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Parte 01

Aspectos gerais
do Direito
Ambiental
Tema

01
METODOLOGIA
DIREITO AMBIENTAL:
CIENTÍFICA
ORIGEM, E
EVOLUÇÃO,
TÉCNICAS DE E
FUNDAMENTOS
ESTUDO
SUA APLICAÇÃO NO
DIREITO BRASILEIRO
Neste tema, vamos estudar o que é a
disciplinaNestede Metodologia
primeiro tema Científica e por que
a ser desenvolvi-
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do, éo importante para a sua
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É importante destacar que o seu e de
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Direito Ambiental, tornando possível a compre-
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Ambiental não somente com outras ciências do
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do Direito Ambiental na
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gislação brasileira.
DD desenvolver o hábito pela leitura,
realizando análises de texto;
DD praticar as técnicas de sublinhar,
esquematizar, resumir e fichar no
estudo de texto.
1.1 Evolução histórica, conceito de Direito Ambiental e de
meio ambiente

Atualmente, é inquestionável o fato de que o tema meio ambiente ocu-


pa um espaço cada vez maior, não somente na mídia não especializada, mas
também na seara acadêmica infelizmente, na maioria das vezes, tendo em vista
as catástrofes ambientais que vêm ocorrendo com maior frequência. Quem não
se lembra do acidente nuclear ocorrido recentemente, em março de 2011, na
cidade de Fukushima, Japão, em decorrência de um terremoto que provocou a
formação de um tsunami que atingiu a referida Usina Nuclear? Nessa oportu-
nidade, morreram milhares de pessoas e, ainda, devido à natureza do acidente,
surgiu uma série de questões que passou a ser discutida no cenário científico in-
ternacional, a exemplo de: contaminação das águas oceânicas ao redor do Globo
e, como consequência, a contaminação de várias espécies animais, em especial
alguns tipos de peixes, utilizados como alimentos.
Com a globalização, o Brasil fatalmente também não poderia ficar de
fora dos grandes debates envolvendo o meio ambiente, seja em nível regional
ou mundial, já que é cientificamente notório que o nosso país possui uma das
maiores biodiversidades do Planeta. Mas essa preocupação, com a posterior
conscientização e produção legislativa, ocorreu de forma lenta e gradual em
solo brasileiro, culminando na proteção constitucional dada ao meio ambiente
a partir de 1988.
A primeira fase evolutiva do Direito Ambiental é tecnicamente conhe-
cida como fase fragmentária, compreendida entre o descobrimento do Brasil
(período colonial) e meados da década de 1930. Isso porque nesse período as
atividades econômicas existentes em nosso território consistiam basicamente
na extração de produtos vegetais e minerais, provocando, à época, o não menos
atual processo de desmatamento. Como o próprio nome sugere, nesse momen-
to histórico não existia propriamente uma preocupação genuína com o meio
ambiente nos moldes atualmente conhecidos. Existiam, sim, dispositivos iso-
lados (fragmentados) em que não se vislumbrava uma real preocupação com
os danos provocados ao meio ambiente, mas tão somente uma preocupação de
cunho patrimonial que, com maior ou menor intensidade, acabava resvalando
na questão ambiental, conforme veremos a seguir.

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Tais medidas eram chamadas de Ordenações Afonsinas, que vigora-

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


vam em Portugal e passaram a ser aplicadas em solo pátrio. Nestas, já se vislum-
bravam algumas tipificações relativas a crimes ambientais como, por exemplo,
o chamado “crime de injúria ao rei”, o corte de árvores frutíferas.
Já em 1521, entraram em vigor as chamadas Ordenações Manuelinas,
que, de forma simplória, traziam algumas disposições acerca da proteção da
caça e das riquezas minerais.
Posteriormente, entraram em vigor as Ordenações Filipinas, que
traziam sanções aplicáveis às diversas condutas tipificadas como crime am-
biental. Tais medidas tinham por escopo defender apenas o valor econômico
de produtos provenientes da natureza, que poderiam ser prejudicados caso
fossem realizadas práticas degradadoras, utilizadas ainda hoje, como as quei-
madas e a extração indiscriminada do pau-brasil, que provocou a elaboração
de uma norma específica, em 1799, que tratava das regras para o corte, iden-
tificação e criação de uma lista pormenorizada que deveria tratar das especifi-
cações relativas ao peso, qualidade e quantidade de mercadorias embarcadas
ou vendidas (árvores).
Quase 25 anos depois, foi promulgada a Constituição do Império que,
apesar de conter em seus artigos diversas disposições versando sobre direitos
políticos e propriedade, não previa, em nenhum momento, qualquer disposição
sobre a proteção ambiental, tendo como base o liberalismo econômico, em que
o Estado não deveria interferir nas atividades econômicas.
Poucos anos após a promulgação da Carta Imperial, Dom Pedro I san-
cionou o chamado “Código Criminal do Império”. Referido diploma criou o cri-
me de dano, que tinha por escopo inicial a proteção tão somente da proprie-
dade, mas que acabou por proteger, por via reflexa, também o meio ambiente,
tipo penal este que mais tarde foi modificado, passando a englobar também a
proteção contra o incêndio, de forma taxativa e limitada, ainda somente sob o
viés exclusivamente patrimonial.
Já a segunda fase, é conhecida como setorial e tem como característica
básica uma tímida imposição de controle legal às atividades humanas que se
utilizam de recursos naturais com a finalidade mercantil. Esse lento processo
de normatização pode ser traduzido, de forma breve, pela citação dos principais
diplomas legais inerentes ao tema, tais como: entrada em vigor do antigo Códi-
go Civil de 1916, que trazia em seu bojo as chamadas “ações protetivas do direito

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de vizinhança”, objetivando evitar o mau uso da propriedade, disposições estas
repetidas em maior ou menor grau no atual Código Civil em vigor; posterior-
mente, o Decreto nº 16.300/23, que criou o Regulamento de Saúde Pública; os
recursos hídricos passaram a ser regidos pelo Código das Águas ou Decreto-lei
nº 852/38; a pesca pelo Código de Pesca ou Decreto-lei nº 794/38; o solo e o
subsolo pelo Código de Minas ou Decreto-lei nº 1.985/40; a fauna pelo Código
de Caça ou Decreto-lei nº 5.894/43.
Somente a partir de meados de 1960 é que se deu início a uma segunda
etapa dessa normatização ambiental, ainda sem o viés atual, com a edição de
diplomas legais que tinham em seu bojo referências mais contundentes às cha-
madas questões ambientais.
Nesse cenário, surgiram diversas normas de importância ambiental,
tais como: o chamado Estatuto da Terra ou Lei nº 4.504/64; o Código Florestal,
Lei 4.771/65 (posteriormente revogado pela Lei nº 12.651, de 25/05/2012); a
Lei de Proteção à Fauna ou Lei nº 5.197/67, o Código de Pesca ou Decreto-lei nº
221/67 e o Código de Mineração ou Decreto-lei nº 227/67.
Todavia, nesse momento histórico-jurídico, o meio ambiente não era
tratado sobre o prisma da necessidade de sua proteção, mas tão somente pelo
viés do direito de propriedade, ou seja, não havia uma real preocupação com a
preservação ambiental, pois não se levavam em conta as relações de cada um
dos recursos naturais entre si, como se cada recurso ambiental específico não
interferisse no restante do meio natural e social, isso sem falar dos impactos
provocados pelas atividades econômicas necessárias para a exploração de tais
recursos. Em outros termos: o Estado reduzia sua atuação àqueles recursos
ambientais naturais que pudessem ter algum valor econômico.
A terceira fase, conhecida como holística, iniciou-se de forma acanha-
da a partir de meados da década de 60, com a divulgação, pela primeira vez, de
dados relativos ao aquecimento global do planeta e à destruição das espécies,
assuntos estes que, após mais de meio século de sua primeira divulgação, pa-
recem cada vez mais atuais e importantes. Apenas a partir desse momento é
que a sociedade civil, organizada ou não, começou a demonstrar lampejos de
preocupação com a questão ambiental sob outro prisma, o da conservação e não
meramente da questão patrimonial.
Corroboramos tal afirmação com a realização de um evento em Esto-
colmo, na Suécia, em 1972, organizado pela Organização das Nações Unidas,

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chamado de 1ª Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente. Ao final

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


do evento, foi elaborada e aprovada a Declaração Universal do Meio Ambiente,
que declarava que os recursos naturais, como a água, o ar, o solo, a flora e a fauna
devem ser conservados em benefício das gerações futuras, cabendo, a cada país,
regulamentar esse princípio em sua legislação de modo que esses bens sejam
devidamente tutelados.
Com base nessa declaração estava preparado o caminho para que tais
entendimentos, já adotados em âmbito internacional, pudessem ser positivados
na legislação brasileira. Com isso, esse entendimento, meramente econômico,
acerca do meio ambiente, aos poucos foi mudando e, mais recentemente, talvez
o diploma mais importante na seara ambiental seja a Lei nº 6.938/81, que ins-
titui a Política Nacional do Meio Ambiente.
Tanto é que poucos anos após a entrada em vigor da referida legislação,
foi aprovada a Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), que teve como mais
importante objetivo regulamentar a ação civil pública (ACP) para que a mesma
pudesse ser utilizada especificamente na seara ambiental, para a defesa do meio
ambiente e dos demais direitos difusos e coletivos e fez com que os danos ao
meio ambiente pudessem efetivamente chegar ao Poder Judiciário.
Somente com todo esse cenário anterior é que se tornou possível e vi-
ável juridicamente se chegar ao atual texto da Constituição da República Fe-
derativa do Brasil de 1988, no tocante à proteção constitucional dada ao meio
ambiente que, conforme entendimento manso da maioria dos doutrinadores
pátrios, teve como ponto central não a introdução da matéria ambiental na Car-
ta Magna, mas sim a sua nova abordagem, não mais isolada, e sim analisada
sistemicamente, de forma a maximizar todos os mandamentos constitucionais
e princípios aplicáveis ao meio ambiente.

Feito esse breve histórico, é necessário, antes de partirmos para o estudo do


Direito Ambiental propriamente dito, nos perguntarmos: o que se entende por
“meio ambiente”?

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Partindo de uma noção leiga, podemos dizer que o meio ambiente é
o conjunto de todas as coisas animadas e inanimadas que existem no Planeta
Terra ou em alguma região específica do globo. Esse ambiente interage, invaria-
velmente, com todas as espécies do planeta e talvez a interação mais prejudicial
seja a provocada pelos seres humanos. Convém destacar, ainda, que os recursos
naturais, na maioria das vezes, não podem ser claramente limitados, tendo em
vista sua própria natureza, ou seja, como limitar o ar, a água, o clima, dentre
outros tantos componentes naturais?
Partindo dessa ideia geral que temos acerca do que é o meio ambien-
te, necessário se faz analisarmos tal conceito sobre um prisma um pouco mais
fechado, qual seja, com base nas ideias contidas no texto final elaborado na
chamada Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada
em Estocolmo, Suécia, em 1972, quando os diversos estudiosos presentes no
evento assim definiram o meio ambiente: “O meio ambiente é o conjunto de
componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capaz de causar efeitos di-
retos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as ati-
vidades humanas.”
No âmbito nacional, somente no ano de 1981, portanto quase dez anos
após a referida Conferência, o legislador brasileiro preocupou-se em definir, le-
galmente, o que é meio ambiente. Tal conceito foi trazido por intermédio da
Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, popularmente conhecida como “Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente” que, mais especificamente em seu art. 3º,
inciso I, assim dispõe: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas”.
Confrontando o entendimento leigo com os posicionamentos nor-
mativos supracitados, percebemos diversas semelhanças entres os mesmos,
em especial no tocante à referência a intervenção humana ou a produção de
efeitos nas atividades humanas. Torna-se cristalino, portanto, que mais cedo
ou mais tarde, seria necessário estudo sistematizado do meio ambiente, como
forma de regulamentar e limitar os possíveis prejuízos causados ao mesmo
pela atividade humana.

16 Direito Ambiental
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Assim, diversos doutrinadores pátrios se preocuparam em nos trazer a

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


definição do que é Direito Ambiental. Dentre eles, podemos citar José Afonso
da Silva (2010, p. 41-42) que, em sua obra “Direito Ambiental Constitucional”,
assim dispôs:

Como todo ramo do Direito, também o Direito Ambiental deve


ser considerado sob dois aspectos: a) Direito Ambiental objeti-
vo, que consiste no conjunto de normas jurídicas disciplinadoras
da proteção da qualidade do meio ambiente; b) Direito Ambien-
tal como ciência, que busca o conhecimento sistematizado das nor-
mas e princípios ordenadores da qualidade do meio ambiente.

Tal definição serve tão somente para corroborar as afirmações feitas


anteriormente no sentido de que é necessária a criação de normas gerais e
específicas para regulamentar as relações existentes entre o ser humano e o
meio onde vive, de forma a se garantir uma proteção mínima ao mesmo, ten-
do em vista que as suas atividades, regra geral, sempre produzem um dano
maior ou menor ao ambiente. Além disso, do referido conceito, também é
possível perceber que o autor cita a necessidade da busca incessante de um
conhecimento sistematizado dos princípios que estão envolvidos nessa deli-
cada relação homem-ambiente.
Podemos perceber, portanto, que, na realidade, o Direito Ambiental
deve ser considerado como um ramo autônomo do Direito, tendo em vista que
possui objetivos, princípios e instrumentos próprios. Exemplo disso são os ins-
trumentos do estudo e o relatório de impacto ambiental, criações trazidas para
dentro do ordenamento jurídico pátrio pelo Direito Ambiental, bem como as
regras jurídicas que regulamentam o uso das técnicas de genética para a modifi-
cação das espécies, dispositivos legais que ainda não se encontram devidamente
previstos nos ramos “tradicionais” do Direito.
Assim é fácil visualizar que o Direito Ambiental possui caráter mul-
tidisciplinar, autônomo, tendo por escopo buscar a constante limitação e ade-
quação do comportamento humano em relação ao meio ambiente que o cerca,
trabalhando com normas jurídicas dos mais variados ramos do Direito, para
harmonizar tal relação, já que, quando falamos em proteção ao meio ambiente,
na realidade estamos tratando de um direito difuso, que pertence a todos os
brasileiros e não somente a uma parte da sociedade.

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Somente com base nessa reduzida exposição da evolução histórica do
Direito Ambiental no Brasil e no Mundo, torna-se possível a compreensão ne-
cessária para passarmos a estudar como o mesmo deve ser classificado, além do
entendimento das relações existentes entre tal disciplina do direito com os mais
diversos ramos das ciências jurídicas ou não, tendo em vista tratar-se de uma
matéria que demanda, necessariamente, um estudo interdisciplinar para sua
correta compreensão.

1.2 A classificação do Meio Ambiente e a relação do


Direito Ambiental com outras ciências

Classificação do Meio Ambiente

Entendemos que o papel de classificar o meio ambiente cabe, em sua


essência, justamente aos doutrinadores. Partindo dessa premissa, torna-se
oportuno colacionarmos alguns entendimentos doutrinários a respeito dessa
classificação, já antecipando que a linha a seguir traçada é a adotada pela maio-
ria desses doutrinadores.
Dentre os autores, talvez os mais importantes em relação a essa seg-
mentação ambiental sejam: Celso Antônio Fiorillo (2015) e Marcelo Abelha Ro-
drigues (2015), que trabalham essa classificação entendendo que existem, na
realidade, quatro espécies de meio ambiente: o meio ambiente natural, o meio
ambiente cultural, o meio ambiente artificial e o meio ambiente de trabalho.
Antes de adentrarmos nas classificações propriamente ditas, é impor-
tante termos a noção clara de que todas as espécies que serão devidamente es-
tudadas, na realidade, não podem ser consideradas de forma isolada, estanque.
Isso porque é impossível negar que existe sempre a interação entre os diversos
tipos de meio ambiente.
Como forma de corroborar tal afirmação, basta prestarmos atenção no
“funcionamento” de uma grande cidade. Dessa forma, é possível identificarmos

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a coexistência, num mesmo cenário, das construções artificiais (meio ambiente

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


artificial), e de seus habitantes (o homem, os animais - domésticos ou não -,
os vegetais), estes classificados como meio ambiente natural. Ou seja, a todo
instante, ocorre a interação entre a fauna, a flora e o meio criado pelo homem.

Meio Ambiente Natural

Por alguns considerado o ponto de partida para as demais espécies de


meio ambiente, entende-se por natural aquele que já existia, antes mesmo do
surgimento da humanidade, ou seja, aquele criado originariamente pela Natu-
reza, desde que não sofra qualquer interferência das atividades humanas que
culminem com a alteração de sua substância, já antecipando que não é qualquer
ato humano que serve para alterar tal característica.
Tomemos como parâmetro, por exemplo, a agricultura no atual estágio
tecnológico em que a mesma se encontra, mecanizada, automatizada e com uti-
lização em larga escala de produtos químicos para sua otimização, em especial
no caso da soja.
Mesmo com a utilização maciça de tais elementos criados pelo homem,
entende-se que, em nenhum momento, foi alterada a substância da natureza, a
não ser que as sementes utilizadas para o plantio fossem de origem transgênica,
criadas a partir de manipulação genética para alterar e tornar mais resistente a
soja, pois aí se alterou a substância essencial da semente, tendo havido interfe-
rência humana direta, quando da manipulação genética de tais sementes que,
como veremos a seguir, se enquadraria no chamado meio ambiente artificial e
genético.
Por isso, foi dito anteriormente que não é qualquer ação humana capaz
de alterar o meio ambiente natural, pois, caso abríssemos esse leque de altera-
ções, praticamente não existiria tal espécie de meio ambiente, já que qualquer
pessoa pode perfeitamente gostar de possuir violetas em seu jardim e, nem por
isso, estaria alterando a genética da flor em questão, mas tão somente o local
onde a mesma se encontra. Ou seja, o ciclo de desenvolvimento da violeta utili-
zada como exemplo permanece o mesmo, se comparado às suas características
naturais puras (substância).

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Para tornar mais clara essa classificação, basta citar alguns elementos
que se encontram no chamado meio ambiente natural, como por exemplo: o
solo, a água, o ar atmosférico, a flora e fauna, todos eles “criados” pela Natureza
e que tornam possível atingir um ponto de equilíbrio entre os seres vivos e o
meio em que vivem.
Talvez o dispositivo constitucional que mais se aproxime desse enten-
dimento desenvolvido em sede doutrinária seja o artigo 225, caput e no § 1º,
incisos I e VII e § 2º, que dispõe:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-


librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualida-
de de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:


I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento) (...)

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas


que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extin-
ção de espécies ou submetam os animais à crueldade. (Regulamento)

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recu-


perar o meio ambiente degradado, de acordo com solução téc-
nica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

Quando o legislador se refere aos processos ecológicos, fauna, flora e


recursos minerais, torna-se cristalino que está fazendo referência, na realidade,
ao meio ambiente natural.

Meio Ambiente Artificial

Em contrapartida, de forma totalmente antagônica, encontra-se a se-


gunda espécie de meio ambiente, o chamado meio ambiente artificial, aquele
que tem sua substância alterada e modificada parcial ou integralmente pelo ser
humano.
Principalmente após a Revolução Industrial e, mais recentemente,
com a Revolução Tecnológica, cada vez mais o homem atua diretamente sobre

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o meio ambiente, de forma a “adaptar” o mundo ao seu redor às suas necessi-

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


dades e vontades.
Talvez os principais exemplos de elementos integrantes desse meio
ambiente sejam as habitações humanas (condomínios edifícios verticais e con-
domínios horizontais de casas); os parques eólicos; as obras de transposição do
Rio São Francisco, etc.
Isso porque, se analisarmos qualquer um desses exemplos, veremos que
jamais foram criados pela natureza, mas sim pela ação direta do homem, que al-
terou suas substâncias originárias para que fosse possível chegar aos resultados
finais citados. Explico: da mistura de argila e calcário (fundidos após expostos a
altas temperaturas), gipsita (a matéria-prima do gesso) e água surge o tão comum
e conhecido cimento. Tais substâncias, sem dúvida alguma, existem em sua forma
bruta e isolada na natureza, mas quando sofrem a intervenção humana, geram
uma outra substância, o cimento, que por sua vez serve de base para diversas
construções criadas pelo homem, dentre as quais, as suas habitações.
Mais uma vez é possível percebermos a aproximação de certos dispo-
sitivos constitucionais com esta segunda classificação. Para isso basta fazermos
uma leitura sistemática de alguns dispositivos inseridos na Constituição, como
o artigo 182 e o próprio artigo 225:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo


Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em
lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das fun-
ções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.

Quando o legislador fala em desenvolvimento urbano, ele nada mais


está dizendo sobre ações promovidas diretamente pelo ser humano, que cer-
tamente jamais existiriam sem a interferência do mesmo, não fazendo nem o
legislador nem a doutrina nenhuma diferenciação jurídica entre os vocábulos
“urbano” e “rural”, bastando que ocorra a intervenção humana para que seja
considerado como artificial. O exemplo clássico utilizado pela doutrina é a cons-
trução de uma casa para ser a sede de uma fazenda.

Meio Ambiente Cultural

O terceiro tipo de classificação do meio ambiente é o chamado cultural,


que pode se apresentar tanto de forma concreta como de forma abstrata, como
veremos a seguir.

21
Será concreto quando um simples elemento integrante do ambiente
artificial, como uma casa antiga construída na época da colonização, for tom-
bada pelo Poder Público, sendo-lhe atribuída uma qualidade turística, artística,
paisagística, arquitetônica ou histórica, conforme previsto na Carta Magna, em
seu artigo 216:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natu-


reza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferen-
tes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destina-


dos às manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,


arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Percebemos, portanto, que tanto a doutrina quanto a legislação máxima


se coadunam em considerar mais importante a análise do valor cultural desses
bens do que simplesmente verificar se os mesmos foram criados pelo homem ou
pela natureza, pouco importando, também, seus elementos constitutivos.
Será abstrato quando não for possível sua identificação como ambiente
puramente artificial, ou melhor dizendo, construído a partir de elementos exis-
tentes fisicamente na natureza. Talvez o melhor exemplo para visualizarmos
essa abstração sejam a língua e os costumes de cada povo ao redor do mundo.
Todos são criados pelo homem, porém são abstratos, não se materializam. Isso
porque, caso uma determinada teoria elaborada por pesquisadores seja poste-
riormente publicada em forma de livro, a mesma passa a se materializar e, por-
tanto, passar a fazer parte do meio ambiente cultural concreto.

Meio Ambiente do Trabalho

De forma resumida, esta espécie de meio ambiente pode ser definida


como o local onde homens e mulheres desenvolvem suas atividades laborais,

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devendo tal local ser adequado para o trabalho, apresentando condições salubres,

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


ou seja, que não apresente risco à saúde física e mental de seus trabalhadores.
Esse entendimento foi exposto na CF de 1988 basicamente em dois ar-
tigos: o artigo 225, já transcrito, e também no artigo 200, inciso VIII, que dispõe
sobre as competências do Sistema único de Saúde (SUS):

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribui-


ções, nos termos da lei: (...)

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do


trabalho.

Para evitar possíveis confusões quando do estudo de tal meio ambien-


te, importante diferenciar qual o âmbito protecional dado a este ambiente pelo
Direito Ambiental e pelo Direito do Trabalho.
O primeiro se preocupa em focar na manutenção da saúde e da segu-
rança do trabalhador no local onde trabalha, já o segundo foca no cumprimento
das normas contratuais disciplinadoras da relação existente entre empregador
e empregado.

Meio Ambiente Genético ou Patrimônio Genético

Talvez o meio ambiente mais importante, atualmente, seja justamente


o ligado ao patrimônio genético, tendo em vista as inúmeras inovações tecno-
lógicas produzidas pelo homem. Corroborando tal afirmação, podemos citar o
caso dos organismos geneticamente modificados, os chamados OGN, que têm
como exemplo principal os casos da soja e do milho transgênico.
Tal meio ambiente encontra-se intimamente ligado à questão da cha-
mada engenharia genética que, de forma resumida, pode ser entendida como a
ciência que manipula as moléculas de ADN/ARN recombinante, culminando na
criação dos chamados transgênicos, da fertilização “in vitro” e da utilização das
células tronco, dentre outros.
Como não poderia deixar de ocorrer, mais uma vez, doutrina e legislação
convergem para um ponto em comum, qual seja o previsto no artigo 225, inciso V:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-
librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualida-
de de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

23
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, mé-
todos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida
e o meio ambiente;

Portanto, ainda que a maioria da doutrina clássica entenda só existi-


rem quatro espécies básicas de meio ambiente (natural, cultural, artificial e de
trabalho), entendemos que, ante as imparáveis inovações tecnológicas que vem
surgindo nos últimos anos, bem como o crescimento exponencial da complexi-
dade das relações dos seres humanos com o meio ambiente que o cerca, o mais
prudente seria incluir esta quinta categoria, qual seja a do patrimônio genético.

Relação do Direito Ambiental com outras ciências

Como já falamos anteriormente na introdução, o Direito Ambiental tal-


vez seja um dos ramos do direito que possui um caráter interdisciplinar mais
forte, tendo em vista a complexidade da matéria por ele estudada, fazendo com
que o mesmo tenha relação não somente com diversos ramos da Ciência Jurídi-
ca, mas também com as demais ciências afins.
Então, podemos afirmar sem, sombra de dúvidas, que este ramo do
direito deve ser considerado e estudado não somente no plano jurídico, mas sim
em conjunto com outros planos, em especial os planos Ecológicos, Biológicos,
Geológicos, Químicos e, porque não, o campo da saúde pública.
No entanto, tendo em vista que o objeto de estudo do presente livro
tende a ser mais específico, concentraremos nosso estudo nos pontos de inter-
secção entre o Direito Ambiental e o Direito Constitucional, Direito Internacio-
nal, Direito Administrativo, Direito Civil, Direito Penal, Direito Processual Civil,
Direito Trabalhista e no Direito Tributário.
Começamos pelo Direito Constitucional, tendo em vista a tendência
atual e correta, nos cursos de Direito, de se promover a chamada constituciona-
lização dos demais ramos da ciência jurídica. Assim, é de fácil identificação, na
Carta Magna, que tal ramo do direito se faz presente quando o legislador cria
um capítulo inteiro dedicado ao meio ambiente, além, é claro, de outros artigos
espalhados pelo texto constitucional, como já anteriormente citado.
Esse arcabouço constitucional atualmente existente não foi constru-
ído de forma isolada. Com o surgimento de um mundo globalizado, vários

24 Direito Ambiental
Tema | 01
dispositivos contidos em nossa Constituição não são mais do que reflexos de

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


diversos debates ambientais desenvolvidos no âmbito internacional, mais pre-
cisamente envolvendo o Direito Internacional. Portanto, os pontos de contato
entre ambos os ramos do direito se concretizam por meio de diversos normati-
vos internacionais, dentre os quais os mais importantes são as convenções, os
tratados internacionais e as declarações de direitos. Isso porque além da trans-
formação do Planeta terra na chamada “aldeia global”, há de ser ser levado em
conta que muitos desastres e/ou degradações provocadas pelo homem produ-
zem efeitos não somente em um ecossistema como o brasileiro, por exemplo,
mas sim num ecossistema muito mais amplo, ensejando a necessária, para não
dizer obrigatória, participação de todos ou da maioria dos países existentes ao
redor do mundo, o que se faz, em geral, através das reuniões promovidas pela
Organização das Nações Unidas (ONU).
O Poder de Polícia propicia esse ponto de contato entre o Direito Am-
biental e o Direito Administrativo, pois é através deste instrumento que a Ad-
ministração Pública atua para condicionar ou restringir a utilização dos bens
e a realização das atividades pelos indivíduos, tendo em vista o benefício da
coletividade ou do Estado, ou seja, é uma faculdade que o administrador possui,
que o permite atuar, em prol da sociedade, de forma discricionária (presente
quando a lei deixa certa margem de liberdade de apreciação quanto a deter-
minados elementos, como o motivo ou objeto dos atos administrativos); auto
executável (quando se permite que a Administração Pública, com seus próprios
meios, execute suas decisões sem precisar recorrer previamente ao Poder Judi-
ciário e, no caso de já ter tomado uma decisão executória, possuir a faculdade
de utilizar a força pública para obrigar ao administrado cumprir sua decisão);
e coercitiva (pela imposição coativa das medidas adotadas pela Administração,
para a garantia do cumprimento do ato de polícia).
No Direito Civil, o Direito Ambiental se faz presente por meio dos dis-
positivos presentes no Código Civil e em legislação esparsa, que versam sobre
a função social da propriedade, restrições ao direito de propriedade em função
de questões ambientais e direito de vizinhança. Apenas para elucidar mais essa
questão, destacamos que, com base neste direito de vizinhança, foram criadas
regras para evitar conflitos entre proprietários de prédios contíguos, respeitan-
do, assim, o convívio social, afirmação esta que se depreende da leitura do artigo
1.277 do Código Civil, tendo em vista que o mesmo autoriza que o proprietário

25
prejudicado faça cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e
à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Com a elaboração da chamada Lei de Crimes Ambientais, passaram a
existir diversos pontos de contato entre o Direito Penal e o Direito Ambiental,
vez que atitudes anteriormente praticadas pelos seres humanos que não eram
passiveis de punição pelo Poder Público passaram a ser criminalizadas desde
que nocivas ou potencialmente nocivas ao meio ambiente.
Também existe um ponto de toque entre o Processo Civil e o Direito
Ambiental. São as chamadas ações judiciais em matéria ambiental, dentre as
quais, as mais conhecidas, sem dúvida, são a ação civil pública e a ação popular,
instrumentos estes que serão devidamente estudados mais adiante neste livro.
E no Direito Tributário, o Direito Ambiental se faz presente pela ado-
ção de regimes fiscais, benéficos as propriedades ambientalmente protegidas
por lei, por meio de ferramentas denominadas como extrafiscais, ou seja, o
Fisco utiliza os tributos para estimular ou desestimular uma determinada con-
duta que seja nociva ao meio ambiente. Exemplo claro dessa prática cada vez
mais comum no Brasil é a criação, em algumas regiões, dos chamados ICMS e
IPTU verdes.
O Direito Trabalhista se relaciona com o Direito Ambiental, quando
passamos a analisar detidamente o conjunto de normas que foi criado e que
busca justamente garantir um nível mínimo de segurança e qualidade de vida
no ambiente de trabalho.
Destarte, o Direito Ambiental se firmou como um ramo autônomo do
Direito e a cada dia ganha maior importância, oferecendo embasamento doutri-
nário e instrumentos processuais para que o meio ambiente seja efetivamente
preservado ou reparado e para que os seus degradadores sejam punidos.
Somente com base nessa visão multidisciplinar é que será possível de-
linearmos, com maior precisão, quais serão as fontes e os princípios que serão
adotados e utilizados pelo Direito Ambiental, assuntos que serão abordados no
próximo conteúdo. .

26 Direito Ambiental
Tema | 01
1.3 Fontes e Princípios do Direito Ambiental

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


Fontes do Direito Ambiental

Antes de adentrarmos nas espécies de fontes existentes e utilizadas no


estudo do Direito Ambiental, faz-se necessária uma breve ideia do significado
da palavra em questão.
Fonte, no âmbito de nosso estudo, significa a própria transformação
do Direito, antes meramente abstrato, permeado de suas influências sociais,
econômicas e históricas, não necessariamente nesta ordem, para o campo da
concretude, ou seja, positivado através de normas ou costumes aceitos pela co-
munidade jurídica que, sem dúvida alguma, servem para delinear os princípios
da segurança jurídica e da legalidade, funcionando como balizadores na atuação
do ser humano quanto este interage com o meio ambiente.
Classicamente, no estudo de qualquer um dos ramos do Direito, temos
que as principais fontes existentes lato sensu são a lei, os costumes, a juris-
prudência, a doutrina, os tratados e convenções internacionais e os princípios
jurídicos.
Feitas essas breves considerações, passamos a discorrer sobre as fontes
materiais e as fontes formais.
As primeiras, materiais, podem ser definidas como os fatores externos
que criam o direito, ou seja, as influências externas anteriormente citadas (so-
ciais, econômicas e históricas) que servem como base para o surgimento dos
chamados dispositivos legais. São considerados os motivos lógicos que serviram
como diretrizes para guiar o legislador em sua criação normativa. De forma sin-
tética, podemos chamá-las de causas culturais das normas jurídicas.
Para que possamos ter uma melhor compreensão acerca de um exem-
plo prático deste tipo de fonte, podemos utilizar como base o caso da seca que
assola de forma constante o sertão nordestino, questão esta que se perdeu no
tempo de tão antiga. Tal fenômeno natural certamente pode servir como fonte
social e econômica para que o legislador, em qualquer esfera da Administração
Pública, se sinta compelido a elaborar e promulgar determinado programa de
apoio às famílias carentes do sertão, para diminuir os prejuízos sociais e econô-
micos provocados pela falta de água na maioria dos estados nordestinos.

27
Já as segundas, as formais, estão muito mais ligadas ao modo como o
direito é produzido e se articula, quando de sua aplicação prática, em relação
aos destinatários das normas em sentido amplo. Em contrapartida, podem ser
consideradas como os meios pelos quais as normas jurídicas são “comunicadas”
à sociedade, de maneira a possibilitar que os cidadãos de determinada região
geográfica possam conhecê-las, identificando quais seus direitos e deveres e,
especificamente, aos operadores do direito, não somente as identificarem, mas
primordialmente para que saibam como poderão utilizá-las em favor dos inte-
resses de seus clientes.
Para concretizarmos essa ideia de fontes formais, podemos citar, ainda
com base no exemplo da seca, o programa chamado “Água Para Todos”, criado
pelo Ministério da Integração Nacional em convênio com o Governo do Estado
de Sergipe. A ideia central do projeto é restabelecer o fornecimento de água para
diversas famílias sergipanas que residem em áreas afetadas pela falta de chuva,
a começar pelo município de Japaratuba, localizado no Leste Sergipano. Numa
primeira etapa, o poder público pretende beneficiar cerca de 1.600 famílias e,
posteriormente, numa segunda etapa, atingir localidades rurais de mais de 28
municípios sergipanos. Esse é um exemplo claro de um fato social/econômico
que serviu como mola propulsora e diretriz para compelir o legislador a trans-
formar aquilo que ainda se encontrava em estado abstrato em algo concreto, o
que foi feito por meio da produção normativa, neste caso o projeto supracitado.
Coadunando-se com o nosso raciocínio acima esposado, alguns auto-
res, dentre eles Paulo de Bessa Antunes, em sua obra Direito Ambiental, enten-
dem que existem e podem ser utilizadas as seguintes fontes na seara ambiental:
fontes materiais (movimentos populares, descobertas científicas e doutrina ju-
rídica) e fontes formais (a Constituição Federal de 1988, as leis, os atos interna-
cionais firmados pelo Brasil, as normas administrativas originadas dos órgãos
competentes e a jurisprudência).
Como exemplo de movimentos populares em nível global, temos os
chamados Whale Wars – Defensores de Baleias (que se preocupam em sua es-
sência em atrapalhar as atividades de pesca dos navios baleeiros japoneses).
Já no campo das descobertas científicas, talvez umas das mais impor-
tantes, porém não tão recente, foi a descoberta dos reais efeitos do CFC (clo-
rofluorcarboneto) na camada de Ozônio que envolve o Planeta Terra. Somen-
te com base nesta descoberta é que foi possível a reunião de diversos países,

28 Direito Ambiental
Tema | 01
que deu origem ao chamado Protocolo de Montreal, norma que dispõe sobre as

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


substâncias que destroem a camada de Ozônio, presentes em diversos eletrodo-
mésticos como os antigos refrigeradores, que ainda existem em muitas residên-
cias no mundo.
No que tange à Doutrina Jurídica, o principal objetivo é possibilitar a
compilação de artigos científicos e estudos, por vezes de décadas, sobre diversos
problemas ambientais. Essa produção intelectual de profissionais dos mais di-
versos ramos de pesquisa, e não somente da área jurídica, tornou possível, por
exemplo, a formulação dos princípios da prevenção e da precaução, dentre ou-
tros que, como princípios, serviram de embasamento teórico para a elaboração
de diversas normas protetivas ambientais, conforme veremos a seguir, quando
estudarmos os princípios informadores do Direito Ambiental.
Passando para as fontes formais, nada mais lógico do que começarmos
com a norma que aparece no topo da Pirâmide Normativa de Kelsen, qual seja,
a Constituição Federal de 1988. Conforme já estudado anteriormente, basta re-
lembrarmos que o legislador dedicou um capítulo inteiro ao Meio Ambiente.
Dentre os inúmeros dispositivos existentes acerca do assunto, talvez o mais im-
portante seja o artigo 225.
Descendo para um nível mais abaixo na referida pirâmide, temos as
Leis Ordinárias (especialmente as federais e estaduais). Talvez esta seja, dentre
as fontes formais, a mais expressiva de todas, tendo em vista que, especifica-
mente no Direito Ambiental Brasileiro, as mais importantes matérias de cunho
ambientalista encontram-se total ou parcialmente previstas nesta espécie de
norma. Basta lembrarmos a Lei 6938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Am-
biente) e a Lei 9605/98 (Lei dos Crimes Ambientais).
Não podemos esquecer, no entanto, dos chamados atos internacionais,
oriundos em geral do direito internacional público, normalmente materializa-
dos por meio de tratados ou convenções, desde que os mesmos sejam devida-
mente firmados pelo Brasil e, posteriormente, ratificados pelo Presidente, de
acordo com o procedimento previsto em nossa Carta Magna. São exemplos des-
tas fontes: Conferência de Estocolmo Sobre o Meio Ambiente Humano (1972);
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
– CNUMAD (ECO 92); Cúpula Mundial Sobre Desenvolvimento Sustentável
(Joanesburgo - 2002); Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (2012), dentre outras.

29
Quanto à jurisprudência, se formos nos ater ao rigorismo formal da
classificação das fontes do direito, esta não poderia ser considerada como fonte
formal. Entretanto, com o devido respeito, iremos considerá-la como tal, tendo
em vista um papel importantíssimo que a mesma desempenha: servir de norte
para que o aplicador de direito possa entender qual o posicionamento de cada
um dos Tribunais pátrios, tendo em vista que a jurisprudência nada mais é do
que a reiteração do entendimento de uma decisão de um determinado tribunal.
Por fim, localizadas num nível bem mais baixo no entendimento de Kel-
sen, mas de importância prática fundamental, encontram-se as normas admi-
nistrativas originárias dos órgãos competentes. Entendemos desta forma porque
a legislação ordinária infraconstitucional serve apenas para dispor de maneira
geral e abstrata sobre os temas ligados ao direito ambiental, não sendo sua fina-
lidade, quer por sua natureza normativa, quer pela infinidade de possibilidades
fáticas, regulamentar os procedimentos necessários para toda e qualquer ativi-
dade que seja ou possa ser nociva ao meio ambiente. Neste âmbito, destacam-se
as chamadas resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
que servem justamente para detalhar a aplicação da lei, função esta que atual-
mente vem sendo amplamente admitida pela maioria dos doutrinadores pátrios.

Princípios aplicáveis ao Direito Ambiental

Especialmente no âmbito jurídico, não há como se questionar a impor-


tância dos princípios como tema, ou se preferirem, pedra de toque, fundamen-
tal para que possamos compreender qualquer ramo do Direito, com base num
ponto de vista muito mais amplo e abstrato. Com isso, queremos dizer que os
mesmos servem, na realidade, para concatenar determinadas ideias centrais de
um ordenamento jurídico, dando-lhes a racionalidade e harmonia necessárias
para que o mesmo funcione com o mínimo de atrito possível.
Importante frisarmos, neste momento, algumas características técni-
cas fundamentais para que possamos melhor compreender como os princípios
devem ser aplicados, bem como quais as suas diferenças em relação à aplicação
das simples regras.
Assim, tomamos como base a teoria desenvolvida por um doutrina-
dor alemão, chamado Robert Alexy que, em síntese, chegou à conclusão de que

30 Direito Ambiental
Tema | 01
os princípios devem ser tratados de forma diferenciada em relação às regras,

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


tendo em vista que, em sua essência, ambos são diferentes qualitativamente.
Ainda nesta esteira de raciocínio, o mesmo classifica os princípios como espé-
cie de normas e mandamentos de otimização, além de promover a vinculação
dos mesmos à aplicação da proporcionalidade, ou seja, ao aplicar determina-
do princípio, o operador do direito deve fazê-lo sempre buscando atingir, no
maior grau possível, a satisfação dos interesses ou ideias contidas e aplicadas
ao caso concreto.
De acordo com a referida teoria, em cada caso concreto a ser apreciado
pelo operador do direito, deve ser feita necessariamente a chamada ponderação.
Com isso queremos dizer que deve ser minuciosamente analisado, no caso ob-
jeto de análise, qual dos interesses contidos em determinado princípio, quando
em conflito com outro interesse (princípio) do mesmo nível deve prevalecer no
caso concreto. Vale ressaltar que esta análise irá variar caso a caso, não sendo
possível que tal determinação seja feita somente na teoria, necessitando, para
tanto, que ocorra o conflito em um determinado caso prático.
Tomemos como exemplo o caso da transfusão de sangue em pessoa
que opta por determinado credo religioso que a proíbe de aceitar o sangue do-
ado por outra pessoa ou proveniente de bancos de sangue. De forma breve, o
entendimento do Supremo Tribunal Federal a este respeito pode ser resumido
da seguinte forma: estão em conflito os princípios do direito à vida e do direito
à liberdade religiosa. O STF então se posicionou no sentido de que, nos casos,
em que a pessoa que necessita da transfusão for maior de idade e plenamente
capaz, está vedado a qualquer profissional da área médica realizar tal procedi-
mento, ou seja, neste caso prático específico prevaleceu com maior intensidade
o direito à liberdade religiosa e com menor intensidade o direito à vida. Já em
outro caso semelhante, houve a inversão da importância de tais princípios, ten-
do em vista que, agora, o paciente, um menor de idade, ou seja, ainda incapaz
de tomar suas próprias decisões quanto a qual religião irá escolher como “sua”,
também necessitava de transfusão e, neste caso, o STF decidiu que deveria pre-
valecer o direito à vida em relação ao direito de liberdade de crença.
Essa ponderação é de extrema importância em qualquer área do Direi-
to, inclusive na seara ambiental, tendo em vista que, em caso de colisão de prin-
cípios, nunca um deles será integralmente excluído para a aplicação do outro,
já que os mesmos possuem a chamada dimensão do peso. Isso quer dizer que

31
quando eles colidem, um será aplicado mais intensamente do que o outro, sem
excluir o de menor intensidade. De forma antagônica, no caso de colisão entre
regras, levando-se em consideração que as mesmas possuem somente a cha-
mada dimensão de validade, só podem ser cumpridas ou não, devendo, quando
da análise de sua aplicação em determinado caso concreto, ser o mesmo solu-
cionado pelos critérios clássicos utilizados na ciência do direito, quais sejam:
hierárquico; cronológico e da especialidade.
Feitas estas rápidas observações, passemos ao estudo dos princípios
mais importantes utilizados na esfera ambiental, já ressaltando que o rol apre-
sentado não é taxativo.

Princípio da Prevenção

Este princípio significa que deve sempre se buscar a adoção de medi-


das que evitem o dano ao ambiente, reduzindo ou eliminando as suas causas”.
Isso quer dizer que os estudiosos entendem que tanto o legislador quanto o
julgador devem ter sempre em mente a ideia de antecipação, ou seja, praticar
determinada ação, no caso do legislador a produção de uma norma em sentido
lato, no caso do julgador, por exemplo, através da concessão de uma medida
cautelar, com o escopo de impedir que ocorra qualquer tipo de mal (dano) ao
meio ambiente.
Essa ideia de prevenção não é nova, sendo tratada pela primeira vez
quando da Declaração Universal sobre o Meio Ambiente, proferida em 1972,
mais especificamente no bojo de seu Princípio nº 6, ao estabelecer que: “Deve-
-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais e, ainda, a
liberação de calor em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente
não tenha condições para neutralizá-las, a fim de não se causar danos graves ou
irreparáveis ao ecossistema. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os
países contra a contaminação”.
Com base nesses fundamentos preconizados na referida declaração,
bem como através da construção doutrinária, foi possível a elaboração da Lei
nº 6.938/81 que, conforme já anteriormente explicada, cria a Política Nacional
do Meio Ambiente. Em tal diploma legal também encontramos insculpido tal
princípio, quando da leitura atenta do artigo 4º, incisos III, IV e V, que buscam

32 Direito Ambiental
Tema | 01
resumidamente estabelecer: critérios e padrões da qualidade ambiental e de nor-

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


mas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; o desenvolvimento de pes-
quisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos am-
bientais e a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente; a divulgação de
dados e informações ambientais; e a formação de uma consciência pública sobre
a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico.
Mister destacar que tal princípio deve ser aplicado nos casos em que
os riscos já são conhecidos, quer pela sua ocorrência anterior em caso igual ou
semelhante, quer pela existência de técnicas científicas capazes de prever a sua
provável ocorrência.
Assim, mesmo sendo difícil afirmar, de maneira inconteste, podemos
considerar que tal princípio talvez seja o mais importante na seara ambiental,
tendo em vista que, caso não nos utilizemos da prevenção, por vezes será muito
difícil, demorado e caro recuperar uma lesão ambiental.

Princípio da Precaução

O princípio da precaução difere do anteriormente estudado, de acordo


com o entendimento doutrinário de diversos autores, dentre eles Paulo Afonso
Leme Machado (Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2001, p.
57), ao afirmar que: “(...) a precaução não só deve estar presente para impedir
o prejuízo ambiental, mesmo incerto, que possa resultar das ações ou omissões
humanas, como deve atuar para a prevenção oportuna desse prejuízo. Evita-se
o dano ambiental através da prevenção no tempo certo”.
Utilizando-nos de um outro princípio classicamente aplicado na seara
penalista, podemos afirmar, feitas as devidas adequações, que o referido prin-
cípio poderia ser interpretado como um verdadeiro “In dúbio pro natura ou In
dúbio pro ambiente”.
Nessa linha de raciocínio, importante destacarmos o entendimento pa-
cificado, proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, ao analisar os impactos
ambientais que seriam provocados pela construção de uma usina hidrelétrica,
dentre eles a redução da produção pesqueira local.
Nessa oportunidade, o STJ reconheceu a aplicação do princípio tam-
bém conhecido como “In dúbio pro natura ou In dúbio pro ambiente”, ao

33
afirmar que, no caso específico da aplicação, em determinada situação concre-
ta, do chamado princípio da precaução, devemos partir da premissa de que o
mesmo autoriza ao julgador se utilizar do mecanismo processual da inversão do
ônus da prova, desde que reste devidamente comprovada a existência do nexo
de causalidade provável entre a atividade exercida e a degradação provocada.
Assim, transfere-se essa obrigação ao agente que provocou o dano am-
biental, de forma que o mesmo passa a ter a incumbência de comprovar, de
maneira prática e irrefutável, que não o causou ou que a substância lançada ao
meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva.
Dessa forma, é fundamental proteger de maneira mais eficaz o meio
ambiente, pois a comprovação de não lesividade de determinadas condutas pas-
sa a recair sobre a parte mais forte técnica e economicamente, regra geral as
grandes empresas, retirando-se das comunidades hipossuficientes, como as ri-
beirinhas, esta difícil tarefa processual.
O principal objetivo da precaução é justamente estabelecer quais ativida-
des humanas devem ser vedadas, salvo se houver a certeza que as alterações não
causarão reações adversas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade
respostas conclusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos.
Este princípio da precaução também surgiu com base em uma fonte
formal internacional, qual seja a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Am-
biente e Desenvolvimento, que o diferenciou e separou em definitivo em relação
ao princípio da prevenção. O chamado Princípio nº 15 do referido documento,
determinava que o instituto da precaução deveria ser amplamente observado
pelos Estados, de acordo com suas capacidades, em especial quando a amea-
ça de determinado dano ambiental não tiver nenhum precedente científico que
possa servir para sabermos a possível extensão de tais danos, bem como de quais
medidas devem e podem ser utilizadas para minimizar o efeito degradador.
No entanto, em que pese o fato desta verdadeira cisão entre os dois
referidos princípios, é de se destacar que parte dos doutrinadores brasileiros,
tais como José Afonso da Silva e Toshio Mukai, não consideram a precaução
como um princípio do Direito Ambiental. Já outros autores como Celso Antônio
Pacheco Fiorillo entendem que o mais correto é adotar o princípio da prevenção
como sinônimo ou como gênero do qual o princípio da precaução é espécie.
Todavia, com o devido respeito, discordamos de tais posicionamentos,
entendendo pela sua colocação como princípio, tendo em vista que o âmago de

34 Direito Ambiental
Tema | 01
sua análise deve ser feito, em relação à sua aplicação, somente em casos onde se

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


verifique a existência da chamada incerteza científica.

Princípio do Poluidor-Pagador

Este princípio tem como ideia central forçar as empresas privadas a


incluírem nos seus cálculos e projetos os possíveis custos ambientais gerados a
partir da implantação e início de suas atividades. Com isso, queremos dizer que,
com o início da produção e do consumo, sempre irá ocorrer, em maior ou menor
grau, degradação e rareamento dos recursos ambientais. Por isso afirmamos
que os utilizadores dos recursos ambientais, quaisquer que sejam, têm neces-
sariamente que suportar os custos da reparação do dano por eles causados ao
meio ambiente, sem que essa cobrança resulte na imposição de taxas abusivas,
de maneira que nem o Poder Público nem terceiros sofram excessivamente com
tais custos.
Tal referência principiológica é antiga, sendo tratada pela primeira vez
na Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Hu-
mano, realizada em 1972; reforçada na Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, e
tratada com mais detalhamento na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (2012), em seu Princípio nº 16. Referido princípio
foi redigido com base no entendimento de que todo poluidor deve arcar com o
custo decorrente da poluição por ele produzida.
Tal ideia encontra guarida na Constituição Federal de 1988, como já
anteriormente frisado, em seu artigo 225, ao dispor que todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado. E, ainda, referido dispositivo traz
em seu bojo uma ideia mais aperfeiçoada do chamado princípio do poluidor-
-pagador, ao definir que as empresas (públicas ou privadas) e as pessoas físicas
que venham a explorar recursos minerais ficam obrigadas a recuperar o meio
ambiente degradado, com base em estudo técnico a ser produzido pelo órgão
público competente.
Inclusive o STJ já se manifestou em diversas oportunidades sobre a de-
limitação do âmbito de aplicação do referido principio, entendendo, inclusive,
que, quando se trata de questões ambientais, tal princípio permite, por exemplo,

35
a condenação do poluidor de forma simultânea, em obrigação de fazer, não fa-
zer e indenizar, ou seja, traçando um paralelo com o direito das obrigações. De
acordo com o posicionamento do STJ, estaremos diante das chamadas obriga-
ções cumulativas ou conjuntivas, tudo isso com base na construção teórica de
que o dano ambiental, na realidade, possui inúmeras dimensões, quais sejam:
ética, temporal, ecológica e patrimonial, dentre outras. Assim, somente se apli-
cado dessa forma é que será possível garantir uma proteção mínima ao bioma
afetado e, ainda, reparar as vítimas do dano.
De forma direta, o constituinte quis dizer, sem rodeios, que quando de-
terminada pessoa ou empresa provoca uma degradação ambiental, este poluidor
na realidade está invadindo um bem de uso comum do povo, maculando um ou
mais direitos de terceiros e, assim, devendo arcar com os custos desta invasão.

Princípio da Responsabilidade

O princípio da responsabilidade faz com que os responsáveis pela de-


gradação ao meio ambiente sejam obrigados a arcar com a responsabilidade e
com os custos da reparação ou da compensação pelo dano causado. Isso quer
dizer que os poluidores terão que promover a recuperação do bem lesado.
Também encontra guarida em nível constitucional, novamente no ar-
tigo 225, § 3º, quando o legislador previu que as condutas e atividades consi-
deradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação
de reparar os danos causados.
Tal previsão formal já havia sido prevista anteriormente, quando da
edição da Lei nº 6.938/81 que, em seus artigos 4º, inciso VII e artigo 9º, in-
ciso IX, prevê que a Política Nacional do Meio Ambiente buscará a imposição
ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos
causados ao meio ambiente, inclusive por meio de aplicação de penalidades dis-
ciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção da degradação ambiental.

Princípio da Supremacia do Interesse Público em Relação


aos Interesses Privados, na Proteção do Meio Ambiente
Tal princípio nada mais é do que a constatação do necessário reco-
nhecimento da superioridade dos interesses da coletividade em detrimento

36 Direito Ambiental
Tema | 01
dos interesses dos particulares, de maneira que seja devidamente garantida e

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


preservada a chamada ordem social, com fundamento legítimo em diversos es-
tudos que concluíram, de forma cabal, que a questão da preservação do meio
ambiente se tornou condição essencial para a própria existência da vida em so-
ciedade e, consequentemente, para a manutenção e o exercício pleno dos direi-
tos individuais dos particulares.

Princípio da Participação Popular na Proteção do Meio Ambi-


ente

Tal possibilidade, para não dizer dever, apesar de pouco conhecida


para a maioria dos brasileiros, encontra-se prevista, mais uma vez, na Decla-
ração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em seu Princípio nº 10.
Como se não bastasse tal previsão, há que se considerar também o regime de
democracia escolhido, ou melhor, determinado pelo legislador constituinte, a
chamada democracia semidireta, que tem como fundamento genérico o previs-
to no artigo 1º, parágrafo único da Carta Maior.

Mas como a sociedade pode participar diretamente na defesa do meio ambiente?


Pela participação nos processos de criação do Direito Ambiental, por meio da
chamada iniciativa popular nos procedimentos legislativos (art. 61, caput e § 2º,
da CF/88) ou pela atuação de representantes da sociedade civil em órgãos cole-
giados dotados de poderes normativos, ou seja, o CONAMA, possibilidade esta
prevista no artigo 6º, inciso II, da Lei 6.938/81. Pode ainda participar nos casos
passíveis de realização de plebiscitos (artigo 14, inciso I, da CF/88). Por fim,
pode acionar o Poder Judiciário, mais comumente acionado por intermédio da
chamada ação civil pública ambiental (Lei nº 7.347/85).

37
Princípio da Função Social e Ambiental da Propriedade

Decorre da função social geral da propriedade, prevista constitucional-


mente, devendo ser utilizado, no caso concreto, o previsto no artigo 186, inciso
II, que afirma que a propriedade rural cumpre a sua função social quando ela
atende, entre outros requisitos, à preservação do meio ambiente. Isso quer dizer
que o proprietário rural só pode exercer seus direitos patrimoniais dentro e de
acordo com a lei, de forma positiva – promovendo o benefício da sociedade -,
e de forma negativa – não exercer seus direitos em detrimento de direitos de
terceiros ou da qualidade do meio ambiente.
Nesse sentido também já se manifestou o STJ, utilizando, no entanto,
uma nomenclatura um pouco diferente para o mesmo princípio. Na oportuni-
dade falou em “função ecológica da propriedade”. Ao apreciar tais questões, este
Tribunal entendeu, de forma pacífica, que inexistem direitos ilimitados ou abso-
lutos no que se refere à utilização das potencialidades econômicas de determi-
nado imóvel, incluídas as questões ambientais, protegidas pelas restrições legais
ao uso da propriedade, com o objetivo máximo de preservar o meio ambiente.
Esses são os princípios mais importantes passíveis de aplicação no Di-
reito Ambiental. Mister destacar que a doutrina elenca uma série de outros prin-
cípios adjacentes, tais como: princípio da indisponibilidade do interesse público
na proteção do meio ambiente; princípio da intervenção estatal obrigatória na
defesa do meio ambiente, dentre outros.

38 Direito Ambiental
Tema | 01
1.4 O Direito Ambiental na Legislação Brasileira

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


Conforme já estudamos anteriormente, podemos perceber que a legis-
lação ambiental brasileira é uma das mais completas do mundo, em que pese
uma parte importante da aplicação da mesma não seja feita dentro dos padrões
esperados: a fiscalização.
Vimos também que a nossa Carta Magna de 1988, talvez influenciada
pelos mais diversos atos internacionais que já versavam sobre o meio ambien-
te, também dedicou grande parte de seu texto à questão ambiental, de forma a
promover a constitucionalização do Direito Ambiental.
Neste ponto, cumpre-nos a difícil tarefa de “selecionar” algumas nor-
mas existentes em nosso ordenamento jurídico e que possuem ligação direta
com o Direito Ambiental, de forma a passar para o leitor uma breve ideia de
quais são as legislações mais utilizadas no dia a dia das demandas ambientais.
Para tanto, organizamos esses diplomas normativos de forma cronoló-
gica, da norma mais antiga para a mais nova, demonstrando a evolução gradual
ocorrida no direito ambiental brasileiro.
Começamos por uma norma que protege o patrimônio cultural (De-
creto-lei nº 25/37), ao prever que são considerados como patrimônio histórico
e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país
e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos
memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológi-
co ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Também inclui, no âmbito de sua
proteção, os chamados monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens
que importem conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido
dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana, devendo tal lei ser
devidamente aplicada tanto às pessoas naturais, quanto às pessoas jurídicas de
direito privado e de direito público interno.
A Lei de proteção à fauna silvestre (Lei nº 5.197/67), que regulamenta
e determina, dentre outros pontos que: os animais de quaisquer espécies, em
qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do ca-
tiveiro constituem a chamada fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos
e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua uti-
lização, perseguição, destruição, caça ou apanha; se peculiaridades regionais
comportarem o exercício da caça, a permissão será estabelecida em ato regula-

39
mentador do Poder Público Federal; a utilização, perseguição, caça ou apanha
de espécies da fauna silvestre em terras de domínio privado, mesmo quando
permitidas na forma do parágrafo anterior, poderão ser igualmente proibidas
pelos respectivos proprietários, assumindo estes a responsabilidade de fisca-
lização de seus domínios; proibição da caça profissional, além do comércio de
espécimes da fauna silvestre e de produtos e objetos que impliquem na sua caça,
perseguição, destruição ou apanha.
Ligada diretamente à questão da necessidade crescente e urgente da
produção de energia pelo Brasil, temos a Lei nº 6.453/77 (Atividades Nucle-
ares), que cria a responsabilidade civil específica por danos nucleares e a
responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares,
determinando que será exclusivo do operador (pessoa jurídica devidamente
autorizada para operar instalação nuclear) independentemente da existência
de culpa, a responsabilidade civil pela reparação de dano nuclear causado por
acidente nuclear.
Normas relativas ao parcelamento do solo urbano, mais especifica-
mente a Lei nº 6.766/79, que consiste na subdivisão de gleba, situada em zonas
determinadas do território municipal urbano, em lotes destinados à edificação,
compreendendo duas modalidades básicas (loteamento e desmembramento),
procurando sempre conseguir organizar o espaço urbano destinado à habitação.
A lei que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº
6.938/81) definiu conceitos básicos como o de meio ambiente, de degradação
e de poluição e determinou os objetivos, diretrizes e instrumentos, além de ter
adotado a teoria da responsabilidade, trazendo a definição de Política Nacional
do Meio Ambiente como o conjunto de diretrizes gerais estabelecidas por lei
que tem o objetivo de harmonizar e de integrar as políticas públicas de meio
ambiente dos entes federativos, tornando-as mais efetivas e eficazes. Por fim,
ainda criou a obrigatoriedade dos estudos e respectivos Relatórios de Impacto
Ambiental (EIA-RIMA).
Também importante destacarmos a Lei conhecida como Lei da Área
de Proteção Ambiental (APA) – Lei nº 6.902/81. Criou as estações ecológicas
(áreas representativas de ecossistemas brasileiros, destinadas à realização de
pesquisas básicas e aplicadas de Ecologia, à proteção do ambiente natural e ao
desenvolvimento da educação conservacionista), determinando, dentre outras
coisas, que 90% (noventa por cento) ou mais da área de cada Estação Ecológica

40 Direito Ambiental
Tema | 01
será destinada, em caráter permanente, e definida em ato do Poder Executivo,

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


à preservação integral da biota (o conjunto de seres vivos de um ecossistema, o
que inclui a flora, a fauna, os fungos e outros grupos de organismos) e, na área
restante, desde que haja um plano de zoneamento aprovado, poderá ser autori-
zada a realização de pesquisas ecológicas que venham a acarretar modificações
no ambiente natural.
A chamada Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985) que, de forma
resumida, trata dos interesses difusos relativos à proteção ou reparação e da
posterior responsabilização por danos causados ao meio ambiente, ao consumi-
dor e ao patrimônio artístico, turístico ou paisagístico, conforme será estudado
posteriormente de forma mais detida.
Temos também a Lei nº 7.805/89 que regulamenta as atividades dos
garimpos. Referida lei torna obrigatória a licença ambiental prévia para a rea-
lização de tais atividades, documento este que deve ser concedido pelo órgão
ambiental competente. Com isso, os trabalhos de pesquisa ou lavra que cau-
sarem danos ao meio ambiente são passíveis de suspensão, sendo o titular da
autorização de exploração dos minérios responsável pelos danos ambientais.
A lei que trata do elemento natural mais importante é a chamada Lei
de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97), que considera a água como um bem
de domínio público, dotado de valor econômico, tendo em vista a sua escassez.
Assim, considera que em situações de seca, por exemplo, a destinação
prioritária que deve ser dada a mesma é para o uso humano e, também, para os
animais.
Justamente pela importância de tal bem é que a referida lei prevê que
a gestão e a implementação de políticas públicas ligadas à questão da água deve
ser feita de forma centralizada, com a participação não somente do Estado, mas
também dos usuários do serviço e da comunidade em geral. Além disso, talvez
o objetivo de tal politica que tenha mais destaque seja assegurar à atual e às
futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade
adequados aos respectivos usos, bem como a utilização racional e integrada dos
recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvi-
mento sustentável.

41
Também em matéria processual penal ambiental, a Lei nº 9.605/98
(Crimes Ambientais). A partir da entrada em vigor da referida lei, será conside-
rado crime ambiental todo e qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos
que compõem o ambiente: flora, fauna, recursos naturais e o patrimônio cultu-
ral, sendo o responsável punido com sanções penais e administrativas, de forma
a centralizar toda à proteção ao meio ambiente (penas uniformes e infrações
claramente definidas). Surge a possibilidade de responsabilização das pessoas
jurídicas, permitindo que grandes empresas sejam responsabilizadas criminal-
mente pelos danos que seus empreendimentos possam causar à natureza. Passa
a englobar não somente as agressões que provocam danos ao meio ambiente,
mas também condutas que ignoram normas ambientais, mesmo que não sejam
causados danos ao meio ambiente. E, por fim, torna clara a possibilidade de
utilização da ação civil pública em face da prática de crimes ambientais, como
garantidora da necessária proteção ao meio ambiente.

As leis ligadas ao Patrimônio Genético, em especial a Lei nº 11.105/05


que, de forma resumida, estabelece normas de segurança e mecanismos de fis-
calização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte,
a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a
comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de orga-
nismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como dire-
trizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a
proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio
da precaução para a proteção do meio ambiente.
O novo Código Florestal (Ambiental), criado pela Lei nº 12.651/12 que
dispõe, resumidamente, sobre os limites de atuação dos particulares em rela-
ção aos seguintes institutos jurídicos criados artificialmente: Amazônia Legal
(composta pelos Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá
e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de
Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão);
Área de Preservação Permanente – APP (área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas);
Reserva Legal (área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,

42 Direito Ambiental
Tema | 01
delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação
e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodi-
versidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa,
ressaltando que tais áreas são insuscetíveis de desmatamento e devem ser man-
tidas em sua função ecológica, sendo possível, apenas, o manejo florestal (corte
seletivo de árvores), desde que haja autorização do órgão ambiental competen-
te expedida em plano de manejo, nos termos do artigo 17 do Novo Código);
área de manejo sustentável (administração da vegetação natural para a ob-
tenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os me-
canismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se,
cumulativa ou alternativamente, utilização de múltiplas espécies madeireiras
ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização
de outros bens e serviços).

ESTOCOLMO, Conferência. Leia a íntegra do documento. Disponível em:


http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc, Acesso em:
01 Out. 2015.

A leitura do referido diploma legal é por demais importante, tendo em vista que
o mesmo serviu como um dos pilares básicos para a elaboração de diversas leis
esparsas sobre o meio ambiente no Brasil e também como base para a criação de
um capítulo inteiro dentro de nossa Constituição destinado justamente à prote-
ção do meio ambiente.

AGUIAR, Marcelo. Colheita milionária. Época , n.254, p.60, 31 mar. 2003.

Matéria importante para que seja possível compreender os impactos provoca-


dos pela intervenção humana, previsíveis ou não, no que se refere especifica-
mente ao chamado meio ambiente natural, por meio da manipulação genética
de sementes, também conhecida como alimentos transgênicos (OGN).

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Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima. Leia a íntegra do do-
cumento. Disponível em: http://hotsite.mma.gov.br/consultapublicapna/. Acesso
em: 02 Out. 2015.

Documento de fundamental importância para que possamos compreender me-


lhor o poder que as chamadas fontes materiais do Direito Ambiental exercem
sobre os órgãos oficiais responsáveis pela elaboração das chamadas fontes for-
mais do Direito Ambiental.

Aplicação prática do Princípio da Precaução. Leia a íntegra do documento.


Disponível em: http://portal.mda.gov.br/o/1314658. Acesso em: 05 Out. 2015.

Somente com base na leitura integral do referido recurso interposto pelo IBA-
MA será possível ao aluno perceber, claramente, a aplicação do chamado Prin-
cípio da Precaução, no caso concreto da produção e comercialização de milho
transgênico.

No Conteúdo 1 procuramos trabalhar a questão da importância cada vez maior do


tema meio ambiente não somente nas mídias, mas também em nossa própria vida
pessoal. Demonstramos a evolução da conscientização ambiental no Brasil, bem
como procuramos passar a noção do que se entende por meio ambiente e Direito
Ambiental, para que fosse possível compreendermos a classificação e relação do
Meio Ambiente com outras ciências afins e com os outros ramos do Direito.

No Conteúdo 2 procuramos trabalhar os diversos tipos de Meio Ambiente (na-


tural, artificial, cultural, do Trabalho e patrimônio genético). Com base nisso,
tornou-se possível explicar e entender a relação do Direito Ambiental com ou-
tras ciências afins e outras áreas da Ciência Jurídica, demonstrando a autono-
mia do mesmo como ciência a ser estudada. Assim, tornou-se possível passar a
estudar as fontes e princípios ambientais específicos existentes.

44 Direito Ambiental
Tema | 01
No Conteúdo 3, passamos ao estudo dos diversos princípios utilizados na seara

Direito Ambiental: origem, evolução, fundamentos e sua aplicação no Direito Brasileiro


ambiental, tais como: prevenção, precaução, poluidor-pagador, da responsabi-
lidade, dentre outros. Com isso, tornou-se possível entender a sistemática bási-
ca que permeia o estudo e a aplicação do Direito Ambiental aos casos práticos.

Por derradeiro, no Conteúdo 4, foi feito um breve panorama de algumas normas


existentes em nosso ordenamento jurídico que possuem ligação direta com o
Direito Ambiental. Passamos assim, ao leitor, uma breve ideia de quais são as
legislações mais utilizadas no dia a dia das demandas ambientais.

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