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(Pastoral da Juventude)
Pe. Horácio Penengo, sdb
Introdução
A palavra “projeto” vem do latim “pro-iectus” que quer dizer “estar lançado a...”. Toda a
pessoa é livre para escolher o que quer ser e o que quer fazer com sua vida. Mas sua
liberdade é limitada e condicionada. Esta é sua suprema dignidade, sua grandeza e, ao
mesmo tempo, seu drama. O projeto de vida é um elemento constitutivo de todo ser
humano. A pessoa humana se entende como projeto aberto que se realiza em comunidade
e liberdade.
Quando se diz “projeto de Deus”, muitos tendem logo a pensar que se está dizendo
que Deus tem desde sempre um projeto sobre o mundo e sobre a história já definido,
pensado e minuciosamente calculado, independente de tudo o que as pessoas possam
fazer. Mas não é assim. Pelo contrário, desde o começo, o projeto de Deus conta com os
homens, é um projeto compartilhado. É um projeto por e para nós, que não se leva a cabo
sem nós.
Um dos aspectos mais originais e característicos do Deus dos cristãos é que Ele se
revela e se manifesta na história, de modo progressivo, humano. E não se faz em forma de
explicação ou de comunicação conceitual dirigida ao entendimento, senão em forma de
doação, de acolhida gratuita, de convite a participar de sua vida, de sua plenitude, de seu
gozo. É um mistério de amor e solidariedade. Convida a relacionar-se com Ele: “Eu serei
teu Deus e tu serás meu povo” (Ex 6,8).
O projeto de Deus se realiza em Jesus, por seu Espírito (Ef 1,3-14). É um projeto de
salvação, de realização plena do humano: corresponder ao amor livre e gratuito de
Deus. O projeto de Deus é a realização plena do ser humano e se dá quando os homens
reconhecem e acolhem o amor de Deus. O projeto de Deus é a plena comunhão de Deus
com os homens. É tarefa e é dom.
Ao comunicar-se como relação plena e como doação total, Deus dá origem a uma
alteridade sem ruptura e a uma perfeita comunhão entre vida e missão. Aparece como a
fonte, a referência e a meta das possibilidades dos seres humanos, chamados a viver a
plena comunhão com Deus e com os demais (Jo 17,21-23).
Jesus nasceu em Belém. Viveu e cresceu com sua família em Nazaré. Na cultura e
nas realidade de seu povo e em diálogo com o Pai, foi descobrindo e construindo seu
projeto. Sua vida foi um contínuo processo de maturidade pessoal e comunitária na qual foi
assumindo e levando a pleno todas as realidades da vida humana. Lutou com energia e
decisão para pô-lo em prática e deu a vida para realizá-lo.
Elegeu ser mais um, “se fez um de tantos” (Fl 2,5). Não foi um super-homem nem
um ser excepcional. Foi simplesmente um homem do povo, que partilhou suas lutas e
experiências. Nada o distinguiu. Levou uma vida simples. Veio a salvar toda a humanidade
e não saiu da Palestina. Veio a salvar a história inteira e viveu só trinta e três anos, e
destes, trinta no anonimato...
Recebeu a vida de sua família, de seu povo, de sua cultura; foi tendo experiências e
refletindo sobre elas, foi amadurecendo. As parábolas e a linguagem maravilhosa e direta
de seus discursos, os exemplos próximos e familiares, falam de sua paixão pela vida.
Romper o anonimato e sair a pregar por Israel, não foi algo repentino e estranho, e sim
algo para começar a divulgar o que foi interiorizando durante anos.
· O diálogo e relação com o Pai. Jesus viveu seus anos de Nazaré sob o olhar do Pai
que vê no escondido, que olha e descobre a grandeza das pessoas na simplicidade da
vida. Esteve atento a sua chamada e O encontrou sempre no cotidiano. Assim foi
adquirindo essa experiência íntima de pertença ao Pai. Cresceu interpretando cada vez
mais a vida desde o projeto do Pai. Lucas diz que “crescia em sabedoria, em idade em
graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52).
A existência de Jesus esteve unificada por um desejo, por um valor central, por uma
experiência original: “fazer a vontade do Pai” (Jo 4,34).
Seu batismo no Jordão foi um acontecimento significativo. Foi batizado por João...Se
pôs na fila com os pecadores...O enviado de Deus para a salvação de seu povo não se
manifestou como poder esplendoroso e dominador, senão como solidariedade amorosa e
misericordiosa com os pecadores. Quis mostrar que Deus está com os pecadores, que
tomo sobre si seus males e que se identifica com eles e com sua condição, para libertá-los
de sua situação e de seu pecado.
Desde essa primeira aparição pública, ficou marcada uma linha fundamental de seu
projeto de vida: não salva aos homens a partir de fora, senão identificando-se com
eles e convidando-os, a partir de sua situação, a converter-se e a começar uma nova
relação com Deus e com os demais.
Sem dúvida, também ele teve que discernir seu projeto de vida e buscar o caminho
para realizá-lo. Como a toda pessoa humana foram apresentadas diversas opções. Seu
lugar de discernimento foi o “deserto”, onde experimentou a tentação de seguir caminhos
fáceis. Ali rechaçou a tentação de impor-se pelo poder de Deus em vez de manifestar-se
na solidariedade e no amor pelos pecadores e pelos mais abandonados. Sem dúvida, viveu
também momentos de desconcerto, sofreu rechaços e abandonos e teve que aprender a
obedecer e a ser fiel ...Seu projeto de vida foi um caminho de fidelidade que foi-se
construindo pouco a pouco, passo a passo.
O projeto de vida de Jesus tem como centro e como meta o anúncio e a realização
do Reino de Deus. Suas primeiras palavras na Galiléia mostram isso com clareza: “O Reino
de Deus está próximo. Convertam-se e creiam na Boa Notícia” (Mc 1,15).
O Reino de Deus é o grande projeto do Pai, a grande utopia de Deus, de fazer uma
família de filhos e de irmãos, um lar para todos, uma humanidade livre de toda a opressão ,
reconciliada com a natureza, entre si e com Deus, onde todos possam sentir e ser de
verdade, senhores do mundo, irmãos dos outros e filhos de Deus.
É o Reino de vida, porque Deus dá sua vida em abundância (Jo 10,10). É um Reino
de justiça e liberdade porque “nos libertou para que fôssemos realmente livres”(Gl 5,1). É
um Reino de alegria e de paz, porque está fundado no triunfo de Jesus Ressuscitado (Jo
20,20).
O Reino é uma atitude, uma prática, uma vida, uma pessoa que tem o rosto e o
nome de Jesus de Nazaré, “imagem de Deus invisível” (Cl 1,15); um testemunho que
revela a presença gratuita de Deus agindo, libertando seu povo, realizando seu plano de
salvação, mostrando que é o Senhor da história e convidando a forma parte de seu projeto.
O Reino dá sentido à história e à vida que está em processo de plena realização. É “o já e
o ainda não”; é presente que ainda não alcançou a plenitude e a realização definitiva (Lc
21,31).
Em Jesus, projeto de vida e Reino de Deus se identificam. O Reino é o valor que
unifica sua pessoa, é sua paixão; é o que anuncia e o que vive com coerência e plenitude
até a últimas consequências.
Ainda que haja diversas formas de expressar o que é e o que propõe ser o Reino de
Deus, destacamos aqui três características que surgem da própria prática de Jesus: Jesus
optou pelos pobres, Jesus proclamou e viveu as Bem-aventuranças, Jesus formou uma
comunidade de discípulos.
As Bem-aventuranças são um convite a crescer nessa vida nova, a crer que a vida
vai-se transformando no seguimento de Jesus. Respondem a uma nova forma de ser e de
amar, que vai além do que qualquer pessoa pode projetar a partir de si mesma. É um
convite a abrir-se aos paradoxos do projeto cristão: pobreza-liberdade, amor-
solidariedade, morte-vida, cruz-ressurreição, fraternidade-realização pessoal, entrega-
domínio de si, silêncio-diálogo, oração-compromisso, fidelidade-felicidade, sacrifício-
fecundidade.
Para realizar sua missão, Jesus reuniu em torno de si um grupo de gente simples,
alguns jovens e outros com experiência de vida e do mundo do trabalho; um grupo de
pessoas com quem viver de maneira íntima a experiência do Reino.
A experiência original que impulsiona sua vida e o faz dar-se aos demais com uma
entrega impressionante é a experiência de Deus como “Abbá” (Rm 8,15), como pai íntimo e
próximo, com “seu pai e pai de todos (Jo 20,17). É uma experiência única, irrepetível, que
quer partilhar...Tem consciência relacional, referencial. Se sente plenamente dom do Pai e
por isso se apresenta como seu revelador, como alguém com quem não tem distâncias
nem segredos (Jo 17,21).
Sabe que o Reino de Deus, isto é, Deus mesmo atuando na humanidade, está
próximo porque o experimenta em sua oração e em sua relação com ele. Entre ele e o Pai
há total intimidade e compenetração. Veio para manifestar o coração do Pai, o amor
paternal de Deus aos homens. Por isso não só se refere a ele como “seu” Pai, mas fala a
seus discípulos como o Pai “de vocês”. No Reino, Deus não é o Senhor, é o Pai
misericordioso. No Reino não existe escravos, e sim filhos de Deus: não se pede
obediência ou submissão, e sim amor e livre participação.
Isto é quase o resumo de todo o evangelho. “Como o Pai me amou, assim também
vos amo...Este é meu mandamento, que se amem uns aos outros como eu vos tenho
amado” (Jo 15,9-12).Amar gratuitamente, totalmente, sempre, em todas as condições, sem
fazer distinções, sem esperar recompensa...
Esse “algo mais” move a Jesus a propor-lhe viver de acordo com o projeto de Deus:
as bem-aventuranças, o estilo peculiar de Jesus, pobre, disponível, em comunidade. Isso é
o que quer e o que propõe para todos. Mas para recebê-lo necessita uma atitude de busca
e abertura, desejar o encontro, perguntar-se... é uma proposta diferente para encher a
vida de sentido e plenitude.
O encontro com Jesus reorganiza os valores e nos faz “pessoas para os demais”: o
amor de Deus se faz princípio estruturante da vida, unifica o coração e torna possível uma
vida nova. O triunfo do amor sobre o egoísmo passa pela “loucura da cruz” (1Cor 1,18), “o
que perde a vida a recupera” (Mt 10,39). A vida cristã exige pôr em ação meios que façam
possíveis uma permanente conversão: oração, comunidade, acompanhamento, formação,
discernimento, compromisso evangelizador. É um caminho interior para o “ter os mesmo
sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5), com entranhas de misericórdia, em disponibilidade à
vontade do Pai, em atitude de serviço aos irmãos.
O projeto de vida faz relação à vocação como exigência pessoal e como chamada “a
partir de fora”. É um compromisso interior entusiasmante: converter-se no que cada um
deve chegar a ser para si mesmo, para os demais e para Deus.
O projeto de vida somente pode ser vivido quando a pessoa supera a atitude
egocêntrica e descobre um amor que liberta, que salva, que dá plenitude. Quando se
descobre profundamente amada por Jesus no que é. Jesus não ama a pessoa pelo que
vale, pelo que aparenta, pelo que dá, e sim pelo que é. Aceita e confia...
Jesus oferece um projeto de vida plena aos jovens (Mt 19,6-29; Mc 10, 7-31). A Pastoral
da Juventude deve propor o projeto de vida de Jesus como a plenitude de projeto de vida
para os jovens: o caminho de Jesus como o que plenifica e realiza a pessoa. Promover o
conhecimento da pessoa e da mensagem de Jesus. Apresentar o estilo de vida de Jesus
como referente aos jovens, a partir de uma experiência comunitária, com capacidade de
proposta a partir de animadores convencidos, com a mesma exigência de Jesus e do
Reino.
Os jovens tem uma inata aspiração para serem felizes e viver em plenitude. Vivem
esta aspiração com muita força, desejo e entusiasmo. A vida aparece para eles cheia de
“possibilidades” e potencialidades. Sentem uma exigência interior de enchê-la de sentido e
de significatividade: de “realizar-se na vida”.
A Pastoral da Juventude tem que ajudar aos jovens a descobrir que o projeto de vida de
Jesus responde às tendências e desejos mais nobres de seu coração:
· O Reino de Deus infunde nos jovens motivações e objetivos para viver seu desejo e
entusiasmo pela justiça e ajuda-os a descobrir onde estão os parâmetros da
verdadeira justiça.
Daí as perguntas “pedagógicas” que surgem diante de uma proposta sobre “projeto
de vida”: como nasce o próprio projeto de vida?, Como começa seu desenvolvimento
dentro da personalidade? Como se elabora e se afirma? Através de que processos
psicológicos toma corpo na pessoa? Por que certas pessoas não conseguem elaborar um
projeto de vida próprio, como projeção vital para o futuro e sua existência aparece então
como carente de vitalidade? Que fazer para descobrir e realizar o próprio projeto de vida?
São interrogações que não têm uma resposta única e definitiva. São como estímulos
que servem para impulsionar às pessoas a buscarem a resposta conveniente dentro do
viver cotidiano nas diversas etapas da vida.
O projeto de vida não é algo acabado que um dia se alcançou e se conseguiu para
sempre. É algo que cresce, se desenvolve, que sempre se está aprimorando... É um
processo que tem metas, passos, etapas, pessoas, gestos visíveis, tempos de avaliação.
Não são somente “sonhos”, ideais e valores... O projeto de vida vai-se iluminando a medida
que vai-se fazendo. Convém que esteja formulado e concretizado para evitar que seja algo
que fique “no ar”.
As necessidades da vida
Dentro de cada pessoa existe um conjunto de necessidades vitais que buscam uma
satisfação conveniente para obter o crescimento.
Os valores da vida
Viver para os valores significa não ter a si mesmo como centro e abrir-se, abandonar
o sentimento leviano e egocêntrico, para pôr-se em relação com o outro, com todos os
outros, com o cosmo, com Deus. Para o crente, há ainda uma nova dimensão: sabe que,
mediante a chamada dos valores, é Deus quem chama.
Por isso, para que a pessoas assuma os valores indispensáveis para o caminho de
sua liberdade é necessário que os descubra pessoalmente, através de diversas mediações.
Pode encontrá-los nos modelos educativos: toda pessoa que cresce tem referência
em muitos aspectos com “algumas pessoas-chave”. O projeto de fato se desenvolve e se
manifesta com a concorrência de terceiras pessoas. No começo está a mãe, logo o pai, em
seguida a família, os companheiros de brincadeiras, a escola, a turma, os amigos, os
colegas de trabalho, o grupo mais amplo. Dentro das situações pessoais e grupais, o
educador é percebido pelo jovem através do dinamismo psicológico da identificação e a
idealização como um modelo, como uma pessoas pela qual ele sente de alguma maneira
um prolongamento de si mesmo, realizadora dos próprios desejos e expectativas, uma
pessoa da qual tende-se a assumir ideais e estilo de vida, por quem nos sentimos
afiançados, um “testemunho luminoso” de uma realidade vital.
Este contato vivo entre a pessoa e os valores que “a põe em movimento” chama-
se interiorização. Cada vez mais, os jovens aceitam e convertem em próprios os valores,
porque os têm compreendido em si mesmos, objetivamente, e não porque são a realidade
indiscutível indicada pela família, a escola , o ambiente ou as pessoas influentes para eles.
Os valores não estão dentro das pessoas nem nos grupos humanos em estado
bruto, dispersos, separados. Melhor, polarizam-se em torno de um valor central tendo em
vista o modo de ser e a identidade pessoal. Em toda personalidade que funcione
normalmente a partir do ponto de vista psicológico há sempre um valor ou um conjunto de
valores que fazem o papel de “absoluto”, de “viés unificador”. Os valores centrais sempre
dizem respeito ao “ser”. São os valores principais que constituem e sustentam o projeto de
vida. Os valores que se referem ao “possuir” existem em vistas do “ser”.
Toda a pessoa vive um ambiente determinado que influi nela e, ao mesmo tempo,
está em relação com outros ambientes. Pode ser mais ou menos conscientes desta
influência, pode sofrê-la ou também pode orientá-la. De fato, influi sempre sobre as opções,
mas algumas vezes, pode chegar a fazê-lo de um modo determinante.
O Acompanhamento
Nenhum projeto de vida pode ser construído pela pessoa sozinha. Muito mais os
jovens que têm especiais dificuldades para decidir-se por um caminho e para escolher os
meios para percorrê-los.
O adulto que acompanha tem que ter também seu próprio projeto de vida, tem que
saber deixar-se acompanhar e tem que deixar-se confrontar tanto pela Palavra de Deus
como pela comunidade. É importante apresentar modelos de vida concretos que sejam
testemunhas de que é possível viver os valores que são propostos: nisto é fundamental o
testemunho pessoal do assessor. O acompanhante se enriquece na medida em que
trabalha em equipe e é importante criar as condições para fazê-lo.
* Contribuir para que conheçam suas motivações concretas, para que possam integrá-las
em seu projeto de vida;
Ainda que tenha sido utilizada, nos primeiros anos da Pastoral da Juventude, a
expressão “projeto de vida” é, até hoje, uma expressão quase desconhecida na
terminologia do trabalho e da práxis desta pastoral. Nela costuma-se falar mais , propor e
procurar realizar “processos de educação na fé”. Estabelecer uma proposta sobre “projeto
de vida” é estabelecer algo novo e diferente? Trata-se de realidades alternativas ou de
realidades complementares? São formas diversas de expressar a mesma realidade? Existe
algum vínculo entre uma e outra? Ou trata-se de seguir fazendo o mesmo que antes mas
com uma nova terminologia e uma apresentação diferente?
As contribuições que seguem tentam dar resposta a estas interrogações feitas por
muitos agentes de pastoral.
“Para facilitar uma consecução mais harmônica dos objetivos e uma melhor
organização dos conteúdos e das atividades promovidos para desenvolver as diferentes
dimensões, algumas sistematizações mostram que, durante esta etapa, ocorrem
diversos “momentos” que se pode distinguir claramente e que assinalam a
progressividade do processo de crescimento que os jovens realizam. Os momentos e
dimensões descritos não são compartimentos estanques. Separam-se por razões de
clareza. Na vida real, influenciam-se mutuamente e podem ocorrer e combinarem-se de
diversas maneiras. Não é possível determinar antecipadamente o prazo para passar de um
momento a outro, pois cada grupo tem sua história e esta deve ser respeitada”.
Na realidade, falar de “projeto de vida” é falar de uma necessidade cada vez mais
presente na vida dos jovens e no trabalho da Pastoral Juvenil. Com a dispersão e a
fragmentaridade da vida, com o relativismo e a crises de valores, com a idolatria do
imediato e do eficaz que trouxeram o neoliberalismo e a pós-modernidade, a busca, a
concretização e a realização de um projeto de vida aparece como algo urgente e
absolutamente necessário para a vida dos jovens.
Discernir e realizar um projeto de vida ajuda aos jovens em seu compromisso de ser
pessoas capazes de crescer integralmente na relação consigo mesmos, com os demais,
com a natureza e com Deus. É uma forma de ajudá-los a integrar harmoniosamente os
valores, aspirações e ideais da vida e de atender adequadamente suas etapas de
crescimento e seus desafios. É a concretização histórica do descobrimento do sentido da
vida e da resposta ao chamado de Deus a viver em fraternidade e em irmandade e a
construir um mundo melhor.
O “projeto de vida” não se elabora de um dia para outro. Muito menos pode fazer-se
em um retiro de fim-de-semana ou através de alguma dessas “experiências fortes” que
alguns propõem como caminho quase mágico para descobrir a vontade de Deus e
responder as inquietudes e perguntas dos jovens.
Todo “projeto de vida” tem uma pré-história que é o que cada pessoa vai vivendo
desde seu nascimento, no contexto de sua realidade familiar, econômica, social, religiosa e
cultural, com as influências das experiências e situações de vida que tem que enfrentar. A
aspiração de ser feliz, de conseguir realizar-se e de encontrar um sentida para a vida
sente-se de uma maneira especial na idade juvenil. Por isso, o chamado a construir um
“projeto de vida” é uma realidade que está presente na vida e nas buscas dos jovens que
chegam aos grupos e às comunidades ainda que nem sempre possam expressá-la dessa
maneira. A Pastoral Juvenil terá que ajudar a explicitar e a fazer realidade isso que está
pulsando neles.
Por isso, a proposta de discernir e realizar um “projeto de vida” tem que estar
formulada claramente desde o início do processo grupal e desenvolver-se como “fio
condutor” de todo o processo de educação na fé. Não se trata, portanto, de um tema, nem
de uma reunião, nem de um conjunto de atividades a realizar. É algo que se vai
construindo lentamente no encontro semanal do grupo e que deve chegar a constituir-se no
objetivo mesmo do grupo.
Isto implica valorizar o grupo de jovens como espaço comunitário para encontrar-se,
apoiar-se, buscar respostas às inquietações e descobrir Jesus na história. Como espaço de
crescimento e acolhida. Como experiência de comunidade vivida, partilhada e celebrada na
fé. Como espaço para ir definindo as prioridades e discernindo o próprio projeto de vida.
Não pode ser somente um espaço dedicado a fazer atividades: deve propor um
processo de integração eclesial . Não pode ser apenas um espaço dedicado a “estar
juntos”: deve propor processos de amizade e de partilha abertos a todos os ambientes da
vida do jovem. Não pode ser somente um espaço dedicado a conversar assuntos de
interesse ou temas da atualidade : deve apresentar propostas claras, promover a dimensão
de fé, levar ao encontro com Jesus e a propor elementos para ajudar a tomar as decisões
fundamentais da vida.
A resposta pessoal de cada jovem integrante de um grupo pode ser muito diversa.
Mas, em todos os casos, há que se assegurar que o processo grupal lhe ofereça uma
possibilidade adequada para elaborar seu projeto de vida, para ir definindo sua opção
fundamental, para estruturar sua escala de valores, para tomar as decisões importantes
com base nas experiências e para assumir como suas essas opções.
A proposta do “projeto de vida” é, então, uma proposta para todo o processo grupal.
Como tal, deve estar presente na etapa de nucleação, ser trabalha e aprofundada na etapa
de iniciação e verificada na etapa da militância.
O convite à participação no grupo deve ser honesto: o assessor tem que ter claro
seu próprio projeto de vida e estar diante dos jovens com uma proposta de vida pessoal.
Pode haver um tempo de proposta implícita, momentos nos quais se estabeleça a
possibilidade de ter seu próprio projeto de vida. Mas tem que haver também uma proposta
explícita: não será na primeira reunião, mas não se pode deixar que os jovens passem pela
Pastoral da Juventude sem haverem traçado metas claras para suas vidas.
Na etapa de iniciação, os jovens descobrem que as coisas têm sentido e que a vida
das pessoas têm sentido. É aí, quando deve estabelecer também que suas próprias vidas
têm um sentido e, portanto, devem ter um projeto. Cada um decidirá se aceita-o ou se
deixa para mais adiante. Ainda que a proposta tenha sido feita anteriormente.
Não se pode fazer na etapa de nucleação, porque a proposta não será entendida e
porque não é essa a inquietude dos jovens. Aos 15 ou 16 anos, a preocupação pelo projeto
de vida ainda não está presente. Há que se trabalhar primeiro determinados elementos
antropológicos como o sentido da vida, os ideais, etc., para que se possa estabelecer uma
proposta sobre o projeto de vida.
Por isso não se pode propor tampouco no começo da etapa de iniciação e, muito
menos ainda, na Pastoral de Adolescentes. Isto pode criar dificuldades às pastorais juvenis
integradas majoritariamente por grupos de adolescentes e para muitas realidades do
interior onde os estudantes logo devem deixar sua cidade natal para estudar/trabalhar nos
grandes centros urbanos. Mas o fato de que “os jovens saem” ou não poder segui-los em
sua própria realidade, não autoriza para realizar antes do tempo uma proposta para a qual
não estejam capacitados.
É certo que há tempos e momentos...Uma proposta deste tipo não pode ser feita a
jovens que recém se integram a um grupo ou aos que estão saindo da adolescência. Mas
jovens de mais idade e com mais tempo de integração grupal, não deveriam “passar” por
um grupo de pastoral juvenil sem que este lhes proporcione elementos neste sentido e os
ajude a tomar esta decisão tão fundamental da sua vida.
Por aí, quem sabe, possam surgir também caminhos novos para que os jovens que
terminam sua etapa nos grupos de jovens encontrem, naturalmente na comunidade, o lugar
e o espaço onde continuar crescendo e fazendo realidade seu projeto de vida.
Todo jovem é chamado a viver um processo cristão. A partir dele mesmo, quando
surge a proposta, ou desde o assessor que deve estar atento e aberto para propor no
momento que pode ser melhor aproveitado.
Não pode surpreender a ninguém que, ao falar da proposta sobre “projeto de vida” e
da Pastoral da Juventude, surjam, de imediato, as perguntas sobre o lugar e a tarefa da
pastoral vocacional bem como o vínculo e os possíveis pontos de encontro entre a
proposta sobre “projeto de vida”, a pastoral da juventude e a pastoral vocacional.
Ainda que exista muito desconhecimento e com freqüência tem-se visões demasiado
parciais como as de quem afirma que “a pastoral juvenil não se preocupa com o aspecto
vocacional” ou que “a pastoral vocacional não gera processos e somente pensa nas
vocações sacerdotais e religiosas”. Nos últimos anos tem-se avançado neste sentido e,
hoje, há uma consciência maior das relações que realmente existem e das que devem
existir entre ambas pastorais.
Cada vez mais, os agentes de pastoral vocacional vão descobrindo que a proposta e
o acompanhamento vocacional pressupõe aspectos fundamentais de formação humana e
cristã que se deve fazer referência. Têm consciência que ser pessoas e ser cristãos é a
primeira grande vocação a que todos são chamados e a que está ligada a qualquer outra
vocação particular.
E cada vez mais, também, os agentes da pastoral juvenil vão descobrindo que a
proposta de formação humana e cristã que apresentam aos jovens leva-os a
comprometerem-se com um projeto de vida relacionado com todos os aspectos de sua
pessoa, incluindo a definição vocacional.
O acompanhamento para discernir e realizar o “projeto de vida” dos jovens pode ser,
quem sabe, um novo ponto de encontro entre ambas pastorais e um alento ao trabalho
comum que vem-se promovendo nos últimos anos. Mas, para que este possa realizar-se e
alcançar resultados satisfatórios, será necessário continuar esclarecendo conceitos,
situações e tarefas.
“Projeto de vida” e “vocação” são dois aspectos de uma mesma realidade que
devem estar em permanente relação: o caminho de realização intuído, descoberto,
assumido e realizado pela pessoa e o chamado de Deus na história através de sinais que
se interpretam a partir de um olhar de fé. Assim, entre Deus que chama e a pessoa que
responde dá-se um convite a estabelecer um diálogo que manifeste e ponha em relação,
ao mesmo tempo, o amor gratuito de Deus e a liberdade da pessoa humana.
Toda vocação pressupõe uma missão. Toda a realização pessoal dá-se no serviço e
na entrega aos demais. Deus chama para construir comunidade, para fazer a cada pessoa
“irmão” com outros irmãos, para seguir construindo um mundo que seja a “casa de todos”,
onde todos possam viver com dignidade. Descobrir o chamado de Deus é encontrar
horizontes possíveis para a própria realização pessoal.
E isto porque crê que as vocações surgem ali onde acontecem os processos que
permitem aos jovens encontrar-se com Jesus, descobrir as necessidades do mundo e da
Igreja, receber propostas vocacionais concretas e ser contagiados pelo testemunho
entusiasta de quem os acompanha.
Uma Pastoral Juvenil realizada da maneira que foi apresentada, tem muitos pontos
de encontro com elementos fundamentais de uma pastoral vocacional:
- A reflexão sobre o próprio projeto de vida capacita para uma atuação gozosa das opções
realizadas como resposta às necessidades da Igreja e da sociedade.
Por isso é necessário que a Pastoral Juvenil tenha sempre em conta a realidade dos
jovens, ajude-os a aprofundar o conhecimento da fé, oriente-os em suas opções
vocacionais e anime-os para serem agentes de mudança na sociedade e a participarem
ativamente na vida da Igreja. É necessário que os ajude a percorrer o caminho para poder
realizar não somente seu próprio projeto pessoal como também o projeto que Deus tem
para eles. É necessário que ajude-os a descobrir e a assumir valores, a tomar decisões e a
pô-las em prática com decisão e coerência. Assim estará educando-os para descobrir e
concretizar seu projeto de vida e sua vocação.
Todo ser humano é chamado a ser sujeito e a realizar-se como pessoa. Mas, ainda
que a vocação primeira seja esta vocação humana, toda a pessoa tem também uma
vocação cristã e uma vocação específica, quer dizer, uma maneira própria, pessoal e única
de dar resposta ao chamado de Deus e um lugar onde viver sua missão de serviço na
Igreja ou na sociedade.
Pelo que foi dito até aqui, pode-se afirmar que a Pastoral da Juventude e a Pastoral
Vocacional têm elementos em comum: ambas são pastorais da mesma Igreja e ambas
procuram orientar aos jovens para que cheguem a ser pessoas do mundo, de acordo à
vocação de cada um. Ambas tem como destinatários aos mesmo jovens e atuam no
momento em que estão tomando decisões fundamentais que definirão e marcarão para
sempre suas vidas.
A pastoral vocacional encontra na Pastoral Juvenil seu espaço vital e a Pastoral
Juvenil é
completa e eficaz quando abre-se a dimensão vocacional. Não pode haver pastoral
vocacional independente da Pastoral da Juventude nem Pastoral da Juventude
independente da pastoral vocacional: ambas pastorais são complementares e têm que
trabalhar em conjunto.
O vocacional emerge do juvenil nesses momentos da vida nos quais surgem com
mais força a busca de realização pessoal e a tomada de decisões para as opções mais
importantes da vida. O espaço natural da vida eclesial de todo jovem é o grupo juvenil.
Nele, começa e realiza seu processo de crescimento e de maturidade. Nele, quando chega
o momento da proposta e da decisão vocacional, a pastoral vocacional tem que dar
elementos adequados para poder amadurecer sua resposta vocacional. O jovem que
começa um processo de discernimento vocacional não deixa de ser jovem e não deixa,
portanto, de ter que participar em seu grupo de jovens. Como se vê, a pastoral vocacional é
chamada a estar presente em momentos chaves do processo dos grupos juvenis e a dar
sua contribuição própria, assessorando especialmente os momentos vocacionais.
Toda a Pastoral Juvenil que procure ajudar ao jovem a descobrir sua vocação como
projeto de vida, necessita da pastoral vocacional para iluminar e levar a bom termo esse
projeto. Toda a pastoral vocacional que procure desenvolver uma proposta educativa
necessita da Pastoral Juvenil que a apoie e a sustente. A pastoral vocacional não
articulada com a Pastoral da Juventude pode produzir alguns resultados imediatos, mas
logo se reconhecerá ineficaz e até perigosa pela desorientação que pode provocar no
jovens e pelo desgaste de energias a que submete aos agentes pastorais.
Juvenil, pois forma parte de seu processo. Cumprindo sua missão orientadora, estará
recordando continuamente a meta a que deve chegar. A Pastoral da Juventude, por sua
vez, terminará na pastoral vocacional. Cumprindo sua missão, preparará o caminho para
que os jovens possam descobrir o lugar específico em que Deus o chama para construir o
Reino. Ambas pastorais, portanto, necessitam-se mutuamente.
4.1 O ACOMPANHAMENTO
Ao começar este último capítulo, parece importante voltar a lembrar que quando
falamos de “acompanhamento” estamos falando do acompanhamento de processo grupais
para que se possa dar processos pessoais que ajudem aos jovens a discernir e realizar
seus projetos de vida. Estamos falando, portanto, dos grupos juvenis que existem e
funcionam em nossas paróquias e comunidades.
Na cultura neoliberal e pós-moderna que vivemos, faz-se cada vez mais necessário
promover e impulsionar explicitamente, nos jovens, esta atitude de buscar discernir e
realizar seu próprio projeto de vida. Com efeito, são muitas as pessoas que passam pelo
mundo sem sentir a necessidade de dar uma direção e um sentido a sua existência,
de pro-jetar, de “olhar para adiante”. Será necessário pois, motivar e acompanhar aos
jovens, mas deve-se estar muito atento para não projetar por eles. Neste sentido, o grupo
reforça as convicções e favorece a escolha dos valores e é um instrumento muito
adequado para motivar uma mística positiva e ajudar a “sonhar” e a sentir que “é possível”.
Toda “experiência” implica uma abertura radical da pessoa a sua própria realidade.
É a notícia prévia e sem estrutura formal, carente ainda dos significados que podem
emergir, que adquire seu sentido mais pleno quando é “entendida”, isto é, quando a pessoa
pode chegar a responder às perguntas que a movem a sentir, imaginar, inquirir e buscar.
Ao “tomar a vida nas mãos”, a pessoa se reconhece a si mesma como receptora dos
dados de suas próprias operações sensíveis e afetuosas, ainda que não possa chegar a
captar o sentido do que está sentindo, percebendo ou registrando.
Nesta etapa, fazem-se perguntas como: O que tenho vivido com esta experiência?
Qual é seu significado? Que relação tem com as outras dimensões de minha vida? Que
outras relações têm com a situação em que me encontro? O acompanhante ajudará ao
acompanhado a entrar neste âmbito com uma atitude compreensiva e empática e lhe
ajudará a compreender a si mesmo.
4.1.2.3.1 Entender
É descobrir o significado da experiência É estabelecer as relações que há entre os
dados vistos, ouvidos e tocados. É a “fagulha” que ilumina o que se apresentava em
penumbras na percepção sensível . “Entender” permite à pessoa conceituar, formular
hipóteses e conjecturas, elaborar teorias, definições, suposições, etc.
Neste momento, dão-se também, além das perguntas próprias da dedução humana,
as perguntas fundamentais que surgem da fé que são próprias do seguimento de Jesus:
Quem é Deus? O que Deus quer de mim?
4.1.2.4 Agir
4.1.2.4.1 A Decisão
Logo da tomada da decisão, a pessoa entra na fase de pôr em prática esta opção,
buscando os meios, modos e tempos para poder efetivamente agir e assumindo valores,
atitudes e condutas consistentes e conseqüentes com sua opção, já que “o amor se mostra
mais através de obras que de palavras”.
Neste sentido, o discernimento espiritual pode ser um bom instrumento para realizar
o projeto de vida em que cada pessoa se sente chamada por Deus.
A revisão do processo pode ser realizada também durante o transcurso das etapas
para corrigir a caminhada e ponderar melhor os resultados.
Todas as avaliações, sejam parciais, globais ou operativas, tem que seguir como
dinâmica interna a decisão fundamental de Jesus e sua opção pelo Pai e o Reino.
Estar a caminho para discernir e realizar o projeto de vida, deve levar aos
animadores e assessores de grupos juvenis a estimular a realização de processos grupais
de educação na fé que "aterrizem na vida" e levem a assumir responsabilidades na vida
profissional, familiar, estudantil, política, social, etc.
Como o projeto de vida não é um serviço para um tempo e sim uma contribuição
para toda a vida, não tem um fim quando termina o tempo de passagem pelos grupos de
pastoral juvenil. Por isso, é indispensável seu engajamento em outras
discussões/demandas que a pastoral de conjunto oferece vinculada a um projeto de
pastoral mais amplo. Daí a exigência de uma comunidade de referência que seja a garantia
de sua continuidade e de sua eficaz realização.
4.2. O ACOMPANHANTE
Mas para poder ser acompanhante de processos grupais que ajudem a discernir e
realizar projetos pessoais de vida, é conveniente além disso, que o assessor possua
algumas outras atitudes que tem a ver com a tarefa específica do acompanhamento.
Para orientar este serviço da pastoral juvenil e para ir marcando caminhos que
levem à formação e capacitação destes “acompanhantes”, se assinalam aqui alguns
elementos referidos aos que estão chamados a “ser”, a “saber” e a “fazer” os
acompanhantes para poder prestar um melhor serviço aos jovens.
Esforça-se para criar um ambiente que ajude ao processo e para promover um clima
que favoreça o diálogo que o ajude a crescer com perguntas e respostas relevantes. Busca
que sua comunicação seja certeira, clara e comprometida. Expressa sua abertura à
comunicação com gestos e atitudes, demonstra que entende e compreende, retém os
gestos mais simples, escuta as mensagens não-verbais e recorda o expressado pelo
acompanhado.
Por isso, apresenta a proposta de Jesus como projeto de vida e procura que o
acompanhamento parta ou tenda para o encontro e o seguimento de Jesus. Ajuda a
descobrir a ação do Espírito na vida dos jovens e orienta-os em sua relação com Deus,
com a Igreja e com o mundo. Promove o comunitário e o eclesial contra o individualismo,
favorece a abertura à realidade e à Igreja contra o encerrar-se em si mesmo, ajuda a
estruturar a personalidade frente ao relativismo do “vale tudo” de hoje. Anima os jovens a
conhecer suas motivações concretas e a assumir sua vocação cristã. Incentiva a
participação pessoal e grupal na comunidade e no social . Ajuda a canalizar a energia em
projetos comuns. Desperta valores. Tem como modelo de acompanhamento a prática de
Jesus e não se deixa influenciar por certas formas de “acompanhamento” que estão sendo
promovidas na realidade eclesial de hoje.
São pessoas que têm encontrado seu lugar específico na Igreja e, desde ali, com
amplitude, acompanham aos jovens na busca do seu lugar, respeitando sua liberdade e
seu caminho pessoal e apresentando, sobre todas as coisas, a Jesus Cristo. Pessoas que
– vale a redundância! – são também acompanhadas e que podem contrastar sua vida
pessoal com o Evangelho, na comunidade eclesial ou em um grupo próximo.
Entre os muitos instrumentos que se podem utilizar para levar adiante processos
pessoais de acompanhamento, vamos fazer referência aqui a dois que podem ser de
utilidade para o serviço a ser prestado nos grupos de jovens.
A entrevista pessoal
A entrevista é uma modalidade comunicação interpessoal, de diálogo entre
acompanhante e acompanhado que se estabelece em um processo que inclui os seguintes
elementos:
A demanda. Ainda que não tenha formulado explicitamente uma pergunta, o acompanhado
estará sempre à espera de uma resposta por parte do acompanhante. Não se trata de dar
um conselho (o acompanhado não o necessita) e sim de perguntar-lhe e orientá-lo perante
a demanda expressada. A demanda ou resposta é o “para quê” da comunicação.
Os códigos. A mensagem deve ser codificada de acordo com o canal verbal ou não-verbal
no qual é emitida. Cada canal tem seu próprio código ou conjunto de signos e símbolos
verbais ou não-verbais. A imensa maioria das falhas de comunicação se devem mais aos
erros de codificação que aos conflitos na mensagem: má interpretação ou mal uso dos
signos ou dos símbolos, palavras que podem ter diversas interpretações conforme sejam
os códigos culturais, etc. Tanto a codificação como a decodificação da mensagem estão
profundamente condicionadas pelo contexto e pelo sistema de valores dos
intercomunicadores.
O discernimento espiritual
Os três tempos
O primeiro tempo é quando Deus atrai a vontade da pessoa de tal maneira que
esta segue, sem duvidar, o caminho que lhe é apresentado. É a experiência de Mateus, de
Paulo e de tantos outros ao receber o chamado do Senhor.
Santo Inácio nada disse sobre como se chega a essa certeza. Não se afirma nem se
nega que tenha existido uma história anterior ou que se tenha chegado até ali depois de
um extenso processo. Nem tampouco que se trate de uma experiência instantânea que, em
um determinado momento, se fez tão clara para a pessoa que a levou a não ter mais a
mínima dúvida nem a questionar sequer a possibilidade de duvidar. Trata-se de um contato
direto com Deus no qual, o influxo do Espírito Santo, é percebido de uma maneira evidente
por uma clareza e uma certeza interior.
Neste primeiro tempo, Deus e o conteúdo da eleição são experimentados como uma
ação extraordinária de sua graça. Este é um dos elementos místicos presente dentro dos
Exercícios que encontram sua origem na própria experiência mística de Santo Inácio. É um
dom extraordinário, ainda que ocorra sem que se dêem fenômenos externos
extraordinários.
Os dois modos
Para isso, se traça um quadro de quatro colunas. Na primeira coluna são colocadas
as razões favoráveis e as razões contrárias para abraçar a coisa em questão (“os prós”) e
na segunda coluna, colocam-se as razões favoráveis e as razões contrárias para não
abraçar a coisa em questão (os “contras”). Provavelmente, muitas razões se repetirão em
ambas colunas. Contudo, o exercício de escrevê-las ajuda a desmascarar as resistências
inconsistentes já que pode acontecer que uma pessoa creia que está no terceiro tempo –
isto é, “tranqüilo - e de fato está influenciado, sutilmente, pelo mau espírito.
Depois da reflexão, deve-se verificar para onde se inclina e onde pesam mais as
razões apresentadas e deliberar sobre a coisa proposta segundo a maior inspiração
racional e não segundo qualquer inspiração sensual. A decisão deve seguir a objetividade
das razões e ali aparece a inspiração divina. Pois o homem racional, à luz da fé, é movido
por Deus, ainda que Deus não se faça sentir à maneira de uma consolação ou de uma
desolação.
A terceira e quarta regra põe em uma situação limite: às portas da morte e no dia do
juízo. Aí já não existem justificações falsas e a verdade aparece com toda sua limpidez. Ao
pôr-se nessa situação, a pessoa se pergunta com que sinceridade julga sobre a coisa em
questão. Este modo é menos aconselhável que o anterior para as pessoas que se evadem
facilmente e que freqüentemente racionalizam, posto que elas costumam ser muito
objetivas em seus juízos.
A confirmação
O processo de discernimento pessoal ou grupal leva a uma escolha na qual se
percebe, no concreto, com maior ou menor clareza, a vontade de Deus no histórico da vida
de cada um.
O resultado final ou escolha, certamente não é uma caminhada sem dúvidas nem
lutas. Santo Inácio só fala de “confirmação” ao referir-se ao terceiro tempo, já que o
primeiro tempo goza de tal evidência que não se pode duvidar e o segundo tempo, com o
jogo das inspirações e com o signo claro das consolações divinas, faz que a escolha não
necessite confirmação: “Deus já o confirmou com o consolo”.
idem, p.123
ib., p.124
Cf. SEJ-CELAM, “Os processos de Educação na Fé dos Jovens” CCJ, 1990, SP.
Ib. P.199-200
Ib., p 203-7
Ib.,207-18