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A MAÇONARIA NA VIDA DE FRANCA

O núcleo de casas construídas em torno da pequena igreja, que possibilitou a fundação


de Franca, surgiu em 1805. Em 1821 surgiu a Vila Franca Del Rey, em 1924 passou
para Vila Franca do Imperador e em 1856 foi criado o município. Em 1871, surgiu a
primeira loja Maçônica de Franca. Dos 197 anos do núcleo urbano e dos quase 178 anos
de cidade, a Maçonaria está presente na vida dos francanos há 131 anos. E essa presença
é forte e decisiva na construção de uma cidade grande, próspera e progressista. A
história de Franca e da Maçonaria se misturam: é rica em detalhes importantes, é
marcada por lutas, reserva, dificuldades, mas também por uma colaboração social
extremamente importante até hoje. Vários nomes que contribuíram na construção da
história local e nacional também participaram da Maçonaria. Alguns desses exemplos
foram o Imperador Dom Pedro I, José Bonifácio, Duque de Caxias, Deodoro da
Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Nilo Peçanha, Rui Barbosa e muitos
outros. Em Franca se destacam nomes como Francisco Barbosa, Américo Palermo,
Ernesto Pini, Theófilo de Araújo, Thomaz Novelino, Felício Radesca, Ângelo Presoto,
Alberto Ferrante, João Palermo, os prefeitos Flávio Rocha, Maurício Sandoval, Ary
Balieiro, Alfredo Henrique Costa, dentre inúmeros outros que ocuparam posição de
destaque.

Não se sabe ao certo quando surgiu a Maçonaria no mundo. As Estrelas de Davi


encontradas nas lojas servem como afirmação de seu surgimento ter ocorrido no Templo
de Salomão. Mas o documento mais antigo que se conhece é o Poema Régio, de 1390,
portanto do século XIV. Presente em quase todo o mundo, a Maçonaria não é secreta. O
único segredo que existe e que não se conhece senão pelo ingresso na instituição, são os
meios para se reconhecer os maçons entre si, em qualquer parte do mundo e o modo de
interpretar seus símbolos e os ensinamentos neles contidos. Os registros indicam
algumas tentativas de se iniciar o movimento maçônico na cidade a partir de 1860, com
a chegada de maçons que pertenciam a lojas fundadas em outros municípios. Mas a
primeira loja Maçônica de Franca, com o nome de “Amor à Virtude”, foi fundada em
março de 1871, embora só tenha sido regularizada em 3 de abril de 1872. Filiada ao
Grande Oriente do Brasil, recebeu o cadastro 217. Da administração inicial faziam parte
cerca de 30 membros, ou obreiros, dentre os quais Francisco Barbosa Lima, Francisco
Garcia Duarte, Francisco Lucas Brigagão, Joaquim Galdino Gomes da Silva, Antônio
de Andrade Lobo Bastos, Ignácio Barbosa Lima, Antonio Sebastião Barbosa, Norberto
Fragoso, Cel. Francisco Martins Ferreira Costa, Antônio Canuto de Azevedo e Antônio
Vicente Monteiro.

Devido a um incêndio, em que boa parte dos registros sobre o início da Maçonaria se
perdeu, não há dados muito precisos sobre o local onde funcionou o primeiro templo. O
que se sabe é que, através de uma doação, a loja Maçônica “Amor à Virtude” obteve um
terreno localizado entre as ruas Major Claudiano, Monsenhor Rosa, General Carneiro e
a travessa que ficou conhecida como “Travessa da Maçonaria”, hoje rua André Martins,
onde funciona a Nossa Caixa Nosso Banco. Consta que Ignácio Barbosa Lima, um dos
fundadores da primeira loja maçônica, comprou uma hospedaria, conhecida como
“Rancho dos Tropeiros”, que existia na rua Coronel Tamarindo e utilizou todo o
material do desmanche para a construção do templo, inaugurado em 16 de maio de
1877, quando tinha 187 obreiros no seu quadro. No ano de 1883, numa decisão tomada
pelos diretores da loja Maçônica “Amor à Virtude”, o prédio foi doado à Intendência
Municipal de Franca, fazendo com que o funcionamento da loja fosse interrompido por
12 anos. No prédio foi instalada uma escola para crianças pobres. O prédio foi
devolvido para a Maçonaria em 1890. Em 1898, outra loja Maçônica foi fundada em
Franca, chamada “Emile Zola”, que se manteve ativa até 1906. Por ter se mantido em
funcionamento por muito pouco tempo, os registro sobre os trabalhos dessa loja e até
mesmo sobre seus membros são escassos. O que se sabe é que esta loja era composta
por “irmãos”, como são chamados entre si, italianos, embora os dois únicos nomes
registrados sejam de Emygdio Guerrieri e Theophilo Rodrigues Pereira. A loja
Maçônica “Emile Zola” funcionava num prédio situado na rua Ouvidor Freire, em
frente ao Hotel Central.

No início do século as farmácias eram tidas como pontos de encontro nas cidades. A
fundação e a primeira reunião realizada pela terceira loja Maçônica de Franca aconteceu
na Pharmacia Ítalo-Brasileira. Seu primeiro templo, como os integrantes da Maçonaria
costumam denominar o local onde são realizadas as reuniões, teve finalmente sua
construção finalizada em março de 1922 e localizava-se na rua Moreira César. As duas
pessoas que mais se destacaram nesse processo de construção foram Ângelo Presotto e
Ricardo Pucci. Depois de reaver o espaço para dar continuidade às suas atividades –
isso em 1890 -, a loja Maçônica “Amor à Virtude” ficou estabelecida no prédio onde
hoje está o banco Nossa Caixa Nosso Banco até o ano de 1922, quando seus dirigentes
acharam por bem cedê-lo à Companhia Francana de Força e Luz, para que a cidade
fosse beneficiada com o progresso, sob a forma de energia elétrica. Dessa forma, o
templo “Amor à Virtude” passou a funcionar num prédio localizado na rua do
Comércio, cujo local foi vendido em 1957 para o Banco de Crédito Real. Esse prédio
pertencia ao padre Alonso Ferreira de Carvalho, figura importante na história da cidade
e que, nessa época, possuía uma grande quantidade de imóveis em Franca, além de
utilizar-se do dinheiro que possuía para emprestá-lo a juros.

A história da transação é interessante: querendo vender o prédio, mas não para a


Maçonaria, usou a intermediação de Giácomo Di Giácomo, que fez a compra no seu
nome e depois o repassou para a Maçonaria. Mesmo com a importância que tinha no
contexto social, com Estado Novo, surgido com um golpe de Estado em 1937, as
reuniões maçônicas realizadas em todo o Brasil foram proibidas por ordem do governo
que atuava na época. Isto porque as autoridades federais acreditavam que os maçons
estivessem ligados a alguns atos políticos. Essa proibição durou até outubro de 1940.
Nesse período, algumas lojas maçônicas do Estado de São Paulo tiveram suas sedes
lacradas e seus livros e documentos importantes referentes a elas foram apreendidos.
Com o fim da proibição, os maçons voltaram a figurar como peças importantes no
desenvolvimento do país. Em Franca, é impossível dissociar a história do município da
história da Maçonaria local. Isto porque por meio da contribuição das lojas Maçônicas –
que colaboraram com a concretização de obras que permanecem até hoje – Franca
encontrou respaldo para seu crescimento econômico, social e estrutural. Um dos feitos
importantes que contou com a participação ativa dos maçons foi a instalação da Santa
Casa de Misericórdia de Franca, fundada por Monsenhor Cândido Rosa, em 1895.

A Maçonaria se fez presente na instituição sob forma de administração ou por meio de


doações. Apesar dessas contribuições, a Igreja Católica sempre teve muita resistência
em aceitar os preceitos da maçonaria, chegando ao ponto de interferir em algumas obras
realizadas pelos maçons. No final do século passado, Monsenhor Rosa recusou as
preces ao maçom Cristiano de Paula e Silva, que era estimado e respeitado na cidade.
Na década de 60, as freiras que cuidavam da enfermagem da Santa Casa receberam a
seguinte advertência do Bispo de Ribeirão Preto: ou deixariam de prestar seus serviços
ou deveriam encontrar um substituto para o provedor da época, que fosse católico, pois
não era admissível que as freiras se “misturassem” aos maçons. Por mais que as freiras
ficassem contra essa ordem, o provedor da Santa Casa, que na época era Américo
Palermo, permitiu que procurassem outro administrador que pertencesse à religião
delas.

Dessa forma, cederam às exigências e foi eleito como novo provedor da Santa Casa um
professor de tradicional família católica da cidade. Como sua administração não foi
satisfatória e temendo que os serviços prestados pela instituição fossem prejudicados, as
freiras pediram a intervenção da Maçonaria, para que voltassem a administrar a Santa
Casa. Hoje, a situação é tranqüila, a ponto do próprio bispo D. Diógenes já ter entrado
num templo Maçônico. A Maçonaria não age diretamente em empreendimentos. Seus
membros é que agem na sociedade. Mal compreendida e por isso combatida por uns,
elogiada por aqueles que lhe compreendem e assimilam as altas finalidades, vem a
Maçonaria cumprindo a missão para qual foi instituída: fazer com que a humanidade dê
sempre mais um passo em demanda do progresso moral, político, intelectual, científico
e filosófico. Nesse sentido, a numerosa e universal Maçonaria trabalha silenciosamente,
recolhida em sua discrição, certa de que no silêncio, na meditação e na união fraterna de
todos os seus membros, está a força de seu trabalho, o mérito de suas ações, a grandeza
de seu ideal. A participação dos maçons na cidade é muito extensa.

Alguns dos feitos dessa sociedade filantrópica foram, além da fundação da Santa Casa,
a fundação da Associação Beneficente do Trabalho, a Sociedade dos Necessitados de
Franca, que possuía várias casas que serviam de abrigo aos menos favorecidos, a
LASEP - Liga de Assistência Educacional Popular -, que possibilitou a educação de
inúmeras pessoas, através de cursos e concessão de bolsas de estudo gratuitas. As
informações mostram que a Maçonaria ajudou na criação da Fundação Pestalozzi, por
Thomaz Novelino, cedendo o imóvel onde a loja Maçônica mantinha a escola Sabino
Loureiro, que ficava entre as ruas Francisco Barbosa e José Marques Garcia, além de
várias outras obras que estão até hoje espalhadas pela cidade. O trabalho do maçom
obedece a um código. Ao Grande Arquiteto do Universo – que é Deus – ele respeita,
ama e venera. Ao próximo ele ama e tudo faz para amenizar-lhe as agruras da
existência. O mal ele evita. O bem que pode, ele faz. Deixa que os homens falem,
enquanto silencioso trabalha.

Quando a Maçonaria fala, é sempre com sabedoria diante dos poderosos, com prudência
para os iguais, com lealdade para com os amigos, com simplicidade para com os
pequenos e cheia de ternura com os pobres. Mesmo enfrentando dificuldades, a
Maçonaria em Franca se fortaleceu com o passar dos anos: hoje existem
aproximadamente 800 membros e doze lojas Maçônicas em toda a cidade. Conquistou
grande grau de autonomia, fazendo em Franca os Graus Superiores, como Capítulo,
Kadosh, e Consistório, que anteriormente somente eram feitos em São Paulo e Rio de
Janeiro. Com o objetivo de servir à comunidade e promover o progresso, os maçons
conquistaram, ao longo dos anos, o direito de fazer parte do retrato de Franca. Com o
lema de praticar o bem em todas as suas modalidades, longe de olhares curiosos, dando
sempre com a mão esquerda sem que a direita saiba, a Maçonaria é uma figura
importante da história do município, preservada com a discrição própria dos maçons.
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Fonte: Revista Enfoque

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