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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Deus, um delírio?

Deus, o Criador?

(Ciência e fé na visão de um cristão sem


religião)

Eduardo José Gomes Gonçalves


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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Índice

Prefácio - 5

Introdução - 7

Uma reflexão inicial - 15

1- Deus existe? Deus não existe? - 25

- O universo teve um começo?


- Como o universo se desenvolveu?
- Como a vida começou?

2- A Bíblia: um livro? Uma farsa?


A Palavra de Deus? - 67

- Visões sobre a Bíblia


- A Bíblia: um livro?
- A Bíblia: uma farsa?

- A origem dos textos


- Estudo e interpretação da Bíblia

- A Bíblia: a Palavra de Deus?

- Qual é a Bíblia?
- A Bíblia não tem erros?
- Mas Jesus não disse que a Bíblia é a
Palavra de Deus?
- O que é a Bíblia?
- Onde está a Palavra de Deus?

- Conclusão

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

3- Religião: o maior mal do mundo? - 161

- Alguns dos males atribuídos à religião

- As Cruzadas
- O conflito “religioso” na Irlanda do Norte
- Os atentados terroristas
- Os Estados ateus

- Onde está o mal?


- Precisamos de religião?

4- Meio ambiente: um mundo sem Deus,


sem Cristo, um mundo em extinção - 209

Carta ao Dr. Richard Dawkins - 233

Reflexões sobre José Saramago - 237

Carta ao leitor - 247

Agradecimentos - 249

Glossário - 251

Bibliografia - 261

Registrado no Escritório de Direitos Autorais da Fundação


Biblioteca Nacional sob N° 499.177, em nome do autor
Eduardo José Gomes Gonçalves

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Prefácio

Deus, um delírio, Deus, o Criador, é um desafio à


sua fé e ao seu raciocínio, um convite a que você explore
ainda mais tudo que já leu, usando um caminho entre o
desconhecido e o já revelado, entre o padrão coletivo e o
inusitado proposto.

Quebrando ou não paradigmas, acentuando ou não


as suas convicções, este livro poderá trazer-lhe uma
grande experiência espiritual e mental, possível graças ao
maravilhoso dom de Deus outorgado a você - o pensar.

Deus, um delírio, Deus, o Criador, poderá levá-lo a,


espontaneamente, amar mais o estudo da Bíblia. Dar-lhe-
á uma cosmovisão sobre religião e, com certeza, ampliará
a sua opinião e interação com as pessoas, com o planeta
e com Deus a partir do conhecimento e enriquecimento do
próprio ser.

Leia, descubra, lapide e, se quiser, some as ideias


sem um preconceito formado, sem o imediatismo de
rejeitar um novo pensamento só pela gratuidade de não
ser o convencional.

Para isso talvez você precise sair da sua área de


conforto, revendo os conceitos aprendidos, expondo-os à
luz da revelação Bíblica para então sim, dar testemunho
da razão da sua fé honrando a Jesus Cristo tanto diante
dos que duvidam, dos que zombam, como daqueles que
estão perdidos, sedentos pela Verdade.

Em Deus, um delírio, Deus, o Criador, você verá


que até naquilo em que discorda terá recebido um enorme

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

presente, após ter sido desafiado a questionar sua própria


fé, que, no final, estará mais fortalecida.

Boa leitura.

Pr. Dirceu Pereira.

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Introdução

Se você está em contato com estas palavras, isto


significa que está lendo o livro que estou escrevendo
nesse exato momento, o que me leva a parabenizá-lo pelo
teu interesse na leitura e a agradecer pela confiança que o
levou a escolher este livro para ler.

A constatação de que você está lendo me leva a


concluir que, acima de tudo, nesse mesmo momento,
você está vivo, sabe ler e possui o dom da visão.

Além das condições e características citadas, para


realizar esta leitura, você necessariamente está usando
vários outros atributos, que são inerentes aos seres
humanos.

Entre eles, podemos citar a inteligência, o


raciocínio, a capacidade de entender e compreender;
usados em conjunto, esses atributos permitirão que você
chegue a conclusões sobre os temas abordados no livro,
contribuindo para a construção ou aperfeiçoamento das
tuas crenças e visão de mundo.

Seja pelos relatos bíblicos, seja pelo conhecimento


científico, o Homem, possuidor de todos esses atributos,
coroou a Criação; desde o princípio da existência, até os
dias de hoje, busca-se um propósito para a vida.

Nessa busca, procuram-se respostas para


perguntas como de onde viemos, por que estamos aqui e
para onde vamos.

Apesar de não existirem respostas únicas para


essas perguntas, continua-se perguntando; o tipo de
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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

resposta depende do grau de conhecimento, da visão de


mundo e do conjunto de crenças de cada um.

Todas as pessoas têm o direito de formar opinião


sobre qualquer assunto; obviamente, a qualidade dessa
opinião será resultado não só do nível de conhecimento
que se tenha sobre o tema, mas também da forma como
ele seja analisado.

Parece claro que, formar opinião a partir de


ignorância e preconceito, não é a melhor maneira de
contribuir para a melhoria do conhecimento.

Buscando ajudá-lo a formular as suas respostas,


trataremos neste livro de assuntos que, ao longo de
muitos séculos, têm gerado variados tipos de emoções e
reações nos seres humanos e que, infelizmente, também
tem gerado diversos tipos de conflitos.

São alguns dos assuntos favoritos dos “Novos


Ateístas”.

Falaremos sobre Deus: Ele existe ou não existe?

Analisaremos a Bíblia, o livro denominado como


“As Escrituras Sagradas”: ele é real ou uma farsa? Seu
conteúdo representa histórias e estórias dos homens ou a
“Palavra de Deus”?

Vamos falar de religiões, analisando a visão ateísta


de que elas são “o maior mal do mundo”, bem como
discutiremos até que ponto elas são necessárias.

Também vamos abordar um assunto que,


raramente é considerado pelos que discutem a fé; o meio

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

ambiente, natural e social, quando demonstraremos que a


degradação a que estamos assistindo é resultante,
fundamentalmente de um estilo de vida individualista e
egoísta, característico daqueles que vivem afastados de
Deus - seguindo ou não uma religião.

A semente que resultou neste livro surgiu no final


do ano de 2007, quando tive contato com o livro “Deus
um delírio”, escrito pelo Dr. Richard Dawkins.

No texto o autor é apresentado como um eminente


cientista, biólogo formado pela Universidade de Oxford, na
Inglaterra, onde leciona; autor de vários livros e, na
época, considerado um dos intelectuais mais respeitados
da atualidade.

Tendo como crença o Ateísmo, pretende


demonstrar que a existência de Deus é cientificamente
improvável, e que crer n’Ele não só é inútil e supérfluo,
como prejudicial. De acordo com o autor, ninguém precisa
de Deus para ter princípios morais, fazer o bem e apreciar
a natureza.

O objetivo confesso do livro é, não apenas


provocar os religiosos convictos, mas, principalmente,
levar os religiosos por inércia a pensar, racionalmente, na
sua crença, trocando-a pelo orgulho ateu e pelo amor à
ciência.

Desde muito cedo cultivei a leitura como hábito de


vida, pois acredito ser esta uma ferramenta fundamental
para o pleno desenvolvimento pessoal. A descrição do
livro do Dr. Dawkins e de sua pessoa, aguçaram a minha
curiosidade.

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Não que eu imaginasse a hipótese de me converter


ao Ateísmo – minha fé em Deus não é resultado de
pregações e argumentações feitas por padres católicos ou
pastores protestantes.

Ao contrário, ela é resultado da Graça recebida de


Deus, complementada por muita reflexão, utilizando a
inteligência e capacidade de raciocínio que recebi do Pai.

Meu objetivo, pela leitura de “Deus um delírio”, era


conhecer que tipo de argumentação, supostamente
inteligente, uma pessoa com as qualificações do Dr.
Dawkins apresentaria para explicar a sua crença e, com
isso, aprimorar a minha capacidade de formar opinião
sobre os temas tratados por ele.

Consegui o livro, mas, infelizmente, ainda na


leitura da introdução, o Dr. Dawkins se revelou como uma
grande decepção, o que quase me levou a desistir –
afinal, são mais de quinhentas páginas.

Minha primeira conclusão, com base naquela seção


do livro, foi que, tanto o autor, como as pessoas que o
avaliam, não sabem distinguir a diferença entre grande
saber e sabedoria. Pior, ele demonstra, claramente, a
tendência de emitir opiniões sobre temas que desconhece
ou que considera de forma preconceituosa.

Apesar da minha disposição em abortar a leitura,


algo me fez continuar.

Em uma manhã de sábado, depois de já ter lido


referências nada elogiosas, feitas pelo autor, a cartas
recebidas de pessoas que se dizem cristãs –
manifestando o desejo de que ele vá arder no

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

inferno pelo que escreveu - encontrei o amigo que me


emprestara o livro.

Relatei os acontecimentos e o informei da minha


pretensão de levar a leitura até o fim e escrever uma
carta ao Dr. Dawkins, comentando o livro e informando-o
da minha intenção de orar para que um dia ele
encontrasse Jesus e mudasse a sua vida.

Ele então me disse: “Acho que você não deve


escrever uma carta; em vez disso, deve pedir a bênção do
Espírito Santo e escrever um livro”!

Fui para casa com aquela sugestão, quase ordem,


martelando em minha mente. Durante aquele dia, sem
que eu percebesse, este livro, inicialmente pensado como
uma resposta ao Dr. Dawkins, começou a tomar forma na
minha imaginação.

À medida que progredia a leitura de “Deus um


delírio”, mais e mais este livro se formava; alguns
poderão dizer “Inspiração divina”; outros dirão
“Autossugestão”, levando a um possível debate que não
tem relevância. O fato é que, para mim por inspiração
divina, gradualmente este livro estava se formando em
minha mente.

Em um dado momento, comecei a perceber que o


Dr. Dawkins não tomou nenhum cuidado com relação a
afirmações que poderiam ser rotuladas como bobagens.
Aqui não me refiro a diferenças de opinião, mas a
verdadeiras bobagens, típicas daquelas pessoas que
pesquisam a internet sem critério e afirmam o conteúdo
encontrado como verdade absoluta.

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Esse tipo de afirmação, entre outras


consequências, desqualifica a seriedade de todo o seu
livro, mas parece que o Dr. Dawkins não estava
preocupado com isso.

Ao contrário dele, me preocupei com essa questão


e, não só busquei o apoio de pessoas com conhecimentos
mais amplos do que os meus, nas diversas questões que
seriam abordadas, como procurei ler, não só pesquisas
(bem feitas) na Internet, mas livros, muitos livros, grande
parte deles sugeridos pelo próprio Dr. Dawkins.

Conforme isso acontecia, este livro começava a


ganhar dimensão muito maior do que uma simples
resposta a “Deus um delírio”.

Na “Carta ao leitor”, apresentada no final, esta


afirmação poderá ser compreendida em toda a sua
dimensão.

Antes de prosseguir, gostaria de fazer algumas


observações:

- sempre que for apresentada a palavra “Homem”


com maiúscula, estarei me referindo aos seres
humanos; quando, porém, a referência for ao ser
humano do sexo masculino, será utilizada a
palavra “homem” com minúscula. Espero com esta
observação evitar críticas que pretendam encontrar
conotações machistas neste livro;

- a palavra igreja é, em geral, utilizada com três


significados:

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1- físico, ou seja, o local onde se realizam as


missas católicas ou os cultos protestantes; para
esse significado usaremos a palavra templo. Como
exemplos de templos podemos citar a Catedral de
Notre Dame, em Paris, a Catedral de São Pedro, no
Vaticano e a Igreja da Candelária no Rio de
Janeiro, todos pertencentes à Igreja Católica
Romana;

2- institucional, ou seja, a entidade legalmente


organizada para (pelo menos teoricamente)
exercer atividades relacionadas à religião, segundo
um nome ou denominação específica. Para este
significado usaremos a palavra Igreja, grafada
dessa forma. Essas Igrejas, ou Denominações
Religiosas, se caracterizam por, pelo menos em
princípio, seguirem uma determinada religião,
incorporando dogmas, rituais, liturgias, usos e
costumes, além de interpretações próprias dos
textos de seus livros sagrados. Como exemplos de
Igrejas ou Denominações Religiosas, temos a
Igreja Católica Romana, as diversas Igrejas
Presbiterianas, as diversas Igrejas Batistas, entre
milhares de denominações;

3- espiritual, ou seja, a entidade resultante da


vinda de Cristo ao mundo, que congrega as
pessoas como Corpo e Cristo como O Cabeça,
formando a verdadeira igreja; para este significado
usaremos a palavra IGREJA, grafada dessa forma.
Para essa IGREJA as discussões sobre religião são
desnecessárias, uma vez que os cristãos, ou
seguidores de Cristo, se guiam exclusivamente
pelo Evangelho pregado por Jesus.

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- ao falar de Deus, analisando a possibilidade da


Sua existência, estaremos considerando o tema
sob a ótica monoteísta de judeus, cristãos e
muçulmanos. Ao analisarmos a possibilidade da
Sua não existência, levaremos em conta a visão
dos ateus qualificados como “Novos Ateístas”.

- trataremos o Cristianismo não como religião, mas


como o resultado da fé nos ensinamentos de Jesus,
fato gerador do conjunto de pessoas denominadas
como cristãos. Do Cristianismo, entretanto,
surgiram várias religiões, entre elas o catolicismo
romano e diversas denominações protestantes.

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Uma reflexão inicial

Duas grandes lições de vida foram especialmente


importantes no processo de elaboração deste livro:

- todas as atividades humanas devem ter um


propósito, que leve a um resultado construtivo e
positivo;

- a lucidez de Napoleão, ao afirmar que “Se o


canhão não atirou por 33 motivos, sendo um deles
que faltou bala, não importa os outros 32 motivos”.

Esta reflexão inicial mostrará como essas duas


lições foram utilizadas neste livro.

Começaremos analisando os capítulos 2° e 3° do


primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, cuja leitura recomendo,
neste momento, como apoio à compreensão desta
reflexão; nessa análise, considerando-se o que está
escrito, pode-se observar que:

- Deus criou o homem (Adão) do pó da terra;

- Deus criou primeiro o homem, depois as plantas,


depois os animais e depois, a partir de uma costela
do homem, Deus criou a mulher (Eva);

- no jardim que havia criado, Deus plantou a


árvore do conhecimento do bem e do mal;

- Deus afirmou a Adão e Eva que, de todas as


árvores do jardim poderiam comer os frutos
livremente, mas que da árvore do conhecimento do

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

bem e do mal não poderiam comer; se comessem,


morreriam;

- a serpente, apresentada como o mais sagaz entre


todos os animais “selváticos”, convence a mulher,
Eva, que, ao comer do fruto da árvore do bem e do
mal, além de não morrer, os seus olhos serão
abertos e ela passará a ser conhecedora do bem e
do mal;

- Eva, convencida pela serpente, não só comeu do


fruto proibido, mas também fez com que Adão, o
homem, o comesse;

- como resultado, a serpente foi amaldiçoada, e o


homem e a mulher foram expulsos do paraíso.

Esse texto, aqui apresentado de forma resumida,


apresenta a visão bíblica do primeiro contato do homem
com o pecado.

Em sua análise, serão considerados dois enfoques


extremos: primeiramente a visão daquela pessoa que,
crente em Deus, lê a Bíblia literalmente, sem nenhum tipo
de consideração lógica resultante do raciocínio; em
segundo lugar, a visão de um ateu, que vê na Bíblia uma
farsa, uma fantasia.

Na visão do crente, descrito acima, o texto


representa a Palavra de Deus, e, como tal, não é sujeito a
críticas, análises, comentários ou alterações; como
resultado deve-se considerar que Adão e Eva não só
existiram e foram criados na forma narrada, como
pecaram porque aceitaram os argumentos da serpente e
comeram o fruto proibido.

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Na visão do ateu, descrito acima, esse mesmo


texto é uma fantasia absurda, considerado apenas por
pessoas que, movidas por um fanatismo religioso cego,
abrem mão de sua inteligência e de sua capacidade de
raciocínio.

Numa situação como essa fica perfeitamente claro


que se estabelece um conflito, com posições
absolutamente opostas e irreconciliáveis. Vamos deixar
esse assunto neste ponto e seguir com a nossa reflexão.

Em uma manhã de sábado, com o processo de


criação deste livro presente em minha mente na maior
parte do tempo, estava observando o meu cão, quando
me ocorreu que os cães só fazem sexo nos poucos dias
dentro do período de cio em que a fêmea aceita o macho.

Uma pessoa que tenha um casal, criado junto,


poderá observar que, fora desse período, os dois não
terão nenhum tipo de atitude relacionada a sexo.

Esse pensamento, sem que eu percebesse, foi


gradativamente se estendendo para outros animais, até
que cheguei à conclusão de que essa postura é comum
aos animais – a atividade sexual está intimamente ligada
à reprodução. Essa regra, entretanto, apresenta uma
importante exceção: o “Homo Sapiens Sapiens” – em
outras palavras, o ser humano. (a denominação
apresentada é a utilizada modernamente).

Esse “Homo Sapiens Sapiens” é o único ser na


criação que pensa em sexo, não só para a reprodução da
espécie, mas também no sexo pelo prazer, no sexo pelo
sexo, no sexo pelo dinheiro, no sexo por qualquer motivo
e também no sexo sem nenhum motivo, chegando ao

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ponto de apelar para a violência para conseguir satisfazer


o seu desejo.

A essa constatação seguiu-se a criação de uma


estória; espero que fique perfeitamente claro que a
narração que apresentarei a seguir é apenas uma estória,
não podendo ser confundida com qualquer tipo de tese
científica.

Muitos de nós já vimos desenhos mostrando o


homem das cavernas; uma característica comum a muitos
desses desenhos, é apresentar o Homem completamente
coberto de pelos. Em função disso, vou denominar esse
possível estágio do “Homo Sapiens Sapiens” como o
“Homo Pelludus”.

Em nossa estória, os “Homo Pelludus” viviam em


tribos, com um chefe, geralmente escolhido entre os mais
fortes do grupo. As comunidades, com exceção dos
momentos de escolha de um chefe, viviam em paz, com
os homens caçando e pescando para prover o alimento,
enquanto as mulheres cuidavam das casas e das crianças.

Esse quadro foi radicalmente alterado, quando, em


função de algum fenômeno evolutivo ou como resultado
de uma alteração climática, as populações de “Homo
Pelludus” começaram a perder os pelos; essa
transformação foi gradualmente revelando as formas de
homens e mulheres, que antes se viam apenas cobertos
por um monte de pelos.

A partir desse fenômeno, o instinto sexual acima


descrito, e que, pelas circunstâncias se encontrava em
estado latente, se revelou, resultando em uma série de

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

ocorrências que destruíram a paz que havia nas


comunidades dos agora ex-”Homo Pelludus”.

O primeiro acontecimento se deu quando um dos


membros da tribo começou a perceber a beleza física da
mulher do chefe; quanto mais ela perdia os pelos, mais se
revelavam suas formas graciosas e sensuais, gerando
inicialmente inveja do chefe e, pouco a pouco, o desejo
pela sua mulher.

Num certo dia, o chefe saiu em viagem, liderando


um grupo em uma grande caçada; o invejoso, decidido a
não perder a oportunidade, foi visitar o alvo de seus
desejos em uma noite sem lua, quando toda a tribo já
estava dormindo, e tentou convencê-la a fazer sexo.

Ela, amante fiel de seu marido, não aceitou os


argumentos e as súplicas do admirador que, pouco a
pouco, se tornava completamente transtornado pelo
desejo não satisfeito; como resultado ele a arrastou para
a sua cabana, tomando cuidado para abafar os seus
gritos, e lá chegando, sem nenhum tipo de consideração,
a estuprou.

A mulher, de volta à sua cabana, decidiu nada


contar ao marido, temerosa do que poderia acontecer;
entretanto, as marcas deixadas pela agressão ainda eram
visíveis quando o chefe retornou de sua viagem, tornando
impossível para ela manter sua intenção de não contar o
ocorrido.

O chefe, ouvindo o relato de sua mulher, foi


tomado por fúria incontrolável, que o levou a
desconsiderar as normas da tribo, que previam que todas
as transgressões deveriam ser levadas ao conselho de

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

anciãos; em vez disso, dirigiu-se à cabana do agressor, e


lá o matou.

Como conclusão desta estória, seria natural afirmar


que o primeiro contato do Homem com o pecado teria
começado com a inveja, seguindo-se o desejo pela mulher
do próximo, o sequestro, o estupro, e a justiça feita pelas
próprias mãos, através do homicídio; mais do que isso,
seria possível concluir que essa sequência infeliz teve
como causa o desejo sexual descontrolado do ser
humano.

Vamos imaginar apenas como forma de seguir com


a nossa reflexão, que um dia fosse apresentada uma tese
científica, baseada em pesquisas arqueológicas, que
sugerisse acontecimentos semelhantes aos narrados nesta
estória, levando ao mesmo tipo de conclusão. O que
aconteceria com as opiniões do crente e do ateu que nos
acompanham nesta reflexão?

Provavelmente o crente adotaria como opinião que


a tese é uma bobagem, uma mentira ou uma heresia,
(talvez as três coisas) por contrariar a Palavra de Deus.
Essa opinião não levaria em consideração uma eventual
consistência das evidências apresentadas, que tornassem
a sua conclusão quase que irrefutável.

O ateu, por sua vez, aplaudiria os pesquisadores


por sua descoberta, considerando a tese apresentada não
só possível, mas perfeitamente plausível.

Mais uma vez, como se pode ver, estaria


estabelecido um conflito, com posições absolutamente
opostas e irreconciliáveis.

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A questão que se coloca é, por que é tão fácil


surgir esse tipo de conflito entre as pessoas, levando
muitas vezes a consequências desastrosas?

A resposta a essa questão está perfeitamente


definida logo no início deste texto, quando afirmamos que
“Todas as atividades humanas devem ter um propósito” e
que “Não importa saber os 33 motivos pelos quais o
canhão não atirou, quando um dos motivos foi a falta de
balas”. Serei mais claro, mostrando a relação entre
propósito e bala de canhão.

Qual seria o propósito dos capítulos 2° e 3° do


Livro do Gênesis?

Seria informar que Adão existiu, tendo sido feito do


pó, que sua companheira Eva não só existiu como foi feita
de uma costela de Adão, que a serpente é um ser maligno
que usando sua capacidade de se comunicar com as
pessoas as induz ao pecado, e que esse, no caso, se
consumou pela ingestão de um fruto proibido?

Para desgosto dos crentes, sou forçado a dizer que


a resposta para esta questão é um sonoro NÃO!

Mas isso não tem importância para o verdadeiro


propósito dos textos da Bíblia ora em consideração; quer
você as considere no sentido literal ou como alegorias,
essas informações são apenas acessórios ao propósito,
são parte dos 33 motivos pelos quais o canhão não atirou,
e, como tal, podem levar a conflitos irreconciliáveis.

O verdadeiro propósito desses capítulos do livro do


Gênesis (ou a “bala de canhão”) é afirmar, de forma
inquestionável, que o Homem pecou (e continua pecando)

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

como consequência da desobediência aos Mandamentos e


Ensinamentos de Deus.

Vamos analisar esta última afirmação segundo as


duas visões que temos considerado nesta reflexão: o
crente obviamente vai concordar conosco e o ateu,
mesmo sem considerar a existência de Deus, não poderá
questioná-la. Isto porque, independentemente de os
atribuirmos a Deus ou não, os ensinamentos e
mandamentos que a Bíblia nos apresenta constituem a
única possibilidade para a convivência humana e,
transgredi-los (quer se considere isso pecado ou não)
resulta em perda da paz, como resultado dos conflitos que
se estabelecem ao longo da vida.

Para finalizar esta reflexão faremos análise


semelhante na estória do “Homo Pelludus”. Onde está a
bala de canhão?

Importa discutir se um dia o Homem foi ou não


coberto de pelos? Ou que um dia perdeu esses pelos e isto
despertou um desejo sexual descontrolado? E que esse
desejo resultou na pratica de todo tipo de iniquidades? A
resposta, mais uma vez, é NÃO!

O essencial em nossa estória é que aquela tribo


perdeu a paz, ali reinante, a partir do momento em que,
desobedecendo aos Ensinamentos e Mandamentos de
Deus, os seus membros passaram a sentir inveja, desejo
pela mulher do próximo, sequestraram, estupraram e
fizeram justiça pelas próprias mãos; alguém pode
questionar isso, seja crente, seja ateu?

Como conclusão, propomos as seguintes


afirmações:

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- se o Homem pecou inicialmente ao ouvir a


serpente e comer o fruto proibido, ou ao seguir o
desejo sexual e praticar todo tipo de iniquidade, é
uma questão que não tem nenhuma importância;
até porque nunca se saberá o que de fato ocorreu,
e discutir isto é se ater aos “33 motivos”, o que só
leva ao conflito. O que realmente importa, a “Bala
de Canhão”, é que, no livro do Gênesis, na estória
ou tese do “Homo Pelludus”, ou em qualquer outra
hipótese, o Homem pecou quando
desobedeceu a Deus;

- sempre que se analisar um tema, seja ele de que


natureza for, deve-se primeiramente identificar a
“bala de canhão” e nela se concentrar a análise;
isso porque os acessórios, ou 32 outros motivos
geralmente levam à discórdia, ao conflito,
enquanto que a “bala de canhão” leva ao
consenso;

- quando o foco é a defesa dos acessórios, ou 32


motivos, geralmente têm-se como resultado a
depreciação do essencial ou “bala de canhão”.

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1- Deus existe? Deus não existe?

Era uma vez um reino onde o rei era conhecido por


quatro características muito especiais: era bondoso com o
povo, adorava caçadas nas florestas do reino, não
compreendia Deus e vivia murmurando contra Ele.
Bastava acontecer alguma coisa que ele considerasse ruim
ou até mesmo em forma diferente da que ele gostaria, e
lá vinha reclamação contra Deus.

Um dos servos, companheiro de caçadas, homem


temente a Deus e que O amava de todo o coração,
sempre que ouvia o rei murmurando dizia: “Majestade,
não diga isso, Deus é bom, sabe o que faz e só faz o
melhor para nós”. O rei, invariavelmente, respondia: “Que
nada, meu servo, você não sabe o que diz”.

Um dia os dois foram para uma das caçadas


costumeiras, com suas armas devidamente preparadas.
Estavam em área de mata muito densa quando,
repentinamente, uma fera se lançou contra o rei que,
apesar da surpresa, conseguiu apontar sua arma e atirou.

A arma, mesmo sendo de primeira qualidade


falhou, e, naquela confusão, até que o servo atirasse e
matasse a fera, o rei perdeu um dedo.

O retorno para o palácio foi uma verdadeira


provação para o servo, tal o nível das murmurações do rei
contra Deus. Mesmo naquela situação, ele não parava de
dizer “Majestade, não diga isso, Deus é bom, sabe o que
faz, e só faz o melhor para nós”!

E o rei, cada vez que o servo falava, mais irritado


ficava.
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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Ao chegarem ao palácio, o rei chamou os guardas e


mandou que levassem o pobre servo para a prisão; era a
forma que ele encontrara para descarregar a sua irritação.

Passados alguns dias o rei saiu para uma nova


caçada e dessa vez foi sozinho; afinal, o servo, seu
companheiro, estava preso. Para sua infelicidade, foi feito
prisioneiro por selvagens que praticavam rituais de
sacrifício humano; eram mais de cinquenta homens e não
houve alternativa a não ser a rendição.

Chegando à tribo, o rei foi imediatamente


amarrado a uma estaca e, junto a ele, foi preparada a
fogueira. Seguindo o procedimento, os selvagens
chamaram o chefe para inspecionar os preparativos antes
que o fogo fosse aceso.

O chefe, inspecionando com toda a atenção,


subitamente, deu um grito, chamou os outros, e, irritado,
apontou para o dedo que faltava no rei – imediatamente
mandou que ele fosse solto, pois a regra impunha que o
sacrificado fosse perfeito.

O rei, entendendo o que havia acontecido voltou


para o palácio muito feliz, ansioso para contar as
novidades ao servo; lá chegando mandou que ele fosse
trazido à sua presença e relatou os fatos, dizendo ao final:
“É meu amigo, você tinha razão, Deus realmente é bom,
pois se eu não tivesse perdido o dedo, a essa altura teria
virado um churrasco para aqueles selvagens”.

O rei então ficou pensativo e, após alguns


instantes, perguntou: “Uma coisa eu não consigo
entender, você é um bom homem, temente a Deus e O

26
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

ama verdadeiramente. Por que Ele permitiu que você


fosse para a prisão”?

O servo, esboçando um belo sorriso respondeu:


“Essa é fácil majestade; se eu não tivesse ido para a
prisão, estaria com o senhor na caçada e a essa hora eu é
que teria virado um churrasco, pois tenho o corpo
perfeito”.

Depois de se ler essa estória, pode-se chegar,


entre outros, a dois tipos de conclusão:

- é uma forma de demonstrar a providência divina;

- é uma estória com uma série de coincidências.

A conclusão que se escolherá vai depender da


resposta à grande questão:

Deus existe? Deus não existe?

O principal problema que se apresenta, é que


responder a esta questão é, talvez, a missão mais difícil
que o Homem tem enfrentado desde o início de sua
existência.

Se for considerada com um enfoque puramente


científico, a resposta é simplesmente impossível; tentar
aplicar os métodos conhecidos pela ciência, nesse caso,
não leva a nenhum tipo de conclusão – em outras
palavras, a ciência não permite afirmar que Deus existe;
mas também não pode afirmar que Ele não existe.

Para ter-se uma ideia da dimensão do problema,


basta analisar a posição do Dr. Richard Dawkins. Em seu

27
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

livro “Deus um delírio”, ele se afirma e demonstra ser um


ateu convicto de sua crença. Apesar dessa convicção, o
título do capítulo quarto de seu livro é “Porque quase com
certeza Deus não existe”! (o grifo é do autor)

Se, por outro lado, for utilizado um enfoque


puramente religioso, a resposta torna-se possível, apesar
de absolutamente não ser fácil nem simples.

Acreditar na existência de Deus envolve um ato de


fé; e este ato pressupõe duas condições básicas: conhecer
Deus, Seus ensinamentos e mandamentos por meio da
Sua palavra contida nas escrituras, e vivenciar Deus, não
só pessoalmente, mas através das pessoas com as quais
se convive, e do mundo no qual vivemos; neste último
aspecto, a ciência pode dar uma grande ajuda.

Infelizmente, o que mais se vê hoje em dia, são


pessoas que não conhecem a Palavra de Deus, ou que
conhecendo não a compreendem, ou que, apesar de
afirmarem conhecer e compreender, vivem de forma
totalmente oposta aos Seus ensinamentos.

Esta situação resulta na fé por ouvir dizer, pelas


aparências ou circunstâncias, uma fé totalmente
superficial que não tem qualquer significado; em outras
palavras, a afirmação de uma pessoa como essas de que
Deus existe não diz muita coisa.

A resposta que se dará a esta questão tem


importância capital para todos, uma vez que ela definirá
as respostas para as cinco perguntas fundamentais para a
vida: “De onde viemos?”, “Quem somos?”, “Por que
estamos aqui?”, “Como devemos viver?” e “Para onde

28
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

vamos?” – perguntas que, por sinal, não são respondidas


pela ciência.

Se a resposta para a grande questão for que Deus


existe, como resultado haverá significado e propósito para
a vida; também será definida uma maneira certa de viver,
com as escolhas que se faz afetando a vida não só aqui,
mas também por toda a eternidade.

Se, diferentemente responder-se que Deus não


existe, será possível concluir que a vida não tem
significado. Não havendo um propósito para a vida,
também não haverá uma maneira certa ou errada para
viver. Afinal, independentemente das escolhas que se
faça, das atitudes que se tome e das crenças que se
tenha, o destino comum é o pó.

Antes de prosseguir com o tema, quero deixar


perfeitamente claro o que penso sobre esse assunto,
declarando a minha resposta.

“Creio em Deus, único, eterno, infinito, Criador de


tudo o que existe; que, como Pai, e pela Sua Graça, vem
a mim com Sua sabedoria e justiça, para que eu viva em
alegria; que como Filho, por amor a mim se sacrificou na
cruz, para me salvar; que venceu a morte e voltou ao
Céu; que como Espírito veio para habitar em mim, me
abençoando e me guiando para a Vida Eterna”.

Eduardo Gonçalves

Seguindo a postura de isenção que me guiará ao


longo deste livro, apresento também a visão de um ateu.

29
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

“As crenças religiosas são incompatíveis com a


ciência, irracionais e prejudiciais”.

Richard Dawkins

Prometo que vou buscar a melhor forma para que


você responda por si mesmo a esta grande questão, e,
para isso, peço que utilize os atributos mencionados na
Introdução, para começarmos a trilhar um caminho que
será uma extraordinária aventura pela trilha do
conhecimento.

A melhor maneira de começarmos algo é... pelo


começo! Aqui, o começo de tudo é o começo do Universo.

A primeira pergunta que se coloca: o universo


teve um começo?

Até o início do século XX havia duas visões


principais sobre o universo: a judaico-cristã, com base no
primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, considerava que Deus
criou o universo do nada, instantaneamente, em um ato
exclusivo da Sua vontade; essa visão implica em um
universo estático e pronto desde o seu início.

A visão científica, por outro lado, considerava o


universo eterno e estático; como consequência o universo
era autoexistente, aparentemente eliminando a
necessidade de um Criador, condição que satisfazia à
crença dos ateus.

Como se pode ver, apesar da concordância quanto


ao caráter estático do universo, havia discordância no
ponto fundamental: o universo teve um começo, no caso
atribuído à ação de Deus, ou era autoexistente?

30
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Um fato que se deve considerar, é que a ciência,


pelo menos até àquela época, não se preocupou com a
necessidade de explicar um universo autoexistente, visão
que contraria a lei da causalidade (para todo efeito existe
uma causa), fundamental para toda a atividade científica;
com isto jamais foi respondida a pergunta óbvia: qual foi
a causa que resultou no universo autoexistente (efeito)?
No final, essa divergência levava à questão fundamental:
Deus existe? Deus não existe?

A apresentação da Teoria da Relatividade Geral


(TRG) por Albert Einstein em 1915, além das
extraordinárias implicações que traria para o
desenvolvimento científico, viria a colocar mais lenha na
fogueira das discussões. Afinal, se os seus cálculos
estivessem corretos, Einstein estaria demonstrando que o
universo teve um começo (agradando aos teístas e
desagradando aos ateus) e que está em expansão
(desagradando aos teístas e agradando aos ateus).

A implicação óbvia da TRG, para a ciência, seria


eliminar a necessidade de apresentar a causa para um
universo autoexistente, mas passaria a ser necessário
explicar um universo que teve um início.

Para Einstein, essa descoberta configurava um


grande problema, uma vez que contrariava sua crença em
um universo estático; para contornar esse “problema”, o
grande cientista introduziu em suas equações um fator
que seria denominado como constante cosmológica, que,
equilibrando a ação da gravidade, manteria o universo
como ele queria, ou seja, estático e autoexistente.

Infelizmente para Einstein, o tempo, uma das


dimensões da TRG, não perdoa e, quatro anos depois, em

31
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

1919, o cosmólogo britânico Arthur Eddington, através de


experimento durante um eclipse solar, encontrou novas
evidências de que o universo não era estático e tivera um
início, ou seja, evidências da veracidade da TRG, sem a
constante cosmológica; sua reação diante da realidade
que se revelava foi afirmar: “Filosoficamente, a noção de
um início da ordem presente da natureza me é
repugnante...”. Ele não podia aceitar a hipótese de estar
errado em sua crença como ateu!

Mais três anos e, em 1922, o matemático russo


Alexander Friedmann demonstra que a constante
cosmológica de Eisntein continha um erro algébrico, uma
vez que considerava uma divisão por zero. Isso mostra o
tamanho da repulsa de Eisntein pela ideia de um início
para o universo, grande o suficiente para levá-lo a
cometer um erro que nenhum estudante de matemática
básica cometeria.

Em 1927, independentemente dos trabalhos de


Friedmann, o cosmólogo belga Georges Lemaître, que
também era padre católico, afirmou que o universo está
em expansão, ao formular a lei de proporcionalidade entre
distância e velocidade de afastamento das galáxias, pela
qual ele propôs que o universo se desenvolveu a partir de
um “átomo primordial”.

A hipótese de Lemaître estipulava que todo o


universo, matéria e energia, estava inicialmente
comprimido em um único “átomo primordial”. Com base
em seus estudos e observações, ele afirmava que a
matéria comprimida naquele átomo se dividiu em uma
enorme quantidade de pedaços, os quais se fragmentaram
em outros menores, até chegar aos átomos atuais, em
uma gigantesca fissão nuclear.

32
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Essa teoria foi, inicialmente, recusada por Einstein,


que considerou excelente a matemática e péssima a física
que fora utilizada.

Lemaître estava buscando definir os eventos


relacionados ao início de tudo; um fato surpreendente
com relação a este tema é que no século XIII a tradição
judaica já havia estabelecido a sua visão. Em seu livro
Comentário sobre a Torá, o sábio judeu Nahmanides
descreve assim o início de tudo: “No ínfimo instante após
a criação, toda a matéria estava concentrada em um lugar
mínimo, não maior do que um grão de mostarda. A
matéria era tão tênue, tão intangível, que não chegava a
ser verdadeiramente substancial. Possuía, no entanto, o
potencial de adquirir substância e forma, e de tornar-se
matéria tangível. A partir da sua concentração inicial num
ponto diminuto, essa substância intangível expandiu-se e,
com ela, expandiu-se também o Universo. Prosseguindo a
expansão, ocorreu uma mudança substancial, e a
substância inicialmente incorpórea assumiu os aspectos
palpáveis da matéria tal como a conhecemos. Deste ato
inicial de criação, desta pseudo-substância tênue e etérea,
tudo o que existiu, existe e existirá foi, é e será formado”.

Segundo Nahmanides, que não dispunha de


nenhum recurso da ciência moderna, esta visão para o
início de tudo foi resultado unicamente do estudo do Livro
do Gênesis e da revelação divina; não sabemos se
Lemaître conhecia esta visão mas podemos dizer que,
muito provavelmente Einstein, mesmo sendo judeu, não a
conhecia, haja visto a maneira como refutou as
conclusões de Lemaître.

Naquele mesmo ano de 1927, o astrônomo Edwin


Hubble (que posteriormente deu o nome ao famoso

33
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

telescópio orbital), olhando para o céu através do


telescópio, de 2,5 metros de diâmetro, existente no
Observatório de Monte Wilson, verificou, através de um
desvio para o vermelho, na luz emitida por todas as
galáxias observáveis, que elas estavam se afastando da
Terra. Esta observação foi mais uma confirmação de que o
Universo estaria se expandindo a partir de um único ponto
no passado distante.

Dois anos depois, em visita ao Monte Wilson o


próprio Eisntein observou as evidências que confirmavam
que a constante cosmológica tinha sido uma grande
bobagem, conforme ele mesmo reconheceu. Estava
finalmente oficializada a Teoria da Relatividade Geral (sem
a constante).

Apesar de todas as evidências dando suporte à


teoria de Lemaître, ainda havia muitos que não a
aceitavam. Três cientistas britânicos, Fred Hoyle, Thomas
Gold e Herman Bondi formavam um dos núcleos mais
radicais na defesa de um “Universo Estacionário”.

Em sua teoria, que tentava explicar como era


possível um universo (para eles) eterno e, basicamente
imutável, apresentar galáxias que se afastavam, eles
postulavam a formação de matéria entre as galáxias,
preenchendo assim os espaços vagos resultantes do seu
afastamento.

Segundo eles, tudo se passava da mesma forma


que um rio que flui, onde as moléculas individuais de água
movem-se, mas novas aparecem e o rio parece ser
imutável.

34
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Hoyle e outros adeptos de sua teoria jamais


forneceram qualquer tipo de comprovação para sua
hipótese sobre o surgimento espontâneo de matéria, além
da alegação da existência de algum tipo de “campo de
criação”, e do argumento de que a criação contínua e
regular de matéria não era mais inexplicável do que o
surgimento de todo o universo do nada.

Apesar dos absurdos inerentes a essa teoria, ela foi


considerada por muito tempo a única alternativa séria à
teoria de Lemaître que, por sinal, foi batizada
pejorativamente de “Big Bang” por Fred Hoyle, em um
programa de rádio, em 1948.

Ainda em 1948, foi previsto que, se o Big Bang


tivesse ocorrido, a radiação gerada ainda poderia ser
detectada; ninguém se preocupou seriamente com isso
até que, em 1965, dois cientistas do Laboratório Bell em
Nova Jersey nos Estados Unidos, Arno Penzias e Robert
Wilson, detectaram uma radiação misteriosa que
permanecia, independentemente da posição da sua
antena.

Como resultado de suas investigações, eles


comprovaram que haviam encontrado o que ficou
conhecido como radiação cósmica de fundo, que
corresponde à luz e ao calor emitidos na explosão inicial;
a luz não é mais visível, pois seu comprimento de onda foi
esticado pela expansão do universo, mas o calor é
claramente identificável.

Essa descoberta, que valeu para os dois cientistas


o Prêmio Nobel de Física, sepultou de vez as teorias do
universo estacionário, apesar de que, mesmo assim, Fred

35
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Hoyle continuou insistindo no seu universo que criava


matéria do nada.

Além da radiação cósmica de fundo, nos últimos


anos, com auxílio do avanço da tecnologia, principalmente
na exploração espacial, muitos outros fenômenos
previstos na Teoria do Big Bang têm sido confirmados,
resultando na quase unanimidade existente hoje, na
comunidade científica, quanto à forma como o universo
nasceu e se desenvolveu.

A ciência criou modelos que levam até muito


próximo do Big Bang; porém ela não consegue explicar
como e do que o átomo inicial se formou. Da mesma
forma, a ciência não consegue explicar por que ele se
formou e muito menos identificar qual o agente que fez
com que se formasse.

Infelizmente, apesar de a maioria dos cientistas de


hoje, independentemente de suas crenças e visão de
mundo, não compartilhar de ideias pelas quais o nada
pode produzir alguma coisa, a postura de ver e não querer
enxergar, perfeitamente exemplificada em Arthur
Eddington e Fred Hoyle, ainda é muito comum entre
cientistas ateus.

A Teoria do “Big Bang”, que, pelas evidências


citadas, tornou-se a mais aceita pela comunidade
científica, considera, resumidamente, os seguintes
pressupostos:

- o início de tudo foi um “átomo primordial”, que


concentrava em um único ponto uma enorme
quantidade de matéria e energia;

36
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- esse átomo explodiu, dando origem ao espaço e


ao tempo, com as suas partículas se espalhando
pelo espaço recém-criado;

- essas partículas, obedecendo ao que, hoje se


denomina leis da física, formaram as galáxias com
as suas estrelas;

- da explosão de estrelas foram formados os


elementos químicos, os quais se aglomeraram,
formando os planetas;

- o universo que surgiu, só foi possível pela


existência de um conjunto de constantes, com
valores perfeitamente definidos e
interdependentes. Pequenas variações nesses
valores teriam impedido a sua formação, seja pelo
colapso das partículas se reunindo novamente após
a explosão, ou pela geração exclusivamente de
hidrogênio.

Diante desse quadro, há apenas duas alternativas


a se considerar seriamente: o “átomo primordial” e as leis
que regem o universo são produtos do nada, ou são
efeitos de uma causa que, em vista da situação, seria a
causa primeira de tudo o que existe.

Analisaremos inicialmente a segunda possibilidade,


ou seja, a existência de uma causa primeira para o
universo. Para ser possível considerar essa hipótese
válida, que tipo de atributos essa causa primeira deve ter?

• Em primeiro lugar, se o universo


comprovadamente teve um início, ou seja, é
um efeito, a sua causa deve ser autoexistente,

37
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

caso contrário haveria uma regressão infinita


de causa e efeito;

• Considerando-se que a causa primeira criou o


tempo, o espaço e a matéria, ela
necessariamente deve estar fora do tempo
(atemporal), fora do espaço e da matéria
(imaterial). Como resultado, não tem limites,
ou seja, é infinita;

• Para poder criar tudo o que existe a partir do


nada deve ser absolutamente poderosa;

• Deve possuir a inteligência suprema para


construir o universo com tamanha precisão;

• Como uma força impessoal não toma decisões,


e a criação do universo a partir do nada foi
resultado de uma decisão, pode-se dizer que a
causa primeira deve ser pessoal.

Analisando com atenção esses atributos da causa


primeira, é fácil concluir que são, exatamente, as
características atribuídas a Deus pelos teístas.

Na primeira possibilidade mencionada, o universo


teria sido criado pelo nada, o que implicaria em considerar
como válida a hipótese de o nada ser a causa de algo.

Alguns poderão dizer que na hipótese de Deus ser


a causa primeira, Ele terá criado o universo do nada; não
seria a mesma coisa? Absolutamente.

Uma coisa é o nada criar o universo a partir do


nada; nesse caso ele seria efeito do nada. Outra coisa

38
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

totalmente distinta é Deus criar o universo a partir do


nada, onde Deus é o agente, a causa é a Sua vontade e o
universo é o efeito.

Alguém poderia dizer: se é tão simples assim,


como é que existem ateus? Ao final deste capítulo
trataremos das possíveis motivações dos ateus, mas, por
enquanto, respondemos apenas que eles justificam sua
crença criando teorias onde, na prática, tentam validar a
possibilidade de o nada ser o criador do universo. Alguns
exemplos ilustram essa resposta.

• Peter Atkins, cientista britânico no ramo da


Química, nascido em 1940, é também um
escritor prolífico, com títulos publicados tanto
em livros texto para o estudo da Química,
quanto em livros científicos dirigidos ao público
em geral. Em seu livro “A criação revisitada”
Atkins apresenta a sua teoria para a criação do
universo a partir do nada.

Segundo ele, ultrapassando o momento da criação,


se encontrará uma situação onde não havia tempo nem
espaço.

Nesse período, antes da criação, ele imagina um


redemoinho de pontos matemáticos que se combinavam e
recombinavam aleatoriamente, até que finalmente, por
tentativa e erro esses pontos matemáticos formaram o
universo com tempo, espaço e matéria.

Vamos analisar essa teoria para testar a sua


validade e até mesmo a sua seriedade.

39
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Pontos matemáticos, vistos sob qualquer aspecto,


não são exatamente algo que se possa considerar como
nada.

O fato desses pontos se combinarem e


recombinarem aleatoriamente implica necessariamente
em tempo e espaço para que isso acontecesse. Como é
possível conceber a existência de tempo e espaço antes
da criação, onde, por definição, não havia nem tempo
nem espaço?

Além do desejo do Dr. Atkins, não existe nenhum


tipo de evidência científica que indique a possibilidade de
pontos matemáticos se transformarem em matéria e
energia, muito menos no universo que conhecemos.

Ainda assim, mesmo que tudo isso fosse possível,


o Dr. Atkins deveria considerar que pontos matemáticos
não são nada e, a partir disso, precisaria nos explicar
como eles surgiram, a partir do que foram criados e,
obviamente, quem os criou.

• Victor J. Stenger; em resposta a uma das


grandes questões colocadas pela Fundação
Templeton - “A ciência torna a crença em Deus
obsoleta?”, o cientista respondeu um enfático
SIM!

Na ocasião, o Dr. Stenger era professor emérito de


Física e Cosmologia na Universidade do Havaí, professor
adjunto de Filosofia da Universidade do Colorado e autor
de sete livros, entre eles “Deus: a hipótese falha – Como
a ciência mostra que Deus não existe”.

40
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Em seu artigo, ele menciona que, antes do século


XX, a existência da matéria era considerada uma forte
evidência para a criação. Considerava-se que a matéria se
conservava e, sendo assim, a matéria que forma o
universo deveria vir de algum lugar. Em 1905 Eisntein
demonstrou que a matéria poderia ser criada a partir da
energia, mas de onde teria vindo aquela energia?

Segundo Stenger, esta questão permaneceu sem


resposta até que se verificou que havia um equilíbrio
perfeito entre a energia positiva da matéria e a energia
negativa da gravidade e que, sendo assim, nenhuma
energia seria necessária para produzir o universo, que
poderia ter vindo do nada.

Mais uma vez, um cientista, com grande saber,


cometendo um erro primário para tentar justificar o seu
Ateísmo.

Qualquer estudante de física básica sabe que a


interação de duas forças (ou energias) de igual
intensidade, mesma direção e sentido contrário, gera uma
resultante igual a zero; também sabe que se uma das
forças tiver o valor +F e a outra o valor –F (o que gera a
resultante zero), o valor total das forças em ação é
resultado da soma dos seus módulos, ou seja, os seus
valores sem sinal; no nosso caso, F + F = 2F.

Considerando o exemplo do Dr. Stenger, as duas


energias de valor igual e sinais opostos geram uma
resultante igual a zero, mas o valor das energias em
questão não é zero, é a soma dos seus módulos, ou seja,
é algo que em nenhuma hipótese pode ser considerado
como nada.

41
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Esses são apenas alguns exemplos de como a (má)


ciência procura explicar como o “nada”, que em nenhum
dos casos considerados é um nada verdadeiro, pode ter
criado o universo.

Se considerar-se que a Teoria do Big Bang indica


que o universo foi criado, um processo lógico de dedução
levará à conclusão de que houve um criador; as duas
alternativas que se apresentam como criador são o Nada,
ou a Inteligência Suprema - nome adotado por aqueles
que têm receio de pronunciar a palavra Deus.

O que é mais provável, Deus existir e ter criado


tudo a partir do nada, ou Deus não existir e o nada ter
criado tudo a partir do nada?

Continuamos assim com a grande questão: Deus


existe? Deus não existe?

Segunda pergunta: como o universo se


desenvolveu?

A ciência já consegue traçar o que aconteceu, até


uma fração infinitesimal do que se pode chamar de
momento zero; o conhecimento científico disponível
mostra que, no início do processo, que resultou no
universo, surgiram o tempo, o espaço e a matéria.

Mais do que isso, também surgiram o que hoje é


conhecido como leis da Física, da Química e da Biologia,
além de constantes perfeitamente definidas, que
determinam como essas leis funcionam.

42
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Quando se fala, por exemplo, em leis da Física,


muitas vezes não se considera o seu real significado.
Contrariamente ao que muitos imaginam, não existe
nenhum tipo de ingerência humana na criação destas leis.
Quando se mencionam, por exemplo, as leis de Newton,
isso não significa que esse brilhante cientista tenha criado
qualquer tipo de lei.

As leis da Física são leis da natureza que regem o


funcionamento do mundo físico, assim como as leis da
Química são leis da natureza que regem as interações
entre os elementos químicos e as leis da Biologia são leis
da natureza que regem todos os fenômenos relacionados
à vida. Cabe à ciência, unicamente, identificá-las e
equacioná-las.

Essas leis surgiram no início da formação do


universo e, especialmente no que se refere às leis da
Física, são baseadas em postulados matemáticos, em
certos casos, extremamente complexos e que,
obviamente, também surgiram no início de tudo.

Todo o desenvolvimento do universo e de tudo que


nele existe, inclusive nós, é regido por essas leis. Será
possível imaginar-se que tanto elas quanto a matemática
por trás delas podem ter surgido fora de um processo
inteligente?

Para responder a esta pergunta, basta considerar


uma cena bastante comum; a maioria das pessoas
conhece pelo menos um estudante que consegue notas
altas em Física e Matemática; a reação normal dessas
pessoas é, em algum momento, afirmar que aquele
estudante é muito inteligente! Afinal, ele só tira 10 em
Física e Matemática!

43
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Se considerar-se que, para ser bom nessas


matérias, é necessário ser muito inteligente, o que terá
sido necessário para formular todas as leis que regem o
universo, tanto na Física quanto na Química e Biologia,
bem como a Matemática que serve de base para elas?
Especialmente se levar-se em conta que, com toda a
inteligência humana e o desenvolvimento científico e
tecnológico já alcançado, até hoje se conseguiu apenas
arranhar o conhecimento envolvido, na lógica que move o
universo e tudo que nele existe?

Será que o acaso pode ter sido o agente dessa


extraordinária missão? Ou deve ter sido necessário algum
tipo de inteligência por trás deste maravilhoso processo?

Alguns cientistas ateus criaram uma teoria


chamada Multiverso, pela qual o universo é apenas um
em uma infinidade de universos, cada um com suas leis
próprias.

O fato do universo em que vivemos conter leis que,


no final favoreceram a existência do que se conhece,
justifica nós estarmos aqui para discutir o assunto.

Sem dúvida é uma teoria interessante que,


entretanto, apresenta pelo menos duas falhas bastante
óbvias:

- não há nenhum tipo de evidência ou


comprovação científica que mostre a viabilidade
dessa teoria; como resultado, não deveria ser
considerada de forma séria, pelo menos do ponto
de vista científico; no máximo pode ser
enquadrada na categoria da especulação;

44
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- a ideia motivadora dessa teoria é mostrar que,


em uma infinidade de universos, existe uma
grande probabilidade de o nosso universo ser como
é, sem a necessidade de uma inteligência por trás
de sua existência.

O que estes cientistas não perceberam, é que a


sua teoria não atende ao seu objetivo já que, a partir
dela, em vez de precisar explicar-se um único universo,
com o Multiverso deles haverá a necessidade de explicar-
se uma infinidade de universos.

Como consequência dessas duas falhas, essa teoria


não muda a questão que colocamos: as leis do universo,
suas constantes e a matemática envolvida foram
resultado de uma inteligência criadora ou apenas surgiram
por surgir?

É comum ver cientistas ateus fazendo afirmações


como:

- “Não devemos pedir explicações sobre como e


por que o mundo existe; ele existe, e isso é tudo”.

- “As leis da física são leis sem lei, que surgem do


vazio e ponto final”.

Será que se pode considerar isso como exemplo de


afirmações racionais?

Continuamos assim com a grande questão: Deus


existe? Deus não existe?

45
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Terceira pergunta: como a vida começou?

O planeta Terra surgiu há cerca de 4,6 bilhões de


anos, como resultado da condensação de poeira cósmica,
gerada pela explosão de uma ou mais estrelas; no início,
nada além de uma bola incandescente, onde não havia
nenhuma possibilidade de existência de vida, pelo menos
do tipo de vida que se conhece. Como resultado, a visão
de que somos produto da poeira de estrelas não é apenas
uma visão poética.

Ao longo do tempo, a Terra foi gradualmente


adquirindo as características e propriedades que tornaram
possível aos astronautas chamá-la de “Planeta Azul” e,
como tal, abrigar a maravilhosa variedade de seres vivos
que produzem admiração e perplexidade; é comum, ao se
observar cenas da natureza, dizer-se: “Como isso é
possível”?

O processo pelo qual a ciência explica a formação


de todos os seres vivos, inclusive os seres humanos, é
denominado de evolução.

Os conceitos considerados hoje, para explicar esse


processo, têm como base a Teoria da Evolução das
Espécies desenvolvida por Charles Darwin, e têm sido
aprimorados e comprovados, através do extraordinário
desenvolvimento científico realizado pela humanidade
desde então, mas, principalmente, nos últimos cinquenta
anos.

A evolução, contrariamente à visão de muitos,


tanto religiosos quanto ateus, não implica de forma
alguma na negação da existência de Deus, e tem como
ponto de partida o surgimento da primeira vida,

46
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

acontecimento extraordinário que não foi considerado por


Darwin em seus estudos da evolução. Esse acontecimento
define a nossa terceira pergunta: como a vida começou?

A resposta tem sido objeto de uma longa busca por


pessoas dotadas de grande saber em vários ramos da
ciência, além de filósofos e religiosos, resultando em
várias teorias, com níveis diferenciados de probabilidade
de trazer esclarecimento, em forma abrangente e
satisfatória.

Para analisar este assunto em uma forma que seja


construtiva, e que possa levar a uma reflexão séria,
torna-se necessário, antes, definir da melhor maneira
possível sobre o que se está falando; afinal, o que é vida?

Até hoje, entretanto, as várias tentativas para


estabelecer essa definição, em uma forma final, foram
infrutíferas. Muitos biólogos atualmente arriscam-se a
dizer que “Vida é um fenômeno que anima a matéria” –
infelizmente essa é uma definição que não define coisa
alguma.

Não temos a pretensão de conseguir o que


renomados cientistas, filósofos e religiosos não
conseguiram e, por isso, no desenvolvimento do nosso
raciocínio, consideraremos apenas uma característica
fundamental da vida: “A vida tem como propósito primeiro
a sobrevivência”.

A luta pela sobrevivência ocorre em dois níveis: o


do indivíduo e o da espécie.

No nível individual, os seres vivos buscam a


sobrevivência por meio de um habitat que lhes seja

47
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

favorável, por conter água, alimento, abrigo, proteção e


condições climáticas adequadas. Além disso, desenvolvem
meios de proteção ou enfrentamento de predadores.

Como espécie, a sobrevivência é buscada pela


reprodução, função que, em muitos casos, é reservada
aos mais aptos, fortes e saudáveis.

Como suporte à sobrevivência, tornando a vida


possível, é necessário um mecanismo genético capaz de
armazenar, processar e transmitir para a descendência
informações que podem mudar no tempo.

De acordo com Paul Davies, físico inglês que se


dedica à pesquisa em Cosmologia e Astro- biologia, a vida
é mais do que reações químicas complexas; a célula é
também um sistema de armazenamento, processamento
e replicação de informações.

Não se sabe quando e como a vida começou;


entretanto um fato inquestionável, comprovado pela
nossa existência, é que, em algum momento, na história
da Terra, a matéria inerte se transformou em matéria
orgânica com vida, propósito, condição de se reproduzir
através de um código genético perfeitamente definido e,
além disso, com capacidade de gerar inteligência,

racionalidade e moralidade.

Como explicar esse evento extraordinário e único?


As principais alternativas são:

1 - a Panspermia ou sementes por todo lado, teoria


que considera que a vida existente na Terra veio

48
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

do espaço, apresentando pelo menos três versões


principais:
a) a Teoria Cosmozóica, desenvolvida no século
XIX por cientistas alemães, considerava que
esporos foram trazidos à Terra em meteoritos;
entre outros fatores, essa teoria utilizava a
presença de matéria orgânica em meteoritos
encontrados na Terra como argumento em seu
favor, sem considerar, entretanto, a possibilidade
de contaminação terrestre, após a queda do
meteorito;

b) a Panspermia propriamente dita, desenvolvida


por um físico sueco, propunha que a vida teria sido
originada em esporos, que teriam chegado à Terra,
impelidos por energia luminosa, em uma onda
vinda do exterior. Essa teoria foi contestada, pela
dificuldade em se aceitar que tais esporos
pudessem resistir à radiação do espaço e ao
aquecimento gerado pela entrada em nossa
atmosfera;

c) a Panspermia dirigida, desenvolvida nos anos 80


por Francis Crick (um dos descobridores da
estrutura do DNA), propondo que o início da vida
na Terra teve como ponto de partida colônias de
micro-organismos, que aqui teriam chegado a
bordo de uma nave espacial não tripulada, lançada
para cá por uma civilização muito avançada; a
partir deste evento, estes micro-organismos teriam
se multiplicado no oceano primitivo.

Fred Hoyle, citado no início desse capítulo, foi um


dos promotores da Panspermia, considerando que a vida
teria surgido no espaço, e que a evolução na Terra seria o

49
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

resultado de um fluxo constante de vírus que chegam ao


nosso planeta, através dos cometas.
Ele também era um crítico da ideia de que a
origem da vida pudesse ter ocorrido de forma natural,
através de reações químicas; segundo Hoyle, a
probabilidade de se obter naturalmente a quantidade de
enzimas necessárias para a mais simples das células era
praticamente zero.

Em sua afirmação mais forte para negar esta


possibilidade ele disse: “A noção de que não somente o
biopolímero, mas também o programa operativo de uma
célula viva possa ter surgido por acaso em uma sopa
orgânica primordial aqui na Terra é evidentemente um
absurdo de ordem superior”.

Ele foi mais longe, e comparou o surgimento


aleatório da mais simples célula, à probabilidade de que
um tornado, varrendo um depósito de lixo, possa fabricar
um Boeing 747, a partir dos materiais lá existentes.

Para analisar seriamente a Panspermia, deve-se


considerar que, se por um lado, é comprovada a
existência de matéria orgânica no Universo, por outro
lado, matéria orgânica não significa vida. Além disso, se
eventualmente verificar-se a presença de vida no espaço,
a qual poderia ter “povoado” o nosso planeta, dando início
ao processo da evolução, a questão estará apenas sendo
transferida de lugar, pois, a partir dessa eventual
constatação, ainda será necessário responder como surgiu
essa vida que veio do espaço.

2 - Abiogênese (do grego a-bio-genesis, origem


não biológica), teoria que, em sua versão atual, considera
que a vida teria se originado a partir de reações químicas

50
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

envolvendo compostos orgânicos gerados a partir de


matéria inerte.
Essa teoria, resumidamente, parte da hipótese de
que, na atmosfera primitiva da Terra, teriam existido
gases como o metano, a amônia e o hidrogênio, além do
vapor d’água (hoje se considera alternativamente a
presença de monóxido e dióxido de carbono, nitrogênio e
vapor d’água).

Esses gases, submetidos às altas temperaturas


existentes no planeta e bombardeados por descargas
elétricas e radiação ultravioleta, teriam se combinado,
gerando aminoácidos, os quais, ao chegarem ao solo pela
ação das chuvas, se combinaram, formando proteínas,
que se desenvolveram no ambiente favorável, até que se
produziu a primeira célula viva.

A partir dessa teoria, cientistas de todo o mundo


têm, há vários anos, buscado reproduzir as condições
originais que, segundo eles, resultaram na primeira vida
e, com isso, criar vida em laboratório.

Essa busca ainda esbarra em uma série de


questões não resolvidas pois afinal, a origem da vida na
Terra é reconhecidamente repleta de enigmas e
paradoxos. Quem veio primeiro? As proteínas de células
vivas ou a informação genética que as compõe? Como o
metabolismo de seres vivos pode começar sem um
envoltório membranoso para manter todas as substâncias
químicas necessárias juntas? Se a vida começou dentro da
membrana de uma célula, como os nutrientes necessários
entraram nela?

Apesar de experiências recentes, bem sucedidas no


aprimoramento do estudo das diversas variáveis

51
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

envolvidas nesta questão, a dificuldade para se chegar


efetivamente ao desenvolvimento de vida em laboratório
ainda é imensa; só para ter-se uma ideia do tamanho do
problema, ainda não existe consenso nem quanto ao tipo
de ambiente no qual a vida teria se originado.

Alguns químicos defendem a tese, segundo a qual,


a vida começou em condições vulcânicas como a de
fendas no fundo do mar, locais que possuem as condições
para que os primeiros processos metabólicos possam ter
ocorrido.

Outros cientistas argumentam que nos oceanos os


constituintes necessários para o surgimento da vida
estariam por demais diluídos e, em função disso,
defendem que a vida teria surgido em lagos de água doce
aquecida.

Em função de tantas dificuldades, cabe perguntar


se algum dia haverá a notícia bombástica, divulgada em
todos os meios de comunicação, informando que,
finalmente, o Homem criou a vida em laboratório. Caso
isso ocorra, será possível afirmar que a ciência estaria
confirmando que a vida teria surgido espontaneamente,
pela conjugação casual de fatores favoráveis à sua
existência? Antes de responder a esta pergunta vamos
considerar uma terceira possibilidade para a origem da
vida.

3 - A criação divina

Suponha por um momento que Deus existe e que


Ele, usando a Sua Suprema Vontade tenha decidido criar
não só um universo, mas um universo com vida. Para
realizar essa vontade, Ele teria dado início ao processo

52
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

que, a partir do átomo primordial, e do Big Bang,


produziria, entre outros, o planeta Terra.
Neste planeta, a partir de Sua Suprema
Inteligência e dos recursos materiais criados através do
processo por Ele desencadeado, Deus teria criado as
condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da
primeira vida e promovido, através das leis químicas e
biológicas por Ele criadas, o nascimento do primeiro ser
vivo, a semente que, mediante o processo da evolução
também por Ele definido, resultaria na vida exuberante
existente na Terra.

Essa descrição contempla a obra de um Criador,


sem espaço para o acaso.

Os seres humanos, última etapa evolutiva deste


processo, receberam inteligência em nível superior e
racionalidade, além de livre arbítrio para utilizar estas
ferramentas de grande poder como bem quiserem. O uso
indevido desses dons, como veremos a seguir, leva muitas
pessoas até ao ponto de contestar a existência de Deus.

Os cientistas divergem em muito, sobre a


probabilidade de a vida ter surgido a partir de reações
químicas, ocorridas ao acaso. O Dr. Richard Dawkins
defende essa tese considerando que a sua probabilidade
seria de 1 em 1 bilhão e, com base nisso, se existirem
pelo menos 1 bilhão de bilhões de planetas, haveria
condições para a vida surgir espontaneamente em pelo
menos 1 bilhão de planetas.

Fred Hoyle, entretanto, rejeita esse raciocínio,


afirmando que a probabilidade de a primeira vida ter
surgido a partir de reações químicas seria de 1 em 10
elevado a 40.000 (isto significa 1 seguido de quarenta mil

53
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

zeros, um número muitíssimo maior do que o bilhão de


Dawkins).
O problema com estas conjecturas estatísticas é
que a existência de um ambiente propício para a vida é
condição necessária, mas não suficiente para que ela
surja; em outras palavras, nem sempre podemos
considerar que a existência de probabilidade implique em
possibilidade.

Podemos exemplificar essa afirmação utilizando


este livro; qualquer pessoa ao vê-lo irá concluir, por
dedução lógica, que ele foi escrito por alguém; em outras
palavras, a existência deste livro implica na existência de
um escritor por trás dele. Existe alguma probabilidade de,
ao invés de um escritor, este livro ter sido produzido ao
acaso? Alguém pegar os milhares de caracteres que
formam este texto, jogá-los para o alto, e eles caírem
sobre uma grande mesa, de forma perfeitamente
ordenada resultando neste livro?

Na verdade, por mínima que seja, essa


probabilidade existe; não parece, entretanto, racional
pensar que, a partir da existência dessa probabilidade
alguém poderia imaginar que seria possível esse livro ter
surgido fora da ação de um ou mais escritores.

A razão para isso é que, a existência desses


milhares de caracteres, é condição necessária para a
existência do livro, mas não suficiente; para que ele exista
é fundamental o concurso de inteligência e conhecimento,
que em nenhuma circunstância, podem ser resultado do
acaso.

Ainda na questão das probabilidades, mas aplicada


à vida, citamos um exemplo apresentado por Norman

54
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Geisler e Frank Turek em seu excelente livro “Não tenho


fé suficiente para ser ateu”; conforme reconhecido pelo
Dr. Richard Dawkins, a mensagem codificada existente
apenas no núcleo de uma simples e minúscula ameba
unicelular é maior do que o volume de informação
existente nos 30 volumes da Enciclopédia Britânica; se
considerarmos a ameba inteira, a quantidade de
informação codificada e ordenada em seu DNA equivale a
mil conjuntos da enciclopédia.

Existe alguma probabilidade, de um evento casual


ter armazenado em uma simples célula esta quantidade
de informação, em uma sequência absolutamente
definida, conforme ocorre nas mil enciclopédias reais?
Especialmente se considerarmos, que esta sequência de
informação armazenada em seu DNA é condição
fundamental para a existência da ameba como ser vivo?

Certamente existe uma probabilidade que, por


menor que seja, é diferente de zero. Entretanto, apesar
dessa probabilidade, uma pessoa em seu perfeito juízo
consideraria esse fato como algo possível?

Voltando à pergunta, quanto ao significado da


eventual criação de vida em laboratório. Para muitos
teístas o fato desse evento não ter ocorrido é um forte
argumento que demonstraria a necessidade de
inteligência criadora para gerar a primeira vida; em outras
palavras, algo que demonstraria a existência de Deus.

Para os ateus, este tipo de argumentação resulta


no chamado “Deus das Lacunas”, sendo extremamente
arriscada, uma vez que, se a ciência produzir vida em
laboratório estará preenchendo mais uma lacuna e, com

55
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

isso, estreitando ainda mais o espaço disponível para


Deus.

O debate resultante dessas opiniões jamais poderá


levar a coisa alguma, uma vez que os dois lados estão
considerando premissas erradas.

Conforme fartamente ilustrado neste capítulo,


existem evidências e deduções lógicas em quantidade
mais que suficiente para demonstrar que, a existência de
Deus, é não só uma possibilidade, mas também apresenta
um grau de probabilidade forte o bastante para que
possamos considerá-la como fato verdadeiro. Não há
necessidade de se explorar qualquer tipo de lacuna
científica para justificar a existência de Deus.

Por outro lado, caso algo realmente vivo seja


criado em um laboratório, poder-se-ia deduzir a partir
disso que a primeira vida teria surgido espontaneamente,
por obra do acaso?

Quem afirmar que sim estará desprezando as


centenas ou milhares de inteligências brilhantes que, após
muitos anos, em um longo processo de tentativa e erro,
terão finalmente conseguido replicar, pelo menos
parcialmente, o processo utilizado por uma Inteligência
Superior para criar a primeira vida.

Para ser mais claro, a criação de vida em


laboratório jamais indicará a possibilidade de Deus não
existir; muito ao contrário, estará confirmando que Deus
existe, ao demonstrar que a criação de vida só é possível
a partir do concurso da inteligência – a de laboratório será
resultado da inteligência dos cientistas, enquanto a
primeira vida resultou da Inteligência de Deus.

56
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Vamos voltar à primeira pergunta que ficou em


aberto neste capítulo: “Existindo como de fato existem,
tantas evidências apontando para a existência de Deus, o
que faz com que tantas pessoas se neguem não só a crer
nEle, mas pior do que isso, não aceitem Deus, nem como
hipótese?

Para responder a esta pergunta deve-se considerar


que, antes de se utilizar qualquer tipo de processo que
possa mostrar que algo é verdadeiro, é necessária uma
mente aberta, para que se possa receber a verdade que
resultará da sua utilização.

Um claro exemplo disso, é a teoria da terra plana;


apesar de todas as evidências mostrando que a Terra é
uma esfera achatada nos polos, existem pessoas que
rejeitam esta verdade, e ainda se mantêm na crença de
que a Terra é plana. Obviamente uma pessoa que pensa
assim está com a mente fechada e não quer acreditar em
nada além da terra ser plana; se um defensor desta teoria
for colocado a bordo de uma nave, e, com ela descrever
várias órbitas ao redor do planeta, é muito provável que,
no retorno, ele (ou ela) declarará que tudo não passou de
um truque.

Outro aspecto importante a se considerar, é que


muitas coisas que são verdadeiras só podem ser
conhecidas pelo seu efeito; um exemplo é a força da
gravidade, conhecida por todas as pessoas, mesmo
aquelas que nunca estudaram Física. Acredito não existir
uma só pessoa que possa acreditar que ao soltarmos um
objeto (que não seja um balão de gás), ele subirá, em vez
de cair. Como explicar esta unanimidade quando ninguém
jamais teve qualquer tipo de contato sensorial com a

57
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

gravidade? Ninguém jamais a viu, tocou, ouviu, cheirou


ou saboreou.

A explicação para isso é que, um dos processos


que utilizamos para conhecer verdades e, como resultado,
incluí-las em nossas crenças, é a observação, que tanto
pode ser direta como indireta; na primeira, a verdade se
manifesta através do próprio fato, na segunda, através
dos seus efeitos.

Como exemplo da observação direta, a afirmação


de que esse livro foi impresso com tinta preta pode ser
facilmente verificada; neste caso, à medida que o livro for
folheado, a visão do observador não só confirmará a cor
da impressão, como permitirá que, gradualmente, seja
aumentada a probabilidade da afirmação ser verdadeira.
Ao final, haverá 100% de certeza.

A força da gravidade é um exemplo de observação


indireta, pois só sabemos que ela existe, através do seu
efeito; entretanto, diferentemente do caso do livro,
apenas pela observação, não é possível atingir 100% de
certeza com relação à gravidade, uma vez que é
impossível ver todos os objetos caindo.

Esse fato não torna a gravidade passível de uma


dúvida razoável, mas obriga a se usar a fé para, apesar
da observação incompleta, afirmar-se que a gravidade é
um fenômeno físico 100% verdadeiro.

É muito comum chegar-se à certeza sobre algo,


como resultado das observações sendo complementadas
pela fé.

58
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Além dos processos que levam a se considerar algo


como verdadeiro, e que, além da observação, incluem a
dedução e a indução, também se deve levar em conta a
necessidade de um mínimo de conhecimento, sobre o fato
que estiver sendo analisado; como exemplo, se a uma
pessoa, sem nenhuma noção do que seja a mecânica
quântica, for apresentada toda a documentação que
demonstra a veracidade de um fenômeno desta matéria,
haverá uma grande possibilidade de a pessoa não
acreditar, mesmo que sejam repetidas, diante dela, todas
as experiências de laboratório utilizadas para o estudo do
fenômeno.

Em uma situação como esta, é perfeitamente


razoável a pessoa dizer que, não entendendo nada do que
lhe foi apresentado, ela se reserva o direito de não
acreditar; o que não pode acontecer, é a pessoa, a partir
de seu não entendimento e resultante descrença, se
colocar na posição de emitir opiniões críticas querendo
afirmar que aquele fenômeno não é verdadeiro.

Acreditar ou não na existência de Deus não deve


ser uma questão de escolha, mas sim, função da análise
das evidências existentes a favor de cada tese e, a partir
delas, considerando-se a alternativa mais provável,
definir-se uma posição. Obviamente, como não é possível
a observação direta, a decisão para que uma das opções
seja considerada verdadeira, sempre incluirá uma dose de
fé.

No livro “Deus um delírio”, o Dr. Richard Dawkins


apresenta o resultado de pesquisas que indicam ser o
nível de religiosidade das pessoas (incluindo obviamente a
fé em Deus), inversamente proporcional à sua inteligência

59
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

e nível cultural; a sua conclusão foi que, ignorância e falta


de inteligência favorecem as crenças no sobrenatural.

Será que essas pesquisas podem ser consideradas


com seriedade? Será que a conclusão do Dr. Dawkins está
correta? Além disso, ele também afirma que a religião é
um mal incutido nas pessoas a partir da infância!

Conheço centenas de pessoas que possuem


inteligência acima da média, ótimo nível cultural, e que,
apesar disso (ou será por causa disso?) creem em Deus.
Vamos considerar alguns exemplos para poder analisar as
teses do Dr. Dawkins.

- Dr. Alister McGrath, nascido em Belfast, Irlanda


do Norte, em 1953, pós-doutorado em Biofísica Molecular
e doutorado em Teologia pela Universidade de Oxford na
Inglaterra, foi ateu até os 18 anos de idade, tendo se
convertido ao Cristianismo, depois de aprofundados
estudos tanto das raízes do Ateísmo quanto das crenças
básicas do Cristianismo.

É o maior crítico das posições religiosas do Dr.


Dawkins, chegando a escrever, entre outros, o livro “O
delírio de Dawkins – uma resposta ao fundamentalismo
ateísta de Richard Dawkins”.

Obviamente o Dr. McGrath não pode ser


considerado exemplo de pessoa inculta e sem inteligência;
provavelmente seus conhecimentos científicos são até
superiores aos do Dr. Dawkins. O que podemos afirmar
sobre ele é que, ao analisar as duas alternativas com a
mente aberta e livre de preconceitos pseudocientíficos, ele
enxergou que o Ateísmo abraçado por ele até então, não

60
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

tinha sustentação diante da Verdade encarnada em Jesus;


e isto não aconteceu na sua infância.

- Antony Flew, nascido em Londres, Inglaterra, em


1923, falecido em 2010, foi considerado um dos maiores
filósofos dos últimos cem anos. Apesar de ser filho de um
ministro metodista, foi, durante a maior parte da vida, um
dos maiores defensores do Ateísmo.

No início deste século, nas proximidades dos 80


anos de idade, aprofundando-se nos métodos de pesquisa
filosófica que sempre utilizou ao longo de toda a vida,
Flew encontrou evidências suficientes sobre a existência
de Deus para mudar a sua visão, o que o fez tornar-se um
deísta. Em seu livro “Um ateu garante: Deus existe” ele
relata o processo que o levou a esta mudança.

No livro pode-se ver que ele, que também não


pode ser considerado inculto ou desprovido de
inteligência, buscou a verdade durante toda a vida e ao
encontrá-la teve a coragem de declarar ao mundo que
viu, enxergou e assim mudou sua visão de mundo.

- Francis Collins, nascido na Virgínia, Estados


Unidos, em 1950, é formado em Química, Físico-química,
Biologia e Medicina; dirigiu o Projeto Genoma Humano
que, em 2001, conseguiu mapear o DNA humano; foi ateu
até os 27 anos de idade, quando se converteu ao
Cristianismo.

Em seu livro “A linguagem de Deus”, entre outros


temas, demonstra que a sua crença na evolução das
espécies absolutamente não entra em contradição com a
sua fé em Deus.

61
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Pelo que é apresentado pelo Dr. Collins em seu


livro, fica fácil concluir que, sua passagem do Ateísmo
para o Cristianismo, aconteceu como resultado do seu
aprofundamento no conhecimento da ciência. Mais do que
isso, ele viu e enxergou, que não existe conflito entre a
evolução e Deus.

- Rodney da Silva Gomes, nascido no Rio de


Janeiro, Brasil, é pós-doutorado em Astronomia de
Posição e Mecânica Celeste pela Cornell University nos
Estados Unidos, trabalhando como pesquisador no
Observatório Nacional brasileiro, na área de Astronomia
Dinâmica; é cristão e atua como Presbítero na Igreja
Presbiteriana do bairro do Grajaú, no Rio de Janeiro.

Um exemplo que não teve experiência com o


Ateísmo, sua fé o leva a se colocar a serviço da IGREJA,
como Presbítero. Pelo seu trabalho, pesquisando o
universo, tem contato diário com muitas das evidências
científicas que nos levam a Deus.

Estes exemplos mostram claramente que o


resultado das pesquisas citadas não pode ser considerado
de forma absoluta, o que leva à formulação de outra
hipótese, pela qual, pessoas com um alto nível de
escolaridade, possuidoras de títulos e lauréis acadêmicos
possam ser mais facilmente vitimadas pela soberba e
arrogância. Independentemente do seu grau de
inteligência, em geral muito elevado, estas pessoas
podem ser levadas, por estas doenças do espírito, a ver e
não enxergar, em muitos casos, por simplesmente não
quererem enxergar. Esse tipo de postura bloqueia
completamente os processos apresentados acima para a
busca da verdade.

62
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

No caso de muitos ateístas modernos esse quadro


de soberba e arrogância os leva a não admitir, sequer
considerar, a hipótese da existência de Deus; um possível
motivo para essa atitude é que, em função de seus vários
títulos passam a se considerar seres superiores, quase
semideuses. Ora, a existência de Deus, em sua Grandeza
e Majestade, transforma os seres humanos (todos, sejam
cultos, incultos, letrados ou ignorantes) em algo menor do
que um simples grão de areia no Deserto do Saara.

Fica difícil imaginar pessoas soberbas e arrogantes


aceitando se verem como pouco mais que nada diante da
Grandeza de Deus; especialmente se, pelos seus títulos e
lauréis elas se tornam famosas e bajuladas em um mundo
em que saber é confundido com sabedoria.

Alguns exemplos de pessoas que viram e não


quiseram enxergar podem tornar mais fácil a
compreensão dessa hipótese.

- Richard Lewontin, nascido nos Estados Unidos,


em 1929, biólogo evolucionista, geneticista e crítico
social; ateu e, segundo citado por Norman Geisler e Frank
Turek em seu livro “Não tenho fé suficiente para ser
ateu”, é responsável pela seguinte declaração:

“Nossa disposição de aceitar afirmações científicas


que são contra o bom senso, é a chave para uma
compreensão da verdadeira luta entre a ciência e o
sobrenatural. Assumimos o lado da ciência, a despeito do
patente absurdo de alguns de seus constructos, a despeito
de sua falha em cumprir muitas de suas promessas
extravagantes de saúde e vida, a despeito da tolerância
da comunidade científica pelas histórias do tipo “é porque

63
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

é”, porque nos comprometemos previamente com o


materialismo.

Não é que os métodos e as instituições científicas


de alguma maneira tenham nos compelido a aceitar uma
explicação materialista de um mundo fenomenal, mas,
pelo contrário, nós é que somos forçados, por nossa
própria aderência a priori às causas materiais, a criar um
aparato de investigação e um conjunto de conceitos que
produzam as explicações materialistas,
independentemente de quão contra intuitivas e
mistificadoras possam ser para o não iniciado. Além do
mais, esse materialismo é absoluto, pois não podemos
permitir a entrada de nada que seja divino”.

Diante da postura deste senhor, se o próprio Jesus


se apresentasse diante dele, e sucessivamente,
transformasse água no melhor dos vinhos de Bordeaux,
alimentasse dez mil pessoas munido apenas com uma
cesta contendo cinco pães e dois peixes e, para encerrar
ressuscitasse cinco pessoas com atestado de óbito emitido
há pelo menos uma semana, sua reação certamente seria
dizer que tudo não passava de truques de um grande
mágico fantasiado!

- Richard Dawkins, nascido em Nairóbi no Quênia,


em 1941, é zoólogo evolucionista, e um dos maiores
defensores do Novo Ateísmo Fundamentalista; autor de
vários livros tem, como teses principais, a religião como o
maior mal do mundo e o gene como responsável por toda
a criação; é de tal magnitude a sua adoração pelos genes
que poderíamos até sugerir que o seu Ateísmo admite um
deus, o Dio-genes.

64
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Em visita ao Brasil em 2009 para participar da FLIP


em Paraty, ele fez uma visita ao Pantanal e, no retorno,
em entrevista a diversos jornalistas afirmou: “Acabo de
retornar do Pantanal e fiquei deslumbrado com tanta
beleza. Se não conhecesse Darwin, ajoelharia e diria que
isto é obra de Deus”.

Dawkins aparentemente viu e não enxergou que a


origem daquela natureza exuberante não pode ser
atribuída ao acaso e, muito menos, que o processo
evolutivo do qual ela resultou não pode ser atribuído à
ação de genes “cegos”; por não aceitar Deus nem como
hipótese ele não consegue ver (muito menos enxergar)
que a evolução e Deus não são contraditórios para a
verdadeira ciência que vê a evolução não como uma
sucessão de acidentes, mas como uma ferramenta de
Deus.

Ele não consegue entender que essa contradição só


existe na cabeça de criacionistas fundamentalistas que
pretendem a leitura literal do Gênesis como fato científico,
e de evolucionistas ateus fundamentalistas que preferem
acreditar em absurdos a considerar a existência de Deus,
nem mesmo como hipótese.

Se tivesse um pouco mais de humildade e


sabedoria, o Dr. Dawkins, no Pantanal Brasileiro,
provavelmente teria se ajoelhado e louvado a Deus pela
Sua obra magnífica!

Paradoxalmente a postura de muitos cientistas


defendendo como verdade que a evolução elimina a
necessidade de Deus tem impedido que muitos teístas ao
menos considerem a evolução como verdade científica.

65
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Responder à grande questão que dá título a este


capítulo não é tarefa simples nem fácil; a argumentação
que desenvolvemos pode ser resumida nas seguintes
perguntas:

Será possível que o nada, que é verdadeiramente


nada, tenha, a partir do nada, criado o átomo primordial a
partir do qual surgiu tudo o que existe?

Será possível que o vazio, totalmente desprovido


de qualquer coisa, tenha criado leis que demandam
inteligência extrema?

Será possível que a matéria inerte, sem moral,


racionalidade e inteligência, tenha criado a primeira vida,
já possuidora de codificação e regras de evolução que
resultariam no desenvolvimento de vida inteligente, moral
e racional?

Ou será mais provável que Deus exista e, a partir


de Sua Suprema Vontade tenha criado o átomo
primordial, que com Sua Suprema Inteligência tenha
criado as leis que regem o desenvolvimento do universo
há 14 bilhões de anos e que com Seu Infinito Amor tenha
criado a semente que iria resultar na coroa da sua criação
– nós?

A resposta para estas perguntas definirá a resposta


para a grande questão:

Deus existe? Deus não existe?

Afinal, se Deus não existe, por que existe qualquer


coisa, além do nada?

66
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

2- Bíblia: um livro? Uma farsa? A Palavra


de Deus?

“... porque a letra mata, mas o espírito vivifica”


2 Co – 3:6

Imagine um agricultor que cultiva flores em uma


grande área, e num certo dia, descobre que a sua
plantação está sendo tomada por ervas daninhas.
Ele não tem paciência nem conhecimento para lidar
com o problema e, por isso, resolve passar o trator em
toda a área.
Fazendo assim, ele, de fato, se livra das ervas
daninhas, mas, ao mesmo tempo, destrói todas as flores –
não me parece ter sido uma solução inteligente.
Esta breve estória me lembra a postura de alguns
ateus fundamentalistas como Richard Dawkins e
Christopher Hitchens (este já falecido) em relação à Bíblia.
A partir de uma leitura literal e superficial, passam
o trator por todo o livro, destruindo não só as ervas
daninhas – erros, inconsistências e incoerências – mas
também as flores – a boa mensagem.
Acredito que, com essa atitude, pretendam criar
uma base que justifique a sua intolerância e arrogância,
que os leva a não admitir, nem como hipótese, a
existência de Deus.
Provavelmente a sua crença os leva a acreditar que
nós e o Universo somos produto do Nada.

A Bíblia, também conhecida como “Bíblia Sagrada”,


é formada por um conjunto de livros escritos ao longo de
cerca de 1.600 anos, por aproximadamente 40 autores;
modernamente a Bíblia é dividida em Antigo Testamento,
composto por 39 livros, na maioria das Bíblias

67
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

protestantes (46 na Bíblia católica romana), e Novo


Testamento, composto por 27 livros.

Para os cristãos esses autores escreveram a Bíblia


inspirados por Deus e, como resultado, a consideram
como Escritura Sagrada; muitos a leem e interpretam de
forma literal, outros tomam vários dos seus textos no
sentido metafórico.

De modo geral, veem a Bíblia como a Palavra de


Deus, significando, assim, a vontade de Deus para a
humanidade, mostrando as respostas para nossos
problemas, bem como princípios e normas de moral que
se deve seguir.

Muitos não cristãos veem a Bíblia como um livro


comum, sem origem divina, e que, apesar de sua
importância histórica, tem pouco ou nenhum sentido no
mundo atual. Ateus mais radicais chegam a ver a Bíblia
como um conjunto de lendas absurdas, ou, até mesmo,
como uma farsa.

Apesar de ter sido escrita no mundo oriental


antigo, em línguas como o hebraico e o aramaico (Antigo
Testamento), e o grego (Novo Testamento), a Bíblia
influenciou o desenvolvimento do mundo ocidental
moderno, e continua influenciando, de forma decisiva, a
vida da maioria dos habitantes do planeta.

É, com toda certeza, o maior “best seller” mundial,


um dos livros mais antigos, o mais publicado, traduzido
para as mais diversas línguas e o mais vendido em todos
os tempos.

68
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

É, provavelmente, o livro mais lido, pelo menos em


forma parcial.

Infelizmente, também é possível afirmar que a


Bíblia é o livro menos compreendido, daí resultando um
fenômeno que se pode caracterizar como “analfabetismo
bíblico”.

Visões sobre a Bíblia

As visões sobre a Bíblia vão desde as mais


negativas, até às mais positivas, incluindo todas as
possibilidades entre esses extremos.

No extremo negativo, pode-se citar os soviéticos


que, no auge do regime comunista, publicaram o livro
“Dicionário de Palavras Estrangeiras”, onde a Bíblia é
definida como “uma coletânea de lendas distintas e
contraditórias, escritas em diferentes épocas e cheias de
erros históricos, que as Igrejas publicam como livro
santo”.

Outro exemplo, que encerra uma enorme ironia, é


o do filósofo francês Voltaire que, no século XVIII, previu
que a Bíblia, em função do desenvolvimento da ciência,
desapareceria em cem anos, tornando-se peça de museu.

Ele jamais poderia imaginar que, apenas cinquenta


anos depois da sua morte, a Sociedade Bíblica de Genebra
compraria a residência onde Voltaire escreveu a insidiosa
declaração, transformando a sua casa num enorme
depósito de impressão e distribuição de Bíblias!

Mais tarde aquela mesma casa tornou-se a sede da


filial de Paris da Sociedade Bíblica Britânica e

69
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Internacional. Para tornar a ironia ainda maior, a


circulação de bíblias só tem aumentado, na maioria dos
países!

Modernamente, entre os adeptos do “Novo


Ateísmo”, pode-se citar o Dr. Richard Dawkins que, em
seu livro “Deus um delírio”, afirma, na página 305:
“Existem duas maneiras pelas quais as Escrituras podem
servir de fonte para os princípios morais ou normas para a
vida. Uma é por instrução direta, como por exemplo, os
Dez Mandamentos, que são objeto de tantas brigas nas
guerras culturais do interiorão americano. A outra é pelo
exemplo: Deus, ou algum outro personagem bíblico, pode
servir como alguém em quem se espelhar. Os dois
caminhos escriturais, se seguidos religiosamente (o
advérbio está sendo usado em seu sentido metafórico,
mas lembrando sua origem), incentivam um sistema de
princípios morais que qualquer pessoa moderna e
civilizada, seja ela religiosa ou não, acharia – não tenho
como dizer de modo mais delicado – repulsivo.”

Um caso especial, como visão negativa da Bíblia, é


o do escritor Bart D. Ehrman. Nascido e criado em família
cristã, tornou-se coroinha em sua Igreja, aos doze anos;
estudou em um seminário fundamentalista, o Moody Bible
Institute, continuou seus estudos na Wheaton, uma
faculdade cristã evangélica e, finalmente, no Seminário
Teológico de Princeton, uma instituição presbiteriana,
conseguiu um mestrado em teologia e um doutorado em
estudos do Novo Testamento.

Tornou-se um dos maiores especialistas em


estudos bíblicos e, atualmente, chefia o Departamento de
Estudos Religiosos da Universidade da Carolina do Norte,
nos Estados Unidos.

70
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Em seu livro “O problema com Deus – as respostas


que a Bíblia não dá ao sofrimento”, ele afirma, na página
11: “Se há no mundo um Deus todo-poderoso e amoroso,
por que há tanta dor excruciante e tanto sofrimento
indizível? O problema do sofrimento me atormentou
durante muito tempo. Foi o que me levou a pensar na
religião quando jovem, e foi o que me fez questionar a
minha fé quando mais velho. Por fim, foi a razão pela qual
perdi minha fé”.

Essas visões negativas da Bíblia são


fundamentadas, basicamente, no “analfabetismo bíblico”.
Alguém poderia dizer que considerar Voltaire, os
soviéticos, ou o Dr. Richard Dawkins como vítimas desse
fenômeno ainda faz sentido, mas incluir o Dr. Ehrman na
lista seria um contrassenso – afinal, ele é considerado
uma das maiores autoridades em Bíblia no mundo!

Para compreender a afirmação acima, é necessário


considerar-se que existe uma enorme diferença entre
grande saber e sabedoria – depois de tantos estudos, o
Dr. Ehrman passou a conhecer tudo (ou quase) sobre os
textos da Bíblia, mas, aparentemente, continuou
conhecendo muito pouco sobre a sua mensagem; isso
explica a afirmação feita em seu livro e a sua perda da fé
em Deus.

No extremo positivo, pode-se citar Abraham


Lincoln, que afirmou: “A Bíblia é o melhor presente que
Deus deu para o homem, pois sem ela não conheceríamos
o certo e o errado”.

Ou Theodore Roosevelt, que declarou: “O


conhecimento integral da Bíblia vale mais do que a
instrução universitária”; ou ainda A. T. Robertson, grande

71
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

estudioso do grego, que atestou: “Dê a um homem uma


Bíblia aberta, uma mente aberta e uma consciência
ordenada, e ele certamente se tornará um grande
cristão”.

Como é possível que um mesmo livro possa


suscitar visões e opiniões tão opostas?

A resposta a esta pergunta é relativamente


simples: a Bíblia é vista em formas tão absurdamente
diversas, pela combinação do analfabetismo bíblico, que
resulta na incompreensão do seu conteúdo, com a falta de
entendimento de sua verdadeira natureza e propósito.

Em outras palavras, a maioria das pessoas vê a


Bíblia de forma literal e, assim, ficam restritas aos “33
motivos”, sem perceber a maravilhosa “bala de canhão”
que ela contém.

Neste capítulo vamos buscar o entendimento da


natureza e propósito da Bíblia, respondendo às questões
apresentadas no seu título: “A Bíblia, um livro? Uma
farsa? A Palavra de Deus”?
A Bíblia: um livro?

A Bíblia é formada por textos independentes,


escritos ao longo de cerca de 1.600 anos; esses textos
são hoje denominados como livros, os quais foram
reunidos em conjuntos, que nós conhecemos como a
Bíblia. Com base nisso, como se deve denominá-la?
Vamos pedir ajuda ao dicionário, que diz:

- livro – publicação impressa, que consiste em uma


reunião de páginas ou cadernos de papel, com

72
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

textos impressos, costurados entre si; divisão de


uma obra literária;
- enciclopédia – conjunto de todos os
conhecimentos humanos;
- biblioteca – coleção de livros, dispostos
ordenadamente.

Em função do que diz o dicionário, a Bíblia deve ser


considerada como uma biblioteca, que reúne,
ordenadamente, uma série de livros. Vale lembrar que
São Jerônimo, o tradutor da Bíblia denominada “Vulgata
Latina”, denominou o conjunto de livros do Antigo e Novo
Testamento como “Biblioteca Divina”.

Entretanto, no desenvolvimento desse tema,


tomaremos a liberdade de tratar a Bíblia pela forma como
ela é conhecida pela maioria das pessoas, ou seja, como
um Livro.

O processo de seleção dos livros que formaram


tanto a Bíblia hebraica, quanto as cristãs, é denominado
canonização, ou seja, a caracterização daquele texto como
escritura sagrada. Para ser canonizado, um texto (livro)
deveria preencher três requisitos: a Inspiração de Deus, o
seu reconhecimento pelo povo de Deus e a sua coleção e
preservação pelo povo de Deus.

Muitos livros, apesar de seu caráter religioso,


sendo inclusive objeto de leitura nos cultos, não foram
considerados como preenchendo, adequadamente, esses
requisitos e, como resultado, não foram incluídos nas
bíblias, tanto na hebraica, quanto nas cristãs.

Esse processo ocorreu ao longo de várias etapas,


que podem ser resumidas no Cânon do Antigo Testamento

73
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

(e formação da Bíblia hebraica), no Cânon do Novo


Testamento e, finalmente, na formação das Bíblias cristãs,
que incluem o Antigo e o Novo Testamento - não se pode
esquecer de que existe uma divisão, que resulta em pelo
menos três Bíblias: a Católica Romana, a Ortodoxa e a
Protestante.

Como o detalhamento dessas etapas foge ao


propósito deste livro, deixaremos o aprofundamento neste
assunto a critério de cada leitor, através da bibliografia
sugerida, nos limitando a apresentar, apenas, algumas
informações de caráter mais geral.

As evidências históricas indicam que o Antigo


Testamento hebraico cobre a história do povo de Israel
até cerca de 400 a.C. sendo, entretanto, formalizado
como livro, com o seu conteúdo atual, apenas no século I
d.C.; era dividido em duas seções, a Lei (Tora), com cinco
livros e os Profetas (Nebhiim) com 19 livros, totalizando
24 livros.

Modernamente a Bíblia hebraica (Tanakh)


apresenta três divisões:

1 - a lei (Tora), formada por cinco livros, Gênesis,


Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio;

2 - os profetas (Nebhiim), formado por oito livros,


com duas subdivisões – a) Profetas anteriores -
Josué, Juízes, Samuel e Reis; b) Profetas
posteriores - Isaías, Jeremias, Ezequiel e Os Doze
(Oséias, Naum, Joel, Habacuque, Amós, Sofonias,
Obadias, Ageu, Jonas, Miquéias, Zacarias e
Malaquias);

74
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

3 - os escritos (Kethubhim), formado por onze


livros, com três subdivisões – a) Livros poéticos -
Salmos, Provérbios e Jó; b) Cinco rolos (Megilloth)
- O Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Ester
e Eclesiastes; c) Livros históricos - Daniel, Esdras-
Neemias e Crônicas.

O processo de formação da Bíblia hebraica foi


linear e sem divergências quanto à sua natureza e
conteúdo, podendo-se registrar apenas alteração em sua
forma, pois, originalmente, os textos eram divididos em
duas seções e hoje, os mesmos textos são divididos em
três seções.

Já a Bíblia cristã, que contém o Antigo e o Novo


Testamento, teve sua formação através de um processo
bastante complexo, que resultou na existência de várias
bíblias. As muitas variantes são, principalmente, resultado
de se utilizar bases diversas para o Antigo Testamento,
entre elas a Septuaginta e a Vulgata Latina, tendo em
comum a divisão dos 24 livros aceitos na Bíblia hebraica
em 39 livros. Entretanto, a partir desta base, as diversas
divisões das igrejas cristãs consideraram outros textos de
forma distinta.
Na Igreja Católica Romana, além dos 39 livros
citados, o Antigo Testamento contém mais sete livros -
Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I
Macabeus e II Macabeus. Esses livros se referem ao
período de 400 a.C. até o nascimento de Cristo, que dá
início ao período de criação do Novo Testamento; não
fazem parte da Bíblia hebraica, uma vez que os hebreus
não os consideram inspirados por Deus.

As igrejas Cristãs Ortodoxas e as outras igrejas


orientais, incluem em suas bíblias, além dos 46 livros

75
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

considerados na Bíblia católica romana, mais dois livros de


Esdras, outros dois de Macabeus, a Oração de Manassés e
alguns capítulos adicionais no Livro dos Salmos.

A maioria das igrejas cristãs protestantes considera


o Antigo Testamento contendo os 39 livros resultantes da
subdivisão dos 24 livros originais da Bíblia hebraica.

Os outros textos, aceitos pela Igreja Católica


Romana, bem como pelas Igrejas Ortodoxas, são
qualificados pelos protestantes como livros apócrifos, ou
seja, sem autenticidade comprovada. Entretanto, algumas
importantes bíblias protestantes, como a King James e a
Reina-Valera, contêm alguns desses livros, em algumas
de suas várias edições.

Com relação ao Novo Testamento, todas as bíblias


cristãs contêm os mesmos 27 livros, utilizando,
entretanto, fontes diversas.

Uma pergunta que se coloca neste momento, antes


de passarmos para a próxima etapa desta reflexão é:

“Entre tantas variantes determinadas pelo Homem,


qual é a verdadeira Bíblia cristã?”.

A Bíblia: uma farsa?

Citando novamente o Dr. Richard Dawkins, ele


afirma em seu livro “Deus um delírio”, às páginas 305 e
306:

“É preciso dizer, para ser justo, que grande parte


da Bíblia não é sistematicamente cruel, mas simplesmente
estranha, como seria de esperar de uma antologia caótica

76
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

de documentos desconjuntados, escrita, revisada,


traduzida, distorcida e “melhorada” por centenas de
autores anônimos, editores e copiadores, que
desconhecemos e que não se conheciam entre si ao longo
de nove séculos”.

A palavra farsa, segundo o dicionário, pode ter os


seguintes significados: 1- peça cômica, de poucos atores,
de ação trivial, irreverente e burlesca; 2- coisa burlesca
(grotesca; ridícula); 3- pantomima (embuste, logro);
4- arremedo, simulacro.

Para muitas pessoas a Bíblia se encaixa,


perfeitamente, nas definições 2, 3 e 4 citadas para a
palavra farsa; para mim esta opinião é desprovida de
fundamento racional, sendo resultado de uma leitura
equivocada, o tipo de leitura que, por sinal, leva ao que
chamamos de “analfabetismo bíblico”.

Para responder de forma adequada à pergunta


acima, devem-se analisar alguns aspectos relacionados ao
Livro que hoje é conhecido como Bíblia Sagrada.

1- A origem dos textos

Infelizmente não possuímos os textos originais, ou


autógrafos; os manuscritos utilizados como fonte para a
Bíblia atual são resultantes de um extenso processo de
cópias, ao longo de vários séculos.

É fácil concluir-se que este fato contribuiu para


acrescentar imprecisões nos textos que se dispõem, seja
por erros involuntários, seja por alterações intencionais.

77
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

O processo de cópias foi necessário, basicamente


por duas razões:

- os materiais usados para escrita eram perecíveis;


- no caso do Novo Testamento, havia a
necessidade de difundir os textos para as várias
comunidades cristãs que se formavam.

Apesar disso, a grande quantidade de manuscritos


disponíveis hoje, principalmente dos textos do Novo
Testamento, permite afirmar-se que os livros que formam
a Bíblia moderna são compatíveis com os originais, em um
grau de precisão superior a 95%.

Esta afirmação, por sinal, só é possível como


resultado do trabalho humano em dois ramos científicos:
a crítica textual (trabalho de especialistas que comparam
diversas versões de um mesmo texto e selecionam o que
é denominado o “Texto Padrão”, ou seja, o texto que mais
provavelmente reflete o original) e a Arqueologia, que não
só tem sido responsável pela descoberta de uma enorme
quantidade de manuscritos, como também tem
comprovado a veracidade e acuidade de fatos históricos
narrados nos textos bíblicos.
O Antigo Testamento

A Bíblia hebraica atual, que dá origem ao Antigo


Testamento, é baseada, principalmente, em um texto
formalizado pelos “massoretas” (transmissores da
tradição) no ano 1.008 d.C. Este texto é baseado na Bíblia
hebraica formada no século I d.C., e é denominado o
Códice de Leningrado.

A crítica textual relacionada à Bíblia hebraica atual


envolve vários outros textos hebraicos, o texto samaritano

78
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

do Pentateuco, a Septuaginta (tradução dos textos


hebraicos para o grego feita em Alexandria entre os
séculos III e II a.C.), versões aramaicas, siríacas, coptas
e armênias, além da tradução feita para o Latim, por São
Jerônimo, em 404 d.C. (a Vulgata Latina).

Descobertas feitas a partir de 1947, em cavernas


próximas ao Mar Morto, trouxeram para análise
manuscritos que remontam ao século II a.C..

Como resultado da análise dessa enorme


quantidade de documentos, foi possível determinar o
elevado grau de precisão dos textos usados como base
para a Bíblia hebraica atual, bem como de textos usados
como base para o Antigo Testamento Cristão.

O Novo Testamento

Para os seguidores de Cristo, no início, o Antigo


Testamento era considerado como a única Bíblia.

Jesus, bem como seus apóstolos e discípulos,


citaram-no diversas vezes como “as Escrituras”, “a Lei”,
ou “a Lei e os Profetas”.
Os vinte e sete livros que formam o Novo
Testamento foram escritos em grego comum, a linguagem
usada pelo povo naquela época em todo o Império
Romano; o Antigo Testamento usado pelos seus autores e
mencionado em várias passagens era, provavelmente, a
versão em grego denominada Septuaginta.

Hoje sabemos que todos os livros do NT foram


escritos na segunda metade do século I, sendo o primeiro,
ao que parece, a Carta de Paulo aos Tessalonicenses,

79
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

escrita ao redor do ano 50 d.C., e o último o Evangelho de


João, escrito ao redor do ano 100 d.C.

O uso frequente que os primeiros cristãos faziam


desses vinte e sete livros, bem como o reconhecimento de
sua inspiração divina e do testemunho confiável que eles
apresentavam de que, em Jesus Cristo, cumpriram-se as
antigas profecias e as esperanças messiânicas do povo de
Israel, levaram a IGREJA, ainda em formação, a
considerá-los como complemento do AT, documentando o
cumprimento integral das promessas de Deus, através de
Jesus.

No século V, a Bíblia cristã foi formalizada,


incluindo o Antigo e o Novo Testamento.

Apesar de não se dispor dos originais do NT, e sim


de cópias de cópias feitas à mão, a enorme quantidade de
manuscritos existentes, mais de dez mil incluindo cerca de
duzentas versões completas, tem permitido a
recomposição dos originais, com uma precisão
infinitamente maior do que é possível fazer-se com
qualquer outro livro da Antiguidade.

A Bíblia não se propõe a ser um livro histórico,


entretanto, grande parte de seu conteúdo relata
acontecimentos históricos, ligados à vida do povo de
Israel, no Antigo Testamento e da vida e ministério de
Jesus, no Novo Testamento.

A veracidade e a historicidade desses


acontecimentos são atestadas não só por descobertas da
Arqueologia, como também por relatos de escritores e
historiadores independentes, majoritariamente não
cristãos; em função disso pode-se afirmar que a Bíblia não

80
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

é um arremedo, nem um simulacro e, como consequência,


a Bíblia não é uma farsa.

Para que fique perfeitamente clara esta afirmação,


vamos considerar a existência de Jesus.

Para muitos ateus Ele não existiu, resumindo-se a


uma das muitas lendas inventadas pelo povo e abraçadas
pela IGREJA. Essa posição é justificada pela sua visão de
que os livros do Novo Testamento não são textos
confiáveis, resumindo-se a uma farsa.

Ora, se as únicas fontes existentes relatando a


existência de Jesus fossem os livros do NT, seria válido
afirmar-se que a argumentação dos ateus seria
merecedora, pelo menos, de alguma consideração;
entretanto, além dessas fontes, a existência de Jesus e
muitos dos eventos de Sua vida, relatados no NT, também
são objeto de documentos deixados por vários escritores
não cristãos, incluindo historiadores judeus, que teriam
todo o interesse em ocultar a existência de Jesus.

Esse fato permite concluir que a argumentação dos


ateus é totalmente desprovida de lógica, não merecendo,
portanto, nenhum tipo de consideração.

2- Estudo e interpretação da Bíblia

Ao contrário do que afirmam muitos ateus e


agnósticos, vítimas do “analfabetismo bíblico”, a Bíblia
tem tudo a ver com o mundo atual; afinal, os problemas
enfrentados pelo povo nela retratado, são exatamente os
mesmos que se vivenciam hoje, infelizmente, com uma
amplitude e gravidade muito mais intensas. O
entendimento e aceitação desse fato é condição,

81
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

fundamental, para que se possa descobrir a mensagem


que Deus colocou, para todos, dentro da Bíblia.

Entre os cristãos o “analfabetismo bíblico” resulta


de vários fatores, entre eles, os problemas que encontram
na sua leitura, em função de dificuldades de linguagem,
símbolos, diferenças culturais e falta de compreensão dos
vários gêneros literários utilizados pelos seus autores.

Essas dificuldades impedem muitas pessoas de


descobrir, por trás das palavras da Bíblia, a mensagem
sempre atual de Deus; com isso, a leitura e estudo da
Bíblia tornam-se um fim, deixando de ser um meio para
que se possa compreender a mensagem viva de Deus,
aplicada à nossa vida e à nossa história.

O estudo do significado de textos é uma ciência


denominada Hermenêutica; quando aplicada às Escrituras
Sagradas passa a ser a Hermenêutica Bíblica, tendo como
objetivo interpretar o que Deus quer revelar através da
Bíblia.

A aplicação prática das regras estabelecidas pela


Hermenêutica é denominada Exegese; buscando a real
interpretação dos textos que formam a Bíblia, vale-se do
conhecimento das línguas originais, da confrontação dos
diversos textos bíblicos e das técnicas aplicadas na
Linguística e na Filosofia.

Os dez princípios básicos para o exercício da


exegese são:

- a unidade nas Escrituras – sob a inspiração divina


a Bíblia ensina apenas uma Teologia; não pode

82
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

haver diferença doutrinária entre os livros que ela


contém;

- a leitura deve ser cuidadosa, com atenção a toda


pontuação existente;

- a Bíblia interpreta a si mesma – uma passagem


com sentido mais claro e fácil explica outra, com
sentido mais obscuro e difícil;

- o texto deve ser interpretado através do conjunto


das Escrituras;

- sempre considerar o contexto em que o texto foi


produzido, buscando conhecer a intenção do autor;

- buscar primeiro o sentido literal, a menos que


haja evidências de que ele é figurativo;

- ler o texto nas melhores traduções disponíveis;

- o trabalho de interpretação é científico, mas,


principalmente, espiritual, devendo ser feito com a
mente aberta, livre de qualquer preconceito;

- buscar respostas para questões como “Quem


escreveu?”, “Quando e onde foi escrito?”, “Qual o
tema e objetivo do escritor?”, “A quem o texto é
dirigido?”;

- se o resultado da exegese contrariar os princípios


fundamentais da Bíblia deve ser desconsiderado e
o processo reiniciado.

83
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Parece complicado, não? Vamos complicar um


pouco mais, uma vez que não existe apenas uma
exegese, mas três (considerando apenas as principais):

- A exegese rabínica, onde os judeus interpretavam


as escrituras (no caso a Bíblia hebraica ou o Antigo
Testamento na maioria das bíblias protestantes)
letra a letra, por causa da noção de inspiração que
tinham; se uma palavra não tinha sentido
perceptível imediato, eles usavam artifícios
intelectuais para lhe dar um sentido, porque todas
as palavras da Bíblia tinham que ter uma
explicação;

- A exegese católica, onde se partia dos pais


daquela Igreja para a Bíblia. Para os defensores
dessa exegese, a Bíblia dizia aquilo que os pais da
Igreja já haviam dito.

Hugo de São Vitor (1096 – 1141), importante


professor na Abadia de São Vitor em Paris, chegou
a dizer: “Aprende primeiro o que deves crer e
então vá à Bíblia para encontrares a confirmação”.
Principalmente na Idade Média esta exegese era
limitada pelas tradições e pela autoridade dos
concílios e, com isso, valorizava-se mais a tradição
e menos a Bíblia. A Igreja Católica custou muito a
reconhecer o seu atraso no estudo bíblico. A nova
exegese católica começou a ser formalizada pelo
Papa Pio XII, em 1943, quando na Encíclica Divino
Afflante Spiritu aprovou a teoria dos vários gêneros
literários da Bíblia;

- A exegese protestante surgiu do protesto de


alguns cristãos contra a autoridade da Igreja

84
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Católica como intérprete fiel da Bíblia. Lutero


instituiu o princípio da “sola scriptura” (só a
escritura), sem tradição, sem autoridade, sem
outra prova que não a própria Bíblia. A partir da
Reforma resultante, ocorrida no século XVI, os
protestantes passaram ao estudo mais profundo da
Bíblia, antecipando-se aos católicos.

O entendimento literal desse princípio permitiu que


cada um interpretasse a Bíblia como bem
entendesse, ou, teoricamente, como o Espírito
Santo o iluminasse. Infelizmente a aplicação
prática desse entendimento possibilitou um
desastre não só hermenêutico, mas
principalmente, na completa dissociação que
vemos hoje, entre a maioria das Igrejas (do
Homem) e a IGREJA (de Cristo).

Considerando os aspectos já abordados, sobre o


estudo e interpretação da Bíblia, alguém poderia concluir
que este é um assunto para especialistas, fora do alcance
das pessoas comuns, “condenadas”, como consequência,
ao “analfabetismo bíblico”.

Felizmente essa conclusão está muito longe da


realidade, e, para demonstrar isso, usaremos um texto
muito ilustrativo.

“A purificação da prata”

Havia um grupo de mulheres em um estudo bíblico


do livro de Malaquias. No capítulo 3°, versículo 3,
encontraram a seguinte afirmação: “Ele se assentará
como um refinador e purificador de prata; purificará os

85
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

filhos de Levi e os refinará como ouro e prata; eles trarão


ao Senhor justas ofertas”.

Esse verso intrigou as mulheres, que se


perguntaram o que essa afirmação significava quanto ao
caráter e natureza de Deus, em outras palavras, qual
mensagem Deus quis passar, com essas palavras.

Uma delas se ofereceu para tentar descobrir como


se realizava o processo de refinamento da prata e voltar,
para contar ao grupo, na próxima reunião de estudo.

Naquela semana ligou para um ourives, e marcou


um horário para acompanhar o seu trabalho, sem
mencionar a razão de seu interesse na prata, nada além
da sua curiosidade quanto ao processo de refinamento.

Na visita, enquanto ela o observava, ele mantinha


um pedaço de prata sobre o fogo e deixava-o aquecer.
Vendo sua expressão curiosa, ele explicou que no
refinamento da prata ela devia ser mantida no meio do
fogo, onde as chamas são mais quentes, de forma a
queimar todas as impurezas.

A mulher pensou em Deus, mantendo-nos num


lugar tão quente, depois pensou sobre o verso - “Ele se
assentará como um refinador e purificador da prata” - e
perguntou ao ourives se era verdade que ele tinha que
ficar sentado o tempo todo em frente ao fogo, enquanto a
prata estivesse sendo refinada.

O homem respondeu que sim, ele não apenas tinha


que sentar-se lá segurando a prata, mas também tinha
que manter seus olhos nela todo o tempo em que ela
estivesse no fogo; se a prata fosse deixada em demasia

86
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

nas chamas, apenas por um momento, ela seria


destruída.

A mulher silenciou-se por um instante, refletindo, e


então perguntou:

“Como você sabe que a prata está completamente


refinada, pura”?

Ele sorriu e respondeu: “É fácil – quando eu vejo a


minha imagem nela”!

A mulher, na reunião de estudo que se seguiu,


relatou suas descobertas, e pôde sintetizar o seu
entendimento para a mensagem de Deus “escondida”
naquela parábola, trazida para os dias de hoje.

“Deus nos criou perfeitos, à Sua imagem e


semelhança, mas, pela desobediência, nos tornamos
imperfeitos e pecadores, perdendo, com isso, a comunhão
com Ele. Para que o Homem possa recuperar tal
comunhão precisa antes se arrepender, abandonar seus
pecados e aceitar a Jesus como seu Salvador. De posse da
Salvação iniciará uma vida de Santificação. Deus usará
para isso as provações, assim como o fogo é usado para
purificar a prata. O Espírito Santo permanecerá junto a
nós, cuidando que o “fogo” não chegue ao ponto de nos
destruir, mas certificando-se que continue até o momento
em que, purificados, possamos refletir a Sua imagem”.

Como podemos ver nesse exemplo, através de


uma exegese simples e pessoal, aquelas mulheres
conseguiram interpretar um texto que, à primeira vista,
parecia estranho, mas acabou revelando uma mensagem
maravilhosa.

87
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Aqueles críticos da Bíblia, que a consideram um


conjunto de textos confusos e sem sentido poderão
sempre usar como argumento que, se esta era a
mensagem, porque o profeta Malaquias não a escreveu
diretamente?

Lamentavelmente, para esses críticos, o que se


pode dizer, é que este posicionamento, só serviria para
confirmar o seu “analfabetismo bíblico”, por duas razões
principais:

- em primeiro lugar, um escritor, em qualquer


tempo, tem a liberdade de usar o gênero literário
que bem entender, para transmitir a mensagem
que pretende fazer chegar às pessoas e no caso
em questão, o gênero foi a parábola;

- em segundo lugar, é muito provável que, na


época em que esse texto foi escrito, o processo de
refinamento e purificação da prata fosse de
conhecimento comum para as pessoas, fazendo
com que o entendimento da mensagem
“escondida” na parábola fosse algo natural. No
mundo de hoje, onde, para dizer o mínimo, a falta
de cultura geral leva, por exemplo, muitas crianças
a acharem que o leite é produzido em uma fábrica,
e embalado em caixinhas, esse conhecimento se
tornou exclusividade de especialistas, gerando a
necessidade da pesquisa citada na estória.

O que podemos afirmar sobre isso é que as


mensagens de Deus, contidas na Bíblia, são para todas as
pessoas em todas as épocas. O seu entendimento,
entretanto, em certos casos, é função de análises que
variam conforme as necessidades e contexto de cada

88
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

época, mas sempre é possível e disponível para aqueles


que realmente querem entender e conhecer.

Essa postura, por sinal, não é necessária apenas


para o entendimento da Bíblia e posso ilustrar essa
afirmação com o relato de um caso pessoal.

Há alguns anos tive a oportunidade de participar de


um congresso, promovido pelo grupo no qual trabalhava,
na cidade de Stratford-upon-Avon, berço de William
Shakespeare, na Inglaterra.

Colegas, da filial inglesa do grupo, informaram que


havia a possibilidade de assistirmos a uma peça de
Shakespeare, que estava sendo apresentada no Royal
Shakespeare Theater - o convite foi prontamente aceito;
afinal, era uma oportunidade única, assistir a uma peça de
Shakespeare, encenada na sua cidade natal, naquele
teatro, algo imperdível.

Fui alertado sobre a língua usada na peça, uma


forma antiga da língua inglesa, que mesmo os ingleses
tinham dificuldade para entender completamente. Minha
fluência em inglês é muito boa, mas, mesmo assim,
buscando o melhor entendimento possível do que iria ver
e ouvir busquei informações sobre a peça, disponíveis em
um folheto distribuído junto com o convite.

Como resultado, fazendo associação de ideias,


consegui entender boa parte do que ouvi e, assim, pude
apreciar a beleza da peça.

O que teria acontecido se eu tivesse seguido a


mesma postura de certos críticos da Bíblia, fosse para o
teatro de espírito armado e sem nenhuma informação?

89
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Certamente teria compreendido pouco ou nada do


seu conteúdo e me sentiria, erroneamente, no direito de
dizer que “as peças de Shakespeare são absurdas e
confusas”; em outras palavras, a peça estaria sendo
qualificada a partir do meu “analfabetismo
shakesperiano”, que me levaria, entre outras falhas, a não
considerar a linguagem usada na peça como corrente na
época em que ela foi escrita e, portanto, compreensível
para todas as pessoas daquele tempo.

A partir desse exemplo, posso afirmar que se


certos críticos da Bíblia usassem na sua leitura a mesma
postura que usei para assistir àquela peça, provavelmente
não fariam afirmações tolas e sem fundamento lógico.

O estudo de gêneros literários, apesar de sua


importância para o estudo e interpretação da Bíblia, não
faz parte do propósito deste livro, e, por isso, não nos
aprofundaremos nesse tema.
Recomendamos, fortemente, a leitura de um livro
que aborda esse assunto de uma forma que podemos
considerar como inspirada por Deus: “Palavra de Deus,
palavra da gente”, organizado pela Sra. Maria Paula
Rodrigues, com mais seis autores e publicado pela Paulus.

Com base no que aprendemos com a leitura,


vamos tratar da estória que apresentamos sobre a
purificação da prata. Conforme já informado, o profeta
Malaquias se utilizou de uma parábola para trazer a
mensagem de Deus.

Para se entender esta afirmação, o primeiro passo


é definir o que é uma parábola (como gênero literário).
Segundo o dicionário, parábola é uma narração alegórica,
que contém algum preceito moral. Honestamente,

90
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

consideramos essa definição muito pobre e limitada, e,


por isso, com base no que consta no livro acima, quanto a
esse gênero literário, vamos procurar melhorar essa
definição:

- a parábola é uma narrativa, que mostra um fato


da vida acontecendo, em pleno movimento, e isso
a distingue do provérbio;

- a parábola reflete uma situação verossímil, não


contendo elementos explícitos do mundo da
fantasia, o que a distingue da fábula;

- a parábola refere-se a uma realidade em si


mesma, devendo ser interpretada a partir dos fatos
que narra, o que a distingue da alegoria;

- a parábola traz um desfecho surpreendente, às


vezes até mesmo chocante, que discute a
interpretação comum dos fatos, levando o leitor a
encarar a realidade com outros olhos; nesse
aspecto a parábola se assemelha ao enigma;

- a parábola, assim como vários outros gêneros


literários, se utiliza de linguagem simbólica para, a
partir de uma situação real, transmitir significados
que estão para além dela.

No nosso caso, a situação real é a do ourives,


sentado, colocando a prata impura no centro do fogo para
purificá-la, cuidando para que o limite que a prata pode
suportar não seja ultrapassado, considerando que ela se
tornou pura quando reflete a sua imagem.

91
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Todos esses aspectos de uma situação real foram


usados como símbolos que, corretamente interpretados,
se traduzem em uma mensagem de Deus.

Outro gênero literário utilizado na Bíblia é o relato


histórico, onde se apresentam fatos que, realmente,
aconteceram em algum momento do passado.

Na maioria dos casos, entretanto, esse gênero se


apresenta misturado com a estória, que contém situações
que são produto de nossa imaginação. As estórias, na
Bíblia, são contos ou novelas onde se criam, através de
experiências de fé, situações modelo, que se pode usar
para refletir sobre os problemas da vida presente.

Um bom exemplo para compreensão desses


gêneros se apresenta no Livro do Profeta Jonas, que tem
como personagem central o profeta mencionado em 2
Reis 14:25, que viveu no tempo do rei Jeroboão II, no
século VIII a.C. Esse Livro, mesmo apresentando
elementos da História, não pode ser visto como um relato
histórico, uma vez que inclui episódios não históricos, os
quais são necessários à transmissão de uma mensagem
de fé.

No capítulo primeiro, versículo dois, Deus transmite


uma ordem ao profeta, dizendo: “Dispõe-te, vai à grande
cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia
subiu até mim”.

Nínive ficava no interior, mas Jonas, receando ser


morto pelos habitantes da cidade, desobedeceu a Deus,
foi para o litoral e, em Jope, embarcou em um navio que
ia para Társis, imaginando que com isto ficaria longe da
presença do Senhor.

92
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Durante a viagem, um forte vento, lançado por


Deus, forma uma tempestade que põe o navio em risco de
se despedaçar e afundar. Os tripulantes, descobrindo que
a causa da tempestade era a desobediência de Jonas e
sua presença no navio, jogam-no ao mar, que
imediatamente se acalmou. Como resultado, aqueles
homens, que antes seguiam deuses pagãos, passaram a
temer ao Senhor, a Ele ofereceram sacrifícios e fizeram
votos.

Deus separou um grande peixe para que engolisse


Jonas que orou, manifestando o seu arrependimento e
buscando a reconciliação com Deus; haviam se passado
três dias e três noites e, a um comando de Deus, o peixe
vomitou Jonas em terra firme.

Deus, novamente, ordenou a Jonas que se dirigisse


para Nínive e o profeta, desta vez, obedeceu. Na cidade
falou de sua destruição, como castigo pelo modo como
viviam os seus habitantes. Os ninivitas se arrependeram,
mudaram seu modo de viver e Deus, vendo isso, poupou
a cidade.

Esse Livro, escrito ao redor de 400 a.C., contém


várias informações históricas da época em que se passa o
que nele é retratado na segunda metade do século VIII
a.C.. A cidade de Nínive era a capital da Assíria, ficava na
margem ocidental do rio Tigre, em território que hoje
pertence ao Iraque. Foi destruída em 612 a.C., cerca de
cento e cinquenta anos após o relato do Livro, quando os
ninivitas tinham voltado a viver em transgressão,
restando hoje o que é considerado o maior sítio
arqueológico do Oriente, com 750 hectares. A cidade de
Társis é citada em vários livros da Bíblia, sendo sua
localização, entretanto, até hoje indefinida. A existência

93
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

de Jonas é atestada no Livro 2° Reis, este sim um livro


basicamente histórico.

A súbita tempestade que quase levou o navio a


pique, a calmaria que se seguiu à queda de Jonas na
água, o peixe obedecendo a Deus ter engolido Jonas,
mantendo-o em seu ventre por três dias e noites e depois,
também por ordem de Deus, vomitá-lo em terra firme,
são episódios não históricos que, em uma leitura correta,
podem ser vistos de duas formas: se você crê em Deus e,
como resultado crê nos milagres que Ele pode realizar,
pode ver esses elementos como milagres que teriam
realmente ocorrido, mas também pode vê-los como mitos
utilizados para transmitir a mensagem pretendida.

Se você não crê em Deus, mesmo fazendo uma


leitura correta da Bíblia, obviamente terá apenas a
segunda opção.

Alguns críticos da Bíblia, entretanto, fazendo uma


leitura superficial e preconceituosa, se utilizarão desses
elementos para classificar o Livro de Jonas como uma
bobagem ou uma farsa.

Se a leitura for feita na forma correta, não haverá


preocupação com Nínive, com a tempestade, a calmaria
ou o peixe; muito mais importante que isso, será possível,
mais uma vez, aprender que:

- Deus não aceita a desobediência;

- Deus é onipresente, ninguém consegue se


esconder d’Ele;

- a desobediência resulta em problemas na vida;

94
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- Deus Se apresenta às pessoas através de sinais,


buscando com isso levá-las para Ele;

- Deus é misericordioso e, por seu infinito amor,


perdoa àqueles que, sinceramente, se arrependem
de suas transgressões.

Se alguém, ao ler o Livro de Jonas, consegue


compreender a mensagem que ele traz, reflete sobre sua
vida em função dela, e, como resultado, aprimora seu
modo de viver, será possível afirmar que esta pessoa
enxergou a “bala de canhão”. Caso contrário, ela terá
ficado, lamentavelmente, perdendo o seu tempo em
discutir os “33 motivos”.

Nesta reflexão pudemos demonstrar que a Bíblia,


lida de forma correta, não é uma coisa burlesca, nem uma
pantomima, muito menos um arremedo ou simulacro.
Em outras palavras, a Bíblia não é uma farsa!

A Bíblia: a Palavra de Deus?

As Igrejas cristãs consideram que a Bíblia é a


Palavra de Deus e, como consequência, afirmam que a
Bíblia não contém erros.

A palavra, falada ou escrita, é um bem


extremamente complexo e delicado, que deve ser usado
com cuidado, critério e responsabilidade.

Dependendo da maneira como alguém se expressa,


as palavras podem ser consideradas de várias formas.
Imagine a seguinte afirmação “Se não chover irei à praia,
mas se chover irei ao cinema” – essa é uma afirmação
condicional, pois a ação será dependente de uma

95
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

condição, no caso, chover ou não; ou então, se a


professora afirmar “Juquinha é o aluno mais inteligente da
turma” – essa é uma afirmação relativa, pois a maior
inteligência do Juquinha está relacionada à turma em que
ele estuda, e isso implica dizer que, se ele estivesse em
outra turma, eventualmente poderia não ser o mais
inteligente.

Uma afirmação também pode ser absoluta, como,


por exemplo, se alguém diz “A Lua orbita em torno da
Terra” - essa é uma afirmação absoluta, uma vez que é
incondicional e incontestável.

A partir do que apresentamos, fica bastante claro


que a afirmação “A Bíblia é a Palavra de Deus” é uma
afirmação absoluta, pretendendo, portanto, ser
incondicional e incontestável. Considerando-se essa
afirmação como verdadeira, teremos como consequência
natural que, a partir da primeira letra no Livro de Gênesis,
até ao último ponto no Livro do Apocalipse, tudo o que
está escrito na Bíblia, sem nenhuma exceção, é Palavra de
Deus!

Será que nesta afirmação absoluta – A Bíblia é a


Palavra de Deus – a palavra está sendo usada com
cuidado, critério e responsabilidade?

Infelizmente, por uma série de motivos que vamos


apresentar, somos forçados a dizer que não, até porque,
para começar, não existe apenas uma Bíblia (e a Palavra
de Deus é única).

Neste ponto acredito ser necessário fazer um


esclarecimento, sobre a afirmação feita acima e suas
consequências. Muitos leitores, cristãos ou não, poderão

96
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

estar imaginando que o que vem a seguir será uma crítica


destrutiva da Bíblia – afinal, se ela não é a Palavra de
Deus, para que ela serve?

Posso garantir que meu objetivo não é a crítica


destrutiva, e sim, mostrar onde está o real valor da Bíblia.

1- Qual é a Bíblia?

O primeiro aspecto que nos leva a dizer que a


afirmação “A Bíblia é a Palavra de Deus” não pode ser
considerada como uma afirmação absoluta está
relacionado ao fato de não existir apenas uma Bíblia, mas
uma enorme diversidade de livros denominados como tal,
que diferem no seu conteúdo, tanto na quantidade de
livros considerados, quanto nos manuscritos usados como
fonte para um mesmo livro, além de diferenças de
interpretação nas traduções para as várias línguas, a
partir de um mesmo original.

Já mostramos que, considerando-se apenas as três


grandes divisões existentes nas Igrejas cristãs, todas as
bíblias incluem 27 Livros no Novo Testamento, mas
quanto ao Antigo Testamento, as bíblias protestantes
incluem 39 livros, a bíblia católica romana 46 e as bíblias
ortodoxas mais do que isto, pelo menos 51 livros; sendo
assim, unicamente quanto ao número de livros incluídos
em sua formação, temos pelo menos três bíblias distintas.

Estendendo essa análise para os manuscritos que


foram usados, como fonte para os diversos livros,
especialmente do Novo Testamento, o número de bíblias
distintas já poderá ser contado às dezenas, apresentando,
em muitos casos, variações que resultam em diferenças
significativas no conteúdo da mensagem apresentada.

97
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Esse problema é ampliado, se incluirmos os casos de


interpretações distintas em traduções.

Parece ser perfeitamente óbvio que todas essas


bíblias, pelas grandes diferenças que contêm, não podem
ser consideradas como a Palavra de Deus, que é única e
inquestionável.

Quando tratamos do processo de formação da


Bíblia, mostramos que para um Livro ser incluído, deveria
satisfazer a três requisitos – a Inspiração de Deus, o seu
reconhecimento pelo povo de Deus e a sua coleção e
preservação pelo povo de Deus.

Esse critério parece ser perfeitamente consistente


e válido. O problema, infelizmente, surgiu quando os
homens que selecionaram os Livros que obedecem a esse
critério e os manuscritos que seriam usados para cada
Livro, em vez de pedir a Inspiração de Deus para bem
executarem tão importante missão, e agirem como
verdadeiros cristãos, se deixaram levar pelo orgulho,
arrogância, ganância e disputas de poder, por sinal as
mesmas mazelas que fizeram com que a IGREJA de
Cristo se encontre hoje dividida em milhares de
denominações ao redor do mundo.

2- A Bíblia não tem erros?

Vamos recorrer, novamente, ao dicionário, para


buscar alguns dos significados para a palavra erro:
inexatidão, engano, prevaricação e doutrina falsa.
Prevaricação está sendo considerada no sentido de faltar,
por interesse ou má-fé, aos deveres do cargo.

98
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Infelizmente pode-se afirmar que todos os livros


que se apresentam como a Bíblia, considerados e
analisados de forma literal, contêm erros, muitos erros,
causados por inexatidão, engano e prevaricação; além
disso, hoje é comum verem-se denominações religiosas
apresentando teologias absolutamente diferenciadas e
que, em muitos casos, atendem, unicamente, aos seus
interesses e/ou de seus líderes. Estas são justificadas por
interpretações distorcidas dos textos, daí resultando mais
um tipo de erro, a doutrina falsa. Esse tipo de erro,
obviamente, não é incorporado ao texto da Bíblia, mas
define a sua interpretação e a forma como a sua
mensagem é apresentada, em muitos casos, de forma
indevida.

Na bibliografia encontrada ao final citamos livros


que analisam, em profundidade, os erros e contradições
encontrados nos livros que chamamos de Bíblia. Em
função disso, nos limitaremos a apresentar apenas alguns
exemplos, que apoiarão a afirmação feita acima.
Entretanto, buscando orientar o leitor no entendimento
desse problema, relacionamos algumas das principais
causas para esses erros:

- erro aparente pelo uso de estilos diferentes –


imagine um ou mais autores narrando um mesmo
fato, usando estilos literários diferentes para
transmitir uma determinada mensagem. Em uma
narrativa ele se atém aos fatos históricos, em outra
usa estilos como a parábola, a metáfora, usa
simbolismos, alegorias. É óbvio que os textos serão
completamente distintos, mas, nesse caso, não
temos propriamente um erro;

99
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- erros por falhas de comunicação – essa situação


pode ter ocorrido quando o autor de um livro ouviu
uma narrativa em primeira mão e entendeu
erradamente uma palavra ou uma passagem; ou
ouviu em segunda mão de alguém que teve esse
problema. Dependendo do caso o erro poderá
passar despercebido ou chamar a atenção do leitor.
Poderá ou não mudar o teor da mensagem;

- erros no processo de cópia – como já dissemos,


os manuscritos, disponíveis hoje, resultam de um
longo processo de cópias, onde os copistas
cometeram erros muitas vezes por distração, mas
também erros intencionais, com a adição,
supressão e alterações nos textos.

Esse problema foi registrado em sua magnitude por


Orígenes, um padre da Igreja do século III, que,
referindo-se às cópias dos Evangelhos de que
dispunha afirmou: “As diferenças entre os
manuscritos se tornaram gritantes, ou pela
negligência de algum copista ou pela audácia
perversa de outros; ou eles descuidam de verificar
o que transcreveram ou, no processo de
verificação, acrescentam ou apagam trechos, como
mais lhes agrade”;

Além da possível negligência ou audácia dos


copistas, citados por Orígenes, deve-se reconhecer que
também deve ter havido erros causados pela enorme
dificuldade envolvida em copiar textos que, no início, não
tinham separação entre palavras nem outro tipo de
pontuação, e, pior, o que pode ter acontecido quando foi
feita a separação de palavras e a inclusão da pontuação.

100
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Pode-se ter uma ideia disso com dois exemplos,


um em inglês e um em português.

Imagine que você tivesse que separar as palavras


do seguinte texto – GODISNOWHERE. Existem duas
possibilidades que fariam sentido – GOD IS NOW HERE
(Deus está aqui agora) ou GOD IS NOWHERE (Deus não
está em nenhum lugar); dependendo da escolha do
copista, poderíamos ter um texto afirmando a presença de
Deus ou negando a Sua existência – esta opção,
certamente, seria muito bem aceita pelos ateus.

Imagine agora que, depois de separar as palavras,


você tivesse que colocar pontuação no seguinte texto –
VOU VIAJAR AMANHÃ VOLTO. Esse texto pede uma
vírgula, que pode ser colocada em dois lugares – VOU
VIAJAR, AMANHÃ VOLTO (aqui está claro que a pessoa vai
viajar hoje e volta amanhã) ou VOU VIAJAR AMANHÃ,
VOLTO (aqui está claro que a pessoa vai viajar amanhã e
vai voltar, mas não diz quando) – qual dos dois é o
correto?

Não podemos esquecer que os manuscritos que


deram origem aos livros da Bíblia, foram escritos em
Hebraico e Grego e isso, certamente, tornou o problema
acima muito maior do que podemos imaginar. Se você
quiser ter uma ideia melhor sobre isso, caso ainda não
tenha feito, procure ver um texto do Antigo Testamento
escrito em Hebraico, mas tente ver um em que as
palavras não estejam separadas.

- erros pelo uso de manuscritos diferentes para um


mesmo texto ou na tradução para as várias
línguas. Esses erros resultaram na diferenciação
entre as várias versões existentes para a Bíblia,

101
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

implicando na existência não de uma, mas de


várias bíblias.

Vamos apresentar alguns exemplos de erros e


contradições, tendo, entretanto, como premissa algumas
características de Deus. Em primeiro lugar, Ele é a
Inteligência Suprema e, como resultado, todas as Suas
obras são perfeitas; além disso, a Sua Palavra é única,
inquestionável e absoluta. A consequência óbvia dessas
características é que qualquer ato ou afirmação atribuída
a Deus, que esteja em desacordo com elas, deve ser
considerado como um erro ou contradição de um ser
humano.

Começando pelo começo, vamos analisar a Criação


como é apresentada no primeiro livro do Antigo
Testamento, o Livro do Gênesis. Nesse Livro são
apresentadas duas narrativas para a Criação, as quais
serão analisadas separadamente, e em conjunto, por
comparação.

a) O versículo 1:1 ao versículo 2:4 nos apresenta a


primeira narrativa, onde se pode observar que:

1 - a leitura do versículo 4 nos diz que no primeiro


dia Deus fez a separação entre a luz e as trevas,
chamou a luz Dia, e as trevas Noite. Como
resultado, tanto o Dia quanto a Noite foram criados
no primeiro dia.

A leitura dos versículos 14 a 19 nos diz que no


quarto dia Deus criou os dois luzeiros (Sol e Lua),
para governarem o dia e a noite e fazerem
separação entre a luz e as trevas;

102
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Analisando estes dois textos, vê-se que Deus fez a


separação entre a luz e as trevas. Entretanto, no relato do
primeiro dia, é afirmado que Ele fez isso unicamente por
Sua vontade, e no relato do quarto dia, é afirmado que a
separação foi consequência da criação (feita por Ele) dos
dois luzeiros.

Afinal, a separação entre a luz e as trevas ocorreu


no primeiro ou no quarto dia? Foi um ato exclusivamente
de vontade ou resultado da criação prévia do Sol e da
Lua?

Se, como afirmado anteriormente, a Palavra de


Deus é única, inquestionável e absoluta, torna-se evidente
que esses dois textos, sendo contraditórios, não podem
refletir simultaneamente a Palavra de Deus, e configuram
um erro por inexatidão, do autor.

2 - a leitura dos versículos 11 a 13 nos diz que


todas as plantas foram criadas no terceiro dia.
Sabemos que a vida das plantas é totalmente
dependente da luz do Sol, necessária para que
ocorra o processo denominado fotossíntese. Ora,
ao criar as plantas, Deus as criou não só
fisicamente, mas também definiu as condições e
processos necessários ao seu desenvolvimento e
sobrevivência.

Voltando ao texto dos versículos 14 a 19, vemos


que a criação do Sol, fundamental para a vida das
plantas, teria ocorrido no quarto dia, depois da
criação das plantas, configurando uma incoerência,
do autor.

103
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Antes que se diga que “Para Deus nada é


impossível”, esclareço que isso não está em discussão. O
que podemos afirmar é que essa incoerência está em
desacordo com a Inteligência Suprema de Deus,
configurando, portanto, um erro, por engano, do autor.

b) O versículo 2:5 ao versículo 2:25 apresenta a


segunda narrativa, onde se pode observar que:

1 - nos versículos 21 e 22, onde é narrada a


criação da mulher, é afirmado que, para isso, Deus
retirou uma costela do homem e fechou o lugar
com carne.

Se for considerado que os homens possuem um


número par de costelas, pode-se concluir que, esta
afirmação, considerada tanto como alegoria quanto
literalmente, encerra uma incoerência ou uma falha
de redação.
Se a redação estiver correta, o texto só seria válido
se nós tivéssemos um número ímpar de costelas; como
isso não é verdadeiro, a alternativa é que o texto correto
seria que “Deus tomou um par de suas costelas e fechou o
lugar com carne”.

2 - outro ponto sujeito a uma análise crítica é a


afirmação feita no versículo 24, geralmente
considerada como feita por Deus, e usada como
base para a defesa da indissolubilidade do
casamento. Para a análise desse texto, cabem duas
abordagens.

Em primeiro lugar, a forma como está escrito


sugere com muito mais força que o versículo 24 seja

104
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

continuação do 23 e, sendo assim, a afirmação teria sido


feita pelo homem e não por Deus.

Isso sendo correto geraria a necessidade de


revisão de vários conceitos e interpretações relacionados
ao casamento e divórcio.

Além disso, conforme a leitura literal do Gênesis,


feita pela maioria dos cristãos, o relato acima mostra a
criação do primeiro homem e da primeira mulher; ora, por
essa leitura, naquele momento ainda não havia e nem
poderia haver as figuras que chamamos pai e mãe e,
sendo assim, como Deus (ou o homem) poderia dizer “Por
isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne”.

Para que esta frase faça sentido, os verbos


deveriam estar no tempo futuro e não no presente, algo
assim: “Por isso, deixará cada homem pai e mãe e se
unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”.
No capítulo 19° do Evangelho de Mateus, podemos
ver Jesus não só esclarecendo a autoria da frase como
também corrigindo a sua redação. Ele diz: “Não tendes
lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e
mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e
mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só
carne”?

c) Como complemento à análise em separado de


cada narrativa, vamos ver aonde chegamos com uma
comparação entre elas. Na primeira narrativa, o homem e
a mulher foram criados juntos, no sexto dia, como
coroamento de toda a criação; na segunda narrativa, o
homem foi criado antes das plantas e árvores terem
brotado, antes de todos os animais, e a mulher criada

105
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

apenas após toda a criação estar completa, unicamente


porque “não se achava uma auxiliadora que lhe fosse
idônea”.

A contradição existente nesses dois textos é mais


do que evidente, dispensando outros comentários.

Um fato relacionado a isso é que iniciei a


preparação deste livro com a Introdução, a Reflexão inicial
e a Carta ao Leitor, e entreguei o material a algumas
pessoas para que lessem e comentassem. De modo geral
os comentários foram muito positivos e animadores, e
houve várias sugestões que me ajudaram a aperfeiçoar os
textos.

Uma irmã da IGREJA, depois da leitura me disse


que gostou muito, mas precisava me fazer uma pergunta.
Aqui vale lembrar que na Reflexão Inicial faço menção à
Criação conforme está descrito na segunda narrativa
acima.
Um dia essa irmã me visitou, fez os seus
comentários, e a pergunta, que era: “Por que eu tinha
escrito aquilo”? O “aquilo” era a segunda narrativa da
Criação. Minha resposta, como não poderia deixar de ser
foi que escrevi “aquilo” porque “aquilo” estava na Bíblia,
e, em seguida, mostrei a ela o capítulo 2° do Livro do
Gênesis.

Para minha surpresa, ela, uma pessoa com bom


nível cultural, inteligência acima da média e leitora
assídua da Bíblia, pelo menos nos últimos 30 anos, me
disse que nunca havia reparado que havia duas versões
para a Criação e, mais do que isso, que as duas versões
eram contraditórias.

106
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Tendo em vista que uma grande parcela de cristãos


não tem o mesmo nível de cultura e/ou de inteligência
dessa irmã, ou não são leitores tão assíduos da Bíblia, fica
fácil entender como é possível a propagação, sem
questionamentos, do dogma que afirma que a Bíblia não
contém erros; volto a frisar que estou me referindo,
principalmente, aos textos lidos de forma literal.

Além do que vimos em relação ao início do Livro do


Gênesis, a lista de erros por engano ou inexatidão, além
de contradições, é muito extensa. Em função disso, vamos
citar apenas mais alguns exemplos.

• O caso do sumo sacerdote Abiatar

No Evangelho de Marcos, os versículos 23 a 28 do


capítulo 2° mostram Jesus como o Senhor do sábado; ao
verem os discípulos colhendo espigas no campo, os
fariseus advertiram Jesus, dizendo:

“Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados?


Mas Ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi,
quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus
companheiros? Como entrou na Casa de Deus, no tempo
do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da
proposição, os quais não é lícito comer, senão aos
sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele? E
acrescentou: o sábado foi estabelecido por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte
que o Filho do homem é Senhor também do sábado”.

Essa passagem é esclarecedora sobre o real


significado do dia do descanso, entretanto, até hoje, os
judeus, por não aceitarem Cristo como o Messias, e
algumas denominações protestantes, por “analfabetismo

107
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

bíblico”, ainda não entenderam a mensagem de Cristo ali


expressa.

Mas estamos falando de erros e, infelizmente,


podemos encontrar um nesse texto.

Ao citar o feito de Davi, Jesus estava se referindo


ao Livro 1° Samuel, 21:1-6, no qual é mencionado que o
sumo sacerdote era Ahimelec, pai de Abiatar, e não o
citado Abiatar, que na época, pelo que indica o texto
ainda não era nem sacerdote, que dirá o sumo sacerdote.

Acredito que a maioria dos leitores assíduos da


Bíblia jamais se deu conta desse erro, mas ele existe, está
escrito.

O que pode ter acontecido? Será que Jesus se


enganou? Isso, naturalmente, alegraria muito os ateus –
afinal, diriam eles, como é possível Jesus ser considerado
Deus e se enganar?
A lógica e a fé nos levam à certeza de que Jesus
não se enganou; em primeiro lugar, em todas as vezes
em que Ele cita as Escrituras (Antigo Testamento) nos
quatro Evangelhos, demonstra, como não poderia deixar
de ser, ter perfeito conhecimento delas – isso já seria
suficiente para indicar que não poderia haver esse
engano. Além disso, Jesus falava em nome de Deus, a
Inteligência Suprema e, como resultado, todas as Suas
obras são perfeitas; a Sua Palavra é única, inquestionável
e absoluta.

A consequência óbvia dessas características é que


qualquer ato ou afirmação atribuído a Jesus, que esteja
em desacordo com elas, deve ser considerado como um
erro ou contradição de um ser humano.

108
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Considerando apenas o texto de Marcos, teríamos


duas possibilidades: ou Jesus falou “o pai de Abiatar” e
Marcos não ouviu a palavra “pai”, ou o texto original
mencionava “o pai de Abiatar” e por engano de um
copista esta palavra foi suprimida do texto. No caso dessa
última hipótese ser a verdadeira, esse seria apenas um,
entre muitos casos verificados na Bíblia, onde ocorreu a
supressão, substituição ou inclusão de palavras ou textos
em relação ao provável original.

Entretanto, Mateus, em seu Evangelho cita a


mesma passagem, no capítulo 12°, onde, a partir do
versículo 2 está escrito:

“Os fariseus,porém, vendo isso, disseram-lhe: Eis


que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em
dia de sábado. Mas Jesus lhes disse: Não lestes o que fez
Davi quando ele e seus companheiros tiveram fome?
Como entrou na Casa de Deus, e comeram os pães da
proposição, os quais não lhes era lícito comer, nem a ele
nem aos que com ele estavam, mas exclusivamente aos
sacerdotes? Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os
sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa?
Pois eu vos digo: aqui está quem é maior que o templo.
Mas se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero
e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.
Porque o Filho do Homem é senhor do sábado”.

Como se pode ver, Mateus, que se baseou em


Marcos para escrever o seu Evangelho, simplesmente
omitiu qualquer menção ao sumo sacerdote no tempo em
que esse fato ocorreu.

Isso nos leva a supor que Marcos se enganou,


escrevendo Abiatar, em vez de o pai de Abiatar e Mateus,

109
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

se dando conta do erro, em vez de corrigi-lo, gerando


uma diferença entre os dois evangelhos, preferiu,
simplesmente omitir este ponto que, por sinal, não tem
nenhuma relevância na mensagem transmitida pela
passagem.

• A ida de Jesus para Nazaré

Em Lucas 2:39, está escrito - “Cumpridas todas as


ordenanças segundo a lei do Senhor, voltaram para a
Galiléia, para a sua cidade de Nazaré”.

Nesse Evangelho, fica perfeitamente claro que,


após cerca de um mês do nascimento, José e Maria
levaram Jesus diretamente de Belém para Jerusalém, para
ser apresentado ao Senhor, e daí para a sua cidade de
Nazaré.

Mateus nos apresenta um relato completamente


diferente, como se pode ver no texto do capítulo 2:13-23.

“Tendo eles (os magos que vieram ver Jesus)


partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em
sonho, e disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge
para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque
Herodes há de procurar o menino para o matar.

Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua


mãe e partiu para o Egito; e lá ficou até à morte de
Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo
Senhor, por intermédio do profeta: “Do Egito chamei o
meu Filho”. Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se
Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos
de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para
baixo, conforme o tempo do qual com precisão se

110
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

informara dos magos. Então, se cumpriu o que fora dito


por intermédio do profeta Jeremias: “Ouviu-se um clamor
em Ramá, pranto, (choro) e grande lamento”; era Raquel
chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais
existem.

Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do


Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe:
dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de
Israel; porque já morreram os que atentavam contra a
vida do menino. Dispôs-se ele, tomou o menino e sua
mãe e regressou para a terra de Israel.

Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na


Judeia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e,
por divina advertência prevenido em sonho, retirou-se
para as regiões da Galileia. E foi habitar numa cidade
chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito
por intermédio dos profetas: “Ele será chamado
Nazareno”.

Comparando esses dois textos, obviamente


distintos, pode-se perguntar: afinal, a partir de Belém,
para onde foram José, Jesus e Maria?

José pretendia se estabelecer na Judéia e só não o


fez por receio de Arquelau e, foi para Nazaré para que a
profecia se cumprisse, ou ele foi para Nazaré porque
aquela era a sua cidade, sem outra consideração?

Alguém poderá dizer que o início e fim da viagem


são os mesmos (Belém e Nazaré) e a diferença é apenas
função de Lucas ter omitido os detalhes intermediários.

111
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Essa tese não se sustenta porque Lucas, um


médico, é considerado extremamente detalhista em todos
os seus textos incluídos no Novo Testamento, chegando
ao ponto de afirmar no início de seu Evangelho:

“Visto que muitos houve que empreenderam uma


narração coordenada dos fatos que entre nós se
realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o
princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da
palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de
acurada investigação de tudo desde a sua origem,
dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma
exposição em ordem, para que tenhas plena certeza
das verdades em que foste instruído”.

Para que se entenda o que ocorreu nesse caso, faz-


se necessário tecer algumas considerações:

1 - há pouca informação da vida de Jesus antes do


início de seu Ministério, incluída apenas nos Evangelhos de
Mateus e de Lucas. Enquanto Mateus limita sua narrativa
ao nascimento de Jesus até à ida com José e Maria para
Nazaré, Lucas, além disso, dedica onze versículos (2:41-
52) a relatar fatos da vida d’Ele com 12 anos. Se Lucas
tivesse alguma informação sobre a ida de Jesus ao Egito,
sendo um detalhista, jamais a teria omitido;

2- é consenso, entre os especialistas, que o


primeiro Evangelho escrito foi o de Marcos, seguido por
Mateus e Lucas, e, finalmente, João. Sabe-se também que
tanto Mateus quanto Lucas se basearam em Marcos para
escrever os seus Evangelhos;

3- é fácil presumir que nenhum dos evangelistas


foi testemunha ocular dos acontecimentos relacionados ao

112
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

nascimento de Jesus, e isso permite concluir-se que


Mateus e Lucas se basearam na tradição oral, para definir
o que iriam escrever;

4- também é fácil presumir que, ao longo do tempo


entre o nascimento de Jesus e a preparação dos
Evangelhos, foi possível o desenvolvimento de mais de
uma tradição oral sobre aquele acontecimento tão
marcante.

Como resultado pode-se concluir que Mateus e


Lucas receberam informações provenientes de fontes
diferentes, relacionadas a tradições orais diferentes e que,
apesar de terem se baseado em Marcos, como não houve
compatibilização entre seus textos sobre o nascimento de
Jesus, escreveram seus Evangelhos separadamente.

Com essa análise simples é possível entender e


explicar o que aconteceu, mas isso não faz com que a
contradição no texto literal deixe de existir.

• A ida de Paulo para Jerusalém

Situação semelhante pode ser encontrada nos


relatos dos acontecimentos posteriores à conversão do
Apóstolo Paulo.

Uma diferença, entretanto, é que os especialistas


apontam um erro, onde provavelmente não existe e não
apontam um erro onde realmente existe.

No Livro de Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas,


os especialistas entendem que é afirmado no capítulo 9°
que, após a sua conversão, Paulo teria ido para
Jerusalém, se encontrar com os apóstolos. Na Carta aos

113
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Gálatas, Paulo deixa claro que sua ida a Jerusalém


aconteceu após três anos de sua conversão.

Visto dessa forma, podemos imaginar que Lucas


cometeu um erro nessa passagem; afinal, supostamente,
Paulo sabia melhor do que ninguém o que fez após a sua
conversão. Entretanto, analisando o versículo 23 do
capítulo 9° do Livro de Atos, pode-se ver que ali está
escrito que, entre a conversão de Paulo e a sua ida a
Jerusalém “se passaram” muitos dias. Muito
provavelmente, o que temos nessa passagem não é um
erro, mas uma imprecisão do “detalhista” Lucas que, em
vez de três anos, mencionou muitos dias.

O erro que se pode verificar, não comentado pelos


especialistas, aparece após a chegada de Paulo a
Jerusalém; Lucas escreve, em Atos 9:26-28:
“Tendo chegado a Jerusalém (Paulo), procurou
juntar-se com os discípulos; todos, porém, o temiam, não
acreditando que ele fosse discípulo (a fama de Paulo
provavelmente ainda era de “matador” de cristãos). Mas
Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e
contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que
Este lhe falara, e como em Damasco pregara
ousadamente em nome de Jesus. Estava com eles em
Jerusalém, entrando e saindo, pregando ousadamente em
nome do Senhor”.

Na Carta aos Gálatas 1:18-20 Paulo escreveu:

“Decorridos três anos, então, subi a Jerusalém


para avistar-me com Cefas e permaneci com ele quinze
dias; e não vi outro dos apóstolos, senão Tiago, o irmão
do Senhor. Ora, acerca do que vos escrevo, eis que
diante de Deus testifico que não minto”.

114
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Afinal, em Jerusalém, Paulo se encontrou com


Barnabé e com todos os apóstolos, ou se encontrou com
Cefas e com apenas um apóstolo, Tiago irmão de Jesus?

Considerando, mais uma vez, que Paulo sabia


melhor do que ninguém o que ele fazia fica claro que
nesta passagem Lucas errou.

• A genealogia de Jesus

Marcos e João não apresentam a genealogia de


Jesus em seus evangelhos. Mateus e Lucas, apesar de
terem escrito com base em Marcos, a apresentam, mas
trazendo mais um problema de erro para as Escrituras.

A genealogia relatada por Lucas, a partir do


versículo 23 do capítulo 3° de seu Evangelho, vai de José
até Deus, passando por Davi e Abraão. De José a Abraão,
são relacionados cinquenta e seis nomes.

A genealogia relatada por Mateus, a partir do


versículo 1, do capítulo 1° de seu Evangelho, vai de José a
Abraão, sendo relacionados quarenta e um nomes, sendo
apenas 15 comuns aos apresentados por Lucas.

Tendo em vista apenas esses números, ficaria


evidente para o mais distraído dos leitores da Bíblia que
as duas genealogias são totalmente distintas e,
obviamente, não podem ser simultaneamente corretas
(supondo que pelo menos uma esteja certa).

Além desse fato, nenhuma das duas comprova que


Jesus seria descendente de Davi, mas sim que José o era;
não se pode esquecer que José era pai adotivo de Jesus e,
como se sabe, a adoção não transmite descendência, ou

115
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

seja, na forma como são apresentadas, nenhuma das


genealogias é de Jesus.

Considerando que os judeus eram extremamente


cuidadosos com suas genealogias (basta ver a profusão
delas no Antigo Testamento), o que pode ter acontecido?

A explicação corrente para essa divergência, é que


a genealogia apresentada por Lucas se refere a José,
enquanto a apresentada por Mateus se refere a Maria.

Essa explicação de fato resolve esse problema, e


confirma que Jesus, através de Maria, foi descendente de
Davi, mas cria outros dois:

- com uma diferença de quinze nomes no total de


suas genealogias a partir de Abraão, que significam
quinze gerações, como seria possível que José e
Maria se encontrassem? Considerando que eles se
encontraram, e isto é parte do registro histórico,
pode-se concluir que Mateus não só omitiu nomes,
como também errou ao afirmar que entre Abraão e
Jesus se passaram apenas quarenta e duas
gerações;

- Mateus, ao substituir conscientemente o nome de


Maria pelo de José estaria mentindo, cometendo
uma fraude; pode se alegar que ele teria feito isto
para proteger Maria, que, ao ter um filho fora do
casamento com José poderia ser condenada à
morte. Essa é uma ótima justificativa, mas não
muda os fatos.

Se Mateus fez isso, mentiu e fraudou a genealogia


de Maria.

116
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Sendo esse o caso, Mateus, assim como fizeram


Marcos e João, deveria simplesmente não ter citado
nenhuma genealogia já que, além de sua citação ser
irrelevante para o contexto de seu Evangelho, ao fazê-lo,
incorporou um grave erro às Escrituras.

Se esse texto fosse Palavra de Deus, será que Ele


permitiria que Mateus agisse assim?

Tenho absoluta certeza de que não. Ele, além de


fazer com que Mateus revelasse a verdade, protegeria
Maria contra a ação dos que quisessem atacá-la.

Outro tipo de erro, conforme já mencionamos, está


relacionado aos vários textos base que geraram as várias
bíblias que temos disponíveis atualmente.

Em uma comparação do texto do versículo dois do


primeiro capítulo de Gênesis, entre uma bíblia protestante
e a bíblia católica romana, verifica-se que:

- a bíblia protestante diz - “A terra, porém, estava


sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e
o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”;

- a bíblia católica romana diz - “A terra estava sem


forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento
impetuoso soprava sobre as águas”.

Comparando esses dois textos, pode-se perguntar


“O Espírito de Deus pairava por sobre as águas ou um
vento impetuoso soprava sobre as águas”?

É óbvio que, para a maioria dos leitores da Bíblia,


as duas afirmações não são iguais, assim como também

117
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

se pode concluir que a diferença não pode ser resultado


de falha de tradução. A única conclusão possível é que
essa diferença é resultado do uso de textos-base
diferentes.

Se, entretanto, considerar-se que o Espírito de


Deus é representado, em várias passagens, como “um
sopro” ou “um vento”, é possível ver esse caso mais como
uma diferença textual do que como um erro.

Acredito que os exemplos apresentados são mais


do que suficientes para demonstrar que a Bíblia (melhor
dizendo as bíblias) contém erros, e não poucos.
O propósito desse livro não é apontar os erros da
Bíblia e, por isso, ficaremos por aqui nesse assunto,
lembrando apenas que existem outros tipos de erros como
a mudança de palavras e a inclusão ou supressão de
textos por vários motivos, que incluem questões
teológicas (as disputas teológicas não são recentes,
existem desde os primeiros cristãos), questões sociais
envolvendo, por exemplo, o papel das mulheres na
IGREJA e as diferentes visões sobre os judeus, além de
questões apologéticas.

Um exemplo dessas é encontrado na passagem


em Marcos 1:41, onde Jesus, conforme o texto
considerado original pelos especialistas em crítica textual,
sentiu ira ao curar um leproso (em concordância por sinal
com a veemente advertência feita no versículo 43) e o
copista achou muito forte dizer que Jesus sentiu ira
(aparentemente ele não entendeu os motivos da ira de
Jesus naquele momento), e mudou o texto dizendo que
Ele sentiu compaixão.

118
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Na bibliografia recomendada o leitor encontrará


sugestões de livros que tratam desse assunto em
profundidade.

Pelo que mostramos até agora, acredito ter ficado


claro que a afirmação “A Bíblia é a Palavra de Deus”
esbarra em dois problemas. Em primeiro lugar, não existe
uma, mas várias Bíblias, com conteúdo diferente –
teríamos então que dizer “As Bíblias são a Palavra de
Deus”. Esta afirmação, entretanto, seria totalmente
incoerente uma vez que a Palavra de Deus é única e as
várias Bíblias são diferentes.

Além disso, as várias bíblias contêm erros, ao


contrário da Palavra de Deus que, além de única, é
perfeita e isenta de erros.

Como resultado, pode-se concluir que a afirmação


absoluta de que “A Bíblia é a Palavra de Deus” não pode
ser feita, uma vez que contraria as características de
Deus.

3- Mas Jesus não disse que a Bíblia é a Palavra de


Deus?

Alguns autores, com base em afirmações feitas por


Jesus, alegam que Ele teria declarado que a Bíblia é a
Palavra de Deus. Será que essa alegação é correta, ou
trata-se de mais um caso de afirmações que só servem
para fornecer matéria prima àqueles que se divertem em
aproveitá-las, para tentar desmoralizar não só a Bíblia,
mas, pior do que isso, desmoralizar a Palavra de Deus?

Para responder a essa pergunta, vou utilizar


algumas colocações feitas por Norman Geisler e Frank

119
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Turek, em seu livro “Não tenho fé suficiente para ser


ateu”, que, no geral é um excelente livro.

O primeiro exemplo utilizado está em Mateus


capítulo 4°, versículos 4,7 e 10, quando Jesus, ao ser
tentado por Satanás, faz três citações encontradas no
Antigo Testamento.

Após citar este fato, os autores, para afirmar que


Jesus teria dito que a Bíblia é a Palavra de Deus,
apresentam a seguinte questão: “Por que Jesus faria
citações do AT de maneira tão confiante se o AT não
possuísse autoridade divina? Devia considerá-lo como
uma fonte de verdade para poder dispensar seu mais
poderoso inimigo com ele”.

Sou forçado a afirmar que a lógica utilizada para


chegar a esta conclusão está errada. É correto afirmar-se
que a atitude de Jesus qualifica as citações que fez como
Palavra de Deus, mas daí a estender esta qualificação
feita por Ele para todo o AT é um passo no mínimo
temerário, que não segue nenhum tipo de raciocínio
lógico. A conclusão válida, nesse exemplo, é que Jesus
afirmou que o AT contém a Palavra de Deus e não que ele
é a Palavra de Deus.

Em outro exemplo, para apresentar o AT como


infalível, os autores citam João capítulo 10, onde Jesus
está para ser apedrejado por blasfêmia.

Para livrar-se da confusão Jesus cita o AT e declara


que “a Escritura não pode ser anulada”. Mais adiante, em
João capítulo 17, versículo 17, segundo os autores, Ele
teria afirmado a verdade das escrituras, ao orar por seus

120
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

discípulos, dizendo: “Santifica-os na verdade; a tua


palavra é a verdade”.

Mais uma vez sou forçado a discordar dos autores,


uma vez que as afirmações de Jesus são bastante
específicas e, com elas, pode-se aprender que as
escrituras não podem ser anuladas, e que a Palavra de
Deus é a verdade.

Ir, além disso, para afirmar que Jesus teria dito


que o AT é a Palavra de Deus é, para dizer o mínimo,
extrapolar do significado das palavras.

Outro ponto que não se pode deixar de considerar,


é que, como não poderia deixar de ser, todas as
referências feitas por Jesus e seus discípulos às Escrituras,
foram dirigidas ao AT, uma vez que ainda não havia o
Novo Testamento.

Em função disso, além de, como visto acima, Jesus


não ter afirmado que o AT é a Palavra de Deus, mas sim
que a contém, Ele jamais afirmaria que a Bíblia é a
Palavra de Deus, por dois motivos irrefutáveis: no tempo
de Jesus não havia a Bíblia e, até hoje não há uma única
Bíblia, mas várias.

Parece ser óbvio que as várias bíblias diferentes, e


muitas vezes divergentes, que existem hoje, não podem
ser simultaneamente a Palavra de Deus. Como resultado,
Jesus jamais faria, como de fato não fez, tal afirmação.

4- O que é a Bíblia?

121
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Se a Bíblia não é a Palavra de Deus, então o que


ela é? Antes de responder a essa questão, vamos
enfatizar o que a Bíblia não é:

- a Bíblia não é um livro histórico – apesar de


conter muitos dados históricos, relacionados a
pessoas, locais e acontecimentos, apesar de conter
alguns livros históricos que têm como objetivo
primeiro relatar aspectos da vida do povo de Israel,
a Bíblia não é nem pretende ser um livro histórico
e, em função disso, não contém a precisão que
deve ser buscada nesse tipo de livro.
Para se conhecer com mais precisão a história do
período coberto pela Bíblia, o mais lógico é buscar
as fontes em escritos dos historiadores da época e
nos relatórios de pesquisas, principalmente
arqueológicas, que têm sido realizadas, com
bastante empenho e cuidado, por muitos
especialistas.

Os relatos históricos contidos na Bíblia são um


meio usado por Deus para nos trazer a Sua
Mensagem.

- a Bíblia não é um livro científico – especialmente


o relato da Criação, apresentado no início do Livro
do Gênesis, ainda é lido por muitos de forma
literal, e considerando o seu texto como se fosse
científico. Essa abordagem resulta em muitos
problemas, gerando conflitos sem nenhum
fundamento lógico, entre a fé e a ciência.

Citamos dois casos históricos que mostram


claramente o tipo de absurdo que pode acontecer, quando
se faz uma leitura errada da Bíblia.

122
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Em 1633 o cientista Galileu Galilei, nascido em


1564, foi condenado por heresia formal, mas escapou de
morrer na fogueira da Inquisição da Igreja Católica
Romana, tendo, entretanto, que viver em prisão domiciliar
até sua morte em 1642. Seu crime? Confrontar a doutrina
da Igreja Católica Romana de que a terra era o centro do
universo, ao defender a teoria “absurda” de que não só a
terra, mas todos os planetas giravam em torno do Sol.
Galileu acabou condenado por desobediência e por proferir
conteúdos contra a Doutrina, por ignorância nestes temas.

Em 31 de outubro de 1992, aos 350 anos de sua


morte, o papa João Paulo II o reabilitou solenemente e
criticou os erros dos teólogos da época que respaldaram a
condenação, sem, entretanto, desqualificar expressa-
mente o tribunal que o sentenciou.

Em discurso de 13 páginas lido na Sala Régia do


Palácio Apostólico, o papa o qualificou como "físico genial"
e "crente sincero", "que se mostrou mais perspicaz na
interpretação das Escrituras que seus adversários
teólogos”.

Em 1650 o Arcebispo irlandês James Usher,


nascido em 1581 e morto em 1656, sendo portanto
comtemporâneo de Galileu, publicou a obra "Annales
veteris testamenti, a prima mundi origine deducti" ('Anais
do Velho Testamento, deduzidos das primeiras origens do
mundo'), na qual procurou entre outras coisas definir
algumas datas relacionadas a eventos do Antigo
Testamento.

Como resultado ele definiu que, entre a Criação e o


Dilúvio houve um período de 1.656 anos, entre o Dilúvio e
Abraão 292 anos, entre Abraão e o Êxodo do Egito 503

123
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

anos, entre o Êxodo e a Construção do Templo 481 anos,


entre a Construção do Templo e o Cativeiro 414 anos,
entre o Cativeiro e o Nascimento de Cristo 614 anos,
totalizando, portanto, 3.960 anos entre a Criação e o
nascimento de Cristo.

Ainda com base em seus estudos, ele determinou


que o primeiro dia da Criação foi um domingo, 23 de
outubro de 4004 a.C., que Adão e Eva foram expulsos do
Paraíso no dia 10 de Novembro de 4004 a.C. e que a Arca
de Noé encalhou no Monte Ararat no dia 5 de maio de
2348 A.C.

Considerando esses dados verifica-se inicialmente


que, ou os períodos divulgados não estão corretos, ou o
Arcebispo “esqueceu” 44 anos, ou não dominava a
matemática elementar. Além disso, pode-se deduzir que
Adão surgiu em 28 de outubro de 4004 a.C. (sexto dia da
Criação) e que levou apenas duas semanas para que ele e
Eva se “cansassem” do Paraíso, comessem o fruto
proibido, e fossem expulsos.

O mais espantoso nesse caso é que, ao divulgar


essa coleção de absurdos, supostamente preparados com
extrema precisão, o Arcebispo James Usher passou a
gozar de grande credibilidade entre seus conterrâneos,
além de ter suas conclusões amplamente aceitas pela
Igreja.

Esse acinte à inteligência humana, criada por Deus,


aconteceu dezessete anos após a condenação de Galileu
por ter “afrontado” a Igreja, ao afirmar que a terra girava
em torno do sol.

124
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Comparando esses dois casos é fácil concluir que,


se alguém merecia ir para a fogueira, certamente não
seria Galileu.

Respondendo à pergunta acima, “O que é a


Bíblia?”, podemos dizer que ela foi dada ao Homem para
ensinar verdades espirituais que, em muitos casos, são
apresentadas através de relatos sobre nossa vida
material.

No que diz respeito à Criação, por exemplo, essas


verdades são, entre outras:

- Deus é o Criador de tudo, tudo tem o seu


significado e propósito, com base no propósito de
Deus para cada coisa;

- o Homem, criado por último, tanto na visão


bíblica quanto na científica, é, por consequência, a
coroa da Criação;

- o Homem é criado à Imagem e Semelhança de


Deus, recebendo a capacidade de Comunhão com o
Criador – essa capacidade foi perdida com o
pecado e resgatada com a Obra de Cristo;

- a ênfase dada à Criação do sol, da lua, dos


demais astros e animais, coloca Deus muito acima
de Sua Criação, deixando claro que nada do que foi
criado pode ser objeto de adoração pelo Homem;

- Deus criou tudo do nada; como resultado, nada


existe por uma necessidade intrínseca de existir,
mas pela vontade soberana e livre de Deus;

125
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- toda a criação deve proclamar essa vontade


gloriosa de Deus.

Essas verdades são especialmente importantes no


mundo cada vez mais materialista em que vivemos, uma
vez que a ciência, a boa ciência, pode nos contar muito
sobre o que aconteceu, quando aconteceu, e até mesmo
como muitas coisas apareceram, a partir de outras.

Mas a ciência não tem a menor ideia, pelo menos


uma ideia cientificamente válida, sobre como a Criação
aconteceu e por quê.
Pelos motivos apresentados, não é possível
afirmar, de forma absoluta, que a Bíblia é a Palavra de
Deus; mas pode-se afirmar, com absoluta certeza, que a
Bíblia contém a Palavra de Deus.

Colocando esse ponto de outra maneira, nenhuma


das várias bíblias existentes é a Palavra de Deus, mas
todas contêm a Palavra de Deus; em função disso, quando
mencionarmos “a Bíblia”, nos referiremos à Bíblia que
você usa, e que se for bem utilizada, certamente trará a
você a maravilhosa mensagem que Deus tem para todos
nós.

Um aspecto extraordinário da Bíblia, é que apesar


de tudo o que o Homem fez com ela ao longo dos séculos,
não há um só erro ou contradição que possa ser
identificado na mensagem que Deus quis nos transmitir
através dela.

O Homem conseguiu danificar apenas textos


acessórios, sem conseguir sequer tocar na Palavra de
Deus que a Bíblia maravilhosamente nos traz.

126
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Cabe a nós, unicamente, pelo uso da inteligência e


raciocínio que nos foram presenteados por Deus e sob a
inspiração do Espírito Santo, encontrar na Bíblia essa
Palavra para, entre outros objetivos, buscarmos conhecer
a Deus e aprofundarmos nossa comunhão com Ele.

5- Onde está a Palavra de Deus?

Dentre todas as perguntas feitas nesse capítulo,


esta é a mais fácil de responder: a Palavra de Deus está à
disposição de todos, na Bíblia e na vida! Ou você não sabe
que, nas vinte e quatro horas de cada dia, nos sete dias
de cada semana, ao longo de todas as semanas da sua
vida, Deus fala com você?

A questão é se você lê a Bíblia buscando a Palavra


d’Ele, que está lá, e se você aceitou viver em comunhão
com Ele, e com isso, abriu o seu espírito para poder ouvir
a Sua voz.

A Bíblia nos traz a Palavra de Deus sob várias


formas, por instrução direta de Deus, através de pessoas
e através de acontecimentos.

Acredito que para podermos, verdadeiramente,


encontrar a Palavra de Deus, o primeiro contato deve ser
com o Mandamento maior que Jesus ensinou.

Um dos fariseus, intérprete da Lei, experimentando


Jesus, lhe perguntou: “Mestre, qual é o grande
mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e
primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois

127
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

mandamentos dependem toda a Lei e os profetas” - esse


é um ótimo exemplo da Palavra de Deus sendo
transmitida por instrução direta.

Imagino que a maioria das pessoas, incluindo os


ateus, conhece esse mandamento, pelo menos de ouvir
dizer. Mas será que elas realmente compreendem o que
ele significa? Será que, principalmente os que se dizem
cristãos, o seguem? Infelizmente sou forçado a responder
a ambas as perguntas, na maioria dos casos, com um
sonoro não.

Falaremos muito sobre esse Mandamento, ao longo


de todo esse livro, e principalmente no 4° capítulo; por
ora vamos abordar apenas um aspecto dele, onde nos é
ordenado: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
entendimento”. O que significa isso?

Isso significa, basicamente, que Deus não quer que


o amemos apenas porque está escrito ou porque alguém
nos diz que devemos amá-Lo. Ele quer que O amemos, a
partir do conhecimento que temos d’Ele. E como se pode
conhecer a Deus? Principalmente através do entendimento
e compreensão da Sua Palavra.

Para que isso seja possível, é fundamental que, nas


leituras da Bíblia, quando se ouve uma pregação ou
quando qualquer pessoa fala sobre a Palavra, tenha-se
sempre à mão duas ferramentas maravilhosas que
recebemos de Deus: a inteligência e o raciocínio. Só assim
é possível separar o joio do trigo.

Muitos líderes religiosos, nem sempre com


motivações inocentes, afirmam que a relação com Deus é
tão somente uma questão de fé; essa afirmação, além de

128
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

contrariar o primeiro Mandamento ensinado por Jesus, só


contribui para aumentar cada vez mais o “analfabetismo
bíblico”.

Não é possível imaginar que Deus nos deu


inteligência e raciocínio esperando que os não usemos.

A crença em Deus é uma questão de fé, mas o


conhecimento d’Ele, que leva ao amor por Ele, só é
possível pelo uso da razão, na busca da Verdade
apresentada na Sua Palavra (que volto a frisar está
contida na Bíblia).
Como outros exemplos de instrução direta
citaremos os Dez Mandamentos, transmitidos por Deus ao
povo de Israel, no AT, e o Sermão do Monte, dirigido por
Jesus a todos os povos.

- Os Dez Mandamentos – Êxodo 20. 1-17

Então falou Deus todas estas palavras: Eu sou o


Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa
da servidão.

I- Não terás outros deuses diante de mim.

II- Não farás para ti imagens de escultura, nem


semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem
embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não
as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o
Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos
pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles
que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações
daqueles que me amam e guardam os meus
mandamentos.

129
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

III- Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em


vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o
seu nome em vão.

IV- Lembra-te do dia de sábado, para o santificar.


Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o
sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás
nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua
filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu
animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro;
porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o
mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou;
por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o
santificou.

V- Honra teu pai e tua mãe, para que se


prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus,
te dá.

VI- Não matarás.

VII- Não adulterarás.

VIII- Não furtarás.

IX- Não dirás falso testemunho contra o teu


próximo.

X- Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não


cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem
a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem
coisa alguma que pertença ao teu próximo.

130
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Muitos conhecem os Dez Mandamentos, entregues


por Deus a Moisés no Monte Sinai, mas será que
compreendem o seu significado? Vamos ver.

O autor começa dizendo: “Então falou Deus todas


estas palavras:”. Será que com isso ele está se referindo
às 298 palavras escritas até o final do décimo
Mandamento (na versão apresentada)? Não, não é isto o
que o autor quer dizer.

O vocábulo hebraico “dabar”, aqui traduzido como


palavra, era o termo usado para as estipulações nos
tratados políticos da época. No contexto dos Dez
Mandamentos seria mais bem traduzido como
“afirmação”, “declaração” ou até mesmo como
“mandamento”. Também se deve considerar que os Dez
Mandamentos são igualmente conhecidos como Decálogo,
vocábulo que em grego significa “dez palavras”.

O número dez tem grande importância na tradição


hebraica e, observando o início de tudo, pode-se ver que,
no Livro do Gênesis, capítulo 1°, entre os versículos 3 e
29, Deus se utilizou de “dez palavras” ou declarações ou
afirmações, para realizar toda a obra da Criação.

Também se pode observar que, antes de dizer “as


dez palavras”, Deus afirma: “Eu sou o Senhor, teu Deus”.
Com essa afirmação, além de se apresentar, Deus se
coloca em primeiro lugar, primazia que é d’Ele por pleno
direito, uma vez que Ele é o autor de toda a Criação e, por
consequência, tudo a Ele pertence.

- No I Mandamento Deus reafirma sua condição de


único Deus, e que qualquer entidade considerada
como tal é um falso deus.

131
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- O II Mandamento pode ser analisado em três


partes: primeiramente Deus proíbe a confecção e
adoração de imagens, inclusive d’Ele, uma vez que
Ele se revela a si mesmo, e não está sujeito à
imaginação humana; na segunda parte,
erroneamente entendida, por muitas pessoas,
como se Deus afirmasse que o pecado se transmite
pelas gerações, Ele mostra as consequências
maléficas do pecado aos descendentes do pecador
e, na terceira parte, mostra os benefícios trazidos à
descendência dos que O amam e guardam os Seus
Mandamentos.

Esse segundo Mandamento, que pode ser visto


como continuação do primeiro reafirma que Deus é único,
proíbe a idolatria, e mostra que tanto o pecado como a
virtude têm consequências.

Alguns críticos se utilizam dele para caracterizar


Deus como arrogante e ciumento; nada mais tolo – uma
vez que Ele é o único Deus, nada mais natural do que
afirmar a verdade. Além disso Deus enfatiza de forma tão
grave a proibição de culto a outros “deuses”, porque Ele
conhece o resultado dessa prática.

A maioria das pessoas vive hoje em culturas


monoteístas, não havendo lugar para os antigos “deuses”
baseados em animais, astros e outros; será que isso
significa que não se cultua outros “deuses”? Infelizmente
a resposta é não!

O Homem moderno substituiu os antigos “deuses”,


hoje relegados aos estudos de mitologia grega, romana e
egípcia, entre outras, por “deuses” mais sofisticados,
resultantes do materialismo; hoje se cultua, entre muitos,

132
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

o “deus dinheiro”, produto da cobiça, o “deus consumo”,


produto da inveja, egoísmo e individualismo, os “deuses
celebridades”, que surgem nos esportes, música e artes
cênicas, em muitos casos pessoas que levam uma vida
deplorável, mas que são cultuadas em função de baixa
autoestima e falta de norte na vida de muitos de seus
adoradores.

Será que o culto a esses falsos “deuses” traz


consequências ruins? Para responder a essa questão,
basta considerar-se que uma pessoa, movida pela cobiça,
poderá fazer qualquer coisa para obter todo o dinheiro
que deseja o que, por sinal, não conseguirá realizar, pois,
quanto mais tiver mais vai querer; o consumista, vítima
fácil da propaganda, seguirá caminho semelhante; os que
cultuam as celebridades nunca conseguirão levar a vida
que elas levam.

O resultado, nos dois primeiros casos, pessoas


envolvidas com corrupção ou outras atividades ilícitas, ou
fazendo dívidas que jamais conseguirão pagar, e, em
todos os casos, pessoas frustradas, facilmente vitimadas
pela depressão, ansiedade e até mesmo o recurso às
drogas (muitas vezes seguindo o exemplo de seus ídolos),
em outras palavras, pessoas vivendo uma vida miserável,
mesmo quando estão cercadas de ouro.

A transmissão das consequências do pecado é


muito fácil de entender, a partir de um simples exemplo:
suponha que um pai vai fazer um passeio de carro com o
filho, e antes de sair, bebe além do razoável.

Como resultado, se envolve em um acidente no


qual morre, deixando o filho aleijado. Com a morte do pai
e as indenizações pagas às demais vítimas, a família, que

133
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

tinha um bom padrão de vida, perde tudo, e o filho, além


das dificuldades financeiras, também passa a ter
problemas, por estar aleijado.

É evidente que, nesse caso, o pecado do pai terá


afetado a vida do filho, e, com certeza dos netos e
bisnetos, que poderiam ter uma vida totalmente diferente,
não fosse pela irresponsabilidade do nosso personagem.
Contrariamente a isso, se uma pessoa leva uma vida
virtuosa, baseada no amor a Deus e respeito aos Seus
Mandamentos, a tendência é que ela venha a formar
descendentes que viverão da mesma forma, propagando
essa postura pelas gerações.
- No III Mandamento, Deus ordena que não se use
o Seu Santo nome em vão, o que significa que o
nome de Deus deve ser reverenciado e não usado
em falsa adoração, encantamentos e adivinhações,
ou para encobrir falsidades e pronunciar
blasfêmias. Mais do que Santo, Deus é a Santidade
e, obviamente, o Seu nome não pode ser associado
a qualquer coisa que não seja santa.

O que acontece hoje em muitas igrejas, que se


dizem cristãs, mostra que esse Mandamento tem sido
desobedecido, em uma dimensão que chega a ser
assustadora.

- O IV Mandamento reafirma que, após a Criação,


Deus descansou no sétimo dia e ordena que se
guarde o sábado, (hoje na maioria das culturas o
domingo) para o descanso; pela sua redação, esse
Mandamento gera a impressão errônea de que no
sétimo dia não se pode fazer absolutamente nada,
chegando alguns grupos religiosos radicais a
extremos absurdos, na observância desse

134
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

entendimento. O que se deve compreender é que,


ao santificar esse dia, Deus quer que nele as
pessoas se dediquem, prioritariamente, a
reverenciá-Lo e a agir na Sua obra, não de forma
isolada, mas em continuidade à obediência aos
Seus Mandamentos nos outros seis dias da
semana.

Infelizmente é muito comum vermos o domingo


sendo dedicado, inicialmente, à cura da ressaca da noite
anterior, depois um belo churrasco acompanhado de
bastante bebida, depois o futebol e, finalmente, para
muitos “cristãos”, uma visita à Igreja para “cumprir
tabela” com Deus. No restante da semana, para essas
pessoas, Deus não é digno sequer de ser lembrado.

Esses quatro primeiros mandamentos mostram


como deve ser o relacionamento com Deus; os demais
falam do relacionamento entre as pessoas e são
absolutamente claros e diretos.

- No V Mandamento, ao ordenar que se honre pai e


mãe, é evidente que Deus ordena que se viva uma
vida santa e sem pecado, de modo a não desonrar
e infelicitar os pais.

- O VI Mandamento refere-se basicamente ao


assassinato, não cobrindo situações de guerra e a
pena capital prevista no Código Penal da época e,
ainda hoje, vigente em alguns países. Seu
significado, entretanto, é muito mais amplo: para
estar em pecado não é necessário cometer o
assassinato. Para isso é suficiente a intenção,
expressada em frases raivosas como “espero que
morra”.

135
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- O VII Mandamento, geralmente, é compreendido


apenas em relação ao adultério envolvendo
relações sexuais, mas é muito mais amplo do que
isso. Se buscarmos no dicionário a palavra
adulterar, veremos que, além de cometer adultério
(no sentido sexual), ela significa falsificar,
corromper-se, viciar-se.

Visto da maneira correta, esse mandamento, se


cumprido, entre muitos outros efeitos, mudaria
radicalmente a prática da política na maioria dos países.

- Os VIII e IX Mandamentos são autoexplicativos.

- Finalmente o X mandamento aborda a cobiça,


raiz de muitos males imperando no mundo; já era
assim no tempo do povo de Israel, e continua
sendo nos dias de hoje, cada vez em forma mais
agravada.

Conforme citado no início desse capítulo, o Dr.


Richard Dawkins considera que o sistema de princípios
morais, apresentado pelas Escrituras, é algo que,
qualquer pessoa moderna e civilizada, seja religiosa ou
não, acharia repulsivo.

Essa afirmação, que pode ser vista como uma


demonstração de arrogância, qualifica qualquer um, que
não tenha essa opinião, como não moderno e não
civilizado.

Os Dez Mandamentos que acabamos de comentar


apresentam a Lei Moral que nos foi ditada por Deus.

136
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Considerando-se o que está escrito nessa Lei e o


entendimento correto do seu significado, fica difícil
imaginar que tipo de pessoa o Dr. Dawkins considera
moderna e civilizada.

Não o conheço e, por isso, não repetirei o seu erro,


bastante frequente em seu livro, de querer emitir opiniões
definitivas sobre o que não conhece.

Mas, a desproporção entre a sua afirmação, e o


correto significado da Lei Moral de Deus é tão absurda,
que me leva a imaginar ser possível que, para ele,
pessoas modernas e civilizadas sejam aquelas que, para
obter o que desejam, não se preocupam em passar por
cima de tudo e de todos, deixando um rastro de
destruição e gastam o resultado em tudo o que é
supérfluo, sem se importar com o mundo à sua volta.

Possivelmente também considera como tal, aquelas


que se entorpecem com drogas, na vã tentativa de fugir
da realidade, imposta por uma vida espiritual miserável,
ou aquelas que, movidas pelo egoísmo e querendo viver
“a sua vida”, em vez de usarem seu tempo educando os
filhos com coisas úteis (incluindo os valores morais de
Deus), preferem ocupá-los com videogames,
computadores e dinheiro para gastarem nos shoppings,
fazendo assim com que “não incomodem”.

Eventualmente também inclui no grupo aquelas


que, vivendo um casamento destruído (geralmente como
resultado do egoísmo), e que, muitas vezes não é desfeito
por razões materiais, buscam a compensação de suas
frustrações em amantes, ou em festas que, além de
bebidas e drogas, incluem orgias sexuais.

137
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

É perfeitamente óbvio que, para esse tipo de


pessoas, os mandamentos de Deus sejam absolutamente
repulsivos, mas será esse modelo de vida um padrão de
modernidade e civilização?

Lembro aqui uma campanha promovida por ateus,


parcialmente financiada pelo Dr. Dawkins, na qual foram
colocados cartazes em ônibus, de várias cidades,
principalmente na Europa, com os dizeres “Deus
provavelmente não existe: pare de se preocupar e
aproveite a vida”.

O que pode significar “aproveitar a vida”, para os


autores dessa campanha?

- O Sermão da Montanha – Mateus capítulos 5 a 7.

Certa vez me perguntaram como resumiria a Bíblia,


mantendo intacta a sua mensagem, em um máximo de
quatro páginas, e respondi que o resumo seria o Sermão
da Montanha. Durante as pesquisas feitas para escrever
esse livro, aprendi que o Mahatma Gandhi, um dos
maiores nomes da humanidade, em uma ocasião afirmou:

“Se todos os livros sagrados da humanidade se


perdessem, mas não o Sermão da Montanha, nada se
teria perdido. ‘Quando nos unirmos com base nos
ensinamentos de Cristo no Sermão da Montanha, teremos
solucionado os problemas, não só de nossos países, mas
do mundo inteiro’. Os ensinamentos de Jesus sobre o
amor, se aplicados, podem sanar os males da
humanidade.”

Dentre os ensinamentos de Jesus, o Sermão da


Montanha é provavelmente a passagem mais conhecida,

138
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

mas, infelizmente, também, a menos compreendida e


praticada, situação que tem levado muitas pessoas a
considerá-lo de uma forma distinta de Gandhi.

George Bernard Shaw, por exemplo, o descreveu


como “uma explosão impraticável de anarquismo e de
sentimentalismo”.

O filósofo alemão Friedrich Nietzche, afirmou que


“a moralidade cristã é a mais maligna forma de toda a
falsidade”.

Para esta afirmação ele, provavelmente, não se


baseou apenas no Sermão, mas na comparação entre o
que ali é apresentado, e a postura hipócrita de muitos que
se dizem cristãos e, pelo menos em teoria, seguidores dos
ensinamentos de Jesus.

Nesse sermão, que não reproduzirei aqui, mas


recomendando fortemente que você leia, (usando todo o
teu entendimento) Jesus apresenta a mensagem central
do Cristianismo, através de instrução direta.

Ele se constitui, sem dúvida, no documento mais


revolucionário de toda a História, mas assim como os
fariseus de sua época tinham conseguido distorcer o
significado da Lei apresentada por Moisés, o Homem
moderno tem distorcido o Sermão da Montanha,
transformando-o em algo manso e inconsequente. A
Palavra de Deus tem sido obscurecida, na medida em que
o Evangelho tem sido aparado e distorcido, para ajustar-
se ao estilo de vida de pessoas indisciplinadas e
indulgentes.

139
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

O Sermão da Montanha é “o Evangelho do Reino”,


e em função disso, ele não é meramente a exposição da
Lei. Suas bênçãos e princípios éticos são dirigidos àqueles
que desejam, sinceramente, ser convertidos em uma nova
criatura, a partir de um novo nascimento. O seu alvo é a
salvação e não a reconstrução social - que passa a ser
consequência da salvação. Por isso os homens e mulheres
que buscarem entendê-lo através de sabedoria mundana
estão destinados a uma grande frustração.

Jesus inicia o sermão com nove declarações


denominadas “as bem-aventuranças”, nas quais apresenta
o caráter dos cidadãos do Reino. Elas se constituem na
mais improvável fórmula para o sucesso que alguém
jamais poderia ter imaginado, confrontando os conceitos
de sabedoria convencional e, da mesma forma como
chocaram os ouvintes de então, certamente chocam e
levam à perplexidade muitos leitores de hoje.

O ser humano, em todos os tempos, sempre


buscou a felicidade, sem, entretanto, saber como obtê-la.
Para muitas pessoas o anúncio de que há verdadeira
felicidade no Reino não foi e não é motivo de surpresa, o
choque resulta da descrição do tipo de povo que irá
recebê-la.

As bem-aventuranças falam, exclusivamente, de


qualidades espirituais, não emprestando nenhuma
atenção às preocupações humanas historicamente ligadas
à ideia de felicidade, entre elas, a riqueza material, a
condição social, a sabedoria secular e o poder.

As qualidades dos cidadãos do Reino, apresentadas


nas bem-aventuranças, são uma dádiva de Deus para

140
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

todos que a aceitam, não são produto de hereditariedade


ou do ambiente.

Formam um conjunto perfeito, são usufruídas por


todos aqueles que, mesmo sem merecer, receberam a
Graça de Deus, tornando-se assim cidadãos do Reino e
marcam a diferença radical entre o Reino do Céu e o
mundo dos Homens.

Enquanto as oito primeiras bem-aventuranças


aprofundam as brutais diferenças entre os cidadãos do
Reino e os cidadãos do mundo, a última revela o choque
entre os dois tipos de pessoas: as que fizerem a escolha
certa e as que fizerem a escolha errada ou nenhuma
escolha.

Após apresentar as bem-aventuranças Jesus


conclama os cristãos, aqueles que aceitaram ser
convertidos para se tornarem cidadãos do Reino, pessoas
na maioria consideradas absolutamente comuns, a
dedicarem suas vidas para levar ao Homem a mensagem
da salvação, através do Evangelho (“Vós sois o sal da
terra”) e do seu exemplo (“Vós sois a luz do mundo”).

Nessas metáforas Jesus se utilizou do sal, usado


pelas pessoas para dar sabor e preservar os alimentos, e
da luz, usada para espantar a melancolia da noite. Sendo
o sal da terra, os cristãos podem afastar as pessoas da
putrefação gerada pelo pecado, e, sendo a luz do mundo,
podem penetrar no escuro desespero causado por ele.

Jesus também advertiu os discípulos que eles


tinham que perder o mundo.

141
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Essa advertência de Jesus é, nos dias de hoje,


muitas vezes interpretada como um chamado aos
cidadãos do Reino para que se isolem do mundo e passem
a viver segundo usos e costumes ditados por um
legalismo absurdo, criado por várias denominações
religiosas. Nada mais fora do real propósito de Jesus para
seus discípulos. Os cidadãos do Reino foram advertidos a
não viver mais como o mundo, mas deveriam continuar
vivendo no mundo, pois só assim poderiam cumprir a sua
missão.

O sal, para ter efeito deve se manter puro, daí os


cidadãos do Reino não poderem se deixar contaminar pelo
mundo; entretanto, para ter efeito, deve ser na medida
exata.

Se, em um alimento, for colocado pouco sal, o


mesmo será recebido, mas sem entusiasmo, não deixando
marcas, o que equivale a falar do Evangelho sem
convicção. As pessoas ouvirão, mas o efeito será nulo.

Se, por outro lado, se colocar sal em excesso, o


alimento será rejeitado, da mesma forma como são
rejeitadas as pregações daqueles que se apresentam
como donos da verdade e fazem questão de enfiar a Bíblia
goela abaixo do seu ouvinte.

O sal deve ser ministrado na medida exata, para


que o alimento seja recebido com prazer, deixe marcas e
um gosto de quero mais. Só assim as pessoas receberão a
Palavra de Deus, passarão a conhecê-Lo e poderão aceitar
o caminho da salvação.

Mas o sal sozinho não é suficiente, sendo


necessário complementá-lo com o exemplo de autênticos

142
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

cidadãos do Reino, a luz do mundo. Para isso, deve-se


viver no mundo, refletindo a verdadeira luz.

Isso porque, se a luz que se mostrar ao mundo for


fraca ou intermitente, será passada uma imagem de
falsidade e hipocrisia para o sal e esse, mesmo sendo na
medida certa, será rejeitado.

Essa última condição, infelizmente, resulta no


grande problema vivido pelo Cristianismo nos dias de
hoje. Sobre isso o Mahatma Ghandi que, formalmente,
não era cristão, mas que, pelo modo como viveu, foi mais
verdadeiramente cristão do que muitos que se afirmam
como tal, chegou a afirmar:

- "Aceito o Cristo e seu Evangelho, não aceito o


vosso Cristianismo" (referindo-se aos missionários
que queriam convertê-lo);

- "Não conheço ninguém que tenha feito mais para


a humanidade do que Jesus. De fato, não há nada
de errado no cristianismo. O problema são vocês,
cristãos. Vocês nem começaram a viver segundo os
seus próprios ensinamentos”;

- “Eu seria cristão, sem dúvida, se os cristãos o


fossem vinte e quatro horas por dia”.

O sal, com seu poder de proporcionar um novo


sabor ao alimento, foi usado por Jesus para simbolizar o
Evangelho, passando assim a ter o poder de libertar o
Homem do jugo do pecado.

Na história da luta de Ghandi pela independência


da Índia, o sal também atuou como um libertador.

143
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Gandhi pregava a resistência pacífica - não


confundir com passiva. A não violência deve ser ativa e
provocativa! Não concordar em se submeter ao mal, e
estar disposto a dar até a vida, se necessário for, para
provar que se está do lado do que é justo, bom, e correto.
Foi assim que, de demonstração maciça em demonstração
maciça, o Império Britânico comprovou, muitas vezes, a
superioridade moral daquele povo oprimido e dominado.

A famosa “Marcha para o Sal” foi um ponto de


inflexão decisivo. Os Hindus, moradores da região
banhada pelo Oceano, não por acaso chamado de Índico,
eram proibidos de produzir sal. Utilizado no cotidiano de
todas as famílias, ele tinha o fluxo, a produção e a
circulação, monopolizados pelos britânicos. Gandhi ensina
os hindus a desobedecerem a esta sandice.

Do centro da Índia, em 1930, faz saber ao Primeiro


Ministro Britânico que se dirigiria ao mar para produzir sal,
num gesto de desobediência civil, ativa, provocativa,
contudo, pacífica. Foi acompanhado de um pequeno
grupo, ao qual se foram agregando cada vez mais
significativas massas humanas. Ao fim, a história registra
que milhares de pessoas percorreram mais de 320
quilômetros a pé. Esse contingente imenso de seres
humanos chega à praia e começa a fazer sal.

Qual o problema? O povo da Índia vai à praia


banhada pelo Oceano Índico fazer sal, para o seu
consumo. O que têm os britânicos a ver com isso?

O controle do sal estava na raiz do controle de toda


a economia hindu, pelos britânicos. Tão logo Gandhi
começa a fazer sal, sendo imitado por tantas pessoas, a
dominação é colocada em xeque. Os ingleses já não

144
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

controlam os indianos. Eles estão prestes a tomar seu


destino em suas próprias mãos.

Após delinear o caráter especial e espiritual dos


cidadãos do Reino e do Seu chamado para que eles
trabalhem pela salvação dos Homens, Jesus fala da justiça
do Reino.

Para entender essa parte do Sermão, a mais longa,


e que constitui o seu coração, é necessário que se
compreenda que Deus fez três alianças com o Homem: a
primeira, uma Aliança Natural, onde o Homem, feito à
Imagem e Semelhança de Deus, estava em estado puro,
sem pecado; para esse Homem não havia necessidade de
leis formais, sendo a única ordenança de Deus, a
obediência.

O relacionamento com o Homem, previsto por


Deus nessa aliança, pode ser comparado ao
relacionamento que qualquer pai espera ter com um filho
que segue o seu exemplo de boa conduta.

A segunda aliança, feita com o povo de Israel


através de Moisés, pode ser considerada a Aliança da Lei,
onde, dirigindo-se a um povo caído e pecador, Deus
apresenta, não só o que deve ser feito, mas também as
consequências da desobediência e os benefícios da
obediência. Apesar de Seu poder para obrigar o Homem
ao cumprimento da Lei, Deus, em seu infinito amor,
permitiu que o livre arbítrio determinasse o caminho que
seria seguido; em outras palavras, Deus queria que seus
mandamentos fossem seguidos por amor a Ele e não pelo
medo das punições que, certamente, seriam aplicadas aos
transgressores.

145
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

O relacionamento com o Homem, previsto por


Deus nesta aliança, pode ser comparado ao de um pai
com um filho rebelde, que não estuda, se envolve com
marginais e, eventualmente com drogas. Ele determina as
regras e limites que espera sejam seguidos, por amor a
ele, mas deixando claro as punições severas resultantes
da desobediência - infelizmente, nos dias de hoje, muitos
pais não seguem este modelo, e no fim, acabam
permitindo que seus filhos se destruam por falta de
limites.

Ao longo do tempo, entre a apresentação da Lei e


a vinda de Jesus, quando se passaram muitos séculos, a
vida do povo de Israel alternou períodos de obediência e
progresso, com períodos de desobediência e desgraça. Ao
mesmo tempo em que isto acontecia, os fariseus ou
doutores da lei, seguiam no seu estudo, interpretação e
ensino.

Jesus veio ao mundo, cumprindo as profecias, para


fazer a terceira e última aliança: a Aliança da Salvação,
resultante da Graça de Deus, aos que se arrependem de
seus pecados, aceitam Jesus como seu único Salvador e
vivem conforme Seu exemplo.

O quadro que Ele encontrou em relação à Lei, foi


muito semelhante ao que vemos hoje, em relação ao
Evangelho.

Os fariseus a consideravam de forma literal e, pior,


ensinavam como se a Lei e as suas tradições fossem a
mesma coisa. Mais grave ainda, além de deturpar e
distorcer o espírito da Lei, os fariseus agiam com
hipocrisia na sua observância, chamando a atenção sobre
si mesmos e procurando se colocar acima das pessoas

146
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

comuns (qualquer semelhança com a realidade atual de


muitos líderes religiosos não é mera coincidência).

Antes de proferir o Sermão da Montanha, graças a


esta postura dos fariseus, Jesus já tivera vários embates
com eles, levando-os inclusive à formulação de planos
para matá-Lo; para o cidadão comum, ver Jesus
confrontando os doutores da Lei, que eram vistos,
erroneamente, como seus defensores, e mais fiéis
seguidores, era motivo de grande confusão.

Essa situação levou Jesus a iniciar esta parte do


sermão afirmando: “Não penseis que vim revogar a Lei ou
os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir”.

Para entender essa afirmação e o que se segue no


sermão, deve-se ter em mente que Jesus estava se
dirigindo a judeus, vivendo oficialmente sob a Aliança da
Lei, apesar de não observá-la em sua essência. Em função
disso, o primeiro aspecto que Jesus deixa perfeitamente
claro, é que a Lei, sendo Palavra de Seu Pai, deve ser
integralmente cumprida; mais do que isso, Ele estava ali
para cumpri-la.

Em segundo lugar Jesus mostra que, quem quiser


ser seu discípulo, deve estar disposto a ter a mesma
postura diante das Escrituras. O terceiro e mais
importante aspecto, vem à luz quando se percebe que,
nesse momento do sermão, se revela a majestosa
grandeza do pregador - Jesus se afirma como aquele que
veio para cumprir o plano eterno de Deus, deixando
absolutamente claro que o Sermão da Montanha não é,
apenas, um ensinamento sobre ética.

147
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Jesus que, nascido judeu, nasceu sob a Aliança da


Lei e observou seus mandamentos com absoluta
perfeição, afirma que o que importa é o cumprimento do
propósito da Lei e não a observação farisaica dos seus
preceitos.

Isso fica perfeitamente claro quando Ele fala, por


exemplo, do adultério - o VII Mandamento diz “Não
adulterarás”; a regulamentação desta lei dizia que para se
configurar o adultério deveria haver a consumação do ato
sexual e sua confirmação por duas testemunhas idôneas.

Jesus derruba esse preceito, dizendo “Ouviste que


foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer
que olhar para uma mulher com intenção impura, no
coração, já adulterou com ela”. Assim Ele nos mostra o
propósito da Lei, que é muito maior e mais difícil de ser
seguido do que o preceito até então adotado.

A vinda de Jesus realiza todas as profecias do


Antigo Testamento e significa a culminação do propósito
da Lei, de conduzir o Homem à justificação pela fé.
Cumprida a Sua missão, a Aliança da Lei terminou,
surgindo uma nova aliança, com melhores promessas.

Uma questão que se coloca, causando certa


confusão entre cristãos, é o real significado do fim da
Aliança da Lei. Se a salvação vem pela Graça de Deus, a
partir do arrependimento, significaria que não é
necessário se preocupar com a Lei?

Vamos concluir essa breve análise do Sermão da


Montanha abordando essa questão, já que o seu correto
entendimento é fundamental para a compreensão não só
do sermão, mas de toda a mensagem de Jesus.

148
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Em primeiro lugar, deve-se entender claramente


que a Lei foi enviada por Deus para que ficasse
perfeitamente caracterizado o que eram o pecado e as
suas consequências.

Na primeira aliança, Deus tratou o Homem como


um filho querido que, amando o Pai, lhe obedece. A
obediência o manteria afastado do pecado e, como
resultado, não havia necessidade da Lei.

Na época da segunda aliança, o Homem, caído em


pecado, era como um cavalo selvagem, rebelde, que
precisa ser domado para que se estabeleça uma
convivência de confiança e amor. Além da Lei, mandatória
e punitiva, Deus, em várias situações procurou
demonstrar o Seu amor e um bom exemplo disso ocorreu
no deserto, quando Deus buscou demonstrar não só a
total dependência do povo a Ele, mas também o Seu
amor, provendo a água e o maná.

O Homem, entretanto, era teimoso, e por mais que


Deus demonstrasse o Seu amor, na primeira oportunidade
virava-Lhe as costas e seguia praticando todo tipo de
transgressão e iniquidades. O castigo trazia de volta à
lembrança as consequências do pecado, e o Homem, não
por amor, mas temendo o castigo, se voltava novamente
para Deus, mas pelo motivo errado.

Na terceira aliança, Deus, enviando Jesus para o


sacrifício, forneceu ao Homem a demonstração definitiva
do Seu amor. O perdão tornou-se função não de
sacrifícios, mas do sincero arrependimento, e a salvação
passou a ser resultado da Graça de Deus àqueles que,
arrependidos de seus pecados, reconhecem Jesus como o
único Salvador e passam a viver segundo o Seu exemplo.

149
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

A partir desse momento, o cumprimento da Lei


deixa de ser visto como uma obrigação para aqueles que
querem evitar o castigo, para ser o modo de vida dos que,
salvos pela Graça, passam a viver buscando seguir o
caminho de Jesus.

A mensagem trazida pelo Sermão da Montanha é


muitíssimo maior do que os comentários apresentados
nessa breve análise. Esse pronunciamento de Jesus, o
primeiro dos cinco constantes do Evangelho de Mateus,
fornece material mais que suficiente para outro livro que,
eventualmente, pela Graça de Deus, serei levado a
escrever. Até lá, na bibliografia recomendada, o leitor
encontrará sugestões de bons livros que permitirão um
maior aprofundamento nesse assunto.

Para concluir a resposta à pergunta acima, “Onde


está a Palavra de Deus?”, vamos analisar um dos muitos
exemplos onde a Palavra está apresentada de forma
indireta, requerendo a identificação de estilos literários, o
uso da razão e, principalmente, a inspiração do Espírito
Santo para ser corretamente identificada e saboreada,
como alimento espiritual que é.

- As bodas em Caná da Galiléia – João 2:1-12

“Três dias depois, houve um casamento em Caná


da Galiléia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também
foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento.
Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles
não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que
tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.

150
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Então ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele


vos disser. Estavam ali seis talhas de pedra, que os
judeus usavam para as purificações, e cada uma levava
duas ou três metretas. Jesus lhes disse: Enchei de água
as talhas. E eles as encheram totalmente. Então, lhes
determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o
fizeram. Tendo o mestre-sala provado a água
transformada em vinho (não sabendo de onde viera, se
bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a
água), chamou o noivo e lhe disse: Todos costumam por
primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente,
servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até
agora

Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em


Caná da Galiléia; manifestou a sua glória e seus discípulos
creram nele. Depois disto, desceu ele para Cafarnaum,
com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ficaram ali
não muitos dias”.

Cada um dos quatro Evangelhos foi escrito visando


a um público específico; Mateus é dirigido aos judeus,
Marcos aos romanos, Lucas aos gregos e João, a todos.

A autoria do último Evangelho é atribuída a João,


apesar de ele não ter se identificado, em função dos
vários indícios que o apontam como o autor.
Diferentemente dos outros Evangelhos, João apresenta os
ensinamento de Jesus, principalmente, através de longas
considerações a respeito de diversos temas, geralmente
apresentadas em conversações resultantes da interação
de Jesus com pessoas, ou grupos; o uso de provérbios e
parábolas é muito reduzido, em comparação com os
outros evangelhos.

151
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Antes de prosseguir com a análise do texto acima,


acredito ser importante apresentar um comentário,
relacionado aos sinais e milagres realizados por Jesus.

Ao longo de todo o Novo Testamento fica


perfeitamente claro que a fé em Jesus não deve ser
resultado do testemunho de seus sinais e milagres, até
porque, se fosse assim, só poderiam crer n’Ele os que
estiveram lá para ver. Os evangelistas chegam a afirmar
que foram feitos muito mais milagres do que os relatados.

Em função disso, muitas pessoas até hoje se


perguntam: se é assim, então por que Ele realizou
milagres? A resposta para essa questão é relativamente
simples: Jesus realizou milagres, para que as pessoas que
não creram na Sua Palavra, através deles, reconhecessem
Sua capacidade de realizá-los, aceitassem o que eles
revelam sobre a Sua pessoa e a Sua obra e, em função
disso, passassem a crer n’Ele como o Messias, o Filho de
Deus encarnado para nos salvar.

A partir desse enfoque, o registro escrito desses


milagres torna-se testemunho plenamente suficiente.

A esse respeito, Jesus disse a Tomé: “Bem-


aventurados os que não viram e creram”. Paulo também
se manifestou sobre isso, dirigindo-se aos Coríntios e aos
Romanos, afirmando: “Andamos por fé, não pelo que
vemos”.

O episódio apresentado como “As bodas em Caná”,


consta apenas no Evangelho de João, e se passa no início
do Ministério de Jesus. O relato mostra o primeiro sinal de
Jesus identificado como um milagre, a transformação de
água em vinho.

152
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Em uma análise superficial desse episódio


veríamos, como evento mais significativo, a capacidade
que Jesus possuía de transformar água em um ótimo
vinho. Será que a Palavra de Deus, que afirmamos estar
inserida nesse texto, se resumiria a isso? Aqueles que
ficarem satisfeitos com essa conclusão, certamente
estarão perdendo uma excelente oportunidade para
entender a missão de Jesus, como mostraremos a seguir.

O autor inicia dizendo: “Três dias depois...”; essa


afirmação mostra que as bodas ocorreram três dias depois
do evento anterior, que foi o encontro de Jesus com Felipe
e Natanael; como informação não acrescenta
absolutamente nada ao nosso conhecimento do evento
das bodas, uma vez que não se sabe quando foi o
encontro anterior.

Por que, então, João iniciaria o relato enfatizando


esses três dias? Os leitores superficiais da Bíblia, não só
muitos dos seus críticos, mas também vários cristãos,
jamais conseguiriam imaginar a resposta para essa
questão.

Entretanto, se você leu com atenção a análise que


fizemos do Sermão da Montanha, já terá no mínimo um
bom palpite, mas para termos a resposta, vamos
considerar essa afirmação a partir dos seguintes fatos:

- ao longo de toda a Bíblia, começando pelo relato


da Criação, no Livro do Gênesis, é comum a
associação de eventos importantes com dias;

- João inicia o seu Evangelho apresentando de


forma resumida, mas muito direta e objetiva, entre

153
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

os versículos 1 e 34 do primeiro capítulo, não só


Jesus como também a sua missão entre nós;

- o relato das bodas apresenta o primeiro evento


público do ministério de Jesus. Seria natural ver
João, com sua objetividade, aproveitando esse
evento para mostrar como Jesus realizaria a Sua
missão. A diferença é que, aqui, ele não usou a
forma direta, mas uma linguagem metafórica;

- nesse contexto, a declaração “Três dias depois”


(que também pode ser entendida como “No
terceiro dia”), funciona como um prólogo,
indicativo das três alianças de Deus com o Homem,
e situando Jesus na terceira Aliança. Uma leitura
atenta mostra que as três alianças já haviam sido
citadas por João, no capítulo primeiro, nos
versículos 4 e 17.

O segundo ponto enfatizado pelo autor, é a


participação da mãe de Jesus no evento; inicialmente
pode-se observar que o seu nome não é mencionado;
além disso, ela chega à festa antes de Jesus, e sendo
apenas uma convidada, chama a atenção d’Ele pela falta
do vinho, dá ordens aos serventes e, após a festa, quando
Ele se dirige para a continuação do Seu Ministério, O
acompanha. O que João quis mostrar com isso?

Considerando que esse texto segue o estilo


metafórico, no qual se utiliza símbolos, não fica difícil
entender que a forma como ele retratou Maria a colocou
simbolizando a antiga aliança, a Aliança da Lei. Ela chegou
à festa antes de Jesus, no momento em que os judeus
estavam sob a Aliança da Lei, e Jesus era judeu – como
resultado, ela podia não só chamar a atenção d’Ele, mas,

154
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

também, dar ordens aos serventes. Até que a missão de


Jesus fosse completada, e a Nova Aliança fosse
estabelecida, a ordenação existente era a Aliança da Lei,
por isso, nada mais natural que ela seguisse com Ele.

Um ponto, que é objeto de críticas a Jesus, é a


resposta à Sua mãe: “Mulher, que tenho eu contigo?
Ainda não é chegada a minha hora”. Analisada sob a
óptica ocidental, essa resposta mostraria Jesus sendo
grosseiro com a mãe e, na segunda parte da resposta,
falando algo que não teria o menor sentido, em relação à
pergunta.

Entretanto, não se pode esquecer que, naquele


momento, Jesus era um judeu, maior de idade, um
mestre, e que, pelos costumes da época na cultura
judaica, jamais poderia receber uma admoestação de uma
mulher, mesmo sendo a Sua mãe, e, principalmente, em
público. Na segunda parte da resposta, uma vez que a
mulher estava simbolizando a Aliança da Lei, fica claro
que Jesus estava dizendo que não tinha nada a ver com
aquela aliança, e que ela só saberia realmente dele,
quando fosse completada a Sua missão com a morte e
ressurreição.

Seguindo com a nossa análise, temos o vinho, que


simboliza o amor entre o noivo (Deus) e a noiva (o povo).
Ele acabou e a Lei nada pode fazer, mas, reconhecendo
em Jesus alguém que poderia resolver o problema, aponta
para Ele e ordena aos serventes que façam tudo o que Ele
disser. Está saindo a antiga aliança e entrando, em cena,
a nova.

“Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus


usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou

155
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

três metretas. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas.


E eles as encheram totalmente”.

- Seis talhas de pedra usadas para a purificação,


segundo a antiga aliança;

- duas ou três metretas, qualificação confusa,


como estava confusa a vivência da lei;

- seis talhas, seis dias da criação, seis períodos da


história do Homem: Adão a Noé, Noé a Abraão,
Abrão a Davi, Davi até o exílio, do exílio até Cristo,
Cristo até a sua volta;

- se Jesus mandou encher as talhas é porque


estavam vazias: talhas de pedra vazias, corações
de pedra, vazios;

- a água viva que Jesus vai transformar em vinho e


que representa a simplicidade;

- a água que, sendo preciosa, escorre sempre


procurando o lugar mais baixo; Jesus, desceu para
nos salvar;

- a água que sobe aos céus em forma de vapor,


Jesus que subiria aos céus após a ressurreição;

- a água que se adapta ao recipiente, Jesus, que


tomou a forma de homem.

As talhas foram totalmente cheias pela água, não


deixando espaço para a antiga aliança.

156
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

“Tendo o mestre-sala provado a água transformada


em vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o
sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o
noivo e lhe disse: Todos costumam por primeiro o bom
vinho e, quando já beberam fartamente, servem o
inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora”.

- a água se transformou em vinho depois de tirada


das talhas - para ter a Nova Aliança deve-se sair
da antiga;
- o bom vinho só veio com Jesus;

- a antiga aliança, talhas de pedra vazias, a Nova


Aliança, gerada na pedra, Cristo.

“Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em


Caná da Galiléia”; manifestou a sua glória e seus
discípulos creram nele. A glória foi manifesta pelo
lançamento da Nova Aliança, quando a transformação da
água em vinho era, meramente, um sinal simbólico.

Na opinião de algumas pessoas, o processo de


descoberta da Palavra de Deus, nos textos que analisamos
ao longo deste capítulo, terá sido bastante trabalhoso,
podendo até gerar a pergunta: valeu a pena?

Se forem considerados os enormes esforços, físicos


e financeiros, que a humanidade tem feito ao longo da
história, para encontrar tesouros materiais, perecíveis e
efêmeros, acredito ser perfeitamente claro que, qualquer
esforço que se tenha que realizar para encontrarmos
Jesus Cristo, o tesouro espiritual eterno que nos é trazido
pela Palavra de Deus, é mais do que bem recompensado,
já que a recompensa é uma vida plena e feliz aqui na
Terra e a vida eterna no Céu.

157
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Conclusão

Nesse estudo da Bíblia foi possível verificar que ela


seria mais bem caracterizada como uma biblioteca e não
como um livro.

A Bíblia não pode jamais ser considerada uma


farsa, sendo essa caracterização produto de leitura
superficial, feita por pessoas que ignoram, não entendem
e não compreendem o seu conteúdo.

Pela interferência humana, não mais dispomos dos


textos originais, e as cópias existentes sofreram vários
tipos de descaracterização.

Em função disso, e, também, por falhas humanas


de seus autores, os livros que formam a Bíblia contêm
erros de várias naturezas.

Movidas pelo orgulho, arrogância e ânsia de poder


e não pelo Espírito Santo, pessoas que definiram os textos
que formariam a Bíblia acabaram gerando várias bíblias e,
pelo mesmo motivo, geraram várias denominações
religiosas, pretendendo a maioria delas, contrariando o
que disse Jesus (Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida),
ser o único caminho para se chegar ao Céu.

Tendo em vista que a Palavra de Deus é única e


perfeita, não se pode dizer que a Bíblia é a Palavra de
Deus, já que isso implicaria em admitirmos que Deus tem
várias palavras diferentes (as bíblias) e, pior, que a Sua
palavra contém erros (como todas as bíblias).

Entretanto, em muitos casos pela simples leitura


de seu texto, e em outros com algum exercício de

158
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

exegese, usando a razão e a inspiração do Espírito Santo,


pode-se facilmente encontrar a Palavra de Deus inserida
em todas as bíblias existentes. Essa Palavra, a mensagem
de Deus, ao contrário de outros textos, não foi afetada
pela interferência humana.

A Bíblia é um Livro sério que trata do assunto mais


sério que existe: Deus, Sua mensagem e nossa comunhão
com Ele. Quer a consideremos sagrada ou não, sua leitura
deve ser feita com seriedade e respeito. As críticas
desrespeitosas que ela recebe, em muitos casos beirando
o escárnio, são decorrência não do seu conteúdo, mas de
uma leitura errada e preconceituosa.

Como todo livro, a Bíblia pode ser lida de três


formas:

- a leitura poderá ser superficial, com atenção


unicamente nos textos; como resultado, o leitor
conseguirá unicamente se sentir “bem informado”
sobre a Bíblia;

- se na leitura for buscada a verdadeira mensagem


trazida em cada um dos livros que a formam, o
leitor poderá crescer espiritualmente, se tornar
uma pessoa melhor e se aproximar
verdadeiramente de Deus, através do
conhecimento da Sua Palavra;

- entretanto, se uma pessoa ao ler a Bíblia, fizer


uma leitura superficial, parcial e preconceituosa, ao
final da leitura poderá se achar no direito de
afirmar que a Bíblia não passa de uma coleção de
textos absurdos e confusos, em suma, uma farsa -
afinal (tomando como exemplo o Livro de Jonas),

159
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

onde já se viu um peixe manter um homem três


dias em seu ventre e depois cuspi-lo vivo em uma
praia?

Ao fazer um questionamento como esse, o leitor


em vez de desqualificar a Bíblia, estará unicamente
demonstrando a sua incapacidade para a leitura.

Encerro esse capítulo, com uma mensagem


especial àqueles que, preferindo continuar como
analfabetos bíblicos se julgam no direito de criticar o que
não conhecem.

Imagine uma pessoa com títulos de Doutorado em


alguma área das Ciências Humanas, cujo conhecimento de
Física seja limitado às aulas de ciências do ensino médio.
Um dia, ela encontra alguns artigos sobre a teoria da
relatividade e lê. Provavelmente não vai entender muita
coisa da leitura, e menor ainda será sua compreensão do
significado do que entendeu.

O pior de tudo é que, mesmo o que for


compreendido, estará limitado às pequenas porções do
tema que tenham sido tratadas pelos artigos.

Uma situação como essa pode ter dois


desdobramentos. A pessoa poderá se sentir interessada
pelo assunto e buscar mais informações com quem o
conhece, de modo a ampliar sua compreensão – uma
atitude sábia, fundamentada na humildade.

No extremo oposto, a pessoa poderá não


reconhecer suas limitações, para compreender aquele
assunto (afinal, ela possui vários títulos de Doutor) e,
como resultado, passar a emitir opiniões, chegando ao

160
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

ponto de discutir a validade dos estudos de Einstein –


nesse caso teremos uma atitude ridícula, fundamentada
na arrogância.

Se uma pessoa não crê em Deus e não tem em sua


mente e no seu coração, nenhuma abertura para crer, se
não está disposta a entender e compreender a Bíblia,
buscando a maravilhosa mensagem que ela traz, muitas
vezes “escondida” em textos que, à primeira vista
parecem ser estranhos e confusos, então deve continuar
lendo. O Espírito Santo sempre poderá vir a agir no seu
coração e mudar a sua postura.

Mas, até que isso aconteça, ela deve ser coerente,


não se arrogando o direito de criticar; afinal, mesmo que
alguém tenha a bênção de possuir uma inteligência acima
da média e uma coleção de títulos universitários, criticar
aquilo que não se conhece, e que não se quer conhecer e
compreender, é, para dizer o mínimo, sinal de falta de
lucidez, bom senso e sabedoria; uma atitude que pode até
ser qualificada como leviana.

161
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

162
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

3- Religião: o maior mal do mundo?

“Os homens nunca fazem o “Amarás ao Senhor teu


mal tão plenamente, Deus, de todo o teu coração,
e com tanto entusiasmo, de toda a tua alma e de todo
como quando o fazem em o teu entendimento;
nome da religião.” amarás ao teu próximo como
Blaise Pascal a ti mesmo”.
Jesus Cristo

A primeira afirmação acima, feita por Pascal,


reflete, provavelmente, o resultado de análise não só de
fatos históricos, como também de acontecimentos do seu
tempo. Nela Pascal estabelece uma relação entre religião
e a forma como pessoas fazem o mal; para muitos pode
ser trazida para os nossos dias, sem a necessidade de
nenhum tipo de reparo. A partir dessa relação pode-se
considerar que as religiões são um mal?

Muitos ateus, especialmente entre os seguidores do


“Novo Ateísmo”, acreditam que sim, e afirmam que as
religiões são a causa das principais tragédias vivenciadas
pela humanidade e, como tal, são um mal. Em função
dessa tese eles defendem a ideia de que o mundo seria
melhor se não houvesse religiões.

Para analisar este assunto, não se pode deixar de


considerar o Mandamento expresso por Jesus Cristo e
apresentado acima, que se constitui, a meu ver, na
mensagem central do Seu Evangelho. Ela não é uma
sugestão ou um conselho. O imperativo do verbo mostra
que ela é uma ordem que Jesus transmitiu a todo aquele
que pretende ser seu seguidor. Considerando que o
163
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Cristianismo é resultante do ministério terreno de Jesus, e


que uma afirmação feita por Ele tem valor absoluto, pode-
se concluir que o mal jamais poderá ser feito em nome de
religiões cristãs ou em nome de Deus.

Entretanto, deve-se considerar que a afirmação de


Pascal é baseada em fatos, onde pessoas consideradas
seguidoras das mais diversas religiões, inclusive cristãs,
teriam feito o mal plenamente e com entusiasmo,
afirmando fazer isso em nome da sua religião. Pelo menos
com relação ao Cristianismo, é fácil verificar a existência
de uma enorme contradição, indicando que algo não está
certo na afirmação de Pascal. O entendimento desse erro
é o que fará possível responder corretamente à pergunta
que forma o título desse capítulo.

Sou cristão, seguidor de Jesus, e, como resultado,


o desenvolvimento desse assunto será focado na visão de
mundo que resulta desse fato. Faremos citações e
comentários abrangendo aspectos de diversas religiões,
especialmente as cristãs, além do Judaísmo e o
Islamismo.

A palavra Medicina, derivada do latim “ars


medicina”, significa a arte da cura. Modernamente é
considerada uma área do conhecimento humano voltada
para a manutenção e restauração da saúde. Apesar de
não ser considerada uma ciência, a Medicina atual se
utiliza dos conhecimentos obtidos em ciências tais como a
Biologia, Química, Bioquímica e Física, entre outras.

Para poder transformar os seus objetivos em algo


real a Medicina deve ser praticada, requerendo uma
estrutura que envolve hospitais, ambulatórios, postos de
saúde, laboratórios e equipamentos para exames,

164
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

médicos de várias especialidades, profissionais de


enfermagem e pessoal de apoio em diversas áreas.

Lamentavelmente, é mais comum do que seria


aceitável a ocorrência de falhas na prática da Medicina;
vemos falhas decorrentes de erro humano, negligência e
incompetência; vemos médicos praticando abusos sexuais
contra suas pacientes, hospitais negando socorro por
razões materiais, mesmo em situações que envolvem
risco iminente de morte, entre muitos tipos de falhas. Isso
acontece apesar de o Juramento de Hipócrates que, em
sua versão moderna faz, entre outras, afirmações como:

- eu praticarei a minha profissão com consciência e


dignidade;

- a saúde de meu paciente será minha primeira


consideração;

- eu não permitirei que concepções de idade,


doença ou deficiência, religião, origem étnica,
sexo, nacionalidade, filiação política, raça,
orientação sexual, condição social ou qualquer
outro fator intervenham entre o meu dever e os
meus pacientes;

- eu não usarei meu conhecimento médico para


violar direitos humanos e liberdades civis, mesmo
sob ameaça;

- eu faço estas promessas solenemente, livremente


e pela minha honra.

Quando vemos falhas, como as citadas acima,


ocorrerem, o que normalmente se segue, como

165
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

consequência? Se a falha envolve exclusivamente um


profissional da medicina, seja qual for a sua área de
atuação, o resultado pode incluir um processo na esfera
cível e, eventualmente, também na esfera criminal.
Dependendo do caso os processos também podem incluir
o hospital onde o problema aconteceu.

Em casos mais graves, que sejam objeto de


divulgação ostensiva na mídia, pode ocorrer a execração
pública dos profissionais e instituições envolvidos, com
argumentações do tipo “Esse monstro deve ser proibido
de praticar a Medicina” ou “Esse hospital deve ser fechado
e seus dirigentes presos” ou muitas alternativas com as
quais estamos mais do que familiarizados. O clima de
revolta muitas vezes chega a um ponto que leva os
envolvidos à condenação, muito antes de ocorrer um
julgamento.

Entretanto, mesmo nos piores casos, onde o clima


emocional estabelecido contribui para que o assunto seja
tratado segundo a mais absoluta irracionalidade, nunca se
viu alguém afirmar algo como:

“A Medicina é um mal terrível e deve ser eliminada do


mundo!”

Mais uma vez, mesmo pessoas tomadas pela ira


em seu mais alto grau e, como resultado, dominadas pelo
mais absoluto radicalismo, jamais proferiram uma
afirmação como essa, que seria considerada, por qualquer
pessoa provida de um mínimo de bom senso, como um
verdadeiro absurdo, uma demonstração de total
insensatez.

166
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

O estudo sério de um fenômeno como a religião


requer, como primeira etapa, a correta definição do que
se está estudando, e a primeira falha na tese defendida
por Pascal está na falta dessa definição. Esta falha, por
sinal, é comum aos atuais seguidores do “Novo Ateísmo”,
sendo exemplo disso a forma esquiva como o Dr. Dawkins
trata do assunto em seu livro “Deus um delírio”.

A palavra Religião deriva do latim “religio”;


historicamente foram propostas várias etimologias para
essa palavra, e as tentativas de estabelecer uma única
definição abrangente e confiável redundaram em fracasso.

Buscando a coerência com o princípio defendido


acima, vamos adotar esse termo para designar qualquer
conjunto de crenças e valores que compõem a fé de uma
ou mais pessoas; cada religião inspira certas normas e
motiva determinadas práticas. Essa definição é simples,
sem ser simplista e se presta, perfeitamente, como base
para a forma como trataremos o assunto nesse capítulo.

O Cristianismo tem sido objeto de ataques desde o


seu início, no primeiro século de nossa era, tendo como
alvo não só ao conjunto de crenças e valores que o
originaram, como também aos seus seguidores.

No início, visavam à doutrina que ele apresentava


– os judeus não aceitavam que o Messias, não só já havia
chegado, como também havia sido crucificado por eles, os
romanos não aceitavam o culto a um Rei crucificado e
ressuscitado, especialmente pelo risco de danos à ordem
pública e à autoridade do Império naquela região.

Modernamente, os ataques e perseguições a


cristãos, ligados às mais diversas religiões derivadas do

167
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Cristianismo, estão concentrados em países comunistas e


em alguns países onde se pratica o Islamismo de forma
radical e, como resultado, distorcida. Nestes últimos, além
da questão religiosa, na maioria dos casos, as
perseguições também resultam de questões políticas e/ou
econômicas.

Além desses, também se tornou comum vermos


ataques e críticas ao Cristianismo como função de ações e
omissões de muitos que se dizem cristãos, especialmente
alguns líderes religiosos e as instituições e religiões que
representam, que na verdade, professam formas
distorcidas do Cristianismo.

Infelizmente aqui se repete o fato muito comum de


se atacar e criticar o que não se conhece. Afinal, o que é o
Cristianismo, quais são as crenças e valores que definem
a fé dos cristãos?

O cristão crê na existência de Deus, único, eterno,


infinito, Criador de tudo o que existe, que a coroa da
Criação foi o Homem, criado à Imagem e Semelhança de
Deus, para viver em perfeita comunhão com Ele, amando-
O, louvando-O e glorificando-O, e que o Homem ao ceder
à tentação do mundo, desobedeceu a Deus, caiu em
pecado e perdeu a comunhão com Ele; que o Homem,
contaminado pelo pecado jamais conseguiria se reabilitar
por si mesmo, e assim, jamais se reconciliaria com Deus;
que Deus, para buscar o Homem, se fez homem na
pessoa de Jesus Cristo e, não só mostrou o caminho da
redenção, como se entregou em sacrifício para resgatar o
Homem do pecado, permitindo que, finalmente, ele
enxergasse o caminho; que Deus ressuscitou a Jesus, que
retornou aos céus, de onde voltará para buscar os que
trilharam o caminho da salvação; que para ser salvo o

168
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Homem precisa aceitar Jesus como único Salvador, se


reconhecer como um pecador, se arrepender de seus
pecados e passar a viver em obediência a Deus; que o
Espírito Santo foi enviado por Ele para habitar naqueles
que aceitarem o caminho da salvação, protegendo e
orientando a todos que, por essa forma, recuperarem a
comunhão com Deus.

O valor maior do Cristianismo é o amor, expresso


não só no Mandamento apresentado no início deste
capítulo, como também no seu complemento que diz
“Amarás o teu inimigo”!

A prática verdadeira e a vivência sincera do amor


nos levam na direção de Deus, porque, entre muitos
atributos, Deus é amor!

As pessoas que aceitam a salvação e a recebem


pela Graça de Jesus são separadas para Deus e passam a
formar o corpo da IGREJA de Cristo, da qual Ele é O
Cabeça. A prática do Cristianismo significa não só viver
segundo os ensinamentos e mandamentos de Jesus, como
também levar a Sua Palavra a todas as pessoas, para que
tenham a oportunidade de, conhecendo Jesus, aceitá-lO
como O Salvador, se arrependerem de seus pecados e
serem salvas.

A vivência do Cristianismo conforme definido


acima, pode ser encontrada no Livro de Atos da Bíblia, em
seu capítulo 2°, a partir do versículo 42, que mostra como
viviam os primeiros convertidos ao Evangelho de Jesus,
antes mesmo de serem chamados de cristãos:
“Perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão;
em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais
eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que

169
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

creram tinham tudo em comum. Vendiam as suas


propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à
medida que alguém tinha necessidade. Diariamente
perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa
em casa e tomavam as suas refeições com singeleza e
alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e
contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso
lhes acrescentava o Senhor, dia a dia, os que iam sendo
salvos”.

Com o passar do tempo o aumento do número de


cristãos demandou algum tipo de organização que,
gradualmente, passou a utilizar uma estrutura que inclui
instituições, chamadas Igrejas, templos onde os seus
membros se reúnem e líderes espirituais.

Ao longo da História, muitas pessoas, se


apresentando como cristãs, não só pessoas comuns, mas
também líderes religiosos cometeram atos que podem ser
qualificados como verdadeiras barbaridades, contrariando
frontalmente as crenças e valores que constituem o
Cristianismo. Será que essas pessoas podem,
verdadeiramente, ser consideradas cristãs? Será que os
seus atos de barbárie podem ser atribuídos à vivência da
religião?

Esse tipo de análise pode ser aplicado a todas as


religiões cristãs, além de outras religiões como o Judaísmo
e o Islamismo, e às demais religiões conhecidas, inclusive
o Ateísmo - não se espantem, pois, conforme nossa
definição, o Ateísmo é apenas mais uma religião.

Tendo isto em vista, como caracterizar a tese de


muitos ateus, que defende a extinção das religiões que,
sendo um mal teriam causado grande parte das desgraças

170
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

da humanidade? Será que não estamos diante da mesma


postura absurda que pediria a extinção da Medicina como
resultado do seu mau exercício que ocorre todos os dias
em nosso mundo?

Alguns dos males atribuídos à religião

1- As Cruzadas

Entre os anos 637 e 1071, a Palestina foi dominada


por árabes muçulmanos e os cristãos europeus faziam
peregrinações a Jerusalém e outros locais da região,
considerados como sagrados. Judeus, que também lá
viviam, cristãos e muçulmanos se respeitavam, o que
resultava em um convívio pacífico entre povos diferentes,
professando religiões diferentes.

Essa situação se manteve até que a região foi


dominada pelos turcos seljúcidas que, não aceitando a
presença dos europeus cristãos, passaram a massacrar e
escravizar os peregrinos.

Em 1095 o Papa Urbano II, em oposição a esse


impedimento, convocou um grande número de fiéis para
lutarem pela causa. Muitos camponeses foram a combate,
pela promessa de que receberiam reconhecimento
espiritual e recompensas da Igreja. Essa primeira batalha
fracassou, e muitos perderam suas vidas em combate.

A essa primeira tentativa fracassada seguiu-se uma


segunda incursão, denominada Cruzada, porque os
soldados usavam a insígnia da cruz em seus uniformes.
Os guerreiros, liderados por nobres, mas fanatizados e
tomados de furor homicida, massacraram milhares de
habitantes de Jerusalém, entre árabes e judeus, e

171
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

tomaram a cidade garantindo o livre acesso aos


peregrinos cristãos.

Os muçulmanos, entretanto, reagiram, seguindo-se


outras Cruzadas e a alternância de domínio sobre
Jerusalém. A cada Cruzada a ambição, os saques e a
violência praticados pelos cruzados se tornavam cada vez
mais intensos, desgastando as relações entre os europeus
e os árabes.

Não vamos nos aprofundar neste assunto além do


necessário, mas não podemos deixar de mencionar que,
além de questões religiosas, normalmente consideradas
como causa das Cruzadas, as motivações dos cruzadistas
também envolveram outros fatores de natureza
puramente econômica.

Durante a Baixa Idade Média, época das Cruzadas,


o sistema feudal europeu estava em crise, e os senhores
feudais viram na chamada “Guerra Santa” uma
oportunidade para superação da crise, seja pela
movimentação que traria à economia seja pela real
possibilidade de ampliação de seus domínios territoriais.

Além disso, devemos considerar que a sucessão da


propriedade feudal era fundamentada no Direito de
Primogenitura. Em função dessa norma, a morte do
proprietário transferia todas as terras para o filho
primogênito, restando aos outros irmãos servir ao irmão
mais velho.

Esses nobres despossuídos viram as Cruzadas com


grande interesse, já que lhes permitiria a conquista de
territórios no Oriente.

172
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Para tratar dessa questão de forma séria, acredito


que, antes de formular-se uma conclusão simplista,
levando à definição corrente que afirma ser a religião a
causa das Cruzadas, deve-se considerar todos os fatos
relacionados ao assunto.

Como mostra a História, durante mais de 400 anos


muçulmanos dominantes, judeus residentes e cristãos
peregrinos conviveram pacificamente na Palestina, mais
especialmente em Jerusalém. Essas três religiões são
monoteístas e têm, entre as suas práticas, o respeito e a
tolerância religiosa. Acredito ser possível afirmar que esse
longo período de convivência pacífica foi, basicamente,
resultado da obediência desses três grupos religiosos aos
princípios de suas respectivas religiões. Em outras
palavras, enquanto as religiões foram, efetivamente,
vivenciadas e praticadas, nenhum mal aconteceu.

Repentinamente, com o domínio da região pelos


turcos seljúcidas, o equilíbrio se rompeu, a convivência
pacífica acabou e os peregrinos cristãos passaram a ser
massacrados e escravizados. Por quê?

Por um conflito religioso? Nesse caso estaria sendo


desrespeitado o princípio da tolerância religiosa e, como
consequência, não estaria sendo praticada a religião.

Porque viam os cristãos europeus como invasores e


ameaça ao seu domínio na região? Nesse caso,
obviamente, a causa não teria nenhuma relação com
religião.

Considerando a sucessão de disputas territoriais


que existiram, desde sempre, naquela região, o mais

173
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

provável para explicar a postura dos turcos é a questão


territorial.

Outro fato histórico reforça essa visão, já que o


Papa Alexandre II em 1062, antes, portanto, das
Cruzadas a Jerusalém, frente às sucessivas conquistas
territoriais dos árabes muçulmanos (que, entre outras
consequências, reduzia o território sob o controle da
Igreja Católica Romana, principalmente na Europa),
concedeu o perdão dos pecados a todos aqueles que
combatessem os muçulmanos.

Qualquer semelhança com a promessa de virgens


no céu aos homens-bomba da Jihad Islâmica não é mera
coincidência, mas a questão que se coloca é: o que essa
atitude do Papa Alexandre II tem a ver com o Evangelho
de Jesus?

As motivações para as Cruzadas, ligadas ao poder,


ficam, perfeitamente claras, quando vemos que o Papa
Urbano II, ao pregar as Cruzadas, as apresentou como
uma forma de unificar a Cristandade Ocidental sob a
autoridade papal. Mais uma vez podemos perguntar: o
que isso tem a ver com o Evangelho de Jesus?

Em visita à Terra Santa, em celebração pela


passagem do segundo Milênio do Cristianismo, o Papa
João Paulo II pediu perdão aos judeus e muçulmanos pela
Igreja Católica ter instigado a Cruzada, que terminou por
produzir um terrível massacre da população civil judaica e
árabe de Jerusalém, por parte dos cavaleiros cristãos
(eram cristãos?). Com certeza podemos afirmar que o
Papa pediu desculpas em nome da Igreja Católica
Apostólica Romana e não em nome do Cristianismo ou dos
cristãos, que sabem que o Reino de Jesus, ao contrário do

174
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

reino da ICAR, não é deste mundo e, portanto, não gera


disputas por territórios com objetivos econômicos e de
poder.

Mais do que isso, os verdadeiros cristãos sabem


que ao receberem o Espírito Santo passam a ser santos
de Deus e, não tem porque cultuar lugares supostamente
santos, muito menos que lutar pelo seu domínio.

Não pretendemos negar a existência de um viés


religioso nestes fatos históricos, mas é necessário definir
qual religião está no foco desse assunto. Com certeza não
é o Cristianismo resultante do Evangelho pregado por
Jesus.

Provavelmente estamos falando do Cristianismo


deformado pregado pela Igreja Católica Romana e que
deve, mais apropriadamente, ser chamado de Catolicismo
Romano. Lamentavelmente os críticos das religiões não
conseguem ver que o Catolicismo Romano dos papas,
como religião, é uma prática distorcida e deformada do
Cristianismo, adotada por uma Denominação Religiosa
que defende dogmas, rituais, usos e costumes que, em
sua maioria, não tem relação com o Evangelho ensinado
por Jesus.

2- O conflito “religioso” na Irlanda do Norte

O conflito existente na Irlanda do Norte é,


geralmente, considerado como um conflito religioso;
pessoas tão diferenciadas quanto Richard Dawkins e
Alister Mcgrath, pelo que podemos ver em seus livros,
respectivamente, “Deus um delírio” e “O delírio de
Dawkins”, concordam com essa afirmação - apesar de

175
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

seguirem caminhos bastante diferenciados para chegarem


a essa conclusão.

Será que essa qualificação para um conflito que, ao


longo de tantos anos, gerou sofrimento, dor, insegurança,
e violência entre os habitantes daquele País está correta?
Ou o conflito na Irlanda do Norte é mais do que um
conflito religioso?

Para analisar corretamente essa questão, em


primeiro lugar, deve-se considerar um aspecto conceitual:
com relação à religião, os grupos em conflito na Irlanda
do Norte podem ser caracterizados como católicos
(seguidores da Igreja Católica Romana) e protestantes
(majoritariamente seguidores da Igreja Presbiteriana).
Tendo em conta que tanto católicos quanto protestantes
são (pelo menos em tese) seguidores do Cristianismo, é
fácil concluir que os dois grupos em litígio, apesar de
diferenças de práticas, dogmas, usos e costumes,
professam religiões que tem em comum o Mandamento
maior ensinado por Jesus.

Como é possível um conflito religioso entre dois


grupos que deveriam viver praticando o mandamento que
diz: “Amarás ao próximo como a ti mesmo”?

Aqui se precisa considerar a questão das


Denominações Religiosas. Como visto na Introdução deste
livro, essas denominações são divisões a partir de uma
religião, cada uma incorporando seus próprios dogmas,
rituais, liturgias, usos e costumes e interpretações
próprias de seus livros sagrados.

São muitos os motivos para a existência de


dezenas ou centenas de milhares de denominações,

176
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

teoricamente cristãs, mas, para analisar a questão da


Irlanda do Norte, basta entender que, da forma como
essas denominações são gerenciadas e lideradas (não se
pode esquecer que são instituições humanas), acaba se
criando um espírito de corpo, que resulta não só na
divisão da IGREJA, mas na divisão dos cristãos. É mais
comum do que pode parecer ouvir-se líderes de
Denominações Religiosas ditas cristãs, indo de encontro
aos ensinamentos de Jesus, e afirmando que a salvação
só pode ser encontrada naquela determinada Igreja! O
Jesus que conheço afirmou que a salvação só pode
ser obtida através d’Ele!

Em função disso, é possível caracterizar-se o


conflito “religioso” na Irlanda do Norte, caso seja esta a
situação, como um conflito entre seguidores de duas
denominações religiosas cristãs e, pelo menos em tese,
todos cristãos. Entretanto, considerando que cristãos
obedecem a Jesus quando Ele diz “Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo” e, mais do que isso, “Amarás o teu
inimigo”, pode-se concluir que cristãos, vivendo pelo
amor, vivem em paz.

Como resultado dessa contradição, há duas


hipóteses para esse conflito dito “religioso”: ou as Igrejas
Católica Romana e a Presbiteriana e seus seguidores na
Irlanda do Norte não obedecem aos Mandamentos de
Jesus e, como resultado, não são cristãos (o que faz com
que o conflito não seja religioso), ou eles são cristãos e o
conflito existente naquele país não tem nada de religioso.

Antes de prosseguir, é necessário esclarecer que a


Irlanda do Norte, majoritariamente protestante, ocupa um
sexto da ilha da Irlanda e é controlada pela Inglaterra; os
cinco sextos restantes da ilha são ocupados pela

177
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

República da Irlanda, país autônomo, independente e


majoritariamente católico.

Uma primeira pista para a nossa conclusão está na


caracterização política dos dois grupos em conflito na
Irlanda do Norte: os católicos são, em maioria,
nacionalistas, querem a independência da Inglaterra e a
unificação com a República da Irlanda; os protestantes
são, em maioria, unionistas e querem continuar ligados à
Inglaterra.

Temem que, em uma unificação com a República


da Irlanda, onde serão minoritários, possam vir a
tornarem-se vítimas de perseguição pela maioria católica
resultante de uma Irlanda unificada.

Como é possível existir tamanho clima de rancor e


enfrentamento, entre pessoas que deveriam lutar unidas
pelo progresso de seu País e de seu povo?

Como é possível ver homens e mulheres que, se


apresentando como cristãos, em vez de se considerarem
como irmãos em Cristo, se tratam com tamanho
desrespeito, desamor e violência?

Mesmo estando longe de conhecer, em


profundidade, a história da Inglaterra e da Irlanda,
acredito que nela é possível encontrar a resposta para
essa questão.

Nessa revisão histórica vamos ao século XII,


quando começou a conquista inglesa do território irlandês,
e a consequente resistência dos irlandeses. Nessa altura
ninguém se atreveria a caracterizar esse problema como
religioso, afinal, ainda não havia protestantes!

178
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

O que estava acontecendo de fato era a prática da


colonização de um território, visando ao aumento do
poder do rei inglês Henrique II, não só em termos
terrritoriais, mas, também, econômicos, uma vez que essa
conquista tornava a nobreza irlandesa vassala e obrigada
ao fornecimento de gêneros, ao pagamento de tributos e
à cessão de homens para a formação de exércitos.

Em 1175 a colonização foi, legalmente, formalizada


através do Tratado de Windsor, a partir do qual a Irlanda
passou a ser regida pelas leis inglesas.

Avançamos até à Idade Moderna, quando as


igrejas europeias, que sempre foram utilizadas como
instrumento de poder, passaram a ter a intolerância,
praticada por reis e clérigos, como característica marcante
do ponto de vista religioso. Assim como os protestantes
eram perseguidos nos países católicos, esses eram
perseguidos nos países protestantes, como a Inglaterra,
que adotou oficialmente o protestantismo a partir de
Henrique VIII, em 1534. Foi assim que o conflito com a
Irlanda, que permanecia católica, passou a ter feições
religiosas.

A imposição do poder absoluto inglês aos


irlandeses foi acompanhada da imposição do
Protestantismo. Dessa maneira, a manutenção do
Catolicismo na Irlanda tornou-se uma forma de contestar
o domínio inglês, além de preservar sua própria cultura. A
contestação ao domínio inglês representava a luta contra
o poder político e religioso, ambos concentrados nas mãos
do Rei da Inglaterra.

Esta situação de conflito foi, gradualmente, sendo


agravada pelos seguintes acontecimentos:

179
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- consolidação do controle de terras irlandesas


pelos ingleses, em especial na região do Ulster ao
Norte, durante o reinado de James I (1603 –
1625);

- agravamento da situação de exploração e miséria


dos irlandeses, levando à grande rebelião de 1641,
violentamente reprimida e derrotada em 1652
pelas tropas de Oliver Cromwell, fanático calvinista
e líder da Revolução Puritana que havia
proclamado a República da Inglaterra, depondo o
Rei Carlos I. Como resultado dessa rebelião, o
controle da maior parte das terras passou para a
mão dos ingleses;

- em 1660 a Monarquia foi restabelecida com


Carlos II e, em 1688, seu sucessor, o Rei James II,
querendo restaurar o Catolicismo na Inglaterra foi
deposto pelo genro, o holandês Guilherme de
Orange, casado com sua filha Maria II;

- James II tenta recuperar o trono em 1690, com


apoio francês, a partir da Irlanda, ainda
majoritariamente católica. É derrotado e, como
consequência, os irlandeses passam a viver um
período mais acentuado de miséria e perseguições,
o que resultou no aumento do sentimento
nacionalista e católico, uma vez que a repressão
inglesa era cada vez mais associada ao
protestantismo;

- após passar por revoluções, fome, peste,


migrações, e muitos conflitos, a Irlanda conseguiu
se tornar um Estado Independente (com exceção
da região do Ulster ao norte), mas ainda ligado ao

180
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

domínio da coroa inglesa. Finalmente, em 1937, a


Irlanda, com a denominação de Eire, tornou-se,
unilateralmente, um Estado cem por cento
independente do domínio inglês;

- em 1949, a Inglaterra, finalmente, reconhece a


independência da Irlanda, a República da Irlanda, e
dá autonomia à região do Ulster que passa a se
chamar Irlanda do Norte;

- os conflitos posteriores, promovidos


principalmente pelo grupo armado IRA, tiveram
como objetivo conseguir, através de ações de
guerrilha, a total independência da Irlanda do
Norte, em relação à Inglaterra e sua posterior
unificação com a República da Irlanda.

Acredito que, em vista desses fatos, qualificar as


rivalidades existentes até hoje e o conflito existente até
bem pouco tempo na Irlanda do Norte como religiosos, é,
para dizer o mínimo, tratar o assunto em uma forma
simplista, ignorando as lições da História.

3- Os atentados terroristas

Tenho grande admiração e respeito pelas nações


formadas pelos Estados Unidos da América e pelo Estado
de Israel, nações extraordinárias resultantes do trabalho
árduo dos povos que as formaram, tendo como base os
princípios da Democracia.

Infelizmente, esses povos nem sempre tiveram


líderes à altura da sua grandeza, e esses maus líderes,
movidos muitas vezes pela arrogância, incompetência e
ânsia de poder a qualquer custo, têm envolvido essas

181
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

nações em eventos totalmente dissonantes com a história,


tradição e princípios de seus povos, que no fim sofrem até
hoje com as suas consequências.

Para que fique perfeitamente claro, não sou


antiamericano nem antissemita; sou sim anti os maus
líderes políticos e empresariais, não só nos Estados Unidos
e em Israel, como também em muitos outros países,
especialmente ocidentais, líderes esses que, visando,
principalmente, ao benefício pessoal, têm colocado o
mundo sob o domínio da violência e da insegurança.

Em setembro de 2001 eu trabalhava em uma


empresa fabricante de equipamentos para trens, sendo o
seu representante na Associação da Indústria Ferroviária.

Na manhã do dia 11, havia uma reunião marcada


para a sede da associação, na Avenida Paulista, em São
Paulo.

Lá chegando, ao entrar na sala de reuniões, vi que


a televisão estava ligada e alguns colegas assistiam com
atenção a um noticiário que mostrava um grande incêndio
em uma das torres do World Trade Center, em Nova York,
como resultado do choque de um avião. Até aquele
momento os repórteres especulavam sobre a causa do
acidente.

Com nossa atenção presa aos acontecimentos


mostrados ao vivo, repentinamente vimos horrorizados
um grande avião se dirigindo em direção à segunda torre
e com ela colidindo. Seguiu-se uma terrível explosão e
mais um grande incêndio.

182
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

A TV mostrava o horror que tomou conta das


pessoas que estavam próximas aos acontecimentos,
resultante não só do que estavam assistindo, mas
também pela constatação óbvia de que não se tratava de
acidentes.

Logo vieram notícias da queda de um avião sobre o


Pentágono e de outro em uma mata na Pensilvânia. Esse
último tinha Washington como destino e até hoje não se
sabe, com certeza, qual seria o seu alvo – provavelmente
o Capitólio ou a Casa Branca.

A conclusão que logo se produziu era que os


Estados Unidos da América estavam sob um ataque
terrorista, tendo como alvos um símbolo de seu poder
econômico (World Trade Center), o símbolo de seu poder
militar (Pentágono) e um símbolo de seu poder político
(Casa Branca ou Capitólio).

Nossa reunião, por motivos óbvios, foi cancelada!

Ao longo de muitos dias acompanhamos a evolução


dos acontecimentos, com as investigações chegando aos
responsáveis pelo ataque. Tratava-se da organização
terrorista Al Qaeda, chefiada por um milionário nascido na
Arábia Saudita, Osama bin Laden.

Entre os dezenove homens identificados como


sequestradores dos quatro aviões envolvidos na tragédia,
havia quinze sauditas, dois naturais dos Emirados Árabes,
um egípcio e um libanês.

As primeiras versões apresentadas consideraram


apenas um lado da questão - os ataques eram dirigidos a
um sistema de vida, o “American way of life”. Essa visão,

183
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

extremamente pobre e limitada, levou o então presidente


norte americano George W. Bush a declarar que iria matar
todos os terroristas do mundo, declaração que, além de
definir um objetivo absolutamente inviável, e impossível,
demonstrava claramente o baixo nível intelectual e
emocional de um dos piores presidentes que já ocuparam
a Casa Branca.

Em nenhum momento os americanos, com suas


lideranças sendo guiadas por um nível de arrogância sem
par, imaginaram que aqueles acontecimentos tinham uma
relação profunda com a desastrada e caótica política
externa americana no Oriente Médio.

Pelo rumo que o assunto tomou, a consequência


imediata foi o aumento, em nível quase que obsessivo,
dos controles nas fronteiras americanas (atingindo
inclusive as liberdades dos cidadãos daquele País) como
se isso pudesse de modo eficaz impedir a presença de
terroristas e evitar a sua atuação em território americano.

A partir de uma análise dos seguidores radicais do


Islamismo, pode-se dizer que a globalização,
especialmente a cultural, incomoda muitos dos seus
líderes, pela modernidade que traz para os povos. Ela não
interessa a uma grande parcela dos fundamentalistas
islâmicos, que se constituem em uma elite milenar, a qual
tiraniza os seus povos, usando como base visões
distorcidas dos ensinamentos contidos no Corão.

A esses tiranos, não interessa de modo algum, que


as pessoas sob seu jugo ditatorial aspirem a princípios
que são básicos para a civilização ocidental, como a
liberdade política e individual. Para esses
fundamentalistas radicais, as pessoas devem aceitar a

184
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

queima de livros e filmes, a proibição de músicas e a


proibição do prazer de viver.

O mais absurdo em tudo isso é que muitos


integrantes dessas elites vivem, exatamente, do modo
que dizem que seus súditos devem rejeitar. Afinal, quem
são os maiores clientes mundiais de marcas e produtos de
ultraluxo, tais como aviões, iates, automóveis, joias,
roupas, hotéis, etc.? Se você respondeu os sheiks do
petróleo, acertou!

Atribuir os acontecimentos de 11 de setembro de


2001 e outros atentados terroristas, apenas a esse
confronto cultural, é uma conclusão extremamente
simplista, impedindo que se encontre uma solução
verdadeira e duradoura para o problema. A dificuldade se
torna ainda maior quando se procura tratar o assunto
também como um confronto religioso.

Enquanto a equação não incluir os efeitos da


política ambígua, com dois pesos e duas medidas, que
tem sido praticada pelos Estados Unidos naquela região,
não se chegará a lugar algum.

Um bom exemplo dessa ambiguidade pode ser


encontrado no relacionamento dos Estados Unidos com o
Irã. Quando era governado pelo Xá Mohamed Reza
Pahlevi, que imprimia àquele país uma ditadura
sangrenta, os Estados Unidos nunca se preocuparam com
questões como Democracia e direitos humanos; afinal, em
tempos de guerra fria, o Xá era um aliado leal naquela
região conturbada, além de grande fornecedor de petróleo
para alimentar o consumismo americano e importante
cliente para produtos, serviços e armamentos americanos.

185
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Após a revolução que colocou o aiatolá Khomeini


no poder, em 1979, passando o novo regime a ser
opositor dos Estados Unidos, estes passaram a condenar a
falta de Democracia e o desrespeito aos direitos humanos
no Irã. Seria essa a atitude se os aiatolás tivessem
permanecido fiéis aos americanos?

A política americana no Iraque também fornece um


vasto material para o ódio ao Ocidente, em especial aos
Estados Unidos.

Em 22 de setembro de 1980 o exército iraquiano


invadiu o Irã. Para justificar a invasão Saddam Hussein
alegou questões de fronteira, mas, na verdade, estava
interessado em evitar que a revolução xiita do Irã
produzisse efeitos no Iraque, além de buscar como
subprodutos dessa invasão o controle do Kuzestão, a área
do Irã mais rica em petróleo e a eliminação do apoio
iraniano aos rebeldes curdos que lutavam por sua
independência no norte do Iraque.

Para os Estados Unidos, naquele momento, não


importava o que Saddam Hussein fazia com os curdos ou
com quaisquer opositores ao seu regime ditatorial, pois o
que interessava era a postura anti-Irã, antiaiatolás, anti-
Khomeini.

Em 1988 a guerra terminou empatada e Saddam


Hussein agora dirigia um País que, apesar de rico em
petróleo, estava com a sua economia extremamente
debilitada, após oito anos de guerra.

Ainda em 1988, sob a acusação de


colaboracionismo com o Irã, Saddam Hussein mandou
matar, com o uso de gás tóxico, milhares de curdos na

186
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

aldeia de Halabja. Em função de interesses econômicos,


estratégicos e militares, potências ocidentais,
principalmente os Estados Unidos e a França, fizeram de
tudo e conseguiram impedir que Saddam fosse condenado
por este crime, afinal ele era um grande produtor de
petróleo, pelo menos, em tese, alinhado com o Ocidente e
grande comprador de armas, principalmente da França.

Acreditando que havia lutado para proteger os


países do Golfo (produtores de petróleo), contra o
expansionismo xiita iraniano, Saddam solicitou
empréstimos e perdão de dívidas, o que não conseguiu.
As dificuldades cresciam ainda mais pela atitude do
Kuwait, que, além de se recusar a negociar as dívidas
iraquianas aumentou, subitamente, sua produção de
petróleo, excedendo as quotas de produção fixadas pela
OPEP e causando redução no preço e nos lucros do
petróleo.

Após negociações frustradas, e acreditando-se


vítima de um complô para arruinar o seu país, Saddam
envia suas tropas para a fronteira com o Kuwait. Os
americanos, além de não fazerem qualquer tipo de
advertência a Saddam, visando a impedir a invasão,
agindo de forma ambígua, abriram caminho para que ela
ocorresse.

Considerando o que se seguiu, com a Guerra do


Golfo mostrando ao mundo o poderio militar americano,
rapidamente recuperando o controle sobre o acesso às
reservas de energia no Golfo Pérsico, seria um acinte à
inteligência da humanidade imaginar que os americanos
não agiram de má-fé ao sugerir a Saddam Hussein que
não se envolveriam em seu problema com o Kuwait.

187
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

A guerra, também denominada Operação


Tempestade no Deserto, resultou em uma fragorosa
derrota do Iraque e na libertação do Kuwait. Contra todos
os prognósticos, Saddam Hussein se manteve no poder
uma vez que os ataques das forças aliadas não chegaram
à capital de forma a ameaçá-lo.

O encerramento prematuro das hostilidades


permitiu que a maior parte das unidades de elite
iraquianas escapassem da destruição, dando a Saddam os
meios para esmagar a insurreição xiita que tentou
derrubá-lo. Esse verdadeiro massacre, que resultou em
centenas de milhares de vítimas, foi acompanhado pelas
tropas americanas ainda presentes no Iraque, que nada
fizeram para impedi-lo.

Aparentemente, era preferível que Saddam


continuasse no poder a vê-lo derrubado por religiosos
xiitas que poderiam levar o Iraque a um alinhamento com
o Irã (governado por muçulmanos xiitas).

A invasão do Kwait resultou na imposição de


embargo ao Iraque, o qual só foi suspenso em 2003 com
a queda de Saddam Hussein, resultante da segunda
Guerra do Golfo. Entre as muitas barbaridades resultantes
desses doze anos de embargo, que poderia perfeitamente
ter sido suspenso após o final da Primeira Guerra do
Golfo, estima-se em mais de um milhão o número de
crianças mortas por falta de água potável, medicamentos
e alimentos – o embargo, entre outras consequências,
impediu a importação de equipamentos para reconstruir o
sistema de água potável do Iraque, destruído durante a
primeira guerra, além de equipamentos e produtos para
higiene, saneamento e medicamentos vitais, sob a

188
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

desculpa de que poderiam ser usados para fabricar armas


de destruição em massa.

Essa situação absurda fez com que o coordenador


humanitário da ONU no Iraque, Denis Halliday, se
demitisse em 1998, para não ter que continuar a aplicar o
programa de sanções que ele qualificou de “genocídio”.

É bastante fácil imaginar uma atrocidade como


esta sendo usada por fanáticos para convencer pessoas
que qualquer ação suicida contra o “Imperio do mal” seria
plenamente justificada como reação a uma “agressão
contra inocentes”, sendo “abençoada por Alah e
recompensada com 72 virgens no paraíso”!

Como último exemplo não podemos esquecer a


falta de solução efetiva para o conflito entre Israel e os
Palestinos, onde reações muitas vezes fora de medida,
efetuadas pelas forças armadas israelenses, certamente
têm contribuído para o acirramento dos ânimos e
aumento do ódio não só a Israel, mas também aos
Estados Unidos, vistos por sua postura, como protetor e
apoiador incondicional daquele país. Daí para o aumento
dos atentados terroristas tem sido apenas uma questão
da competência, mais do que comprovada, dos fanáticos,
para doutrinar jovens vivendo uma vida miserável e sem
perspectivas de futuro.

A protelação do estabelecimento de um Estado


Palestino, com apoio internacional, de modo que este
povo possa assumir o seu destino com dignidade, impede
que se possa falar com seriedade em paz naquela região.
Apesar do mundo inteiro saber disso, todas as ações
voltadas para resolver esse problema até agora

189
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

fracassaram, por razões e interesses diversos, mas nem


sempre legítimos.

Diante desse quadro, será que existe algum


sentido em tentar associar os atentados terroristas a
questões religiosas? Ou teria mais lógica considerar-se
que princípios religiosos distorcidos se tornaram apenas
um meio de arrebanhar voluntários, para se matarem em
nome de uma vingança contra os que têm agido de forma
a serem apresentados como agressores?

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, os


Estados Unidos, com apoio de vários outros países, se
envolveram em duas guerras.

Afeganistão - invadido em Outubro de 2001, sem


autorização da ONU, com o objetivo declarado de
encontrar Osama bin Laden e outros líderes da Al-Qaeda,
colocá-los a julgamento, para destruir toda a sua
organização e remover o regime talibã, que apoiou e deu
"porto seguro" para os terroristas. Após 10 anos, milhares
de mortos e um incalculável prejuízo material, esta guerra
tem tudo para ser considerada um segundo Vietnã.

Iraque - invadido em 2003, em uma operação


chamada de Operação Iraque Livre. Tal invasão, na qual
se ignorou resoluções do Conselho de Segurança da ONU,
teve como fundamento principal a busca e apreensão de
armas de destruição em massa, supostamente estocadas
nos arsenais iraquianos.

As armas nunca foram encontradas, Saddam


Hussein foi preso e condenado à morte por enforcamento
em 2006.

190
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Muhammad Yunus, laureado com o prêmio Nobel


da Paz em 2006, muçulmano residente em Bangladesh,
afirmou que “a miséria é a principal causa e a base para o
terrorismo islâmico”.

Enquanto as grandes potências não entenderem


isso, continuarem manipulando o mundo de acordo com
seus interesses, fazendo guerras que não podem ganhar e
seguirem agindo segundo a mais deslavada hipocrisia, que
inclui a desmoralização absoluta da ONU, não há como se
esperar que o terrorismo deixe de se manifestar em nosso
mundo.

É perfeitamente legítimo buscarmos impedir o Irã


de construir armas atômicas. Qual, entretanto, é a
estatura moral do Conselho de Segurança da ONU,
liderado pelos Estados Unidos, para tratar deste assunto,
quando age como se ignorasse o arsenal nuclear de
Israel?

É provável que Saddam Hussein merecesse a pena


que recebeu, mas como explicar sua condenação por
crimes que foram amplamente tolerados, enquanto ele foi
alinhado com as potências ocidentais? Especialmente
quando a mesma corda que o enforcou poderia ter sido
usada para vários dos seus juízes?

Como condenar as intifadas palestinas, quando se


tolera o expansionismo de Israel que, indo de encontro a
resoluções da ONU, não para de plantar assentamentos
em territórios ocupados, enquanto milhões de palestinos
vivem há décadas como refugiados?

Estes são apenas alguns exemplos da matéria


prima usada pelos fanáticos, para arregimentar os seus

191
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

seguidores. A questão religiosa entra nisso apenas para


“adoçar” a boca de pobres coitados que se dispõem a
morrer para atender aos interesses de um grupo de
radicais que inclui, além de muçulmanos, muitos
ocidentais que preferem que o mundo continue sendo um
lugar inseguro para, por exemplo, continuarem vendendo
armas de ataque e equipamentos de defesa.

Atribuir atentados terroristas a questões religiosas,


diante desse quadro de podridão moral, só pode ser
produto de má-fé, ignorância, arrogância ou tudo isso
junto! A menos que a religião em questão seja a que é
seguida por aqueles que têm como deuses o dinheiro e o
poder a qualquer custo.

4- Os Estados ateus

Ao longo do século XX o mundo viu o nascimento


de vários Estados comunistas; em todos os casos o
embasamento filosófico foi o Marxismo e a motivação
social e econômica, a luta contra a exploração do povo
pela elite dominante, seja pela Monarquia Absolutista
Feudal, por ditaduras corruptas ou ainda pelo capitalismo
“selvagem” surgido, principalmente, após a Revolução
Industrial.

Segundo Karl Marx, ideólogo dos Estados


comunistas, a religião é uma ferramenta utilizada pelas
classes dominantes, para que as massas possam “aliviar”
seu sofrimento através de “experiências e emoções”
religiosas. Além disso, é do interesse das classes
dominantes inculcar nas massas a convicção religiosa de
que os seus atuais sofrimentos levarão a uma “eventual
felicidade”. A partir dessa visão, interpretou-se que Marx
considerava a religião como uma ferramenta para

192
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

controlar as pessoas, o ópio do povo, e como resultado, a


maioria dos regimes comunistas restringiu a liberdade e o
culto religiosos, impondo às pessoas um Estado ateu.

Um Estado ateu significa a rejeição de todas as


formas de religião, em favor do Ateísmo, em geral, pela
supressão das liberdades de expressão e religiosa.

Considerando a definição apresentada no início


deste capítulo, é a consagração do Ateísmo como única
religião aceita e permitida, em detrimento de todas as
outras.

Um exemplo clássico das consequências da


imposição de um Estado ateu é a União Soviética, criada
após a revolução socialista de 1917. Os russos eram
majoritariamente cristãos, seguidores da Igreja Ortodoxa
Russa, mas havia também muçulmanos e judeus.

Para Lênin, era fundamental eliminar a religião e,


para isso, usando a autoridade fornecida pelo Estado,
foram colocadas em prática ações para erradicar as
crenças religiosas através do uso prolongado da violência.

Como resultado dessas ações, sob o comando de


Lênin e, posteriormente, de Stalin, a maioria dos templos
cristãos, muçulmanos e judaicos foi destruída e milhares
de líderes religiosos foram mortos ou enviados para
campos de trabalhos forçados.

Um dos casos mais notórios foi a destruição da


Catedral do Cristo Salvador em Moscou, sede da Igreja
Ortodoxa Russa e seu templo mais sagrado; em duas
rodadas de explosões por ordem de Stalin, em 1931, o
templo veio abaixo.

193
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Milhares de sacerdotes protestaram, e como


resultado, foram presos e enviados a campos de trabalho
forçado, os tristemente famosos Gulags, onde morreram
milhões de opositores ao regime.

Existem muitos outros exemplos, como a República


Popular da China, no período Maoísta, a Albânia,
considerada a primeira nação totalmente ateísta do
mundo, o Camboja sob o Khmer Vermelho, reprimindo
principalmente o Budismo e, para isso, assassinando
monges, destruindo templos e estátuas de Buda.
Comunidades cristãs e muçulmanas foram igualmente
perseguidas, com seus templos, entre eles a Catedral
Católica de Phnom Penh, sendo completamente
destruídos.

Apesar desses fatos históricos e inquestionáveis, o


Dr. Richard Dawkins, em seu livro “Deus um delírio”, cita
a destruição pelo Talibã de estátuas de Buda, com 45
metros de altura em Bamiyan no Afeganistão e a virtual
destruição da Meca histórica, com autorização das
autoridades sauditas, como algo que ateus jamais fariam
– “Não acredito que haja um ateu no mundo que
destruiria Meca, ou Chartres, York Minster ou a Notre
Dame”, afirma Dawkins.

Mais grave do que isso, Dawkins apresenta uma


visão pretensamente ingênua e pueril, segundo a qual
ateus nunca cometem crimes em nome do ateísmo.

Deixando de lado os delírios do Dr. Dawkins, é


inegável o fato de que o estabelecimento de estados
comunistas, em muitos casos, resultou na busca de
imposição do Ateísmo, através da destruição de templos
religiosos, perseguição, assassinato ou prisão de líderes

194
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

religiosos, além da perseguição assassinato ou prisão de


pessoas comuns que teimaram em seguir suas convicções
religiosas. Uma autêntica manifestação de uma religião (o
Ateísmo) se revelando como um mal, ao proporcionar a
materialização de uma série de barbaridades, na busca de
sua afirmação como única religião.

Não cederei à tentação de incorrer no mesmo erro


dos “Novos Ateístas”, classificando os ateus como
bárbaros assassinos destruidores de templos e
monumentos religiosos e nem direi que o Ateísmo é um
mal (pelos motivos expostos) e, por isso deveria ser
eliminado do mundo.

Na verdade o Ateísmo deveria realmente


desaparecer, não por imposição de quem quer que seja,
mas sim pela livre escolha dos ateus levando-os a
conhecer A Verdade e, como resultado, à decisão de
comungarem com Deus.

Os três primeiros casos que apresentamos são


alguns exemplos utilizados pelos defensores da tese que
prega ser a religião um mal, causador de grandes
tragédias. Nessa análise pudemos ver que, apesar da
existência de um viés religioso, não faz sentido associar
as tragédias ali descritas com a existência de religiões.
Ironicamente, o caso que estaria mais próximo de
justificar esta associação é o Estado Ateu, que eles não
consideram em suas análises e críticas às religiões.

Onde está o mal?

Se o mal não está nas religiões, então onde ele


está? Por que essas desgraças aconteceram e ainda
acontecem?

195
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

A resposta a estas questões é muito simples: o mal


está no Homem, que pratica tamanhas barbaridades,
quando vive afastado de Deus – mesmo quando se
apresenta como seguidor de uma religião.

Esse mal, presente no Homem em forma latente


desde a sua queda, fez com que fossem cometidas as
barbaridades que se conhecem ao longo da História,
unicamente para atender interesses gerados pelo
egoísmo, ambição, inveja e orgulho, manifestados nas
mais diversas formas.

Em muitos casos esses atos foram executados com


grande entusiasmo, grande, mas enganoso, uma vez que
resultante de prazeres e conquistas efêmeros.

A distorção, deturpação e mau uso empregados


pelo Homem, não se aplicam apenas às religiões, também
causam ou potencializam várias outras barbaridades que,
muitas vezes, não são tratadas pela História e nem
consideradas pelos críticos das religiões. Alguns
exemplos?

O avião, extraordinário meio de transporte de


pessoas e cargas, inventado no início do século XX, teve
seu uso distorcido para se tornar arma de combate já na I
Guerra Mundial, contribuindo para a morte de milhões de
pessoas – terá essa distorção transformado o avião ou a
aviação em um mal? Devemos abolir a aviação?

O automóvel, inventado para proporcionar


mobilidade terrestre sem par, logo se tornou objeto de
cobiça, gerador de “status” e poder.

196
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Com isso, muitos transformam sua vida em um


verdadeiro inferno, assumindo compromissos financeiros
impossíveis de serem honrados, unicamente para terem
um carro “melhor do que o do vizinho”.

Pior, muitos usam o automóvel de forma


absolutamente irresponsável, causando a morte ou a
incapacitação de milhões de pessoas – sob esse aspecto o
automóvel é um mal?

Devemos abolir os automóveis como meio de


transporte?

A energia nuclear, que possibilita a produção de


energia elétrica limpa e barata, também é usada para a
fabricação de armas, hoje disponíveis em quantidade
suficiente para destruir o planeta dezenas de vezes – a
energia nuclear é um mal?

Devemos excluir a energia nuclear de nossas


vidas?

Seria possível prosseguir com esses exemplos


quase ao infinito, pois, infelizmente, a capacidade do
Homem, afastado de Deus, de fazer o mal, na busca da
satisfação de seus interesses, é quase que ilimitada.

As religiões formam apenas mais um caso, onde a


ação do Homem gerou distorções que tem levado muitas
pessoas a, erroneamente, caracterizá-las como um mal.

Precisamos de religião?

Para responder corretamente a essa pergunta,


precisamos ampliar nossa definição de religião, afirmando

197
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

que “As religiões são caminhos definidos pelo Homem


para tentar encontrar Deus”.

A partir dessa visão ampliada, será possível


compreender um novo aspecto das religiões: a sua
quantidade e diversidade, resultantes do fato de serem
criações humanas.

Com base na egolatria e orgulho, gerou-se não só


uma grande quantidade de religiões, mas também um
número ainda maior de divisões dentro delas.

Pior do que isso só a constatação de que a cada


religião corresponde uma definição para o seu deus, ou
deuses; o resultado disso foi o início das discussões, que
perduram até hoje, sobre qual é a melhor religião, qual a
religião certa e qual religião tem o deus certo.

Tudo isso não passa de uma legítima demonstração


do ponto em que pode chegar o ser humano, quando
tenta ser maior do que é. Não se pode deixar de lembrar
que, se existe um Deus, Ele é único e, como tal, o Criador
de tudo que existe.

Também não se pode esquecer que, sendo


autoexistente, eterno e infinito, Deus é anterior a tudo e,
como resultado, não está associado a qualquer tipo de
religião, invenção humana que procura conformar o
verdadeiro e único Deus às deformações de suas crenças,
dogmas, usos e costumes.

Deus não tem religião e se revela de muitas


maneiras.

198
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Na Bíblia, por exemplo, Ele se revela em várias


passagens, que, analisadas corretamente, podem trazer a
verdadeira compreensão sobre a nossa relação com Deus.

Gênesis 1.1 - No princípio, criou Deus os céus e a


terra.

Nesse momento, a partir do qual tudo o que existe


foi criado, não havia vida no Universo e como resultado,
não havia ninguém que pudesse discutir se Deus existe ou
não, como Ele é, ou que religião seguir para tentar chegar
a Ele.

Gênesis 1.26 - Também disse Deus: Façamos o


homem à nossa imagem conforme a nossa semelhança;
tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves
dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra
e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. 1.27 -
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou. 1.28 - E Deus os
abençoou e lhes disse: sede fecundos, multiplicai-vos,
enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do
mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que
rasteja pela terra. 1.29 - E disse Deus ainda: eis que vos
tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham
na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há
fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.
1.30 - E a todos os animais da terra, e a todas as aves
dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego
de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E
assim se fez. 1.31 - Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que
era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.

No final da criação, tanto pela visão bíblica quanto


pela científica, surgiu o Homem, simbolicamente

199
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

representado na Bíblia como Adão. Um primeiro ponto que


deve ser considerado é que Adão substitui a palavra
hebraica “adam”, que não é um nome próprio, e, que na
verdade significa homem. Em outras palavras, a Bíblia se
refere não a um homem chamado Adão, mas aos seres
humanos que naquele momento foram formados (homens
e mulheres).

Além disso, deve-se notar que estes seres eram,


tão somente, seres humanos, habitantes do planeta Terra
e não tinham nacionalidade nem, muito menos, religião.

Os seres inicialmente criados eram puros e


perfeitos; afinal, foram criados à imagem e semelhança de
Deus. Estavam em íntima comunhão com Deus e, como
tal, não precisavam de caminhos para tentar chegar até
Ele, ou seja, não precisavam de religiões.

Ao criar os seres humanos à Sua imagem e


semelhança, Deus lhes conferiu uma dignidade especial,
por poderem, dentro de sua condição de criaturas, refletir
e reproduzir a santidade de Deus. Esse foi o propósito da
nossa criação e, à medida que cumprimos esse propósito,
somos verdadeiros seres humanos.

No cumprimento desse propósito refletimos


qualidades de Deus, sendo seres pessoais, racionais,
dotados de inteligência e vontade, criativos, capazes de
governar o mundo e, principalmente, moralmente
irrepreensíveis.

Fomos abençoados por Deus e designados Seus


representantes e delegados para cuidar de toda a criação,
incluindo os demais seres humanos.

200
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

A alma proporciona a semelhança com Deus,


enquanto o corpo permite que se experimente a realidade
e que nos expressemos e exerçamos domínio sobre a
criação.

Gênesis 2.7 - Então, formou o Senhor Deus ao


homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego
de vida, e o homem passou a ser alma vivente. 2.8 - E
plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do
Oriente, e pôs nele o homem que havia formado.

Nesta segunda e mais detalhada apresentação para


a criação do Homem, podem-se observar alguns detalhes
de grande importância, se forem analisados em paralelo à
visão científica.

Em primeiro lugar sabemos que o corpo humano é


formado em dois terços por água e um terço por sais
minerais e simbolizar estes sais com o “pó da terra”, é
algo perfeitamente compreensível.

A teoria da evolução nos diz que somos um tipo de


“homo” que sucedeu a diversos outros, sendo, entretanto,
dotados de características físicas especiais e bastante
específicas.

A Bíblia diz que Deus criou o homem que passou a


ser alma vivente após ter recebido o fôlego de vida.
Parece bastante claro que o texto estabelece uma
separação entre o homem criado do pó da terra e o
homem alma vivente que surgiu após aquele ter recebido
o sopro do fôlego de vida.

Uma forma de se ver esse texto à luz do que a


ciência mostra, é considerar que o último homem, último

201
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

estágio da criação, era inicialmente um animal como todos


os outros, sem razão, tendo como diferença apenas as
características físicas. A partir do momento em que este
ser físico, o último animal criado por Deus, através da
evolução, ficou pronto, neste momento, ele recebeu de
Deus o sopro de vida espiritual que o tornou alma vivente,
o “Homo Sapiens Sapiens”.

Gênesis 2.15 - Tomou, pois, o Senhor Deus ao


homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e
guardar. 2.16 - E o senhor Deus lhe deu esta ordem: de
toda árvore do jardim comerás livremente, 2.17 - mas da
árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente
morrerás.

Nesse texto, mais uma vez, fica explícita a vontade


de Deus em delegar ao Homem o domínio sobre a criação.
Também vemos Deus definindo uma condição para deixar
clara a nossa necessária submissão a Ele.

Infelizmente, o Homem desobedeceu à única


ordem que recebeu, e veio a queda que, mesmo nos
mantendo como seres humanos, nos tornou escravos do
pecado, incapazes de espelhar a santidade de Deus. Esta
escolha errada rompeu nossa comunhão com Ele e passou
a dirigir nosso modo de vida.

Entretanto, a forma como fomos criados nos torna


dependentes de Deus e necessitados da comunhão com
Ele. Como resultado, passamos a buscar um novo
encontro com Deus, através de caminhos diversos que, no
fim, deram origem às várias religiões que se conhecem
desde a pré-história.

202
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

A busca por esse encontro levou o Homem, pela


ignorância e superstição, a criar deuses moldados à sua
imagem e relacionados aos fenômenos da Natureza. Assim
surgiram o deus sol, deus lua, deus do fogo, do trovão,
entre muitos outros.

Também surgiram deuses relacionados aos anseios


e necessidades do Homem, como o deus da fertilidade, da
colheita, da beleza, da caça, do mar, do fogo, e a
criatividade indo ao infinito.

Observando a coleção de divindades gregas (e


romanas), encontra-se Zeus (Júpiter), deus dos deuses e
senhor do céu, Hera (Juno), esposa de Zeus e deusa dos
casamentos e da maternidade, Hades (Plutão), deus dos
mortos, cemitérios e subterrâneos, Afrodite (Vênus) deusa
do amor e da beleza, Apolo (Apolo), deus da luz e das
obras de arte, Artêmis (Diana) deusa da caça, Hefestos
(Vulcano), deus do fogo e do trabalho, Ares (Marte) deus
da guerra, Atena (Minerva), deusa da sabedoria e
serenidade, e muitos outros.

Entre os egípcios, Mon, deus de Tebas, Anat, deusa


guerreira, Anúbis, deus dos embalsamadores, curadores e
cirurgiões, Astarte, deusa do céu, Hathor, deusa do amor,
da fertilidade e das mulheres, Osíris, deus dos mortos, da
inundação e da vegetação, Ísis, divina mãe e esposa de
Osíris, entre muitos outros.

O Hinduísmo, religião professada principalmente na


Índia, envolve crenças, tradições e uma infinidade de
deuses criados ao longo de milhares de anos. É a terceira
em número de seguidores no mundo de hoje. Entre seus
muitos deuses encontram-se as Apsaras, ninfas que
representam as nuvens carregadas de chuvas e os

203
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

nevoeiros, também associadas à fertilidade e ao


crescimento; Brahma, o criador, com suas quatro cabeças
simbolizando os pontos cardeais, os quatro Vedas ou
textos religiosos e as quatro castas do Hinduísmo; Durga
é o lado feroz da deusa mãe e empunha várias armas nas
suas muitas mãos e simboliza os aspectos mais ativos e
destrutivos da natureza feminina; Ganesha supera todos
os obstáculos, é o deus das novas venturas e tem a
cabeça de um elefante, capaz de penetrar na mais densa
selva; Hamuman, o poderoso macaco general da epopeia
Ramayana, representa a lealdade, a devoção religiosa e a
coragem; Krishna, encarnação de Vishnu, personifica o
amor divino; as suas aventuras são descritas no Bhagvar
Purana; Shiva, que significa auspicioso, originalmente um
deus da montanha, é o deus da destruição e precede a
criação; Vishnu, originalmente relacionado com o sol, é o
preservador do universo e a encarnação do amor,
verdade, ordem e compaixão. Para os seus adoradores,
ele é o ser supremo, do qual tudo emana. Nesses
exemplos pode-se ver apenas uma pequena amostra dos
deuses e símbolos de adoração presentes no Hinduísmo.

Não vamos nos aprofundar na visualização das


várias tentativas feitas pelo Homem de se reencontrar
com Deus através das religiões.

Afinal, essas e todas as demais foram infrutíferas,


uma vez que seria impossível recuperar a comunhão com
Ele por nós mesmos, pois a imersão no pecado, resultante
da queda, impedia isso.

Deus nos queria de volta para Ele e tinha o Seu


plano para isso; seguindo-o, Se revelou aos judeus, povo
que elegeu para conduzir a humanidade ao grande
reencontro da comunhão.

204
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Os judeus, entretanto, preferiram se pautar


pelo legalismo, se alternaram entre a obediência que
trazia bênçãos e a rebeldia que trazia justiça, e
acabaram criando a imagem de um Deus que, a partir
do Antigo Testamento é visto por muitos como um
velho ranzinza, raivoso e vingativo, tendo muito pouco
do Deus amoroso que queria nos resgatar da morte
pelo pecado.

Os judeus até hoje não conseguiram entender o


plano de Deus e continuam esperando pelo Salvador,
cultivando uma religião fundamentada na Lei e na
punição.

Apesar da resistência dos judeus, Deus seguiu com


Seu plano e veio a nós, através de Jesus, Se sacrificou
para limpar nossos pecados e nos ofereceu a salvação,
unicamente pela Sua Graça.

Inicialmente, muito poucos entenderam o que Deus


estava fazendo através de Jesus e do Evangelho que Ele
trouxe, mas, a partir desses primeiros discípulos, tanto o
Evangelho quanto a oportunidade da salvação foram
difundidos entre os demais povos, chamados gentios pelos
judeus, e que, a partir da aceitação de Jesus, passaram a
ser conhecidos como cristãos.

Infelizmente, o Cristianismo daí resultante sofreu,


ao longo do tempo, enormes deturpações e distorções.
Entre elas, quando a nova religião foi oficializada no
Império Romano, buscando atrair os politeístas
considerados pagãos, começou um processo de criação de
santos que, apesar de não serem considerados como
deuses, uma vez que eram identificados com causas

205
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

individualizadas, serviam ao costume pagão de adoração a


deuses com propósito específico.

Em relação ao Evangelho o que se vê hoje, é a


imagem de um Deus bondoso e misericordioso, que tudo
perdoa àquele que se arrepende, sendo distorcida ao
ponto de gerar doutrinas que afirmam ser o Homem
destinado a uma vida pródiga, imersa na riqueza material,
imune a problemas e sacrifícios de qualquer natureza, e
pior, segundo essas falsas doutrinas, aqueles que
vivenciam dificuldades em suas vidas são pessoas que
vivem afastadas de Jesus!

Essas doutrinas, em geral, têm como objetivo


atender a interesses escusos de seus propagadores e,
infelizmente, são largamente aceitas por pessoas de boa-
fé, apesar de contradizerem, acintosamente, as palavras
do próprio Jesus, como se pode ver em:

- Mateus 16.24 - Então, disse Jesus a seus


discípulos: se alguém quer vir após mim, a si
mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me;

- Mateus 11.28 - Vinde a mim, todos os que estais


cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.
11.29 Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de
mim, porque sou manso e humilde de coração; e
achareis descanso para vossa alma. 11.30 Porque o
meu jugo é suave e meu fardo é leve.

Em Filipenses 4.4, o Apóstolo Paulo, apesar de


estar preso em uma masmorra, com os pés e mãos
algemados, afirma: Alegrai-vos sempre no Senhor; outra
vez digo: alegrai-vos. Com essa afirmação, Paulo deixa
perfeitamente claro, que a alegria dos seguidores de Jesus

206
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

não é afetada por eventuais provações que ele esteja


enfrentando, pois a sua alegria reside, simplesmente, no
fato dele conhecer e seguir a Jesus.

Os muçulmanos, a partir do que é descrito no


Corão, distorceram a imagem de Deus, apresentando-O
como um ser guerreiro, agressivo, conquistador e
dominador, e essa imagem distorcida levou os árabes a
várias guerras de conquista e dominação de diversos
povos, nas quais, além da conquista territorial, também
ocorreu a imposição de sua religião, o Islamismo. Essa
postura é, totalmente oposta, à ordenança de Jesus que
disse a seus discípulos “Ide e levai o Evangelho a todos os
povos”.

Jesus em nenhum momento ordenou que o


Evangelho fosse imposto, pelo contrário, deixou às
pessoas o direito de, conhecendo o Evangelho decidirem
se queriam ou não seguir O Caminho nele apresentado.

Essa visão distorcida de Deus influencia até hoje


muitos povos islâmicos que, além de tentarem impor a
sua religião, condenam e, muitas vezes, prendem ou
matam aqueles que se negam à conversão ou que, por
motivos pessoais, decidem mudar de religião.

Fica fácil verificar que a capacidade do Homem


para criar religiões e deuses deformados e conformados às
suas necessidades é ilimitada.

O Deus único, verdadeiro, Criador de tudo o que


existe não tem nenhuma semelhança com nenhum desses
deuses criados pelo Homem; Ele não é nenhum dos
deuses gregos, romanos, egípcios ou hindus; Ele não é o
velho ranzinza dos judeus, nem o moço paz e amor dos

207
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

que se dizem cristãos; também não é o conquistador dos


muçulmanos.

Deus não é nada disso. Ele é o Deus da justiça, que


corrige o filho transgressor, o Deus do amor que apoia o
filho em dificuldade, o Deus guerreiro que protege o filho
dos agressores, simplesmente porque Ele é Pai e age
como qualquer pai verdadeiro deve agir.

Deus é o Criador e, como resultado, dele vem a


beleza, a fertilidade, a chuva, o sol, a lua, o fogo, a
inteligência, a sabedoria e muito mais, porque a tudo Ele
criou.

O que o Homem fez, nas religiões politeístas, foi


“fatiar” a criação de Deus, atribuindo as fatias resultantes
a vários deuses. Já nas principais religiões monoteístas, o
Homem criou versões parciais e distorcidas de Deus,
visando a atender os seus interesses mundanos.

Afinal, precisamos de religião?

Se, como religião, estamos nos referindo à coleção


de crenças distorcidas que se veem pelo mundo, através
das quais o Homem criou deuses deformados, parciais e
distantes do Deus verdadeiro, a resposta é NÃO!

Apesar delas não serem um mal, conforme definido


pelos “Novos Ateístas”, nem a causa das barbaridades que
tem afligido a humanidade ao longo da História, não
precisamos desses tipos de religiões, uma vez que, além
de não conduzirem de volta à Comunhão com Deus, ainda
suscitam disputas absurdas entre os seres humanos, como
por exemplo, “Qual é a melhor religião”? “Qual é a religião

208
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

certa”? “Qual deus é o verdadeiro”? “A salvação só é


encontrada aqui”! (numa determinada Igreja).

O que todos precisam é da comunhão com Deus,


único e verdadeiro, que a tudo criou, e que pelo
Evangelho, trazido a nós através de Jesus, mostra O
Caminho para voltarmos para Ele. E isso não é religião!

Volto a frisar que Deus não é judeu, nem cristão (e


nem muçulmano ou hindu ou egípcio ou grego) ou
qualquer outra coisa. Deus é, simplesmente, Deus,
anterior a tudo e, principalmente, anterior à capacidade do
Homem de criar visões distorcidas sobre quem Ele é.

Deus é apenas (se é que podemos usar esta


palavra em relação a Ele) o Deus para todos os seres
humanos e de toda a criação, que se dispôs a enviar seu
Filho a nós, nascendo não em um berço de ouro, mas em
uma estrebaria, tendo como berço uma manjedoura.

Nesse ato Ele começou a nos mostrar aspectos


que devem nortear a nossa vida, começando pela
humildade.

Deus, através de Jesus, mostrou o único Caminho


para se conhecer a Verdade, e, a partir dela, recuperar a
Vida em plena Comunhão com Ele. Esse Caminho está
mostrado no Evangelho trazido a nós por Jesus e
registrado na Bíblia.

Jesus veio ao mundo para nos salvar; Ele não veio


para fundar igrejas ou criar religiões!

209
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

210
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

4- Meio ambiente: um mundo sem Deus, sem


Cristo, um mundo em extinção.

No livro “Para onde vamos? – uma abordagem


moral para a crise do meio ambiente”, apresentamos com
ênfase e profundidade, os problemas já existentes nessa
área, como resultado da relação irresponsável com a
natureza, vivida pela maioria das pessoas. Acredito ter
deixado claro que a causa raiz desse infortúnio, está no
modo de vida individualista e egoísta do Homem,
resultante da desobediência ao que denominei “Regra de
Ouro para a Vida - Amarás e respeitarás o meio ambiente
em que vives, com toda a tua alma, coração e
entendimento, e ao teu próximo, como a ti mesmo”.

Essa regra, uma adaptação do Mandamento maior


ensinado por Jesus, define um modo de vida que pode, na
verdade deve, ser vivenciado por todos,
independentemente de seguirem ou não uma religião
formal, ou seja, serve até mesmo para os ateus.

Essa desobediência tem resultado não só na


degradação do meio ambiente natural, focalizada naquele
livro, mas também, infelizmente, está destruindo o meio
ambiente social; paralelamente ao aumento que se pode
constatar na quantidade de desastres naturais, entre
outros fenômenos ligados ao meio ambiente, que nos
chocam com grande frequência, acompanhar os noticiários
é ter contato diário com uma assustadora lista de
ocorrências que expõe de forma eloquente a absurda
degradação moral da raça humana.

O Homem, após a queda, perdeu a comunhão com


Deus, e, além de muitos buscarem, e não conseguirem,
recuperar essa comunhão através das mais diversas

211
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

religiões, principalmente após o período da História


denominado Iluminismo, uma significativa parcela da
humanidade passou a viver, simplesmente, ignorando a
existência de Deus e de seus ensinamentos. Pior, muitos
passaram a duvidar de Sua existência ou até mesmo a
contestá-la. Como isso aconteceu?

Ao longo da Idade Média a Igreja Católica Romana


consolidou-se como centro de poder, subjugando os reis
e, por consequência, a toda a nobreza, e deixando ao
povo um longínquo terceiro lugar em importância no
sistema de classes então vigente.

O poder do clero, centrado principalmente no Papa,


resultava não do controle de grandes exércitos, mas da
capacidade, vendida ao povo como verdadeira, de
excomungar, condenando ao inferno após a morte, e do
uso da Inquisição, que condenava ao inferno na Terra,
geralmente resultante de terríveis torturas, seguidas do
inferno após a morte.

A relação das pessoas com Deus não envolvia o


temor de quem ama, respeita e obedece a um Pai
amoroso para viver uma vida plena aqui na Terra, a qual
teria continuidade na vida eterna, no Reino dos Céus.
Como forma de se impor às pessoas, a Igreja Católica
Romana transformou o relacionamento com Deus em algo
baseado no medo do castigo, o qual poderia começar aqui
mesmo, por obra da “Santa Inquisição”.

No final do século XVII, em plena Idade Moderna, a


estrutura de classes e, consequentemente, de poder,
permanecia, praticamente, inalterada, com a diferença de
que entre a nobreza e o povo havia surgido a burguesia

212
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

abastada, e responsável pelo comércio, mas tendo sua


atividade sujeita ao poder absoluto dos reis.

A partir dessa época, começando na França, mas,


principalmente, durante o século XVIII quando se
estendeu para vários outros países, surgiu o movimento
denominado Iluminismo, pelo qual diversos filósofos
pretenderam combater o sistema vigente, herdado do que
eles consideravam a Idade das Trevas, denominação esta
criada por eles para os tempos medievais.

Para muitos filósofos iluministas, o Homem era


naturalmente bom, sendo, porém, corrompido pela
sociedade. Acreditavam que se todos fizessem parte de
uma sociedade justa, com direitos iguais para todos, a
felicidade comum seria alcançada. Como resultado, se
opunham às imposições religiosas vindas do clero, ao
mercantilismo e absolutismo dos reis, bem como aos
privilégios desfrutados pela nobreza e pelo clero.

As instituições religiosas que, na prática,


funcionavam muito mais focadas no reino da terra do que
no Reino dos Céus, eram alvos de ataques desses
pensadores, basicamente por considerarem a intromissão
da Igreja em assuntos econômicos, científicos e políticos,
uma prática nociva ao desenvolvimento e progresso da
sociedade. Os dogmas religiosos eram considerados uma
barreira entre Deus e o Homem.

Muitos iluministas consideravam a razão e o


experimento, como meios para se compreender a essência
divina, uma vez que acreditavam que a natureza divina
estava presente no indivíduo. Mais do que isso, com base
nas leis conhecidas nas ciências naturais, eles defendiam
a existência de verdades absolutas.

213
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

A partir do Iluminismo ocorreram importantes


transformações no mundo, entre as quais pode-se citar a
Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade)
e a Independência dos Estados Unidos.

Houve, entretanto, filósofos iluministas que


afirmavam ser a razão o único guia para o Homem atingir
a sabedoria e, como resultado, conhecer a verdade. No
aspecto religioso, esses pensadores defendiam a tese,
segundo a qual, o pensamento racional deveria substituir
as crenças religiosas e o misticismo que, em sua visão,
bloqueavam a evolução humana. O Homem, e não Deus
deveria ser o centro, passando a buscar na razão
respostas para questões que, até então, eram justificadas
somente pela fé.

Essa visão, que substituía o teocentrismo (Deus no


centro de tudo) até então vigente, pelo antropocentrismo
(o Homem no centro de tudo), deu origem a sistemas
filosóficos como o Relativismo e o Positivismo, entre
outros, os quais, especialmente após Darwin e sua Teoria
da Evolução das Espécies, procuraram levar as pessoas a
desconsiderarem Deus que, a partir dessa conceituação
passaria a ser algo supérfluo e sem lugar em nossas
vidas.

No aspecto filosófico, um dos conceitos que mais


exerceu esse tipo de influência no mundo moderno foi o
Princípio da Verificabilidade Empírica, segundo o qual uma
proposição só pode ter sentido se for verdadeira por
definição ou passível de ser verificada empiricamente.
Esse princípio, que teve origem no Empirismo de David
Hume, foi formalizado por A. J. Ayer, possivelmente o
mais importante filósofo inglês do século XX, considerado
por muitos o “pai” do Positivismo Lógico.

214
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Parece ser perfeitamente claro que se este


princípio for verdadeiro, qualquer proposição que envolva
conceitos metafísicos, incluindo aqueles relacionados a
Deus, não têm sentido e, como resultado, não são
passíveis de crença ou consideração.

A questão que se coloca é se é possível considerar-


se o princípio da verificabilidade empírica como verdade
absoluta. A melhor maneira de se chegar a uma resposta
é aplicar o seu enunciado a ele mesmo, o que resultará na
conclusão de que ele é falso, uma vez que nem é
verdadeiro por definição, nem pode ser verificado
empiricamente.

Em outras palavras, um dos principais


fundamentos do materialismo existente no mundo de
hoje, é uma proposição falsa em si mesma, sendo sua
principal falha, o fato de considerar apenas uma parte da
verdade. Proposições que são verdadeiras por definição
sempre terão sentido: 1 + 1 = 2 é verdadeiro por
definição e sempre terá sentido; da mesma forma,
qualquer proposição que possa ser verificada,
empiricamente, tem sentido. A falha do princípio está em
pretender que apenas esses tipos de proposição têm
sentido, o que é desmentido por ele mesmo.

Um exemplo muito simples nos mostra isso.


Atualmente, na maioria das grandes cidades do mundo,
existem bolsões de criminalidade. Indo a uma dessas
cidades, como turista, qualquer pessoa será advertida
para não ir àquelas áreas durante a noite, sob o risco de
ser assaltado e, eventualmente até assassinado.

215
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Se o Sr. A. J. Ayer fosse colocado diante desta


proposição e a ela aplicasse o seu Princípio da
Verificabilidade Empírica, o que aconteceria?

Vamos reproduzir o seu raciocínio: esta


advertência é verdadeira por si mesma? Não. É passível
de ser verificada empiricamente? Não (pelo menos até
que a pessoa vá até lá). Como resultado, ele concluiria
que a advertência não tem sentido, e se fosse coerente
com a sua filosofia, iria ao tal lugar, assumindo os riscos
envolvidos.

Acredito, entretanto, que o Sr. Ayer não apostaria


a sua vida na validade do seu princípio, e não fazendo
caso dele, aceitaria a advertência.

Apesar disso, esse princípio, mesmo sendo uma


tolice, conseguiu influenciar fortemente o pensamento
moderno, especialmente entre as pessoas com mais
acesso ao estudo da Filosofia, e como resultado,
contribuiu para levar uma grande parcela da humanidade
a se afastar cada vez mais de Deus.

Essa influência negativa, no campo filosófico, foi


fortalecida pelo desenvolvimento científico, em função de
uma visão equivocada das consequências que a Teoria da
Evolução das Espécies, desenvolvida por Charles Darwin,
teria sobre o entendimento da Criação.

A partir do fato evidente que mostra essa teoria


em choque com a forma como a criação é apresentada no
Livro do Gênesis da Bíblia (e que conforme já
comentamos, não pode sob nenhuma forma ser
considerada como uma visão científica), aqueles já
influenciados pelo materialismo resultante de certas

216
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

correntes do Iluminismo, especialmente no meio


científico, desenvolveram a tese, segundo a qual, a
evolução das espécies e a existência de Deus seriam
incompatíveis.

Apesar de, em nossa visão, o conhecimento das


ciências naturais levar ao conhecimento de Deus,
correntes filosóficas indutoras do materialismo,
combinadas com o entendimento equivocado da obra de
Darwin, resultaram no crescimento do agnosticismo e do
ateísmo; essa postura foi, em muito, reforçada pela
arrogância presente em muitos cientistas que, em função
de seus títulos e lauréis passam a se considerar como algo
muito próximo de deuses, não deixando espaço para o
reconhecimento da existência de Alguém infinitamente
maior do que tudo e que, como resultado, transforma
tudo o que existe (inclusive eles) em pouco mais do que
nada.

Se não bastasse isso, a atuação de milhares de


denominações religiosas, no exercício de centenas de
variantes de religiões criadas pelo Homem, com seus
dogmas, doutrinas, usos e costumes absurdos, associada
a uma profusão de verdadeiros malfeitores que,
travestidos de líderes religiosos, praticam toda espécie de
crimes, entre os quais o estelionato, enriquecimento
ilícito, falsidade ideológica e pedofilia, têm levado muitas
pessoas a se afastarem de toda e qualquer religião ou
igreja.

E pior, por ignorância, confundem igrejas e


religiões com Deus, e acabam se afastando d’Ele.

O resultado da combinação de absurdos filosóficos


com a arrogância científica, e o uso criminoso da boa-fé

217
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

das pessoas por mafiosos das religiões, levando muitos a


se afastarem de Deus, pode ser visto, diariamente nas
manchetes de jornais, revistas, rádios, TVs e internet.
Uma podridão aparentemente sem fim que,
gradualmente, está amortecendo a capacidade de as
pessoas se chocarem e se horrorizarem.

O crime, a barbárie, o desvario, praticados por


pessoas e governos, associados à impunidade, estão se
tornando lugar comum para um enorme contingente de
pessoas, em todo o mundo, pessoas que estão sendo
amortecidas ao ponto de não se emocionarem com
tragédias como a fome na Somália, causada
principalmente por uma sucessão estúpida de guerras ou
a cena de um bebê recém-nascido jogado em uma lata de
lixo, pela mulher que o gerou, entre tantas desgraças que
se veem acontecendo todos os dias.

Aqueles que se afastam de Deus ou O negam,


muitas vezes, tentam justificar sua opção de fé (Ateísmo,
não ter religião ou não querer saber de Deus, obviamente
são opções de fé) através de argumentos falaciosos.

Um exemplo disso, a campanha de ateus europeus


citada no capítulo 2, foi seguida no Brasil por uma
campanha onde, tentando promover o Ateísmo e
combater o preconceito contra os ateus, na verdade,
buscaram depreciar a fé em uma forma extremamente
agressiva.

Afirmações como “A fé religiosa não oferece


respostas e impede perguntas”, ou “O Ateísmo é o
estimulador de toda a pesquisa científica”, foram
acompanhadas de fotos de genocidas apresentados como

218
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

crentes em Deus, e em contraste, artistas charmosos


apresentados como ateus.

Um dos cartazes utilizados na campanha procura


demonstrar que religião não define caráter, apresentando
Adolf Hitler com a legenda “Acredita em Deus”, ao lado do
Carlitos, Charles Chaplin, com a legenda “Não acredita em
Deus”.

A ilação resultante dessa comparação é tão óbvia


quanto falsa, e se poderia contradizê-la com outro cartaz
mostrando D. Zilda Arns com a legenda “Acredita em
Deus” e Josef Stalin, parceiro de Hitler na prática do
genocídio, com a legenda “Não acredita em Deus”. A
ilação resultante dessa segunda comparação seria oposta
à primeira, e igualmente, falsa.

O que essas campanhas que, entre outras, são


manifestações de pessoas afastadas de Deus
demonstram, é que elas não compreendem o assunto que
estão tentando abordar. Não há necessidade de
campanhas de ateus para se afirmar que religiões não
formam caráter; muito menos para demonstrar que
acreditar ou não em Deus (ou dizer que acredita) significa
que alguém seja uma boa ou má pessoa.

O que, verdadeiramente, muda as pessoas e forma


o seu caráter é a vivência de Deus. Hitler, um
desequilibrado mental, em alguns momentos de sua vida
se afirmou como uma pessoa religiosa, que dizia acreditar
em Deus, porém os seus atos mostraram que ele não
sabia o que isso significava e mais, que ele não vivenciava
nada de Deus. Usá-lo em uma campanha, tentando
desmerecer as pessoas que creem em Deus, é obra de
quem não sabe o que faz.

219
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Josef Stalin foi um genocida, talvez até mais cruel


do que Hitler, e era ateu! Será que isso permitiria afirmar
que ateus são genocidas em potencial?

Como fica a situação de Charles Chaplin,


apresentado como ateu e, aparentemente, uma pessoa
maravilhosa? Para tentar chegar a uma conclusão, torna-
se necessário analisar algumas afirmações feitas por esse
grande artista:

“Por simples bom senso, não acredito em Deus. Em


nenhum." – a partir dessa frase pode-se concluir que
Chaplin era ateu, mas, também, pode-se concluir que ele
não sabia quem era Deus, uma vez que, afirmando não
crer em nenhum Deus, fica claro que ele desconhecia a
existência de apenas um verdadeiro Deus.

“Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer


antes que o relógio marque meia noite. É minha função
escolher que tipo de dia vou ter hoje. Posso reclamar
porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem
a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me
sentir encorajado para administrar minhas finanças,
evitando o desperdício. Posso reclamar sobre minha saúde
ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus
pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou
posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter
que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso
sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a
Deus. Posso lamentar decepções com amigos ou me
entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por
ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente
esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o
escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.” –

220
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

nessa afirmação, além de citar Deus, Chaplin se colocou


diante da vida exatamente da maneira que se espera seja
adotada por aqueles que vivenciam o único e verdadeiro
Deus.

“Minha fé é no desconhecido, em tudo que não


podemos compreender por meio da razão. Creio que o
que está acima do nosso entendimento é apenas um fato
em outras dimensões e que no reino do desconhecido há
uma infinita reserva de poder.” – a partir dessa frase,
puramente metafísica, fica muito difícil enxergar Chaplin
como um ateu materialista.

“O caminho da vida pode ser o da liberdade e da


beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a
alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do
ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a
miséria e morticínios. Criamos a época da velocidade, mas
nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que
produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos
conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência,
empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos
bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de
humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de
afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de
violência e tudo será perdido. (O Último discurso, do filme
O Grande Ditador).” – nesse discurso Chaplin, que
supostamente não acreditava em Deus, dá uma lição de
Evangelho para Hitler, que, supostamente, acreditava em
Deus.

A partir dessas afirmações, será possível,


realmente, considerar Chaplin um ateu?

221
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Ou seria ele um deísta que proferiu uma frase


manifestando descrença em Deus, a qual, considerada
fora de contexto o transformou em ícone dos movimentos
ateístas?

Infelizmente a realidade que se vê hoje no mundo,


é função de algo que está muito além desse tipo de
discussão. A causa do grande desastre que está
destruindo o meio ambiente social está no distanciamento
cada vez maior entre as pessoas e Deus, e esse
distanciamento independe do tipo de crença da pessoa.

Analisando, por exemplo, a questão do aborto: em


muitos países esta é uma prática liberada, em outros,
como o Brasil, é considerado um crime, sendo, entretanto,
tolerado em casos de estupro e risco de morte para a
mãe.

Os defensores do aborto, entre outras alegações,


defendem o direito da mulher sobre o seu corpo e alegam
que, no aborto, não se está matando uma pessoa, uma
vez que um embrião ou um feto, não estando prontos,
nem tendo perspectiva de futuro, não podem ser
considerados como tal.

Também defendemos o direito da mulher sobre o


seu corpo, mas acreditamos que ela deve exercê-lo na
forma correta, por exemplo, evitando relações sexuais
promíscuas, que podem resultar em doenças sexualmente
transmissíveis ou tomando os cuidados necessários para
evitar uma gravidez indesejada – afinal, alternativas para
isso não faltam e, em muitos casos, sem nenhum custo.

Com relação ao feto, antes de se fazer qualquer


tipo de afirmação, deve-se considerar dois aspectos: em

222
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

primeiro lugar, um feto é um ser vivo que é morto pelo


aborto; além disso, a partir do ovo resultante da união de
um espermatozoide com um óvulo, é formado o DNA, que
caracteriza todos os seres vivos.

Em outras palavras, o DNA de uma pessoa adulta é


o mesmo que encontraríamos no bebê recém-nascido e é
exatamente igual, ao DNA formado no ovo que lhe deu
origem.

O ovo, ainda uma única célula, contém todas as


características que acompanharão aquele ser durante toda
a sua vida, o que, para mim, permite afirmar que não se
pode dissociar o ovo da pessoa que se desenvolverá a
partir dele. Essa afirmação, à medida que as células
começam a se dividir e diferenciar, para formar os
diversos órgãos do corpo, torna-se cada vez mais forte.

Como fato bruto pode-se dizer que um aborto, em


qualquer estágio, mesmo tratando-se de um simples ovo,
definitivamente mata um ser vivo. Se essa consideração
pode ser estendida ou não para a morte de uma pessoa,
tornou-se função de considerações filosóficas que podem
ser manipuladas conforme se queira defender ou atacar a
realização de um aborto.

Ao fazê-lo, independentemente dos argumentos


que quiser utilizar, a mulher precisa ter a consciência
desse fato e de suas implicações morais.

A situação do aborto no Brasil mostra uma triste


realidade, pois, segundo as estimativas do Ministério da
Saúde, no Brasil são realizados, anualmente, cerca de um
milhão de abortos clandestinos, com aproximadamente
um terço demandando assistência hospitalar como

223
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

resultado de procedimentos mal executados. Em muitos


casos ocorre a morte da mulher.

Na faixa dos 18 aos 39 anos, 15% das mulheres já


fizeram aborto; entre as mais novas da faixa, com 18 e 19
anos, o percentual é de 5% e entre as mais velhas, com
35 a 39 anos, o percentual chega a mais de 20%.

A maioria dos abortos é provocada com o uso de


medicação abortiva.

As mulheres que praticam o aborto, em sua


maioria, são (melhor dizendo, afirmam ser) cristãs,
predominantemente católicas, mas também protestantes,
tipicamente, têm oito anos de estudo, 70% vivem em
uma união estável e na média têm um filho.

Contrariamente ao que mostram as estatísticas, o


perfil típico que imaginaríamos para uma mulher que
pratica um aborto seria, preferencialmente, jovem,
solteira, desprovida de informação sobre contraceptivos e
sem relacionamento com Deus.

Em função dessa distorção, me parece claro que o


problema de fundo que precisa ser discutido não é o
aborto. Ele é, na verdade, consequência de outros
problemas, extremamente sérios, que estão minando e
degradando a nossa sociedade.

Inicialmente é necessário analisar a questão da fé


das pessoas, uma vez que no Brasil, ainda segundo as
estatísticas, existem 120 milhões de católicos e 30
milhões de evangélicos, ou seja, 150 milhões de pessoas
que, pelo menos em tese, são cristãs e, como tal, em
obediência aos Mandamentos e ensinamentos de Deus,

224
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

deveriam ser contrárias ao aborto de forma absoluta,


além do que pautariam suas vidas pelo respeito às leis.

Entretanto, não podemos deixar de considerar que,


pelo menos entre os católicos, existe uma denominação
paralela de “católicos não praticantes”, que certamente,
são considerados entre os supostos 120 milhões de
católicos. Pelas estatísticas do aborto, pode-se deduzir
que também existe a figura do “evangélico não
praticante”.

Acredito ser perfeitamente claro que os dois grupos


de “não-praticantes” não podem ser considerados como
cristãos e, sendo assim, podem ter qualquer posição sobre
o aborto, até mesmo aprovando a sua prática. A questão
é quantos são esses “não-praticantes”?

O segundo aspecto que se deve considerar é o


forte indício de destruição da família que nos é
apresentado nas estatísticas do aborto, já que 70% das
mulheres que o praticam vivem uma união estável. Como
é possível conceber que um casal, vivendo uma união
estável, e tendo em média um filho, decida-se por
resolver o “problema” de um filho não planejado com um
aborto?

Minha conclusão é que este, infelizmente, é mais


um dado que comprova que a instituição da família vai de
mal a pior em nosso País.

Outro aspecto importante dessa questão deve ser


tirado do nível médio de escolaridade das mulheres que
praticam o aborto. É muito difícil imaginar a hipótese de
uma mulher, com oito anos de escolaridade, não possuir
informação sobre a existência e uso dos diversos tipos de

225
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

preservativos e anticoncepcionais existentes no mercado,


muitos com distribuição gratuita através do SUS.

O fato de essas mulheres contraírem uma gravidez


indesejada, que acaba resultando na busca do aborto,
demonstra a existência de um enorme grau de negligência
e irresponsabilidade destas pessoas com a sua vida
sexual. Fico imaginando a cena de um parceiro dizendo
“com camisinha não é bom” e, a partir disso, os dois
assumem o risco de criar uma situação que acabará
resultando em um ato criminoso, realizado através de um
aborto.

Considerando que a lei de Deus diz “Não matarás”


e que a lei dos homens define o aborto como crime, será
que essas pessoas que se dizem católicas e evangélicas,
mas desrespeitam tanto a lei de Deus, como a dos
homens, podem ser consideradas cristãs? Ou será mais
correto afirmar que essas pessoas estão, completamente,
distanciadas de Deus, vivendo apenas uma religiosidade
de aparência?

Quem vive com Deus não mata; quem vive com


Deus respeita as leis; quem vive com Deus busca, por
todos os meios possíveis, evitar situações que poderão
levá-lo a transgressões e ao pecado.

Tendo raiz comum ao problema do aborto, ou seja,


uma vida sem Deus, a banalização do sexo e a
degradação da família, tem sido muito frequentes os
casos de mulheres (não consigo qualificá-las como mães)
descartando bebês recém-nascidos.

Esses bebês, a maioria ainda com o cordão


umbilical, são colocados em sacos e deixados,

226
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

geralmente, em rios, lagos, latas de lixo, caçambas de


entulho e terrenos baldios, muitos ainda vivos. Um dos
casos mais absurdos foi o descarte de um bebê, dentro de
um saco de lixo, em uma rua movimentada, onde acabou
sendo esmagado por um carro cujo motorista imaginou
que estaria passando sobre lixo e não sobre um bebê.

Na maioria destes casos trata-se de mulheres


jovens, sem escolaridade, pobres e solitárias. Esse perfil
pode levar a uma conclusão simplista, onde se tentaria
associar a atitude criminosa ao perfil socioeconômico da
sua autora.

Nada mais falso, bastando que se considere um


caso de uma estudante de Psicologia, com 19 anos de
idade, que, tendo deixado um namorado em sua cidade
natal, engravidou-se de outro homem na capital onde
estudava e, para esconder os acontecimentos do
namorado, simplesmente matou o bebê, colocou-o em um
saco plástico e o escondeu no canil da casa dos tios com
quem passara a morar para estudar. Esta jovem já tinha
um filho de três anos, que deixou aos cuidados dos pais
para poder ir para a capital estudar, ou seja, a
banalização do sexo levou-a ao primeiro filho com apenas
16 anos e ao segundo, que ela matou, aos 19 anos.
Certamente essa moça não tem nenhum tipo de vivência
com Deus!

Outro exemplo que mostra, claramente, a falsidade


da conclusão acima, nos é dado pelas “babyklappe”
(caixas de correio para bebês) que, com o parto anônimo,
foram implantadas na Áustria há alguns anos, tendo como
objetivo combater os elevados índices de infanticídios
naquele país.

227
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Essas caixas de correio são quartos em hospitais


com acesso por uma janela. Quando a janela é aberta e o
bebê colocado no berço, soa um alarme que aciona a
equipe médica do hospital. Uma vez fechada, a janela não
pode mais ser aberta. O bebê é cuidado e,
posteriormente, encaminhado para adoção.

Parece claro que a ocorrência desse problema na


Áustria, um dos países com melhor IDH no mundo (ocupa
o 14° lugar), indica que não estamos tratando de pobreza
intelectual ou material; o caso é de pobreza espiritual,
resultante de uma vida sem Deus.

Voltando à justificativa filosófica citada acima para


o aborto, que seria válido, uma vez que o feto não pode
ser considerado como pessoa, por não estar pronto nem
ter perspectiva de futuro, pode-se verificar o risco que se
corre com a prática desse tipo de má-filosofia.

Um bebê recém-nascido também não está pronto –


basta tomar como exemplos, o crânio ainda não
completamente fechado e as ligações neurológicas em seu
cérebro que só se completarão por volta dos 18 anos de
idade – além do que também não tem nenhuma
preocupação ou percepção ou expectativa em relação ao
seu futuro. Sendo assim, sob a ótica dessa justificativa
filosófica para o aborto, o que impede que se mate um
bebê recém-nascido a partir da mesma argumentação?

Repito, se essa postura filosófica for válida, sob o


aspecto moral, qual é a diferença entre matar um feto
através de um aborto, e um recém-nascido para depois
descartar o corpo no lixo? Afinal, ambos não estão prontos
nem têm noção de futuro – será que, em função disso,
não são pessoas e, sendo assim, podem ser descartados?

228
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Finalizando a questão do aborto, se uma mulher,


usando o seu pretenso direito sobre o corpo e o seu livre
arbítrio, se decide por fazer um aborto, não sou eu que irá
julgá-la ou condená-la. Não tenho esse direito.

Sugiro apenas que ela se coloque diante de um


espelho e, olho no olho, diga: “Vou fazer um aborto, vou
matar um ser vivo, vou matar uma pessoa, vou matar o
meu filho”. A partir daí, se ela fizer o aborto, que arque
com as consequências morais, espirituais e de consciência
resultantes deste ato.

Outro problema, que demonstra claramente, as


consequências de uma vida sem Deus, é encontrado na
prática da corrupção, verdadeiro câncer social, existente
em maior ou menor grau em todos os países. Esse mal é
agravado pela impunidade, uma vez que muitos dos que
fazem leis ou que deveriam aplicá-las também padecem
da mesma doença.

Aqui no Brasil, não passa um dia sem que


tenhamos algum tipo de denúncia envolvendo políticos,
administradores públicos, juízes, policiais, empresários,
enfim, todo tipo de pessoa. Lamentavelmente, ainda são
raras as notícias que mostrem a real punição de quem
quer que seja. O descaramento chega ao ponto de vermos
o produto do crime sendo usado com ostentação e,
literalmente, “esfregado” na cara dos cidadãos. Pessoas
com renda na faixa de R$ 10.000,00, não têm o menor
pudor em desfilar com carros que custam centenas de
milhares de reais ou morar em imóveis que valem milhões
de reais.

Esta doença, assim como um câncer, é


disseminada pelo tecido social como uma verdadeira

229
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

metástase. Como exemplo, é comum se ver pessoas


recolhendo, em restaurantes, notas de despesa em valor
superior ao real, resultando daí um reembolso indevido da
parte do seu empregador. Independentemente do
montante envolvido, essa prática, tal como desvios de
milhões praticados por políticos, só tem um nome:
estelionato, resultante de adulteração.

Um dos mandamentos de Deus ordena: “Não


adulterarás”. Obviamente pessoas que ignoram Deus e
vivem distanciadas d’Ele, seguindo ou não uma religião,
não darão importância a esse Mandamento, preferindo
cuidar de seus interesses, por mais escusos que sejam.

As drogas, ao longo de toda a cadeia que vai do


produtor ao usuário, são outra consequência da vida sem
Deus. Quem ama a Deus respeita seus mandamentos,
quem ama ao próximo não lhe causa mal. A vida baseada
no individualismo egoísta, ganância e consumismo a
qualquer preço, é uma vida vazia e sem sentido.

Pessoas guiadas por esse tipo de conduta farão


tudo para obter o seu objeto de desejo e nunca estarão
satisfeitas. O resultado é a ansiedade, a depressão e, em
muitos casos a fuga para as drogas, como vã tentativa
para esquecerem a falta de significado para suas vidas.

A degradação moral chega ao ponto de se ver


traficantes viciando crianças inocentes como meio de
aumentar o seu negócio ou dependentes de drogas
roubando e matando para conseguir quantias
insignificantes, mas suficientes para a próxima pedra de
crack.

230
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

O volume de recursos movimentado, anualmente,


pelo tráfico de drogas, associado à degradação moral de
muitas pessoas que, encarregadas formalmente de
combatê-lo, acabam sendo corrompidas, tornando-se,
assim, participantes e protetores dessa prática, torna o
combate às drogas, pelos meios convencionais, uma
guerra praticamente perdida.

A degradação cada vez maior da família, o


abandono do ensino de valores e a importância crescente
atribuída à busca de realização pessoal pelo que se tem,
certamente resultarão no aumento cada vez mais
acentuado no número de pessoas que recorrem às drogas
e dela se tornam dependentes, para alegria e fortuna dos
traficantes.

A degradação da raça humana, mostrada aqui em


forma bastante sucinta, é consequência da queda do
Homem e do resultante afastamento de Deus. Ao longo
dos séculos se têm buscado vários caminhos para
recuperar a comunhão com Ele: as religiões, as doutrinas
filosóficas, o saber científico e a reverência aos templos de
consumo com o culto aos “deuses” lá expostos. Tudo em
vão.

Nada disso pode trazer a mudança necessária para


que as pessoas possam viver em harmonia, em paz e,
como resultado, com a dignidade prevista para nós a
partir da Criação. A única possibilidade de mudança está
no retorno à comunhão com Deus e o Único Caminho para
isso é a entrega total e irrestrita de nossas vidas a Jesus.

Para combater tanto a degradação que está


destruindo o meio ambiente natural quanto a que está
transformando a sociedade humana em um verdadeiro

231
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

caos, a humanidade precisa se unir, e a partir dessa


união, sobreviver.

Nenhuma religião unirá a humanidade, pois todas


estão por demais presas aos seus dogmas, rituais, usos e
costumes, e com isso, olham apenas para si e para seus
seguidores.

Nenhuma Igreja unirá a humanidade, uma vez que


todas estão por demais presas aos seus interesses, nem
sempre legítimos e, com isso só fazem dividir a religião
que, supostamente, seguem.

Nenhum líder mundial unirá a humanidade, porque


todos estão por demais presos aos seus interesses
pessoais e, eventualmente os de seus liderados, para
poderem pensar no todo que forma a humanidade.

Existe apenas um que pode unir a humanidade,


aquele que veio ao mundo para se entregar em sacrifício
para nos salvar e nos unir pela fé; aquele que nos
mostrou que o único caminho é Ele próprio, e que só
poderemos nos unir se nos tornarmos Seus seguidores,
vivendo pelo Seu exemplo e pelos ensinamentos trazidos
no Seu Evangelho. Este que é O Caminho, A Verdade e A
Vida, é Jesus Cristo.

Conclusão

Você está chegando ao final deste livro.

Antes de prosseguir, feche os olhos por alguns


momentos e imagine como seria o nosso mundo,
totalmente centrado na pessoa de Jesus Cristo e seguindo
rigorosamente o Mandamento maior:

232
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

“Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu


coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento; amarás ao teu próximo como a ti mesmo.”

Dá para imaginar um mundo assim? Certamente


seria melhor do que o mundo em que vivemos.

Nesse mundo que você imaginou, Israel não


tomaria atitudes que hostilizam, humilham e matam
palestinos, baseado em seu poderio militar e no apoio
americano derivado do lobby judaico-americano. Os
palestinos, por sua vez, não se vestiriam com bombas
para se suicidar em nome de fanáticos que se dizem
intérpretes de Deus, levando consigo o maior número
possível de israelenses.

Não veríamos um ditador comunista na Coréia do


Norte gastando fortunas com armamentos, inclusive
nucleares, enquanto o seu povo vive na miséria, muito
próximo da fome.

Não veríamos guerras estúpidas na África,


resultando em milhões de refugiados que, amontoados em
verdadeiros campos de concentração acabam morrendo
vitimados pela sede, fome e todo tipo de doenças. E tudo
isso acontecendo sob a tolerância das grandes potências
que, provavelmente, não veem naqueles países nenhum
tipo de ganho econômico que justifique uma intervenção.

Não veríamos norte-americanos vivendo sob um


consumismo irresponsável, que os transforma em
autênticos predadores dos recursos do planeta, fazendo
com que muitos povos sejam condenados a viver abaixo
da linha do mínimo indispensável.

233
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Não veríamos financistas gananciosos buscando


ganhar mais por quaisquer meios, mesmo escusos, sem
se preocupar com as consequências negativas de sua
ganância na vida de milhões de pessoas.

Não veríamos agricultores e pecuaristas brasileiros


promovendo queimadas criminosas, destruindo florestas e
agredindo de forma irreversível o meio ambiente.

Não veríamos pais matando filhos, filhos matando


pais, cônjuges se matando, mulheres jogando no lixo os
seus filhos recém-nascidos e as drogas dirigindo a vida de
milhões de pessoas.

Não veríamos governantes corruptos


enriquecendo-se através dos desvios de recursos públicos,
enquanto grande parte de seus governados vive na mais
absoluta miséria.

Você gostaria de viver em um mundo assim ou


prefere continuar vivendo em um mundo centrado e
baseado no egoísmo, egolatria, ganância, mentira, e
desamor, como aquele em que vivemos?

A mudança, que todos queremos, só poderá


acontecer no dia em que nos convencermos de que
Criacionismo, Evolucionismo, ciência, fé, religiões, Igrejas,
líderes religiosos, denominações religiosas com seus
dogmas, rituais usos e costumes, não são nada mais do
que parte dos 33 motivos pelos quais o canhão não atirou.

A única e verdadeira “Bala de Canhão” é Jesus


Cristo, presente em nossas vidas, e nós vivendo segundo
o Seu exemplo!

234
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Carta ao Dr. Richard Dawkins

Prezado Dr. Dawkins,

A leitura de “Deus um delírio” foi muito trabalhosa


- não por falta de inteligência ou capacidade de
compreensão, mas pelos seus argumentos confusos.
Apesar disso, agradeço ao senhor pelo seu livro.

Afinal, foi a partir dele que surgiu a inspiração para


produzir este livro que, espero, poderá trazer alguma luz
para aqueles que teimam em não querer dar uma
oportunidade para A Verdade.

Lamentavelmente, a sua insistência em apresentar


fatos distorcidos como verdades, a sua visão de mundo e
os seus dogmas como a única verdade, associados à
postura de querer opinar sobre temas que demonstra
desconhecer, levam o leitor atento a duvidar e questionar
até mesmo o conteúdo sadio que, com o exercício da boa-
vontade, podemos encontrar em seu livro.

Comentários sobre o absurdo da sua postura já


foram apresentados em muitos livros e artigos, escritos
por pessoas de grande saber. Neste livro, também fiz
várias menções a esse respeito e em função disso, não
vejo necessidade de voltar a esse tema.

Para não ser repetitivo, apenas três comentários.

1- a partir de uma leitura cega e equivocada do


Antigo Testamento, o senhor define Deus (aquele que não
existe) como: “Controlador mesquinho, injusto e
intransigente; perseguidor misógino, homofóbico, racista,

235
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sado-


masoquista e malévolo. (UFFA!!!!!!!!)

Com o mesmo tipo de leitura do Novo Testamento,


o senhor define Deus como insípido, através da imagem
de um Jesus “manso, submisso e indulgente”.

Neste ponto sou forçado a concordar com o senhor


uma vez que, para mim, o Deus que o senhor descreve
realmente não existe, devendo sua divulgação,
unicamente, àqueles que não conhecem absolutamente
nada sobre o Deus verdadeiro e, pior, não querem
conhecer;

2- o senhor menciona cartas recebidas de cristãos


que, em função das suas posições apresentadas em “Deus
um delírio”, desejam que o senhor vá arder no fogo do
inferno. Esta citação demonstra apenas que, assim como
eles, o senhor não tem a menor ideia do que significa ser
um cristão. Um seguidor de Jesus Cristo nunca tomaria
esse tipo de atitude, ao contrário, se disporia a orar para
que o senhor se encontre com Jesus e aceite A Verdade;

3- apesar de todas as evidências em contrário,


apresentadas em “Deus um delírio”, o senhor se afirma
como “não-fundamentalista”. Suas posições, entretanto, o
tornam exatamente igual a qualquer outro
fundamentalista, especialmente os seguidores de outras
religiões (diferentes do Ateísmo).

O fundamentalismo de Bin Laden resultou no


radicalismo que o levou a doutrinar jovens miseráveis e
ignorantes, convencendo-os a se tornarem homens-
bomba e se explodirem, causando o maior dano possível
ao “inimigo satânico”.

236
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Isto, logicamente, com a promessa de uma


passagem de ida para o paraíso, onde poderiam desfrutar
de 72 virgens.

O fundamentalismo de religiosos que se dizem


cristãos, os leva ao radicalismo que, entre outros, mata
médicos que realizam abortos legais, leva pessoas a viver
uma vida miserável, onde tudo é proibido por ser
pecaminoso, rejeita de forma absoluta o uso da
inteligência, negando a ciência, entre muitas outras
demonstrações do ponto a que pode chegar a estupidez
humana quando as pessoas se deixam guiar pela
ignorância e preconceito.

O seu fundamentalismo o leva a assumir posição


radicalmente contrária às pessoas que creem em Deus,
qualificando-as como pouco inteligentes, ignorantes, até
mesmo lunáticos.

O senhor nega o seu fundamentalismo,


argumentando que está preparado para rever sua posição
em função de evidências que lhe sejam apresentadas.

O seu livro contém vários exemplos que atestam a


inverdade contida nesta afirmação, mas, conforme já
citado na Introdução, considerarei apenas a sua visita ao
Pantanal brasileiro em 2009, quando o senhor afirmou:

"Acabo de retornar do Pantanal e fiquei


deslumbrado com tanta beleza". "Se não conhecesse
Darwin, ajoelharia e diria que isso é obra de Deus".

A tese, segundo a qual Darwin e sua Teoria da


Evolução, seria não só incompatível com a existência de
Deus, mas a negaria, é defendida basicamente por ateus

237
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

pertencentes ao grupo denominado “Novos Ateístas”


(variante fundamentalista e radical da religião
denominada Ateísmo).

Esse exemplo de prática da má ciência não é


compartilhado por cientistas ateus que procuram praticar
a boa ciência, e muito menos, por uma infinidade de
cientistas teístas, na maioria cristãos, e que, em muitos
casos, como o de Francis Collins, já vivenciaram a
experiência do Ateísmo.

Obviamente, o senhor usou Darwin como desculpa


para não admitir que, no Pantanal, estava diante de Deus,
através do efeito da Sua obra.

Faltou ao senhor a humildade necessária para se


ajoelhar e louvar a Deus em agradecimento pela
maravilha que estava à sua frente e, mais do que isso,
pela sua capacidade de ver e sentir tudo aquilo.

Lamentavelmente o senhor viu, mas não quis


enxergar.

Ao contrário da tese que o senhor defende em


“Deus um delírio”, não tenho a pretensão de achar que
este livro poderá mudar a fé de quem quer que seja.

Gostaria, entretanto, que o propósito de “Deus um


delírio? Deus o Criador?” se realizasse no senhor.

Um forte abraço,

Eduardo Gonçalves

238
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Reflexões sobre José Saramago


(em 23 de junho de 2010)

O teor de algumas declarações feitas em entrevista


aqui no Brasil, em 21 de novembro de 2008, me levou à
decisão de anexar a este livro uma carta para o Sr. José
Saramago. Infelizmente a morte foi mais rápida do que a
minha escrita, e no dia 18 de junho de 2010 esta carta
deixou de ter sentido, já que não poderia ser lida nem
respondida pelo seu destinatário. Em função disso, decidi
substituí-la por estas reflexões.

Sobre Deus

- “Deus se esqueceu de Santa Catarina?”


(referindo-se às enchentes ocorridas naquele
Estado brasileiro).

- “Não brinquemos com as coisas, Deus


simplesmente não existe”!

- “Deus existe na cabeça das pessoas, onde


provavelmente também deva estar o Diabo”!

- “Inventamos Deus porque precisávamos Dele,


precisamos Dele num certo momento, ou num
certo tempo”.

“Precisamos de Deus para quê? Quer dizer, nunca


o vimos”!

“Aquilo que se diz Dele foi escrito por pessoas”!

José Saramago era ateu, usando o direito dado a


qualquer pessoa de escolher sua crença. O uso desse

239
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

direito, entretanto, pressupõe o respeito ao direito que


outros também possuem de pensar diferentemente.

O comentário sobre Santa Catarina mostrou que


Saramago não tinha ideia sobre como Deus, se quiser,
pode operar. Também desconhecia a capacidade de as
pessoas, usando o livre arbítrio, criarem situações
perigosas para si mesmas. No caso, degradando o meio
ambiente, trazendo como resultado chuvas anormais, e
além disso, construindo em locais sujeitos ao risco de
deslizamentos e enchentes.

Pelo visto, para Saramago, crer em Deus não é


coisa séria (não brinquemos com isto) e, pior, ele se
mostrou como pretenso dono da única verdade ao afirmar
“Deus simplesmente não existe”. Com essa afirmação,
taxativa e, pretensamente definitiva, desconsiderou o
direito de mais de quatro bilhões de pessoas pensarem,
diferentemente, e conhecerem outra verdade.

Quase acertou quando disse que Deus está na


cabeça das pessoas; na verdade Ele está no coração
daqueles que O recebem. Quanto ao Diabo, está por aí,
administrando o mal, este sim na cabeça das pessoas.

Não inventamos Deus. Nós O buscamos porque


precisamos d’Ele. É estranha a afirmação de que
inventamos algo que para os ateus não existe, porque
precisamos desse algo inexistente. Será que os teístas são
loucos?

Pelo visto ele procurou demonstrar que Deus não


existe, e que não se precisa Dele, entre outros motivos
porque nunca o vimos.

240
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Outra afirmação estranha, pois, afinal, pode-se


supor que ele, por exemplo, nunca viu os átomos de
oxigênio, mas nem por isso chegou a discutir a sua
existência e muito menos negou que necessitava deles
para viver.

Quanto a afirmar que o que se diz de Deus foi


escrito por pessoas, poderíamos perguntar: quem mais,
além de pessoas poderia ter escrito algo sobre Deus?

Sobre a morte:

“Temos medo de morrer!”

“Acreditamos que poderia haver uma segunda vida,


que só podia ser, enfim, inventamos o paraíso.”

“Inventamos o inferno.”

“Também inventamos o purgatório, que, agora,


está um pouco desqualificado.”

Muitas pessoas não têm medo de morrer e,


certamente, os verdadeiros cristãos estão incluídos nesse
grupo. Como exemplo, basta se considerar o que
aconteceu no início do Cristianismo, quando pessoas eram
“convidadas”, pelos judeus ou pelos romanos, a negar
Jesus e não o faziam, mesmo sabendo que o resultado
seria a morte.

Nos dias de hoje, muitos missionários levam o


Evangelho às pessoas em países comunistas, mesmo
sabendo que se forem pegos poderão ser mortos. Acredito
que Saramago sabia que muitos milhões de cristãos foram
torturados e mortos nos países comunistas, mas, pelo

241
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

visto, esses crimes cometidos com o objetivo de impor o


ateísmo como crença única, jamais perturbaram os seus
sonhos. (Em situação oposta, é fato conhecido que as
Cruzadas e a Inquisição promovidas pela Igreja Católica
Romana lhe causavam insônia).

Os cristãos não creem em uma segunda vida;


existe uma única vida, na qual a existência material é
apenas uma passagem, após a qual essa única vida segue
por toda a eternidade, junto a Deus ou separado d’Ele.
O purgatório, este sim, realmente foi inventado
pelo Homem, mais precisamente pela Igreja Católica
Romana, como meio, principalmente, de arrancar dinheiro
das pessoas e manter o poder do Papa; essa invenção não
tem nada a ver com as Escrituras nem com a mensagem
de Cristo (fato, pelo visto, ignorado por Saramago ao
fazer esta declaração!).

Sobre o pecado:

“Quando a Igreja inventou o pecado, inventou um


instrumento de controle.”

“Não tanto das almas, porque à Igreja não importa


nada as almas.”

“Um instrumento de controle dos corpos; aquilo


que perturba a Igreja Católica é o corpo, o corpo
com sua liberdade, o corpo com seus apetites, o
corpo com suas necessidades; é isso que a
perturba!”

“O sonho da Igreja é transformá-los em eunucos,


quer dizer, os homens; as mulheres não podem
ser “eunucas”!”

242
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Considerando que pecado significa “transgressão


de qualquer preceito ou regra” (imagino que qualquer
pessoa, razoavelmente instruída, saiba isso) alguém
afirmar que a Igreja inventou o pecado equivale a dizer
que ela inventou, por exemplo, o roubo, o assassinato, o
adultério, a corrupção etc.!

Apesar de ter mencionado a Igreja Católica,


imagino que o alvo de Saramago era os Mandamentos
atribuídos a Deus e, pelo teor das suas declarações, o foco
foi a questão sexual.

O corpo pode e deve exercer sua liberdade, saciar


seus apetites e atender às suas necessidades,
características resultantes da dádiva de Deus. Mas não de
forma absoluta.

O que os Mandamentos de Deus proíbem, no


âmbito sexual, são atos como o adultério, a sodomia, a
pedofilia (praticada, entre outros, por falsos líderes
religiosos), o sexo promíscuo, o sexo irresponsável,
especialmente, entre adolescentes.

Infelizmente os apetites e necessidades


desvirtuados que levam à prática desses atos são
característicos do ser humano caído, que tem o mal em
sua cabeça. A questão que se coloca é se o Homem deve
ter liberdade para saciar esse tipo de apetites e
necessidades.

Sobre a Bíblia:

“A Bíblia levou 2000 anos para ser escrita!”

“Foi escrita ao longo de 2000 anos!”

243
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

“A Bíblia não é um livro que se possa deixar nas


mãos de um adolescente!”

“Aquilo só tem maus conselhos, assassínios,


incestos, aquilo é um desastre!”

Saramago conhecia a Bíblia, mas, pelo visto, sem


compreendê-la. Como resultado, acredito até que se pode
considerá-lo um analfabeto bíblico, conforme
caracterizado, anteriormente, neste livro.

Se não fosse assim, ele saberia, entre outras


coisas, que, no Antigo Testamento, a Bíblia revela Deus
através da Sua relação com o povo de Israel e mostra a
trajetória daquele povo com suas virtudes e defeitos.

Esse povo, caído e com o mal na cabeça, praticava


todo tipo de transgressões (ou pecados) e essas, além, é
claro dos acontecimentos virtuosos, foram, devidamente,
registradas nos livros que compõem a Bíblia.

Se isso fosse motivo para impedir um adolescente


de conhecer a Bíblia, se estaria negando a ele também, o
direito de conhecer as maravilhas que ela contém.

Se a Bíblia fosse escrita nos dias de hoje, como


seria? É fácil imaginar, bastando ver as manchetes de
todos os dias na Internet, TV, jornais e revistas. O
problema é que essa Bíblia de hoje, elaborada a partir das
notícias da mídia, novelas, filmes e outros meios de
divulgação, seria, quase que inteiramente, um relato de
maldades, desgraças e transgressões.

Pelo seu raciocínio, os nossos adolescentes, muito


mais do que não terem contato com a verdadeira Bíblia,

244
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

deveriam ser colocados em uma redoma de modo a não


terem acesso a esses veículos de comunicação. Afinal, o
que se pode encontrar neles, é muito pior do que os
piores relatos de transgressões incluídos na Bíblia.

Na verdade, a atitude que deve ser tomada, é


exatamente o oposto: ensinar, tendo a Bíblia como
modelo, a diferença entre certo e errado e mostrar como
uma pessoa digna vive. Fazendo assim, os adolescentes,
mesmo vivendo em um mundo caído, ficarão protegidos
das barbaridades com as quais terão contato todos os
dias.

Em suas declarações Saramago demonstrou que,


além de não compreender a Bíblia, não a respeitava. É
possível que os mais de dois bilhões de pessoas que
adotaram este Livro como guia de valores para suas vidas
estejam erradas? E ele certo?

Na continuação de sua entrevista foi mencionado o


livro “Ensaio sobre a Cegueira”.

Pelo que entendi a inspiração para o livro começou


com uma indagação “E se fôssemos todos cegos?” e uma
constatação “O fato é que estamos todos cegos!”.

Foram feitas considerações sobre o Homem que,


dotado de inteligência e razão, pelo mau uso que faz
destas virtudes não merece a vida.

“O instinto serve melhor aos animais do que a


razão ao Homem”. “O animal quando mata, seguindo seus
instintos, é para se alimentar; mas nós, nós matamos por
prazer, por gosto”.

245
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

“E se nós fossemos todos cegos? Mas nós estamos


cegos!”

“Cegos da razão, porque não usamos da razão para


defender a vida; usamos a razão para destruí-la!”

“É contra isso que foi escrito o ensaio sobre a


cegueira”.

O que posso dizer, comentando estas declarações,


é que, aqui, vale o ditado: “O pior cego é o que vê, mas
não enxerga”! Saramago viu a verdade, mas não
conseguiu (ou não quis) enxergar.

Quando o homem escolheu viver baseado nas


aparentes vantagens do egoísmo, avareza, arrogância,
orgulho, e ganância, o mau uso da razão fez dele um ser
não merecedor do título de “Coroa da Criação”. A razão,
usada para satisfazer esse modo distorcido de vida, só
traz como resultado a prática de iniquidades, incluindo o
matar por gosto ou prazer.

Ao longo de Seu ministério, Jesus nos mostrou


outro modo de viver, baseado no amor. Vivendo desse
modo, o Homem passa a usar a razão para construir e não
para destruir.

Homens como Martin Luther King e o Mahatma


Gandhi seguiram esse ensinamento. Lutaram através da
paz e foram mortos na estupidez da violência.

O que diferenciou esses dois homens, e diferencia


muitos milhões de outros homens e mulheres, daqueles
que usam a razão para destruir a vida? O modo de viver,

246
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

baseado no Mandamento maior que Jesus ensinou. Esse


modo de vida é sinal e testemunho da existência de Deus!

Jesus disse “Eu sou a luz do mundo!” – esta luz


veio a nós para nos livrar da cegueira que Saramago com
tanta inteligência conseguiu ver; infelizmente, o mau uso
da sua razão, e a falta de sabedoria, não lhe permitiram
enxergar esta luz, e ele continuou cego!

“Porque Deus amou ao mundo de tal


maneira que deu o Seu Filho
unigênito, para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha a vida
eterna!” João 3.16

247
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

248
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Carta ao leitor

Inicio esta carta agradecendo pela sua bondade e


paciência, necessários para completar esta leitura. Apesar
do esforço, carinho e dedicação que procurei imprimir
como marcas deste livro, sei o quanto é difícil, nos dias de
hoje, encontrarmos tempo para ler. Esse conhecimento só
faz aumentar a minha gratidão.

Ao longo deste livro falamos sobre Deus, sobre a


Bíblia, visões de mundo como o Criacionismo e o
Evolucionismo, erroneamente consideradas como
antagônicas, ciência e fé, permanentemente envolvidas
em um conflito irreal, religiões, igrejas, falamos do meio
ambiente físico e social, bem como dos desafios que estão
diante da humanidade.

Nessa altura você tem todo o direito de me dizer:


O livro “Deus um delírio”, de Richard Dawkins apresenta
como propósito declarado a conversão de pessoas
religiosas ao Ateísmo; você, Eduardo, afirmou na reflexão
inicial que “Toda atividade humana deve ter um
propósito”; então, qual é o propósito deste livro?

Reconheço plenamente o seu direito de me fazer


essa pergunta, e vou procurar respondê-la da maneira
mais clara possível. Para isso vou começar mostrando o
que não é o propósito deste livro.

Seria esse propósito apresentar uma resposta às


afirmações do Dr. Richard Dawkins em seu livro? Apesar
de este livro conter uma carta ao Dr. Dawkins, acredito
firmemente que a resposta a suas afirmações ele receberá
da vida e não através de outros livros.

249
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Seria provar a existência de Deus? Se


considerarmos que provar significa obter provas
incontestáveis através de método científico, a resposta é
não. Acredito que esse tipo de prova não é possível ou
acessível ao Homem, e não seria eu quem teria a
pretensão de obtê-la.

Seria converter judeus e muçulmanos ao


Cristianismo? Ou, indo na contra mão do Dr. Dawkins,
convencer ateus a comungarem com Deus? Não, um livro,
por mais abençoado que seja não tem esse poder.

Nessa altura, com toda a razão, você pode dizer:


“Mas afinal, qual é o propósito deste livro”? Antes de
responder, definitivamente, à pergunta, vou dizer o que
espero que você faça, a partir da conclusão dessa leitura.

Espero que você reflita, profundamente, sobre tudo


o que leu. Quando concluir essa reflexão, inicie uma nova
leitura, mais pausada, marcando os pontos mais fortes
onde concordamos e onde discordamos. Ao final dessa
segunda leitura, uma nova reflexão.

Com isso feito, aí sim vem o propósito deste livro:

“Que você, após esse processo de leitura e reflexão,


se decida a conhecer, ou conhecer melhor, uma
pessoa chamada Jesus Cristo!” – apenas isso.

Se você tomar essa decisão e colocá-la em prática,


este livro terá atingido, plenamente, o seu propósito –
porque, a partir desse ponto, o assunto será entre você e
Ele.
Que Deus o abençoe!
Eduardo Gonçalves

250
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Agradecimentos

Meu primeiro agradecimento é para Deus, o Pai


Eterno, a quem devo não só a minha vida, mas também o
maravilhoso mundo que Ele criou para que eu possa viver,
louvando-O e glorificando-O. Ele me proporcionou os
atributos espirituais, os meios materiais e a inspiração
para que este livro pudesse ser composto.

Foram nove longos anos de trabalho,


principalmente à noite, um tempo em que meus contatos
com a família foram marcados pela ausência. Por isso
agradeço de todo coração a minha esposa Liliana, não só
pela paciência, mas também pelo apoio e incentivo.

Um agradecimento especial ao amigo Pastor Ueslei


Fatareli que, além de me emprestar o livro “Deus um
delírio”, foi, em grande medida, responsável pelo processo
que resultou neste livro, ao me dizer: “Acho que você não
deve escrever uma carta; em vez disso, deve pedir a
bênção do Espírito Santo e escrever um livro”! No final,
escrevi o livro e a carta.

Durante o desenvolvimento deste projeto contei


com o apoio integral de vários amigos, entre eles, o
Pastor Dirceu Pereira, e o irmão Rodney da Silva Gomes,
que tiveram a paciência necessária para ler diversos
capítulos, à medida que ficavam prontos, e a boa vontade
para apresentar sugestões visando ao seu
aprimoramento. A eles também o meu muito obrigado.

Para que o meu texto adquirisse a forma final foi


necessário e fundamental o trabalho de revisão feito pelo
amigo Professor Antonio Ferrari, a quem dedico o meu
agradecimento fraterno.

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Glossário

Cosmovisão - visão ou concepção de mundo,


expressando também uma atitude frente ao mesmo.
Como resultado, não é uma mera abstração, já que a
imagem que o Homem forma do mundo possui um fator
de orientação e uma qualidade modeladora e
transformadora da própria conduta humana.
O Materialismo, o Espiritualismo e o Idealismo são
exemplos de cosmovisão.

Criacionismo – visão de mundo com fundo religioso,


segundo a qual o universo e tudo que nele existe é
resultado de ação criadora de um agente sobrenatural. O
Criacionismo, principalmente entre os cristãos, apresenta
variantes entre as quais as mais consideradas são:
- Criacionismo da Terra Jovem – a partir de uma leitura
literal do Livro do Gênesis acredita-se que toda a criação,
realizada por Deus, ocorreu em um período de seis dias
de vinte e quatro horas; além disso, a partir de cálculos
onde se utiliza informações daquele Livro, considera-se
que a Terra tem entre seis e dez mil anos de idade,
contrariando todas as medições científicas que atribuem à
Terra cerca de 4,5 bilhões de anos. Os adeptos deste tipo
de criacionismo são radicalmente contrários à Teoria da
Evolução;
- Criacionismo da Terra Antiga – variante que aceita a
idade da Terra apresentada pela ciência, conciliando este
fato com os termos da Bíblia, entre outros, através do
conceito segundo o qual os dias da criação citados no
Gênesis, na verdade, equivalem a milhões ou bilhões de
anos;
- Criacionismo Moderno – variante que faz uma leitura
menos radical da Bíblia, acreditando, por exemplo, que,
com a permissão de Deus, a microevolução (evolução

253
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

dentro das espécies) pode ocorrer. Não aceitam nenhuma


forma de macroevolução (evolução entre espécies) nem a
seleção natural. Para um Criacionista Moderno Deus criou
cada um dos seres vivos instantaneamente, a partir do
nada.
As três variantes acima são as mais aceitas por cristãos
evangélicos, principalmente nos Estados Unidos.
- Criacionismo Evolucionário – também chamado de
Evolucionismo Teísta, aceita a Teoria da Evolução,
incluindo a seleção natural e considera que a evolução é
resultado de leis naturais criadas por Deus; esta variante
é apoiada pela Igreja Católica Romana e pela maioria das
seitas judaicas.

Evolucionismo – visão de mundo que considera a


diversidade de vida existente na Terra como resultado de
um processo evolutivo natural que resultou tanto na
macroevolução quanto na microevolução, sem nenhum
tipo de influência sobrenatural. Seus conceitos são
baseados, principalmente, em estudos do francês Jean-
Baptiste Lamarck e na Teoria da Evolução apresentada
por Charles Darwin, além das informações resultantes das
pesquisas desenvolvidas ao longo do século XX, entre as
quais se devem destacar os estudos relacionados ao
genoma. Uma variante radical, derivada da visão de
alguns cientistas ateus, extrapola os aspectos científicos
relacionados ao evolucionismo, e apresenta esta visão de
mundo como capaz de mostrar que Deus não é necessário
e, a partir deste conceito, tenta demonstrar que Ele não
existe.

Fundamentalista – todo aquele que segue uma crença


de forma irracional e exagerada, assumindo posições
dogmáticas que resultam em fanatismo com relação às
suas opiniões; conceito associado originalmente a adeptos

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

de movimentos religiosos radicais, atualmente é utilizado


também para caracterizar outras formas de fanáticos
envolvendo, por exemplo, seguidores de movimentos
étnicos extremistas ou de posições econômicas como o
“fundamentalismo de livre mercado”.

Ateísmo – crença que considera que não existe nenhum


tipo de divindade; no sentido considerado neste livro,
pode ser tratada como uma religião. Em sua variante mais
radical, professada pelos “Novos Ateístas”, define
conceitos relacionados às religiões, consideradas, entre
outros, como “O maior do mundo” e responsáveis pelas
principais tragédias ocorridas na História.

Teoria da relatividade geral – generalização da Teoria


da Gravitação de Newton. Publicada em 1915 por Albert
Einstein, leva em consideração as ideias desenvolvidas em
1905, na definição da Teoria da Relatividade Restrita
sobre o espaço e o tempo, e generaliza o princípio da
relatividade do movimento para sistemas que incluam
campos gravitacionais. Esta generalização modifica
profundamente o nosso conhecimento sobre o espaço-
tempo, entre outras, pela constatação de que a matéria
(energia) curva o espaço e o tempo à sua volta. Outro
conceito fundamental, derivado da Teoria da relatividade,
define a velocidade da luz com um valor invariável.

Fissão nuclear – reação que ocorre no núcleo de um


átomo. Ao ser atingido por um nêutron, o núcleo libera
novos nêutrons e uma imensa quantidade de energia. Os
novos nêutrons assim liberados colidem com outros
núcleos, estabelecendo o processo denominado reação em
cadeia. É o princípio utilizado, entre outros, na construção
de bombas atômicas.

255
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Rabi Moshe ben Nachman, ou Nachmánides, (1194-

1270), mais conhecido por seu

acrônimo Ramban (hebraico: ‫ )רמב"ן‬foi um rabino catalão,

um médico e um grande conhecedor da Torá. Interessava-

se pelo misticismo judeu, a cabala. Ficou conhecido pela

sua refutação do Cristianismo, numa disputa com Pablo

Christiani, um judeu convertido ao catolicismo, perante o

Rei Jaime I em 1263,1 no que ficou conhecida

como Disputa de Barcelona. Foi o autor do primeiro livro

impresso em Lisboa, o Comentários sobre o Pentateuco.

Cosmologia - ramo da astronomia que estuda a origem,


estrutura e evolução do Universo.

Astro-biologia - estudo da origem, evolução, distribuição


e o futuro da vida no Universo. Neste ramo da ciência
utilizam-se conceitos de vida e de meios habitáveis que
serão úteis para o reconhecimento de biosferas que
poderão ser diferentes da nossa e envolve a procura por
planetas potencialmente habitáveis fora do Sistema Solar.

Biopolímero – polímeros (compostos cuja molécula é


constituída por várias moléculas de outros compostos
mais simples) produzidos por seres vivos. O DNA, RNA,
proteínas, amido e celulose são exemplos de
biopolímeros.

DNA - é um composto orgânico cujas moléculas contêm


as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento
e funcionamento de todos os seres vivos e alguns vírus. O
256
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

seu principal papel é armazenar as informações


necessárias para a construção das proteínas e dos RNA
(ácido ribonucleico - polímero responsável pela síntese
de proteínas da célula). Os segmentos de DNA que
contêm a informação genética são denominados genes. O
restante da sequência tem importância estrutural ou está
envolvido na regulação do uso da informação genética.

Teísta – aquele que adota o teísmo como crença, isto é


que acredita na existência de um ou mais deuses. No livro
o termo é usado para caracterizar os que creem na
existência de um Deus que se relaciona com as pessoas,
como é o caso nas religiões Judaicas, Cristãs e Islâmicas,
sendo, portanto, monoteístas.

Deus das lacunas – termo pejorativo utilizado


principalmente por ateus e agnósticos, a partir da postura
adotada por alguns grupos de criacionistas, que tentam
justificar ou demonstrar a existência de Deus, por meio de
lacunas existentes no conhecimento científico; segundo os
ateus, a cada nova descoberta científica mais lacunas se
fecharão, deixando cada vez menos espaço para Deus.
Esta, entretanto, é uma discussão vazia, uma vez que a
existência de Deus não depende destas lacunas.

Mecânica quântica – ramo da Física que trata do estudo


dos sistemas físicos cujas dimensões são próximas ou
abaixo da escala atômica, tais como moléculas, átomos,
elétrons, prótons além das partículas subatômicas, muito
embora também possa, em diversos casos, descrever
fenômenos macroscópicos.

Biofísica molecular – a Biofísica é uma ciência


multidisciplinar que utiliza conceitos da Física para tratar
de questões da Biologia. A biofísica busca enxergar o ser

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

vivo ocupando lugar no espaço e transformando energia,


além de interagir com o meio ambiente. Aspectos
elétricos, gravitacionais, magnéticos e mesmo nucleares
estão na fundamentação de vários fenômenos biológicos
e, como resultado, podem ser tratados pelos
conhecimentos das ciências físicas.

Deísta – aquele que segue o deísmo,


postura filosófica que admite a existência de
um Deus Criador, mas não nega a realidade de um mundo
completamente regido pelas leis naturais e científicas,
sem interferência sobrenatural. O deísta acredita que a
própria estrutura do universo, tão complexa como é, é a
prova de que existe um Deus Criador, entretanto é
importante ressaltar que o deísmo permite aos seus
seguidores uma livre interpretação disso. Para alguns
deístas Deus pode ser um ser transcendental criador das
coisas, para outros pode ser uma força completamente
científica, não pensante, não sobrenatural, que gerou e
mantém o universo.

Projeto Genoma Humano – projeto criado em 1990


para buscar, em um esforço internacional, o mapeamento
do genoma humano, tratando de sequenciar os genes que
codificam as proteínas do corpo humano, bem como as
partes de DNA que não são genes. Em 2001 atingiu
resultado de cobertura de 90% do genoma, sendo
concluído em 2003, atingindo o sequenciamento de 99%
do genoma humano, com uma precisão de 99,99%.

Astronomia de posição e mecânica celeste –


Astronomia de posição é o ramo da Astronomia que lida
com a posição das estrelas e outros corpos celestes, suas
distâncias e movimentos. A Mecânica Celeste é o ramo
da astronomia que estuda os movimentos dos corpos

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

celestes (naturais ou não). A principal força determinante


dos movimentos celestes é a gravitação, contudo certos
corpos (satélites artificiais, cometas e asteroides) podem
sofrer a influência de forças não gravitacionais como
a pressão de radiação e o atrito.

Astronomia dinâmica – ramo da Astronomia que estuda


os astros em movimento.

Presbítero – designação utilizada nas igrejas cristãs


primitivas, para aqueles, geralmente anciãos, aos quais
era confiado o governo da comunidade cristã. Hoje o
termo é utilizado para designar um ministro religioso, cuja
função, entretanto, varia de acordo com as diferentes
denominações.
Ateístas – aqueles que seguem o Ateísmo como visão de
mundo (ou religião).

FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty, evento


literário realizado anualmente na Cidade de Paraty,
localizada no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro.

Pantanal – o Pantanal é um bioma constituído


principalmente por uma savana úmida, com 250 mil
km² de extensão, sendo alagada em sua maior parte.
Localizada no sul de Mato Grosso e no noroeste de Mato
Grosso do Sul, ambos Estados do Brasil, além de também
englobar o norte do Paraguai e leste da Bolívia. Apesar do
nome, há um reduzido número de áreas pantanosas na
região pantaneira. Além disso, tem poucas montanhas o
que facilita o alagamento.

Cânon – esta palavra tem origem no grego “kawvn”, que


significa régua, ou regra. Aplicada à Bíblia, define o
processo de seleção dos livros que, sendo conformes à

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

regra da inspiração e autoridade divinas, passaram a


compor as Escrituras. Infelizmente este processo ocorreu
pelo menos em versões distintas, resultando no cânon (e
Bíblia) hebraico, o cânon (e Bíblia) católico romano, o
cânon (e Bíblia) católico oriental e o cânon (e Bíblia)
protestante.

Septuaginta – Septuaginta é o nome da versão da Bíblia


hebraica para o grego koiné (popular), traduzida em
etapas entre o terceiro e o primeiro século
a.C. em Alexandria.
Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da bíblia
hebraica para o grego usado no Mediterrâneo oriental, no
tempo de Alexandre, o Grande.

A tradução ficou conhecida como a Versão dos


Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa
setenta), pois, segundo consta, setenta e dois rabinos
(seis de cada uma das doze tribos) trabalharam nela e
teriam completado a tradução em setenta e dois dias.

A Septuaginta, desde o século I, é a versão clássica da


Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega e foi
usada como base para diversas traduções da Bíblia.

Vulgata latina – No sentido corrente, Vulgata é a


tradução da Bíblia para o latim, escrita entre fins
do século IV início do século V, por São Jerônimo, a
pedido do Papa Dâmaso I. Foi usada pela Igreja Católica e
ainda hoje é muito respeitada.

Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo


da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito todo
o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos, de
São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos
seguintes.
260
DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

No século IV, a situação já havia mudado, e é então que


São Jerônimo traduz o Antigo Testamento para o latim.

A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de


compreender do que suas antecessoras. Foi a primeira, e
por séculos a única, versão da Bíblia que traduziu o Velho
Testamento diretamente do hebraico e não da tradução
grega conhecida como Septuaginta. No Novo Testamento,
São Jerônimo selecionou e revisou textos. Ele não
considerou canônicos os sete livros, chamados por
católicos e ortodoxos de deuterocanônicos. Chama-se,
pois, Vulgata a esta versão latina da Bíblia que foi usada
pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e
ainda hoje é fonte para diversas traduções.

O nome vem da expressão vulgata versio, isto é "versão


de divulgação para o povo", e foi escrita em um latim
cotidiano, usado na distinção consciente ao latim elegante
de Cícero, do qual Jerônimo era um mestre.

A denominação Vulgata consolidou-se na primeira metade


do século XVI, sobretudo a partir da edição da Bíblia
de 1532, tendo sido definitivamente consagrada pelo
Concílio de Trento, em 1546. O Concílio estabeleceu um
texto único para a Vulgata a partir de vários manuscritos
existentes, o qual foi oficializado como a Bíblia oficial da
Igreja e ficou conhecido como Vulgata Clementina.

Após o Concílio Vaticano II, por determinação de Paulo VI,


foi realizada uma revisão da Vulgata, sobretudo para
uso litúrgico. Esta revisão, terminada em 1975, e
promulgada pelo Papa João Paulo II, em 25 de
abril de 1979, é denominada Nova Vulgata e ficou
estabelecida como a nova Bíblia oficial da Igreja Católica.

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Códice de Leningrado – O Códice de


Leningrado ("Codex Leningradensis, L") é um dos mais
antigos e completos manuscritos do texto massorético
da Bíblia hebraica, escrito em pergaminho e datado
de 1008 d.c., sendo considerado a cópia completa mais
antiga das escrituras Hebraicas do mundo. Este
manuscrito serve como texto básico para modernas
traduções da Bíblia.

Atualmente, o Códice de Leningrado, é o mais


importante texto Hebraico reproduzido na Rudolf Kittel's
Biblia Hebraica (BHK 1937) e na Bíblia Hebraica
Stuttgartensia (BHS 1977).

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

Bibliografia

Apresentamos uma relação com bons livros que


podem contribuir para o aprimoramento da visão de
mundo do leitor; incluímos apenas livros com edição no
Brasil e, como resultado, as traduções estão relacionadas
com o nome da edição Brasileira.

- Deus um delírio – Richard Dawkins – Companhia das


Letras – 2007

- deus não é grande – Christopher Hitchens – Ediouro


Publicações – 2007

- Não tenho fé suficiente para ser ateu – Norman Geisler,


Frank Turek- Editora Vida - 2006

- O delírio de Dawkins - (Uma resposta ao


fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins) – Alister &
Joana McGrath – Editora Mundo Cristão – 2007

- A linguagem de Deus - (Um cientista apresenta


evidências de que Ele existe) – Francis S. Collins – Editora
Gente - 2007

- Um ateu garante: Deus existe - (As provas


incontestáveis de um filósofo que não acreditava em
nada) – Anthony Flew – Ediouro Publicações – 2008

- À Imagem e Semelhança de Deus – Philip Yancey, Dr.


Paul Brand – Editora Vida - 2003

- Bíblia de Estudo de Genebra – Vários – Editora Cultura


Cristã – 1999

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- Introdução Bíblica - (Como a Bíblia chegou até nós) –


Norman Geisler, William Nix – 1997

- Palavra de Deus palavra da gente - (As formas literárias


na Bíblia) – Maria Paula Rodrigues e outros – Editora
Paulus – 2004

- A mensagem do Antigo Testamento - (Uma exposição


teológica e homilética) – Mark Dever – Casa Publicadora
da Assembleia de Deus - 2008

- Palavra e mensagem do Antigo Testamento – J. Shreiner


– Editora Teológica – 2004

- O Evangelho reunido – Juanribe Pagliarin – Editora


Landscape – 2005

- O que Jesus disse? O que Jesus não disse? - (Quem


mudou a Bíblia e por quê?) – Bart D. Ehrman – Prestígio
Editorial, Ediouro Publicações – 2006

- Evangelhos perdidos - (As batalhas pela escritura e os


cristianismos que não chegamos a conhecer) – Bart D.
Ehrman – Editora Record – 2008

- O problema com Deus - (As respostas que a Bíblia não


dá ao sofrimento) – Bart D. Ehrman – Agir Editora – 2008

- A Bíblia que Jesus lia – Philip Yancey – Editora Vida –


2000

- Decepcionado com Deus – (Três perguntas que


ninguém ousa fazer) – Philip Yancey – Editora Mundo
Cristão - 2004

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- Islam e Islamismo – Roberto Cattani – Editora Claridade


– 2008

- A dança do universo – Marcelo Gleiser - Editora


Schwarcz 2006

- Criação imperfeita – (Cosmo, vida e o código oculto da


natureza) – Marcelo Gleiser – Editora Record – 2010

- Einstein – O enigma do universo – Huberto Rohden –


Editora Martin Claret

- Pilares do Tempo - (Ciência e religião na plenitude da


vida) – Stephen Jay Gould – Editora Rocco – 2002

- Além de Darwin - (Evolução: o que sabemos sobre a


história e o destino da vida) – Reinaldo José Lopes –
Editora Globo – 2009

- Quando a Ciência encontra a Religião - (Inimigas,


estranhas ou parceiras?) – Ian G. Barbour – Editora
Pensamento – Cultrix – 2004

- Ciência e sabedoria - (Um diálogo entre ciência natural e


Teologia) – Jürgen Moltmann – Edições Loyola – 2007

- O princípio de todas as coisas - (Ciências naturais e


religião) – Hans Küng – Editora Vozes – 2007

- Do cativeiro babilônico da Igreja – Martinho Lutero –


Editora Martin Claret – 2006

- O que estão fazendo com a Igreja – Augustus


Nicodemus – Editora Mundo Cristão – 2008

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

- É proibido – (O que a Bíblia permite e a Igreja proíbe) –


Ricardo Gondim – Editora Mundo Cristão – 1998

- Alma sobrevivente – (Sou cristão, apesar da Igreja) –


Philip Yancey – Editora Mundo Cristão - 2004

- Ortodoxia – G. K. Chesterton – Editora Mundo Cristão –


2008

- Ainda existe esperança – (A solução para os problemas


da vida) – Enrique Chaij – Casa Publicadora Brasileira –
2010

- O Homem a procura de Deus – Paul Eugene


Charbonneau – Editora Pedagógica e Universitária – 1981

- O Reino de Deus está em vós – Liev Tolstói – Editora


Best Seller – 2011

- Quem precisa de Deus? – (A busca de um caminho de


esperança em meio às incertezas do novo milênio) –
Harold Kushner – Editora Arx – 2007

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DEUS, um delírio?... DEUS, o Criador?

4ª Capa
Deus, um delírio dos vendilhões que O pretendem seu
monopólio e, assim, tornam-se mediadores entre a
suprema divindade e a miséria humana?

Deus, o Criador... Ou a criação do humano ser, que busca


um provedor das suas necessidades? Porquê a relação
entre ambos é determinada pela barganha unilateral: eu
peço, Ele atende.

É tão absolutamente rara uma postura diferente...


Se existe, ou não...

O autor deste livro nos oferece um possível caminho para


constatarmos Sua existência, um caminho embasado em
vivência pessoal e pesquisa séria, sem nos tolher, no
entanto, a liberdade de tecermos nossa própria senda.

Acima disso, porém, o que nos propõe é que nos


confrontemos com o Deus que há dentro de nós...

Ou que não há...

Ambos manifestos na

. Presença, que nos diz para amarmos nossos


semelhantes, que nos solicita a preservação do meio
ambiente, o respeito à vida dos que ainda não
nasceram...
Ou...
. Na ausência, que se omite, que é conivente e partícipe
da escuridão que se apossa cada vez mais e tão
rapidamente do nosso planeta.

Mas não poderá ser ao contrário?

Ler este livro é ter ousadia de pensar a respeito.


A ousadia de passar a própria vida a limpo!

Patricia Neme

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