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Para definir qual o mínimo elemento morfológico identificável na cidade, há que estabelecer

uma hierarquia de valores e fazer uma seleção entre as colecções de objetos que povoam o
espaço urbano.

Em primeiro lugar, há que mencionar os objetos “parasitórios”, tão profusamente ilustrados


nas cidades capitalistas: néons, anúncios, escaparates, montras, etc., sucedem-se em profusão,
com variações que alteram a imagem da cidade. A outro escalão, o mobiliário urbano: o banco,
a bica, o quiosque e ainda a árvore, o canteiro ou as plantas caracterizam a imagem do espaço
urbano. Estas colecções de objetos são, “elementos móveis”, afetando diferentemente 0
forma da cidade. Distinguiria, no entanto, a árvore, pela sua importância e papel quase
idênticos aos dos edifícios.

Deliberadamente, é no final que refiro o mobiliário urbano, constituído por elementos móveis
que «mobilam» e equipam a cidade: o banco, o chafariz, o cesto de papéis, o candeeiro, o
marco do correio, a sinalização, etc., ou já com dimensão de construção, como o quiosque, o
abrigo de transportes, e outros.

O mobiliário urbano situa-se na dimensão setorial, na escala da rua, não podendo ser
considerado de ordem secundária, dadas as suas implicações na forma e equipamento da
cidade. É também de grande importância para o desenho da cidade e a suo organização, para a
qualidade do espaço e comodidade. Durante anos, terá sido descurado em muitos arranjos e
intervenções.

Hoje voltou de novo à cena profissional, apoiando a requalificação da cidade e acabando por
interessar à própria produção industrial.

Também se poderia referir esse conjunto de elementos «parasitários» que nas sociedades de
consumo invadem e se colam às estruturas edificadas, como elementos postiços e móveis:
anúncios, montras, sinais, reclamos, luzes, iluminações, etc.

Por simplificação de exposição, não se conferiu a estes elementos a mesmo importância e


relevo dados aos elementos da morfologia urbana. E também por razões que se relocionalizam
quer com a mobilidade (sendo portanto efêmeros, em constante modificação} quer com as
suas características de elementos «postiços» e adicionais. Venturi, em Learning from Las
Vegas, demonstra o grau de impacto e comunicação que estes elementos levados à
exacerbação e saturação podem assumir na imagem da cidade. A imagem de Las Vegas é
constituída em boa parte pela presença dos elementos parasitários e móveis: anúncios e
letreiros, luzes, etc. Mas este é, sem dúvida, um caso extremo, que não pode ser generalizado.

Chegado a este ponto, resta clarificar as relações dos elementos morfológicos com as
dimensões ou escolas do espaço urbano.

• No dimensão setorial, ou à escala de rua, os elementos morfológicos identificáveis são


essencialmente os edifícios (com as suas fachadas e planos marginais), o trocado e também o
árvore ou a estruturo verde, desenho do solo e o mobiliário urbano.
• Na dimensão urbana, ou escalo de bairro, são os troçados e praças, os quarteirões e
monumentos, os jardins e áreas verdes, que constituem os elementos morfológicos
identificáveis. Diremos também que a forma a esta escala se constitui pela adição de formas a
escala inferior. O movimento é necessário ao entendimento da cidade e à ligação, ou colagem,
das várias partes urbanas.

• Na dimensão territorial, ou escala urbano, os elementos morfológicos identificam-se com os


bairros, as grandes infraestruturas viárias e as grandes zonas verdes relacionados com o
suporte geográfico e as estruturas físicas da paisagem.

Esta hierarquização dos elementos morfológicos encadeada por agregação de unidades


menores formando outras unidades a uma escala maior não significa a adoção de um sistema
em «árvore». O homem vive numa totalidade de ambiente que não é seccionado por
fronteiras rígidas. A experiência ambiental pressupõe o conhecimento de diversos conjuntos, a
sua articulação e desagregação sucessivas. A leitura da cidade e do território faz-se
simultaneamente a diferentes níveis ou escalões e também pelo percurso e sequências, o que
significa que a forma urbana só pode ser estudada e compreendida em sistema de
semirretícula.

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