Você está na página 1de 10

Redes Sociais

Como a identidade individual é estabelecida


através das mesmas

Unidade Curricular: Teorias da Ação Social

Docentes:

Professor Doutor Manuel Lisboa

Professora Doutora Dalila Cerejo

Professora Doutora Maria do Rosário Rosa

Discente:

Pedro Gonçalves Mello – 2019127287

Turma A

Ano letivo 2020/2021


Índice
Introdução ............................................................................................................................................ 3

Conceitos-chave ................................................................................................................................. 3

Redes Sociais e a Globalização da Internet.......................................................................... 4

Interação Social .................................................................................................................................. 6

Identidade Social ............................................................................................................................... 7

Considerações Finais ....................................................................................................................... 9

Bibliografia .........................................................................................................................................10
Introdução
Em pleno século XXI, é bastante comum ouvir-se falar sobre as redes sociais, é um
conceito intrínseco em todas nas gerações mais novas, mas que não deixa de fora os
indivíduos de idade mais avançada. Este “mundo conectado” que é possibilitado pelas redes
sociais tem vindo cada vez mais ganhar terreno na sociedade. Gradualmente aumentam e
complementam a necessidade da existência de comunicação à distância e, é com o uso
destas formas de comunicação, de conexão mundial, que os indivíduos tendencialmente
redefiniram toda a sua identidade, alterando valores e reconstruindo a mesma de forma
virtual.

Com a evolução das tecnologias o número de empresas também começou a


aumentar substancialmente, sendo que atualmente as que mais são utilizadas são:
Facebook, Instagram, WhatsApp e Snapchat. Apesar de empresas distintas com conceitos
diferentes, no fundo acabam sempre por remeter a um único propósito: aproximar e criar
uma inclusão entre indivíduos, por meio de partilha de fotos, vídeos ou publicações. Toda
esta partilha de conteúdo acaba por permitir um maior alcance entre indivíduos o que por
sua vez permite um maior aumento do número de seguidores ou amigos.

Deste modo, no âmbito da unidade curricular de Teoria da Ação Social, da


licenciatura de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa, proponho-me a realizar o presente trabalho tendo foco na questão “De que
forma a identidade pessoal é moldada através das redes sociais?”.

Para a concretização deste trabalho, para além de mobilizar conceitos e contributos


teóricos de autores clássicos e contemporâneos estudados em contexto de sala de aula, irei
mobiliza, em paralelo. autores que não se encontram presentes nas sugestões do plano
curricular, mas cujos contributos se adequam à temática abordada. A par dos conceitos irei,
sempre que possível, utilizar exemplos ilustrativos que complementem e que permitam a
concretização deste trabalho.

Conceitos-chave
Redes Sociais; Identidade; Ação Social; Socialização
Redes Sociais e a Globalização da Internet
O tema internet e redes sociais é um tema muito complexo e que, ao mesmo
tempo, requer uma leitura de obras contemporâneas. Sobre estes novos fenômenos
de intercomunicação, quando falamos sobre internet falamos na forma de
comunicação mais comum do mundo atual, já que o número de utilizadores da
internet é bastante superior aos que foram outrora considerados como formas de
comunicação (Televisão, rádio…). A internet permite uma maior relação entre
indivíduos e cria, inclusive, uma nova mentalidade dos membros que utilizam as
redes sociais, torna-se relevante indicar também que novos padrões de
comportamento são adotados.

Um dos autores cujo contributo foi dos mais importantes quando falamos a
respeito da temática internet redes sociais é Manuel Castells. A partir da obra
Galáxia da internet (2001), Castells pretende entender como as novas relações
sociais diversificaram-se por meio da internet e como a internet criou novos padrões
de comportamento, isto é, os antigos padrões clássicos de como eram entendidos a
forma como os indivíduos se relacionam alteraram-se e, são necessários novos
conceitos e categorias de análise para que se possa compreender toda essa dinâmica
de alteração do padrão de comportamento relacional. (Castells, 2001)

Castells evidência três principais características que a internet assume. Em


primeiro a ascenção de novos padrões de interação social para esta característica
são citadas, por exemplo, as formas de vinculação de notícias pela internet, ou seja,
a volatidade que está presente no tempo de comunicação de notícias faz com que os
indivíduos tenham acesso às notícias muito mais rápidamente do que pelos meios
tradicionais, Castells afirma também que as relações individuais na internet tornam-
se mais frágeis, ou seja, como por exemplo no caso das redes sociais como o
Instagram ou o Facebook, basta apertar o botão de “deixar de seguir” ou “eliminar
amigo” para deixar-se de interagir com determinado indivíduo. Como segunda
característica, Castells afirma que a internet reinventa a noção de localidade e
sociabilidade esta é facilmente percetível já que a internet e a globalização
simplemente criam uma nova percepção a respeito da noção de localidade, por
exemplo a distância física entre países mantém-se, porém existe uma diminuição na
distância virtual, culturas, linguas e costumes são facilmente alcançados. A
sociabilidade também fica mais curta, pois as pessoas conseguem manter contato
mais vezes mesmo estando separadas uma distancia fisica muito grande. Nesta
ordem de ideias, a última característica apresentada concentra-se em procurar
entender se de facto a internet leva à alienação do mundo real. Castells complementa
com a ideia de que a internet não nos aliena, mas sim coloca novos padrões de
comportamento, as pessoas continuam a existir em sociedade e a relacionarem-se,
porém com a utilização desses novos padrões. Essas novas formas/padrões por
vezes acabam por passar imagens um pouco mais frias e distantes quando
comparadas com comportamentos assumidos noutros tempos. (Castells, 2001)

Recorro também a Pierre Lévy, com a sua conceção do conceito de


Cibercultura (1999), o autor procura perceber todo o processo de intercomunicação
que está presente nas redes sociais. Com isto o autor tenta perceber o conceito de
cultura enquanto padrões de comportamento que ocorrem dentro do espaço ciber,
para que tal seja possível são enunciadas três novas características das redes sociais:
em primeiro, a interconexão – uma conexão multipla entre diversos indivíduos,
como por exemplo quando um indivíduo partilha um conteúdo na sua rede social
acaba por alcançar diversos outros indivíduos. – em segundo, a característica de
comunidades virtuais – ou seja, um termo que advém da vida em comunidade e
pressupõe a existência de normas e condutas entre indivíduos que tem gostos e
ideias em comum, dentro das redes sociais. – como terceira característica está o de
inteligêngia coletiva – com isto pressupõe-se que todos os indivíduos são criadores
de conhecimento, o que faz com que todos os indivíduos sejam membros ativos e
influenciadores dentro da sociedade. (Lévy, 1999)

Posto isto, Lévy pretende demonstrar que a cibercultura cria uma vida em
rede, uma vida que conecta diversos indivíduos com as mesmas ou dcom distintas
características e, ao mesmo tempo, tudo isto acontece num novo espaço, um espaço
virtual. Por fim, a vida nas redes sociais não cria uma nova sociedade, mas padrões
de comportamentos juntamente com novas regras e moralidades.
Ação Social

Para Émile Durkheim a ação social tem origem nas pressões externas que são
colocadas sobre os indivíduos, sendo então exterior ao indivíduo, “toda maneira de
agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou,
ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência
própria, independente das manifestações individuais que possa ter” (Durkheim,
2002). Para Durkheim a ação social é independente da subjetividade individual,
principalmente por causa do carácter real e objetivo dos fatos sociais.

Já Max Weber contrasta a ideia de Durkheim apresentando uma definição


subjetiva do conceito de ação social, tendo em conta o sentido que é dado a cada
ação. Uma ação social, segundo o autor, é toda e qualquer ação que é tomada tendo
em consideração o outro indivíduo, sendo que Weber define também 4 tipos de ação
social: ação tradicional, ação afetiva, ação racional consoante valores e ação racional
consoante finalidades (Weber, 2005).

A ação tradicional está relacionada com os costumes, como por exemplo


batizar o nosso filho numa determinada religião porque o nosso pai batizou-nos
assim, e foi batizado antes disso pelo avô também. A ação emocional ou afetiva pode
ser por exemplo ficar exaltado quando uma pessoa famosa nos segue numa rede
social. A ação racional consoante valores é por exemplo não roubar porque sabemos
que os valores inerentes à ação de roubar são negativos. A ação racional consoante
finalidades, por estar relacionado com um propósito, podemos utilizar como
exemplo um indivíduo que partilha determinado conteúdo nas suas redes sociais
com o objetivo de construir a sua própria identidade.

Interação Social
A sociedade exerce um enorme poder sobre a ação que é tomada pelos
indivíduos, sendo que essa pressão influência toda a maneira de agir dos indivíduos
de modo que estes consigam ter atitudes correspondentes às expectativas
assumidas pela sociedade.

Através da obra A Representação do Eu na Vida Quotidiana (2002), Erving


Goffman, aborda as representações que o indivíduo apresenta sobre si, para si
mesmo e para os outros. Para Goffman os atores sociais são encarados como se de
atores teatrais estivéssemos a falar, sendo que a atuação dos mesmos pode causar
determinadas impressões que podem ser controladas através dessa atuação
(Goffman, 2002), ou seja, esta atuação pode preservar a identidade do indivíduo
perante os outros, criando uma ideia ilusória de como será determinado indivíduo.
Esta ideia pode ser ilustrada para o contexto deste trabalho através do exemplo de
um indivíduo, utilizador de redes sociais, que publica imagens, vídeos ou
determinado conteúdo, que estejam editados ou sejam distintos da realidade, de
modo a conseguir mais seguidores ou gostos, sendo que ao mesmo tempo acaba por
criar uma certa forma de identidade.

Numa perspetiva similar a Goffman, Hebert Mead elabora na sua obra Mind,
Self and Society (2015) o conceito do self. Para o autor, este conceito é uma dimensão
da personalidade e da consciência que um indivíduo assume sobre si e que é
construída através da experiência social vivenciada. O autor defende que numa
interação o indivíduo utiliza símbolos durante a comunicação e, estes símbolos são
utilizados com o intuito de causarem nos outros indivíduos o mesmo que provocam
no próprio, mesmo nem sempre sendo possível. É então através da linguagem verbal
e não-verbal, no caso deste trabalho, através partilha de conteúdo nas redes sociais,
que os indivíduos criam significados, pelo entendimento do significado das ações
dos outros e entendendo os objetivos que estão inerentes a essas ações.

Identidade Social
O conceito de identidade encaminha-nos para todas as características que
distinguem as pessoas ou um grupo de pessoas. Todas estas características são
resultantes de uma variada quantidade de interações socias que acontecem entre
indivíduos no e com o meio social em que os mesmos se inserem. Podemos inferir
que a identidade social não diz respeito somente e de forma restrita aos indivíduos.
Todo um grupo apresenta uma identidade que acaba por estar em concordância com
a sua definição perante a sociedade, desta forma a identidade acaba por ser um meio
de inclusão, já que condicionam a participação num certo grupo os indivíduos que
apresentam determinada característica, que são iguais sob determinada perspetiva.

Assim como refiro no parágrafo anterior, a identidade social é um constructo


social plural que é construído a partir dos diferentes contextos de vida, sendo que a
sua construção envolve um processo de socialização que implica toda uma relação
com os mais diversos elementos da sociedade. Segundo Berger e Luckmann, a
“identidade é formada por processos sociais. Uma vez cristalizada, é mantida,
modificada ou mesmo remodelada pelas relações sociais. Os processos sociais
implicados na formação e conservação da identidade são determinados pela
estrutura social. Por outro lado, as identidades produzidas pela interação do
organismo, da consciência individual e da estrutura social reagem sobre a estrutura
social dada, mantendo-a, modificando-a ou mesmo remodelando-a” (Berger e
Luckmann, 2004, p.179).

Além de ser formada através de processos sociais é relevante realçar que a


identidade não é algo que pode ser tomado como inato e estático, mas sim, como
algo que é adquirido e ajustado de forma dinâmica e que, por ser um constructo que
pressupõe a existência de relações sociais, a identidade “deve reconstruir-se sempre
ao longo da vida. O Indivíduo nunca a constrói sozinho: ela depende tanto dos
julgamentos dos outros como das suas próprias orientações e autodefinições. A
identidade é um produto de sucessivas socializações” (Dubar, 1997, p.13).

Para Goffman, a identidade social é um conceito que deve ser subdividido em


dois conceitos, o de identidade social real e virtual. A identidade social real define-
se através da categorização que é concedida aos indivíduos e, por sua vez, a
identidade social virtual corresponde ao que é exigido sobre como um indivíduo
deve ser por fazer parte de um grupo social (Goffman, 1988). Um exemplo de
identidade social real, dentro do contexto das redes sociais, pode ser considerado a
utilização das redes sociais de forma original por parte de um indivíduo, de modo
que este consiga partilhar a sua própria imagem e, desta forma, criar a sua própria
identidade. Já para o conceito de identidade social virtual pode-se tomar como
exemplo o facto de que a existência de um grupo de indivíduos que partilham um
determinado conteúdo nas redes sociais, de forma mais ou menos elaborada nos
seus perfis, leve com que outros indivíduos também comecem a realizar partilhas
do mesmo tipo de conteúdo de modo a integrarem-se, da mesma forma, nesse grupo.

Na obra de Bauman, Modernidade Líquida (2001) é observada que no século


20 sofre-se uma passagem da sociedade de produção para a sociedade de consumo
e, de que ao longo dos anos, com a passagem pelo processo de fragmentação da vida
humana, começaram a surgir sociedades individualizadas, que não tem total
enfoque em pensar em comunidade, em que grupo se insere, mas que sugere que os
indivíduos, tendencialmente, acabam por redefinir todo o significado que
apresentam acerca da vida, na tentativa de perceberem melhor a questão da
identidade pessoal (Bauman, 2001). De modo a ilustrar esta perspetiva utilizo como
exemplo, a ideia de que um indivíduo, utilizador de redes sociais, categorizar a sua
identidade como popular ou como influencer-digital pelo facto de ter um perfil em
redes sociais com mais visualizações, seguidores ou gostos, tendo então a sua
conceção de “amizade”. Sendo que, por outro lado, um indivíduo que não seja
utilizador de redes sociais, acabará por ter uma conceção diferente de “amigo” e, por
sua vez estará a criar uma identidade social completamente distinta do primeiro
indivíduo.

Considerações Finais
Acredito que este trabalho conseguiu tornar claro como acontecem as
interações num contexto virtual, como a identidade social dos utilizadores das redes
sociais acaba por alterar-se e, por fim, sendo o objetivo final, como a identidade
individual é estabelecida através das redes sociais. Posto tudo isto e em tom de
conclusão, podemos retirar que as redes sociais podem tomar um papel ativo na
criação da identidade social própria. Os indivíduos, utilizadores das redes sociais,
tem tendência em integrarem-se numa forma de vida em comunidade, uma vida em
comunidade virtual, obtendo novas amizades e ideais. Estes ideais por vezes podem
assumir uma forma negativa, criando até uma forma de pensar egoísta e egocêntrica
entre indivíduos, alterando o que seria considerado como normativo dentro de uma
vida em comunidade “não virtual”.

Portanto, com base no que foi descrito durante o trabalho percebe-se que a
identidade social acaba por ser construída a partir da identidade social de outros
indivíduos que utilizam as redes sociais, principalmente na forma como os mesmos
partilham os seus conteúdos, e pelas expectativas que são esperadas dentro dos
grupos sociais “virtuais”.
Bibliografia
Bauman, Zygmunt. 2001. Modernidade Líquida. Traduzido por Plínio
Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Berger, Peter L; Luckmann, Thomas. 2004. A Construção Social da Realidade.


Lisboa: Dinalivro.

Castells, Manuel. 2001. The Internet Galaxy: Reflections on the Internet,


Business and Society. Oxford: Oxford University Press.

Dubar, Claude. 1997. A socialização: construção das identidades sociais e


profissionais. Porto: Porto Editora.

Durkheim, Émile. 2002. As regras do método sociológico. 17. ed. Tradução de


Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo: Companhia Editora Nacional, p. 11.

Goffman, Erving. 1988. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade


deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Lévy, Pierre. 1999. Cibercultura Tradução de Carlos Irineu da Costa. São


Paulo: Editora 34.

Mead, George Herbert. 2015. Mind, Self & Society. Chicago: The University of
Chicago Press.

Weber, Max. 2005. Conceito de Ação Social. Em Conceitos Sociológicos


Fundamentais, de Max Weber, 43-86. Lisboa: Edições 70.

Você também pode gostar