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Aspectos gerais
do Direito
Ambiental
Tema
01
METODOLOGIA
DIREITO AMBIENTAL:
CIENTÍFICA
ORIGEM, E
EVOLUÇÃO,
TÉCNICAS DE E
FUNDAMENTOS
ESTUDO
SUA APLICAÇÃO NO
DIREITO BRASILEIRO
Neste tema, vamos estudar o que é a
disciplinaNestede Metodologia
primeiro tema Científica e por que
a ser desenvolvi-
ela
do, éo importante para a sua
principal objetivo formação
é propiciar umacadêmica
primeiro
econtato
profissional. Como estamos no início
do aluno com a disciplina de Direito dos conte-
Am-
údos da disciplina, estudaremos também
biental, de forma a transmitir ao leitor as noçõestécnicas
ebásicas
procedimentos
sobre suapara organização
evolução históricadosinternacio-
estudos e
um
nal melhor aproveitamento
e nacional, bem como, no estudo
ainda quededetextos.
forma
breve, passar o conceito de meio ambientesuces-
É importante destacar que o seu e de
so nos estudos e, consequentemente, profissional,
Direito Ambiental, tornando possível a compre-
depende
ensão de apenas
sua áreadedevocê, da suabem
aplicação, capacidade
como dedeseu ir
em frente
caráter e de buscar “aprender a aprender”. Você
autônomo.
perceberáAinda
que a neste
Metodologia
primeiroCientífica vai se
tema, será tor-
traba-
nar
lhadauma auxiliardos
a questão fundamental
vários tiposemde seus
meioestudos.
ambien-
te existentes, bem como a relação entre o Direito
Objetivos da Aprendizagem
Ambiental não somente com outras ciências do
Ao terminar a leitura
saber humano, mas também e as atividades do Tema
com outros ramos1,
você deverátudo
do Direito, ser capaz de: que seja possível che-
isso para
D entender
garmos aDparte mais aimportante
importânciado da disci-
presente
plinadas
tema: a questão para a formação
fontes acadêmica
e dos princípios apli-e
profissional;
cáveis na seara ambiental, fechando com uma
breve “localização” procedimentos
D D adotar e técnicas
do Direito Ambiental na
na le-
organização dos estudos;
gislação brasileira.
DD desenvolver o hábito pela leitura,
realizando análises de texto;
DD praticar as técnicas de sublinhar,
esquematizar, resumir e fichar no
estudo de texto.
1.1 Evolução histórica, conceito de Direito Ambiental e de
meio ambiente
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Tema | 01
Tais medidas eram chamadas de Ordenações Afonsinas, que vigora-
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de vizinhança”, objetivando evitar o mau uso da propriedade, disposições estas
repetidas em maior ou menor grau no atual Código Civil em vigor; posterior-
mente, o Decreto nº 16.300/23, que criou o Regulamento de Saúde Pública; os
recursos hídricos passaram a ser regidos pelo Código das Águas ou Decreto-lei
nº 852/38; a pesca pelo Código de Pesca ou Decreto-lei nº 794/38; o solo e o
subsolo pelo Código de Minas ou Decreto-lei nº 1.985/40; a fauna pelo Código
de Caça ou Decreto-lei nº 5.894/43.
Somente a partir de meados de 1960 é que se deu início a uma segunda
etapa dessa normatização ambiental, ainda sem o viés atual, com a edição de
diplomas legais que tinham em seu bojo referências mais contundentes às cha-
madas questões ambientais.
Nesse cenário, surgiram diversas normas de importância ambiental,
tais como: o chamado Estatuto da Terra ou Lei nº 4.504/64; o Código Florestal,
Lei 4.771/65 (posteriormente revogado pela Lei nº 12.651, de 25/05/2012); a
Lei de Proteção à Fauna ou Lei nº 5.197/67, o Código de Pesca ou Decreto-lei nº
221/67 e o Código de Mineração ou Decreto-lei nº 227/67.
Todavia, nesse momento histórico-jurídico, o meio ambiente não era
tratado sobre o prisma da necessidade de sua proteção, mas tão somente pelo
viés do direito de propriedade, ou seja, não havia uma real preocupação com a
preservação ambiental, pois não se levavam em conta as relações de cada um
dos recursos naturais entre si, como se cada recurso ambiental específico não
interferisse no restante do meio natural e social, isso sem falar dos impactos
provocados pelas atividades econômicas necessárias para a exploração de tais
recursos. Em outros termos: o Estado reduzia sua atuação àqueles recursos
ambientais naturais que pudessem ter algum valor econômico.
A terceira fase, conhecida como holística, iniciou-se de forma acanha-
da a partir de meados da década de 60, com a divulgação, pela primeira vez, de
dados relativos ao aquecimento global do planeta e à destruição das espécies,
assuntos estes que, após mais de meio século de sua primeira divulgação, pa-
recem cada vez mais atuais e importantes. Apenas a partir desse momento é
que a sociedade civil, organizada ou não, começou a demonstrar lampejos de
preocupação com a questão ambiental sob outro prisma, o da conservação e não
meramente da questão patrimonial.
Corroboramos tal afirmação com a realização de um evento em Esto-
colmo, na Suécia, em 1972, organizado pela Organização das Nações Unidas,
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chamado de 1ª Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente. Ao final
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Partindo de uma noção leiga, podemos dizer que o meio ambiente é
o conjunto de todas as coisas animadas e inanimadas que existem no Planeta
Terra ou em alguma região específica do globo. Esse ambiente interage, invaria-
velmente, com todas as espécies do planeta e talvez a interação mais prejudicial
seja a provocada pelos seres humanos. Convém destacar, ainda, que os recursos
naturais, na maioria das vezes, não podem ser claramente limitados, tendo em
vista sua própria natureza, ou seja, como limitar o ar, a água, o clima, dentre
outros tantos componentes naturais?
Partindo dessa ideia geral que temos acerca do que é o meio ambien-
te, necessário se faz analisarmos tal conceito sobre um prisma um pouco mais
fechado, qual seja, com base nas ideias contidas no texto final elaborado na
chamada Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada
em Estocolmo, Suécia, em 1972, quando os diversos estudiosos presentes no
evento assim definiram o meio ambiente: “O meio ambiente é o conjunto de
componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capaz de causar efeitos di-
retos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as ati-
vidades humanas.”
No âmbito nacional, somente no ano de 1981, portanto quase dez anos
após a referida Conferência, o legislador brasileiro preocupou-se em definir, le-
galmente, o que é meio ambiente. Tal conceito foi trazido por intermédio da
Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, popularmente conhecida como “Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente” que, mais especificamente em seu art. 3º,
inciso I, assim dispõe: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas”.
Confrontando o entendimento leigo com os posicionamentos nor-
mativos supracitados, percebemos diversas semelhanças entres os mesmos,
em especial no tocante à referência a intervenção humana ou a produção de
efeitos nas atividades humanas. Torna-se cristalino, portanto, que mais cedo
ou mais tarde, seria necessário estudo sistematizado do meio ambiente, como
forma de regulamentar e limitar os possíveis prejuízos causados ao mesmo
pela atividade humana.
16 Direito Ambiental
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Assim, diversos doutrinadores pátrios se preocuparam em nos trazer a
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Somente com base nessa reduzida exposição da evolução histórica do
Direito Ambiental no Brasil e no Mundo, torna-se possível a compreensão ne-
cessária para passarmos a estudar como o mesmo deve ser classificado, além do
entendimento das relações existentes entre tal disciplina do direito com os mais
diversos ramos das ciências jurídicas ou não, tendo em vista tratar-se de uma
matéria que demanda, necessariamente, um estudo interdisciplinar para sua
correta compreensão.
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Tema | 01
a coexistência, num mesmo cenário, das construções artificiais (meio ambiente
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Para tornar mais clara essa classificação, basta citar alguns elementos
que se encontram no chamado meio ambiente natural, como por exemplo: o
solo, a água, o ar atmosférico, a flora e fauna, todos eles “criados” pela Natureza
e que tornam possível atingir um ponto de equilíbrio entre os seres vivos e o
meio em que vivem.
Talvez o dispositivo constitucional que mais se aproxime desse enten-
dimento desenvolvido em sede doutrinária seja o artigo 225, caput e no § 1º,
incisos I e VII e § 2º, que dispõe:
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o meio ambiente, de forma a “adaptar” o mundo ao seu redor às suas necessi-
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Será concreto quando um simples elemento integrante do ambiente
artificial, como uma casa antiga construída na época da colonização, for tom-
bada pelo Poder Público, sendo-lhe atribuída uma qualidade turística, artística,
paisagística, arquitetônica ou histórica, conforme previsto na Carta Magna, em
seu artigo 216:
I - as formas de expressão;
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devendo tal local ser adequado para o trabalho, apresentando condições salubres,
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V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, mé-
todos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida
e o meio ambiente;
24 Direito Ambiental
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dispositivos contidos em nossa Constituição não são mais do que reflexos de
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prejudicado faça cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e
à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Com a elaboração da chamada Lei de Crimes Ambientais, passaram a
existir diversos pontos de contato entre o Direito Penal e o Direito Ambiental,
vez que atitudes anteriormente praticadas pelos seres humanos que não eram
passiveis de punição pelo Poder Público passaram a ser criminalizadas desde
que nocivas ou potencialmente nocivas ao meio ambiente.
Também existe um ponto de toque entre o Processo Civil e o Direito
Ambiental. São as chamadas ações judiciais em matéria ambiental, dentre as
quais, as mais conhecidas, sem dúvida, são a ação civil pública e a ação popular,
instrumentos estes que serão devidamente estudados mais adiante neste livro.
E no Direito Tributário, o Direito Ambiental se faz presente pela ado-
ção de regimes fiscais, benéficos as propriedades ambientalmente protegidas
por lei, por meio de ferramentas denominadas como extrafiscais, ou seja, o
Fisco utiliza os tributos para estimular ou desestimular uma determinada con-
duta que seja nociva ao meio ambiente. Exemplo claro dessa prática cada vez
mais comum no Brasil é a criação, em algumas regiões, dos chamados ICMS e
IPTU verdes.
O Direito Trabalhista se relaciona com o Direito Ambiental, quando
passamos a analisar detidamente o conjunto de normas que foi criado e que
busca justamente garantir um nível mínimo de segurança e qualidade de vida
no ambiente de trabalho.
Destarte, o Direito Ambiental se firmou como um ramo autônomo do
Direito e a cada dia ganha maior importância, oferecendo embasamento doutri-
nário e instrumentos processuais para que o meio ambiente seja efetivamente
preservado ou reparado e para que os seus degradadores sejam punidos.
Somente com base nessa visão multidisciplinar é que será possível de-
linearmos, com maior precisão, quais serão as fontes e os princípios que serão
adotados e utilizados pelo Direito Ambiental, assuntos que serão abordados no
próximo conteúdo. .
26 Direito Ambiental
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1.3 Fontes e Princípios do Direito Ambiental
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Já as segundas, as formais, estão muito mais ligadas ao modo como o
direito é produzido e se articula, quando de sua aplicação prática, em relação
aos destinatários das normas em sentido amplo. Em contrapartida, podem ser
consideradas como os meios pelos quais as normas jurídicas são “comunicadas”
à sociedade, de maneira a possibilitar que os cidadãos de determinada região
geográfica possam conhecê-las, identificando quais seus direitos e deveres e,
especificamente, aos operadores do direito, não somente as identificarem, mas
primordialmente para que saibam como poderão utilizá-las em favor dos inte-
resses de seus clientes.
Para concretizarmos essa ideia de fontes formais, podemos citar, ainda
com base no exemplo da seca, o programa chamado “Água Para Todos”, criado
pelo Ministério da Integração Nacional em convênio com o Governo do Estado
de Sergipe. A ideia central do projeto é restabelecer o fornecimento de água para
diversas famílias sergipanas que residem em áreas afetadas pela falta de chuva,
a começar pelo município de Japaratuba, localizado no Leste Sergipano. Numa
primeira etapa, o poder público pretende beneficiar cerca de 1.600 famílias e,
posteriormente, numa segunda etapa, atingir localidades rurais de mais de 28
municípios sergipanos. Esse é um exemplo claro de um fato social/econômico
que serviu como mola propulsora e diretriz para compelir o legislador a trans-
formar aquilo que ainda se encontrava em estado abstrato em algo concreto, o
que foi feito por meio da produção normativa, neste caso o projeto supracitado.
Coadunando-se com o nosso raciocínio acima esposado, alguns auto-
res, dentre eles Paulo de Bessa Antunes, em sua obra Direito Ambiental, enten-
dem que existem e podem ser utilizadas as seguintes fontes na seara ambiental:
fontes materiais (movimentos populares, descobertas científicas e doutrina ju-
rídica) e fontes formais (a Constituição Federal de 1988, as leis, os atos interna-
cionais firmados pelo Brasil, as normas administrativas originadas dos órgãos
competentes e a jurisprudência).
Como exemplo de movimentos populares em nível global, temos os
chamados Whale Wars – Defensores de Baleias (que se preocupam em sua es-
sência em atrapalhar as atividades de pesca dos navios baleeiros japoneses).
Já no campo das descobertas científicas, talvez umas das mais impor-
tantes, porém não tão recente, foi a descoberta dos reais efeitos do CFC (clo-
rofluorcarboneto) na camada de Ozônio que envolve o Planeta Terra. Somen-
te com base nesta descoberta é que foi possível a reunião de diversos países,
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que deu origem ao chamado Protocolo de Montreal, norma que dispõe sobre as
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Quanto à jurisprudência, se formos nos ater ao rigorismo formal da
classificação das fontes do direito, esta não poderia ser considerada como fonte
formal. Entretanto, com o devido respeito, iremos considerá-la como tal, tendo
em vista um papel importantíssimo que a mesma desempenha: servir de norte
para que o aplicador de direito possa entender qual o posicionamento de cada
um dos Tribunais pátrios, tendo em vista que a jurisprudência nada mais é do
que a reiteração do entendimento de uma decisão de um determinado tribunal.
Por fim, localizadas num nível bem mais baixo no entendimento de Kel-
sen, mas de importância prática fundamental, encontram-se as normas admi-
nistrativas originárias dos órgãos competentes. Entendemos desta forma porque
a legislação ordinária infraconstitucional serve apenas para dispor de maneira
geral e abstrata sobre os temas ligados ao direito ambiental, não sendo sua fina-
lidade, quer por sua natureza normativa, quer pela infinidade de possibilidades
fáticas, regulamentar os procedimentos necessários para toda e qualquer ativi-
dade que seja ou possa ser nociva ao meio ambiente. Neste âmbito, destacam-se
as chamadas resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
que servem justamente para detalhar a aplicação da lei, função esta que atual-
mente vem sendo amplamente admitida pela maioria dos doutrinadores pátrios.
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os princípios devem ser tratados de forma diferenciada em relação às regras,
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quando eles colidem, um será aplicado mais intensamente do que o outro, sem
excluir o de menor intensidade. De forma antagônica, no caso de colisão entre
regras, levando-se em consideração que as mesmas possuem somente a cha-
mada dimensão de validade, só podem ser cumpridas ou não, devendo, quando
da análise de sua aplicação em determinado caso concreto, ser o mesmo solu-
cionado pelos critérios clássicos utilizados na ciência do direito, quais sejam:
hierárquico; cronológico e da especialidade.
Feitas estas rápidas observações, passemos ao estudo dos princípios
mais importantes utilizados na esfera ambiental, já ressaltando que o rol apre-
sentado não é taxativo.
Princípio da Prevenção
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resumidamente estabelecer: critérios e padrões da qualidade ambiental e de nor-
Princípio da Precaução
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afirmar que, no caso específico da aplicação, em determinada situação concre-
ta, do chamado princípio da precaução, devemos partir da premissa de que o
mesmo autoriza ao julgador se utilizar do mecanismo processual da inversão do
ônus da prova, desde que reste devidamente comprovada a existência do nexo
de causalidade provável entre a atividade exercida e a degradação provocada.
Assim, transfere-se essa obrigação ao agente que provocou o dano am-
biental, de forma que o mesmo passa a ter a incumbência de comprovar, de
maneira prática e irrefutável, que não o causou ou que a substância lançada ao
meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva.
Dessa forma, é fundamental proteger de maneira mais eficaz o meio
ambiente, pois a comprovação de não lesividade de determinadas condutas pas-
sa a recair sobre a parte mais forte técnica e economicamente, regra geral as
grandes empresas, retirando-se das comunidades hipossuficientes, como as ri-
beirinhas, esta difícil tarefa processual.
O principal objetivo da precaução é justamente estabelecer quais ativida-
des humanas devem ser vedadas, salvo se houver a certeza que as alterações não
causarão reações adversas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade
respostas conclusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos.
Este princípio da precaução também surgiu com base em uma fonte
formal internacional, qual seja a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Am-
biente e Desenvolvimento, que o diferenciou e separou em definitivo em relação
ao princípio da prevenção. O chamado Princípio nº 15 do referido documento,
determinava que o instituto da precaução deveria ser amplamente observado
pelos Estados, de acordo com suas capacidades, em especial quando a amea-
ça de determinado dano ambiental não tiver nenhum precedente científico que
possa servir para sabermos a possível extensão de tais danos, bem como de quais
medidas devem e podem ser utilizadas para minimizar o efeito degradador.
No entanto, em que pese o fato desta verdadeira cisão entre os dois
referidos princípios, é de se destacar que parte dos doutrinadores brasileiros,
tais como José Afonso da Silva e Toshio Mukai, não consideram a precaução
como um princípio do Direito Ambiental. Já outros autores como Celso Antônio
Pacheco Fiorillo entendem que o mais correto é adotar o princípio da prevenção
como sinônimo ou como gênero do qual o princípio da precaução é espécie.
Todavia, com o devido respeito, discordamos de tais posicionamentos,
entendendo pela sua colocação como princípio, tendo em vista que o âmago de
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sua análise deve ser feito, em relação à sua aplicação, somente em casos onde se
Princípio do Poluidor-Pagador
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a condenação do poluidor de forma simultânea, em obrigação de fazer, não fa-
zer e indenizar, ou seja, traçando um paralelo com o direito das obrigações. De
acordo com o posicionamento do STJ, estaremos diante das chamadas obriga-
ções cumulativas ou conjuntivas, tudo isso com base na construção teórica de
que o dano ambiental, na realidade, possui inúmeras dimensões, quais sejam:
ética, temporal, ecológica e patrimonial, dentre outras. Assim, somente se apli-
cado dessa forma é que será possível garantir uma proteção mínima ao bioma
afetado e, ainda, reparar as vítimas do dano.
De forma direta, o constituinte quis dizer, sem rodeios, que quando de-
terminada pessoa ou empresa provoca uma degradação ambiental, este poluidor
na realidade está invadindo um bem de uso comum do povo, maculando um ou
mais direitos de terceiros e, assim, devendo arcar com os custos desta invasão.
Princípio da Responsabilidade
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dos interesses dos particulares, de maneira que seja devidamente garantida e
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Princípio da Função Social e Ambiental da Propriedade
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1.4 O Direito Ambiental na Legislação Brasileira
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mentador do Poder Público Federal; a utilização, perseguição, caça ou apanha
de espécies da fauna silvestre em terras de domínio privado, mesmo quando
permitidas na forma do parágrafo anterior, poderão ser igualmente proibidas
pelos respectivos proprietários, assumindo estes a responsabilidade de fisca-
lização de seus domínios; proibição da caça profissional, além do comércio de
espécimes da fauna silvestre e de produtos e objetos que impliquem na sua caça,
perseguição, destruição ou apanha.
Ligada diretamente à questão da necessidade crescente e urgente da
produção de energia pelo Brasil, temos a Lei nº 6.453/77 (Atividades Nucle-
ares), que cria a responsabilidade civil específica por danos nucleares e a
responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares,
determinando que será exclusivo do operador (pessoa jurídica devidamente
autorizada para operar instalação nuclear) independentemente da existência
de culpa, a responsabilidade civil pela reparação de dano nuclear causado por
acidente nuclear.
Normas relativas ao parcelamento do solo urbano, mais especifica-
mente a Lei nº 6.766/79, que consiste na subdivisão de gleba, situada em zonas
determinadas do território municipal urbano, em lotes destinados à edificação,
compreendendo duas modalidades básicas (loteamento e desmembramento),
procurando sempre conseguir organizar o espaço urbano destinado à habitação.
A lei que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº
6.938/81) definiu conceitos básicos como o de meio ambiente, de degradação
e de poluição e determinou os objetivos, diretrizes e instrumentos, além de ter
adotado a teoria da responsabilidade, trazendo a definição de Política Nacional
do Meio Ambiente como o conjunto de diretrizes gerais estabelecidas por lei
que tem o objetivo de harmonizar e de integrar as políticas públicas de meio
ambiente dos entes federativos, tornando-as mais efetivas e eficazes. Por fim,
ainda criou a obrigatoriedade dos estudos e respectivos Relatórios de Impacto
Ambiental (EIA-RIMA).
Também importante destacarmos a Lei conhecida como Lei da Área
de Proteção Ambiental (APA) – Lei nº 6.902/81. Criou as estações ecológicas
(áreas representativas de ecossistemas brasileiros, destinadas à realização de
pesquisas básicas e aplicadas de Ecologia, à proteção do ambiente natural e ao
desenvolvimento da educação conservacionista), determinando, dentre outras
coisas, que 90% (noventa por cento) ou mais da área de cada Estação Ecológica
40 Direito Ambiental
Tema | 01
será destinada, em caráter permanente, e definida em ato do Poder Executivo,
41
Também em matéria processual penal ambiental, a Lei nº 9.605/98
(Crimes Ambientais). A partir da entrada em vigor da referida lei, será conside-
rado crime ambiental todo e qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos
que compõem o ambiente: flora, fauna, recursos naturais e o patrimônio cultu-
ral, sendo o responsável punido com sanções penais e administrativas, de forma
a centralizar toda à proteção ao meio ambiente (penas uniformes e infrações
claramente definidas). Surge a possibilidade de responsabilização das pessoas
jurídicas, permitindo que grandes empresas sejam responsabilizadas criminal-
mente pelos danos que seus empreendimentos possam causar à natureza. Passa
a englobar não somente as agressões que provocam danos ao meio ambiente,
mas também condutas que ignoram normas ambientais, mesmo que não sejam
causados danos ao meio ambiente. E, por fim, torna clara a possibilidade de
utilização da ação civil pública em face da prática de crimes ambientais, como
garantidora da necessária proteção ao meio ambiente.
42 Direito Ambiental
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delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de
A leitura do referido diploma legal é por demais importante, tendo em vista que
o mesmo serviu como um dos pilares básicos para a elaboração de diversas leis
esparsas sobre o meio ambiente no Brasil e também como base para a criação de
um capítulo inteiro dentro de nossa Constituição destinado justamente à prote-
ção do meio ambiente.
43
Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima. Leia a íntegra do do-
cumento. Disponível em: http://hotsite.mma.gov.br/consultapublicapna/. Acesso
em: 02 Out. 2015.
Somente com base na leitura integral do referido recurso interposto pelo IBA-
MA será possível ao aluno perceber, claramente, a aplicação do chamado Prin-
cípio da Precaução, no caso concreto da produção e comercialização de milho
transgênico.
44 Direito Ambiental
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No Conteúdo 3, passamos ao estudo dos diversos princípios utilizados na seara
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