Você está na página 1de 53

Revista de

ATUALIDADES
JUN
2021

Este conteúdo pertence ao Descomplica. Está vedada a cópia ou a reprodução


não autorizada previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.
Sumário

Atualidades Mundo
Grandes eventos esportivos e seus cancelamentos ...................................................................................... 2

Panorama geral: América Latina ..................................................................................................................... 8

O futuro da Europa .......................................................................................................................................... 17

A nova corrida espacial .................................................................................................................................. 25

Atualidades Brasil
Brasil e o risco de uma crise energética ....................................................................................................... 32

Copa América: Brasil e futebol na atualidade ............................................................................................... 43

Lei de improbidade e consequências no Brasil ............................................................................................ 47

Referências...................................................................................................................................................... 52

1
Atualidades Mundo

Grandes eventos esportivos e seus cancelamentos

A primeira grande competição internacional que o Brasil sediaria aconteceu em 1918, uma espécie
de Copa America, que foi suspensa em função da gripe espanhola, só ocorrendo no ano seguinte.
Foi o adiamento da primeira competição internacional de futebol no Brasil. Começamos pontuando
isso para ilustrar que, a 103 anos atrás, ja houve o adiamento de um grande evento, o primeiro que
o Brasil sediaria, em função de condições médico-sanitárias. Atualmente, em 2021, o Brasil se
ofereceu para sediar a Copa América de 2021, evento este que já havia sido cancelada na Colômbia
e na Argentina. A política anti-científica que governa o Brasil hoje é quem propõem esse evento,
com público aberto, contrariando as principais tendências mundiais e recomendações oficiais das
principais organizações internacionais de saúde, e debochando de milhões de pessoas que
perderam entes queridos para o Corona Vírus. No resumo de hoje, vamos ver uma série de grandes
eventos esportivos e seus contextos históricos e políticos, assim como cancelamentos relevantes
ao longo do tempo. Se ainda está difícil enxergar a relação da política com a disseminação do vírus
e a relação política das olimpíadas e eventos esportivos mundiais, não perca esse resumo incrível!

Cartaz do primeiro grande evento esportivo sediado pelo Brasil. Fonte: http://museuvirtualdofutebol.blogspot.com/2014/04/copa-
america-3-brasil-1919.html

Em 1916, 1940 e 1944, houve três olimpíadas canceladas em função das Primeira e Segunda
Guerras Mundiais. As olimpíadas de 1936, 1972, 1980 e 1984 também tiveram intervenções

2
políticas relevantes. Em 1936 a olimpíada foi sediada por Berlim, no período nazista, sendo
apropriada politicamente enquanto uma grande propaganda da suposta supremacia da raça ariana
em relação aos outros competidores. Muitos jogos sofriam intervenção direta para que os nazistas
ganhassem. Apesar desse esforço em tornar a olimpíada em uma peça de propaganda do nazismo,
houve a história relevante do atleta Jesse Owens, um atleta americano negro que ganhou quatro
medalhas de ouro, apesar do esforço nazista para que isso não ocorresse. Hitler não entregou as
medalhas pra ele pessoalmente como fazia com os outros atletlas nessa olimpíada. Há um filme
que conta parte dessa história chamado Olimpia.

Disponível em: https://globoesporte.globo.com/olimpiadas/os-maiorais/noticia/maiorais-as-vitorias-de-jesse-owens-diante-de-


hitler-foram-um-marco-diz-robert-scheidt-sobre-feitos-do-americano-em-1936.ghtml

Em 1972 houve as olimpíadas de Munique, que sediou também um atentado terrorista contra a
delegação de Israel. O movimento Setembro Negro atacou os atletas de Israel na olimpíada de
Munique, matando vários desses atletas. Essa história é retratada pela perspectiva dos judeus no
filme “Munique”.

Os eventos esportivos de 1980 e 1984 foram influenciadas pela Guerra Fria. Moscou e Los Angeles,
sediaram respectivamente as olimpíadas, de modo que a primeira sofreu boicote dos EUA e a
segunda sofreu boicote da União Soviética. Parte simbólica da olimpíada é ver as disputas entre
nações se dando no campo do esporte. Com o boicote, os conflitos entre as duas nações da época
mostram a seriedade da disputa geopolítica, o recrudescimento da Guerra fria que ocorria no
momento.

As copas do mundo também foram instrumentalizadas politicamente ao longo da história. A copa


de 1938 por exemplo foi na Itália fascista de Mussolini, onde a Itália foi a campeã. As copas de 1942
e 1946 não ocorreram em função da 2ª Guerra Mundial, sendo a copa de 1950 no Brasil a primeira
depois do processo de guerra.

No final dos anos 60, nas eliminatórias para a Copa de 70 que ocorreu no México, que inclusive o
Brasil ganhou, houve uma guerra motivada pelo Futebol. "The Futebol War" em 1969 envolveu
Honduras e El Savador, no contexto do jogo da eliminatória para Copa do ano seguinte. Houve uma

3
guerra de fronteira entre os dois países que durou semanas por conta dos conflitos que ocorreram
ao longo das partidas, que nem sequer conseguiram ser realizadas dada o fugor popular sobre os
jogadores naquele período.

As copas e olimpíadas estão, portanto, diretamente atravessadas por questões políticas. Grandes
eventos esportivos estão sempre relacionados com as questões histórico-políticas que ocorrem no
período de seus acontecimentos.

Em 2013 houve no Brasil, no contexto das Jornadas de Junho, o movimento "Não Vai ter Copa". O
movimento se organizou ao longo do mandato de Dilma Roussef, revindicando que hospitais e
escolas tivessem o "padrão FIFA" de qualidade. O movimento não conseguiu impedir a realização
do evento. Em 2016 houve as olimpíadas do Rio de Janeiro, que foram acompanhadas pela OMS
(Organização Mundial de Saúde), em função da epidemia do Zika Vírus. Essas olimpíadas foram
marcadas por modificações urbanas intensas, gerando extrema gentrificação como o que ocorreu
por exemplo na Vila Autódromo. Os interesses dessas modificações urbanas privilegiram o
interesse das empresas e do grande capital, e não interesse popular na função social das cidades.

As olimpíadas de 2020 de Tóquio foram adiadas por sua vez por conta da pandemia do Corona
Vírus. Havia 900 casos de Corona Vírus no Japão e aproximadamente 360 mil casos no mundo
naquele período. O adiamento, portanto, foi previsto pra julho de 2021. Nesse período, hoje, o Japão
tem 35 mil casos confirmados e o mundo 19 milhões de casos confirmados. Só no Brasil, morreram
mais pessoas até hoje do que o número de contaminados em 2020 no mundo, o número que
motivou o adiamento do evento. A pressão para que esse evento não ocorra é grande. O evento abre
margem para que haja proliferação em alto grau de variantes do mundo todo. O Japão, que deve
sediar o evento no dia 23 de julho, tem apenas 5% da população vacinada. Não há certezas de que
essas vacinas protegem de todas as variantes do vírus. O Comitê Olímpico Internacional e o governo
japonês já declararam que não há condições de oferecer testes para todos os envolvidos no evento
todos os dias. São 60 mil indivíduos indo para o japão trabalhar diretamente na Olimpíada. São 11
mil atletas, de 4 a 6 mil técnicos, mais de 6 mil jornalistas do mundo inteiro indo fazer cobertura,
todos declaram em documento que vão comparecer assumindo o risco. Esses 60 mil não incluem
os prestadores de serviço indiretos como os garçons, os voluntários, e o próprio público. Um evento
dessa magnitude abre margem para que pessoas contaminadas levem novas variantes para seus
respectivos países. A olimpíada, no entanto, está prevista, sem protocolos eficazes.

A OMS, diante isso, propõem que, caso não haja mesmo o adiamento ou cancelamento do evento,
ocorram algumas medidas como a testagem em massa e diária de todo mundo envolvido, assim
como a manutenção dos trabalhadores em quartos individuais. É importante também estabelecer
o nível de risco de cada esporte, uma vez que esportes coletivos e de contato possuem maior risco
de contágio. A opinião pública do Japão revindica fortemente pelo adiamento ou cancelamento das
Olimpíadas. Dos que defendem a permanência do evento, argumentam que serão os "Jogos da
Esperança", trazendo uma sensação de que tudo irá melhorar daqui em diante.

4
Como contextualizar essas informações na redação?

O esporte é um grande mecanismo de inclusão social. Isso significa que, por meio das modalidades
esportivas e de todo sistema envolvido nelas, muitas pessoas conseguem ascender socialmente.
Nesse sentido, os eventos esportivos, como as olimpíadas, são importantes momentos para os
atletas, devido a toda visibilidade e dinheiro envolvidos.

Veja, a seguir, o vídeo da apresentação da ginasta Rebeca Andrade, que, ao som de “Baile de Favela”,
representou lindamente o Brasil e a periferia.

Nome do vídeo: Rebeca Andrade BRA - Solo @ Rio de Janeiro 2021

Agora, que tal refletir um pouco sobre isso e escrever um texto sobre “Esporte como ferramenta de
inclusão social”?

TEXTO I

Projetos sociais que têm o esporte como ferramenta de inclusão social são um importante aliado
na formação de crianças e adolescentes. Nas diferentes modalidades o trabalho resgata valores
que são fundamentais para o desenvolvimento e a aprendizagem dos jovens, seja no futebol, no
basquete, ou no vôlei. Tanto que, no Brasil, é grande o número de instituições do terceiro setor que
se dedica a atividades na área; e até esportes pouco populares por aqui, como badminton e hockey
de grama, por exemplo, estão presentes em iniciativas nos diferentes estados do país.
Disponível em: http://redeglobo.globo.com/acao/noticia/2013/10/por-meio-do-esporte-ongs-detodo- -o-pais-promovem-inclusao-
social.html. Adaptado.

5
TEXTO II

Disponível em:
http://jconlineimagem.ne10.uol.com.br/imagem/galeria/2012/06/06/dodia/normal/0c95054981de037de06e544a52eb3613.jpg

TEXTO III

Esporte para divertir, distrair, apontar caminhos alternativos e recuperar jovens. Ferramenta
poderosa de transformação social, a prática de atividades físicas serve como pilar de um projeto
piloto de sucesso no estado do Rio de Janeiro. O Esporte e Cidadania, do Ministério do Esporte, já
atende a mais de 15 mil crianças e adolescentes entre 6 e 21 anos. Os 156 núcleos estão instalados
em locais de vulnerabilidade social e em unidades do Departamento Geral de Ações
Socioeducativas (Degase) do Rio.
Criado em 2016, o Esporte e Cidadania começou em 56 pontos do estado, mas a alta procura dos
jovens e de suas famílias justificou a ampliação, permitindo a abertura de mais 100 núcleos. Em
cada núcleo, são oferecidas duas atividades esportivas e uma de artes marciais. A escolha das
modalidades leva em conta atividades que já vinham sendo desenvolvidas nos locais, de modo a
aproveitar estruturas e dialogar com uma demanda já existente em cada comunidade. Os resultados
são animadores.
“A procura dos jovens é bem grande. Temos diversos relatos de evolução de quem participa do
projeto, como alunos que tinham dificuldades na escola e melhoraram. A grande proposta não é
transformar ninguém em atleta, é dar cidadania”, ressalta Ananda Rodrigues, coordenadora do
Esporte e Cidadania. Dentro do Parque Olímpico da Barra da Tijuca, onde Ananda trabalha, funciona
um dos núcleos com características mais peculiares. A ampla e moderna estrutura do local que
sediou vários dos eventos dos Jogos Olímpicos garante as melhores condições aos participantes
do projeto. E a localização, em uma região próxima a bairros de classes sociais bem distintas,

6
resulta na convivência entre jovens com referências de mundo das mais diversas. “Aqui todo mundo
é igual”, reforça Ananda.
Foi o que percebeu a dona de casa Angela Cassemiro ao conversar com os professores do projeto.
Mãe de Alexia, 20 anos, que tem síndrome de Down, queria saber se havia atividades direcionadas
a portadores de deficiência. Ouviu, como resposta, que a filha treinaria junto com todos. Hoje Alexia
faz jiu-jitsu e futsal no Parque Olímpico. Recentemente, participou de competições de jiu-jitsu, o que,
segundo Angela, faz com que sua filha se empenhe mais e não desista de ir às aulas do projeto.
“Houve melhora na vida dela, na saúde, na coordenação motora. Ter regras e lidar com elas é algo
que ajuda bastante. Ela tem essa coisa de querer medalha, querer ganhar. A gente diz que isso não
é o mais importante, mas ela tem isso dentro dela”, conta a mãe de Alexia.
Disponível em: http://patrocinados.estadao.com.br/esporteparatodos/esporte-e-cidadania-oferece-atividades-fisicas-e-
recupera-jovens-no-rj/

7
Panorama geral: América Latina

Argentina
Diante de um cenário de incerteza mundial devido à pandemia do coronavírus, a Argentina vem
enfrentando uma grave crise política, econômica e sanitária, assim como boa parte da América
Latina. Apesar das notícias recentes da crise econômica em que se encontra o país no governo do
peronista Alberto Fernández, é importante pontuar que esse é um processo anterior ao seu governo,
mas que foi aprofundado por causa da pandemia e a questão da vacinação no país.

A Argentina começou a pandemia com um dos maiores lockdowns do mundo e se tornou um


exemplo em práticas de prevenção e combate ao novo coronavírus, porém, já em outubro de 2020,
o país mudou radicalmente essa situação ao se tornar um dos países com maior índice de
contaminação na América Latina. O cenário de crise sanitária foi agravado por várias questões,
dentre elas, a resistência da população com relação às medidas de restrição, a falha do plano
nacional de vacinação do governo argentino e o colapso no sistema de saúde do país.

(Disponível em: https://news.google.com/covid19/map?hl=pt-BR&gl=BR&ceid=BR%3Apt-419&mid=%2Fm%2F0jgd. Acessado em


14/06/2021, as 06:27.

O descontentamento mais recente com a gestão do governo de Alberto Fernández se deu, em


grande medida, pela questão relacionada à vacinação da população. Em julho de 2020, o governo
havia anunciado que o país seria contemplado por um acordo com a companhia farmacêutica
Pfizer, onde uma parte da população seria utilizada para fazer testes clínicos da vacina e, em troca,
a empresa venderia para o país com prioridade de envio e com um valor menor.

Contudo, em agosto do mesmo ano, o empresário argentino Hugo Sigman, junto com outro
empresário mexicano, anunciou um acordo com a empresa britânica que produz a AstraZeneca. No
combinado, seriam produzidos cerca de 150 milhões de doses da vacina aqui na América Latina,
através de uma parceria entre um laboratório mexicano, o Liomont, e o laboratório mAbxcience, do

8
grupo empresarial de Sigman. Animado com a possibilidade de produzir a vacina dentro do próprio
quintal e baratear o custo do imunizante, o governo argentino endossou a iniciativa do empresário
e acabou não fechando com a Pfizer.

No decorrer do tempo, o laboratório mAbxcience enviou o ativo para o laboratório mexicano, porém
ele não conseguiu cumprir com os acordos devido a uma serie de fatores, como a falta de materiais.
Dentro dessa confusão, quem saiu perdendo foi a população argentina que ficou sem a vacina em
larga escala prometida pelo governo. O país só vacinou cerca de 7% da população, como podemos
ver no infográfico acima, e não explicou com objetividade o porquê de não ter fechado um acordo
com a Pfizer, já que as negociações ainda estavam rolando.

No geral, os representantes do governo afirmaram que a fabricante do imunizante havia exigido


condições impossíveis de serem cumpridas, dentre elas, as geleiras do país como garantia. Outro
ponto de discordância entre o governo e o laboratório foi com relação à transportadora, que deveria
ser obrigatoriamente a DHL, que possuía um contrato de exclusividade com a farmacêutica, e com
relação a Pfizer se negar a aceitar a possibilidade de receber processos por negligência. Para piorar
a situação, foram vazados vários casos de fura-fila da vacinação por membros da alta cúpula do
governo.

Dentro desse processo de crise sanitária, a Argentina se recusou a sediar a Copa América por não
ter controle sobre a pandemia no país. Vale ressaltar que o Brasil também não tem e aceitou sediar
ainda assim o evento futebolístico. Outra justificativa para não aceitar o evento no país foi a grave
crise econômica em que ele está inserido, em uma pesquisa lançada recentemente pelo Instituto
Nacional de Estatística e Censos (Indec), cerca de 42% da população argentina está vivendo em
situação de pobreza.

Pega a visão: falamos sobre a questão da falta de vacina e uma discussão mega importante e que
pode cair no seu vestibular é sobre a desigualdade de acesso a elas. Estamos acompanhando que
vários países centrais já vacinaram quase 70% da sua população, enquanto existem países
periféricos que vacinaram menos de 10%. Com a exceção de países como o Brasil, que poderiam
ter comprado a vacina com antecedência e não o fizeram por uma escolha governamental, existem
muitos países que sequer conseguem ter acesso a elas, porque a grande maioria das doses foram
para os países desenvolvidos. Além disso, existe uma discussão sobre a quebra da patente das
vacinas, o que poderia levar a uma aceleração da produção de imunizantes no mundo. Contudo, boa
parte dos países centrais são contra a quebra das patentes. Se você quer entender um pouco mais
sobre esse rolê, clica nessa reportagem aqui.

9
Colômbia
Como dissemos lá em cima, a América Latina, no geral, se encontra em um momento caótico, que
obviamente está ligado à conjuntura mundial da crise do coronavírus, mas que também possui
raízes bem mais profundas do que essa. No caso da Colômbia, desde 2019 o povo tem ido às ruas
manifestar contra a corrupção, contra a precariedade, a perda de direitos básicos e em prol de uma
justiça social mais ampla.

Os protestos recentes no país já duram quase dois meses e chamam a atenção do mundo pela
brutalidade no confronto entre civis e militares. O estopim para o início da recente onda de protestos
foi o projeto de lei de reforma tributária que contava com um aumento de impostos sobre a renda e
sobre produtos básicos no país. Contudo, a proposta veio no meio de uma crise econômica, política
e sanitária, o que levou a população às ruas para protestar contra a votação do tal projeto.

O presidente colombiano, Iván Duque, chegou a pedir a retirada do projeto da votação no Congresso,
entretanto o povo já havia tomado as ruas contra as práticas neoliberais, o aumento da pobreza e
especialmente contra a violência policial. Vale ressaltar que o país que até pouco tempo vivia em
permanente estado de tensão devido aos embates entre o governo e a Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia).

Diversos órgãos internacionais, incluindo a ONU, vem denunciando a violenta repressão policial,
orquestrada pelo governo, contra os manifestantes e o desrespeito aos direitos humanos.
Atualmente, estima-se que existam cerca de 120 a 300 manifestantes desaparecidos e, pelo menos,
50 mortos. Apesar do presidente colombiano negar os excessos da polícia, alguns oficiais foram
submetidos a ações disciplinares devido as suas atuações nos protestos populares.

A Colômbia seria a sede da Copa América de 2021 junto com a Argentina, entretanto, devido ao
caos social, político e sanitário, o país desistiu de sediar o evento. Porém, na estreia da sua seleção
aqui no Brasil, alguns colombianos se reuniram na frente do estádio para protestar e declarar seu
apoio aos movimentos populares que estão ocorrendo no país.

Manifestantes na cidade de Cali, que é considerado o epicentro dos protestos. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57296402

10
El Salvador
Recentemente, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, impactou o mundo ao divulgar que tornaria
o Bitcoin a nova moeda oficial do país. E por que o impacto? Porque a Bitcoin é uma criptomoeda
que surgiu em 2008 com a tentativa de facilitar os trâmites financeiros e substituir, a longo prazo, o
dinheiro físico. A lei que acabou de ser aprovada em El Salvador torna o país o pioneiro na utilização
de uma moeda digital como moeda oficial.

Um ponto interessante sobre o país é que ele não possuía uma moeda própria, utilizava o dólar
americano, então, em teoria, não seria um grande problema a circulação de uma outra moeda. De
acordo com o presidente, a intenção é facilitar a circulação monetária, tanto internamente quanto
externamente, uma vez que 20% do seu PIB correspondem às remessas internacionais. A bitcoin
facilitaria então essas transações financeiras, com a redução da burocracia e sem a necessidade
de mediação de instituições financeiras.

Porém, a aprovação da lei levantou suspeitas e preocupações para as entidades financeiras, como
o FMI, que alertaram para o perigo dos crimes cibernéticos. Além disso, analistas apontam que a lei
foi aprovada meio que às pressas, sem muitas discussões, em um Congresso dominado pelo
partido de Nayib Bukele. Daqui a três meses a Lei Bitcoin entra em vigor no país e qualquer pessoa,
física ou jurídica, pode usar a moeda no país da mesma forma que utiliza o dólar americano
atualmente.

A implantação e a utilização da criptomoeda pela população é outra questão importante a se pensar,


uma vez que para utilizar a Bitcoin é necessário ter um aparelho com acesso à internet. Segundo a
pesquisa promovida pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Microsoft, apenas 45,02% dos lares em El Salvador
possuem acesso à internet. Ou seja, o projeto de implantar as Bitcoins como moedas oficiais
perpassa por outras questões que não apenas as econômicas.

Peru
O Peru, assim como o restante da América Latina, também está inserido em uma crise política e
institucional como vimos no Panorama Geral de Atualidades na segunda semana de abril. A
conjuntura do país conta com trocas constantes de presidentes, escândalos envolvendo corrupção,
suicídios, impeachment e roubos de vacinas contra o coronavírus. Nos últimos cinco anos, o Peru
trocou de presidente quatro vezes e, praticamente, todos eles estavam envolvidos em escândalos
de desvio de dinheiro e corrupção. Boa parte desses casos estavam ligados a Lava Jato, sim, a
operação brasileira.

Dentro desse processo, no início de abril, dois candidatos com projetos políticos completamente
distintos chegaram ao segundo turno para as eleições presidenciais, Pedro Castilho, representante
da esquerda, e Keiko Fujimori, representante da direita.

A chegada de Pedro Castilho ao segundo turno foi uma surpresa para a mídia no geral, uma vez que
poucas semanas antes das eleições o candidato não havia recebido um número expressivo de votos

11
nas pesquisas eleitorais. Já Keiko Fujimori é herdeira do fujimorismo peruano liderado pelo seu pai,
o ex-presidente, Alberto Fujimori, e figurinha carimbada na política do país.

Com uma votação extremamente acirrada, Castilho ganhou de Fujimori nas urnas nas eleições do
dia 06/06/2021. Contudo, conforme a contagem de votos ia se encaminhando para o fim e
apontando a vitória apertada de Castilho, a representante do Força Popular começou a levantar
suspeitas sobre possíveis fraudes no processo eleitoral. Fujimori afirmou publicamente que não
aceitaria a derrota, alegando uma possível fraude, entretanto, também não apresentou nenhum tipo
de prova que comprovasse a sua acusação.

Pega a visão: a acusação de fraude eleitoral têm sido uma prática recorrente no continente
americano. O exemplo mais próximo foi a eleição dos Estados Unidos, na qual Donald Trump alegou
ter perdido as eleições por conta de fraudes eleitorais, contudo, o recálculo solicitado pelo ex-
presidente norte-americano apenas confirmou a vitória de Joe Biden nas urnas. A nível de Brasil, é
extremamente importante que você fique ligado nessa discussão, porque a eleição de 2022 nem
chegou, mas já está sendo acusada de ser fraudulenta.

Keiko Fujimori pediu a anulação de cerca de 200 mil votos nessas eleições, que se aprovada, seria
o suficiente para mudar o rumo das mesmas. Porém, órgãos de controles eleitorais, como a União
Interamericana de Organismos Eleitorais (UNIORE), reconheceu que a eleição foi feita de forma
correta e sem qualquer indício de atividades passíveis de fraude.

Como contextualizar essas informações na redação?

Pôde-se observar acima que a América Latina, atualmente, vem passando por algumas questões
em variados países; inclusive, algumas problemáticas são até mesmo compartilhadas entre
diferentes nações. Para aproveitarmos tais dados na redação, podemos separá-los em temáticas
distintas que dialogam com as situações conferidas acima, e relacioná-las com possíveis propostas
de redação. Vamos ver como isso seria possível?

A princípio, no que tange à questão que ocorre na Argentina, percebe-se que há uma problemática
voltada à saúde coletiva, agravada em decorrência ao vírus da Covid-19. Somado a isso, há também
a discussão da desigualdade social, pois, cerca de 42% da população argentina está vivendo em
situação de pobreza. Tais informações podem ser apresentadas por meio da estratégia
argumentativa de enumeração, em uma discussão sobre a falta de acessibilidade de alguns países
à vacinação, em contraste aos Estados Unidos, por exemplo, que, tal qual outros países mais
desenvolvidos, já estão extremamente avançados quanto ao controle do vírus. Enquanto isso,
países como a Argentina, mais desiguais e sem possibilidade de compra (que, lembrando, não é o
caso do Brasil, porque este poderia, sim, estar muito mais avançado no plano da vacinação, mas
não o está por questões políticas), seguem vivenciando tal estado crítico sanitário.

Além disso, temas que colocam ênfase na questão da corrupção e ética já surgiram em
vestibulares. No caso da construção de um argumento que ilustra a corrupção a nível mundial, é

12
possível citar a situação do Peru, tendo em vista os variados escândalos que envolvem o desvio de
verbas – inclusive, conforme apontado, relacionados até mesmo à Lava Jato brasileira. Tais
questões interferem na democracia do país, especialmente diante de acusações (sem evidências)
de fraudes voltadas à recente eleição de Pedro Castilho. Somado a isso, há a discussão de políticas
públicas que prejudicam o povo, como a situação da reforma tributária na Colômbia, que
desencadeou diversas manifestações populares contrárias à tal ação. Em casos de redações cujo
tema seja sobre o poder popular – podendo fazer referência ao impacto das ações de cidadãos
mais jovens –, por exemplo, pode-se mencionar tais protestos como provas de que é possível a
união da população a fim de lutar contra abusos de poder, afinal, o presidente colombiano Iván
Duque, em maio, diante da resistência popular, chegou a retirar o pedido da reforma em questão.

Cabe mencionar, ainda, uma outra problemática citada em relação à Colômbia, mas que também é
recorrente no Brasil, nos Estados Unidos e em diversos outros países do globo: a repressão policial.
Em cenário nacional, cotidianamente, sabe-se da violência por parte de órgãos de segurança
pública, especialmente em ambientes periféricos da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, como a
situação da chacina do Jacarezinho, ocorrida mês passado. Uma pauta do nosso país vizinho é a
repressão policial em manifestações, como o ato na cidade de Cali, mês passado, que contou com
550 feridos e 10 mortos. É possível, portanto, utilizar essas informações como exemplificações, em
argumentos sobre a temática de violência urbana, ou trazer uma delas como estratégia de
contextualização deste tema.

Demos bastante conteúdo para você pensar sobre, né? Que tal colocar em prática? A seguir, vamos
conferir duas propostas de redação, de diferentes exames, as quais dão a possibilidade de você
trabalhar os assuntos conferidos neste capítulo. Bom exercício! 😊

Primeira proposta
Tema: O indivíduo frente à ética nacional (Enem – 2009)

TEXTO I

13
TEXTO II
Andamos demais acomodados, todo mundo reclamando em voz baixa como se fosse errado
indignar-se.
Sem ufanismo, porque dele estou cansada, sem dizer que este é um país rico, de gente boa e
cordata, com natureza (a que sobrou) belíssima e generosa, sem fantasiar nem botar óculos cor-
de-rosa, que o momento não permite, eu me pergunto o que anda acontecendo com a gente.
Tenho medo disso que nos tornamos ou em que estamos nos transformando, achando bonita a
ignorância eloquente, engraçado o cinismo bem-vestido, interessante o banditismo arrojado, normal
o abismo em cuja beira nos equilibramos – não malabaristas, mais palhaços.
LUFT, L. Ponto de vista. Veja. Ed. 1988, 27 dez 2006 (adaptado)

TEXTO III
Qual é o efeito em nós do “eles são todos corruptos”?
As denúncias que assolam nosso cotidiano podem dar lugar a uma vontade de transformar o mundo
só se nossa indignação não afetar o mundo inteiro. “Eles são TODOS corruptos” é um pensamento
que serve apenas para “confirmar” a “integridade” de quem se indigna.
O lugar-comum sobre a corrupção generalizada não é uma armadilha para os corruptos: eles
continuam iguais e livres, enquanto, fechados em casa, festejamos nossa esplendorosa retidão.
O dito lugar-comum é uma armadilha que amarra e imobiliza os mesmos que denunciam a
imperfeição do mundo inteiro.
CALLIGARIS, C. A armadilha da corrupção. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br (adaptado)

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “O indivíduo frente à ética nacional” apresentando proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Segunda proposta
Tema: Participação política: indispensável ou superada? (Fuvest – 2012)

TEXTO I
A ciência mais imperativa e predominante sobre tudo é a ciência política, pois esta determina quais
são as demais ciências que devem ser estudadas na pólis. Nessa medida, a ciência política inclui a
finalidade das demais, e, então, essa finalidade deve ser o bem do homem.
Aristóteles. Adaptado.

14
TEXTO II
O termo “idiota” aparece em comentários indignados, cada vez mais frequentes no Brasil, como
“política é coisa de idiota”. O que podemos constatar é que acabou se invertendo o conceito original
de idiota, pois a palavra idiótes, em grego, significa aquele que só vive a vida privada, que recusa a
política, que diz não à política.
Talvez devêssemos retomar esse conceito de idiota como aquele que vive fechado dentro de si e
só se interessa pela vida no âmbito pessoal. Sua expressão generalizada é: “Não me meto em
política”.
M. S. Cortella e R. J. Ribeiro, Política – para não ser idiota. Adaptado.

TEXTO III
FILHOS DA ÉPOCA
Somos filhos da época
e a época é política.

Todas as tuas, nossas, vossas coisas


diurnas e noturnas,
são coisas políticas.

Querendo ou não querendo,


teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um aspecto político.

O que você diz tem ressonância,


o que silencia tem um eco
de um jeito ou de outro, político.
(...)
Wislawa Szymborska, Poemas.

TEXTO IV
As instituições políticas vigentes (por exemplo, partidos políticos, parlamentos, governos) vivem
hoje um processo de abandono ou diminuição do seu papel de criadoras de agenda de questões e
opções relevantes e, também, do seu papel de propositoras de doutrinas. O que não significa que
se amplia a liberdade de opção individual. Significa apenas que essas funções estão sendo
decididamente transferidas das instituições políticas (isto é, eleitas e, em princípio, controladas)
para forças essencialmente não políticas primordialmente as do mercado financeiro e do consumo.
A agenda de opções mais importantes dificilmente pode ser construída politicamente nas atuais
condições. Assim esvaziada, a política perde interesse.
Zygmunt Bauman. Em busca da política. Adaptado.

15
TEXTO V

Os textos aqui reproduzidos falam de política, seja para enfatizar sua necessidade, seja para indicar
suas limitações e impasses no mundo atual. Reflita sobre esses textos e redija uma dissertação em
prosa, na qual você discuta as ideias neles apresentadas, argumentando de modo a deixar claro o
seu ponto de vista sobre o tema Participação política: indispensável ou superada?

Instruções:
● A redação deve obedecer à norma padrão da língua portuguesa.
● Escreva, no mínimo, 20 e, no máximo, 30 linhas, com letra legível.
● Dê um título a sua redação.

16
O futuro da Europa
A aula de atualidades explorou o tema “geopolítica europeia”, apresentando a formação da União
Europeia no século XX, os grandes desafios do continente nos últimos anos e as previsões do que
os europeus podem encontrar em um futuro próximo.

Origens

1951 – CECA
Em 1950, a Europa vivia um período de consequências recentes da Segunda Guerra Mundial, com
conflitos diplomáticos pela remarcação de territórios e pela exploração de determinadas riquezas.
Nesse contexto, recursos como carvão e minérios de ferro eram fundamentais para a retomada do
desenvolvimento e, portanto, eram disputados. Um dos casos mais emblemáticos foi o das
divergências entre França e a recém-criada Alemanha Ocidental pela exploração de tais recursos na
fronteira.

Desta forma, tendo em vista esses conflitos e o contexto de crise, o então ministro das Relações
Exteriores da França, Robert Schuman, e o Comissário francês do Plano de Modernização, Jean
Monnet, colocaram em prática um plano de aproximação política e econômica dos países europeus.
O resultado foi a criação, em 1951, da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que possibilitava
a gestão em comum dos recursos, a integração dos países, a redução dos conflitos e uma maior
facilidade na circulação de mercadorias entre os países membros.

Reunindo inicialmente países como Alemanha, França, Holanda, Itália, Bélgica e Luxemburgo, a
CECA, organizada pelo Plano Schuman, é atualmente considerada como uma semente da União
Europeia, justamente por ter sido o primeiro órgão a realizar essa integração.

1957 – Tratado de Roma


Em 1957, ainda buscando maior estabilidade política e econômica para a Europa, alguns países do
continente deram continuidade ao projeto de integração e criaram o Tratado de Roma, que
constituiu a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atômica
(EURATOM). Assinado por Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Itália e Alemanha, o tratado
visava resolver os problemas da Europa e ampliar a integração.

O CEE, por exemplo, deveria possibilitar um fluxo maior de mercadorias e capitais entre os países
europeus com a criação de uma união aduaneira, enquanto a EURATOM teria como objetivo facilitar
a cooperação para o desenvolvimento e uso da energia atômica entre os países envolvidos.

A partir de 1958, o processo de integração europeia ainda teve continuidade com a criação da
Comissão Europeia e depois, em 1961, com o Conselho Europeu. Em 1986, o Tratado de Roma ainda
chegou a ser atualizado e complementado pelo chamado Ato Único Europeu

17
1992 – Tratado de Maastricht
Em 1992, mais um passo fundamental foi dado pela Europa para a continuidade e definição de seus
laços políticos e econômicos e para a própria integração do continente. Com o sucesso do Tratado
de Roma, da CEE e do Ato Único Europeu, com o fim da Guerra Fria, uma nova atualização ao Tratado
de Roma foi criada, dessa vez, o Tratado de Maastricht, organizado pelo próprio Conselho Europeu.

Com a entrada em vigor em 1993, o Tratado foi, enfim, o responsável pela criação da União Europeia,
que teria o grande objetivo de organizar a livre circulação pessoas, de mercadorias e capital, a
unificação das moedas, a integração política e legislativa. Esses objetivos seriam, portanto,
coordenado pelos principais órgãos da instituição, como: a Comissão Europeia, o Parlamento
Europeu, o Conselho da União Europeia, o Conselho Europeu, o Tribunal de Justiça da União
Europeia, o Tribunal de Contas Europeu e o Banco Central Europeu.

Com o fim da Guerra Fria e a fragmentação da antiga URSS, um dos primeiros desafios da União
Europeia foi justamente lidar com essa nova realidade geopolítica mundial e com os novos países
que surgiram nesse contexto. Assim, em 2004, a União Europeia aceitou a entrada de países do
Leste europeu, como Chipre, Malta, Eslováquia, Eslovênia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia e
República Tcheca. Já em 2007, ainda entram a Bulgária e a Romênia e, em 2013, a Croácia. Essa
situação gerou conflitos diplomáticos entre a Rússia e a União Europeia.

Crises e desafios

Grécia (2011)
Como visto, o século XXI trouxe para a União Europeia novos desafios, dentre eles, destacaram-se
as questões econômicas e as insatisfações de seus países membros com as exigências da U.E e
as limitações do Euro para a resolução de tais problemas.

Visto isso, um dos primeiros problemas foi a grande crise de 2008 que afetou a Europa e se
prolongou em alguns países, como Portugal, Itália, Grécia e Espanha. Em 2011, devido aos gastos,
a Grécia continuava em crise e tanto o FMI quanto a U.E exigiam que a Grécia aplicasse uma política
de austeridade como garantia para a aplicação de um plano de resgate econômico por parte desses
órgãos. A Grécia, no entanto, posicionou-se inicialmente contrária a tal política e ameaçou sair da
União Europeia, pois não via vantagem em se manter bloqueada pela falta de dinamismo econômico
do bloco.

Catalunha (2017)

A Catalunha é uma região industrializada na Espanha que, desde o século XIX, possui um forte
sentimento nacionalista e, ao longo do século XX, alimentou o desejo de emancipação da Espanha.
Identificados com a própria cultura local, com uma língua própria e com bastante autonomia, com
a crise de 2008, em especial com o seu desdobramento espanhol, em 2010, a Catalunha se viu ainda
menos desejosa de continuar ligada à Espanha.

18
Assim, nesse contexto, os movimentos separatistas ganharam ainda mais forças com protestos
nas ruas, em estádios de futebol e eventos públicos. Logo, em 2017, diante das profundas
insatisfações populares, a Catalunha deu mais um passo em sua luta pela emancipação política,
inspirando-se no direito de autodeterminação dos povos.

Nesse ano, um referendo foi organizado na região perguntando aos moradores: "Quer que a
Catalunha seja um estado independente em forma de república?". O resultado foi uma expressiva
vitória a favor da separação e uma greve geral dois dias após o referendo. No entanto, a Espanha,
ameaçada pela separação, posicionou-se contrária e determinou que tal referendo seria
inconstitucional.

Brexit (2016-2020)

A palavra “Brexit”, usada pela imprensa para acompanhar o processo de saída do Reino Unido da
U.E significa algo como “Britain Exit”, unindo as duas palavras. Dessa forma, esse evento foi
considerado como um dos maiores desafios do século para a U.E e, definitivamente, causou um
grande impacto para o órgão e para a própria Europa.

Desde a adesão do Reino Unido ao CEE e com o aprofundamento de sua integração aos blocos
europeus que grupos nacionalistas realizam campanhas contra essa política. No entanto, com o
século XXI, a força desses movimentos cresceu e ganhou cada vez mais adesão de parlamentares
britânicos. Logo, em 2016, a comunidade britânica foi convocada para participar de um referendo
para afirmarem se queriam ou não a saída do Reino Unido da União Europeia, sendo que por uma
margem muito pequena, a opção de deixar o órgão acabou vencendo. Assim, após longos debates
internos e negociações com os outros países europeus, o Primeiro-Ministro inglês Boris Johnson
fechou um acordo com a Comissão Europeia pela retirada do Reino Unido da UE.

Coletes amarelos (2018)

Em 2018, uma onda de protestos populares atingiu a França e se espalhou pelo mundo, ficando os
franceses insatisfeitos conhecidos como coletes amarelos. Em um contexto de Primavera Árabe,
com notícias de diversos movimentos ocorrendo no Oriente Médio, o governo francês de Emmanuel
Macron anunciou o aumento de impostos sobre combustíveis fósseis, visando uma mudança para
o uso de energias limpas.

Entretanto, em um cenário de crise, com salários mínimos congelados e altos preços, a população
mais pobre se sentiu prejudicada, pois essa mudança elevava ainda mais os preços de alguns
produtos básicos. O resultado disso foi uma série de protestos que passaram a reivindicar não só
a queda dos preços, mas também salários maiores, o impeachment de Macron e reformas políticas.

19
O futuro

Ascensão dos nacionalismos


No contextual atual da Europa, tendo em vista as últimas crises econômicas, os abalos na U.E e
questões como a crise dos refugiados, há no Velho Continente uma ameaça do crescimento de
problemas como o ultranacionalismo e a ascensão de partidos de extrema-direita, ligados
principalmente a pautas de xenofobia, racismo, belicismo e que percebem na desintegração da U.E
uma forma de resolver seus problemas locais. Esse movimento tem destacado, portanto, uma
ideologia do euroceticismo, defendendo sobretudo o afastamento da U.E, porque essa seria
responsável por enfraquecer os nacionalismos e as identidades regionais e por permitir a entrada
de imigrantes que fragmentariam seus países.

Ascensão da Ásia
Apesar da eleição de Joe Biden, nos Estados Unidos, ter reaproximado a política norte-americana
da U.E, que antes encontrava em Donald Trump um obstáculo, há, pelo lado asiático, o crescimento
de rivalidades. Com a ascensão de economias como a chinesa, que tem sido há alguns anos um
grande protagonista nas relações econômicas globais, há uma cortina de incertezas sobre como
E.U.A e U.E se posicionarão diante desse rival econômico e suas exigências nos próximos anos.

Como contextualizar essas informações na redação?

A globalização é um fenômeno que consiste na ligação do espaço geográfico mundial por meio da
interligação entre os setores econômicos, políticos, social e cultural. Por esse motivo, por mais que
os acontecimentos do continente Europeu pareçam distantes da realidade brasileira, eles, na
verdade, estão ligados, uma vez que o que acontece lá é divulgado por aqui também.

Assim, as informações deste material poderiam, sim, estar em uma redação sobre um tema cobrado
aqui nas bancas brasileiras. Você sabe como? Vale destacar a analogia como um recurso
importante para a redação e capaz de estabelecer relações de semelhança entre objetos ou fatos
diferentes. É importante ressaltar que na argumentação ela compara duas realidades diferentes e
o mais importante é extrair uma conclusão acerca dos elementos comparados.

Agora, observe os temas abaixo e veja como as atualidades sobre o futuro da Europa poderiam ser
utilizadas em uma redação.

UEG (2016)

Em um dos maiores êxodos da história recente, milhões de pessoas fugiram da Síria desde o início
do conflito armado, a maioria delas mulheres e crianças. A esse respeito, leia a coletânea a seguir.

TEXTO I
As cenas de frágeis barcos rebocados em alto mar ou de centenas de pessoas amontoadas em
improvisados campos de refugiados causam indignação, insuflam a solidariedade e obrigam as

20
autoridades a tomar atitudes para a resolução do problema. Por outro lado, a chegada de milhares
de imigrantes muçulmanos, negros e ciganos vem aumentando o sentimento xenófobo de parte da
população europeia, o que pode ser exemplificado pela ação da cinegrafista húngara Petra Lászlö,
flagrada chutando sírios na fronteira com a Sérvia – não por acaso, a Hungria tem a maioria das
cadeiras do Parlamento ocupadas por partidos de direita e extrema-direita. Diante da crise
econômica, que parece global, os fascistas e neonazistas vêm ampliando o espaço político na
Europa, notadamente na Alemanha, Áustria, França, Suécia, Grécia, Itália e Irlanda. É curioso, porque
justamente a Alemanha, o Império Austro-Húngaro, a Itália, a Irlanda e a Suécia despejaram, no
século XIX, milhões de camponeses esfomeados para fora de suas fronteiras, o que provocou um
reequilíbrio demográfico, possibilitando o reerguimento econômico no século seguinte. Estes, que
deveriam ser os primeiros a abrir as portas para os estrangeiros, veem em uma dimensão cada vez
mais larga crescer o preconceito étnico e religioso.
RUFFATO, Fernando. Imigração e Xenofobia. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/autor/luiz_fernando_ruffato_de_souza/a/>.
Acesso em: 1 mar. 2016.

TEXTO II
O homem, responsável pela humanidade, sentirá angústia ao escolher, pois esta escolha implica o abandono
de todas as outras possibilidades. Porém, a ideia de que a existência precede a essência permite outros
desdobramentos. O homem não pode responsabilizar a sua existência a natureza alguma. Não há nada que
legitime seu comportamento, não há nada que o determine. O homem faz-se a si próprio, é livre: tem total
liberdade para escolher o que se torna, é responsável por sua paixão. Assim, não há nada que justifique seus
atos. O homem está desamparado, condenado à sua própria escolha. Já a moral para Kant afirma que
devemos tratar as pessoas como fim, e não como meio. Porém, ao escolher algo como fim, as outras opções
serão tratadas como meio. Então, seria o sentimento que determina nossa escolha pela moral a ser seguida?
Só podemos dizer que fizemos algo por amor, depois que já tivermos realizado. Justificar uma ação pelo
sentimento terá seu valor apenas depois que o ato se concretizar: o sentimento se constituiu pelos atos
praticados. Portanto, não podemos consultar nossos sentimentos como guia de nossas ações e não há
também nenhuma moral que me guie: o homem é livre para escolher e tem a constante possibilidade de se
inventar.
L'APICCIRELLA, Nadime. O Existencialismo de Jean Paul Sartre. Disponível em:
<http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_26/sartre.html>. Acesso em: 2 mar. 2016.

TEXTO II

21
TEXTO IV
Justificativas das mais diversas são divulgadas para tentar amenizar a relutância dos europeus em
não aceitar os refugiados sírios. Dentre estas, o medo do terrorismo, a indignação em ter que
trabalhar e pagar impostos por estes imigrantes que são acusados de não querer trabalhar, mas
sim viver por conta dos nativos. Aliado a tudo isso, tem o receio de os refugiados não voltarem para
seus países de origem quando a guerra terminar. Talvez esses refugiados sírios desejem até voltar
para suas terras, sua cultura, suas casas, suas famílias, mas como retornar se a guerra só se
intensifica a cada dia mais? Por outro lado, como ficar em um lugar onde as pessoas fazem questão
de ser xenofóbicas e deixar bem claro que eles são “pragas” que só fazem mal para o ambiente,
economia e vida do país? Entendemos que é difícil para um indivíduo ver a sua casa sendo
“invadida” por pessoas com cultura, costumes diferentes e que estão desesperadas por uma
oportunidade. Mas enquanto não aprendermos a nos colocar no lugar do outro, possivelmente os
maiores conflitos da humanidade continuarão. Talvez, bom seria se, como diz o filósofo Baruch
Spinoza, conseguíssemos entender que todo ser humano é fruto dos afetos trocados em seus
diversos encontros. Isso justifica muito o jeito de ser do outro e a forma como retribuímos ao
próximo. Provavelmente, assim, teríamos uma sociedade menos xenofóbica.
FERREIRA, Lúcia. Refugiados árabes e a xenofobia na Europa. Disponível em:< http://www.unasp-
ec.com/canaldaimprensa2/index.php/refugiados-arabes-e-a-xenofobia-na-europa/>. Acesso em: 1 mar. 2016.

TEXTO V
Nós vivemos num tempo que se caracteriza pela irracionalidade dos comportamentos gerais, e por
aqui um pouco de senso comum, no sentido de que, acima de tudo, o que há a proteger é a vida [...]
é quase impossível... E mais, se esse ser humano enfrenta outro ser humano porque crê num outro
deus, ou porque, ao ter uma outra tradição, vê o outro como um inimigo... A partir do momento em
que vemos o próximo como inimigo, a guerra está declarada. A intolerância não é uma tendência, é
uma brutal realidade.
A INTOLERÂNCIA é uma Brutal Realidade. Disponível em: <http://www.citador.pt/textos/a-intolerancia-e-uma-brutal-realidade-jose-
de-sousa-saramago>. Acesso em: 3 mar. 2016.

TEXTO VI
Jane Austen publicou Orgulho e Preconceito em 1813. É um grande romance de costumes, que
revela os pensamentos e os valores dos (mais ou menos) privilegiados na Inglaterra de 1800. A
moral da história ainda vale: por orgulho e preconceito, podemos desperdiçar nossa vida,
renunciando a amores verdadeiros. Depois de assistir ao filme “Orgulho, preconceito e zumbis”, de
Burr Steers, vi que, apesar dos Zumbis, o filme é fiel ao espírito do livro de Austen. Construir uma
muralha ao redor da cidade para impedir a entrada dos zumbis? Inventar controles rigorosos para
identificá-los? Isso é na Inglaterra de 1800 ou na Europa de 2016? São refugiados ou zumbis se
pendurando no trem que atravessa o canal da Mancha? Ou derrubando portões entre Grécia e
Macedônia? Você dirá que os refugiados, à diferença dos zumbis, não mordem. Eu concordo com
você, mas não sei se os europeus concordam conosco. Primeiro, é sempre difícil fazer a diferença
entre os que querem entrar para participar do baile e aqueles que, ressentidos, querem acabar
mesmo com a festa. Segundo, faz 1500 anos que os europeus se defendem de zumbis de todo tipo,
e a memória coletiva é um tipo de herança genética - ela age em nós, mesmo que a ignoremos.
CALLIGARIS, Contardo. Orgulho, preconceito e zumbis. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2016/03/1745699-orgulho-preconceito-e-zumbis.shtml>. Acesso em: 08
mar. 2016.

22
Com base na leitura da coletânea, elabore uma proposta de dissertação, conforme as orientações
a seguir, em que se discuta a questão-tema abaixo:

Rejeição aos refugiados: precaução, xenofobia ou falta de humanidade?

Este tema explora uma questão acerca da rejeição aos refugiados. Assim, um fato importante a ser
mencionado é a rejeição dos europeus em relação aos refugiados sírios. O texto II, por exemplo,
apresenta uma informação significativa sobre essa situação: o homem é livre, mas também é
responsável por suas escolhas. Nesse sentido, cabe argumentar que, apesar das justificativas que
muitos podem dar para não querer abrigar esses novos imigrantes, os europeus terão de se
responsabilizar por suas decisões.

Enem PPL (2012)


A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao
longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua
portuguesa sobre o tema “O GRUPO FORTALECE O INDIVÍDUO?”. Apresente proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

TEXTO I

Nasce um grande movimento

A Associação dos Funcionários de Bancos de São Paulo teve seu estatuto aprovado em 16 de abril
de 1923, em assembleia da qual participaram 84 bancários. A preocupação inicial era credenciar os
bancários à entidade e criar uma identidade da categoria, até então integrada aos comerciários.
Menos de 10 anos depois, aconteceu a primeira greve de bancários da história, iniciada em Santos,
em 18 de abril de 1932. Eram os funcionários do Banespa, que reindicavam melhorias salariais e
das condições sanitárias — havia grande incidência de tuberculose à época. Essa greve foi vitoriosa;
entretanto, a conquista que marcou a década de 30 foi a redução da jornada de trabalho para seis
horas, em novembro de 1933. A Associação passou a chamar-se Sindicato dos Bancários de São
Paulo.

23
TEXTO II

Corinthians Campeão da Libertadores — Jorge Henrique: ‘O grupo é maravilhoso’

Contendo as lágrimas após o término da final da Libertadores, Jorge Henrique falou primeiro sobre
a Fiel. “Eu sei que essa nação me ama pelo que faço em campo”, disse o atacante emocionado.
Mostrando a união, o camisa 23 elogiou a equipe. O grupo é maravilhoso, humilde, não tem estrela.
Fomos conquistando nosso espaço”, disse o corintiano.
Disponível em: www.mennel.com.br. Acesso em: 19 jul. 2012. (adaptado)

TEXTO III

Marcha das vadias

A 2ª edição brasileira da Marcha das Vadias aconteceu simultaneamente em 14 cidades do país,


entre elas São Paulo (SP), Florianópolis (SC), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF),
Recife (PE), Salvador (BA) e Natal (RN). Além de chamar a atenção aos diversos tipos de violência
sofridos pelas mulheres — verbal, física ou sexual —, a mobilização pretende combater a
responsabilização das vítimas pela violência sofrida e ressaltar os direitos do sexo feminino.
A manifestação é inspirada no movimento mundial intitulado “Slut WaIk”, criado em abril do ano
passado, após um oficial da polícia de Toronto, no Canadá, dizer que, para evitar estupros, as
mulheres deveriam deixar de se vestir como vadias”.
Disponível em: http://noticias.uol.com.br. Acesso em: 19 jul. 2012. (adaptado)

Os três textos motivadores acompanham a solicitação de um texto dissertativo que responda à


pergunta “O grupo fortalece o indivíduo?”. O primeiro texto apresenta o histórico do Sindicato dos
Bancários, destacando as sucessivas vitórias do grupo ao longo do tempo, como melhorias
salariais, condições sanitárias e a redução da jornada de trabalho para seis horas. No segundo, dá-
se conhecimento das declarações de um jogador de futebol que, logo após reconhecer a valorização
que os brasileiros dão ao seu trabalho, destaca a importância da unidade do grupo, atribuindo a
vitória ao trabalho desenvolvido por todos ao longo da jornada. No último, informa-se sobre
movimentos que alertam sobre os mais diversos tipos de violência a que a mulher é sujeita e que
se articularam recentemente não só no Brasil como também em outros países.

Dessa forma, para comprovar a opinião de que o grupo fortalece o indivíduo, era possível mencionar
a importância de movimentos políticos brasileiros, como as “Diretas Já”, em 1984, e o movimento
dos “Caras pintadas”, movimento estudantil que teve como objetivo principal o impeachment do
presidente do Brasil na época, Fernando Collor de Melo. Outra possibilidade seria pertinente,
também, abordar a realização de fóruns mundiais que reúnem lideranças empresariais, políticos e
pesquisadores para a troca de experiências sobre a gestão econômica, ambiental e social. E, por
que não mencionar, também, movimentos sociais realizados no exterior como os “coletes
amarelos”, que você aprendeu neste material?

24
A nova corrida espacial

Quem está a fim de fazer um turismo espacial?


Desde a ida do homem à lua, em 1969, o que não falta são produções cinematográficas, pesquisas,
livros e planos de viagem para o espaço sideral. Já imaginou poder dar um rolê em Marte ou dar
uma passadinha na lua? Bom, já adianto que o projeto não está tão distante assim com a nova
corrida espacial. Apesar de União Soviética e Estados Unidos terem liderado a primeira fase dessa
corrida para o espaço, atualmente, ela ganhou a presença massiva da iniciativa privada.

Apesar da liderança atual das empresas com relação a nova corrida espacial, isso não quer dizer
que as questões políticas foram deixadas de lado, muito pelo contrário. Os novos projetos de levar
pessoas em larga escala para espaço, incluem, inclusive, a moradia humana nesses locais e a
exploração de recursos minerais. Para quem gosta de ficção científica, isso não é nenhuma
novidade, mas a ideia de colonizar o espaço pode ser beeeem problemática.

Vamos juntos entender que rolê é esse?!

Como começou?
A Guerra Fria ficou marcada por uma longa disputa sem conflitos diretos entre as ideologias do
capitalismo e do socialismo, entre os anos de 1946 e 1991, representados por Estados Unidos e
União Soviética, respectivamente. Entretanto, apesar das disputas diretas não terem acontecido, de
forma indireta os dois países disputaram ano após anos a conquista de zonas de influência, o
desenvolvimento de tecnologias, as medalhas olímpicas e, até mesmo, a conquista do espaço.

Essa busca pelo domínio do espaço sideral não era apenas um capricho desses países, em um
momento no qual a rivalidade entre dois projetos de mundo completamente distintos estava em
vigor, tal corrida servia como propaganda da superioridade tecnológica e bélica dos seus blocos.

A Alemanha nazista já realizava na década de 1940 experimentos com lançamentos de foguetes e


mísseis, portanto, ao fim da guerra, apesar do julgamento e condenação de muitos nazistas, os
principais cientistas do país foram repatriados pelos E.U.A e pela União Soviética e passaram a
trabalhar em institutos militares e aeroespaciais das duas potências. O engenheiro alemão Wernher

25
Von Braun, por exemplo, foi fundamental na construção de mísseis balísticos e na criação do
programa espacial americano. A contribuição desses cientistas e a corrida pela construção de
armas potentes, assim, influenciou no próprio desejo de alcançar e conquistar o espaço.

No dia 4 de outubro de 1957, a URSS deu a largada para a corrida com o lançamento do satélite
Sputnik I, que foi um modelo de teste programado apenas para transmitir um sinal de rádio. A partir
desse lançamento, a URSS durante a década de 1950 manteve a dianteira na corrida, lançando em
1957 o Sputnik II, tripulado pela cadela Laika e, em 12 de abril de 1961, surpreendeu o mundo
enviando o primeiro homem ao espaço, o astronauta Yuri Gagarin, na Vostok I.

Buscando correr atrás da União Soviética nessa disputa, os Estados Unidos passaram a investir
pesado na produção de estudos e tecnologias que possibilitassem o desenvolvimento do programa
espacial do país. Assim, uma das principais ações para chegar a tal fim foi o investimento na
educação e na pesquisa científica como forma de fortalecer os seus projetos para alcançar o
espaço.

Pelo lado americano, o primeiro satélite enviado foi em 1958, o Explorer I, a partir dele, uma série de
outros satélites foram lançados e uma agência espacial foi criada para continuar as pesquisas e o
desenvolvimento de tecnologias, a NASA (1959).

O envio do primeiro satélite americano contou com a criação da ARPA - Advanced Research Projects
Agency (Agência para Projetos Avançados de Pesquisa), que era uma organização voltada para os
estudos sobre a utilização da tecnologia espacial na área militar. Guerra Fria, né?! A partir de então,
os satélites passaram a ganhar novos objetivos, como mapeamento de regiões, espionagem,
comunicação e outras funções.

Mas o ponto de chegada, definido por John F. Kennedy em 1961 como o solo lunar, até então, não
havia sido alcançado. Apenas no dia 20 de julho de 1969 que a missão americana Apollo 11,
tripulada pelos astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin, enfim pousou na lua, fazendo com que
os norte-americanos se tornassem os primeiros homens na história a caminharem sobre o solo
lunar.

A disputa entre URSS e EUA só chegou ao fim, em 1975, quando os dois países fizeram uma
operação espacial em conjunto, selando um momento de relativa paz entre os dois blocos. A missão
Apollo-Soyuz aconteceu no dia 17 de julho de 1975 e foi parte de um serie de esforços entre os dois
países par selar uma iniciativa de controle na produção dos armamentos nucleares e no estímulo
cooperação internacional para os estudos no espaço.

26
Os astronautas americanos e soviéticos que participaram da missão Apollo-Soyuz. Disponível em:
https://br.sputniknews.com/mundo/201707158876845-cooperacao-ussr-eua-missao-apollo-soyuz/

Diante te todo investimento em estudos científicos, as inovações saíram do campo espacial e


chegaram no cotidiano das pessoas. A própria ARPA, organização militar que citamos ali em cima,
foi a responsável por criar uma das primeiras redes de computadores do mundo, a ARPAnet, em
1969, e a rede que deu fundamento para a criação da base técnica da internet. Assim, a organização
era a responsável por pegar as tecnologias que eram criadas para o espaço sideral e promover
formas de torná-las viáveis dentro de outras áreas e em outras pesquisas cientificas. Dentre as
invenções que teriam surgido como um resultado das pesquisas da corrida espacial, estaria
também, a câmera de celular.

As mãos bilionárias do novo rolê


Apesar de ter chegado ao fim por volta de 1975, uma nova corrida espacial teve início recentemente
com o ressurgimento de interesses que, pelo visto, não estavam apenas nas telinhas. Para quem
via os filmes de ficção científica criando cenários utópicos com carros voadores, seres humanos
viajando de forma fácil e acessível para o espaço, utilização do teletransporte e o surgimento de
robôs, apesar de nem tudo ter sido posto em prática, sabe que algumas dessas invenções se
tornaram super possíveis graças ao desenvolvimento e investimento em pesquisa.

Pega a visão: para geração Z, que já nasceu com internet e cheio das tecnologias e quer saber o
que era imaginado para o século XXI, dá uma olhada nessa reportagem aqui. Cringe? Talvez.

Conhecido como NewSpace, a nova corrida espacial conta com projetos privados de exploração do
espaço sideral. Os panos incluem desde o turismo pela orbita da terra, a exploração de recursos
minerais, a construção de hotéis, até a colonização definitiva desse espaço. Entre os principais
líderes dessas propostas estão Jeff Bezos, Richard Branson e Elon Musk.

Jeff Bezos é fundador da Amazon e dono da empresa Blue Origin, que investe na corrida espacial
com o intuito de diminuir o valor das viagens espaciais e tornar possível o envio de turistas para o
espaço sideral. Além disso, um dos ramos de atuação do homem mais rico do mundo é a produção

27
de foguetes reutilizáveis, já que antigamente eles só podiam ser usados uma única vez, o que acaba
tornando o custo das viagens maior.

Bezos ainda inclui no seu projeto para o espaço a possibilidade de criar assentamentos humanos
de forma permanente na Lua. Outro ponto importante dos seus planos, é a transferência futura de
indústrias poluentes para Marte na tentativa de livrar a terra de um provável, e próximo, colapso
ambiental. Com a Blue Origin, o magnata pretende começar a vender passagens para quem quer
dar uma volta na órbita terrestre que custam em torno de US$ 300 mil por cada pessoa, o que daria
em torno R$ 1.605.000,00 de reais. Tá passada?!

Elon Musk, dono da SpaceX e um dos fundadores da empresa PayPal, também tem a intensão de
promover viagens comerciais ao espaço, mas o grande projeto do empresário está ligado a
colonização de Marte. A sua empresa de viagem espacial já fechou contrato com a Nasa e já lançou
uma serie de foguetes, nem sempre com sucesso, mas o importante é começar, né?!

Além disso, a SpaceX foi a primeira empresa privada a transportar mantimentos para a Estação
Espacial Internacional. Recentemente, a empresa de Musk também foi a escolhida pela NASA para
construir a espaçonave da nova missão americana que pretende levar os astronautas a Lua em
2024. Vale ressaltar que essa é a primeira vez, desde 1972, que o homem vai pisar no solo lunar.
Musk e Bezos vivem em um clima de disputa constante em torno da consolidação de suas
empresas como referência na promoção de viagens espaciais.

Richard Branson, dono da Virgin Galactic, também tem pretensão de promover o turismo espacial.
Mas diferente dos outros, a empresa de Branson já enviou três passageiros para além da fronteira
do espaço. Suas viagens custam em torno de US$ 250 mil por pessoa, um pouco mais barato do
que viajar com o Bezos, já da pra dar aquela economizada. Além disso, entre as suas ambições
também está a construção de aviões espaciais que poderão ser utilizados para transportar cargas
pelo espaço suborbital.

Jeff Bezos, Richard Branson e Elon Musk, respectivamente. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-
45973176

É importante pontuar que quando falamos dos investimentos privados não quer dizer que os
Estados não estejam agindo em conjunto, porque estão. Inclusive, desde a primeira corrida espacial,

28
a inciativa privada, especialmente no caso do bloco capitalista, foi um aliado na fabricação de
tecnologia e aporte financeiro para os governos. O que queremos dizer é que eles agora são os
grandes cabeças, e o bolso também né?!, de propostas de intervenção no espaço sideral.

Ah, uma coisa bem importante e que para muitos cientistas políticos também está fazendo crescer
esse movimento é o fortalecimento tecnológico de Estados como Emirados Árabes, China e Índia,
que também passaram a empreender missões espaciais, que contam com envio de satélites a lua
e a visita a Marte. Por trás desses projetos governamentais estariam uma demonstração de força
política, tecnológica e bélica.

Pega a visão: apesar de a ciência e a pesquisa serem super desvalorizada no Brasil, o país não está
tão atrás assim! Foi lançado, em março de 2021, o primeiro satélite totalmente brasileiro, o
Amazônia 1. Além disso, o país tem duas bases de lançamentos de foguetes, o Centro de
Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, e o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno
(CLBI), em Natal.

O espaço é terra sem lei?


Mas o que está por trás de toda essa vontade de fazer viagens para o espaço? Como será feita essa
regulamentação? O que pode ou o que não poder ser feito no espaço? Alguém pode declarar como
seu algum planeta? O que será feito com o lixo espacial?

Especialistas ainda apontam para uma questão muito importante, ainda não se sabe muito bem
quais outras formas de vida existem nos outros planetas, portanto, como explorar sem lesar aquilo
que não se conhece? São pontos que vem levantando discussões importantes entre os países que
já iniciaram seus planos de exploração, especialmente, porque o espaço não é uma terra sem lei.

Em 1967, foi assinado o Tratado do Espaço Sideral, por Estados Unidos e União Soviética, que
definiram que o espaço era um ambiente de cooperação internacional, em que cada país poderia
enviar seus representantes para produzir estudos no local. Além disso, o acordo ainda previa a
proibição da instalação de armamentos nucleares no espaço e estabelecia que nenhum país
poderia reivindicar soberania sobre nenhum dos componentes do território. Até o ano de 2020, 110
países haviam assinado o tratado, que tem dentre as suas definições os seguintes itens:

• As nações não podem fazer reivindicações territoriais sobre o espaço sideral.


• A Lua e outros corpos celestes serão usados exclusivamente para fins pacíficos.
• Os astronautas são os enviados de toda a humanidade.
• Os países são responsáveis por suas atividades espaciais nacionais, quer sejam realizadas por
entidades governamentais ou não governamentais.
• Os países são responsáveis pelos danos causados por seus objetos espaciais.
• Os países devem evitar a contaminação nociva do espaço e dos corpos celestes.
Disponível em: https://share.america.gov/pt-br/owns-moon-doon-day-america/

29
Apesar dessas definições do tratado, recentemente, os Estados Unidos e outros sete países,
Austrália, Canadá, Itália, Japão, Luxemburgo, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, assinaram os
“acordos de Artemisa”. O plano Artemisa se propõe a ser uma das missões espaciais para a Lua
mais diversas até o presente momento com o envio da primeira mulher para o local, por exemplo.
Contudo, o plano também contempla a possibilidade de explorar comercialmente e extrair recursos
do solo lunar. Essa brecha no Tratado do Espaço Sideral dá a possibilidade de os países
reivindicarem a propriedade sobre os recursos explorados na Lua, com a criação de zonas seguras.

Uma das grandes questões em torno do ambicioso plano, é que outros potências consideradas
“rivais” dos Estados Unidos, como Rússia e China, ficaram de fora. A China, inclusive, é um dos
grandes oponentes dos Estados Unidos nesse momento no espaço, já que vem investindo pesado
no seu programa espacial e já fez história ao se tornar a primeira a pousar no lado oposto da Lua.
Tais questões em torno desse novo acordo já apontam uma possível confusão nessa futura
exploração dos recursos lunares.

Mas, e você? Toparia fazer turismo espacial?

Indicação é bom e todo mundo gosta: segue uma listinha de filmes com a temática da corrida
espacial ou da vida no espaço sideral para você já ir se imaginando por lá 😉

• Estrelas Além do Tempo (2016)


• Wall-E (2008)
• Gravidade (2013)
• Contato (1997)
• Gagarin: First in Space (2014)

Como contextualizar essas informações na redação?


O tema sobre “corrida espacial” nos faz pensar muito sobre os avanços tecnológicos e sobre como
o desenvolvimento da ciência e da tecnologia está atrelado ao desenvolvimento dos povos.

Para garantir um espaço em eventos tão importantes como esse, é necessário que haja bastante
investimento em pesquisa e educação, não é mesmo? Não é por menos que os países mais “ricos”
são, quase sempre, os pioneiros em assuntos que envolvem desenvolvimento tecnológico:
sustentabilidade, internet, sistema de transporte, entre outros. E, é claro, que explorar o espaço está
dentro dessa lista.

Isso nos faz, então, pensar sobre a tecnologia e o seu impacto na democracia. Que tal escrever um
texto sobre isso? Algumas referências, além da própria corrida espacial, foram trazidas neste
material: o filme “Wall-E”, por exemplo, é uma ótima referência para falar sobre a questão do lixo.

30
Veja a charge e o texto a seguir que te ajudarão a escrever sobre o tema “A tecnologia e o seu
impacto na democracia”.

Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=charges+sobre+globaliza%C3%A7%C3%A3o&

O conceito de democracia, "coisa do povo" (surgido na Grécia Antiga), onde as pessoas têm
liberdade para escolher seus governantes, permanece até hoje. Porém, com a evolução da internet
e dos meios comunicacionais, os tempos mudaram e a democracia reconfigurou-se, como no caso
do termo ciberdemocracia.
Com os avanços tecnológicos, o panorama da sociedade democrática vem se atualizando e
fazendo com que mais pessoas sejam inseridas nesse diálogo. Mas afinal, o que é
ciberdemocracia? Ciberdemocracia, também conhecida como democracia virtual, é um meio de
permitir a interação entre o público e os assuntos da democracia. Uma espécie de facilitador dos
diálogos entre o cidadão e o Estado com o uso da internet. Essa conexão com o poder público
através das tecnologias só tende a aumentar a participação popular nas decisões locais e
nacionais.
Pierre Lévy afirma que "os destinos da democracia e do ciberespaço estão amplamente ligados".
A partir dessa lógica, entra a deliberação online, em que discutimos as práticas online que são
bases para a relação governo e sociedade. Pensando nisso, encontramos o exemplo da empresa
Webcitizen. Fundada pelo publicitário mineiro Fernando Barreto (foto), desenvolve sistemas
especializados em engajamento cívico pela internet. A empresa criou a plataforma Vote na Web
que armazena utilizando-se de um layout convidativo os projetos de lei em votação no Senado e
na Câmara.
Disponível em: https://emprenologia.wordpress.com/2014/05/23/quando-a-tecnologia-esta-afavor-da-democracia/ Acesso em
13 fevereiro 2017.

31
Atualidades Brasil

Brasil e o risco de uma crise energética

O potencial energético brasileiro


A grande dimensão territorial do Brasil, a disponibilidade de solos agricultáveis e a sua localização
na zona intertropical fazem com que o país tenha um grande potencial de geração de energias
renováveis, como a hidrelétrica, eólica, biomassa e solar. Tal potencial não é desperdiçado e o Brasil
possui uma matriz energética significativamente mais limpa que os outros países, além de uma
infraestrutura em escala nacional de transmissão de energia, denominada Sistema Interligado
Nacional (SIN).
Matriz elétrica brasileira 2020

Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional – BEN 2021. Disponível em: https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-
abertos/publicacoes/balanco-energetico-nacional-2021

O Sistema Interligado Nacional é operado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que é
regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), subordinada ao Ministério de Minas e
Energia (MME). É constituído por quatro subsistemas regionais e propicia a transferência de energia
entre todo o Brasil.

32
Mapa do Sistema Interligado Nacional, operado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico

Mapa do Sistema de Transmissão - Horizonte 2024. Disponível em: http://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-sin/mapas

Crise hídrica e energética


Mesmo assim, o país, infelizmente, está sujeito a uma crise energética em 2021, devido a uma crise
hídrica que afeta a geração de energia, especialmente no Sudeste. A adoção da bandeira vermelha
patamar 2 no custo de geração de energia já é um sinal da grave situação em que se encontra o
país. Essa bandeira é acionada quando é necessário gerar energia elétrica de outras fontes, como
a termelétrica, para complementar a disponibilidade de energia no país. As termelétricas geram
eletricidade a partir da queima de combustíveis fósseis, o que resulta em um custo mais elevado. A
adoção do sistema de bandeiras possibilita repassar esse valor para o consumidor e, por isso, é
comum observarmos essa variação no preço de energia nas nossas contas.

33
Tal mudança ocorreu após o anúncio pelo Sistema Interligado Nacional de que as principais bacias
hidrográficas do país em geração de energia se encontram em um período de seca. O mês de junho
começou com os principais reservatórios em níveis mais baixos que o normal para esta época do
ano, o que indica redução na geração de energia nas usinas hidrelétricas. No dia 28 de maio, o
governo publicou um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco
estados brasileiros: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. A informação foi
divulgada em conjunto pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), pela Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA) e pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden), reforçando que a escassez de precipitação na região pode levar a
uma crise hídrica e energética.

Causas da crise hídrica de 2021


Segundo informações do SNM, o menor volume de precipitação na Bacia do Paraná está associado
a dois fenômenos atmosféricos de grande escala. O primeiro é a La Niña, que provoca uma queda
na temperatura superficial das águas no Oceano Pacífico Equatorial, alterando a dinâmica
atmosférica global e reduzindo as chuvas no Sul do Brasil. O segundo fenômeno responsável é a
Oscilação Antártica (OA), que altera os níveis de pressão atmosférica na região, diminuindo a
atuação de frentes frias no território brasileiro, outro sistema responsável pela formação de chuvas
no país. Assim, existem dois sistemas que contribuem para uma menor precipitação na região.

Imagem aérea do nível da represa da Hidrelétrica de Marimbondo, em Guaraci, interior de São Paulo

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2021/06/01/crise-hidrica-no-brasil-veja-em-imagens-como-a-seca-afeta-cenario-de-
represa

34
Outras crises
O Brasil já passou por uma grave crise energética no início do século XXI, precisamente no ano de
2001. A população brasileira foi obrigada a mudar seus hábitos de consumo de energia naquele
período, devido ao risco iminente de apagões. Naquele ano, os níveis dos reservatórios das
hidrelétricas também estavam baixos devido à escassez de chuvas. Porém, o país não contava com
o Sistema Interligado Nacional e não conseguia remanejar a energia, por isso, era necessário mudar
os hábitos da população, mesmo que de forma forçada, para que parte do país não ficasse sem
energia, o que afetaria ainda mais o crescimento econômico.

Uma das medidas impostas à população foi a redução em 20% do consumo de eletricidade, caso
contrário, haveria um aumento na conta de energia ou ela seria cortada, caso essa redução não
ocorresse. Foram incentivados, também, a troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas
fluorescentes, bem como o desligamento de eletrodomésticos, como geladeiras, televisões e outros
equipamentos.

Nova realidade. Em vários pontos do país, famílias passaram a assistir à TV no escuro

Fonte: https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/a-crise-do-apagao-em-20012002-21350335

Mais recentemente, em 2014 e 2015, parte do Brasil também passou por uma crise hídrica que
afetou o abastecimento de água no Sudeste. Essa crise não se traduziu em um problema energético
diretamente, mas forçou a população, especialmente de São Paulo, a mudar seus hábitos de
consumo de água, além de passar por um período de racionamento na oferta de água. Na época, o
Sistema Cantareira, em São Paulo, sofreu intensamente com a estiagem. Esse sistema é
responsável por levar água a mais de 9 milhões de pessoas, porém, seu volume útil se esgotou em
2014, afetando o abastecimento e forçando o racionamento. O volume só voltou a se normalizar
em 2016. Entre as consequências dessa crise, é possível destacar a redução da oferta de alimentos

35
e de água para a população e o aumento no custo do frete, devido ao menor transporte de cargas
pelas hidrovias da região.

Um dos reservatórios do Sistema Cantareira completamente seco

Fonte: https://www.defesanet.com.br/crise/noticia/16535/Crise-da-Agua----Seca-ameaca-40-milhoes-de-pessoas/

Soluções para a crise de 2021?


A redução da vazão de duas usinas no Rio Paraná foi uma das medidas emergenciais já adotadas
pelo governo para prevenir o risco de racionamento no futuro. Porém, tal ação prejudica a
navegabilidade da Hidrovia Tietê-Paraná, importante corredor logístico para o escoamento de grãos,
cana-de-açúcar e materiais de construção civil. Assim, é possível esperar um aumento no preço
nesses produtos, devido à necessidade de transporte por caminhão, o que contribuirá para um
aumento ainda maior da inflação.

Outra ação ainda em desenvolvimento é a publicação de uma medida provisória que cria as
condições de racionamento de energia. Os documentos do governo revelam a intenção de criar um
comitê de crise que terá o poder de adotar medidas como a redução obrigatória do consumo e a
contratação emergencial de termelétricas – mesmas medidas adotadas em 2001, quando a
população e as empresas foram obrigadas a diminuir a carga em 20% para evitar o apagão.

36
Por fim, duas alternativas restantes para impedir um apagão seriam pedir que a população comece
a racionar energia em uma campanha voluntária de economia e aumentar as importações de
eletricidade da Argentina e do Uruguai. Porém, tudo isso tem um custo político, que o governo não
necessariamente está interessado em arcar.

Como contextualizar essas informações na redação?


Como visto no material, o Brasil está sujeito a uma crise energética no ano de 2021. No entanto, o
nosso país já foi palco de outras crises – tal como a hídrica – em outros momentos, além da
questão da seca que é um problema recorrente na história. Esses fatos fazem parte tanto da
história, quanto da atualidade brasileira e, por esse motivo, já foi cobrado em algumas provas de
redação. Veja abaixo:

USF (2016)
Com base nos textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija um artigo de opinião em que você discuta: “O cenário da crise hídrica, suas implicações
econômico-sociais e de saúde”. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

TEXTO I
À medida que as populações e as atividades econômicas crescem, muitos países atingem
rapidamente condições de escassez de água ou se defrontam com limites para o desenvolvimento
econômico. A demanda de água aumenta rapidamente, com 70 − 80% exigidos para a irrigação,
menos de 20% para a indústria, e apenas 6% para consumo doméstico. O manejo holístico da água
doce como um recurso finito e vulnerável e a integração de planos e programas hídricos setoriais
aos planos econômicos e sociais nacionais foram medidas de importância fundamental para a
década de 1990 e o são também para o futuro.
Há poucas regiões no mundo ainda livres dos problemas da perda de fontes potenciais de água
doce, da degradação na qualidade da água e da poluição das fontes de superfície e subterrâneas.
Os problemas mais graves que afetam a qualidade da água de rios e lagos decorrem, em ordem
variável de importância, segundo as diferentes situações, de esgotos domésticos tratados de forma
inadequada, de controles inadequados dos efluentes industriais, da perda e destruição das bacias
de captação, da localização errônea de unidades industriais, do desmatamento, da agricultura
migratória sem controle e de práticas agrícolas deficientes. Os ecossistemas aquáticos são
perturbados, e as fontes vivas de água doce estão ameaçadas.
Nos últimos 60 anos, a população mundial duplicou, enquanto o consumo de água multiplicou-se
por sete. Considerando que, da água existente no planeta, 97% são salgadas (mares e oceanos), e
que 2% formam geleiras inacessíveis, resta apenas 1% de água doce, armazenada em lençóis
subterrâneos, rios e lagos, distribuídos desigualmente pela Terra. O Brasil detém 8% de toda essa

37
reserva de água, sendo que 80% da água doce do país encontram-se na região Amazônica, ficando
os restantes 20% circunscritos ao abastecimento das áreas do território brasileiro onde se
concentram 95% da população.
Estima-se que, no início deste século, mais da metade da população mundial viverá em zonas
urbanas. Até o ano 2025, essa proporção chegará aos 60%, compreendendo cerca de 5 bilhões de
pessoas. O crescimento rápido da população urbana e da industrialização está submetendo a
graves pressões os recursos hídricos e a capacidade de proteção ambiental de muitas cidades.
Uma alta proporção de grandes aglomerações urbanas está localizada em torno de estuários e em
zonas costeiras.
Disponível em: < http://www.rsp.fsp.usp.br/revista-saude-publica/2002>. Acesso em: 08/10/2015, às 17h (excerto).

TEXTO II
O papel do consumidor

“Quando consumimos qualquer coisa, estamos legitimando toda a cadeia de produção daquela
fabricante, mesmo que não seja conscientemente”, enfatiza Renata de Souza Leão, pesquisadora
do Centro de Estudos e Acompanhamento em Governança Socioambiental do Instituto de Energia
e Ambiente da Universidade de São Paulo (GovAmb/IEE/USP).
Em estudos feitos para sua tese de doutorado, Renata diagnosticou que a água é o tema da vez.
“As empresas já entenderam a questão do carbono e agora transferiram o interesse para a água.
Hoje o recurso já não é mais visto como um simples insumo”, afirma. Mas a pesquisadora alerta
que não há altruísmo nisso. As empresas querem evitar riscos a que se consideram cada vez mais
expostas: físicos (de restrição ou desabastecimento de água), regulatórios (alteração/restrição de
outorga), financeiros (multas) e de reputação (ter a marca associada à contaminação ou grande
consumo de água).
Por meio da pegada hídrica e de outros estudos, como o de serviços sistêmicos (em que a natureza
é entendida como fornecedora de serviços essenciais ao funcionamento das empresas), o mundo
corporativo está descobrindo os custos de produção associados à água – assim como o valor de
adotar estratégias e tecnologia para produzir mais com menos recursos hídricos. “Como a água é
um bem público, as empresas estão lucrando a partir dela sem prestar contas à sociedade. Mas já
vemos iniciativas, que vão além da legislação entre bancos de investimento, que começam a exigir
mais engajamento em relação aos recursos hídricos”, diz Renata.

38
TEXTO III
Os casos de diarreia aguda tiveram um aumento importante no Estado de São Paulo em 2014,
associado à crise hídrica. A avaliação é do próprio Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), órgão
da Secretaria Estadual de Saúde, ligado ao Governo Geraldo Alckmin (PSDB). O centro qualificou
2014 como um ano “hiperepidêmico”, após uma análise detalhada, embora preliminar, das
notificações de surtos da doença. O órgão associa o evidente aumento de casos comunicados –
quase 35.000 em algumas semanas de fevereiro, março e setembro – aos problemas de
abastecimento de água que ainda afetam toda a região metropolitana e várias cidades do interior.
“A crise hídrica escancara problemas que não são novos em relação à água e ao saneamento em
São Paulo e no Brasil”, considera o estudo.
Na série histórica dos seis anos anteriores à crise, 2008 a 2013, a média do Estado mostra que o
número de casos se situava entre 15.000 e 20.000, nunca superando os 25.000. Nessa série,
setembro aparece sempre como um mês crítico e registra o maior número de notificações anuais,
superando um pouco mais de 20.000.
Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/10/politica/1436557827_946009.html>. Acesso em: 08/10/2015, às 18h
(excerto).

39
TEXTO IV

De acordo com os textos de apoio, o candidato poderia comentar sobre algumas questões acerca
da crise hídrica e os efeitos econômicos-sociais para a sociedade. O primeiro texto informa o
impacto do desenvolvimento industrial e da agricultura mecanizada em grande escala no uso da
água. Dessa forma, o crescimento das cidades e da população urbana também é um fator a ser
analisado, tanto na questão do consumo quanto da degradação de rios e córregos por meio da
poluição com esgotos e dejetos da produção industrial. Cabe discorrer também sobre a distribuição
desigual de fontes de água para consumo no planeta e sobre as consequências das grandes obras
de abastecimento para o meio ambiente. Além disso, em relação ao segundo texto, o candidato
também poderia argumentar sobre a necessidade de consumo consciente, que, além de evitar
desperdícios, promove uma maior consciência social a respeito do assunto, seja para os
consumidores domésticos, seja para o mundo empresarial. Cabe apontar também, como alertado
pelo terceiro texto, as doenças relacionadas à escassez de água e à falta de saneamento. E, por fim,
vale salientar que o problema da crise hídrica é muito mais do que uma questão pontual, já que
diversas regiões do país, como bem mostra a charge do último texto, são historicamente marcadas
pela seca, embora muito pouco tenha sido feito para sanar seus efeitos.

Enem (2ª aplicação – 2014)


PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao
longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua
portuguesa sobre o tema “Alternativas para a escassez de água no Brasil”, apresentando proposta
de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente
e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

40
TEXTO I

TEXTO II
“Nós não combatemos a seca, nós convivemos com ela”
Alguns milhares de quilômetros longe de São Paulo e outros milhões de litros mais seco está o
semiárido nordestino. Há dez anos, quase a totalidade dos 22 milhões de habitantes dessa região
ia dormir com sede.
Partiu-se de uma realidade na qual a falta de água é uma realidade histórica. Há famílias que bebem
água do barreiro. Para esses povos do semiárido, a água é um bem precioso. Mulheres chegam a
caminhar 15 quilômetros para conseguir uma lata d’água.
Disponível em: http://revistaforum.com.br (adaptado).

TEXTO III
Sudeste pode ‘aprender com Nordeste a lidar com seca’
O presidente do Conselho Mundial da Água disse em entrevista à BBC Brasil que a atual crise hídrica
em São Paulo e em outras cidades do Sudeste é uma “oportunidade” para esta região do país, que
deveria se inspirar no exemplo do Nordeste para enfrentar o problema. Segundo ele, daqui em
diante, o uso mais eficiente da água e o preparo para enfrentar períodos de estiagem se tornarão
uma prioridade, assim como houve uma busca por eficiência energética e medidas capazes de
evitar a falta de energia elétrica após os apagões do início da década passada. “Em meio a essa
crise no Sudeste, ninguém fala do Nordeste. Esta região aprendeu com as crises do passado e
criaram uma infraestrutura para conseguir sobreviver a este momento difícil”.
Disponível em: http://www.bbc.co.uk (adaptado)

41
TEXTO IV

Já a tema do Enem referente às “Alternativas para a escassez de água no Brasil” questiona o aluno
sobre situações cotidianas no contexto brasileiro. A charge, que constitui o texto I, traz a imagem
de um retirante da seca em direção contrária à da placa que indica a distância de São Paulo,
sugerindo que o problema da escassez de água atinge também o espaço urbano do país. Além
disso, o segundo texto destaca o flagelo da seca no semiárido nordestino, uma constante no
cotidiano da população que já se resigna a conviver com ela e luta pela sobrevivência recorrendo
até a pontos de água insalubre e muito distantes de onde vivem.

A opinião do presidente do Conselho Mundial da Água, no texto III, indica que as cidades do Sudeste
devem preparar-se para ciclos de escassez de água, inspirando-se no modelo do Nordeste para o
uso mais eficiente desse recurso e criação de recursos para sobreviver em momentos de estiagem
e crise energética. Por fim, o mapa do Brasil destaca as áreas em que a escassez de água atinge a
população, por exemplo, cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais estão sendo mais afetadas
que o semiárido nordestino, atingindo já 24 milhões de pessoas, grande parte sem adoção de
medidas públicas que minimizassem o problema, como racionamento ou estabelecimento de
rodízio de abastecimento.

Assim, apesar do Brasil apresentar quase um quinto das reservas hídricas do mundo, a falta de
água, que afetava predominantemente a região do semiárido até há bem pouco tempo, se
transformou realidade em várias locais do país. Aumento do consumo de água devido ao
crescimento populacional, industrial e da agricultura, desperdício no cotidiano das pessoas são
algumas causas apontadas por especialistas como causas diretas do problema, apontado como
solução o uso racional de água, reuso da água, conservação das bacias hídricas, nascentes de água
e rios além de aplicação de técnicas de irrigação mais eficientes, entre outras.

42
Copa América: Brasil e futebol na atualidade
Em meio uma pandemia mundial, com magnitude nunca antes vista pelas gerações presentes, a
realização da Copa América levantou muitas polêmicas. Para além do cenário pandêmico, revelou
fragilidades dos principais orgãos institucionais que realizam os grandes eventos esportivos. É
claro que o futebol e seus torneios movimentam um setor importante da econômia mundial. A Copa
América de 2019, sediada no Brasil, rendeu ao nosso país cerva de 100 milhões de dólares ou de
500 milhões de reais de lucro. Mesmo considerando isso, vários países recusaram sediar o evento,
que acabou que está sendo realizado no Brasil. Vamos entender um pouco dos argumentos
favoráveis e contrários, além de aprofundar nas polêmicas que envolvem a realização do evento
além da pandêmia.

A respeito da realização da Copa América, o evento já vendo sendo críticas por estar sendo
realizado com frequência mais do que a prevista inicialmente pela própria CONMEBOL
(Confederação Sul-Americana de Futebol). Nos últimos 6 anos, houveram 4 edições do evento e o
previsto seria a mesma quantidade num período médio de 12 anos. A lucratividade do evento motiva
com que a instituição insista na sua ocorrência frequente, o que por um lado também faz com que
o evento perca parte do seu valor. As Copas Mundiais e grandes eventos aguardados de 4 em 4
anos agregam valor, enquanto a Copa América, no caminho oposto, realiza eventos com tanta
frequência que vem perdendo aquela expectativa para sua próxima edição.

A Copa América de 2021 nesse sentido aconteceria na Argentina e na Colômbia. Seria uma copa
com duas sedes, essa era a proposta. Porém na Argentina principalmente a camada científica e
popular realizou muitos críticas e pressão para a não realização do evento, contrarinando a vontade
do presidente. Sites de jornal apontam que 7 a cada 10 argentinos não queriam que a Copa América
acontecesse no país. Após muitas críticas, a Argentina negou sediar o evento.

Já a Colômbia por outro lado vem passando por uma grave crise política. Manifestantes vem
enfrentando enorme violência policial, num estado que tenta segurar a crise com pulsos duros. A
violência policial deixou manifestantes mortos, e mesmo em vigilia houveram novos conflitos
diretos. Nesse contexto, o país não possui condições e nem sequer clima para sediar o evento. Com
essas duas negativas, a especulação foi de que o evento seria cancelado. Porém, a CONMEBOL já
havia investido cerca de 30 milhões de dólares a essa altura da história. Ela ofereceu para países
como Chile e Estados Unidos e ambos também negaram sediar o evento. O Brasil tem batido
número recordes de mortes por COVID-19 e a situação política a nível internacional é lida como
instável. Mesmo assim, após outras tentativas a CONMEBOL consultou o Brasil sobre a
possibilidade de sediarmos o evento, e o governo aceitou.

43
Dos que argumentam que o evento deve ocorrer sim, há o pensamento de que o Brasil possui a
vantagem de já obter infraestrutura como grandes estádios para sediar o evento. Além disso,
mostraríaoms a capacidade de gestão organizadora para sediar um evento de grande porte num
prazo relativamente curto de tempo. Outro ponto muito comentado, é de que estamos realizando
outros campeonatos, inclusive internacionais como a Libertadores, desse modo, seria coerente
sediar também a Copa América.

Dos que criticam a postura do Brasil em sediar o evento, há sobretudo a ideia de que não o
momento para esse tipo de situação, Realizar o evento na visão dessas pessoas seria passar uma
mensagem que não coincide que com a realidade enfrentada por agora. Em 15 meses, o Brasil teve
meio milhão de mortos por conta da COVID. Para além disso, organismos internacionais não
recomendam a realização do evento que envolve mihares de pessoas, viagens internacionais e
aglomerações, sendo impossível controlar o risco como deveria ser feito. A ala que deseja a
realização do evento, ainda, fomenta negacionismo cientifico que o Brasil enfrenta, sendo a
informação uma importante ferramenta de poder.

Para além dos argumentos da pandemia, devemos pensar nas intencionalidades políticas para a
realização do evento. Não é de hoje que grandes eventos esportivos, sobretudo relacionados ao
futebol, são utilizados enquanto uma distração nacional, num momento delicado politicamente
onde outros acontecimentos, como a CPI da COVID estão em curso. Para além da distração, a
sensação de bem estar causada por vitórias de futebol, em anos perto de eleição podem ser
benéficas para o governo atual.

A realização do evento seria uma tentativa de aumentar a popularidade não apenas do governo
brasileiro, mas também da Confederação Brasileira de Futebol, a famosa CBF, que também vem
passando por um período politicamente delicado.
Os próprios jogadores demonstraram uma postura inédita e contrária aos interesses da CBF em
realizar o evento. Para além de um posicionamento político, em defender o respeito a pandêmia e a
não realização do evento, pelos ricos envolvidos, a decisão dos jogadores passou também pela
sobrecarga de muitos campeonatos emendados do final de 2020 até agora. Os jogadores portanto
ameaçaram não jogar, porém, o até então dirigente esportivo da CBF, Rogério Caboclo, fez um
discurso fervoroso motivando os jogadores a serem os heróis do povo que a nação precisa nesse
momento, além de ter pedido para os jogadores permanecerem uma semana sem se pronunciarem,
o que dá tempo evidentemente de novas manobras para garantir a realização do evento,
obedecendo também o interesse do governo federal. Acontece que Rogério Caboclo, assim como
os últimos dirigentes da CBF acabou sendo afastado da administração do orgão após diversas
polêmicas.O Brasil portanto se encontra sediando uma Copa cujo presidente e idealizador do
projeto foi afastado, o que tempera o enredo já grave da situação do COVID que enfrentamos hoje.

44
O contexto de enfraquecimento da CBF é tão real, que clubes da série A do Campeonato Brasileiro,
os principais clubes do Brasil da primeira divisão, se reuniram com a proposta de um novo
campeonato brasileiro sem a participação da CBF. A crise política gigante dentro da CBF portanto
não deu conta de garantir o acontecimento da Copa América como essa tentativa de levante na
moral da instituição e distração popular sobre os problemas que estamos enfrentando. Antes
mesmo do início oficial da Copa, já eistem mais de 65 casos confirmados de trabalhadores
envolvidos na organização do evento. O futebol, é utilizado historicamente equanto uma ferramenta
de aproximação com o povo. Será que o governo vai dar conta de guiar isso de uma forma segura
e que funcione no seu próposito de propaganda governamental e satisfação popular?

Como contextualizar essas informações na redação?


A realização da Copa América, em meio à pandemia de Covid, foi um dos temas mais comentados
nas redes. Muitos perfis jornalísticos, internautas, pessoas públicas e, até mesmo, os jogadores se
posicionaram contra a situação por meio das mídias sociais.

Tal fato nos faz pensar o quanto é importante que utilizemos a internet como espaço de
reivindicações e ativismo, já que esse veículo tem um potencial de alcance muito grande.

Algumas questões, no entanto, devem ser levadas em consideração, tais como a cultura do
cancelamento, o discurso de ódio e o anonimato.

Refletindo sobre esses pontos, que tal escrever um texto sobre esse assunto? É claro que o cenário
da Copa América pode ser abordado como exemplo nesse tema.

Proposta de redação
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “O ativismo digital como meio de participação na sociedade
contemporânea” apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.

45
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.

TEXTO I
Recentemente, fãs de k-pop e usuários da rede social TikTok se juntaram numa ação on-line para
boicotar o comício do presidente Donald Trump na cidade de Tulsa. Os ativistas coordenaram uma
campanha on-line para se inscreverem massivamente no evento sem a intenção de ir e,
consequentemente, esvaziá-lo. Os fãs da música pop sul-coreana também agiram durante os
protestos da #BlackLivesMatter e inundaram o aplicativo da polícia de Dallas, no Texas, com fotos
e vídeos de seus ídolos a fim de dificultar as denúncias de supostos atos de vandalismo cometidos
por manifestantes. Essas movimentações on-line constituem um novo tipo de ativismo, que é
transformador e usar a internet para impulsionar protestos e alcançar grande adesão.
Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/ativismo-digital-e-novo-tipo-de-participacao-e-transformacao-politica/

TEXTO II
Nunca uma revolução brilhou tanto. Graças às redes sociais e aos smartphones, o espírito da
Primavera Árabe varreu o Oriente Médio e contribuiu para derrubar ditaduras. Desde então, a contra-
ofensiva digital de Estados autoritários silenciou muitos ativistas. Naquela época, por não ser capaz
de dominar essas ferramentas, os regimes do Norte da África e do Oriente Médio foram
surpreendidos com a velocidade com que se espalhou o fervor dessas revoltas populares na
internet. Hiperconectadas e em sua maioria sem liderança, essas mobilizações fizeram a Primavera
Árabe disparar em todas as direções, com flashmobs difíceis para as autoridades conterem ou
reivindicações surgindo de reuniões públicas na internet sem comitês de direção a portas fechadas.
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/11/30/a-primavera-arabe-primeira-revolucao-do-
smartphone.htm

TEXTO III
Bem antes da privação do convívio e das ruas, o ímpeto de se fazer escutar vem sendo canalizado
para as redes. A pandemia intensificou a polarização que domina as ruas e o ambiente virtual nos
últimos anos. As redes sociais têm sido uma grande ferramenta do antirracismo. Muitos jovens e
organizações se valeram delas nas suas formas mais diversas: blogs, Facebook, youtubers, sites
que trazem denúncias de discriminação racial. A atividade política no mundo digital se diversificou
muito desde que as medidas de distanciamento social foram adotadas. Não só pela crise inédita
na história do país, mas porque as pontes entre sociedade civil e o poder público tiveram de ser
reconstruídas online. Há menos maneiras físicas de chegar a um parlamentar. Neste momento é
tudo por Whatsapp, Zoom e e-mail.
Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/semana/e-voce-faz-politica/ativismo-digital-ou-ciberativismo/

46
Lei de improbidade e consequências no Brasil

Improbidade administrativa
No dia 16 de junho de 2021, a Câmara dos Deputados aprovou, por 408 votos a 67, um projeto que
restringe o que pode ser enquadrado na Lei de Improbidade Administrativa. Essa lei regula a atuação
de agentes públicos e demais partes envolvidas na administração pública. Foi criada em 1992, com
o objetivo de combater a sensação de impunidade no meio público, como nos casos que geram
enriquecimento ilícito, prejuízo aos cofres públicos e atentado contra os princípios da administração
pública.

De forma geral, o projeto aprovado na respectiva data restringe o que pode ser categorizado como
improbidade administrativa, dando ênfase a atos dolosos, isto é, aqueles com a intenção de praticar
irregularidade. Já os atos culposos, sem intenção de causar danos, não seriam mais considerados
por essa lei.

As mudanças na Lei de Improbidade Administrativa


Entre as mudanças mais importantes, o Nexo Jornal destacou cinco alterações significativas:

Limite à perda de função


O projeto prevê que o agente condenado por improbidade administrativa só perca a função se ainda
estiver no mesmo cargo de quando foi praticada a infração. Se um deputado for condenado por
ações praticadas quando era secretário de saúde, por exemplo, ele não perderia o cargo de
deputado. Atualmente, não há essa restrição. O projeto aprovado, porém, abre uma exceção para
caso de improbidade que gere enriquecimento ilícito, quando o magistrado que julgar o caso pode
estender a perda da função a outros vínculos, “em caráter excepcional”, a depender das
“circunstâncias do caso e a gravidade da infração”.

Muda prazos de prescrição


O texto também traz mudanças no prazo de prescrição das ações por improbidade, estabelecendo
prazo de oito anos a partir do fato. Atualmente o prazo é de cinco anos, mas que são contados a
partir do final da gestão do agente público. Além disso, o projeto determina a prescrição da ação
caso ela não seja julgada em até quatro anos. Recursos em instâncias superiores também deverão
ser julgados em no máximo quatro anos. Esses prazos não existem hoje.

47
Estabelece prazo para inquérito
O projeto aprovado determina que “o inquérito civil para apuração do ato de improbidade será
concluído no prazo de 180 dias corridos, podendo ser prorrogado uma única vez por igual período,
mediante fundamentada justificativa”. Atualmente, não há essa limitação.

Exclusividade do Ministério Público


A titularidade da ação é alterada pelo projeto aprovado. De acordo com o texto, iniciar ações de
improbidade administrativa seria uma competência exclusiva do Ministério Público. Atualmente,
União, estados e municípios também podem propor ações de improbidade.

Agrava a suspensão de direitos políticos


A lei também agrava a pena máxima de suspensão de direitos políticos. Atualmente, a suspensão
varia conforme o tipo de improbidade, mas não passa de dez anos. Com as mudanças, o prazo
máximo passaria a ser de 14 anos. O texto aprovado, no entanto, retira da previsão da lei um prazo
mínimo para essa punição – que atualmente varia de acordo com o tipo de ato praticado.

Aspectos positivos e negativos


Um dos principais pontos criticados é o afrouxamento da legislação atual, resultando na diminuição
das punições em casos de irregularidades, deixando impunes aqueles casos em que o gestor
público age de forma imprudente. Alguns consideram o projeto de alteração como um marco na
impunidade. Se esse projeto estivesse em vigor durante a Operação Lava Jato a impunidade estaria
quase completa, pois estabelece prazos para encerrar as investigações.

Entre os defensores, o projeto de mudança especifica melhor os atos de improbidade e deixa de


enquadrar erros do agente público como improbidade, resolvendo o que alguns chamam de apagão
administrativo, no qual as ações do Estado estão paralisadas pelo excesso de controle sobre a
conduta dos agentes públicos. Outro ponto é que os prazos para se encerrarem as investigações
evitam que elas fiquem correndo por décadas e nunca se julgue aquilo.

O caminho do projeto
Enquanto a aprovação foi realizada de forma relâmpago na Câmara, enfrenta resistências no
Senado, que considera o texto do projeto, em sua maioria, um retrocesso.

Segundo a líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA): “Essa alteração na lei é um retrocesso
e vai contra avanços na legislação de combate à corrupção. Tivemos a Operação Lava Jato, a Lei
da Ficha Limpa. Foram mudanças muito ruins, e vou trabalhar contra. Vamos tentar derrotar,
postergar, apresentar destaques, emendas”.

48
No Senado, há também um forte grupo lavajatista que tem na Operação Lava Jato uma referência
e vê esse projeto como algo muito prejudicial. Lasier Martins (Podemos-RS), integrante desse grupo,
confirma que vai trabalhar contra: “Continuamos convivendo com a corrupção e com os velhos
vícios da política. E essa flexibilização veio em benefício daqueles que malversam o erário e tiram
proveito político indevido do que é público. Vou fazer campanha contra, apresentar emenda do que
for possível”.

Como contextualizar essas informações na redação?


Por mais que você, talvez, possa não estar familiarizado com as particularidades administrativas, é
necessário ter noção da existência e importância de leis que fiscalizem e busquem evitar que
desvios sejam cometidos neste meio. Afinal, as ações de improbidade causam danos à
administração pública.

Nesse sentido, o projeto aprovado de restrição da Lei de improbidade, com suas alterações
mencionadas anteriormente – como a ampliação, para além do Ministério Público, de propor ações
de improbidade, ou a retirada de um prazo mínimo para a punição da suspensão de direitos políticos
–, pode levar a efeitos negativos, tal qual a garantia da impunidade, conforme defendido por alguns.
A questão da improbidade administrativa nunca foi considerada como um crime, de fato, mas gera
impacto público. Além disso, é um ato não muito ético, né?

“Então eu posso utilizar esse conteúdo como repertório em temas relacionados à corrupção?”

Pois bem… depende. De acordo com o Código Penal, a corrupção, no Brasil, é tipificada entre ativa,
passiva e contra menores. Sendo assim, desvios de cunho administrativo não se encaixam em
nenhuma das três classificações; logo, dentro dessa perspectiva jurídica, não dá para considerar
ações de improbidade administrativa como corruptas. No entanto, é possível, sim, partir do conceito
de corrupção mais amplo, através da sociologia e outras ciências, utilizando como base a falta de
ética, dentro do cargo público, na garantia de bens particulares. Nesse caso, para ilustrar a
problemática, há a possibilidade de usar, como repertório, a definição de improbidade e as
mudanças sofridas pela lei.

Com base nessas reflexões, que tal praticar um pouco? Vamos lá!

PROPOSTA DE REDAÇÃO

TEXTO I

ética
é·ti·ca

49
sf
FILOS
1 Ramo da filosofia que tem por objetivo refletir sobre a essência dos princípios, valores e
problemas fundamentais da moral, tais como a finalidade e o sentido da vida humana, a natureza
do bem e do mal, os fundamentos da obrigação e do dever, tendo como base as normas
consideradas universalmente válidas e que norteiam o comportamento humano.
2 POR EXT Conjunto de princípios, valores e normas morais e de conduta de um indivíduo ou de
grupo social ou de uma sociedade: Parece que não há mais ética na política.
Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/%C3%A9tica/

TEXTO II
A improbidade administrativa é definida como uma conduta inadequada, praticada por agentes
públicos ou outros envolvidos, que cause danos à administração pública. Previstas na Lei n.
8.429/1992, conhecida como Lei de Improbidade Administrativa (LIA), as ações de improbidade
podem se manifestar em três formas de atuação:
1. Enriquecimento ilícito (…)
2. Atos que causem prejuízo ao erário (…)
3. Atos que violem os princípios da administração pública (…)

Improbidade administrativa é crime?

A resposta é não. Para que um ato ilícito seja considerado crime, é preciso existir uma lei que
estabeleça sua natureza penal. Não é o caso da improbidade administrativa que, apesar de ser um
ato ilícito, é considerada uma conduta de natureza cível. Dessa forma, não se pode dizer que quem
responde por improbidade administrativa tenha cometido um crime. (…)
Disponível em: https://www.politize.com.br/improbidade-administrativa-como-afeta-politica-brasileira/

TEXTO III

50
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “A importância da ética na administração pública” apresentando proposta
de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente
e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

51
Referências

• Governo confirma alerta de emergência hídrica para 5 estados de junho a setembro

• Crise hídrica no Brasil: veja em imagens como a seca afeta cenário de represa

• Governo emite alerta de emergência hídrica de junho a setembro em 5 estados

• Governo reduz vazão de duas usinas no rio Paraná para evitar racionamento de energia

• MP em discussão tira poderes da ANA e do Ibama para evitar racionamento

• Especialistas falam em risco de apagão energético; veja impactos da crise de energia na Bolsa
e na economia

• Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional – BEN 2021

• Mapa do Sistema de Transmissão - Horizonte 2024

• A crise do apagão em 2001/2002

• Crise da Água - Seca ameaça 40 milhões de pessoas

• LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992

• O que pode mudar na Lei de Improbidade Administrativa

• Entenda o que a Câmara dos Deputados quer mudar na Lei de Improbidade

• Lei de improbidade enfrenta resistência no Senado após aprovação relâmpago na Câmara

• Condenado, Arthur Lira acelera mudança de lei que pode beneficiá-lo

52

Você também pode gostar