Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Azambuja e Formoso
Azambuja e Formoso
RESUMO
A aplicação dos conceitos da gestão da cadeia de suprimentos tem sido estudada como uma
possível alternativa para a solução de problemas e introdução de melhorias na indústria da
construção civil. O presente artigo consiste em propor diretrizes para a melhoria do processo de
projeto de elevadores, tendo como base alguns conceitos de gestão da cadeia de suprimentos e
uma pesquisa do setor de elevadores. A pesquisa compreendeu uma etapa de pesquisa
exploratória e um Estudo de Caso, incluindo a aplicação de entrevistas com os agentes da cadeia,
visitas a canteiros de obras, análise de documentos e questionários com usuários finais de
elevadores. Como resultados, constatou-se que os problemas estão relacionados às práticas de
cooperação, à falta de integração e coordenação dos fluxos de informações entre os agentes,
indicando uma oportunidade para a aplicação de conceitos da gestão da cadeia de suprimentos
na melhoria do processo estudado.
1. INTRODUÇÃO
Muitas perdas que ocorrem na construção civil originam-se fora dos canteiros de obras, nas
etapas que antecedem a produção, principalmente devido a problemas de caráter gerencial, tais
como projetos inadequados, falta de planejamento ou deficiências no processo de suprimentos
(SOIBELMAN, 1993). Neste contexto, a aplicação dos conceitos da gestão da cadeia de
suprimentos tem sido estudada como uma possível alternativa para a solução de problemas e
introdução de melhorias no setor (O’BRIEN, 1999; VRIJHOEF e KOSKELA, 2000).
Ballou et al. (2000) indicam que é imprescindível haver abertura, confiança, compromisso e
disposição para compartilhar informações entre os membros de uma cadeia, para que esta
funcione como um conjunto de processos interligados. Essa cooperação entre os membros da
cadeia tende a reduzir os riscos individuais e poderá, potencialmente, melhorar a eficiência do
processo logístico, eliminando perdas e esforços desnecessários. Entretanto, tal cooperação
representa uma exceção à regra quando se consideram as práticas usuais adotadas nos
relacionamentos entre compradores e os seus fornecedores na indústria da construção.
Tradicionalmente, essas relações tendem a ser de desconfiança, em vez de cooperativas,
VOLTAR
marcadas pela visão dos fornecedores como adversários e pautadas numa mentalidade de ganho
unilateral, em vez de ganho mútuo (ISATTO, 1996).
Conforme O’Brien (1999), a indústria da construção tem sido lenta na aplicação dos conceitos de
gestão da cadeia de suprimentos, possivelmente pelo contexto único em que estes devem ser
aplicados. Esse autor conclui que relativamente pouco é conhecido sobre a gestão da cadeia de
suprimentos nesse contexto específico. Visando a contribuir para um melhor entendimento e
resolução dos problemas básicos das cadeias de suprimentos da construção, Vrijhoef e Koskela
(2000) propuseram um conjunto de linhas de ação para abordar a gestão da cadeia de
suprimentos na construção, quais sejam: avaliação, reengenharia, controle e melhoria contínua da
cadeia de suprimentos. O primeiro, em especial, sugere uma avaliação da cadeia de suprimentos,
de forma que se identifiquem tanto os principais problemas e perdas atuais no sistema, como as
suas possíveis causas. Segundo os mesmos autores, para que se descubra alguma oportunidade
de melhoria ou de resolução de problemas das cadeias, é fundamental conhecê-los
profundamente.
Neste artigo, busca-se identificar, explorar e sugerir melhorias para os problemas relacionados ao
processo de projeto da cadeia de elevadores, cujo produto final representa um elevado percentual
de custos de edifícios e apresenta problemas que são pouco conhecidos e explorados.
Este artigo apresenta parte do trabalho desenvolvido numa dissertação de Mestrado (AZAMBUJA,
2002), na qual se efetuou um diagnóstico dos processos de projeto, aquisição, instalação e uso de
elevadores e propôs-se melhorias baseadas nos conceitos da gestão da cadeia de suprimentos.
2. MÉTODO DE PESQUISA
A presente pesquisa compreendeu três etapas principais:
• Pesquisa exploratória: inicialmente, foi realizada uma caracterização inicial dos processos,
relacionamentos entre arquitetos, construtoras e fabricantes e problemas de integração existentes
no setor. Nesta etapa foi realizada uma revisão bibliográfica sobre os conceitos da gestão da
cadeia de suprimentos e a aplicação de entrevistas com roteiros constituídos de perguntas
abertas com seis arquitetos, seis engenheiros e cinco especialistas em construção civil.
• Estudo de caso do relacioname nto dos agentes da cadeia: para diagnosticar os fluxos de
materiais e informações entre os mesmos. Com este propósito, foram realizadas entrevistas
estruturadas com fabricantes e montadores de elevadores, visitas aos canteiros de obras, uma
análise de documentos (normas, catálogos, projetos executivos e contratos) e um levantamento
de percepções de uma amostra de usuários finais de elevadores.
• Proposição de diretrizes: com base nos resultados obtidos nas etapas anteriores, foram
propostas diretrizes para a melhoria dos processos de projeto, aquisição, instalação e uso de
elevadores.
O fato do elevador ser um item pesado em termos de custos para o empreendimento faz com que
a negociação e a especificação detalhada deste subsistema ocorram em uma fase distante da
fase de concepção do produto em termos temporais. Dessa forma, percebe-se normalmente que o
projeto abdica do papel de determinar ou especificar os requisitos de desempenho do subsistema
(AZAMBUJA, 2002).
Uma solução para o problema é a consulta às dimensões de todos os fabricantes pelo arquiteto
no momento da concepção do elevador. Portanto, os arquitetos não precisam conhecer a marca
do elevador para efetuar um dimensionamento adequado. Dessa forma, o arquiteto deve lançar no
projeto as medidas que possibilitem contratar ou instalar futuramente qualquer marca de elevador
disponível no mercado. No entanto, esta prática não é normalmente executada pelos arquitetos.
Cabe-se ressaltar que a parceria entre construtores e fabricantes também pode minimizar este
problema na concepção do produto, já que o arquiteto pode trabalhar diretamente com as
condições de dimensionamento de um fabricante. Entretanto, a relação de parceria entre
fabricantes de elevadores e construtoras não é comum. Isso ocorre devido à semelhança
tecnológica dos produtos oferecidos pelos fabricantes, pela baixa freqüência de compras de
elevadores pelas construtoras e, pelo fato de que as construtoras não desejam se comprometer
com uma tecnologia específica na etapa de projeto.
As conseqüências dessa despreocupação por parte dos arquitetos são as mesmas citadas no
caso anterior, ou seja, um erro de projeto arquitetônico ou de dimensionamento pode
comprometer o bom funcionamento do elevador e a qualidade final do empreendimento.
VOLTAR
Novamente, caso ocorram erros na execução da obra e os desvios nas alvenarias ou estrutura
sejam elevados, o elevador será adequado no espaço físico disponibilizado pela obra. Podem
ocorrer aumentos no preço final do produto, caso as dimensões da obra não se enquadrem dentro
das dimensões padrão do fornecedor, o qual oferece ao comprador um elevador especial. Outra
possível solução para o caso é a destruição e retrabalho da caixa de corrida pela empresa
construtora, gerando um aumento nos custos de execução da obra.
Sugere-se, portanto, que os arquitetos acrescentem uma folga nas medidas da caixa do elevador,
no caso de edifícios altos. Também é importante que a obra respeite rigorosamente as dimensões
estipuladas no projeto, pois os fabricantes de elevadores trabalham com tolerâncias de milímetros,
enquanto que para a obra uma diferença de alguns centímetros não chega a ser um problema.
• pode ser que haja algumas alterações no projeto arquitetônico após a execução do cálculo de
tráfego pelo fabricante. Estas alterações podem comprometer a qualidade do transporte vertical e,
por isso, deve haver uma maior cobrança dos cálculos de tráfegos na aprovação de projetos.
buscar “em conjunto” a melhor solução tecnológica, com os menores custos envolvidos e que
agregue o maior valor possível ao usuário final do subsistema. Desse modo, verifica-se
oportunidades de melhoria na comunicação entre estes agentes no início do processo, facilitando,
por exemplo, a compatibilização entre o projeto do elevador e os projetos estrutural e elétrico dos
empreendimentos.
Melhor apresentação e maior clareza do projeto executivo: percebe-se uma certa confusão no
detalhamento da parte elétrica e textos extensos referentes aos requisitos da norma nos projetos
executivos de elevadores. Essas informações devem ser expostas de uma maneira mais clara
para a equipe de instalação da obra para evitar erros de execução.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 05665: cálculo do tráfego nos
elevadores. Rio de Janeiro, 1983. 12p.
BALLOU, R.H.; GILBERT, S.M.; MUKHERJEE, A. New managerial challenges from supply chain
opportunities. Industrial Marketing Management, New York, v.29, n. 1, p. 7-18, Jan. 2000.
VRIJHOEF, R.; KOSKELA, L. The Four Roles of Supply Chain Management in Construction.
European Journal of Purchasing & Supply Management, Netherlands, v. 6, n. 3-4, p. 169-
178, Dec. 2000.