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SMA0356 - Aula 5 - Semana 13/9-17/9

Convergências Absoluta e Condicional

Antes de introduzir as convergências absoluta e condicional, vamos analisar


dois exemplos.
∞ ∞
Considere uma série an e a série relacionada |an |. Aqui, discutimos as
X X

n=1 n=1
possibilidades de relação entre a convergência dessas duas séries. Por exemplo,

(−1)n+1
considere a série harmônica alternada . A série cujos termos são o
X

n=1
n
∞ ∞
(−1)n+1 X

1
valor absoluto desses termos é a série harmônica, pois .
X
=
n
n=1
n n=1
Como a série harmônica alternada converge, mas a série harmônica diverge,
dizemos que a série harmônica alternada exibe convergência condicional.

(−1)n+1
Considere agora a série . A série cujos termos são os valores ab-
X

n=1
n2

1
solutos dos termos desta série é a série . Como ambas as séries convergem,
X

n=1
n2

(−1)n+1
dizemos que a série exibe convergência absoluta.
X

n=1
n2

Denição.
∞ ∞
• Uma série an é absolutamente conververgente se a série
X X
|an |
n=1 n=1
converge.
∞ ∞
• Uma série an é condicionalmente conververgente se a série
X X
an
n=1 n=1

converge, mas a série |an | diverge.
X

n=1


Conforme mostrado pela série harmônica alternada, uma série an pode con-
X

n=1

vergir, mas |an | pode divergir. O teorema a seguir, entretanto, nos diz que
X

n=1
∞ ∞
se |an | converge, então an converge.
X X

n=1 n=1

1
∞ ∞
Teorema. Se |an | converge, então an converge.
X X

n=1 n=1

Observação 1. Os critérios de convergência para séries de termos não-negativos


(comparação, comparação no limite, da integral, razão e raiz) são critérios de
convergência absoluta.

Exemplo 1. Para cada uma das seguintes séries, determine se a série converge
absolutamente, converge condicionalmente ou diverge.

(−1)n+1
a)
X

n=1
3n + 1

cos n
b)
X

n=1
n2

Solução.
∞ ∞
(−1)n+1 X

1
a) Vemos que diverge usando o teste de compa-
X
=
3n + 1 3n + 1
n=1 n=1
ração no limite com a série harmônica. De fato,
1/(3n + 1) 1
lim = > 0.
n→∞ 1/n 3

(−1)n+1
Portanto, a série não converge absolutamente. No entanto,
X

n=1
3n + 1
como
1 1 1
< e → 0,
3(n + 1) + 1 3n + 1 3n + 1

(−1)n+1
pelo Critério de Leibniz, a série converge. Podemos concluir
X

n=1
3n + 1

(−1)n+1
que é condicionalmente convergente.
X

n=1
3n + 1

b) Observando que
cos n ∞
1 1
e converge,
X
0 ≤ 2 ≤ 2 , n ≥ 1,

n n n 2
n=1


cos n

segue do critério da comparação que a série 2 converge. Portanto,
X

n=1
n

cos n
a série é absolutamente convergente.
X

n=1
n2

2
Exercício 1. Determine se cada uma das seguintes séries converge absoluta-
mente, condicionalmente ou diverge.

n
a)
X
(−1)n+1
n=1
n+3
∞ √
n+3
b)
X
n+1
(−1)
n=1
n

c)
X
(−1)n+1 sin2 (1/n)
n=1


d) (−1)n+1 n (arctan(n + 1) − arctan n) (sugestão: use o teorema do va-
X

n=1
lor médio.)


Exemplo 2. Determine x para que a série nxn seja convergente.
X

n=1

Solução. Vamos estudar primeiro a série de termos não negativos, isto é, vamos
estudar primeiro a convergência absoluta. Vamos aplicar o critério da raiz para
a série com o termo geral em valor absoluto. Para todo x ∈ R e n = 1, 2, 3, . . . ,
temos p √
n
|nxn | = n
n|x|.
Como √
lim n
n|x| = |x|,
n→∞

a série nxn é absolutamente convergente para |x| < 1, ou seja, para −1 <
X

n=1
x < 1.
Agora, para |x| ≥ 1, ou seja, para x ≤ −1 ou x ≥ 1, o termo geral nxn 6→ 0,

portanto pelo critério da Divergência, a série nxn é divergente para |x| ≥ 1.
X

n=1

A conclusão é que a série nxn é absolutamente convergente para |x| < 1
X

n=1
e divergente para |x| ≥ 1.

3
Observação 2. Embora não tenha sido comentado na aula do Prof. Possani,
os critérios da raiz e da razão possuem versões para séries de termos quaisquer
(sem sinal denido) e serão enunciados a seguir.

Teorema (Critério da raiz para séries de termos quaisquer). Dada a



série an , temos:
X

n=0

1. lim an é absolutamente convergente.
p X
n
|an | = L < 1 ⇒
n→∞
n=0

2. lim |an | = L > 1 ou L = ∞ an é divergente.
p X
n

n→∞
n=0

3. O critério não é conclusivo se lim |an | = 1.


p
n

n→∞

Demonstração.

1. Suponhamos lim |an | = L < 1. Logo, existem r ∈ (L, 1) e n0 ∈ N tais


p
n

n→∞
que
n ≥ n0 ⇒ |an | < rn .
∞ ∞
Como rn converge, segue do critério da comparação que |an | con-
X X

n=0 n=0
verge.
2. Suponhamos lim |an | = L > 1 ou L = ∞. Logo, existe n0 ∈ N tal que
p
n

n→∞
p
n
n ≥ n0 ⇒ |an | > 1.

Assim, |an | > 1 se n ≥ n0 , implicando an 6→ 0 e, portanto, an diverge.
X

n=0
X1
Para mostrar a última parte, consideremos, por exemplo, as séries (diver-
n=1
n
X 1
gente) e (convergente). Para ambas, lim n |1/n| = lim n |1/n2 | = 1.
p p
n 2 n→∞ n→∞
n=1

Exemplo 3. Vamos refazer o Exemplo 2 usando o critério da raiz para séries


de termos quaisquer:
p
n

lim |nxn | = lim n n|x| = |x|.
n→∞ n→∞


Pelo critério da raiz para séries de termos quaisquer, a série nxn é absoul-
X

n=1
tamente convergente para |x| < 1 e divergente para |x| > 1.

4
Para |x| = 1 a série é divergente. De fato, se x = 1 a série é diverge, pois
n|x|n = n 6→ 0. Se x = −1 a série também diverge, pois limn→∞ (−1)n n não
existe.

De modo análogo, podemos provar o critério da razão para séries de termos


quaisquer:

Teorema (Critério da razão para séries de termos quaisquer). Dada a



série an , com an 6= 0 para todo n ≥ N para algum N ∈ N, temos:
X

n=0


|a |
1. lim n+1 = L < 1 an é absolutamente convergente.
X

n→∞ |an |
n=0


|an+1 |
2. lim = L > 1 ou L = ∞ an é divergente.
X

n→∞ |an |
n=0

|an+1 |
3. O critério não é conclusivo se lim = 1.
n→∞ |an |


xn
Exemplo 4. Determine x para que a série seja convergente.
X

n=1
n
Solução. Para x = 0 a série é convergente. Para x 6= 0, vamos aplicar o critério
da razão para séries de termos quaisquer:
n+1
x n+1
n+1 x n n
lim xn = lim n
= |x| lim = |x|.
n→∞ n→∞ |x | n + 1 n→∞ n + 1
n

Segue, do critério da razão, que a série é absolutamente convergente para |x| < 1
e divergente para |x| > 1.

1
Para x = 1, temos a série harmônica que já sabemos que diverge.
X

n=1
n

1
Para x = −1, temos a série harmôncia alternada (−1)n que é convergente.
X

n=1
n
∞ n
x
A conclusão é que a série é convergente para −1 ≤ x < 1.
X

n=1
n

xn
Podemos concluir mais: a série é absolutamente convergente para
X
n n=1
−1 < x < 1, divergente se x < −1 ou x ≥ 1 e condicionalmente convergente
para x = −1.

5

xn
Exemplo 5. Determine x para que a série seja convergente.
X

n=1
n!
Solução. Para x = 0 a série é convergente. Para x 6= 0, vamos aplicar o critério
da razão para séries de termos quaisquer:
n+1
x
(n+1)! |x|
lim xn = lim = 0 < 1.
n→∞ n→∞ n + 1
n!

Assim, a série é absoultamente convergente para qualquer x 6= 0. Juntando os


dois casos, concluímos que a série é absolutamente convergente para qualquer
que seja x ∈ R.

Exemplo 6. Determine x para que a série nn xn seja convergente.
X

n=1

Solução. Usando o critério da raiz para séries de termos quaisquer, temos


se x = 0,

p
n 0
lim nn |x| = lim n|x| =
n→∞ n→∞ ∞ se x 6= 0.
Assim, a série diverge para todo x 6= 0 e converge somente para x = 0.

Conforme observado na Aula 5 do Prof. Possani, as séries do tipo dos exem-


plos 2, 4, 5 e 6 são exemplos de Séries de Potências que serão estudas na Aula
7.

APÊNDICE. As convergências absoluta e condicional permitem entender que a


soma de uma série não resulta de uma operação algébrica, mas de um processo
limite. Assim, não se podem simplesmente transferir as propriedades da adiação
para as séries convergentes. Vamos considerar a questão da comutatividade (a
ordem das parcelas não altera o resultado da adição). Para isto, é preciso entender
o signicado de alterar a ordem dos termos de uma série, que é o conteúdo da
denição a seguir.

Denição. Seja a série ak e seja φ : N → N uma função bijetora. A série
X

k=1
∞ ∞
bk , onde bk = aφ(k) , denomina-se uma reordenação da série ak .
X X

k=1 k=1

∞ ∞ ∞
Observe que sendo bk uma reordenação de ak , então bk tem os mesmos
X X X

k=1 k=1 k=1



termos que ak , só que numa outra ordem.
X

k=1

6
A seguinte propriedade estabelece a propriedade comutativa para as séries absolu-
tamente convergentes.

Teorema. Se ak é uma série absolutamente convergente, então toda reordena-
X

k=1

ção de ak converge absolutamente, e todas convergem para a mesma soma.
X

k=1

Uma demonstração deste teorema pode ser encontrada na seção 4.3 do livro do
Guidorizzi.

A proposição abaixo estabelece que, entre as séries convergentes, a comutatividade


é característica somente das séries absolutamente convergentes.

Proposição. Seja ak uma série condicionalmente convergente. Então, dado
X

k=1
∞ ∞
qualquer s ∈ R ou s = ±∞, existe uma reordenação bk de ak tal que
X X

k=1 k=1

bk = s.
X

k=1

Exemplo. Use o fato de que


1 1 1 1
1− + − + − · · · = ln 2
2 3 4 5
para reordenar os termos na dessa série de forma que a soma da série reordenada
seja
1 1 1 1 1 3 ln 2
1+ − + + − + ··· = .
3 2 5 7 4 2

Solução. Seja

X 1 1 1 1 1 1 1
ak = 1 − + − + − + − + ...
2 3 4 5 6 7 8
k=1


Uma vez que ak = ln 2, pelas propriedades algébricas da série convergente,
X

k=1

∞ ∞
X 1 1 1 1 1 1X ln 2
ak = − + − + ··· = ak = .
2 2 4 6 8 2 2
k=1 k=1

7

Agora considere a série bk tal que para todo k ≥ 1, b2k−1 = 0 e b2k = ak /2.
X

k=1
Então ∞
X 1 1 1 1 ln 2
bk = 0 + + 0 − + 0 + + 0 − + ··· = .
2 4 6 8 2
k=1
∞ ∞
Então, usando as propriedades operatórias de limite, uma vez que ak e
X X
bk
k=1 k=1

convergem, a série (ak + bk ) converge e
X

k=1

∞ ∞ ∞
X X X ln 2 3 ln 2
(ak + bk ) = ak + bk = ln 2 + = .
2 2
k=1 k=1 k=1

Agora, adicionando os termos correspondentes, ak e bk , vemos que


X
(ak + bk ) =
k=1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
= (1 + 0) + (− + ) + ( + 0) + (− − ) + ( + 0) + (− + ) + ( + 0) + ( − ) + . . .
2 2 3 4 4 5 6 6 7 8 8
1 1 1 1 1
= 1 + − + + − + ....
3 2 5 7 4

Notamos que a série do lado direito do sinal de igual é uma reordenação da série

harmônica alternada. Como (ak + bk ) = (3 ln 2)/2, concluímos que
X

k=1

1 1 1 1 1 3 ln 2
1+ − + + − + ··· = .
3 2 5 7 4 2
Note que os termos série reordenada obtida são os mesmos números da série harmô-
nica alternada sendo somados, com os mesmos sinais, mas agora somamos os dois
primeiros números positivos seguidos do primeiro número negativo, depois os dois
próximos números positivos seguidos do segundo número negativo, e assim por di-
ante. Portanto, encontramos uma reordenação da série harmônica alternada com a
propriedade desejada.

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