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REDAÇÃO

MATERIAL DE FÉRIAS Prof . Gabrielle Zanardi

TURMA ITA- 2020


Seleção de excelentes redações e material indicativo de repertório
Queridas e queridos, finalmente as férias chegaram! E, para que vocês não se sintam sós, resolvi

criar este material com algumas coisas que com certeza irão ajudá-los a se sentirem produtivos sem,

contudo, atrapalhar o tão merecido (e necessário!) descanso. Tenham em mente que este material é

para ser lido com calma e de ponta a ponta. Aproveitem as sugestões que ele traz e escolham (o poder

da escolha é maravilhoso, não é?) aquilo que querem fazer: treinar redação a partir dos exemplos

transcritos? Ouvir podcasts? Ver filmes? Vocês é que vão dizer! De minha parte, só desejo que este

material ajude um pouquinho e encurte a distância entre nós todos. Ah, e claro: desejo que vocês

tenham excelentes férias e retornem CHEIOS de vontade de fazer acontecer.

Um abraço bem apertado! Espero vocês na volta!

Gabrielle Zanardi

Julho de 2020

Colaboraram para a elaboração deste material: Patrícia Deviciente e Bruna Florence


Lista de Filmes e Séries para ajudar na construção de repertório
A lista de filmes/documentários/séries a seguir foi separada especialmente pensando nas férias
de vocês! Considerei, para fazer a seleção da seleção (uma vez que ela é parte da primeira lista que eu
disponibilizei, lembram?), as temáticas presentes em cada um deles: aqui estão as que eu penso que
podem ter mais chances de utilização nos vestibulares deste ano em específico.

Por último (mas não menos importante!), é bom lembrar que nenhuma destas mídias é
obrigatória – todas as indicações são sugestões provenientes de uma curadoria pessoal, que eu, de forma
autônoma e gentil, compartilho. Lembrem-se que aquilo a que chamamos “repertório” serve para nos
ajudar a construir opiniões – que muitas vezes podem ser totalmente divergentes do que estamos
assistindo (já ouviram dizer que só conhecemos a luz porque sabemos que a escuridão existe? Pois é!).
Também fica um alerta: alguns deles apresentam conteúdo sensível (outros são produções
“hollywoodianas” e, portanto, mais “leves”), então, a dica é procurar a sinopse no Google antes de assistir,
pra conferir se é “seu estilo”, ok?

Usem a listinha com consciência e, claro, aproveitem!

FILMES
• No recorte “Educação”, minhas indicações são:
“Quando sinto que já sei” (2014), “Pro dia nascer feliz”(2005), “Paulo Freire Contemporâneo”(2007), “A
Onda”(2008), “A sociedade dos poetas mortos”(1989), “Entre os muros da escola” (2008), “Preciosa”(2009), “O
sorriso de Monalisa”(2003), “Clube dos 5”(1985), “Capitão Fantástico” (2016), “Gênio Indomável”(1997)
“Entre os muros da escola” (2008), “Minhas tardes com Margueritte” (2010).

• Na categoria “Sociedade/Comportamento/Desigualdades sociais”, temos:


“O Riso dos outros”(2012), “Cisne Negro”(2010), “Dogville”(2003), “Nise, o coração e a loucura”(2016), “O bicho de
sete cabeças”(2000), “O segredo dos seus olhos”(2009), “O Leitor” (2008), “Última parada, 174” (2008), “Sobre
meninos e lobos”(2003), “O que você faria?”(2005), “Seven, os sete crimes capitais”(1997), “Central do Brasil”(1994),
“Faroeste Caboclo”(2013), “Que horas ela volta?”(2015), “Ensaio sobre a Cegueira” (2008), “Beleza Americana”
(1999), “ELA” (2013), “Medianeiras”(2011), “Closer”(2004), “Um conto chinês” (2010),“A chegada” (2016), Nós que
aqui estamos, por vós esperamos”(1999) “O Auto da Compadecida”(2000), “Estrelas além do tempo”(2016), The
mask you live in”(2015), Miss Representation”(2013), e, por último, um filme que fala sobre exploração sexual
infantil, em cujo ranking o Brasil ocupa, hoje, o 2° lugar mundial: “Um crime entre nós” (2020).

• E no quesito “História/Política”, destaque para:


“Adeus, Lênin!”(2004), “A vida é bela”(1998), “A lista de Schindler”(1993), “Arquitetura da destruição”(1989), “Noite
e neblina”(1956), “No”(2012), “Doutor Fantástico”(1964), V de vingança”(2005), “Watchmen”(2009), “What’s
Happened, Miss Simone”(2015), “Gimme Shelter – Paz e amor acabou”(1970), “Woodstoock”(1970).
SÉRIES
• “The Handmaid's Tale” (2017)

Baseada no livro homônimo, a série retrata um futuro distópico. Nele, as taxas de fertilidade caem em todo o mundo
por conta da poluição e de doenças sexualmente transmissíveis. Em meio ao caos, o governo totalitário da República
de Gileade domina o que um dia foi um território dos Estados Unidos, em meio a uma guerra civil ainda em curso. A
sociedade é organizada por líderes sedentos por poder ao longo de um regime novo, militarizado, hierárquico
e fanático, com novas castas sociais, nas quais as mulheres são brutalmente subjugadas e, por lei, não têm
permissão para trabalhar, possuir propriedades, controlar dinheiro ou até mesmo ler.

• Self Made (2020)

Adaptação cinematográfica da biografia da personalidade conhecida como “Madam C.J. Walker” uma mulher negra
americana que luta contra a pobreza e contra as adversidades da vida para se tornar uma empresária de sucesso.

• “Explicando” (2018)

Os episódios são independentes, alguns deles trazem assuntos lúdicos e levemente interessantes, mas alguns
trazem repertório efetivamente produtivo. É o caso do intitulado “A crise global da água” (19 minutos),
recomendadíssimo.

• “Black Mirror”(2011)

Também uma série cujos episódios não seguem uma sequência. Retratando distopias, “Black Mirror”
ironicamente expõe faces da sociedade, de forma extrema, com o intuito de chocar o telespectador e provocar
reflexões sobre os valores, crenças e escolhas da sociedade contemporânea.

Lista de Podcasts para ajudar na construção de repertório


(Tudo o que eu falei sobre filmes e séries, vale para esta lista também. Ouça um pouquinho, e se não for
de seu agrado, passe para o próximo!)

Como ouvir Podcast?


Via site: Abra o post do episódio, clique no player e ouça automaticamente.
Via download: Abra o post do episódio, clique no botão “Download” com
o botão direito e em seguida em “Salvar Link Como…“. Ouça no seu computador.
Via Feed: Instale um agregador de podcast em seu computador
ou smartphone, cadastre o feed (disponível facilmente nos sites
dos podcasts) e ouça através do agregador.
• Fronteiras da Ciência
Idealizado por membros e ex-alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
aborda temas de todas as Ciências (inclusive Humanas) de forma descontraída sem deixar de ser
fonte de (boa) informação.

• Xadrez Verbal
Panoramas dos principais acontecimentos no Brasil e no mundo (atualidades), apresentado pelo
historiador e idealizador do canal Nerdologia de História (no YouTube), Filipe Figueiredo.

• Durma com essa


Resumo das principais notícias jornalísticas, o podcast é realizado por membros do jornal Nexo e
considerado um dos principais neste meio.

• Dá ideia
Podcast específico para conversar sobre a redação no Enem, pode ser muito proveitoso para a
redação em geral – a cada semana, uma discussão sobre um tema possível e seus
desdobramentos.

• Se fosse fácil era Exatas


Sem ofensas, hein, alunas e alunos? Esse nome engraçadinho pertence a um dos podcasts mais
legais dessa lista: nele, acontecem debates e reflexões, indicações de leituras e conversas bem
animadas sobre diversas teorias: ou seja, muitas coisas que você aproveitar na sua redação!

Lista de livros para ajudar na construção de repertório (e


para a vida!)

Por fim, indico uma seleção de livros que eu, com muito cuidado, separei da minha estante (não
sei se eu já disse, mas nela ficam apenas aqueles que eu gosto muito!). Nem todos você vai
conseguir ler agora, enquanto vestibulando, mas tenho certeza de que cada um deles aqui listados
pode trazer uma grande contribuição para a sua formação individual, além de boas referências
para a redação. Será que algum deles vai te agradar? Depois me conta!

• Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes (qualquer edição traduzida)


Este livro, disfarçado de história inocente, traz muitas metáforas sobre a vida: especialmente
acerca do quão ilusórias são muitas de nossas certezas. A linguagem é leve e a história tem um
tom de comicidade. Nível de dificuldade da leitura: fácil.
• Os cem melhores contos brasileiros do século, Seleção de Italo Moriconi, Ed. Objetiva
Este é apenas um exemplo de livro que reúne contos brasileiros. Recomendo qualquer um que,
como esse, traga contos (porque são de rápida leitura) de Machado de Assis, Clarice Lispector,
Lygia Fagundes Telles, Graciliano Ramos, Lima Barreto e outros grandes nomes da nossa
literatura. Nível de dificuldade da leitura: fácil.

• Foucault em 90 minutos, de Paul Strathern, Ed. Zahar


Um relato conciso (o livro é bem pequeno!) e bem-humorado da vida e ideias de Michael Foucault,
explicando sua influência na luta do homem para compreender sua existência no mundo. Nível
de dificuldade da leitura: fácil ou médio, dependendo de sua familiaridade com os temas.

• 100 aforismos sobre o amor e a morte, Friedrich Nietzsche, Ed. Penguin & Cia das Letras
Reflexões curtas (que podem virar citações na redação) de Nietzsche sobre filosofia, moral,
literatura, sociedade, política e outros assuntos. Vale muito a pena! Nível de dificuldade da leitura:
fácil.

• É isto um homem?, Primo Levi, Ed. Rocco


Na lista dos livros pra você ler quando tiver tempo, ok? Trata-se de algo semelhante a uma
autobiografia de um sobrevivente do Holocausto. Não é um livro carregado de ódio, pelo
contrário: o autor vale-se de uma máxima que diz que “a ação humana só pode ser julgada
individualmente, caso a caso” e com muita lucidez, dá seu testemunho sobre Auschwitz. Vale a
pena aprender com ele. Nível de dificuldade da leitura: médio.

Dica de ouro:
a maioria desses livros você encontra na internet,
seja em “sebos” on-line, seja em domínio público.
Enfim, a tão esperada...

S eleção de redações acima da média do 1° semestre

É com muito orgulho que apresento a vocês a seguinte seleção de


textos – todos, sem exceção, retirados da nossa plataforma de correção
entre fevereiro e julho deste ano. Sim, isso significa que a sua redação
pode estar aqui.
Há trechos e há textos reproduzidos na íntegra, e, de forma geral, sem
alterações (quando houver, estarão indicadas). Todos são de nossos
alunos.
É gratificante observar a prática do que discutimos em aulas. E atenção:
estas redações não devem servir como modelos de cópia, mas sim como
exemplos daquilo que realmente funciona. Em cada página, estarão
indicadas as técnicas utilizadas e outros pontos fundamentais – lembre-se:
aqui, estamos trabalhando com MATERIAL DE ESTUDOS, certo?
Ah, sim: não fique triste se o seu texto não estiver aqui! Felizmente, são
muitas as redações excelentes - sinta-se parabenizado, também. E se as
suas ainda não estão acima da média, a dica é: dedique-se e treine muito!
O resultado virá!
Aproveite a leitura, grife as estratégias que preferir e depois tente adaptá-
las aos seus textos. E, claro, conte com toda a nossa Equipe para te ajudar
com o que for preciso!

Notas:
I. Todos os autores tiveram seus nomes ocultados para evitar qualquer tipo de exposição.
II. Alterações, quando realizadas, o foram para fins de clareza: excluíram-se rasuras, desvios gramaticais extremos e
afins.
1) Tema: Direitos Humanos no Brasil (Aula 3)

Durante a ascensão da Idade Moderna, filósofos embasados no passado notaram racionalmente


a construção de um estado social. Uma sociedade possui intrinsecamente um contrato entre todos os
indivíduos, que permite o convívio harmônico e igualitário sobre os seres. A prerrogativa de
impessoalidade é fundamental para que as leis não gerem descontentamento e a civilização se dissolva –
um problema que afeta o Brasil quando analisado pela perspectiva dos Direito Humanos. Em um cenário
individualista, os direitos humanos parecem incoerentes e os brasileiros tendem a querer “cortá-los”. TESE
Consequentemente, a base social é colocada em risco e a marginalização irrestrita de pessoas torna-se
cada vez mais possível.
A priori, portanto, nota-se que na sociedade brasileira a tendência individualista sobrepõe-se de
tal modo na civilização que acaba por afetar a essência dos Direitos Humanos. Nascemos em um meio o
qual já existia e o que possibilita tal ocorrência é justamente a manutenção constante desse meio –
sociedade – por regras igualitárias e impessoais. Utópico ou não, foi essa ideia que permitiu ao ser humano
existir até então. Quando um indivíduo tomado pelo descontentamento de ações que o afetam –
ocasionadas por outro ser – quer punir por conta própria na mesma intensidade, acaba por esquecer que
esse papel é do Estado escolhido, em suma, democraticamente. Dessa forma, quando um Estado é bem
estabelecido, os Direitos Humanos são fundamentais e suficientes para punir infratores coerentemente e
resguardar cidadãos de bem quando em sociedade – ou seja, eles valem para todos.

Consequentemente, quando não há consolidação desses Direitos, a marginalização social ocorre.


Tanto infratores, quanto indivíduos corretos no exercício dos deveres, ficam sujeitos a um estado social
caótico em que não é possível sobreviver em plena saúde. Exemplifica-se tal ideia quando se analisa a
saúde pública brasileira de má qualidade, ou o ex-presidiário na favela sujeito a doenças por falta de
saneamento básico. Por isso, independente do lado em que se está – do subversivo ou do correto - um
estado sem Direitos Humanos tende a afastar e marginalizar o indivíduo do bem comum.

Por fim, nota-se o papel fundamental dos Direitos Humanos na sociedade. São esses direitos que
possibilitam na essência um estado social existir em harmonia e completude. Se uma civilização é contra
os Direitos Humanos, ela está sendo contra si mesma, no final.

Legendas:
Introdução por viés histórico.
Ponte: une a contextualização à tese, explicitando o tema da redação.
Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2.
D1 – Retoma a primeira parte da tese e constitui-se no modelo “Tópico frasal (TF) + expansão (explicação) do que o TF afirmou +
fechamento da ideia”.
D2 – Retoma a segunda parte da tese e constitui-se no modelo “Tópico frasal (TF) + expansão (explicação) do que o TF afirmou +
fechamento da ideia”.
Termo que abre a escrita, na contextualização, e é retomado na conclusão: mostra como a redação “não se perdeu”, mas seguiu
uma linha coerente de raciocínio.
Termos que estabelecem ligação (continuidade do raciocínio lógico) entre os parágrafos.
Caso você não se lembre, o modelo utilizado no desenvolvimento desta redação
que você acabou de ler é o que chamamos de ideal:

“Tópico frasal (TF) + expansão (explicação) do que o TF afirmou + fechamento


da ideia”.

Observe que as redações aqui listadas utilizam este modelo – e com as variações
que cada autor escolhe. Uns optam por expandir o tópico frasal com exemplos,
outros com citações (repertório externo) e assim por diante. O importante é ter
em vista essa estrutura.

E para te ajudar mais um pouquinho, relembro:

Tópico Frasal
Definição: a introdução do parágrafo, representada na maioria dos casos por um ou dois
períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo dele.

Importância: O tópico frasal garante objetividade, coerência e unidade ao parágrafo. Isso define
o propósito dele e evita digressões impertinentes.

Vamos a mais um exemplo:


2) Tema: Profissões e Relações de Trabalho (Aula 12 – tema implícito)
O diploma e a invisibilidade

O trabalho intelectual, segundo o sociólogo brasileiro Sergio Buarque de Holanda, em seu livro
“Raízes do Brasil”, tornou-se honroso, pois, enquanto o esforço braçal pode constituir a ocupação
semelhante a dos escravos, o mental está relacionado a de seus senhores. Dessa forma, embora a ótica
do pensador seja da primeira metade do século XX, ela se mostra bastante atual no que condiz à
valorização do diploma na sociedade: se há uma cultura na qual a produtividade impera, graduar-se em
uma universidade configura símbolo de prestígio. Como consequência disso, o indivíduo, imerso nesse TESE
contexto, acaba por desvalorizar o trabalho manual, resultando, como efeito colateral, em uma
invisibilidade social.

Em primeiro plano, quando tempo é dinheiro, ingressar em uma faculdade torna-se uma
TF
necessidade. De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, as instituições sociais – como mídia, Estado e
sistema econômico – influenciam o indivíduo desde o nascimento. Dessa forma, a produtividade é
construída como um valor e, inclusive, transforma-se em objetivo de vida: ao perguntar a uma pessoa o Expansão
que ela almeja ser, sua resposta é, na maioria das vezes, relacionada a uma profissão. Todavia, não é por
qualquer ofício aquele que é honroso, uma vez que os trabalhos essenciais são tomados como os que exemplo
influenciam, diretamente, na economia do país. Sendo assim, não é de se espantar que o diploma seja
valorizado: se as universidades garantem uma profissão de prestígio, deve-se almejá-las a todo custo.

Início do Consequentemente, dentro desse contexto, não apenas o trabalho manual é inferiorizado, mas por causa TF
fechamento disso, a invisibilidade social torna-se uma constante. Imerso, então, nessa sociedade produtiva, ao sujeito,
regulado pelo ponto batido e cobrado por metas, resta pouca vida, ação e reflexão que não se voltem à
produção – seja esta no mercado de trabalho ou seja ainda antes dele, como em um curso pré-vestibular.
Sendo assim, a identidade pessoal, entendida como as características próprias que distinguem um
elemento, é reduzida: se trabalhar é a máxima, é o trabalho, também, que qualifica o ser humano. Nesse
sentido, um médico, por exemplo, é tratado como um salvador, já um lixeiro transforma-se no próprio
lixo. Dessa forma, não é de se surpreender que muitas profissões sejam invisibilizadas: se aquilo com que
se trabalha determina o que se é, o trabalhador braçal, no geral, é desprezado.

Por fim, em uma sociedade na qual a produtividade é a máxima, o diploma transforma-se


em um símbolo de prestígio. Por conseguinte, o indivíduo, com pouco tempo disponível para reflexão,
determina o valor de alguém com base em sua profissão. Dessa maneira, enquanto o trabalho continuar
sendo o objetivo de vida de grande parte das pessoas, muitos seres humanos permanecerão invisíveis.

Introdução por referência externa (citação).


Ponte: une a contextualização à tese, explicitando o tema da redação.
Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2.
D1 – Retoma a primeira parte da tese e constitui-se no modelo “Tópico frasal (TF) + expansão (explicação) do que o TF afirmou +
fechamento da ideia”.
D2 – Retoma a segunda parte da tese e constitui-se no modelo “Tópico frasal (TF) + expansão (explicação) do que o TF afirmou +
fechamento da ideia”.
Termos que estabelecem ligação (continuidade do raciocínio lógico) entre os parágrafos.
A essa altura você já percebeu que as redações listadas têm, entre outras coisas em comum, a tese muito bem
determinada e bipartida: ela “adianta” o que os parágrafos de desenvolvimento trarão. Além disso, na prática, é
bom perceber como o Tópico Frasal (TF) ORGANIZA o parágrafo.

Mais um exemplo, agora de um trecho:

3) Tema: SUS (Aula 6)


Sociedade brasileira: saúde pública como supérflua

“ ...na sociedade brasileira, marcada pela desigualdade social, aqueles que possuem acesso à saúde TESE
privada não conseguem ver a importância do SUS. Assim, a população como um todo se prejudica devido
a tal desvalorização.

Uma vez que classes sociais altas têm acesso a um bom sistema de saúde privado, entender o
SUS como supérfluo e desnecessário é comum. Isso porque vive-se em “bolhas sociais”, ou seja, a
TF
percepção da sociedade por um indivíduo é moldada principalmente pelo contexto em que se vive.
Se para os mais prósperos a saúde de que usufruem é decente, concluem equivocadamente que assim o
é para todas as pessoas. Porém, o poder de ação e reinvindicação está também as mãos dos mais ricos,
logo, como esses não atuam em prol de uma melhoria no SUS, o sucateamento da saúde pública é
iminente.

Início do Nesse sentido, porém, é importante destacar que, quando o Sistema Único de Saúde se torna
TF
fechamento precário, tanto ricos como pobres serão afetados. Esse efeito ocorre, pois, assim como dito pelo
sociólogo Émile Durkheim, a sociedade pode ser comparada a um organismo, ou seja, a condição dos
pobres afeta também os ricos, pois, se um dos órgãos colapsa, o organismo como um todo morre. Tal
fato pode ser observado na crise do coronavírus de 2020, em que pobres e ricos devem ser curados para
que a pandemia cesse – o que evidencia novamente a importância do SUS, que deverá garantir a vacina
quando esta for disponibilizada.”

Termos que estabelecem ligação (continuidade do raciocínio lógico) entre os parágrafos.


Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2.

Observe que, no trecho acima, o autor utiliza, no D1, apenas a explicação de seu tópico frasal – a
partir das coisas que ele sabe, por ter visão crítica. Em D2, no entanto, a expansão do tópico fica por conta
de uma citação (Durkheim) que é explicada na sequência, valendo-se de um exemplo da atualidade.
4) Tema: Medo (Ciclo 2)

O filósofo brasileiro Mario Sérgio Cortella, no seu livro “O Epitáfio”, aborda a figura do medo em uma
anedota filosófica: “O domador de elefantes”. Nela, o elefante mantém-se rendido ao domador mesmo
sendo mais forte – exposto ao medo desde pequeno, o animal acostumou-se a aceitar a ideia de oprimido
mesmo em situação de superioridade sobre o opressor. Semelhantemente, nos tempos atuais, muitos
Estados Modernos – como o brasileiro – usam o medo para “domar” a sociedade. Em um cenário de
subdesenvolvimento, o medo surge como ferramenta eficaz do Estado para preencher o mal serviço TESE
público ofertado. Consequentemente, a civilização absorve atentamente o medo e perde a capacidade de
ser autônoma.

Primeiramente, nota-se que o medo se transfigurou em ferramenta para Estados subdesenvolvidos. TF


A incapacidade de oferecer um serviço público de qualidade instaura imperativamente o preenchimento
de oferecer um serviço público de qualidade instaura imperativamente o preenchimento das lacunas
vigentes com situações que geram medo na população. Um excelente exemplo é a própria violência, que
impede o indivíduo de sair à noite na cidade de São Paulo, já que o mesmo indivíduo sofre de medo de
ser assaltado – isso tira do Estado, muitas vezes, a responsabilidade de garantir a segurança social a partir
do momento que a sociedade habituou-se a esse tipo de situação. Assim como um elefante rendido ao
seu opressor pelo medo, a civilização sujeita a um Estado subdesenvolvido acostuma-se e se rende ao
medo exalado pelo Estado.

Em consequência, a normalização do medo na sociedade acaba por tirar a autonomia dos indivíduos. TF
Os direitos fundamentais que asseguram o cidadão são minados aos poucos pela Estado, que ganha cada
vez mais poder. Evidencia-se tal ideia quando greves sociais são taxadas como inconstitucionais e
revidadas, pelo Estado, com violência policial – afoitando os grevistas que, por medo, abandonam o seu
direito de protestar. Dessa forma, a autonomia social deixa de existir – tal qual a liberdade do elefante
domado.

Por fim, o medo ganha na sociedade um papel de destaque – como uma ferramenta valiosa para
Estados subdesenvolvidos e como uma chaga latente para a civilização. Se a modernidade mantiver-se
nesse estado, a anedota filosófica de Cortella ganhará valor histórico no desenvolvimento da humanidade
contemporânea.

Introdução por referência externa (citação).


Ponte: une a contextualização à tese, explicitando o tema da redação.
Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2.
Fechamento da ideia do parágrafo. Neste caso, especificamente, o autor optou por fazer uma retomada da contextualização.
Esse movimento não é obrigatório, mas perceba como ele é interessante. Isso ocorrerá em D2 também, de forma mais sutil.
Novamente, a retomada da contextualização – dessa vez, na conclusão.
Termos que estabelecem ligação (continuidade do raciocínio lógico) entre os parágrafos.
5) Tema: Espetacularização (Aula 2 – tema implícito)

Mídia do espetáculo

No episódio “Urso Branco” da série televisiva distópica “Black Mirror”, o espectador acompanha a
perseguição de uma mulher por pessoas mascaradas. Além dos perseguidores, a protagonista encontra
diversas pessoas, sem máscaras, com celulares e câmeras, que gravam a cena toda sem responder às
perguntas e pedidos de ajuda dela. No fim do episódio, é revelado que toda a situação era um espetáculo,
uma tortura punitiva por crimes cometidos por ela, e um show de entretenimento para as pessoas
gravarem com os celulares. Embora seja uma obra de ficção, esse episódio reflete o fenômeno da
espetacularização, em que acontecimentos cotidianos são transformados em espetáculo. Tal fenômeno
decorre da busca da mídia por lucros e tem como consequência a exposição excessiva de vida das pessoas. TESE
Quando o lucro se torna o objetivo principal, a mídia transforma o cotidiano em um espetáculo. Isso se
TF
dá, pois, grande parte da receita dos meios de comunicação é resultado de anúncios e patrocínios que,
por sua vez, dependem da quantidade de usuários utilizando o meio. Para aumentar o ganho, a mídia
busca exibir tudo da forma mais extraordinária e espetacular possível, de forma a atrair audiência. Um
exemplo disso são os programas televisivos que acompanham operações policiais, transformando
violência em espetáculo, como em “Urso Branco”, e que apresentam as maiores audiências de algumas
emissoras. Assim, a espetacularização é uma ferramenta da mídia para obter lucro.

Consequentemente, se tudo pode ser convertido em uma exibição, a vida privada das pessoas também
TF
é utilizada com esse objetivo. Principalmente no caso de pessoas públicas – políticos, empresários,
artistas – a mídia tenta obter o máximo de informações novas para apresentar de forma espetacular,
ainda que, para isso, tenha que violar a privacidade de alguém. Por meio de câmeras escondidas,
gravadores de áudio e “paparazzis”, uma simples ida à praia pode se tornar notícia em revistas como a
“Caras”. Dessa forma, as pessoas passam a ter suas vidas privadas expostas em espetáculos.

Em vista disso, a espetacularização é um fenômeno impulsionado pela mídia em busca de lucro,


resultando até na perda de privacidade. Caso esse processo se mantenha, a distopia ficcional de “Black
Mirror” pode tornar-se realidade.

Introdução por referência externa (série televisiva).


Ponte: une a contextualização à tese, explicitando o tema da redação.
Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2. - Perceba que, neste texto, a tese é mais sucinta. Isso não é um
problema, uma vez que ela PERMANECE apresentando 2 pontos para discutir em D1 e D2.
Início do fechamento da ideia do parágrafo. Neste caso, especificamente, o autor optou por fazer uma retomada da
contextualização. Esse movimento não é obrigatório, mas perceba como ele é interessante. Nesse texto, isso não ocorrerá em
D2.
Fechamento
Termos que estabelecem ligação (continuidade do raciocínio lógico) entre os parágrafos.
Conclusão sucinta, mas objetiva e cumpre seu papel: encerra o texto retomando a tese + a contextualização.
6) Tema: Censura (Aula 5 – tema implícito)
Observação: esse texto é bem sucinto: a introdução, por exemplo, é objetiva. O grande trunfo dele é
saber explorar os argumentos sem necessariamente estender demais as ideias. É uma forma de fazer,
também.

Censura e alienação

Recentemente, o governo de Rondônia emitiu uma ordem de recolhimento de várias obras


literárias das escolas estaduais. Embora a Secretaria de Educação tenha cancelado a ordem, esse caso
evidencia um movimento que ressurge na atualidade: a supressão da cultura e da liberdade de expressão.
Tal tendência de retorno da censura decorre do ressurgimento de ideologias autoritárias e tem como TESE
consequência proposital a alienação da população.

Quando ideologias autoritárias ganham força, a censura torna-se uma ferramenta para o TF
estabelecimento dessas. Isso se dá, pois a liberdade de expressão e as produções culturais podem ser
usadas para se opor a movimentos como o nacionalismo e o neofascismo, crescentes no mundo inteiro,
inclusive no Brasil. Livros como “Os Sertões”, presente na lista de recolhimento, que fazem críticas a ideais
defendidos por grupos autoritários, dificultam o fortalecimento dessas ideologias. Assim, o ressurgimento
de pensamentos autoritários traz consigo a censura como uma forma de suprimir oposições.

Consequentemente, com menos fontes de informação e cultura, a população torna-se TF


propositalmente alienada. À medida que a censura impede o acesso a algumas informações, a sociedade
fica exposta apenas àquelas permitidas e controladas pelo grupo dominante. Nesse contexto, a população
perde a capacidade crítica e cultural, tornando-se alienada. Um exemplo pôde ser visto na Ditadura Militar
brasileira, em que a censura realizada pelos órgãos de propaganda estatais dificultou o conhecimento da
população sobre as torturas e a violência da época. Dessa forma, a censura promove a alienação como
forma de controle.

Diante dessa perspectiva, tem-se que o ressurgimento de ideologias autoritárias impulsiona a


supressão da liberdade de expressão e a alienação da sociedade. Caso instituições como a de Rondônia
tornem-se mais comuns, todos perderão com a diminuição do acesso à cultura dos livros.

Introdução por exposição de fato/notícia.


Ponte: une a contextualização à tese, explicitando o tema da redação.
Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2. - Perceba que, neste texto, a tese também é mais sucinta. Isso não é
um problema, uma vez que ela PERMANECE apresentando 2 pontos para discutir em D1 e D2.
Explicação do TF
Exemplificação do TF
Encerramento do parágrafo, concluindo a ideia exposta pelo TF.
Retomada clássica (e simples) da tese + contextualização.
1) Tema: Manipulação midiática (Aula 14 – tema implícito)
Comentário: O texto a seguir utiliza linguagem bastante trabalhada – explora o vocabulário que o autor detém – e isso é bem
interessante. No entanto, quero que você observe como se estabelece o padrão estrutural que tanto discutimos em aula (e que
também pode ser visto nos textos anteriores, mesmo os mais sucintos e objetivos). Não importa qual seu estilo de escrita, a
estrutura precisa ser fortemente construída – as demais coisas são acrescentadas depois.

Platão, em seu Mito da Caverna, propõe uma alegoria do que seria a dicotomia entre uma vida sob a
escravidão da ilusão e o esclarecimento emancipatório da informação. Em se tratando do modelo vigente de
sociedade, a filosofia platônica parece transcender os séculos, à medida que o cidadão contemporâneo vê-se
atrelado às correntes de um sistema educacional de caráter doutrinário, bem como é inconscientemente cooptado TESE
pela propaganda midiática, fatores os quais lhe impedem de pensar criticamente e destituem-no da liberdade de
escolha.

Se a formação educacional comum se pauta na assimilação forçada de conteúdos, é natural que os


indivíduos estejam fadados a escolher somente o que lhes é imposto. O modelo tradicional de ensino preconiza TF
que os estudantes dominem aquilo que se estabeleceu como matriz curricular comum, todavia, ao padronizar os
saberes, coíbe-se a manifestação individual e genuína, de interesse dos jovens em formação por assuntos os quais
tangenciam o cronograma governamental. Por conseguinte, fomenta-se e perpetua-se uma cultura de escolha
pautada nas prioridades estabelecidas por outrem e que se distancia da livre-iniciativa pessoal e aproxima-se do
universalismo direcionado. Desse modo, a informação adquirida no ensino básico é selecionada, sendo aparelho de
esvaziamento da liberdade de escolha: alinhando-se à óptica do filósofo Noam Chomsky, o propósito da educação é
mostrar às pessoas como aprender por si mesmos, ao passo que o outro conceito de ensino hoje empregado é a
doutrinação.

Uma vez esvaziados de pensamento crítico pelas próprias instituições de ensino, não raro a propaganda
dos veículos midiáticos exerce profunda influência nas decisões dos indivíduos. A presença sorrateira da TF
propaganda na mentalidade da população se faz novamente presente desde o regime nazista, em que a adesão
massiva do público à doutrina deu-se por meio de um coercitivo – e eficiente – mecanismo de autopromoção.
Consoantes às práticas totalitárias da publicidade nazista estão os meios de divulgação contemporâneos de
produtos: aproveitando-se da fragilidade das massas, isto é, da ausência de postura engajada, as ofertas da mídia
são encaradas como voz de comando para a compra. Em síntese, a alienação do público abre margem para que sua
escolha perante a compra seja articulada por um poderoso mercado propagandístico, o qual desvia os interesses
individuais para os seus próprios, e que se caracteriza como quem, de fato, livremente escolhe.

Decerto, o cidadão do século XXI permanece acorrentado à caverna de Platão, incapaz de enxergar a luz da
livre-escolha. Em suma, o modo pelo qual a informação é transmitida nas escolas desenvolve um exército de
cidadãos acríticos, e o uso da informação pela mídia, em benefício próprio, destitui, enfim, as massas populares da
liberdade de escolha.

Introdução por referência externa (Filosofia)


Ponte: une a contextualização à tese, explicitando o tema da redação.
Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2.
Retomada da contextualização.
Conclusão (encerramento de ideias) sucinta e objetiva, que retoma a tese e, consequentemente, retoma, também, as ideias
trabalhadas em D1 e D2.
2) Tema: Cultura do Cancelamento (Aula 8)

Cancelamento pouco efetivo

As redes sociais, que hoje fazem parte da vida de mais de três bilhões de pessoas, impulsionaram não
somente a comunicação rápida e com grande alcance, mas também a discussão e o combate a preconceitos. Esse
último aspecto ganhou, nos últimos anos, uma nova faceta, conhecida como “cancelamento”: quando alguém faz
ou diz algo ofensivo ou preconceituoso, ele pode ser cancelado pelos outros usuários, recebendo críticas e até
boicotes, no caso de figuras públicas. No entanto, a cultura do cancelamento não é uma forma eficaz de eliminar o TESE
problema, pois as críticas geralmente são rasas e não se direcionam às causas, o que, consequentemente, não gera
conscientização.

Quando condena-se apenas o ato considerado impróprio, as críticas tendem a serem rasas. Isso se dá pois
o cancelamento, sendo realizado por meio das redes sociais, é construído basicamente de postagens e comentários
TF
curtos. Nessas mensagens, a maioria das pessoas prefere enfatizar, no pequeno espaço do texto, o erro da pessoa
cancelada, e não promover a discussão acerca das causas mais profundas que levaram a ele, como, por exemplo, o
racismo estrutural ou a desigualdade de gênero. Assim, o cancelamento tende a tecer reprovações muito simples,
apenas a uma ação específica, não tendo efeito duradouro.

Como consequência, se não há críticas efetivas, não gera-se conscientização sobre o preconceito. Como,
muitas vezes, o cancelamento é feito de forma muito veloz, com grande volume de mensagens, mas sem discussões TF
profundas, o efeito dele passa rápido. Um exemplo disso é o caso do Mc Gui, que foi cancelado após gravar um vídeo
ofensivo, mas após poucas semanas muitos já haviam esquecido, e o tema não foi mais discutido. Dessa forma,
muitas vezes, o cancelado não se conscientiza sobre o problema, apenas espera a comoção passar e evita se expor
novamente.

Diante dessa perspectiva, tem-se que a cultura do cancelamento pode não cumprir o objetivo de
conscientização, pois não ataca as causas dos preconceitos, não promove discussões profundas e não tem efeito
duradouro. Apenas quando o cancelamento deixar de ser pontual será possível combater efetivamente os
preconceitos.

Introdução por exposição de fato concreto.


Ponte: une a contextualização à tese, explicitando o tema da redação.
Elemento 1 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D1.
Elemento 2 da tese bipartida: “spoiler” do que virá no D2
Comentário:

No último texto, optei por fazer poucas marcações para que você, que a esta altura da leitura deve estar bastante
“craque” em identificação da estrutura ideal, identifique-as de maneira autônoma.
Meu desafio vai além: em apenas um dos textos eu destaquei a divisão do parágrafo de desenvolvimento (texto 6).
Ocorre que, em todos os outros 5 textos, a mesma coisa aparece. Te desafio a voltar a eles e identificar essa
estrutura, além de outros pontos que achar necessários.

Quando as férias acabarem, pretendo retomar alguns pontos que relembrei neste material – é, então, ainda mais
importante que você o tenha pelo menos lido uma vez.

Em seguida, deixarei 2 textos também acima da média, desta vez sem marcação alguma – apenas com a minha
avaliação de que são ótimos textos. Como tarefa, você vai identificar e classificar as estruturas, como eu fiz nos
demais.

Corrijo com vocês, em aula, quando voltarmos, os 2 textos a seguir! Bom treino!
3) Tema: Manipulação midiática (Aula 14 – tema implícito)
O protagonista de qualquer trama possui, via de regra, uma vida que, a cada dia, está repleta de
situações inusitadas. Na vida real, no entanto, as “aventuras do homem assalariado” transformam-se na
“rotina monótona do personagem secundário”. Dessa forma, como meio de tirar um ser humano qualquer
desse estilo de vida, aliado a uma necessidade de a notícia chegar rapidamente ao telespectador, os meios
de comunicação – sejam eles tradicionais ou não – manipulam a notícia de modo que ela deixe de ser
ordinária: recentemente, o jornalista Luiz Bacci caracterizou a vítima de um assassinato como “agiota” sem
nenhuma comprovação legal, apenas com base no testemunho de vizinhos, uma vez que a morte de um
homem comum, em meio a tantas outras, não geraria audiência. Se há, então, uma cultura que preza pela
competição, é natural que informações falsas sejam espalhadas. O indivíduo, imerso nesse contexto,
permanece inerte, pois, mesmo que ela deturpe a veracidade dos fatos, é esse tipo de notícia que traz
emoção para a sua vida de figurante.

Quando tempo é dinheiro, a verdade não é, necessariamente, aquilo que gera audiência. Por causa
do modelo neoliberal da economia, pautado no livre mercado e, portanto, na competição; ao sujeito,
regulado pelo ponto batido e cobrado por metas, resta pouca vida, ação e reflexão que não se voltem à
produção, resultando, então, num estilo de vida repetitivo. Assim, na disputa por audiência, vence aquele
que transmitir o conteúdo mais empolgante antes dos concorrentes. Nesse contexto, ações como as de
Bacci justificam-se, uma vez que a noticiação – ou maculação – das personagens na tela reduz-se apenas a
entretenimento.

Consequentemente, imerso nessa rotina, o herói de sua vida acaba por não ser o indivíduo, mas,
na verdade, a própria mídia. Diante disso, a identidade pessoal, entendida como as características próprias
que distinguem um elemento, é baseada na história familiar, nas crenças e em diversos outros fatores.
Entretanto, embora cada um possua seu próprio processo de individualização, na sociedade produtiva, o
sujeito nada mais é do que apenas mais um entre milhares, ou seja, um personagem secundário como
tantos outros. Nesse sentido, uma bandeira ucraniana tornar-se um símbolo neonazista, como ocorreu em
uma recente manifestação, é algo amplamente compartilhado, já que essa situação fora do comum tira o
sujeito da produtividade de seu hábito monótono.

Por fim, visto que a maior parte das pessoas pertence à categoria dos figurantes, cativará o público
o canal de comunicação que melhor os retirar de sua rotina. Dessa maneira, os fatos são modificados a fim
de que se resulte audiência. Por conseguinte, apesar de não ser o público que domine os acontecimentos,
é ele quem domina o que será transmitido, visto que há uma relação mútua entre mídia e telespectador.
Assim, enquanto as pessoas não foram protagonistas, reportagens falsas continuarão a serem transmitidas.
4) Tema: Disseminação da violência urbana no Brasil (Aula 7)

Durante o Renascimento Urbano na Baixa Idade Média, houve a expansão daquilo que hoje reconhecemos
como violência. A reestruturação da sociedade em centros comerciais alavancou uma nova classe social, os
burgueses, e isolou ainda mais os indivíduos distantes dessa nova rede de sustentação econômica – o que abriu
espaço para o roubo como único meio de sobrevivência. Similar na essência, o Brasil sofre com uma disseminação
contagiosa da violência na atualidade. Em um cenário de desigualdade, o individualismo fica cada vez mais vigente
e com isso características sociais que incitam a violência crescem exponencialmente.

De início, a empatia passa a inexistir entre os brasileiros. Análogo aos tempos medievais, a permanência e
manutenção de um sistema capitalista cada vez mais voraz acaba por estreitar a perspectiva dos indivíduos – nada
importa a não ser o seu sucesso devido ao seu dinheiro. Evidencia-se tal fato quando há no país o aumento das
favelas e o descaso do Estado com elas, ou quando o discurso “bandido bom é bandido morto” torna-se uníssono
na sociedade. Dessa forma, o índice de violência cresce muito e o Brasil moderno fantasia-se de um passado
medieval.

Consequentemente, fatores sociais que ratificam a violência permeiam-se e crescem. Esse individualismo
exacerbado permite que a falta de perspectiva entre os isolados da sociedade instale-se entre eles. A falta de
educação, emprego, salário digno e outros fatores acaba por incitar mais ainda a violência e o roubo como solução
para a sobrevivência. Um ser humano marginalizado em uma favela possui estatisticamente grandes chances de
acabar no tráfico de drogas e outros tipos de crime – de acordo com dados do IBGE, a maioria dos presos por
homicídio e roubo são negros e de periferia. Assim, sem o glamour das fantasias medievais, o indivíduo envolvido
na violência torna-se cada vez mais comum na sociedade brasileira.

Por fim, nota-se que a desigualdade social é um alicerce para a fundamentação de um individualismo que
permite o isolamento de classes sociais desfavorecidas. Isso incita a violência como mecanismo de sobrevivência e
instaura os tempos medievais no Brasil moderno.
Um grande abraço e meu desejo sincero de ótimas férias! Até a volta!

Prof. Gabrielle Zanardi

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