A FAIANÇA FINA NO NORDESTE DO BRASIL
Erica Marcela Lima da Silva1, Marcos Albuquerque2, Profª Drª Veleda Lucena3, Eleonora Guerra4
1
UFPE, História, ericafrancesinha@yahoo.com.br
2
UFPE, História
3
UFPE, História
4
UFPE, História
RESUMO
O presente trabalho integra o projeto que vem sendo
desenvolvido pelo Laboratório de Arqueologia da
Universidade Federal de Pernambuco, intitulado
Remanescentes Coloniais do Norte e Nordeste que é
coordenado pelo professor Marcos Albuquerque. Será
abordado neste trabalho uma categoria de material
arqueológico de grande incidência nos sítios
arqueológicos históricos: a faiança fina.
A Faiança Fina constitui uma categoria cerâmica
intermediária entre a faiança e a porcelana, foi resultado
de uma revolução na indústria cerâmica inglesa do século
XVIII. Suas técnicas de fabrico lhe proporciona
características que permitem que se distinga dos demais
tipos de cerâmica até então existentes. Vários elementos
podem servir de base para a análise das peças de faiança
fina, como os tipos de esmalte, as técnicas de decoração,
as cores, os motivos decorativos e a morfologia. Ela
começou a ser importada para o Brasil, principalmente da
Inglaterra, após a abertura dos portos em 1808, quando
houve maior facilidade para a circulação de produtos
estrangeiros em território nacional. A análise desse
material, sua incidência e distribuição, irá contribuir para
o estudo das práticas cotidianas da sociedade de sua
época, ampliando as bases para a sua compreensão
Palavras-Chave: Arqueologia Histórica; Utensílios
Domésticos; Faiança Fina
INTRODUÇÃO
A interpretação de uma sociedade através de seus
remanescentes materiais possibilita, a partir de um estudo
interdisciplinar, a identificação de processos e
comportamentos que não estão necessariamente descritos
na documentação textual. A abordagem arqueológica de
uma sociedade, portanto, deverá trazer a luz informações
relativas a conhecimentos técnicos, disponibilidades de
recursos, modas, crenças, valores, necessidades, em suas
variações ao longo do tempo e espaço, sem os
comprometimentos ideológicos que limitam o registro e a
divulgação dos acontecimentos.
No estudo do cotidiano de uma sociedade através de sua
produção material, o pesquisador poderá resgatar, por
exemplo, relações sócio-econômicas que contribuirão para
a reconstituição de um contexto, no qual esta sociedade
estaria inserida e suas relações internas e externas. Um
dos elementos mais utilizados pelos arqueólogos para a
realização do entendimento do cotidiano é a louça de uso
doméstico, onde se inclui a faiança fina.
A Faiança Fina constitui uma categoria cerâmica
intermediária entre a faiança e a porcelana, sendo
resultado de uma revolução na indústria cerâmica inglesa
do século XVIII. Ela representa o esforço dos oleiros
ingleses na busca de novos processos para alcançar a
porcelana Chinesa. Suas técnicas de fabrico lhe
proporciona características que permitem que se distinga
dos demais tipos de cerâmica até então existentes. Vários
elementos podem servir de base para a análise das peças
de faiança fina, como os tipos de esmalte, as diferentes
técnicas de decoração, as cores, os motivos decorativos e
a morfologia. Ela começou a ser importada para o Brasil,
principalmente da Inglaterra, após a abertura dos portos
em 1808, quando houve maior facilidade para a
circulação de produtos estrangeiros em território
nacional.
A Faiança Fina foi a classe de louça doméstica mais
popular no Brasil oitocentista compondo o aparato
utilitário de mesa de muitas famílias. A forte presença de
objetos feitos de faiança em tal período pode ser
percebida através dos remanescentes materiais deixados
pela sociedade da época. A título de exemplo têm-se o
levantamento de superfície e acompanhamento das obras
de duplicação na rodovia BR-101Norte (Palmares/Natal),
onde foi encontrada grande quantidade de material
arqueológico, sendo os fragmentos de faiança fina uma
significativa parcela em tais achados.
MÉTODOS
O Projeto Remanescentes Coloniais do Norte e Nordeste,
no qual o presente trabalho se encontra inserido, consiste
em um projeto mais amplo que vem sendo desenvolvido
pelo Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal
de Pernambuco sob a coordenação do Professor Marcos
Albuquerque. O referido projeto que vem sendo realizado
com o apoio do CNPq visa o estudo de vestígios
materiais de sociedades passadas (estruturas e artefatos)
através de uma abordagem interdisciplinar que inclui o
levantamento textual, tanto primário como secundário,
iconográfico e arqueológico.
As ocorrências arqueológicas localizadas e identificadas
durante o andamento desse projeto, vêm sendo geo-
referenciadas e devidamente documentadas. O material
arqueológico móvel, a partir da escavação, é
encaminhado para o laboratório onde é submetido a uma
seqüência de procedimentos analíticos. Inicialmente o
material é identificado e classificado, com base em
bancos de dados e de imagens.
Inserida neste contexto, a faiança fina é submetida a uma
análise quantitativa e qualitativa de suas características
técnicas, morfológicas, funcionais, de uso e de descarte.
Os dados coletados durante o processo de análise
alimentarão bancos de dados e planilhas estatísticas. Há
uma observação do espaço onde o material foi encontrado
e todos os aspectos serão levados em consideração na
análise desse material para que se possa ter o maior
número informações do resgate arqueológico como
cronologia, contexto social, contexto econômico, político
e entendimento do cotidiano.
RESULTADOS
Nos sítios arqueológicos históricos (do século XVIII e
posteriores) localizados e trabalhados pelo Laboratório de
Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco,
tanto no Norte quanto no Nordeste do Brasil, tem-se
constatado a presença de cerâmica, Grès, vidro, moedas,
cachimbos, faiança e faiança fina.
A faiança fina, normalmente importada da Inglaterra,
constitui-se uma classe de louça doméstica das mais
populares no Brasil oitocentista, conforme revela sua
incidência nos sítios arqueológicos históricos estudados
pelo referido laboratório. A faiança fina compôs o aparato
utilitário de mesa de muitas famílias e aparece presente
também vinculada à objetos de uso farmacêutico, de
cosméticos, de decoração e de cuidado e higiene pessoal.
A análise do material revelou uma diversidade
morfológica, como também de técnicas e motivos
decorativos.
A variedade morfológica funcional associada ao serviço
de mesa pode ser observada através de fragmentos de
pratos, pires, xícaras, terrinas, bules, tigelas, chávenas,
travessas. Do ponto de vista de higiene, cuidado e uso
pessoal foram identificados jarras e bacias de lavatório,
urinóis, potes de produtos cosméticos e vasos decorativos.
As técnicas decorativas mais comuns são as pinturas à
mão livre, pintura no torno, a utilização de carimbos,
transfer, o uso de esponjas. A variedade de padrões e
motivos decorativos normalmente se revela em função da
técnica utilizada e da morfologia funcional. São
freqüentes os motivos florais policromáticos em pintura à
mão livre e associado a essa decoração se tem a utilização
de carimbos. Em combinação com essas duas técnicas
observa-se a presença de faixas e frisos cuja incidência,
mesmo isolada, foi frequentemente observada. Uma das
mais populares decorações é a conhecida como SHELL
EDGED que aparece predominantemente na cor azul.
Uma decoração que identifica peças em princípio mais
caras, adquiridas e utilizadas pela uma população mais
abastada é o conhecido FLOW BLUE, ou seja, o Azul
Borrão.
Todos esses elementos são devidamente estudados durante
o processo analítico tendo em vista a identificação dos
padrões socio-econômico e culturais da época.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Ao final da análise do material proveniente de um resgate
arqueológico deverão ser respondidas questões básicas
que possibilitem o acréscimo de novas informações ao
conhecimento da sociedade estudada. A contextualização
e interpretação das ocorrências arqueológicas móveis
localizadas e resgatadas através do procedimento
arqueológico, como é o caso da faiança fina, em sítios
arqueológicos históricos, é de extrema importância, pois
possibilita o aumento do grau de informação da realidade
existente. O material, além de viabilizar a datação relativa
dos sítios, revela determinados comportamentos, como
por exemplo, relações comerciais e de consumo, modas,
valores, gostos, necessidades, disponibilidades, interesses
de uma época, bem como, condições socio-econômicas e
hábitos alimentares e de higiene de seus antigos
proprietários. Pode revelar ainda informações de gênero e
etárias.
Portanto, o estudo minucioso e consequentemente
complexo da faiança fina inserida em um contexto
histórico/ arqueológico contribuirá para um melhor
entendimento da sociedade estudada, trazendo à luz a
percepção de várias informações que não se encontram
registradas na documentação textual quer primária, quer
secundária nem tão pouco na registrado na iconografia.
São informações que só poderão ser resgatadas a partir da
transformação das ocorrências arqueológicas em
documento material pronto para ser lido pelo arqueólogo
e transmitido para a sociedade.
Uma outra contribuição do estudo da faiança fina como
integrante remanescente material de uma sociedade
constitui-se na identificação de forma direta e palpável de
diversidades e mudanças nas práticas sociais de um
período.
A divulgação deste material inserido em seu contexto de
uso, através de visitas guiadas às instalações do
Laboratório de Arqueologia da UFPE, visa contribuir
para a valorização e preservação do nosso patrimônio
cultural e permite aos estudantes e visitantes de um modo
geral, o estabelecimento de uma conexão entre o seu
presente e o passado.
REFERÊNCIAS
[1] ALBUQUERQUE, Marcos. Arqueologia histórica,
arquitetura e restauração. Revista Clio, série
arqueologica, Recife: UFPE, v.1, n.8, p.131-151,1992.
[2] Assientamientos militares: Una perspectiva de
abordagem. In:CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE
ARQUEOLOGIA HISTÓRICA AMERICANA, 2. Actas
I.Santa fé:USC, p.19-38, 1995.
[3] ALBUQUERQUE, Paulo Tadeu de S.; VELOZO,
Jango N. A faiança fina inglesa dos sítios arqueológicos
históricos brasileiros. Revista Clio, Recife:UFPE, v.1,
n.9, p.81-96, 1993
[4] TOCCHETTO, Fernanda Bordin,et.al. A faiança fina
em Porto Alegre -Vestígios arqueológicos de uma
cidade. Porto Alegre: UE-Secretaria Municipal da
cultura, 2001. 168 p., il.
[5] ZANETTINI, Paulo Eduardo. Pequeno roteiro para a
classificação de louças obtidas em pesquisas
arqueológicas de sítios históricos. Revista Arqueológica:
v.5, p.117-130, 1986.