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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

CURSO DE BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS HUMANAS

O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos VOL XXI.

Nome: Nathan Daniel Salles Barbosa


Disciplina: CRE035-2022.3-A - TEORIAS DA RELIGIÃO
Docente responsável: Prof.Dr EDSON FERNANDO DE ALMEIDA
N° da matrícula: 202072037A

Construção da ideia de religião

Para Freud, o humano por si só em sua natureza pura tem a ingênua tentativa de
emitir uma opinião de seu futuro com base na incerteza da vida, isso caracteriza de
certa forma a cultura humana.
“Dessa maneira, qualquer pessoa que ceda à
tentação de emitir uma opinião sobre o provável
futuro de nossa civilização fará bem em se lembrar
das dificuldades que acabei de assinalar, assim como
da incerteza que, de modo bastante geral, se acha
ligada a qualquer profecia. Disso decorre, no que me
concerne, que devo efetuar uma retirada apressada
perante tarefa tão grande, e com rapidez buscar a
pequena nesga de território que até o presente tem
reivindicado minha atenção, tão logo determinei sua
posição no esquema geral das coisas.” Pág 03. O
Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e
outros trabalhos VOL XXI.
Sendo assim não longe deste tema, pelo contrário, a religião nasce de um
fenômeno cultural universal sendo então uma criação da humanidade. Neste
sentido, por que as ideias religiosas ganham proporções e forças
independentemente de ser regida pela razão ou não?
Partimos por caracterizar que essa força se trata de um pequeno problema na
formação da sociedade da qual exerce força sobre a humanidade, isto é, um
problema psicológico que advém e permanece dentro das doutrinas religiosas, a
mesma que fornece essa força exterior para a “aceitação” da religião. Pois bem, em
direção a essa ideia de que os aspecto religioso que a humanidade vem
fomentando durante sua existência seja tal, “problema psicológico”, tratamos ela
como uma ilusão, mais especificamente não concluímos que a religião seja uma
ideia da humanidade em delírio, mas sim que a religião se trata da infantilidade da
humanidade da qual ela não se desfez quando completou seu ciclo de evolução
juvenil, e sim acompanhou a cultura humana até hoje.
“[...] Quando digo que todas essas coisas são
ilusões, devo definir o significado da palavra. Uma
ilusão não é a mesma coisa que um erro; tampouco é
necessariamente um erro. A crença de
Aristóteles de que os insetos se desenvolvem do
esterco (crença a que as pessoas ignorantes ainda
se aferram) era um erro. [...] O que é característico
das ilusões é o fato de derivarem de desejos
humanos. Com respeito a isso, aproximam-se dos
delírios psiquiátricos, mas deles diferem também, à
parte a estrutura mais complicada dos delírios. No
caso destes, enfatizamos como essencial o fato de
eles se acharem em contradição com a realidade. As
ilusões não precisam ser necessariamente falsas, ou
seja, irrealizáveis ou em contradição com a
realidade.” Pág 21-22. O Futuro de uma Ilusão, O
mal-estar na civilização e outros trabalhos, VOL XXI.
A principal particularidade da religião está vinculada ao desejo humano e é
principalmente nesta vertente da qual reside a potência da religião, por conta disto a
religião é tratada primordialmente como ilusória pois se deriva dos desejos, a qual
para salientar a obstinação carregada de uma ilusão maquiada com a cultura, as
relações entre humanidade e religiosidades tomam uma forma mais ampla. Porém,
quando acoplamos os desejos em uma linha cultural estamos desvirtuando-nos de
uma realidade da vida, sendo assim quando recebemos a religião em seu campo
amplo estamos aderindo a uma cadeia de ilusões e delírios que buscam os desejos
e ao mesmo tempo repudiam a realidade externa.

A noção de ilusão

Assim que passamos por essas nuances entre a religião e seu vínculo com o
desejo, precisamos analisar qual é o fator base para que isso ocorra, deste modo
Freud aponta que a causalidade dessa neurose se trate da conexão da ilusão com o
sentimento de desamparo dos humanos. A origem da ilusão religiosa passa a ser
conectada a ideia de um pai e a sua proteção, sua grandeza, como aos olhos de
uma criança o pai é sinônimo de herói, da qual esse desamparo é seguido pela
vivência de uma criança da qual precisa de proteção e amor da figura paterna. Mas
diante desse pensamento surge uma pergunta específica, “E a Mãe?”. A mãe desde
o nascimento de seu filho está presente como uma forma do aspecto amoroso ao
bebê se alimentar gerando um sentimento de satisfação capaz de lhe proporcionar
felicidade naquele momento, mas em sua fase de crescimento e alternado para a
figura paterna esse vislumbre de mundo, mais forte, com uma presença potente que
assim ocupa esse olhar durante a infância, temos então uma ambiguidade nesta
relação com o pai da criança, por um lado este pai é aquele que proporciona
proteção, amor, imponência, mas por outro o mesmo faz com que a criança corte os
seus laços primordiais com a sua mãe, desenvolvendo um sentimento de raiva
diante do pai. Nessa ambiguidade das relações, Freud desenvolve o que vai chamar
de mito do pai da horda primitiva, no qual é desenvolvida para explicar o surgimento
da cultura e da organização das sociedades, no que se trata esse mito, Freud vai
exemplificar que em uma determinada horda primitiva do qual era controlada por um
pai ancestral, que vem mantendo as posses das mulheres apenas para si próprio,
não deixando que os filhos tenham qualquer relacionamento com uma das
mulheres, sendo assim, em um certo tempo os membros da tribo que não podiam
ter relacionamentos com as mulheres se juntam em um único objetivo, matar seu
pai. Assim que eles o fazem, os filhos devoram a carne de seu pai com a ideia de
que ao consumi-lo iriam absorver o que admiravam nele. Mas apenas essa ação
não seria o necessário, os filhos então passam a impor que as relações entre os
seus estava decidida a acabar, o que chamamos de incesto, a partir daquele
momento apenas poderia se relacionar com parceiros(a) de outra tribo ou
comunidade. Perante a moral deste ato podemos observar que os filhos não apenas
odiavam o pai, mas também o admiravam de certa maneira, chegando a ponto de
se identificarem com ele. Mas mesmo com essa admiração em segundo plano, o
sentimento de culpa ainda vai embarcar na vida dessas pessoas depois do ato, do
qual as primeiras formas de religiões que o autor vai abordar se baseiam
firmemente neste sentimento de culpa.
Voltando a relação habitual, já na idade adulta, o homem percebe sua fragilidade
com o mundo sendo ela impulsionada muitas vezes pela razão da morte, e quando
estamos mais velhos e já mais sábios percebemos diversas coisas ao redor do
mundo que fazem a sociedade aparentar miserável.

“[...] Há os elementos, que parecem escarnecer de


qualquer controle humano; a terra, que treme, se
escancara e sepulta toda a vida humana e suas
obras; a água, que inunda e afoga tudo num
torvelinho; as tempestades, que arrastam tudo o que
se lhes antepõe; as doenças, que só recentemente
identificamos como sendo ataques oriundos de
outros
organismos, e, finalmente, o penoso enigma da
morte, contra o qual remédio algum foi encontrado e
provavelmente nunca será. ” Pág 10. O Futuro de
uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros
trabalhos, VOL XXI.

Essas dificuldades são muito difíceis para o homem encará-las sem nenhum tipo de
auxílio, e seu sentimento de desamparo irá permanecer constante. Assim, na fase
adulta, o homem retrata o seu pai aquele que lhe dará suporte como alguém mais
forte que ele próprio, sendo ele, Deus.
Fim da religião

Diante o argumento de Freud sobre instituir que para sanar nossas dores
precisamos dessa figura paterna como fonte dos nossos desejos, então uma
relação de defesa dos males do mundo, esse desamparo é preenchido pelo ser
divino, um pai glorioso. Passamos a ver esses desejos da humanidade como uma
forma infantil, isto é, a humanidade ainda não conseguiu evoluir de sua forma infantil
para continuar seu progresso, como se a religião não precisasse mais existir pois se
trata de uma questão anterior a sociedade e a humanidade contemporânea, sendo
assim, para Freud devemos utilizar da razão e ser mais assertivos com a realidade
que nos circunda. Deixar de lado a religião e passar para a ciência como uma nova
forma que constituiria o eixo da religião na cultura. Porém as referências que
encontramos na leitura de Freud são das religiões monoteístas, ou seja, o autor faz
com que a religião propriamente dita não seja estudada de forma primária, pelo
contrário, a religião vem embargada e subscrita pela psicanálise, a todo momento
ela está sendo instrumentada em função da ideia de desejo, ilusões e etc. A religião
neste contexto se torna um subproduto das demandas do autor, porém ao meu, ver
precisamos definir que a religião seja tomada como um campo muito amplo e com
diversas vertentes, isso solidifica a ideia de que temos de analisar a religião como
fonte primária de qualquer discussão da qual o objeto de estudo esteja em seu
campo/objeto de estudo ou até mesmo vinculado a ideia.

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