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ATIVIDADE AVALIATIVA A1

DISCIPLINA: DIREITO AMBIENTAL I – 8º SEMESTRE


PROFESSOR: RAFAEL MALTEZ

TURMA: DIR4BN-MCC SALA: 302 A

Barbara Martins de Souza - RA: 81622159


Jacqueline Leite - RA: 817126689

1
1. A conduta praticada por Sinaldo configura infração administrativa
ambiental? Quais são as penalidades aplicáveis? O proprietário do
imóvel em que se localiza a plantação da cana-de-açúcar atingida
pelo fogo pode ser responsabilizado administrativamente por essa
infração (considere que Sinval não é proprietário desse imóvel ou
plantação)?

A Constituição Federal dispõe em seu art. 225, parágrafo 3º:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

Nesse sentido, com a leitura do referido artigo tem-se que a defesa do meio
ambiente é direito fundamental positivado na Constituição, de modo que, o Poder
Público e a coletividade possuem o dever defender e preservar o meio ambiente
para as futuras gerações.

No mais, o parágrafo 3º do mesmo artigo prevê que, aquele que causar danos
ambientais poderá ser responsabilizado administrativa, civil e criminalmente,
concomitantemente (tripla responsabilidade). Deste modo, um mesmo fato pode
ensejar responsabilização perante as três esferas independentemente.

Nesse seguimento, José Afonso da Silva pontua:

18. RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS. (…) O dispositivo


constitucional, como se vê, reconhece três tipos de responsabilidade,
independentes entre si – a administrativa, a criminal e a civil -, com as
respectivas sanções 1.

Vladimir Passos de Freitas afirma:

A prática de um ato ilícito contra o meio ambiente origina, para o autor, três
tipos de responsabilidades civil, penal e administrativa. Vale dizer, um só
ato poderá sujeita-lo a três tipos de reprimenda 2.

1
SILVA, José Afonso Da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005, p.
846/847.
2
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza. 7. ed. São
Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2001
2
Ainda no mesmo sentido, a juíza Oriana Piske de Azevedo Magalhães Pinto,
esclarece:

O descumprimento de uma obrigação ou de um dever jurídico pode dar


ensejo a diversos tipos de responsabilidade. O tipo de responsabilidade
a que está sujeito o infrator variará conforme a natureza jurídica da sanção
prevista no ordenamento jurídico para ser aplicada a cada caso. Desta
forma, a responsabilidade poderá ser civil, penal, administrativa, consoante
haja previsão de sanções de cada um desses tipos para o mesmo
comportamento a ser apenado. Isso ocorre porque as diversas espécies
de responsabilidade visam a finalidades distintas e, por isso, são
autônomas: a aplicação de uma independe da aplicação da outra 3.

O Decreto nº 6.514/08 conceitua infração administrativa em seu artigo 2º:

Art. 2o Considera-se infração administrativa ambiental, toda ação ou


omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e
recuperação do meio ambiente, conforme o disposto na Seção III deste
Capítulo.

A prática decorrente de infração administrativa sujeita o infrator a sanções


que podem ser desde uma advertência até multas e medidas restritivas.

Nessa concepção, o artigo 3º do Decreto nº 6.514/08 dispõe quais são as


sanções aplicáveis a quem comete infração administrativa ambiental: a) advertência;
b) multa simples; c) multa diária; d) apreensão dos animais, produtos e subprodutos
da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer
natureza utilizados na infração; e) destruição ou inutilização do produto; f)
suspensão de venda e fabricação do produto; g) embargo de obra ou atividade; h)
demolição de obra; i) suspensão parcial ou total de atividades; j) restritiva de direitos.

Com base nas informações obtidas diante o caso exposto, a conduta


praticada por Sinaldo de colocar fogo em folhas de papel e papelões em sua
residência resultando na destruição de uma parte da plantação de cana-de-açúcar, e
causando consequentemente um dano ambiental, configura infração administrativa
ambiental assim, tipificada no art. 1º do Decreto nº 6.514/08.

Ainda é importante pontuar que, o Decreto expressa especificamente quais


são as infrações administrativas e quais são suas respectivas sanções, nesse
sentido, as condutas cometidas por Sinaldo estão elencadas nos seguintes artigos
com as devidas sanções:

3
PINTO, Oriana Piske de Azevedo Magalhães. As três vias de responsabilidade por degradação
ambiental.
3
Art. 58. Fazer uso de fogo em áreas agropastoris sem autorização do
órgão competente ou em desacordo com a obtida:

Multa de R$ 1.000,00 (mil reais), por hectare ou fração.

Art. 60. As sanções administrativas previstas nesta Subseção serão


aumentadas pela metade quando:

I - ressalvados os casos previstos nos arts. 46 e 58, a infração for


consumada mediante uso de fogo ou provocação de incêndio.

Art. 61. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem
ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da biodiversidade:

Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 50.000.000,00 (cinquenta


milhões de reais).

Portanto, Sinaldo responde na esfera administrativa mediante a imposição de


multa.

A responsabilidade administrativa ambiental, segundo a jurisprudência do STJ


é de natureza subjetiva (necessidade de comprovação de dolo ou culpa). Nesse
sentido, no que tange ao proprietário do imóvel vizinho, este não poderia ser
responsabilizado administrativamente, pois a responsabilidade do terceiro é
subjetiva, de maneira que, apenas o causador direto responde pelo dano causado, o
terceiro apenas responderia se fosse comprovada sua culpa (subjetiva).

Nesse sentido, a Ministra Registra Helena Costa explica no julgamento do


Agravo em Recurso Especial nº 62.584-RJ (2011/0240437-3):

A responsabilidade objetiva, em matéria ambiental, não se transmite a


terceiro, uma vez que este integra outra relação jurídica; nessa
hipótese, a sua responsabilidade é subjetiva. Somente aquele que é o
direto agente causador do dano pode ser responsabilizado objetivamente
pela degradação ambiental, nesse caso o transportador do produto. O
terceiro, proprietário da carga transportada, por não ser o efetivo causador
do dano ambiental, é responsabilizado subjetivamente pela lesão pelo
transportador [...] Assim, as sanções administrativas alcançam tão
somente aquele que, de fato, praticar a conduta causadora da lesão
ambiental, vedada a punição de terceiros, o que somente seria
possível se comprovado o nexo causal entre sua conduta e o acidente.
Desse modo, em que pese a responsabilidade civil ambiental ser objetiva,
entendo que a responsabilização administrativa de terceiro, proprietário da
carga, por acidente ambiental causado pelo transportador, insere-se no
regime geral da responsabilidade do direito brasileiro, revestindo, portanto,
caráter subjetivo (Brasil. Superior Tribunal de Justiça, 2011).

Logo, entende-se que o proprietário da propriedade da cana-de-açúcar não


poderia ser responsabilizado administrativamente, pois não foi o efetivo causador do
dano, e sim Sinaldo. Deste modo, o dono do terreno vizinho, somente poderia ser
4
responsabilizado na esfera administrativa caso houvesse a comprovação do nexo
causal entre sua conduta e o acidente (responsabilidade subjetiva), inexistindo essa
relação o mesmo não poderia ser responsabilizado pela infração administrativa.

2. Supondo que o Sindicado tenha ajuizado uma demanda para que fosse
reconhecida a inconstitucionalidade da Lei Municipal n.xxx, quais
argumentos o TJSP poderia utilizar para afastar tal inconstitucionalidade,
levando em consideração a proteção ambiental.

A priori é necessário discorrer sobre a competência legislativa em matéria


ambiental, para posteriormente dispor sobre os prejuízos causados pela pratica da
queima de cana-de-açúcar.

É importante destacar que, o fato de o Município não estar inserido no corpo


do artigo 24 da Constituição, não significa ausência de competência legislativa para
matérias de questões ambientais. Nesse, sentido, sua atribuição se fundamenta com
base na interpretação sistemática dos artigos 18, 24, VI, VII e VIII, e 30, I e II, da
Constituição Federal.

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do


Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
todos autônomos, nos termos desta Constituição.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo
e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Nesse seguimento, José Afonso da Silva pontua os seguintes ensinamentos:


A Constituição não situou os Municípios na área de competência concorrente
do art. 24, mas lhes outorgou competência para suplementar a legislação
federal e estadual no que couber, o que vale possibilitar-lhes disporem
especialmente sobre as matérias ali arroladas e aquelas a respeito das quais
e reconheceu à União apenas a normatividade geral. (SILVA, 2008 p.504).

Ainda vale mencionar o artigo 23, incisos VI e VII da Constituição que


dispõem sobre a competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios sobre questões relativas ao meio ambiente.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios:
5
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

Assim, fica evidente que o próprio texto constitucional permite que o Município
legisle sobre interesse local e suplemente a legislação federal e estadual no que
couber.

Paulo de Bessa Antunes pontua:

E no exercitamento da competência comum, que é competência


administrativa, a cooperação associativa tem universo maior e mais propício
para ações integradas [...]. Inegavelmente, cabe ao Município, como
poder público, dispor sobre regras de direito, legislando em comum
com a União e o Estado, com fundamento no artigo 23, VI, CF. Portanto,
quando um município, através de lei, mesmo que se lhe reconheça
conteúdo administrativo, em se tratando da competência comum, disciplinar
esta matéria, falo-a no exercício da competência comum, peculiarizando-lhe
a ordenação pela compatibilidade local, em consideração a esta ou aquela
vocação sua4.

Ainda, é princípio positivado no texto constitucional a defesa do meio


ambiente:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação.
A Constituição do Estado de São Paulo prevê em seu capítulo IV disposições
no que tange ao Meio Ambiente:
Artigo 191 - O Estado e os Municípios providenciarão, com a participação da
coletividade, a preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do
meio ambiente natural, artificial e do trabalho, atendidas as peculiaridades
regionais e locais e em harmonia com o desenvolvimento social e econômico.

O doutrinador José Nilo de Castro esclarece sobre a competência do


Município para legislar sobre questões de Meio Ambiente:
Inegavelmente, cabe ao Município, como poder público, dispor sobre
regras de direto, legislando em comum com a União e o Estado, com
fundamento no art.23, VI, CR. Portanto, quando um Município, através de lei –
mesmo que se lhe reconheça conteúdo administrativo, em se tratando
de competência comum -, disciplinar esta matéria, fa-lo-á no exercício da
competência comum, peculiarizando-lhe a ordenação pela compatibilidade
local, e consideração a esta ou àquela vocação sua 5.

No mesmo seguimento Toshio Mukai:

4
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.
5
CASTRO, José Nilo de. Perspectivas do Direito Municipal. Ciência Jurídica, set-out. 1993 vol.53,
pág.131.
6
A competência do Município é sempre concorrente com a da União e a
dos Estados-membros, podendo legislar sobre todos os aspectos do
meio ambiente, de acordo com sua autonomia municipal (art.15 da CF),
prevalecendo sua legislação sobre qualquer outra, desde que inferida do seu
predominante interesse; não prevalecerá em relação às outras legislações, nas
hipóteses em que estas forem diretamente inferidas de suas competências
privativas, subsistindo a do Município, entretanto, embora observando as
mesmas 6.

Ainda, se manifestou o Supremo Tribunal Federal:

“(...) o Município é competente para legislar sobre meio ambiente com


União e Estado, no limite de seu interesse local e desde que tal
regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos
demais entes federados (art.24 VI c/c 30, I e II da CRFB).” (RE 586224,
Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Rel. Min. Luiz Fux, j. 5-3-2015).

Deste modo, não resta dúvidas que a instauração de Lei Municipal que proíbe
a queima da palha cana-de-açúcar é constitucional e esta em consonância com a
Constituição e demais dispositivos.

Insta mencionar ainda que, o princípio que norteia o critério de repartição de


competência é o da predominância de interesses, nesse sentido, se houver
interesse geral compete a União, interesse regional compete aos Estados e
interesse local compete aos Municípios. Portanto, quando o Município se depara
com problemas ambientais no ar, na água, no solo, na fauna e na flora em seu
território intervém e possui competência para tal.

Outro princípio que deve ser observado é o da prevalência da norma mais


protetiva ao meio ambiente ou o princípio “in dubio pro natura”, nesse sentido,
prevalece a Lei Municipal em detrimento da Federal.

. A queimada para realização da limpeza do solo é prática comum, no


entanto, causa diversos impactos na saúde humana, na fauna, na flora, na qualidade
do ar, no aquecimento global, e outros. O novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012)
estabeleceu em seu artigo 38 que é proibido o uso de fogo na vegetação, exceto em
algumas situações (incisos I, II e III do Art. 38).

A utilização de emprego de fogo para queima de palha de cana-de-açúcar


pode e causa graves danos ambientais, tais como: poluição do ar, agravamento do
efeito estufa, intensificação do aquecimento global, perda da fertilidade do solo,

6
MUKAI, Toshio. Legislação, meio ambiente e autonomia municipal. Estudos e Comentários: RDP, Vol.
79, pág.131.
7
esgotamento dos recursos hídricos, contaminação da água, perda da biodiversidade,
além dos impactos causados à população por causa da fumaça e fuligem.

A queima da cana emite certas quantidades de compostos nitrogenados


com atividade química e biológica e tem potencial para modificar as
propriedades físicas do ambiente ou da biota. O nitrogênio ativo (NO e NO2)
é responsável por provocar problemas ambientais locais e regionais,
como a chuva ácida e a contaminação de águas, e ainda tem grande
potencial para afetar a biodiversidade de florestas naturais. Muitas vezes
os gases de nitrogênio ativo se depositarão a centenas de quilômetros de
distância do local onde foram formados (CARDOSO et al., 2008) 7.
A queima da palha de cana emite, por ano, algo em torno de 46 mil
toneladas de nitrogênio ativo para a atmosfera só no Estado de São Paulo
(MACHADO et al., 2008). Os efeitos são muito danosos ao meio
ambiente. Espécies de plantas e micro-organismos que absorvem o
nitrogênio mais rápido podem proliferar-se e tomar o lugar de outros,
destruindo o equilíbrio do ecossistema e sua biodiversidade. Nos
ambientes aquáticos, o efeito é imediato, com o crescimento exacerbado
da população de algas (eutrofização), que libera toxinas e consome quase
todo o oxigênio da água (CARDOSO et al., 2008) 8
Um dos pontos mais críticos sobre a queima da palha da cana-de-açúcar
são as emissões de gases do efeito estufa na atmosfera,
principalmente o gás carbônico (CO2), como também o monóxido de
carbono (CO), óxido nitroso (N 2O), metano (CH4) e a formação do ozônio
(O3), além da poluição do ar atmosférico pela fumaça e fuligem. (...)
As queimadas no Estado de São Paulo ocorrem principalmente durante a
estação seca de abril a novembro, coincidindo com o período de baixas
precipitações e piores condições de dispersão da fumaça e de partículas
da fuligem, o que agrava seus efeitos sobre a qualidade do ar,
provocando transtornos pela sujeira nas residências domésticas e
causando doenças dermatológicas, cardiovasculares e respiratórias
na população devido à poluição atmosférica 9.

Deste modo, o Município quando institui a implementação de lei para proibir a


queima da palha de cana-de-açúcar e queimadas em geral, visa resguardar e
recuperar a qualidade de vida e saúde da população, e não somente isso, objetiva
também preservar a degradação do meio ambiente e a intensificação do
aquecimento global.
Os impactos da atividade sucroalcooleira no meio ambiente devem ser
considerados em relação à produção agrícola e à produção industrial.
Esses impactos incluem a poluição do ar (localmente) com a queimada
da cana e com o uso do etanol combustível; as emissões de gases de
efeito estufa, em todo o ciclo de vida da cana-de-açúcar; os impactos do
uso de novas áreas para plantio, inclusive na biodiversidade; os

7
CARDOSO, A. A.; MACHADO, C. M. D.; PEREIRA, E. In: RONQUIM, Carlos Cesar. Queimada na
colheita de cana-de-açúcar: impactos ambientais, sociais e econômicos – Campinas: Embrapa
Monitoramento por Satélite, 2010.
8
Ibidem.
9
ANTUNES, João Francisco Gonçalves; AZANIA Carlos Alberto Mathias; AZANIA Andréa A. Pádua
Mathias. Impactos ambientais das queimas de cana-de-açúcar. Revista Cultivar. Disponível em
<https://www.grupocultivar.com.br/artigos/impactos-ambientais-das-queimadas-de-cana-de-acucar>
Acesso em 9 de novembro de 2020.
8
impactos na conservação do solo e a sua erosão; no uso de recursos
hídricos e na qualidade da água; e no uso de defensivos e fertilizantes.
[RELATÓRIO UNICA, 2005] 10.

Assim, a Constituição prevê em seu artigo 30 que o Município é “competente


para legislar em assuntos de interesse local”, diante o fato, quando este se depara
com problemas ambientais como a diminuição da qualidade do ar e poluição do rio
causado pelas queimadas em sua região, intervém para minimizar os danos
causados por essa prática, portanto, é totalmente constitucional a criação da Lei.

Ainda, é importante pontuar um estudo realizado na cidade de Araraquara


comprovando os efeitos negativos das queimadas de cana-de-açúcar:

Em um estudo sobre os efeitos das queimadas de cana-de-açúcar e a


emissão de elemento particulado negro (fuligem da cana) na cidade de
Piracicaba, os resultados indicaram que a queima de biomassa e a
suspensão do material erodido do solo foram responsáveis por 80% do
material particulado fino PM 2,5 quantificado. O risco relativo de
internações hospitalares por doenças respiratórias em crianças e
adolescentes foi significativamente influenciado pela variação da
concentração de vários poluentes na atmosfera. A um aumento de 10
µg/m3 no PM2,5 foi associado a um aumento de 21,4% nas internações por
doenças respiratórias em crianças e adolescentes 11.

Insta mencionar, o princípio da precaução, este prevê que devem ser


tomadas medidas de máxima proteção ambiental a fim de evitar danos futuros.
Nesse sentido, não se exige a comprovação de prova científica absoluta da
ocorrência de dano ao meio ambiente.
Portanto, quanto à alegação feita por parte do Sindicado referente à
inexistência de comprovação científica de que as queimadas colaboram com a
poluição e mudanças climáticas, o STJ tem entendido a favor da aplicação do
princípio da precaução:
"Em se tratando de meio ambiente, vigora o princípio da prevenção, segundo o
qual, ainda que não exista certeza científica sobre os danos ambientais
que a queima provoca ao ecossistema, apenas a possibilidade de que
esses danos venham a ocorrer já justifica a preocupação com a
preservação ambiental e sua respectiva proteção” (RESP nº 1.179.156-PR,
Relator Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/04/2011), pois, “Na

10
Bessa, Sofia Araújo Lima. Utilização da cinza do bagaço da cana-de-açúcar como agregado miúdo
em concretos para artefatos de infraestrutura urbana / Sofia Araújo Lima Bessa. São Carlos :
UFSCar, 2012. Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/79966912/monografia-cinzas-
da-cana-de-acucar?q=queimadas%20de%20cana-de-a%C3%A7%C3%BAcar&tipo=1> Acesso em 10
de setembro de 2020.
11
Bessa, Sofia Araújo Lima. Utilização da cinza do bagaço da cana-de-açúcar como agregado miúdo
em concretos para artefatos de infraestrutura urbana / Sofia Araújo Lima Bessa. São Carlos :
UFSCar, 2012. Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/79966912/monografia-cinzas-
da-cana-de-acucar?q=queimadas%20de%20cana-de-a%C3%A7%C3%BAcar&tipo=1> Acesso em 10
de setembro de 2020.
9
dúvida, prevalece a defesa do meio ambiente" (RESP nº 1.285.463-SP,
Relator Min. Humberto Martins, julgado em 28/02/2012).

Vale pontuar ainda, o artigo 1º da Lei nº 11.105/2005 (Lei de Biossegurança)


e o artigo 54, parágrafo 3º da Lei nº 9.505/1998 (Lei de Crimes Ambientais) que
dispõem sobre a necessidade de observar o princípio da precaução para que haja a
proteção do meio ambiente:
Art. 1º Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de
fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o
transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento,
a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e
o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus
derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de
biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal
e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção
do meio ambiente.
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar
de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de
precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

Ainda, impende mencionar que o artigo 7º da Lei nº 11.241/2002 dispõe que


deve ocorrer à suspensão da queima quando:
I - constatados e comprovados risco de vida humana, danos ambientais ou
condições meteorológicas desfavoráveis;
II - a qualidade do ar atingir comprovadamente índices prejudiciais à saúde
humana, constatados segundo o fixado no ordenamento legal vigente;
III - os níveis de fumaça originados da queima, comprovadamente,
comprometam ou coloquem em risco as operações aeronáuticas,
rodoviárias e de outros meios de transporte.

Diante todo o exposto, e com base nos argumentos e dados apresentados e


é notório que as queimadas dos canaviais causam danos ambientais, de maneira
que, a implementação da Lei Municipal que proíbe tais praticas é totalmente
constitucional.

10

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