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FMR – FACULDADE MARECHAL RONDON

DIREITOS FUNDAMENTAIS

Rosana N. Lino RA:721100378

A REALIDADE SOCIAL E OS DIREITOS HUMANOS - UMA


ANÁLISE DO MASSACRE DO CARANDIRU
Introdução
A Casa de Detenção de São Paulo foi uma das maiores penitenciárias da
América Latina. Feita para abrigar três mil presos, chegou a custodiar mais de
sete mil encarcerados. Sua superlotação contribuiu para o desrespeito aos
direitos humanos, inclusive para o massacre que ali ocorreu e que gerou
grande repercussão nacional e internacional.
Incontáveis direitos foram desrespeitados nesse evento, ocorrido em 1992, que
terminou com centenas de presos mortos e teve importância ímpar na história
brasileira. Esse caso abriu os olhos da sociedade e colocou, mais
enfaticamente, em discussão os problemas da Justiça brasileira, que começam
na Polícia, chegando até o sistema penitenciário, que se encontra
completamente sobrecarregado.
Estudos mostram que existe uma espécie de funil na justiça brasileira, no qual
o número de pessoas abordadas por crimes pela polícia é muito maior do que o
número de processos que correm no judiciário que, por sua vez, é muito maior
do que o número de pessoas que passam a integrar presídios.
Levando-se em consideração homicídios (teoricamente o crime mais fácil de
ser averiguado, devido a presença de um corpo ou a ausência de certa
pessoa), a cifra é de 92%, tornando notório que o sistema penitenciário é
insuficiente, uma vez que se encontra superlotado mesmo com tamanha cifra
oculta.
O problema da superlotação impediu que uma pequena discussão ocorrida
antes do massacre pudesse ter sido contida. Reforços militares foram
necessários, porém, estes agiram com violência desproporcional, gerando o
maior ataque a presos já visto na história do Brasil.
Quando se verifica tamanha insalubridade nos presídios, a pena privativa de
liberdade passa a não cumprir sua função de ressocialização e de concorrer
para que os presos não voltem a cometer crimes, fazendo com que eles saiam
da reclusão ainda mais revoltados e propensos a violar a lei.
1 A casa de detenção de São Paulo
Inaugurada no dia 31 de julho de 1920 em São Paulo, o Instituto de
Regeneração do Carandiru foi inspirado no Centre Pénitentiaire de Fresnes.
Naquele início de século a penitenciária foi considerada uma instituição
modelar na América Latina.  A construção, que havia sido orçada em sete mil
contos de reis, custou catorze mil contos de réis. Nessa época, o custo de
construção de uma penitenciária comum, em média, custava o valor de mil
contos de réis.
O edifício comportava 1.052 cubículos divididos em três pavilhões, com a
perspectiva de que poderia dispor de mais 526 células, elevando a capacidade
para 1.578 sentenciados. As celas eram todas iguais em dimensão (2,5m por
4,0m) e asseio, excetuando as do porão que eram menos higiênicas e
chamadas “células de penitência”.
O Instituto tinha o encargo na execução das sentenças criminais com penas
superiores a um ano. O detento seguia todo um processo de etapas
determinado pela própria Casa de Detenção.
No primeiro estágio, o condenado era destinado ao isolamento celular, por
tempo igual à quarta parte da duração da pena ou de que dela restar, sem
exceder dois anos. Nas etapas seguintes, o preso era submetido ao regime de
trabalho comum, respeitando o silêncio e mais tarde retornando à segregação
noturna celular.
1.1 Notoriedade como prisão modelo
No início, aberta para visitação pública, a prisão recebia milhares de visitantes,
muitos estudantes de Medicina e de Direito, assim como estrangeiros,
passando a ser considerada um dos cartões postais da cidade paulista.
Foi projetada como um edifício que ostentasse modernidade e eficiência em
parâmetros arquitetônicos e funcionais. E assim foi nos primeiros anos da
instituição, conseguindo se tornar um grande centro penal, atraindo a atenção e
visita de milhares de pessoas.
O modelo penitenciário adotado foi o de Auburn, o qual estabelecia o sistema
de trabalho em comum e o isolamento noturno. Quando o preso passava por
um estágio significava “um prêmio” ao seu bom comportamento. Outra medida
disciplinar era o silêncio imposto aos presos como um hábito a ser cultivado,
compondo parte da pena a ser cumprida.
Fica importante ressaltar a eficiência alcançada pelo estabelecimento. Estima-
se que a reincidência dos presos era de 4%, ou seja, dos 5.500 presos que
foram detidos na penitenciária entre 1920 e 1944, 110 reincidiram.
1.2 O ambiente interno
A arquitetura dos pavilhões do Carandiru era bastante similar. No entanto, eles
se distinguiam em relação à população que os habitava.
Os corredores chamados de "rua dez" eram localizados ao oposto das
escadas, sendo um local propício para acerto de contas, brigas mais sérias e
mortes, pois até que os carcereiros conseguissem alcançar a região, os
envolvidos já teriam sido avisados pelos olheiros que ficavam nos corredores
de acesso. Cada pavilhão possuía sua peculiaridade:
Pavilhão 2: era o local para onde eram destinados os detentos recém
chegados. Eles eram registrados, fotografados, levavam o corte de cabelo
característico, recebiam a palestra inicial onde eram introduzidos às primeiras
regras da detenção e eram encaminhados para outros pavilhões.
Pavilhão 4: era o lugar mais almejado pelos novos presos, em razão de não
ser tão populoso e possuir celas individuais. Esse pavilhão havia sido criado
com a intenção de ser uma área médica, contudo, nunca o foi exclusivamente.
No térreo ficavam os presos tuberculosos. Lá existia uma ala conhecida como
masmorra, onde ficavam os detentos jurados de morte por outros presos e que
dali não podiam ser transferidos para outros pavilhões. No segundo andar, era
aonde se alojavam os doentes mentais. No quinto andar, era aonde ficava a
enfermaria.
Pavilhão 5: era o mais populoso dos pavilhões. No primeiro andar ficavam as
celas de castigo, aonde trancafiavam por cerca de trinta dias infratores internos
(porte de drogas, armas, desacato, etc.). No terceiro andar eram alojados
estupradores, justiceiros e aqueles que foram expulsos de outros pavilhões. O
quarto andar era bastante similar ao terceiro andar, porém contava com a
presença de muitos travestis. O quinto andar era conhecido como “amarelo”, e
abrigou de forma precária muitos presos jurados de morte, pois, não possuíam
acesso ao banho de sol, e ficando acuados em suas celas. Assim a aparência
daqueles detentos ganhava uma feição amarelada, gerando o apelido do setor.
Pavilhão 6: era onde se situava a cozinha, já há muitos anos desativada. No
segundo andar havia um antigo cinema (destruído em rebelião), transformado
em um grande auditório. No segundo e terceiro andar se localizavam as salas
de administração. No quarto andar ficavam as celas. No quinto andar, além das
celas, havia uma área destinada ao abrigo de presos com o mesmo perfil que o
amarelo, devido à superpopulação no pavilhão 5.
Pavilhão 7: considerado o mais calmo, chegando a permanecer dois ou três
anos sem mortes, foi planejado inicialmente como local de trabalho,
permanecendo habitado por detentos com ocupações laboriosas, como
confecção de bolas, pipas, barcos e outras atividades. Era o mais visado por
aqueles que pretendiam fazer escavações e tentar a fuga, em razão de ser o
mais próximo dos muros.
Pavilhão 8: especula-se que ali se alojavam os presos mais respeitados, pelo
fato de que os detentos daquele local serem reincidentes. Assim, eles
conheciam muito bem as regras prisionais e o modo de se portar neste
ambiente, o que não deixava de ser uma área tensa e violenta.
Pavilhão 9: era o pavilhão onde se encontravam os réus primários, os quais
eram impetuosos e não possuíam consigo o senso das regras prisionais,
gerando ali muitos conflitos.
2 O massacre
O massacre ocorreu no dia 2 de Outubro de 1992. O motivo não foi
devidamente esclarecido; há quem diga que tudo começou na ala nove, com
um acerto de contas de uma dívida, fruto da venda de cinco maços de cigarro.
Outros dizem que o motivo foi uma simples discussão sobre futebol e, ainda,
há informações de que tudo começou por conta de uma disputa de um espaço
no varal.
A briga foi iniciada por dois presos, Antônio Luiz Nascimento (o Barba) e Luís
Tavares de Azevedo (o Coelho). Em outro cômodo da penitenciária, cerca de
300 presos assistiam a uma partida de futebol. Pouco tempo depois, a
repercussão da discussão atraiu os detentos ao pavilhão 9, gerando um grande
tumulto e ameaças de morte.
Para conter a confusão, agentes penitenciários trancaram a grade de acesso
ao segundo andar do pavilhão, no entanto, os presos conseguiram romper o
cadeado. A tensão se espalhou rapidamente.
Funcionários que estavam de plantão fugiram com medo. Segundo os
carcereiros, a polícia que deu a ordem para que esses guardas saíssem. O
pavilhão ficou sob o domínio dos detentos, que portavam facões, canos de
ferros e pedaços de paus. Fez-se necessário acionar o alarme e chamar a
polícia, que chegou por volta das 15 horas na Casa de Detenção.
Houve uma tentativa de negociação com os presos, sem sucesso. Há
informações de que a negociação nunca ocorrera. Por volta das 16 horas e 30
minutos, a polícia foi autorizada pelo então secretário de segurança pública,
Pedro Franco de Campos, a invadir a ala nove.
A operação foi comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães. Além da Polícia
Militar, auxiliaram na operação o Comando de Operações Especiais (COE), o
Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), as Rondas Ostensivas Tobias
Aguiar (ROTA) e tropas de choque.
A polícia, armada e com cães, invadiu a penitenciária. Os presos reagiram,
queimando colchões, arquivos e montando barricadas nos corredores, a fim de
impedir o acesso da polícia.
As Rondas Ostensivas Tobias Aguiar ocuparam o primeiro e o segundo andar
do pavilhão, matando todos os quinze detentos que encontravam no primeiro, e
cerca de 78 no segundo.
O terceiro andar foi ocupado pelo Comando de Operações Especiais,
resultando em 8 mortes. Já no quarto andar, ocupado pelo Grupo de Ações
Táticas Especiais, 10 detentos foram mortos.
Após o massacre, a polícia militar mandou os presidiários sobreviventes
retirarem as roupas e correrem nus. Em seguida, ordenou-se que estes
removessem os cadáveres das celas e os levassem até o pátio. Esses
carregadores eram mortos em seguida. Alguns detentos se misturaram aos
corpos com a intenção de fingirem estarem mortos, para que sobrevivessem.
Às 20 horas do dia do massacre, o governo anunciou que a operação deixara
somente oito mortos. Estes, segundo a versão da Polícia Militar, já se
encontravam sem vida no momento da invasão.
A versão oficial foi anunciada no dia seguinte, trinta minutos antes do
encerramento das eleições municipais: 111 mortos. Foi explicado que estas
mortes foram consequências de um confronto direto entre detentos e policiais;
mas o parecer Médico Legal provou que houve intenção de matar, pois os
presos foram executados com um grande número de disparos na cabeça e no
tórax.
Segundo os detentos sobreviventes, foram executados mais de 250 presos.
Quase a metade dos mortos tinha abaixo de 25 anos. Cerca de 80% dos
mortos não haviam sido condenados, 84% ainda aguardavam julgamento,
sendo sua maioria de réus primários. Não houve mortes entre os policias
militares.
Foi alegado por peticionários que, após o massacre, houve destruição de
provas que poderiam incriminar as forças presentes e determinar a autoria de
cada assassinato ocorrido. Essas provas, que teriam permitido identificar
pessoalmente os responsáveis, desapareceram.
3 A formação do Primeiro Comando da Capital (PCC)
O Primeiro Comando da Capital (PCC) foi formado no ano seguinte ao
massacre, em 31 de Agosto de 1993, sendo uma das maiores facções
criminosas do Brasil.
A fundação ocorreu na Casa de Custódia de Taubaté. Oito detentos que faziam
parte do mesmo time de futebol se uniram para criar a facção, que tinha como
objetivo melhor tratamento nos presídios brasileiros e o impedimento de novos
massacres como o do Carandiru.
Através da violência e de ameaças, o PCC pressiona o governo para que este
cumpra suas reivindicações, e, também, buscou vingança contra os envolvidos
no massacre, sendo de grande influência no sistema prisional.
Ela impõe regras de conduta nos presídios, proibindo, por exemplo, o crack e o
homicídio sem autorização prévia da facção. De acordo com Marcola (chefe do
comando), ele foi o responsável por diminuir o número de homicídios no estado
de São Paulo, e não o então governador Geraldo Alckmin.
Com o lema “paz, justiça e liberdade”, e o posterior aditivo “igualdade”, os
presos buscam a paz entre os ladrões, deixando de lado a hierarquia que
existia, unindo-se para lutar contra os abusos do sistema carcerário, para que
outra chacina como a do Carandiru não ocorra novamente, e que esta jamais
seja esquecida.
“Temos que permanecer unidos e organizados para evitarmos que ocorra
novamente um massacre semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de Detenção
em 02 de outubro de 1992, onde 11 presos foram covardemente assassinados,
massacre este que jamais será esquecido na consciência da sociedade
brasileira. Porque nós do Comando vamos mudar a prática carcerária,
desumana, cheia de injustiças, opressão, torturas, massacres nas prisões.”
4 Violação dos direitos humanos
Os direitos humanos são direitos garantidos legalmente, inerentes a todos os
seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia,
idioma, religião ou qualquer outra condição, protegendo, dessa forma,
indivíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e
na dignidade humana.
A violação de vários princípios básicos da Constituição Federal e da Lei de
Excussão Penal (Lei 7.210/84) puderam ser vistos claramente no massacre
ocorrido na Casa de Detenção de São Paulo. Entre eles, o direito mais
essencial para a sociedade, o direito à vida.
4.1 Na Constituição da República Federativa do Brasil
Primeiramente, no preâmbulo da Constituição Federal de 1988, os direitos
sociais, a segurança, o bem-estar e a justiça são demarcadas como alguns dos
valores supremos da nossa sociedade.
Levando-se em consideração a superlotação factual que persistia na Casa de
Detenção de São Paulo, pode-se provar que é impossível a sustentação de tais
pilares nos casos de superpovoamento de presídios, já deixando a desejar nos
quesitos de bem-estar e segurança, perpetuando a falta de dignidade dos
prisioneiros.
Quanto à questão dos direitos sociais, apesar de restritos no momento da
prisão, não são nulos durante o cumprimento da pena. Um dos principais
deveres do Estado, como tutor do presidiário, é o da reinserção social, através
da assistência social, direito esse que é negligenciando desde a criação do
sistema prisional brasileiro.
“Nos termos do artigo 5(2) da Convenção, toda pessoa privada de liberdade
tem direito a viver em condições de detenção compatíveis com sua dignidade
pessoal e o Estado deve garantir-lhe o direito à vida e à integridade pessoal.
Por conseguinte, o Estado, como responsável dos estabelecimentos de
detenção, é o garante desses direitos."
5 Repercussão na mídia
5.1 No Brasil
O início da repercussão nacional da chacina não foi imediato. A imprensa
brasileira só passou a noticiar o fato, e de forma ambígua, no dia seguinte após
o massacre, com números imprecisos e poucas informações coerentes.
Apesar de impactante, a notícia ganhou pouco espaço nos jornais, já que o
presidente eleito Itamar Franco estava para tomar posse, após o impeachment
do então presidente, Fernando Collor de Mello. Além disso, era véspera de
eleições municipais, o que contribuiu para reduzir a atenção dos meios de
comunicação sobre o acontecimento, e, consequentemente, a reação social.
No dia 3 de outubro de 2002 os jornais reportaram o caso sem mostrar
efetivamente sua relevância, informando o número de oito óbitos. Em 4 de
outubro, a tragédia alcança maior notoriedade no meio jornalístico com a
confirmação oficial da morte de 111 detentos por diversos jornais, como a
Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo.
5.2 No mundo
A repercussão internacional do massacre se deve à quantidade de mortos
envolvidos, ao emprego descabido de violência e a forma como a polícia
abordou e tratou os detentos.
A Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos, o Centro pela Justiça e o
Direito Internacional (CEJIL) e a Human Rights Watch apresentaram denúncia
formal contra o Estado brasileiro perante a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CDIH) em relação ao massacre de 111 presos.
A denúncia se referiu, ainda, às lamentáveis condições carcerárias, podem ter
contribuído a ocorrência do massacre, bem como à morosidade da Justiça
brasileira em identificar, julgar e punir os responsáveis.
O governo brasileiro teve oportunidade de se defender. No entanto, não houve
conciliação entre as partes.
A Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH) decidiu que o Estado
brasileiro havia incorrido em responsabilidade internacional pela violação de
diversos direitos substantivos, à medida em que as execuções sumárias foram
cometidas por agentes do Estado, e, também, porque houve obstrução e
demora injustificada para a condução do julgamento dos responsáveis
individuais pelos crimes cometidos na ocasião.
A conclusão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) a
respeito do Massacre do Carandiru foi a seguinte:
“A Comissão conclui que a petição é admissível. No que respeita ao mérito,
após analisar os fatos e o direito aplicável, a Comissão conclui que o caso
denunciado caracteriza um massacre no qual o Estado violou os direitos à vida
e à integridade pessoal e que, em suas sequelas, também foram violados os
direitos ao devido processo e à proteção judicial (artigos 4, 5, 8 e 25), em
conexão com o artigo 1 da Convenção, e formula recomendações no sentido
de que se proceda à investigação dos fatos, à punição dos responsáveis, à
concessão de reparação às vítimas e à adoção de medidas, nos níveis
nacional e estadual, para evitar que se repitam violações desse tipo.”
6 O julgamento 
Passados 21 anos após o cometimento do Massacre do Carandiru, se deu
início o julgamento dos policiais militares envolvidos na ação dentro da Casa de
Detenção, em meados de 2013 e no início de 2014.
Em razão do grande número de envolvidos, o julgamento foi dividido em quatro
etapas, de acordo com os integrantes das tropas que agiram com a violência
mencionada, em cada pavimento do Pavilhão 9.
A primeira etapa, relacionada à operação no primeiro andar da penitenciária, se
deu em abril de 2013, quando foram condenados 23 policiais militares a 156
anos de prisão pela morte de 13 detentos que estavam naquela área.
A segunda etapa, referente à invasão e atuação no segundo andar, ocorreu no
mês de julho de 2013, e resultou na condenação de 25 policiais militares
integrantes da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). A sentença foi de
624 anos de prisão pelas mortes de 52 presos nesse andar da penitenciária.
A terceira etapa, pautada na atuação que ocorreu no terceiro andar, ocorreu
em abril de 2014, condenando 15 policiais do COE (Comando de Operações
Especiais) a 48 anos de prisão pela morte de 4 presidiários.
A quarta e última etapa, de julgamento, relativa ao quarto andar, condenou 10
policiais a penas entre 94 e 104 anos de prisão pela morte de 8 detentos.
Em todas as etapas o júri popular condenou os policiais pelas ações na
penitenciária, encerrando o julgamento no dia 02 de abril de 2014, com 73
policiais condenados pela morte de 77 detentos.
Em 2001, o comandante da Polícia Militar na invasão à Casa de Detenção de
São Paulo, Coronel Ubiratan Guimarães, foi condenado a 632 anos de reclusão
pela morte dos 102 detentos na tragédia do dia 02 de outubro de 1992. Após a
condenação pelo Tribunal do Júri, a defesa do Coronel recorreu solicitando a
anulação do julgamento, com base em diferentes argumentos.
Um dos argumentos utilizados foi o fato de que, tendo sido eleito deputado
estadual após sua atuação no episódio, o Coronel Ubiratan teria direito a foro
privilegiado e não poderia ser condenado por júri popular. O argumento foi
aceito.
Por essa razão, um posterior julgamento teria que ter sido marcado. No
entanto, foi entendido que a juíza, Dra. Maria Cristina Cotrofe teria sentenciado
o réu com base em uma interpretação errônea sobre as respostas dos jurados
aos quesitos, e não houve um novo julgamento.
Esse procedimento poderia dar a entender a benevolência do Judiciário frente
ao massacre ocorrido na Casa de Detenção do bairro do Carandiru, em São
Paulo.
Conclusão
Através da pesquisa realizada focalizando os trágicos fatos ocorridos na Casa
de Detenção de São Paulo, no ano de 1992, procurou-se comprovar a
existência de eventuais excessos e desproporcionalidades que foram e teriam
sido cometidos pelas partes envolvidas.
Entende-se que o problema da superlotação foi fator importante. A
superlotação contribuiu de maneira clara para a ocorrência do massacre, de tal
modo que, se não houvesse tantos detentos juntos no local do conflito entre os
presos, ele poderia ter sido contido pelos agentes penitenciários, sem a
necessidade de reforços policiais.
Também ficou evidenciado que os policiais desrespeitaram completamente os
direitos humanos, fazendo uso de violência muito desproporcional ao que a
situação indicava.
Em benefício do detento, importa destacar a garantia constitucional de que não
haverá pena de morte (salvo em caso de guerra declarada, nos termos do
artigo 84, XIX), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e
cruéis (artigo 5º, XLVII).
Porém, como já foi observado anteriormente nesta pesquisa, os policiais
militares demonstraram a intenção de matar os presos, ou muitos deles.
Apesar da falta de sentença concreta, os presos foram “sentenciados” a pena
de morte, indo de encontro com o que é estabelecido por lei.
Agravando seriamente as consequências do episódio, temos que a
organização da população prisional chamada de Primeiro Comando da Capital
(PCC) foi criada após e em decorrência ao evento.
A facção afirma ter sido criada em virtude da matança de encarcerados no
Carandiru, reivindicando melhores condições a estes e prometendo vingança.
Esse grupo foi disseminado para toda a população do sistema prisional do
Estado de São Paulo, atingindo também outros estados com sua determinação
de violência dentro e fora do sistema.
Um ano após o massacre o PCC ordenou a morte do então diretor do
estabelecimento, no que foi obedecido por seus seguidores de fora dos muros.
O diretor foi atingido por vários disparos e faleceu imediatamente.
Torna-se evidente, assim, que o Massacre na Casa de Detenção de São Paulo
tomou proporções drásticas e, além de ter deixado 111 detentos mortos – ou
cerca de trezentos, como afirmaram diversas testemunhas, inclusive agentes
prisionais – esse trágico incidente ficará marcado como uma mancha na
história da República Federativa do Brasil.
Notas e Referências:
 PEDROSO, Regina Célia. “Abaixo os Direitos Humanos! A história do
massacre de cento e onze presos na Casa de Detenção de São
Paulo”. Revista Liberdades, nº 9. São Paulo: IBCCRIM, 2012, p. 127.
 ADORNO, Sergio. “Crise no Sistema de Justiça Criminal”. Revista Ciência e
Cultura, vol. 54, nº1. São Paulo, 2002. Disponível em:
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=s0009-
67252002000100023&script=sci_arttext>.
 Segundo o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança do
Rio de Janeiro, só 8% dos homicídios são esclarecidos, ficando impunes 92%.
Informação disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/07/12/a-
justica-da-impunidade/>.
Informação retirada do site Acessa Parque Juventude. Disponível em:
<http://acessajuventude.webnode.com.br/historia-do-carandiru/>.
 Ibid.
PEDROSO, Regina Célia. “Abaixo os Direitos Humanos! A história do
massacre de cento e onze presos na Casa de Detenção de São
Paulo”. Revista Liberdades, nº 9. São Paulo: IBCCRIM, 2012, p. 124.
 PEDROSO, Regina Célia. “Abaixo os Direitos Humanos! A história do
massacre de cento e onze presos na Casa de Detenção de São
Paulo”. Revista Liberdades, nº 9. São Paulo: IBCCRIM, 2012, p. 125.

 Informação retirada do site Acessa Parque Juventude. Disponível em:


<http://acessajuventude.webnode.com.br/historia-do-carandiru/>.
VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Ed. Companhia Das Letras,
1999, p. 280.
Informação retirada do Relatório elaborado pela Comissão Organizadora de
Acompanhamento para os Julgamentos do Caso do Carandiru. Disponível em:
<http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/a_pdf/r_massacre_carandiru.pdf>.
Informação dos nomes dos envolvidos retirada de uma reportagem do “Folha
Online”. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/carandiru_foi.shtml>.
VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Ed. Companhia Das Letras,
1999, p. 283.
Informação do horário retirada de uma reportagem do site Terra, elaborada
pelos jornalistas Marina Novaes e Vagner Magalhães. Disponível na parte
“Cronologia do Massacre”, em:     <http://noticias.terra.com.br/brasil/massacre-
do-carandiru/>.
De acordo com a reportagem do jornal Folha de S. Paulo, de 30 de Julho de
2013. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/07/1319155-tentamos-negociar-
mas-sem-sucesso-diz-testemunha-do-carandiru.shtml>.
Informação do horário retirada de uma reportagem do site Terra, elaborada
pelos jornalistas Marina Novaes e Vagner Magalhães. Disponível na parte
“Cronologia do Massacre”, em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/massacre-do-
carandiru/>.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, de 2 de Outubro de 2002. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/carandiru.shtml>.
Informações retiradas de uma reportagem do site Terra, elaborada pelos
jornalistas Marina Novaes e Vagner Magalhães. Disponível na parte
“Cronologia do Massacre”, em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/massacre-do-
carandiru/>.
 VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Ed. Companhia Das
Letras, 1999, p. 289.

Informação do horário retirada de uma reportagem do site Terra, elaborada


pelos jornalistas Marina Novaes e Vagner Magalhães. Disponível na parte
“Cronologia do Massacre”, em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/massacre-do-
carandiru/>.
PEDROSO CÉLIA, Regina. “Abaixo os Direitos Humanos! A história do
massacre de cento e onze presos na Casa de Detenção de São
Paulo”. Revista Liberdades, nº 9. São Paulo: IBCCRIM, 2012, p. 129-130.
VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Ed. Companhia Das Letras,
1999, p. 294.
ONODERA, Iwi Mina. Estado e Violência: um estudo sobre o massacre do
Carandiru. São Paulo: PUC-SP, 2007, p. 55. Disponível em:
<http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=5763>.
PEDROSO CÉLIA, Regina. “Abaixo os Direitos Humanos! A história do
massacre de cento e onze presos na Casa de Detenção de São
Paulo”. Revista Liberdades, nº 9. São Paulo: IBCCRIM, 2012, p. 129.
VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Ed. Companhia Das Letras,
1999, p. 294.
Informação retirada do Relatório elaborado pela Comissão Organizadora de
Acompanhamento para os Julgamentos do Caso do Carandiru. Disponível em:
<http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/a_pdf/r_massacre_carandiru.pdf>.
 Informação retirada da Revista Época. Disponível em:
<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR74215-6009,00.html>.
Informação retirada do site Carta Capital. Disponível em:
<http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-serapiao/crime-em-lugar-do-
estado-como-o-pcc-pretende-dominar-o-brasil-3006.html>.
 Mandamento nº 13 do “Estamento” do PCC, apud jornal Folha de S. Paulo, de
19 de Fevereiro de 2001. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u22521.shtml>.
Corte IDH Caso Neira Alegría, Sentença de 19 de janeiro de 1995, parágrafo
60 apud Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, nº 34/00,
Caso 11.291 (Carandiru), Brasil, 2000. Disponível em:
<https://www.cidh.oas.org/annualrep/99port/Brasil11291.htm>.
Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, nº 34/00, Caso
11.291 (Carandiru), Brasil, 2000. Disponível em:
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PEDROSO CÉLIA, Regina. “Abaixo os Direitos Humanos! A história do
massacre de cento e onze presos na Casa de Detenção de São
Paulo”. Revista Liberdades, nº 9. São Paulo: IBCCRIM, 2012, p. 132.
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11.291 (Carandiru), Brasil, 2000. Disponível em:
<https://www.cidh.oas.org/annualrep/99port/Brasil11291.htm>.
Segundo o art. 5º da Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade (...)”. No art. 5º, inciso XLVII, não
haverá penas de morte “salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art.
84, XIX”.
De acordo com o parecer Médico Legal, apud Pedroso, p. 129-130.
ADORNO, Sergio. Crise no Sistema de Justiça Criminal. Revista Ciência e
Cultura, vol. 54, nº1. São Paulo, 2002. Disponível em:
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do-serapiao/crime-em-lugar-do-estado-como-o-pcc-pretende-dominar-o-brasil-
3006.html>.

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