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podemos pensar sobre as decisões tomadas e em que condições foram feitas. Esta
será uma das formas de lidar com a inestimável ciência da história e, no caso específico
da história militar, apenas uma abordagem abrangente e o mais distante possível nos
carácter que esta guerra verdadeiramente teve, ela foi mais do que uma guerra pela
1
Pensamos que é bastante útil a referência metodológica defendida por reputados historiadores que
explicam “essa forma global e alargada no tempo” de ler a história, muito bem descrita na obra em
referência na Bibliografia: Bethencourt e Curto, 2010, p. 8-11
1
lá de Toulouse em França. Em especial, para portugueses, o combate contra a França
Brasil a Macau, em Cabo Verde, S. Tomé, Moçambique, Goa, de Portugal por Espanha
até França, da Alemanha pela Áustria até à Rússia, passando pelo Mediterrâneo, Líbia
entre 1640 e 1668, tivéramos essa experiência global, combatêramos então pela
Maranhão à Baía, de Luanda a S. Tomé, por Ceilão, Molucas, Malaca, Goa, Macau e
tantos outros territórios contra outros tantos adversários. Portugal há muito que
aprendera a fazer a guerra de forma global, a pensar nas suas opções num tabuleiro
actuação local, descentralizada2, sem contudo deixar de perder de vista o seu território
No final do século XVIII já sabíamos que a tradicional postura política portuguesa dos
séculos XII a XV, de não envolvimento em guerras na Europa, não poderia ser mais
2
Ver reflexão a este respeito em Bethencourt e Curto, 2010, p. 207
3
Ver do autor o Capítulo: “A Primeira Guerra Global Portuguesa: A Restauração” na Revista de História
das Ideias, com o subtítulo “A Guerra”. Volume 30, coordenado pelo Doutor João Gouveia Monteiro,
Universidade de Coimbra, 2010.
2
fomos impelidos a participar nos conflitos Europeus e assim, pouco tempo depois de,
no final do século XVII, fazermos a paz com a Espanha, entrámos nos grandes conflitos
Matapão (1717) na Guerra dos sete anos (1756-63) e de conflito em conflito acabámos
por ser arrastados para as guerras originadas pela revolução francesa de 1789.
Em 1792, ainda Portugal acreditava que podia manter um certo papel de neutralidade,
mas, para manter o seu estatuto de “neutralidade”, entra na guerra de forma quase
enorme esforço nacional, constituir e enviar para lá dos Pirenéus uma Divisão com
4
desde 1778 com a Espanha, pelo tratado do Prado de 11 de Março de “neutralidade, garantia e
comércio” entre as monarquias ibéricas ou, desde 1782 com a Rússia, com o tratado de “amizade,
navegação e comércio” de 13 de Julho e que levaram inclusive a que Portugal fosse convidado para
mediar um conflito que opunha Espanha, França e Grã-Bretanha em 1790 (Nootke Sund na costa
americana do pacífico) in Macedo, 2006, p. 366 e 382
3
No mesmo período enviámos também a denominada “Esquadra do Canal” para
1793 com destino ao Canal da Mancha, constituída por 7 navios comandados pelo
Tenente General José Sanches de Brito e que se foi juntar à esquadra britânica do
Almirante Howe que tinha por missão “cruzar diante dos portos franceses impedindo
Outubro devido a doença generalizada. No ano seguinte, a 12 Julho de 1794, saiu para
o canal da Mancha nova esquadra, esta com 8 navios, sob o comando do Chefe de
de Março de 1795. Entre outras importantes missões fez escolta a comboios de navios
Portugal combatia assim os interesses franceses por mar7 e por terra mas ainda longe
das suas fronteiras europeias, diferente era já a situação nos restantes territórios.
Tomé e Príncipe (as Ilhas de Fernando Pó e Ano Bom que pertenciam à colónia foram
5
Pereira, 2005, p. 41
6
Pereira, 2005, p. 12
7
Como retaliação pela participação na campanha do Roussilhão e nas acções no Canal Inglês os
franceses começaram a atacar os portugueses no mar “Desde a costa portuguesa às longínquas águas
de Diu, os corsários franceses abordavam os navios portugueses” Pereira, 2009, p. 217
8
Marques, 1976, p. 638
9
“A revolução francesa sentiu-se mais na África Oriental Portuguesa do que em Angola. Possuía a
França, no Índico, a curta distância do litoral moçambicano, as ilhas de Madagáscar, a de Bourbon (mais
tarde Reunião) e a de Maurícia (futura ilha de França)” Rego, 1966, p. 204
4
passadas para Espanha em 1778) “ao aproximar-se o final do século XVIII, acentua-se a
influência francesa nas ilhas (…) restava aos franceses e ingleses tentar a ocupação de
Tomé: “tenho ordem expressa de Sua Majestade Britânica (…) para dar aos
portugueses toda e qualquer protecção e para tomar debaixo do meu comboio todas
nossos inimigos comuns”11. Nesse mesmo ano uma das fortificações do Príncipe recebe
através das forças do exército fez deter todos os franceses que estavam na ilha.
O diplomata regressa em Abril de 1797 sem nada ter conseguido12. A aposta vai então
para a componente militar e pede-se apoio ao tradicional aliado britânico. Este manda
transportavam uma força de 6.000 homens comandados por Sir Charles Stuart.
10
Neves, 1989, p. 61
11
Neves, 1989, p. 414-415
12
“Acabou por ser expulso de Paris, em Maio de 1797, quando o Directório já tinha um exército de
30.000 homens para invadir Portugal” Macedo, 2006, p.372
5
ambiente de conflitualidade. Decorre do envio de uma Flotilha portuguesa para o
Algarve para se opor aos franceses que, protegidos pelos espanhóis (dos portos
mesmos motivos, os Ingleses também tinham enviado para a costa algarvia uma
esquadra, comandada pelo Almirante Jervis e esta entra em combate com uma
Esquadra exclusivamente Espanhola. Portugal, ao notar que não havia navios franceses
presentes, tenta não intervir e decide-se a retirar mas, vendo o navio do Almirante
Portugal dá mais um sinal de afrontamento quando decide enviar uma esquadra naval,
imediato para Malta, onde a esquadra colaborou no bloqueio a esta ilha. De seguida
Tripoli. Napoleão regista mais esta afronta Portuguesa afirmando: “Tempo virá em que
a Nação Portuguesa pagará com lágrimas de sangue o ultraje que está fazendo à
República Francesa”.
Até ao início da Guerra das Laranjas (ou Guerra de Espanha) em 1801, assiste-se a uma
campanha diplomática que tinha como objectivo último, o de manter Portugal neutral
13
Permaneceu em operações de 1798 até Janeiro de 1800, data do seu regresso a Lisboa, tendo
prestado excelentes serviços em apoio da esquadra britânica no Mediterrâneo, cuja principal missão
consistia na vigilância da esquadra francesa do Vice Almirante François Paul Brueys D'Aigailliers e que,
depois de batido por Nelson, se refugiara no porto de Toulon.
6
e simultaneamente colaborante. Portugal paga e protela: combate por mar, prepara-se
possível para assegurar esta política, seria a de fortalecer o aparelho militar para
das rotas marítimas era uma constante (Portugal tinha no início do século XIX uma
Armada forte, a quinta potência naval da época com mais de 65 navios oceânicos 14),
a Grã-Bretanha, que tinha reforçado com forças o nosso território, conclui que
comandante das forças portuguesas, D. João Carlos de Bragança Sousa Ligne, 2º Duque
14
“Devido ao impulso de ministros como Martinho de Melo e Castro e o seu sucessor D. Rodrigo de
Sousa Coutinho, a Armada Portuguesa contava, no virar do século com 65 navios oceânicos – 14 naus,
23 fragatas, 3 corvetas, 17 brigues e 8 charruas além de outros de menor porte o que a tornava na
quinta potência naval da época” Pereira, 2005, p. 7
15
Amaral, 2004, p. 11
16
“De facto, a Espanha não tinha nenhum interesse vital nesta guerra. O país, contra os seus interesses
nacionais, estava em guerra com a Grã-Bretanha, e o que interessava à monarquia castelhana era fazer
a paz, permitindo assim o reatar das relações com as suas colónias, fonte da riqueza espanhola e da sua
manutenção como potência de 2.ª categoria, no concerto das Nações europeias. Mas contra o interesse
"nacional" espanhol, apareceu o interesse dinástico dos seus monarcas” Manuel Amaral, www.arqnet.pt
7
Algarve, executa-se uma ofensiva generalizada no Brasil17, tenta-se conter “as ajudas”
A Grã-Bretanha, mal se dá o início da guerra, “envia reforços” não para onde nós
precisávamos, no Alentejo, mas para a Ilha da Madeira, para Goa e Macau, que era de
todo o interesse britânico manter-se controlado: para a Madeira foram 4.000 homens
forças navais inglesas, devido à ameaça de possíveis ataques de franceses a partir das
Bombaim19. Em 1798 tinha sido enviada para a Índia uma esquadra britânica sob o
17
“(…) no dia 4 de Julho, o tenente general Veiga Cabral (….) informou a população da declaração de
guerra (….) as milícias foram mandadas reunir, foram pedidos subsídios à população mais influente (….)
as forças militares, divididas em dois corpos começaram a dirigir-se para as guardas de fronteira (….) O
objectivo expresso da população da província era conseguir os territórios que fizessem chegar as
fronteiras aos limites naturais do Sul do Brasil, os rios Uruguai e Prata.” Amaral, 2004, p. 90
18
Não só por motivos estratégicos desejavam os britânicos algum controlo sobre o império português,
Portugal, o seu mais antigo aliado, estava a crescer bastante na sua importância comercial e relativa,
este, também é um factor para ter em conta: “Na primeira metade da década de 1790, as exportações
de Portugal para Inglaterra excederam as importações em mais de um milhão de libras esterlinas. Em
1795 Portugal quase duplicou as suas exportações de 1776 para Inglaterra. Durante o período de 1796 a
1806, as exportações portuguesas apresentaram um crescimento espectacular de 4% ao ano” Stuart B.
Schwartz em Bethencourt e Curto, 2010, p. 46.
19
Pereira, 2005, p. 64 e também Bessa em BARATA & TEIXEIRA, 2003, p. 307 “tomando conhecimento
dos planos do sultão Tipu em ligação com o bravo e incompreendido militar francês Dupliex (…) Stuart
concordou ser urgente a defesa de Goa (…) a urgência crescia com os triunfos de Napoleão na Europa.
Goa, além de excelente base de operações, oferecia grandes vantagens à passagem das suas tropas do
Egipto em direcção ao Malabar ou à sua ida directa da Europa.”
8
português, Francisco Veiga Cabral (governou a Índia de 1794 a 1807), que não tinha
pedido qualquer auxílio. Estes retiraram mas regressam pouco depois e desta vez
Damão, 1 regimento europeu com 100 artilheiros, 3 batalhões de nativos, tudo isto
1808 saíram estas forças mas regressaram no mesmo ano para ocupar o forte da
de Sarzedas (D. Bernardo José Maria de Lorena que governou a Índia de 1807 a 1816) e
resistência e obriga à assinatura de um acordo que prevê o auxílio aos navios franceses
Em Cabo Verde, tal como tinha ocorrido em 1712, os franceses atacam e saqueiam a
das restantes ilhas, tanto por meios pacíficos como fazendo uso de meios militares23.
179924.
20
Rego, 1966, p. 243
21
Bessa em BARATA & TEIXEIRA, 2003, p. 307
22
Neves, 1989, p. 434-445
23
Marques, 1976, p. 629
24
Rego, 1966, p.270
9
Em Timor, apenas se assistiu a conflito aberto entre holandeses e britânicos em 1797
e mais tarde em 1810, que acabou com a rendição holandesa em 1811, mas não
Acabada a Guerra das Laranjas, Portugal “faz contas”. Como afirma Manuel Amaral25,
os objectivos desta campanha têm de ser analisados numa perspectiva global, com os
A visão simplista de que esta Guerra apenas teve como consequência a perda de
intenções francesas em Portugal. Foi apenas o adiar de um conflito ou, como afirma o
Portugal tenta nos anos seguintes, a todo o custo, não confrontar-se com a França,
mas como tantas outras nações europeias, é arrastado para uma guerra que não
deseja. Procura até ao fim demonstrar uma política de neutralidade mas, bem o
sabemos, não é neutral quem quer, só é neutral quem pode. E Portugal, em 1807, não
podia ser neutral porque a geografia não o permitia (por um lado não poderia ser
neutral perante o seu único vizinho europeu, Espanha e por outro lado, encontrava-se
no meio da luta entre dois impérios a que não podia escapar, pois “Portugal foi
terrestre porque o poder marítimo deveria ser impedido de utilizar o seu território; do
25
Amaral, 2004, p. 6-8
26
“O Reino de Portugal anexou no Brasil 90.000 km2 de território, pelo que à data o saldo territorial era
positivo. No Brasil, a zona das missões do Paraguai, que tantos problemas tinha criado entre Portugal e
Espanha, ganha em 1750, perdida em 1777, era definitivamente incorporada nos limites brasileiros”
Centeno, 2007, p. 66
10
poder marítimo porque Portugal era uma praia de desembarque que, pela sua
sociedade portuguesa não era excepção) e finalmente porque a defesa militar não
efeitos de uma certa derrota militar da Guerra das Laranjas e ao tradicional desatender
das forças armadas, sem condições de se opor sozinho ao maior e melhor exército da
Espanha.
anos seguintes, passava então, genericamente, por garantir a posse da esquadra naval
armada para o Brasil, aceitando a ocupação francesa para evitar a repressão; alinhar,
popular, com uma das potências, que acabou por ser naturalmente a Grã-Bretanha, e
unir grande parte das suas forças num Exército aliado sob mando britânico; evitar os
11
populações e conduzir operações militares nas suas retaguardas e linhas logísticas;
Junot à qual, como determinado pelo soberano português, não se ofereceu resistência.
Lisboa para o Rio de Janeiro – capturar Lisboa não significa submeter Portugal e
Portugal”.
Por isso Napoleão escreve a Junot dizendo-lhe que “...desarme os habitantes, despeça
severidade que o faça temer... todos os meios que tiver deixado aos portugueses se
repressão e uma das tarefas principais do novo poder usurpador em Portugal, foi o
Dos soldados com menos tempo de serviço foram seleccionados os melhores e as mais
29
Carta de Napoleão Bonaparte a Junot, Vicente, 2003, p. 258 e também Centeno, 2007, p. 100.
12
portugueses (Marquês de Alorna, Gomes Freire de Andrade, Manuel Inácio Pamplona,
Corte – Real, Freire Pego, Marquês de Loulé, Manuel de Mascarenhas, etc.) num total
de 9.000 homens, constitui-se a Legião Portuguesa que é enviada para França “no
estado mais miserável que se pode imaginar”30, incluindo os poucos cavalos que não
Portugal, em 1808, apenas tinha como força armada a Guarda Real de Polícia (por se
parte dos melhores comandantes estão no Brasil ou em França, os seus cavalos foram
Mas a descrição dos actos praticados por Junot em Portugal, vão levar a que o futuro
também vai mudar a sua posição e a revolta do 2 de Maio motivará a saída das tropas
que é a declaração de guerra pelo seu soberano, vão então revoltar-se decisivamente
30
Banha, 2007, p. 20
31
Bessa em BARATA & TEIXEIRA, 2003, pág. 236. E também em Macedo, 2006, p. 408.
13
aparecido tantas forças32 e, embora praticamente desarmadas, estavam
O Exército Operacional Português tinha sido de facto enviado para França, mas com
que restavam, um novo Exército, uma força popular, uma nação em armas, renasceu
dos Padrões de Teixeira e da Régua em Junho de 180833. Junot sabia que não podia
lutar contra todo o país e mandou concentrar as suas forças ao redor de Lisboa e na
14
“Já antes de Wellington (ainda Wellesley) pôr o pé em terra a revolta libertara nove
décimos do país”.35
Portugal tinha de ser defendido e isso era obviamente também do interesse dos
tinha de renascer e preparar-se para, uma vez mais, bater-se, lado a lado, com os
Ásia.
defesa de Portugal.
35
Valente, 2007, p. 7
36
Nesta acção militar participou uma força naval inglesa, comandada por Sir James Lucas Yeo
37
“Em 1801, como 1º Tenente comandou a Artilharia da Praça de Campo Maior na Guerra das Laranjas.
Em 1803, já como Tenente-Coronel foi nomeado comandante do Corpo de Artilharia criado no Pará,
15
força embarca nos navios e com 80 Royal Marines conquistam a cidade de Cayene em
verdade, sempre que se declarava qualquer tipo de guerra entre Portugal e Espanha
eram normais os conflitos nas fronteiras sul e sudoeste brasileiras, com o ancestral
objectivo de estender as fronteiras até ao Rio Prata e Uruguai38). Portugal faz várias
incursões junto ao Rio Prata de que destacamos as de 1808, que através do ministro
dispositivo no sul do Brasil e em 1811, embora tenha havido queixa britânica, Portugal
Em Moçambique (tinha havido uma ordem de Portugal desde 1803 que determinava
Brasil” Rodrigues e Mimoso, pág. 5. Como recompensa pela vitória foi depois promovido a brigadeiro
(Bessa em BARATA & TEIXEIRA, 2003, p. 239)
38
“Esta estratégia tinha a oposição da Espanha, a quem os territórios pertenciam e da Inglaterra a quem
uma expansão do Brasil também não interessava”, Pereira, 2005, p. 53.
16
Novembro de 180839, 4 naus portuguesas foram atacadas próximo das Maurícias e
informações que prestaram aos ingleses para estes conquistarem as Ilhas Francesas
Governador inglês da Índia enviou uma expedição para Macau. As forças, comandadas
de 1808, desembarcaram 1.182 homens que ocuparam duas fortalezas em Macau. Por
39
Pereira, 2005, p. 66.
40
Ver descrição completa em Bessa em BARATA & TEIXEIRA, 2003, p. 315
17
Fora do território continental português é importante referir o trajecto de um dos
resgatados por troca da saída das forças de Junot de Portugal – mas são esquecidos e
portuguesas: “estou muito satisfeito dos vossos portugueses; eles combateram sempre
com muita galhardia nesta guerra, e decerto na Europa não há melhores soldados que
Konigsberg.43
41
Banha, 2007, p. 48, ver também Henriques em Guerra Peninsular, Soberanias Atlânticas, 2008.p. 124
“mereceu de Napoleão – sim de Napoleão!!! O título de melhores soldados do Mundo, gritado por ele a
todo o seu Estado Maior, quando os portugueses carregavam à baioneta na batalha de Wagram”
42
Banha, 2007, p. 70
43
“La Légion Portugaise combattit vaillamment dans nos rangs à Wagram, à Smolensk, à la Moskowa, et
avec tant des nôtres, trouva son tombeau dans les glaces de la Bérézina: avant la mort, à Koenigsberg,
de son digne chef, le général de division marquis d’Alorna et la perte de ses élément nationaux les plus
purs, elle a payé, de son sang, l’honneur d’avoir fait partie de la Grand-Armée” Boppe, 1994, p. 324:
Tradução: “A Legião Portuguesa combateu valentemente nas Batalhas de Wagram, Smolensk, Moscovo,
e como tantos de nós, tombou nas águas geladas do Beresina, antes de morrer, em Konigsberg, o seu
18
Voltando ao final de 1808, em Espanha, os franceses não conseguem extinguir a
para atacar a França – Napoleão deixa o seu irmão José como Rei de Espanha e
regressa a Paris em 17 de Janeiro de 1809. Vai ser o mesmo Soult que recebe a ordem
Em 1809, Soult vai ter grande dificuldade para se opor ao Exército Português. Durante
quase dois meses são as forças portuguesas, à custa de algumas tropas de linha e
forças francesas, sendo depois a sua acção decisiva para retardar a fuga de Soult. São
também as forças portuguesas que causam a maioria das 6.000 baixas (25% do total)
É de facto notável a defesa de Portugal nesta segunda invasão. Primeiro, Soult tem de
atrasar a sua chegada ao Porto porque falhou a entrada pelo Minho, devido à forte
em que sofre baixas elevadíssimas para lá chegar (a resistência nacional tem muito de
digno comandante, o Marquês de Alorna junto com a perda dos mais puros da sua nação, pagaram,
com o seu sangue, a honra de terem pertencido ao Grand-Armée”
44
Ver também do autor, A guerra em Portugal em 1809 e a ajuda portuguesa na reconquista de Vigo na
Revista Lusíada de História, Editora Lusíada, Lisboa, 2009.
19
grandes lutas e pequenas batalhas e a muitas baixas de ambos os lados).
Lisboa porque as suas linhas de comunicação com a Galiza estavam muito controladas
Tal como na primeira invasão, a chegada das tropas inglesas foram fundamentais para
a derrota dos franceses mas são essencialmente os portugueses que contêm a invasão
a norte e, de novo, criam as condições para um contra ataque aliado com sucesso.
“Portugal pegava em armas pela sua independência. Este sentimento era geral, e não
era à força que lhe conseguia levar a melhor. Teria sido mais fácil exterminar a nação
tendo sido indicado o general Beresford que, por decreto de 7 de Março de 1809, foi
Pereira Forjaz inicia a reorganização do Exército pelas unidades do centro e sul, uma
Após o sucesso da expulsão de Soult de Portugal, Wellesley julga que tinha chegado a
Beresford, avança com dois exércitos a fim de atingir Madrid. As operações duram até
20
30 de Setembro de 1809, sem que os exércitos aliados tivessem conseguido expulsar
forças portuguesas no Exército Aliado combatem como iguais ao lado dos britânicos,
na defesa das Linhas de Torres Vedras, com a plena integração operacional das milícias
e ordenanças.
Depois de expulso de terras lusas em 1811, Massena faz uma nova tentativa de invadir
Portugal mas, após a Batalha de Fuentes de Oñoro em Maio de 1811, é batido pelos
que vai tentar uma última invasão a Portugal pela zona das Beiras. Portugal é, pelo seu
como a espanhóis. A invasão de Marmont em 1812, não passa de uma acção sem
21
52.000 homens esperando uma nova oportunidade de invadir Portugal. A Espanha está
agora ocupada por cinco exércitos franceses com um total de 230 mil homens. Depois
dos sucessos em Fuentes de Oñoro, Albuera, Ciudad Rodrigo e Badajoz, tinha chegado
O plano de Wellington implica uma visão e estratégia global: Avançar com o exército
Segue-se a entrada triunfal em Madrid. No entanto, esta não seria ainda a ofensiva
Burgos”, por força da concentração dos exércitos franceses, causa mais de 5.000
Portugal e as forças espanholas mantiveram-se sem dar trégua aos exércitos franceses.
homens, dos quais 30.000 são portugueses, sob o comando do Duque de Wellington,
45
Segundo Soult foram 12.000 as perdas francesas e “dos anglo-lusos foi cerca de 6.000 (…) as
respectivas consequências foram a perda de metade de Espanha” Memórias de Soult, 2009, p. 213.
46
Os franceses sabiam bem que já não era possível reentrar em Portugal “o inimigo não corria nenhum
risco semelhante. O Pior que lhe podia acontecer, após uma derrota, era reunir-se de novo em Portugal,
onde nós não podíamos persegui-lo” Memórias de Soult, 2009, p. 229
47
Segundo Soult, 2009, p. 232, “as suas perdas estimadas entre 10.000 a 12.000 homens”
22
inicia a ofensiva em Espanha que iria dar lugar à célebre batalha de Vitória, na qual os
franceses sofrem uma das maiores derrotas na Península Ibérica. Madrid, Valência e
muitas das áreas de Castela e Aragão são então evacuadas pelos franceses. Os aliados
bloqueando Pamplona.
É mais uma campanha muito difícil para os aliados, a culminar na batalha de 2 dias em
desde 1809, com o grito “Douro, Douro”, retomado pelas restantes tropas aliadas. No
dia seguinte, começa a batalha dos Pirinéus. Registam-se 8 mil baixas francesas contra
Agosto. Termina assim a última invasão francesa da Guerra Peninsular. E é então que,
Continua muito difícil a campanha até à última das batalhas em Tarbes e Toulouse em
Português participa em cerca de 280 acções de combate (15 batalhas, 215 combates,
baixas portuguesas (sem contar as baixas das milícias e ordenanças). Depois da saída
48
Martins, 1945, p. 300.
23
combates em Espanha e França49. Para além das batalhas já referidas lembremos ainda
que, em Albuera estiveram 10.000 portugueses onde sofremos 389 baixas, em Badajoz
foram 730 os mortos, em San Sebastian 577 baixas, na batalha do Nivelle participaram
20 041 portugueses e tivemos 408 baixas, no Nive foram 379 mortos, 1736 feridos, 308
pedido foi e a ordem chegou do Brasil já se tinha dado Waterloo, Wellington lamentou
a ausência portuguesa “Se tivesse tido 40.000 dos seus portugueses, o exército francês
Mas a força foi de facto preparada para partir para a Bélgica e vai ser esta mesma
força, uma divisão ligeira a duas brigadas e cada uma a 2 batalhões de caçadores, que
vai então ser enviada para o Brasil, com o acordo de Portugal e Espanha, para mais
para os portugueses, mas esta já não é uma guerra contra a França ou os seus
interesses e por isso podemos considerar que terminou, com a retirada da Guiana
49
Ventura em Guerra Peninsular, Soberanias Atlânticas, 2008, p. 112
50
Henriques, 2002, p. 172
51
Martins, 1945, p. 318
24
Francesa52 em 1817, o conflito contra a França. Foram 24 longos anos de
a paz durou pouco e poucos anos depois entraríamos na pior das guerras que um povo
pode viver, a guerra civil. Resta-nos o orgulho de termos vencido, cambaleantes mas
52
“Tal facto viria a confirmar-se em 8 de Novembro de 1817, data na qual Portugal devolve o território à
França, sob um choro de pesar das populações francesa e nativa, aquando da retirada dos portugueses.
Este episódio surpreendeu de tal modo os próprios franceses que levou o novo comandante francês a
manifestar o seu espanto e a desejar tal manifestação de apreço aquando do “terminus” da sua
comissão” (Pereira, 2005, p. 53) também contado o mesmo episódio em Bessa em BARATA & TEIXEIRA,
2003, p. 239.
25
BIBLIOGRAFIA
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Editeur em 1994
26
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San Martin, 1981
MARQUES, Oliveira, História de Portugal (Vol I), Lisboa, Palas Editores, 1976
NEVES, Carlos Agostinho das, S. TOMÉ E PRÍNCIPE na segunda metade do século XVIII,
Funchal, Secretaria regional do turismo, 1989
PEREIRA, José Rodrigues, CAMPANHAS NAVAIS, VOL I & II, Lisboa, Tribuna, 2005
27