Você está na página 1de 13

N O T Í C I A S A D V E N T I S TA S

Coluna | Adolfo
Suárez

Tão diferentes, mas tão


parecidos: Jairo e a
mulher do fluxo de
sangue
O que o episódio do encontro de Jesus com
Jairo e a mulher que sofria há 12 anos com
fluxo de sangue falam sobre as necessidades
e desafios humanos.

Por Adolfo Suárez


29 de agosto de 2019

    -A +A
Episódio da mulher com fluxo de sangue e Jesus contrasta
com a situação da morte da filha de Jairo. (Foto LDS)

Vivemos em uma sociedade de contrastes sociais,

econômicos, cognitivos, religiosos, etc. Todavia, por


trás de diferenças marcantes há muitos elementos
de proximidade. O relato bíblico de Marcos 5:21-43
nos faz refletir justamente sobre este tema. Apesar

das diferenças, somos mais parecidos do que


imaginamos. E o melhor: Jesus Cristo quer salvar a
todos.

Leia também:

Jesus devolve a vida ao filho da viúva de Naim

Contrastes e nome
A primeira pessoa é apresentada com um nome
específico: Jairo (verso 22). Significado do nome:
“aquele que Deus ilumina”. Certamente, esse é um

nome precioso, e o dono desse nome deveria ter


gostado de ser chamado assim. “Como é seu
nome? Meu nome é “aquele que Deus ilumina”! Isso

é espetacular!

A segunda pessoa é apresentada sem nome,


apenas como “certa mulher” (verso 25). Este não é

um mero detalhe. Eu destaco quatro aspectos


sobre o nome: (1) Na cultura judaica, nomes são
importantes. (2) Os hebreus valorizavam muito

fazer a linha genealógica, e para isso era necessário


ter um nome específico a fim de constar na lista. (3)
O nome é gerador de identidade. (4) Pessoas sem
nome indica pessoas sem identidade.

O escritor bíblico poderia ter mencionado o nome


da mulher, assim como mencionou o nome de Jairo.
Mas parece que ele omite o nome para gerar este

contraste marcante, e com isto nos dá uma


mensagem: há por aí pessoas sem nome! E aqui é
necessário refletir: Como Jesus tratou os sem

nome? E como nós temos tratado aos sem nome? A


sociedade está cheia de gente sem nome. Essas
pessoas merecem um tratamento especial, assim
como tratamos os que têm nome.

Condição
Jairo era um dos chefes da Sinagoga (verso 22). E
essa Sinagoga provavelmente ficava à margem
ocidental do Mar da Galileia. O fato de ser chefe de
sinagoga indicava que ele tinha uma vida social. É
que a sinagoga era um espaço de convivência, de

interação, de contato entre as pessoas, de diálogo.


Além de tudo, Jairo tinha poder, pois numa
sociedade centralizada na religião, ser chefe de
uma sinagoga significava ter poder, influência e
espaço entre os importantes.

A mulher enferma não tinha vida social, e não tinha


poder. Ela era sozinha. Em grande medida isso era
causado pela doença: ela tinha hemorragia, ou
fluxo de sangue; ela perdia sangue. A consequência
fatal do fluxo de sangue era o banimento social,

pois a lei cerimonial indicava que a mulher que


sofresse hemorragia constante seria imunda. Ou
seja, seria afastada do convívio da comunidade.
(Levítico 15:19, 25). Numa sociedade comunitária,
ser banido da convivência social era uma maldição.
Numa sociedade patriarcal, uma mulher isolada da
sociedade, como se manteria? Como é viver longe

de todos, inclusive da própria família?

Há mais um aspecto: esta senhora, além de perder


a saúde, havia perdido todas as suas posses

materiais (verso 26). E mais ainda: No livro O


Desejado de Todas as Nações, Ellen White diz que
esta pobre mulher sofria “de um mal que lhe
tornava um fardo a existência” (p. 292). Aqui há um
enorme contraste: Jairo tinha uma vida de poder e
uma vida social; esta senhora não tinha poder
nenhum, e nenhum convívio social; para ela, a vida
era um fardo.

Adoração
Devido à sua condição social, Jairo tinha liberdade
de adorar publicamente, e por isso ele se prostra
aos pés de Jesus (verso 22). Ele não usa
subterfúgios, não procura Cristo escondido; ele não
procura Cristo de noite, nem trabalha por baixo dos
panos. Ele publicamente se ajoelha perante Jesus e

faz o pedido.

Por causa da condição social, a mulher não tinha


liberdade para adorar publicamente, pois era

considerada impura, e tudo o que ela tocasse se


tornaria impuro. Não apenas deveria fugir das
pessoas, mas as pessoas também fugiam dela
(Levítico 15:25-27). Por isso ela chegou por trás,
escondida no meio da multidão (verso 27). Que vida
triste dessa senhora! Ela queria adorar, mas não
podia.

Ellen White escreve que “em meio da confusão, [a


mulher] não Lhe podia falar, nem vê-Lo senão de
relance” (O Desejado de todas as nações, página

292). Nenhum de nós é capaz de entender


plenamente a condição desta mulher, porque
nenhum de nós está impedido de se aproximar de
Cristo. Todos nós podemos adorar a Deus e nos
aproximarmos dEle a qualquer momento, mas na
sociedade em que esta senhora vivia, ela não podia
adorar a Cristo de perto!

Aceitação
Por causa de sua condição social, as pessoas
encorajavam e alentavam Jairo (v. 35). As pessoas
estavam sofrendo com Jairo. As pessoas

compreendiam e se condoíam com Jairo. As


pessoas simpatizavam com Jairo.

Por causa de sua condição social, as pessoas

desencorajavam a mulher. Claro! Quem encorajaria


a se encontrar com o Mestre a alguém impuro?
Quem teria simpatia por alguém doente, em uma
sociedade em que doença era um castigo de Deus?
Quem teria simpatia por um doente, numa
sociedade em que estar doente era um claro sinal
de que a pessoa cometera um pecado gravíssimo?!

Desafios Semelhantes
É extraordinário observar que diante dos três
desafios essenciais dessas duas pessoas, Cristo lhes
ofereceu as mesmas respostas.

Desafio 1: Corrida contra o relógio

Jairo pede com insistência e desespero: Minha filha


está morrendo (verso 23). A situação é preocupante
e não há tempo a perder; qualquer minuto
desperdiçado pode se fatal. O que Jesus faz? “Jesus
foi com ele” (verso 24). Isto é, Jesus lhe dedica
tempo, atenção, cuidado.

Jesus estava passando por perto, portanto era uma


questão de agora ou nunca. E tinha de dar certo na
primeira oportunidade, já que, se as pessoas
descobrissem que ela era imunda, não haveria uma
segunda chance. Além do mais, ela já passara por
muitas outras oportunidades, e provavelmente não
aguentaria esperar mais, enfrentar mais uma
decepção, encarar mais um desapontamento. Ela já
havia esperado doze longos anos! Tem hora que a
esperança se esgota. O que Jesus faz? Jesus
prestou atenção ao toque, parou no meio da

multidão, gastou tempo com ela (v. 30). Em ambos


os casos, a resposta de Cristo foi exatamente a
mesma: ele dedicou tempo, atenção e cuidado:

Para o homem e a mulher: tempo, atenção e


cuidado.

Para o famoso e a ilustre desconhecida: tempo,

atenção e cuidado.

Para o querido do povo e a rejeitada da sociedade:


tempo, atenção e cuidado.
Para a pessoa influente e poderosa e a mulher que
não tinha poder algum: tempo, atenção e cuidado.

Desafio 2: Medo

Marcos usa a palavra phobeo, que significa “estar


dominado pelo espanto”, “estar aterrorizado”. Jairo
está aterrorizado, pois a filha morreu, e, com isso,
morreu grande parte de sua alegria. O que Jesus
faz? Jesus lhe pede que troque o medo pela
confiança (verso 36). A palavra para crê é pisteuo. O
termo é mais do que apenas um assentimento
intelectual. Significa mais do que apenas uma fé
intelectual. Jesus pede que Jairo confie em que Ele é
capaz de ajudar. Esta crença é salvadora porque se
fundamenta em Cristo. Crer é acreditar com total
convicção.

Quando a mulher foi descoberta em meio à


multidão, também fica com medo (v. 33). O que
Jesus faz? “Filha: a tua fé te salvou” (verso 34). Pistis
é ter profunda convicção; convicção de que Deus é
provedor e doador da salvação.

Tanto para o homem quanto para a mulher Cristo


pede e oferece confiança.

Tanto para o homem quanto para a mulher Cristo


pede que tenham fé salvadora, que se fundamenta
nos méritos dEle.

Tanto o homem quanto a mulher estavam com


medo, e Cristo responde com exigência de
confiança.

Para quem está com medo, o remédio não é


valentia, coragem ou determinação, porque esses
comportamentos se fundamentam no que nós
fazemos, ou como nos comportamos. Para quem
está com medo, o remédio é confiança, não no que

temos ou somos, mas no que Cristo é e pode fazer.

Desafio 3: Expectativa do futuro

Jairo estava na luta contra um problema de saúde


de sua filha. E a filha acaba morrendo. Como ele vai
encarar a morte de quem ama? Como será a vida

com a ausência da sua menina? O futuro era


sombrio. O que Jesus faz? Ressuscita a menina
(versos 41 e 42). Em um instante, o futuro de Jairo
vai numa outra direção.

A mulher estava lutando contra um problema de


saúde dela mesma. E já se passaram 12 anos; será
que teria que encarar mais 12? Será que vai
suportar? Vai suportar até quando? Seu futuro era
sombrio. O que Jesus faz? Cura a senhora (versos
28 e 34). Em um instante, o futuro desta senhora é
totalmente alterado!

Proximidade
As diversas semelhanças entre estas duas pessoas
tão diferentes nos colocam diante de uma
realidade: independente de que quem sejamos, e

quão diferentes sejamos, e quão distantes


pareçamos, há muitos fatores que nos unem. E isto
nos torna parecidos.

É claro que ao lidar com as pessoas não podemos


ignorar as diferenças; afinal, é um grave erro tratar
igual os diferentes. Entretanto, considerando que
há muitos fatores que nos unem, não podemos
negligenciar ações que considerem a semelhança
entre as pessoas.

Neste sentido, precisamos lembrar uma verdade


universal: somos diferentemente iguais. É por isso
que, neste texto de Marcos, a centralidade da
narrativa não está nas diferenças das realidades
vividas por Jairo e a mulher enferma. Também não
está nas semelhanças entre eles. A centralidade da
narrativa está na oferta semelhante dada a ambos.
   

 Artigo anterior Próximo artigo 

Adolfo Suárez

Ouvindo a voz de Deus


Reflexões sobre teologia e dom profético

Teólogo e educador, é o atual reitor do Seminário

Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) e

Diretor do Espírito de Profecia da DSA. Mestre e

doutor em Ciências da Religião, com pós-

doutorado em Teologia, é autor de diversos

livros, e membro da Adventist Theological Society

e da Society of Biblical Literature.


TAMBÉM EM ADVENTISTAS - PT

2 meses atrás • 1 comentário 13 dias atrás • 1 comentário

Congresso em Como entender o


Teó8lo Otoni capítulo 11 de
Reforça Valor … Daniel

0 Comentários 
1 Entrar

Iniciar a discussão...

FAZER LOGIN COM

OU REGISTRE-SE NO DISQUS ?

Congresso
Nome em Como entender o
Teó8lo Otoni capítulo 11 de
Reforça Valor …
Compartilhar
Daniel

Mais votados Mais recentes Mais antigos

Seja o primeiro a comentar.

Inscreva-se Privacidade

Política de Proteção de Dados


Divisão Sul-Americana

 Av. L3 Sul - SGAS 611

Conj. D, Parte C

Brasília - DF

70200-710

 (61) 3701-1818

Igreja Adventista do Sétimo Dia

Copyright © 2013-2023

 Ir ao topo

Você também pode gostar