a harmonia.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.28)
“Sob certos aspectos, até o século XV, as sociedades da África Ocidental não se distinguiam
muito de algumas européias – tanto nessas como naquelas, a população era fundamentalmente
rural, dependendo prioritariamente do trabalho familiar para sobreviver – e seguiam seu
cotidiano sem se dar conta daquela que mudaria dramaticamente milhões de vidas: a
instalação definitiva de rotas de comércio de escravos conduzidas por europeus.” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.30)
No decorrer do segundo capítulo foi abordado o comércio de escravos entre nações
europeias e africanas com principal intuito de mão-de-obra para as colônias europeias nas
Américas. O texto apresenta o conceito da instituição escravocrata pré-colonial no continente
africano, a rotina dos escravos nos navios negreiros e relatos de terceiros que ali
testemunharam tamanho sofrimento nas embarcações.
“Mesmo após a generalização da primeira expressão, uma coisa que parece certa: os
“africanos” não se consideravam como tal, não existindo homogeneidade cultural, política ou
social, nem muito menos uma identidade em comum, ao contrário do que sugere a referida
designação.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.32)
“Em certo sentido, a especificidade da África Atlântica decorre de seu contato tardio com
os europeus. Tal regionalização originou-se da expansão ultramarina européia, em áreas
compreendidas entre Alta Guiné – ou, mais precisamente, Senegâmbia – e Angola.” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.33)
“Estes negros, tanto machos como fêmeas, vinham ver-me como uma maravilha, e
parecia-lhes coisa extraordinária ver um cristão em tal lugar, nunca dantes visto; e não menos
se espantavam do meu trajo e da minha brancura; o qual trajo era à espanhola, com jubão, e
muito pasmavam; alguns tocavam-me nas mãos e nos braços, com cuspo esfregavam-me, para
ver se a minha brancura era tinta ou carne.” (CADAMOSTO, 1988, p.141)
“A fragmentação do poder político é uma das caves para compreendermos o sucesso dos
europeus na África Atlântica. Com muita freqüência, os escravos eram prisioneiros de guerras
entre estados e reinos rivais. Mas isso não é tudo. Uma questão delicada, que divide os
pesquisadores, é aquela referente à existência da escravidão no período pré-colonial. Não há
como negar a realidade dessa instituição bem antes do desembarque dos europeus.” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.36)
“No entanto, vale repetir: foi, provavelmente, graças à existência da escravidão na África
Atlântica pré-colonial que os navios negreiros puderam ser rapidamente abastecidos. Os
europeus não inventaram a instituição, mas sim a destinaram para outro fim – o comercial -,
cujas dimensões eram até então inéditas” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.40)
“Os distribuidores das caravanas entregavam os escravos aos feitores ou agentes das feitorias
e fortalezas, estes por sua vez, distribuíam-nos aos navios de partida. O mercado de cativos do
castelo de Cape Coast, na Costa do Ouro, comprova que podiam ser guardados até 15.000
indivíduos. A estocagem, contudo, significava a eventualidade de um embarque e de uma
partida rápida e próxima, mil vezes preferível ao interminável empilhamento de gente na
ponte de um navio, enquanto este colhia ao longo dos dias, na costa, suas peças de mercadoria
humana.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.42)
“O comércio livre permitia que um negreiro fosse onde seu capitão ou armador quisesse, para
atender, exclusivamente aos seus negócios. No melhor dos casos, determinava-se uma área
específica de trocas nas águas nas quais o navio circulava.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004,
p.42)
“Mas a longa estadia de um navio em lugar único, tipo, Ájuda, podia ter conseqüências
desastrosas também. O tempo gasto no vai-e-vem de mercadorias, o plantel sendo lentamente
engrossado, terminava em altas taxas de mortalidade” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.42)
“Revoltas e assassinatos de brancos eram um fator constante de medo. O contato com Islã era
considerado perigoso para o Novo Mundo, onde se implantava a fé católica. Carlos V, por
exemplo, dá ordens expressas nesse sentido visando preservar seu povo do contato com o
culto a Alá. Mais tarde, revoltas no Brasil provarão que negros muçulmanos sabiam e podiam
se articular para resistir ao tráfico.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.47)
“Para dar uma idéia de como a máquina de escravização funcionava, tomamos emprestado
informações de um historiador: entre os anos de 1603 e 1607, saques razias comandados por
Manuel de Cerveira alimentavam a boca faminta dos negreiros portugueses. Equipando com
soldados e cavalaria, o funcionário da coroa atacou Quiçamã, além das zonas de Ilamba,
Libolo e Cambebe.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.48)
“Segundo especialistas, a resistência ao tráfico não convida a fantasias, pois eram limitadas as
possibilidades que os escravos tinham de melhorar sua situação. Adaptar-se era uma primeira
solução” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.50)
“A partir de 1545 pipocaram inúmeros levantes em São Tomé. As colinas da ilha viraram
refúgio de rebeldes. Mukambo, palavra quilombola que significa cumeeira, caracterizando a
moradia fixa da família, passa a designar o refúgio dos rebeldes de São Tomé.” (PRIORI;
VENÂNCIO, 2004, p.51)
“Numerosas foram as revoltas nos navios negreiros, várias fontes históricas revelam
diferentes formas de suicídio ou tentativas de evasão. Participar em ataques do corso e da
pirataria também era uma forma de luta” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.52)
Em seu terceiro capítulo, os autores aprofundaram acerca dos estereótipos sobre a África visto
a partir dos europeus e brevemente citando algumas visões dos mulçumanos sobre o
continente africano e seus povos, como também remonta a origem dessa visão negativa que os
europeus tinham sobre as pessoas com tom de pele escura, associando a povos amaldiçoados,
demônios, e justificando sua escravidão como um castigo divino por supostamente
descenderem de Cã, filho de Noé.
“O teólogo de Alexandria associava cor de pele e pecado. Para ele, a negrura era uma
característica adquirida, de responsabilidade exclusiva do indivíduo. A África aparecia, assim,
como o continente dos que viviam no mal.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.58)
“A designação grega de Etiópia remedia, por sua vez, à descendência de Cã, o maldito filho
de Noé, cuja tradução, Chus, seria “etíope”. “Aehiops” tina um largo sentido abrangendo uma
multidão de povos cuja característica era ter pele escura. Juntava-se a esta característica,
outras igualmente negativas, como a ausência de linguagem, a nudez, a reações irracionais.”
(PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.60)
“A convergência desta tradição com aquela imagem negativa dos negros justificará, durante
séculos, a brutal exploração dos povos africanos” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.60)
“Heródoto e Diodoro de Sicília, embora reconhecessem o caráter magnânimo, pio e justo dos
reis etíopes durante a conquista do Egito, manifestaram desagrado em relação a seus cabelos
crespos e pele escura.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.62)
“Não foram apenas os textos clássicos que colaboraram para detratar a imagem dos africanos.
Muitos viajantes europeus tinham percorrido parte de África, trazendo desta experiência
visões preconceituosas. (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.63)
“Segundo o mesmo cronista, “na idade, cor e estatura é de homem mancebo não muito preto,
seria de cor castanha, ou de maça não muito parda e em sua cor bem gentil, mediano de corpo.
Diziam ser de vinte e três anos e ele assim o parece. Tem o rosto redondo, grandes olhos, o
nariz alto e começa a lhe nascer barba”’. (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.66)
“A verdadeira informação das terras do preste João das Índias, publicada pela primeira vez em
1540, reduziu a pó o sonho sobre um império de maravilhas, O texto apresentava à Europa a
realidade etíope e seu rei, um déspota à maneira oriental, morador de uma tenda ornamente e
incapaz de ajudar na luta contra os mouoros infiéis.” (PRIORI; VENÂNCIO, 2004, p.66)
PRIORI, Mary del & VENÂNCIO, Renato Pinto. Ancestrais: uma introdução à História da
África Atlântica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004