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Jerusalém tinha sido invadida e tomada pelos turcos otomanos muçulmanos, e o discurso em favor de sua libertação
tomava conta das nações cristãs da Europa, animado pelos interesses burgueses e pelo espírito belicoso da época.
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Além disso, os reinos e monarcas europeus buscavam solidificar o seu poder e era
interessante uma aliança com a burguesia mercantil. Como se diz, uma mão lava a
outra, ou seja, enquanto que para os reis era importante a provável riqueza que viria
com as atividades comerciais desenvolvidas pela burguesia, o que fortaleceria o poder
dos monarcas na relação de forças com a nobreza, para os burgueses era importante
que houvesse um estado, com sua estrutura e mecanismos de defesa, que desse
segurança e estabilidade às suas atividades.
Por isso, ao desembarcar, Colombo faz algo mais do que pôr nomes às
coisas: dita uma ata notarial, sob o signo da coroa e da cruz, que o declara
descobridor do que viu e designou e proprietário perpétuo do que
descobriu(...) O discurso colonial subordina epistemológica, ética e
juridicamente o existente a uma categoria inanimada de objeto e dominação
como processo de objetivação. Eis aqui o núcleo racional do processo colonial
moderno: processo de dominação indiferencial do real; e processo igualizador
da civilização. (Eduardo Subirats em Adauto Moraes, p. 122 e 123, 2006)
Porém, como sabemos, a América Latina não era terra de ninguém, desabitada.
Aqui viviam povos autóctones - ameríndios, os donos da terra, que junto com a riqueza
natural comungavam, em geral, um só cosmos. Mais adiante veremos como esses
‘ditos indígenas’ desenvolviam sua visão singular da vida e do mundo e o quanto
podemos aprender com sua cultura. Por ora, importa destacar aqui que esses povos
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Além desse aspecto social que se estende para os modos de produção, devemos
destacar que, economicamente, predominou, no processo de colonização, uma
estrutura agrária monocultora em latifúndios, cujo objetivo principal era abastecer o
mercado europeu (a metrópole). As atividades agrárias que deveriam abastecer o
mercado interno eram secundárias. Ou seja, da mesma forma como anteriormente
destacamos a manutenção de certas relações de trabalho que permanecem presentes
em atividades produtivas atuais, podemos destacar que a lógica de privilegiar as
mercadorias e atividades que abastecem o mercado externo, em termos de produtos
agrários, até hoje têm seus privilégios (subsídios). Talvez possamos afirmar, diante do
quadro atual, que estejamos vivendo uma transição para o fortalecimento do mercado
interno, mas em termos do agronegócio, não podemos deixar de ignorar o privilégio
dado às atividades exportadoras.
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Jogados nos porões dos navios, maltratados, sem condições higiênicas e sendo infectados por diversas doenças,
muitos negros morriam durante a travessia do Atlântico. Sugere-se assistir ao filme Amistad.
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Crioulos na colônia portuguesa, termo também cunhado para os descendentes de africanos.
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Podemos destacar como lideranças caudilhistas – quando o poder muitas vezes ultrapassa o respeito
às leis e às constituições - Getúlio Vargas no Brasil e Juan Domingo Perón na Argentina.
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Empreendeu-se na época a ‘caça às bruxas’, ou seja, os golpes militares se justificavam em virtude de
possíveis movimentos que estavam em marcha e instituiriam nas nações latino-americanas o
comunismo. Pesquisas recentes vêm ratificando o apoio dos Estados Unidos a muitos desses golpes de
estado, dentro da chamada Guerra Fria, em que se colocavam frente a frente os interesses dos Estados
Unidos (capitalismo) e da antiga União Soviética (comunismo).
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terra de ninguém e, ao mesmo tempo, como terra de todo mundo. Usar termos como
terra de ninguém e ao mesmo tempo terra de todo mundo não significa falar em terra a
ser saqueada pelo malfeitor ou por uma lógica de rapina, mas em uma terra que
pertence ao mundo, a todos os seres, em que as fronteiras não são registros de divisão
e separação, mas geografias de encontro e aliança. Somos latino-americanos não
porque temos uma identidade definida, mas porque somos negros, índios, brancos,
amarelos e trançados ao mesmo tempo. Somos únicos e diversos, reconhecemos as
particularidades e desejamos promover e experimentar alianças abertas e afirmativas
com o Outro.
Essa diversidade também é um grito contra toda forma de poder vertical, contra a
imposição de modelos ou formas de vida exteriores, contra um conceito civilizador que
significava impor ao outro um dito modo mais sofisticado (civilizado) de existir. Devemos
denunciar que toda lógica de poder em que uma força tenta se impor ou se submete à
outra, representa a negação da liberdade e da possibilidade da construção de uma
identidade livre e afirmativa. A memória em relação ao passado que deve nos unir, é a
força que resiste à imposição de qualquer modelo.
É pertinente assinalar, contra todo esse pano de fundo histórico e atual, que a
questão de identidade na América Latina é, mais do que nunca, um projeto
histórico, aberto e heterogêneo, não só e talvez nem tanto uma lealdade à
memória do passado. Porque essa história permitiu ver que na verdade são
muitas as lembranças e muitos os passados, sem contudo um caminho
comum e compartilhado. Nessa perspectiva e nesse sentido, a formação da
identidade latino-americana implica, desde o início, uma trajetória de inevitável
destruição da colonialidade do poder, uma forma muito específica de
descolonização e liberação. (Aníbal Quinjano em Adauto Moraes, p. 85, 2006)
1.3 - Os latino-americanos
Apesar dessa consideração, penso que não devemos ignorar esse traço que nos
aproxima. Somo semelhantes no desejo de forjar a autonomia e diminuir os traços de
dependência (e diversos movimentos locais atestam esse desejo). Devemos resistir aos
poderes salvacionistas que se intitulam representantes populares e arrogam para si a
ação política em favor do outro. O outro, se não é fortalecido e afirmado em sua
cidadania, continua ignorado. Somente a democracia radicalizada na participação
popular, com o fortalecimento de projetos educacionais que promovam a autonomia e a
capacidade dos cidadãos em tomar parte das ações políticas a partir de diferentes
processos de participação, pode representar verdadeiros processos de evolução
política da América Latina. Essa deve ser nossa bandeira na defesa da cidadania.
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Sabemos como os Estados Unidos se tornaram, durante a transição do século XIX para o século XX,
importantes parceiros comerciais dos países latino-americanos e, a partir das duas Grandes Guerras
Mundiais, passaram a exercer tamanha influência econômica e política sobre os mesmos, que muitos
golpes de estado tiverem participação, direta ou indiretamente, de forças americanas.
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