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Bioética em tempos de pandemia: Testes clínicos com Cloroquina para


tratamento de COVID-19

Preprint · May 2020


DOI: 10.13140/RG.2.2.31243.52006

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4 authors:

Marco Antonio Azevedo Darlei Dall’Agnol


Universidade do Vale do Rio dos Sinos Federal University of Santa Catarina
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Marcelo De Araujo Alcino Eduardo Bonella


Federal University of Rio de Janeiro Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

Bioética em tempos de pandemia:


Testes clínicos com Cloroquina para
tratamento de COVID-19
Dr. Alcino Eduardo Bonella (a)
Dr. Marcelo de Araujo (b)
Dr. Darlei Dall’Agnol (c)
Dr. Marco Antonio Azevedo (d)

(a) Doutor em Filosofia pela UNICAMP. Professor do Instituto de Filosofia (IFILO) da Universi-
dade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador do CNPq.
E-mail: abonella@ufu.br
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2585330510002189

(b) Doutor em Filosofia pela Universidade de Konstanz, Alemanha. Professor Associado de


Ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Departamento de Filosofia), e professor As-
sociado IV de Filosofia do Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Faculdade de Di-
reito) e pesquisador do CNPq.
E-mail: marcel@pobox.com
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2379951820482310

(c) Doutor em Filosofia pela Universidade de Bristol, Reino Unido. Professor Titular da Universi-
dade Federal de Santa Catarina e pesquisador do CNPq.
E-mail: ddarlei@yahoo.com
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1009956459333986

(d) Doutor em Filosofia pela UFRGS. Professor Adjunto da UNISINOS, Médico do HPS-POA.
E-mail: mazevedogtalk@gmail.com
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/5012646823374838

Este artigo é resultado do trabalho conjunto dos pesquisadores do “Grupo de Trabalho em


Bioética Dilemas COVID-19”. Ele foi aceito para publicação no vol. 65, n. 2, ano 2020, da Revista
Veritas (PUC-Porto Alegre). Outros trabalhos publicados pelo “Grupo de Trabalho em Bioética
Dilemas COVID-19” incluem:

• Azevedo, Marco; Dall’Agnol, Darlei; Bonella, Alcino; Araujo, Marcelo de. 2020. “Precisamos
com urgência de um amplo debate sobre a criação de diretrizes éticas para a alocação de
tratamento em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) durante a pandemia de COVID-
19”. Jornal Estadão (Estado da Arte). 17 de abril de 2020. (Publicação n. 1)

• Azevedo, Marco; Dall’Agnol, Darlei; Bonella, Alcino; Araujo, Marcelo de. 2020. “Proposta
para decidir acesso de pacientes a UTI durante a pandemia”. Folha de São Paulo
(Ilustríssima). 11 de maio de 2020. DOI: 10.13140/RG.2.2.36535.55202 (Publicação n. 2)
Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

RESUMO

Bioética em tempos de pandemia:


Testes clínicos com Cloroquina para tratamento de COVID-19
Defendemos a necessidade de que se atue com rigor ético durante a pandemia do novo coro-
navírus e que não se afrouxem os padrões científicos e normativos nas pesquisas sobre possíveis
medicamentos, em especial a Cloroquina, para a COVID-19. Argumentamos que, excepcional-
mente, seria justificado pular algumas etapas na realização de testes clínicos ou tratamentos
experimentais, mas que é inadequado fazer um uso indiscriminado de medicamentos off label
para tratar pacientes enquanto os resultados das pesquisas não forem publicados em veículos
de comprovada reputação científica. Para sustentar essa posição, aplicamos princípios bioéticos
e da ética médica. Defendemos que políticas públicas para o uso de Cloroquina durante a pan-
demia não devem ser implementadas até que sejam divulgados os resultados das pesquisas re-
alizadas pela “Coalizão COVID Brasil” e pela Solidarity da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Palavras-chave. Bioética, COVID-19, pandemia, ética em pesquisa, novos medicamentos, políti-
cas públicas na área da saúde

ABSTRACT

Bioethics in times of pandemic:


Clinical trials with Chloroquine for the treatment of COVID-19Abstract
We defend the need to act with ethical rigor during the pandemic of the novel coronavirus and
not to loosen scientific and normative standards in research on possible drugs, especially chlo-
roquine, for COVID-19. We argue that, exceptionally, it would be justified to skip some steps in
conducting clinical trials or experimental treatments, but that it is inappropriate to make indis-
criminate use of off-label drugs to treat patients until the results of the research are published
in vehicles of proven scientific reputation. To support this position, we apply bioethical princi-
ples and medical ethics. We argue that public policies for the use of Chloroquine during the
pandemic should not be implemented until the results of the research carried out by the "COVID
Brasil Coalition" and by WHO (World Health Organization) Solidarity are released.
Keywords. Bioethics, COVID-19, pandemic, research ethics, new drugs, public health policies

RESUMEN

Bioética en tiempos de pandemia:


Ensayos clínicos con cloroquina para el tratamiento de COVID-19
Defendemos la necesidad de actuar con rigor ético durante la pandemia del nuevo coronavirus
y no de flexibilizar las normas científicas y normativas en la investigación sobre posibles fárma-
cos, especialmente la cloroquina, para COVID-19. Argumentamos que, excepcionalmente, esta-
ría justificado omitir algunos pasos en la realización de ensayos clínicos o tratamientos experi-
mentales, pero que no es apropiado hacer un uso indiscriminado de medicamentos off label
para tratar a los pacientes hasta que los resultados de la investigación se publiquen en vehículos
de probada reputación científica. Para mantener esta posición, aplicamos principios bioéticos y
ética médica. Argumentamos que las políticas públicas para el uso de cloroquina durante la pan-
demia no deben aplicarse hasta que se publiquen los resultados de la investigación realizada por
la "Coalición COVID Brasil" y la OMS Solidaridad (Organización Mundial de la Salud).
Palabras clave: Bioética, COVID-19, pandemia, ética de la investigación, nuevos medicamentos,
políticas públicas en el área de la salud

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

Introdução outro interesse. Em todos os casos, precisa-


Para que a pandemia de COVID-19 (doença mos confiar nos profissionais de saúde e nos
causada por vírus da espécie SARS-Cov-2, cientistas para que menos injustiças sejam
gênero betacoronavírus, da família corona- cometidas e mais vidas sejam salvas.
vírus) não assuma proporções catastróficas
no Brasil, devemos atentar para a eticidade 1. Testes clínicos e uso off label de medica-
das ações dos diversos atores envolvidos na mentos
geração de políticas públicas, incluindo as
ações de médicos e pesquisadores respon- O uso de medicamentos em caráter experi-
sáveis pelas pesquisas científicas com seres mental para tratar a COVID-19 começou a
humanos acometidos pela COVID-19. ser feito no Brasil sem a devida aprovação
dos órgãos governamentais competentes e,
Um domínio no qual a Bioética pode nos mais tarde, com testes clínicos com previ-
guiar diz respeito à reflexão crítica no de- são de pular etapas. Nesta primeira seção,
senvolvimento dos mecanismos necessários reconstruiremos o debate atual, tanto cien-
para combater a COVID-19, tais como, por tífico quanto ético, em torno do uso da Hi-
exemplo, produtos diagnósticos, reposioci- droxicloroquina (doravante HCLQ), menos
onamento de drogas (drug repositioning em tóxica que a CLQ, combinado ou não à Azi-
inglês), e criação de vacinas específicas. tromicina, para tratamento da COVID-19.
Dada a urgência da situação, seria tentador,
durante a pandemia, usar indiscriminada- Para entender a relevância do tema, basta
mente remédios off label, em caráter “expe- lembrar que as cinco primeiras mortes pela
rimental”, sem a devida testagem clínica COVID-19 no Brasil ocorreram no município
para comprovar a sua eficácia e segurança. de São Paulo, em pacientes internados no
E de fato é isso que vem ocorrendo no Brasil Hospital Sancta Maggiori, da rede Prevent
no que concerne ao uso da Cloroquina (do- Senior, que estaria sendo inclusive investi-
ravante CLQ) para o tratamento da COVID- gado pela Prefeitura por não ter informado
19. Mas como pretendemos mostrar no pre- às autoridades competentes sobre a admis-
sente artigo, devemos resistir a essa tenta- são de pessoas contaminadas pelo novo co-
ção e observarmos alguns princípios funda- ronavírus.1 Em 22 de março de 2020, foi di-
mentais da Bioética. vulgado que a mãe dos sócios-fundadores
da Prevent Senior, uma senhora de 75 anos,
Nossa hipótese é a de que, excepcional- teria sido a primeira a ser tratada com CLQ
mente, durante uma pandemia, seria etica- e Azitromicina.2 Trata-se de um uso off label
mente aceitável pular algumas das fases que ainda não fora autorizado, pois tais me-
previstas nos protocolos internacionais para dicamentos foram desenvolvidos e testados
testes clínicos de novos medicamentos. Isso originalmente para outras doenças tais
significa dizer que, para o benefício da pes- como, por exemplo, malária e lúpus. Na-
quisa, alguns pacientes poderiam participar quele momento, não foi informado se ou-
voluntariamente, e com o devido consenti- tros pacientes com COVID-19 também esta-
mento esclarecido, de pesquisas experi- vam sendo tratados com o mesmo medica-
mentais que seguirão um protocolo dife- mento. Foi apenas um dia depois que a Pre-
rente das pesquisas são geralmente feitas vent Senior anunciou publicamente que to-
fora do período de pandemia. No entanto, o dos os seus pacientes que testaram positivo
tratamento de pacientes que não fazem para o COVID-19 estavam sendo tratados
parte dessas pesquisas experimentais não com CLQ.3 No entanto, não havia autoriza-
pode ser feito antes da publicação dos re- ção governamental para isso, e também não
sultados das pesquisas. existiam evidências científicas suficientes
Quaisquer que sejam as decisões tomadas, acerca da segurança e eficácia do desse tipo
precisamos discuti-las publicamente, com de tratamento.
transparência e boa-fé, colocando o bem- Naquele momento, a CLQ se popularizou a
estar dos pacientes acima de qualquer partir de declarações, nas diversas mídias

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

sociais, dos presidentes americano Donald HCLQ e azitromicina, mas ele também rece-
Trump e brasileiro Jair Bolsonaro. Muitas beu várias críticas. Além da pequena amos-
pessoas correram às farmácias e esgotaram tragem, uma das críticas levantou dúvidas
os estoques, deixando pessoas que sofrem quanto a metodologia empregada. Afinal,
de malária e lúpus em situação ainda mais tratava-se de um ensaio clínico aberto, não
vulnerável e com medo de que faltasse o randomizado, um tipo de estudo sujeito a
medicamento originalmente produzido vieses de confusão. Além disso, parte do
para tratá-las. Novamente, poucas evidên- grupo controle foi composto por pacientes
cias existiam e a promessa de cura era pre- que se recusaram a receber o tratamento.
cipitada. Esse é exatamente o comporta- Estudos desse tipo levantam muitas dúvi-
mento irresponsável que precisamos evitar das: como assegurar-se de que o resultado
em tempos de pandemia. Além disso, tais positivo alegadamente observado, de uma
substâncias não têm efeito preventivo e po- ação sinérgica entre a azitromicina e a HCLQ
dem, como já se sabe, até mesmo intoxicar na COVID-19 não foi fruto do acaso? A falta
algumas pessoas.4 Ao invés de curá-las, es- de randomização na seleção dos grupos de
sas drogas podem causar, entre outros, pro- tratamento e controle é certamente uma fa-
blemas cardiovasculares e levá-las a óbito lha metodológica que lança muitas dúvidas
como, já ocorreu vários países.5 sobre as conclusões apresentadas no es-
No mesmo dia em que o presidente brasi- tudo. Reconhecer esses limites metodológi-
leiro defendia o uso da CLQ em rede nacio- cos é fundamental para que não generalize-
nal de televisão (08/04/20), a revista cientí- mos apressadamente os resultados do es-
fica The British Medical Journal apontava tudo, por mais promissores que pareçam.
para os seus efeitos adversos e alertava que A pesquisa pode, então, ser criticamente
seu uso generalizado como tratamento para questionada e precisa ser contrastada com
a COVID-19 era prematuro: “O uso ampli- outras investigações científicas e testes clí-
ado da Hidroxicloroquina expõe alguns pa- nicos similares. De fato, um trabalho publi-
cientes a danos, potencialmente fatais, in- cado no Journal of ZheJiang University, rela-
cluindo reações adversas cutâneas graves, tando pesquisa liderada por Jun Chen, já
insuficiência hepática fulminante e arrit- apresentava a conclusão de que não haveria
mias ventriculares (principalmente quando diferença significativa entre o grupo tratado
prescritas com Azitromicina).” (ênfase com HCLQ e Azitromicina e o não tratado.8
acrescentada).6 Se esse é o caso, então nada Os pesquisadores sugerem nas conclusões,
mais razoável, tanto científica quanto etica- de forma cautelosa, que novas pesquisas se-
mente, do que usar princípios bioéticos, da jam realizadas. O hospital francês Pitié-Sal-
ética médica e até mesmo o princípio de pêtrière também testou a HCLQ e concluiu
precaução para evitar danos maiores. Esse que ela não se mostrara eficaz no trata-
ponto será desenvolvido mais adiante. Seja mento da COVID-19.9 Um estudo similar,
como for, não nos parece moralmente ade- feito pela Fiocruz e pela Fundação de Medi-
quado tratar pessoas sem o embasamento cina Tropical, no Brasil, sugere que a letali-
de pesquisas científicas, desenvolvidas de dade de pacientes com COVID-19 tratados
modo eticamente aceitável, ou usar medi- com CLQ é praticamente a mesma dos não
camentos off label em caráter experimental tratados.10 Novamente, antes de recomen-
sem o devido acompanhamento médico. dar o uso da CLQ em políticas públicas para
Não é claro qual seria o embasamento para o combate à pandemia, líderes políticos de-
a escolha do tratamento com CLQ na pan- veriam ter aguardado a realização de mais
demia de COVID-19. De fato, algumas pes- testes clínicos. Naquele momento, as evi-
quisas estavam sendo feitas, mas elas não dências científicas de benefício eram fracas
eram conclusivas. Um estudo mencionado e, portanto, insuficientes para indicações
foi o liderado pelo pesquisador Philippe médicas inequívocas de uso da HCLQ para
Gautret.7 Esse estudo, ainda que limitado, tratamento da COVID-19.
parecia animador para a combinação de Não demorou muito, então, para que a

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

comunidade científica internacional propu- serão incluídos 284 pacientes.”11


sesse a realização de mais pesquisas clínicas Essa atitude é claramente mais adequada,
a fim de avaliar a eficácia da CLQ no trata- tanto cientificamente quanto eticamente,
mento da COVID-19. Pouco tempo depois, pois são necessárias pesquisas mais amplas
então, alguns hospitais brasileiros de credi- para se estabelecer a eficácia e a segurança
bilidade anunciaram a formação de uma co- desses medicamentos, quando usados para
alização para iniciar testes com medicamen- o tratamento de COVID-19. Enquanto não
tos que poderiam aliviar os sintomas e aju- aparecerem mais evidências em favor do
dar na recuperação da COVID-19. A descri- uso desses medicamentos durante a pande-
ção da pesquisa foi feita nestes termos por mia de COVID-19, as indicações podem ser
um dos participantes dessa coalizão: apenas opcionais, ou seja, os benefícios não
Uma parceria entre o Hospital Israelita Al- são comprovados e a avaliação clínica deve
bert Einstein, HCor, Hospital Sírio Libanês, ser feita caso a caso pelo profissional da sa-
Hospital Moinhos de Vento, Hospital Ale- úde. Todavia, como os resultados somente
mão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Por- sairão em 60 ou 90 dias nada pode ser con-
tuguesa de São Paulo e Rede Brasileira de cluído sobre uso em larga escala no pre-
Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet),
sente momento (30/04/20). Seja como for,
junto com o Ministério da Saúde, inicia pes-
quisas para avaliar a eficácia e segurança de
a aprovação pela CONEP (Comissão Nacio-
medicamentos para pacientes com infecção nal de Ética em Pesquisa), em 20/03/2020,
pelo novo coronavírus (COVID-19). Com o e pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilân-
apoio na pesquisa da farmacêutica EMS for- cia Sanitária), em 27/03/2020, foi feita em
necendo os medicamentos Hidroxicloro- regime de urgência. Seria prudente, por
quina e Azitromicina. Participarão do estudo conseguinte, esperar o resultado das pes-
entre 40 e 60 hospitais. quisas da Coalizão COVID Brasil e, principal-
“A iniciativa foi nomeada de Coalizão COVID mente, da OMS (Organização Mundial de
Brasil, e contará com 40 a 60 hospitais do Saúde) para não extrapolar indevidamente
País para realizar três pesquisas. Coalizão I, os usos da CLQ ou da HCLQ.
a primeira pesquisa, envolverá pacientes de
menor gravidade internados por COVID-19.
No entanto, já em 25/03/2020, o Ministério
Nestes pacientes será avaliado se a Hidroxi- da Saúde recomendou o uso off label da
cloroquina é eficaz em melhorar o quadro HCLQ para tratamento dos casos mais gra-
respiratório. Também será avaliado se adici- ves e críticos da COVID-19. Em um comuni-
onar o medicamento Azitromicina, que cado técnico (Nota 5), o Ministério da Saúde
pode potencializar a ação da Hidroxicloro- indicou também o protocolo e posologia
quina, terá efeito benéfico adicional. Serão que deveriam ser observados no trata-
incluídos nesta primeira fase 630 pacientes. mento.12 A dosagem autorizada é de 3 com-
A Coalizão II, segunda pesquisa, envolverá primidos de 150g/dia, ou seja, no máximo,
casos mais graves, que necessitam de maior 450g. A diretriz afirmava que era uma tera-
suporte respiratório. Nesta, todos os paci- pia adjuvante, e não falava de cura para a
entes receberão o medicamento Hidroxiclo- COVID-19. Entretanto, como veremos mais
roquina, com o objetivo de verificar se a Azi- adiante, o seu uso passou a ser feito nas fa-
tromicina tem efeito benéfico adicional,
ses iniciais da doença justificado, muitas ve-
com potencial de melhorar os problemas
respiratórios causados pelo novo coronaví-
zes, com explicações duvidosas como, por
rus. Os centros participantes são os mesmos exemplo, a de que a HCLQ reduziria o tempo
e serão incluídos em torno de 440 pacien- de internação, a mortalidade etc. Tais usos
tes. não possuíam embasamento nem científico
O terceiro estudo, Coalizão III, avaliará a efe-
nem bioético e deveriam, portanto, ser re-
tividade da dexametasona, uma medicação pudiadas. Dito de outro modo, não se se-
com ação anti-inflamatória, para pacientes guiu a recomendação das autoridades naci-
com insuficiência respiratória grave, que ne- onais responsáveis nem se esperou pela di-
cessitam de suporte de aparelhos (ventila- vulgação dos resultados dos testes clínicos.
dor mecânico) para respirar. Nesta pesquisa Os poucos “estudos” empíricos, baseados

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

apenas em narrativas e relatos pessoais de tratamento de baixo custo, de fácil acesso e


poucos casos, não observavam o padrão de também facilmente administrada;
testes clínicos rigorosos. Tais atitudes afron- 2.5. Considerando a capacidade nacional de
tam os princípios que guiam os padrões atu- produção de CLQ pelos laboratórios públi-
ais da boa medicina baseada em evidências cos brasileiros em larga escala e da capaci-
(MBE) e desrespeitam os princípios bioéti- dade de abastecimento desse medicamento
cos. a nível estadual e municipal (...)”
O Ministério da Saúde recomenda o uso
apenas para pacientes graves. Mas as ra-
2. Razões bioéticas para testagem em re- zões elencadas pelo Ministério da Saúde en-
gime de urgência volvem apenas questões de conveniência. O
Nesta seção, discutiremos a permissibili- documento não faz nenhuma referência às
dade ou não de se pular etapas nos ensaios razões bioéticas que tornariam aceitável o
clínicos para novos medicamentos ou do uso off label da CLQ e HCLQ em caráter ex-
uso off label de remédios produzidos para cepcional.
outras enfermidades. Em condições nor- O que causa mais espanto, porém, é o uso
mais, como veremos, para a produção de de referências a pesquisas que desaconse-
medicamentos novos, há um processo de lham explicitamente o uso terapêutico em
testagem clínica que vai de um pequeno nú- larga escala. Por exemplo, o trabalho de Ri-
mero de pessoas sadias para avaliar os ris- era (2020), citado na nota técnica, tem
cos, passando por uma amostragem de pes- como conclusão: “Com base nos achados
soas contaminadas para avaliar a eficácia, nesta revisão sistemática rápida, a eficácia e
até o uso controlado em larga escala. Seria a segurança da HCLQ e da CLQ em pacientes
correto pular alguma dessas etapas durante com COVID-19 é INCERTA e seu uso de ro-
uma pandemia? Ou seria moralmente justi- tina para esta situação NÃO pode recomen-
ficado usar medicamentos conhecidos para dado (sic) até que os resultados dos estudos
o tratamento de doenças desconhecidas? em andamento possam avaliar seus efeitos
Apesar das dúvidas e das divergências de re- de modo apropriado” (ênfase no original).14
sultados nas pesquisas, o Ministério da Sa- Esse foi o documento ao qual o Ministério
úde liberou, para todos os estados brasilei- da Saúde teve acesso ao elaborar a Nota 5
ros, o uso da HCLQ para pacientes em es- mencionada acima. Agora, em versões mais
tado grave da COVID-19. Na nota técnica atualizadas do referido estudo, a partir do
distribuída pelo governo13 aparecem as se- dia 27/03, a conclusão do estudo de Riera
guintes razões: foi ligeiramente modificada, passando a
“2.1. Considerando a pandemia ocasionada apresentar razões mais claras para restrin-
pelo novo coronavírus humano (COVID- gir o uso. Eis as principais modificações:
2019) declarada pela OMS e a situação epi- “Com base nos achados destes dois estu-
demiológica brasileira (WHO, 2020a); dos, a eficácia e a segurança da HCLQ e da
2.2. Considerando a inexistência de terapias CLQ em pacientes com COVID-19 ainda é in-
farmacológicas e imunobiológicos específi- certa e seu uso de rotina para esta situação
cos para COVID-19 e a taxa de letalidade da não deveria ser recomendado até que os re-
doença em indivíduos de idade avançada sultados dos estudos em andamento pos-
em razão da insuficiência de alternativas te- sam avaliar seus efeitos (benefícios e riscos)
rapêuticas para essa população em especí- de modo apropriado” (ênfase acrescen-
fico (BRASIL, 2020a); tada).15 Finalmente, princípios bioéticos fo-
2.3. Considerando as publicações recentes ram usados de forma mais explícita para dis-
com dados preliminares sobre o uso da CLQ cutir a permissibilidade ou não do uso off la-
e HCLQ em pacientes com COVID-19 bel. Concordamos com a conclusão e a de-
(Chatre, 2020, Touret, 2020; Gautret, 2020; fenderemos a seguir.
Riera, 2020);
A questão bioética fundamental que preci-
2.4. Considerando que o uso de CLQ é um
samos formular agora é a seguinte: em

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

tempos de pandemia, estamos moralmente participar do teste na qualidade de voluntá-


justificados a pular etapas de pesquisa, ou rios. Essas pesquisas procuram estabelecer
usar off label medicamentos conhecidos, a segurança do novo fármaco ou vacina. Em
testados e aprovados para outras doenças? geral, essa fase dura três anos. A fase II en-
Antes de respondê-la, cabe lembrar que volve um estudo terapêutico piloto que visa
uma pesquisa com seres humanos, que pro- demonstrar principalmente a eficácia do
cura determinar se remédios ou vacinas po- medicamento, isto é, se ele serve para tra-
dem ser efetivamente usados em larga es- tar a doença. Nessa fase, o número de pes-
cala, precisa estar embasada em sólidos soas que participa do teste também é pe-
princípios bioéticos. No Brasil, a Resolução queno, mas as pessoas, diferentemente do
466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, que ocorre na fase I, sofrem da condição pa-
estabelece quatro princípios que devem ser tológica para a qual se busca um tratamento
aplicados para garantir a eticidade da pes- ou vacina. Na fase II se procura, por exem-
quisa científica envolvendo seres humanos: plo, estabelecer a relação entre dose-res-
a) respeito ao participante da pesquisa em posta com o objetivo de permitir estudos
sua dignidade e autonomia, reconhecendo terapêuticos mais amplos incluindo de se-
sua vulnerabilidade, assegurando sua von- gurança (toxicidade). Esse período dura
tade de contribuir e permanecer, ou não, na também aproximadamente três anos. É so-
pesquisa, por intermédio de manifestação mente na fase III, então, que estudos são re-
expressa, livre e esclarecida; b) ponderação alizados em grandes e variados grupos de
entre riscos e benefícios, tanto conhecidos pacientes para determinar, basicamente,
como potenciais, individuais ou coletivos, duas variáveis: a relação entre risco/benefí-
comprometendo-se com o máximo de be- cio a curto e longo prazos e o valor terapêu-
nefícios e o mínimo de danos e riscos; c) ga- tico relativo comparado com outras drogas.
rantia de que danos previsíveis serão evita- É na terceira fase que se exploram também
dos; e d) relevância social da pesquisa, o características especiais do novo medica-
que garante a igual consideração dos inte- mento ou vacina, por exemplo, relativa-
resses envolvidos, não perdendo o sentido mente a certas faixas etárias. A duração
de sua destinação sócio-humanitária.16 Es- dessa fase é mais longa e pode chegar a
ses princípios são usados nas decisões da aproximadamente quatro anos. É somente
CONEP e são prima facie válidos. Eles garan- após o cumprimento dessas fases que se
tem a eticidade da pesquisa científica que pode solicitar o registro para a agência res-
embasa a produção de novos medicamen- ponsável pelo licenciamento de medica-
tos ou usos off label e, eventualmente, de mentos. Nos Estados Unidos, essa agência é
uma vacina para o COVID-19. FDA (Food and Drug Administration); no
Para responder à pergunta bioética formu- Brasil, cabe à ANVISA licenciar novos medi-
lada acima, é preciso lembrar também que camentos. Finalmente, numa quarta (IV) e
há orientações legais claras sobre as diver- última fase, serão feitas pesquisas depois de
sas fases da pesquisa clínica. No Brasil, a le- comercializado o produto para descobrir
gislação exige que novos fármacos, medica- novas reações adversas, novas indicações,
mentos, vacinas ou testes diagnósticos se- novos métodos de administração etc.
jam testados em quatro fases.17 Existe uma Em condições normais, testes têm início in
fase pré-clínica onde experimentos são fei- vitro, em culturas de células nos laborató-
tos in vitro (em testes laboratoriais) e, pos- rios e, posteriormente, in vivo, ou seja, em
teriormente, in vivo (em animais não-huma- animais não-humanos. Essas etapas pré-clí-
nos). Na fase clínica, a pesquisa deve ser nicas foram dispensadas para a COVID-19,
controlada, randomizada e cega. Na fase I embora existam algumas evidências labora-
da pesquisa clínica, os testes são feitos em toriais do efeito da CLQ no coronavírus que
seres humanos, mas em um número pe- recomendam, entretanto, confirmação por
queno de pessoas que concordam em estudos clínicos.
18
Além disso, algumas pesquisas com animais não-humanos também já existiam,

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

mas foram feitas para o surto da SARS-Cov que seria aceitável o uso desses medica-
igualmente causada por um tipo de corona- mentos para a nova doença.
vírus. A passagem de estudos laboratoriais De fato, os efeitos, inclusive colaterais, da
em animais não-humanos para testes clíni- HCLQ já são bastante conhecidos. Esses
cos é sempre um processo complexo. Por efeitos, para a maioria dos pacientes, são
isso, as evidências pré-clínicas podem ser in- controláveis e não são fatais. Por exemplo,
suficientes. Muitas vezes, os resultados das ela pode causar alterações cardiovascula-
pesquisas in vitro não se confirmam nos tes- res, mas, para pacientes hospitalizados,
tes clínicos. Além disso, já era sabida a limi- principalmente em UTIs, esses efeitos ad-
tação do efeito da CLQ em outras doenças versos podem ser monitorados e até
análogas, por exemplo, para a influenza.19 mesmo revertidos. Como veremos na pró-
Dito de outro modo, a extrapolação do seu xima seção, entretanto, alguns defendem
uso para a COVID-19 parece exigir novos até mesmo o uso da HCLQ fora dessas con-
testes clínicos rigorosos. Conhecendo já os dições e com acompanhamento via teleme-
efeitos colaterais do medicamento em pes- dicina.
soas sadias, ainda precisamos avaliar a se-
gurança do uso da HCLQ em pessoas com Na presença de estudos observacionais ape-
COVID-19. Afinal, o I.T. (Índice de Toxici- nas, não randomizados, sem grupo de con-
dade) de um medicamento pode variar de trole, não há, entretanto, como garantir que
uma doença para a outra. Portanto, novos a HCLQ seja o melhor o tratamento; muito
estudos clínicos (das fases II, III e IV) são ne- menos, que ela traga mais benefícios que
cessários para saber se o medicamento é re- malefícios para pacientes em estado não
almente eficaz, seguro e se não traz efeitos crítico. O próprio Ministério da Saúde e a
tóxicos indesejáveis em pessoas acometidas ANVISA, recentemente (07/04/20), reafir-
pela COVID-19. maram não ter mudado a diretriz, ou seja,
que somente seja usada HCLQ para pacien-
Conforme vimos, o governo brasileiro deci- tes graves.21 Pensamos que essa atitude é
diu, pulando algumas dessas etapas, reco- moralmente fundamentada. Ela também é
mendar a HCLQ, associada à Azitromicina, justificável sob o ponto de vista científico,
para pacientes acometidos da COVID-19. ou seja, se um remédio funciona, precisa-
Em outros termos, o Ministério da Saúde re- mos entender o mecanismo para, eventual-
comendou o seu uso off label para casos mente, aperfeiçoá-lo e passar a prescrevê-
graves. Ora, em situações de urgência, lo com menos incertezas. As indicações ine-
como a da pandemia atual, o uso para paci- quívocas da HCLQ (ou contraindicações)
entes graves parece razoável se não houver precisam estar apoiadas por evidências for-
alternativas terapêuticas. Em outros ter- tes de danos ou benefícios. Por conse-
mos, um uso limitado, para pacientes em guinte, estudos clínicos mais cuidadosos
estado crítico, com o devido acompanha- ainda precisam ser concluídos.
mento médico, pode ser feito e, segundo
jargão médico conhecido, trata-se apenas
de um uso compassivo. 3. Aguardando o resultado das pesquisas
Outras instituições e profissionais, todavia, A OMS lançou, em 20/03/2020, o projeto
logo ampliaram o seu uso. Como temos “Solidarity”, que tem como objetivo realizar
visto, a Prevent Senior iniciou vários testes testes com as drogas mais promissoras no
antes mesmo da autorização da CONEP.20 tratamento contra da COVID-19. Há quatro
Uma das razões alegadas para isso é que a drogas sendo analisadas: (1) Remdesivir,
HCLQ é um medicamento que já vem sendo utilizada no tratamento do ebola; (2) CLQ,
comercializado há décadas e que seus efei- utilizada, como vimos, para tratar a malária;
tos já seriam conhecidos. Por conseguinte, (3) Ritonavir ou Lopinavir, que faz parte do
em situações análogas, dadas a urgência de coquetel de tratamento do HIV; (iv) Interfe-
uma pandemia e a ausência de medicamen- ron-beta, uma molécula envolvida na regu-
tos específicos, algumas pessoas sugerem lação da inflamação corporal.22 No Brasil, a

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

Fiocruz coordenará a pesquisa que será apli- erupções, quineloides na pele, embranque-
cada para pacientes graves em 18 hospitais cimento dos cabelos, alargamento do com-
de 12 estados, com o apoio do Departa- plexo QRS e anormalidade da onda T; em ca-
mento de Ciência e Tecnologia (DECIT) do sos raros podem ocorrer hemólise e discra-
Ministério da Saúde.23 A própria OMS, por- sias sanguíneas. A HCLQ é menos tóxica,
tanto, também está fazendo testes de vá- mas não deixa de ter efeitos colaterais. Se,
rios medicamentos durante a pandemia. Pa- agora, contrastarmos com os potenciais be-
rece justificado, então, numa situação de nefícios, quase inexistentes contra o novo
calamidade pública, na presença de um coronavírus, então poderemos decidir a
novo vírus, sem tratamento conhecido, sem partir de princípios bioéticos a permissibili-
vacinas e sem que nossos corpos estejam dade de seu uso ou não. Poucos benefícios
preparados com os devidos anticorpos etc. são apontados nos estudos que defendem o
que pesquisas científicas sejam feitas sem uso da CLQ e, conforme vimos na primeira
seguir todas as etapas experimentais nor- seção deste artigo, há sérias dúvidas quanto
mais. Essa atitude é, em tempos de pande- ao estatuto científico das conclusões. Por
mia, uma atitude eticamente justificável. conseguinte, quando os malefícios superam
Mesmo que seja, todavia, adequado pular os benefícios, profissionais da saúde estão
etapas de pesquisa ou fazer uso off label sob a obrigação de suspender tratamentos
restrito e acompanhado por profissio- ou nada fazer (primum non nocere).
nais/pesquisadores competentes, não pa- Por um lado, o uso compassivo da HCLQ
rece moralmente correto indicar o uso in- pode ser feito, pois, no ambiente hospitalar,
discriminado de um medicamento sem que é possível controlar os efeitos e tomar as
haja conhecimento necessário para tal. Pro- medidas necessárias para diminuir os da-
pomos, dessa maneira, prestar mais aten- nos. Por outro lado, deve-se evitar o uso in-
ção aos princípios bioéticos da pesquisa discriminado. Nesse sentido, a recomenda-
com seres humanos nos estudos clínicos em ção restritiva do Ministério da Saúde parece
curso e ao juramento Hipocrático no uso off adequada e segue orientações iniciais do
label nas práticas clínicas ou usar até CFM (Conselho Federal de Medicina), da
mesmo o princípio da precaução para se própria OMS e pode ser interpretada como
evitar danos maiores aos participantes das uma aplicação de princípios sólidos. É teme-
pesquisas e/ou aos pacientes.24 rário ampliar indevidamente o uso de medi-
Quais seriam os danos em questão? Pesqui- camentos experimentais, pois estaremos
sas científicas mostram que a CLQ é bas- prometendo um suposto tratamento a paci-
tante tóxica e tem vários efeitos negativos, entes sem ter evidências científicas suficien-
alguns dos quais já foram mencionados tes dos seus efeitos. Dado que não há ra-
acima. Uma lista mais completa, baseada na zões suficientes, não se deve ministrar
bula do Difosfato de Cloroquina inclui: efei- HCLQ como remédio capaz de curar ou
tos cardiovasculares (hipotensão, vasodila- mesmo tratar todos os sintomas da COVID-
tação, supressão da função miocárdica, ar- 19.
ritmias cardíacas, parada cardíaca) e do sis- Mais importante ainda sob o ponto de vista
tema nervoso (confusão, convulsões e bioético, é que precisamos testar outras
coma); no tratamento oral podem cau- drogas para saber se não temos alternativas
sar cefaleia, irritação do trato gastrointesti- melhores. Por exemplo, os testes clínicos
nal, distúrbios visuais e urticária; doses diá- com Remdesivir ou até mesmo Avigan já es-
rias altas (>250 mg), em doses cumulativas tão bastante adiantados. Um artigo recente
de mais de 1 g/Kg de CLQ base, podem re- publicado na prestigiosa revista Journal of
sultar em retinopatia e ototoxicidade irre- the American Medical Association (JAMA),
versíveis; tratamento prolongado com altas mostra que, até o momento, o Remdesivir
doses também pode causar miopatia tóxica, parece ter as melhores perspectivas tera-
cardiopatia e neuropatia periférica, visão pêuticas.25 Existem, hoje, mais de 200 en-
borrada, diplopia, confusão, convulsões, saios clínicos em andamento registrados no

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

clinicaltrials.gov, incluindo alguns estudos dos Estados Unidos, o estudo foi descrito
brasileiros que usam a CLQ, por exemplo, no (corretamente) por seus autores como um
Hospital Pronto-Socorro Zephelina Aziz, em estudo “exploratório”. Ora, estudos explo-
Manaus, com o seguinte identificador ratórios não têm o objetivo de provar hipó-
NCT04323527.26 A insistência no uso da CLQ teses, mas aventá-las. Com um estudo
ou da HCLQ pode ser desastroso. Por exem- desse tido, nenhuma conclusão é capaz de
plo, experimento amazonense consiste em garantir que é o “tratamento” que está pro-
tratar diferentes grupos de pacientes com movendo a cura da doença nessas fases ini-
diferentes doses de CLQ: para alguns, 600 ciais (do terceiro ao quinto dia dos primei-
mg/dia durante 10 dias. No terceiro dia, es- ros sintomas) e não o próprio organismo do
ses pacientes começaram a apresentar ar- paciente, reagindo e vencendo o vírus com
ritmia e 11 deles foram a óbito, o que levou seus anticorpos. Como é sabido, de um
à suspensão deste ramo da pesquisa.27 Re- ponto de vista científico, correlação não im-
cordando os princípios bioéticos citados plica causalidade.
acima, cabe perguntar: os pacientes sabiam Enfim, e infelizmente, como, aliás, destaca
que estavam correndo altíssimos riscos com o editorial do JAMA, em publicação recente
poucas perspectivas de benefícios? Eles as- (13 de abril de 2020): Nenhuma terapia
sinaram um Termo de Consentimento Livre mostrou-se efetiva até a presente data.
e Esclarecido ou apenas uma simples Dada essa situação atual de inexistência de
“anuência”? Afinal, trata-se de pesquisas estudos completos e também na ausência
com seres humanos que devem ser respei- de medicamentos específicos ou vacinas
tados em sua autonomia. Essas perguntas para a COVID-19, nada pode ser afirmado
também devem ser endereçadas às outras conclusivamente.
instituições que estão fazendo estudos simi-
lares. Aliás, também a Prevent Senior anun- Sem os resultados de estudos clínicos bem
ciou um experimento em larga escala. Pelo delineados, não há como saber qual é o me-
que foi divulgado à imprensa, o estudo já te- lhor remédio off label disponível para com-
ria demonstrado a cura de 300, de um total bater a COVID-19. Alegar, como fazem algu-
de 500 pacientes, em estágio inicial da CO- mas autoridades brasileiras, que a CLQ é
VID-19, com o uso da HCLQ com Azitromi- mais barata e menos prejudicial à economia
cina e será publicado em breve.28 Cabe per- do que priorizar o isolamento social como
guntar se o estudo é randomizado, se foi es- estratégia não é colocar a vida e o bem-es-
tabelecido algum grupo de controle, ou tar das pessoas como prioridade. Pode-se
seja, se segue uma metodologia científica ri- estar repetindo, hoje, o mesmo equívoco
gorosa. O estudo, entretanto, parece con- cometido há alguns anos quando, de forma
tradizer outras pesquisas e atitudes adota- apressada e sem evidências suficientes, foi
das internacionalmente de suspensão de aprovado o uso da fosfoetanolamina sinté-
tais tratamentos.29 A Prevent Senior vai tica (conhecida como “pílula azul”) para tra-
mais longe: valendo-se da recente aprova- tamento de câncer.32 Por conseguinte, sus-
ção da telemedicina, prescreve e entrega na tentamos que o uso off label da HCLQ deve-
casa do paciente não hospitalizado, os me- ria, excepcionalmente em tempos de pan-
dicamentos para uso off label.30 A hipótese demia, ser feito apenas nos termos descri-
é a de que a HCLQ, se administrada preco- tos na nota técnica do Ministério da Saúde,
cemente em pacientes ambulatoriais com evitando-se, assim, seu uso em larga escala.
COVID-19 moderada, impediria a replicação Para finalizar, então, endossamos aqui a
do coronavírus, reduzindo com isso a mor- mensagem da International Society of Drug
bidade da doença (isto é, as complicações Bulletins sobre a busca de medicamentos
que resultam da forma grave da doença, a para a COVID-19: “os ensaios randomizados
qual exige hospitalização).31 Porém, o dese- são a única forma de compilar informação
nho metodológico do estudo é repleto de de qualidade sobre como tratar a COVID-19.
falhas. No site da Livraria Nacional de Medi- Os medicamentos experimentais como Clo-
cina do Instituto Nacional de Saúde (NIH) roquina e Hidroxicloroquina somente devem

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

ser usados no marco de um bom ensaio clí- para uso em larga escala. Se quisermos pro-
nico, com um protocolo rigoroso e aderindo- porcionar um cuidado realmente respeitoso
se de forma estrita ao método de compila- aos pacientes, precisamos seguir os padrões
ção de dados”33 (ênfase acrescentada). Dito éticos das pesquisas científicas e ensaios clí-
de outro modo, enquanto não tivermos os nicos, principalmente, para usos off label de
resultados científicos dos ensaios clínicos, é medicamentos.
melhor seguir os princípios bioéticos. Nesse Diante de uma grave crise, devemos redo-
sentido, o recente Parecer 04/2020 do CFM, brar o rigor ético, e não o relaxar. Em tem-
que “autoriza”, mas não “recomenda”, o pos de pandemia, as pessoas, principal-
uso da HCLQ, também não foi oportuno e mente aquelas acometidas por uma doença
poderia ter esperado o resultado das pes- desconhecida, que naturalmente causa
quisas.34 medo e insegurança, estão vivenciando um
O que vem ocorrendo atualmente, por- estado de maior vulnerabilidade. Sempre
tanto, é um processo rápido de testagem coube à Bioética, preocupada com os aspec-
clínica. Não é admissível que haja uma libe- tos normativos da pesquisa científica, pro-
ração para que todos os pacientes recebam tegê-las. Portanto, em situações de emer-
esse medicamento sem o devido acompa- gência, capazes de produzir grandes calami-
nhamento hospitalar e médico. Nossa pro- dades, a Bioética é mais necessária do que
posta, então, é que sejam observados os es- nunca, pois as decisões que tomamos afe-
tudos e testes relevantes e que somente tam milhares de vidas. Todos nós queremos
após a confirmação clínica proporcionada a cura por medicamentos e, preferencial-
por estudos metodologicamente bem deli- mente, uma vacina para a COVID-10. Mas,
neados, tais como os que estão sendo con- neste momento, tudo o que nós temos a
duzidos pela Coalizão COVID Brasil e pela prescrever sem contraindicações é um bom
Solidarity, seja liberado e recomendado um procedimento preventivo, a saber, a qua-
uso mais amplo de medicamentos como a rentena e o distanciamento social. Esta ati-
HCLQ. tude não apenas ajuda a “achatar a curva” e
aliviar o SUS (Sistema Único de Saúde) como
também dá tempo aos profissionais de sa-
Conclusão úde e pesquisadores para testarem clinica-
Os estudos científicos apontam para a falta mente remédios mais eficazes (mesmo off
de evidências conclusivas do valor terapêu- label) e seguros, aos cientistas para desen-
tico do uso da HCLQ, associada ou não à azi- volverem medicamentos específicos para a
tromicina, para tratar a COVID-19. Vimos, COVID-19 e quiçá, em alguns poucos meses,
no presente trabalho, que estamos justifica- uma vacina.
dos, em casos excepcionais de pandemia e
na ausência de medicamentos conhecidos,
a pular etapas nos ensaios clínicos. Bioetica-
mente falando, todavia, isso somente pode
ser feito na medida que temos algumas in-
dicações claras de que estamos produzindo
algum benefício ao paciente. Concluímos,
então, que a restrição do Ministério da Sa-
úde no uso da HCLQ teve embasamento
ético e científico.
Se essa conclusão acima estiver correta, en-
tão é precipitada a liberação do uso da
HCLQ para todos os casos. É recomendável,
moral e cientificamente, esperar os resulta-
dos das pesquisas que estão sendo feitas
pela Coalizão COVID Brasil e pela Solidarity

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Grupo de Trabalho em Bioética Dilemas COVID-19, 17 abril 2020 (Publicação n. 3)

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