Você está na página 1de 3

ATIVIDADE AVALIATIVA 1 – OTÁVIO VIEIRA SANTOS

Quando retomo os estudos da filosofia, geralmente devido a necessidades


acadêmicas, sempre me impressiono com a capacidade de antigos pensadores
em “explicar” de certa forma a vida, a sociedade, a arte, o homem, e ainda
serem tão coerentes após tanto tempo. Me espanta pensar que são registros
de antes de Cristo, e que hoje eu leio sobre eles em meu monitor de alta
definição e penso “caramba, não é que faz sentido? ”.

A Alegoria ou Mito da Caverna de Platão é um desses. Dentro da minha bolha,


é um dos textos mais famosos que sempre aparece para a turma ler. Na
história, o diálogo entre Sócrates e Glauco apresenta a teoria do autor sobre o
conhecimento e a descoberta da verdade através de metáforas, que ao meu
ver não possuem muito espaço para entendimentos diversos, sendo bastante
explicativo. Os prisioneiros que vivem em um mundo pequeno e simples, onde
conhecem somente as sombras, e que por virtude disso acreditam que não há
nada além, eventualmente recebem a oportunidade de observar o que há
acima do muro, somente para descobrir que o que conhecem é uma mentira.
Ao sair da caverna, o prisioneiro libertado se depara com a verdade,
necessitando então tomar uma decisão: retornar e libertar seus companheiros,
à risca de que sofreria ataques e seria julgado de louco, ou ignora-los e seguir
sua liberdade.

Acredito que o objetivo de Platão foi apresentar um processo de educação do


indivíduo, de forma que ele saia da ignorância, ou seja, da caverna, da
escuridão, da falsa impressão do saber. O reconhecimento do mundo de
ilusões que eles vivem é o primeiro passo. Eventualmente, ao verem o fogo
que projeta as sombras, a luz que entra na caverna e a luz externa, os
prisioneiros se tornam conscientes do mundo real. Ainda há os que preferem
retornar para ajudar os que ainda estão presos e este possui o maior dos
respeitos. Como não perceber a semelhança com o professor? Se é ele que
nos liberta da caverna e nos indica o caminho para o que é certo, não seria
essa a profissão mais importante do mundo?
Já na Apologia de Sócrates, Platão retrata as palavras finais de seu mestre
antes da morte por envenenamento após um injusto julgamento. Com muita
ironia, Sócrates fala sobre a decisão dos juízes (que ele diz não serem todos
merecedores desse título) e de porquê votaram no que votaram. Foi
condenado não porque foi incapaz de se defender, mas porque não abandonou
suas crenças, princípios e pensamentos e não se submeteu a falar o que os
juízes queriam ouvir. Escolheu a morte ao invés da indignidade de se submeter
ao comportamento comum de um prisioneiro que implora por sua vida. Ao se
direcionar aos seus companheiros, Sócrates traz reflexões sobre a morte que a
tornam muito menos assustadora: ou seria um eterno sono tranquilo, sem
consciência dos acontecimentos ou seria uma mudança de estado, na qual
encontraríamos aqueles que já se foram e, assim, seriamos privilegiados por
estar diante de grandes presenças da história. Dessa forma, sem medo, o
filósofo abraça a decisão de morrer.

Ambos os textos tratam de aspectos e características importantes do homem.


A caverna fala sobre o processo de liberdade da ignorância e educação, e as
palavras finais de Sócrates sobre o egoísmo do homem ao aceitar somente
aquilo que ele quer ouvir. Pensando nisso, traço um paralelo entre eles e o
homem problemático citado no texto da Temática B.

Acredito que a partir da Revolução Industrial, começamos uma bola de neve


em questão de problemas. Apesar de termos evoluído muito, foi com essa
evolução que trouxemos grandes problemas para nosso planeta e o
ecossistema, problemas esses que nunca foram tão discutidos quanto hoje e
que sabemos que estamos aos poucos encarando as consequências. Os
homens das cavernas eram problemáticos? Claro. Os gregos? Também. Os
romanos? Muito. Mas a destruição que causamos hoje no planeta
principalmente, faz de nós os homens mais problemáticos de fato.

Além desse título, estamos vivenciando um período de regressão, onde há


cada vez mais pessoas optando por continuar na caverna, mesmo contando
com diversas ferramentas para sair, através do fácil e rápido acesso a
informação e conhecimento que temos hoje. Essas facilidades causam um
metafórico tiro no pé: temos preguiça de pensar. A verdade também foi
afetada, perdeu relevância se comparada com a opinião, numa era onde todos
têm a sua e possuem dificuldade de lidar com o contrário. Assim como aqueles
que condenaram Sócrates, não gostamos de ser contrariados ou de
admitirmos que o outro pode estar certo, pois queremos a razão, queremos
andar com quem concordamos e ouvir o que concordamos. Sair da caverna é
uma escolha, e essa escolha constitui de você aceitar que há mais do que você
conhece e que você provavelmente estará errado sobre o mundo.

Você também pode gostar