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SMA0356 - Aula 2 - Semana 23/8 – 27/8

Sequências Numéricas II e Conceitos Básicos de Séries Numéricas

n!
Na Parte 3 da Aula 2, o Prof. Possani estuda a convergência da sequência an = n . Ele
n
mostra que essa sequência converge para 0 usando o fato que ambas as subsequências a2n e a2n+1
convergem para 0. No entanto, o conceito de subsequência não foi introduzido na aula. Faremos
isso aqui, mas antes vamos calcular o limite dessa sequência por um outro argumento. Notemos
que para n ≥ 3, temos

n! n.(n − 1) . . . 1 n n−1 2 1 1
n
= = ... < .
n n.n . . . n n | {z
|{z} n } |{z}
n n n
=1 <1 <1

De
n! 1
< ,
0< ∀ n ≥ 3,
nn n
n!
segue do teorema do confronto que lim n = 0.
n→∞ n

Definição. Sejam (an ) uma sequência e N1 = {n1 , n2 , n3 , . . . } ⊂ N um subconjunto infinito e


ordenado dos naturais, isto é
n1 < n2 < n3 < . . .
Diremos que (ani ), com ni ∈ N1 , é uma subsequência de (an ).

Exemplo 1. Considere a sequência (an ) = ( n1 ), com n ≥ 1, e o subconjunto N1 dos múltiplos de 3,


ou seja, n1 = 3, n2 = 6, n3 = 9, . . . . Neste caso, temos a subsequência (ani ) = (a3i ) = ( 31 , 16 , 91 , . . . ).
Exemplo 2. Considere a sequência (an ) = ((−1)n ), para n ≥ 1.

a) Se N1 é o subconjunto dos pares positivos temos a subsequência (a2n ) = (1, 1, 1, . . . ).

b) Se N2 é o subconjunto dos ı́mpares positivos temos a subsequência (a2n−1 ) = (−1, −1, −1, . . . ).

Teorema 1. Seja (an ) uma sequência. Então lim an = L ∈ R se, e somente se, lim ani = L para
n→∞ i→∞
toda subsequência (ani ) de (an ).

1 n
 1 n
 2
Exemplo 3. an = 1 + n
→ e. Logo, a subsequência an2 = 1 + n2 → e.
Exemplo 4. A sequência (an ) = ((−1)n ) é divergente. De fato, do contrário, o Teorema 1 diz
que todas as subsequências têm o mesmo limite. Mas isto é impossı́vel, pois, (a2n ) = (1, 1, 1, . . . )
converge para 1 e (a2n−1 ) = (−1, −1, −1, . . . ) converge para −1.
n
X 1
Exemplo 5. A sequência sn = é divergente. De fato, notemos que
i=1
i
     
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
s4 = 1 + + + = 1 + + + >1+ + + =1+ + =1+2 .
2 3 4 2 3 4 2 4 4 2 2 2
Usando a mesma ideia para s8 , obtemos
1 1 1 1 1 1 1
s8 = 1 + + + + + + +
2 3 4 5 6 7 8
 
1 1 1 1 1 1 1
=1+ + + + + + +
2 3 4 5 6 7 8
1 1 1 1 1 1 1
>1+ +( + )+( + + + )
2 4 4 8 8  8 8
1 1 1 1
=1+ + + =1+3 .
2 2 2 2

A partir desse padrão, vemos que


   
1 1 1
s2 = 1 + , s4 > 1 + 2 , s8 > 1 + 3 .
2 2 2

De forma mais geral, pode ser mostrado que


 
1
s2n ≥1+n ∀ n > 1.
2

Como 1 + n(1/2) → ∞, concluı́mos que a subsequência (s2n ) é divergente. Pelo Teorema 1, a


sequência (sn ) é divergente.

Teorema 2. Seja (an ) uma sequência e suas subsequências (a2n ) e (a2n−1 ). Se existe L ∈ R tal que
a2n → L e a2n−1 → L, então an → L.

Exemplo 6. O Teorema 2 foi usado pelo Prof. Possani para mostrar que o limite da sequência
n!
an = n é 0.
n
1 + cos(nπ)
Exemplo 7. Seja an = . As subsequências
n
2 1
a2n = = → 0,
2n n
0
a2n−1 = = 0 → 0.
2n − 1

Pelo Teorema 2, a sequência (an ) é convergente e an → 0.

Exercı́cio 1. Considere a sequência (sn ) definida por


n
X 1 1 1 1 1
sn = (−1)i+1 = 1 − + − + · · · + (−1)n+1 .
i=1
i 2 3 4 n

Mostre que (sn ) é convergente.


Dica: estude as subsequências (s2n ) e (s2n−1 ).
Conceitos Básicos de Séries Numéricas.
Definição. Dada uma sequência numérica ak , k ≥ 0, a sequência de termo geral
n
X
sn = ak , n ≥ 0,
k=0

denomina-se série numérica associada à sequência (ak ). Os números ak , k ≥ 0, são chama-


dos termos da série. Os números sn são chamados somas parciais de ordem n da série.
Se (sn ) for convergente, isto é, sn → s ∈ R, diz-se que a série é convergente. Nesse caso,
o limite s é chamado soma da série e escreve-se

X
ak = s.
k=0

Quando (sn ) for divergente, diz-se que a série é divergente.



X
O sı́mbolo ak foi usado para indicar a soma da série. Por um abuso de notação, tal sı́mbolo
k=0

X
também será usado para denotar a própria série. Quando dissermos a série ak , devemos
k=0
n
X
entender que se trata da série cuja soma parcial de ordem n é sn = ak .
k=0

X 1
Exemplo 8. A série é convergente e sua soma é igual a 1.
k=1
k(k + 1)
De fato, primeiramente note que
1 1 1
= − , ∀ k ≥ 1.
k(k + 1) k k+1
Assim,
n
X 1
sn =
k=1
k(k + 1)
n  
X 1 1
= −
k=1
k k+1
     
1 1 1 1 1
= 1− + − + ··· + −
2 2 3 n n+1
1
=1− .
n+1
Assim, lim sn = 1. Portanto, a série em questão é convergente e
n→∞

X 1
= 1.
k=1
k(k + 1)


X
Exemplo 9. Se ak = 1, k ≥ 0, então ak = ∞, isto é, diverge. De fato, sendo sn = n + 1,
k=0
n ≥ 0, temos sn → ∞.

X
Exemplo 10. A série (−1)k diverge. De fato, a sequência (sn ) das somas parciais é dada por
k=1

−1, se n é ı́mpar,
sn =
0, se n é par,

e é, portanto, divergente.


Exemplo 11 (Série geométrica). Provavelmente a mais simples e mais importante de todas as
séries é a conhecida série geométrica

X
qrk .
k=0

O número r é chamado razão da série geométrica e q 6= 0 é o termo inicial da série. Sua sequência
de somas parciais é dada por
n
X
sn = qrk = q + qr + qr2 + · · · + qrn .
k=0

Se |r| = 1, os Exemplos 9 e 10 mostram que (sn ) diverge. Consequentemente, para |r| = 1, a


série geométrica diverge.
Considere agora o caso |r| =
6 1. A sequência de somas parciais sn , n = 0, 1, 2, . . . , satisfazem

sn = q + qr + qr2 + · · · + qrn
rsn = qr + qr2 + qr3 + · · · + qrn+1

Subtraindo a segunda equação da primeira, vem

(1 − r)sn = q(1 − rn+1 ).

Como |r| =
6 1, seque que r 6= 1, e assim

q(1 − rn+1 )
sn = .
1−r
q
• Se |r| < 1, lim rn+1 = 0. Portanto, lim sn = .
n→∞ n→∞ 1−r
• Se |r| > 1, (rn+1 ) diverge. Portanto, (sn ) diverge.

Esta análise pode ser resumida da seguinte forma:



X
• se |r| ≥ 1, a série geométrica qrk diverge.
k=0

∞ ∞
X
k
X q
• se |r| < 1, a série geométrica qr é convergente e qrk = .
k=0 k=0
1−r

Exercı́cio 2. Determine a soma das séries


5 5
a) 5 + + · · · + k−1 + . . .
9 9
5 5
b) 5 − + · · · + (−1)k−1 k−1 + . . .
9 9
O próximo resultado fornece uma condição necessária para que uma série seja convergente.

X
Teorema 3. Se ak for convergente, então lim ak = 0.
k→∞
k=0

n
X ∞
X
Demonstração. Seja sn = ak . Sendo a série ak convergente, existe L ∈ R, tal que
k=0 k=0
lim sn = L. Também, lim sn−1 = L. Como an = sn − sn−1 , resulta
n→∞ n→∞

lim an = lim (sn − sn−1 ) = L − L = 0.


n→∞ n→∞


X
Observação 1. A recı́proca do teorema não vale, isto é, existem séries ak divergentes, com
k=0

X 1 1
lim ak = 0. De fato, pelo Exemplo 5, a série harmônica é divergente, embora → 0.
k→∞
k=1
k k
Observação 2. O Teorema 3 fornece um teste de divergência. Para ver isso, vamos escrever
sua formulação contrapositiva:


X
Se lim ak 6= 0 ou lim ak não existe, então a série ak diverge.
k→∞ k→∞
k=0

Exercı́cio 3. Determine se as séries são convergentes ou divergentes.



X k2
a) .
k=1
k2 + 3
∞  
X 1
b) k sin .
k=1
k

X
c) [1 + (−1)k ].
k=1

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