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Resumo: Este artigo parte de uma construção teórica subsidiada numa reflexão
crítica e analítica entre o artivismo na Dança e sua função política. Tem como
propósito gerar uma articulação entre Dança e política para discutir corpos
subversivos que sobrevivem transgredindo padrões normativos já estabilizados.
Corpos que habitam diferentes instâncias de sobrevivência, gerando, nas interfaces
entre política, cultura e sociedade, manifestos de Dança. Essas são algumas
hipóteses e alguns caminhos que delimitam o espaço espistemológico desse
trabalho e o entendimento de Corpovoz é que permite perceber essa articulação, a
partir dos seus discursos de (r)existência como ação performativa; marcando-se,
também, como outra hipótese. O Corpovoz, em sua ação de proferir a
indissociabilidade entre Dança e artivismo, expõe estratégias de sustentabilidade, na
maioria das vezes mínimas, mas também é o que possibilita sobrevivência. Arte e
vida, no Corpovoz, são inseparáveis. O corpovoz em sua ação performativa exibe as
mazelas e os efeitos da categorização das dissidências e seus processos de
subalternização. Expõe que a cultura é responsável pela condição de corpo abjeto,
no qual a Dança se incube de enunciar os artivismo construídos a partir do fazer-
dizer dos corposvozes. A pesquisa, que aqui se encontra como artigo, tem um
arcabouço teórico que conta com autores que problematizam as ações e os efeitos
dos paradigmas sociais para a modificação dos mesmos em corpos dissidentes,
através da norma constituída na cultura-sociedade ao longo da história, assim como,
apontar a existência de trabalhos artísticos que discutem as relações de Gênero e
Sexualidade no campo da Dança. E para isso, buscar-se-á compreender os
agenciamentos políticos que tencionam a vida e os processos de assujeitamento,
desses corpos que dançam, verificando quais os pontos convergentes de suas
produções artísticas na dança e de seus discursos presentes no corpo. Nesse artigo,
a ênfase é dada a trajetória artística/acadêmica do próprio doutorando, auimplicado
e, como parte do artivismo no campo das artes, amplifica a existência da ação
dissidente da sexualidade cisheteronormativa.
Corpovoz, they are inseparable. The body-voice in its performative action exhibits the
effects of the categorization of dissidences and its Dance undertakes to enunciate
the artivism constructed from the making-said (Seventy) pos corpo-voices. The
research, which here is configured as an article, has a theoretical framework that has
authors who discuss the actions and effects of social paradigms for their modification
in dissident bodies through the norm established in the culture-society throughout
history, as well as pointing out the existence of artistic works that discuss the
relations of Gender and Sexuality in the field of Dance. And for that, it will be sought
to understand the political assemblages that tension life and the subjection
processes of these dancing bodies, verifying which are the converging points of their
artistic productions in dance and their discourses present in the body. In this article,
emphasis is given to the artistic/academic trajectory of the doctoral student himself,
self-implicated gave me a blank here... is that correct? and as part of artivism in the
field of arts, it amplifies the existence of the dissenting action of cisheteronormative
sexuality.
1. Considerações Inciais
1
O corpovoz ou corpovozes, refere/m-se neste artigo aos primeiros apontamentos que faço na
construção da tese sobre a indissociabilidade entre obra e vida de um artista/acadêmico ou demais
artistas que vivem e criam suas obras a partir dos seus próprios contextos e narrativas pessoais e
coletivas. Sejam contextos de vulnerabilidades, subalternidade, precariedade, violência e ou outras
motivações que fazem de suas obras, manifestos políticos ou qualquer outra proposta que insurjam
na defesa de direitos colocando o corpo como própria condição de obra artística. Penso o
―corpovoz/corpovozes‖ como uma metáfora para tensionar a relação entre vida e arte no campo da
dança.
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A professora Drªa Adriana Bittencourt (UFBA), autora do livro ―Imagens como acontecimentos‖ 1340
apresenta como uma das hipóteses, o corpo como imagem no fluxo do tempo.
ISSN: 2238-1112
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O professor Leandro Colling reúne, no livro ―Artivismos das dissidências sexual e gênero‖, da
coleção Cult, um conjunto de artigos com uma ampla discussão sobre ativismos e suas relações
entre cultura e sociedade. Introduz o conceito de artivismo, amplificando historicamente o surgimento
do campo, problematizando o conceito a partir de pesquisas acadêmicas desenvolvidas e em 1341
desenvolvimento sobre o tema das dissidências sexual e de gênero.
ISSN: 2238-1112
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No texto, mais a frente, desenvolvo as primeiras pistas e possíveis articulações entre dança,
imagem, artivismo e corpovoz. É importante destacar que a ideia de ―corpovoz‖ está em construção e
que não se fecha para possibilidades de acréscimos, alterações e bifurcaçoes conceituais a serem 1342
costruidas.
ISSN: 2238-1112
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Em 2016 a Cantora gospel Ana Paula Valadão, em Congresso Diante do Trono, afirmou que o
HIV/Aids seria uma consequência de relações anormais entre homossexuais masculinos que
consequentemente infectavam mulheres . Além de afirmar que ―ser gay não é normal‖, a cantora que
também é pastora e vive nos Estados Unidos, onde tem uma Igreja própria, afirmou que a ―Aids está
aí para mostrar que a união sexual entre dois homens causa uma enfermidade que leva à morte.‖
Além dela, o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse, em entrevista ao jornal ―O Estado de São
Paulo‖ que homossexuais seriam fruto da desestrutura da família. Comentou que o Ministério da
Educação não teria responsabilidade sobre a desigualdade social no país. Afirmou que ―o
adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) vêm, algumas 1343
vezes, de famílias desajustadas‖.
ISSN: 2238-1112
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De acordo com Guia de Terminologia do UNAIDS, lançado em português em outubro de 2017, o
termo ―portador do vírus da AIDS ou ‗portador do HIV‘ caiu em desuso, porque é incorreto,
estigmatizante e ofensivo para muitas pessoas vivendo com HIV. Como substituição, recomenda-se o
uso de ―pessoa vivendo com HIV‖ (UNAIDS, 2021).
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O Movimento Homossexual Brasileiro (MHB), assim era chamado nos primeiros anos do movimento
LGBT organizado e disperso, que se transformaria em movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transsexuais). Essa sigla tem recebido alterações e têm sido incrementadas novas
categorias indenitárias, na busca de contemplar ao máximo a pluralidade dos indivíduos e suas 1344
subjetividades de sexo, gênero e sexualidade dissidente da norma cisheteronormativa.
ISSN: 2238-1112
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Para saber mais sobre o conceito de necropolítica, é possível ler o trabalho desenvolvido por Achille
Mbembe, 2018.
9 9
Para saber mais sobre Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, acessar
https://desinstitute.org.br/noticias/declaracao-universal-dos-direitos-humanos-como-surgiu-e-o-que-
defende/
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Desde 2013, o Ministério da Saúde, através do SUS, oferece tratamento para todas as pessoas
vivendo com HIV, independente da contagem de células CD4 (UNAIDS, 2021).
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A Lei nº 12.984 estabelece que o ―Art. 1º Costitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) 1345
anos, e multa, as seguintes condutas discriminatórias‖ (UNAIDS, 2021).
ISSN: 2238-1112
Cabe evidenciar que, nessa virada do século XX para o XXI, o HIV, como
uma doença infecciosa de alta letalidade, colocou a ciência em xeque, e, apesar da
mortalidade latente provocada pela epidemia desde os anos 80, com milhões de
pessoas vitimadas (UNAIDS, 2021), houve, através da ciência, grandes progressos
nos tratamentos, que se sofisticaram e trouxeram qualidade de vida às pessoas, a
partir de terapias antirretrovirais (ARN), levando-as a terem uma carga viral
indetéctavel para HIV, a não transmissão total do virus. Atualmente. há métodos de
prevenção da infecção, como a Profilaxia pós e pré-exposição, que ajudam na
redução do número de contaminações.
Porém, é importante ressaltar que há a necessidade de políticas
educacionais que amplifiquem, dentro dos processos educacionais em todos os
níveis de formação, a construção de uma consciência de valores que
desestigmatize, de uma vez por todas, a condição da pessoa vivendo com HIV e dos
novos métodos que são eficazes e que separam dois momentos da história da
epidemia da Aids.
De maneira naturalizada, nos últimos anos,
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ISSN: 2238-1112
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Nesse momento estou tratando do conceito de interseccionalidade a partir de Akotirene,
2020;Collins,2021.
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As imagens do corpo surgem por auto-organização de reverberações de informações entre
diferentes níveis de descrição do corpo. Decorrem de traduções entre sinais de vísceras, órgãos,
terminações nervosas, das trocas permanentes entre cérebro e ambiente. Trata-se de um
procedimento variável e dinâmico, já que cada imagem singulariza um tipo de conexão ocorrida em
um determinado momento. Como se trata de um procedimento que se auto-organiza na ação da
percepção, o que significa a ocorrência de movimento no corpo, as imagens se encontram implicadas
em acordos constantes. Toda imagem independente de sua modalidade, surge correlacionada com o
ambiente, venha de um estímulo do interior do corpo ou de um estímulo do entorno, pelas portas dos
órgãos sensitivos, pois ambos desenvolvem uma trilha transitória de combinações. Por essa razão,
não há nada estático em um corpo que se constituiu em codependência com seu contexto. Não existe
um homúnculo no cérebro para receber as informações do corpo. (Bittencourt,2012,p.22). 1347
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Para saber mais sobre Imagem ler Bittencourt,2009;2012;2018.
ISSN: 2238-1112
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Para saber mais sobre a História do Movimento LGBTQIA+ o Brasil Ler ―História do Movimento
LGBT no Brasil‖ de Green et.al 2018 e ―Além do Carnaval: A homossexualidade masculina no Brasil 1348
do século XX‖ Green,2019.
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Segundo relatos de algumas testemunhas que presenciaram os últimos momentos de vida de
Dandara, ela havia tomado uma carona de um rapaz que estava numa motocicleta, com o qual,
supostamente, iria ter relações sexuais. Pelo vídeo divulgado, é possível vê-la sendo torturada na rua
Manoel Galdino, numa quadra conhecida como Conjunto Palmares. Nas cenas, a vítima é vista
sentada no chão, já bastante ensanguentada, enquanto são desferidos chutes, pauladas e
xingamentos pelos rapazes envolvidos. Depois de bastante violência, os rapazes ordenam a Dandara
que suba num carro de mão e ela bastante debilitada, quase sucumbindo, não consegue se levantar.
Com isso, eles rispidamente a jogam sobre o carro de mão e a levam em direção a uma viela, no final
da rua, na qual seria, enfim, assassinada com tiros no rosto. Todo esse massacre foi presenciado por
vários moradores daquela região, na tarde do dia quinze de fevereiro, que, segundo relatam em
algumas reportagens, pouco puderam fazer para impedir o crime e, quando tentaram, não obtiveram
uma resposta rápida e necessária da polícia militar. Com isso, Dandara foi morta. Tragicamente 1349
morta. (MELO, 2019, p.74/75)
ISSN: 2238-1112
Referências:
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