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2ª Frequência
Mercantilismo
Características do Mercantilismo
- O Mercantilismo defendia a intervenção ativa do Estado na economia para aumentar
a riqueza e o poder do país.
- O acúmulo de metais preciosos, especialmente ouro e prata, era considerado
fundamental para a riqueza de uma nação, e o comércio exterior era estritamente
regulado pelo Estado.
- As colônias eram vistas como fontes de matérias-primas e mercados consumidores
para a metrópole, e o protecionismo comercial era amplamente adotado para proteger
a produção local e limitar a concorrência estrangeira.
Teorias do Mercantilismo
O Mercantilismo foi influenciado por várias teorias económicas da época.
- Uma das principais teorias era a Balança Comercial Favorável, que defendia que uma
nação deveria exportar mais do que importar, assim acumulando metais preciosos.
- Outra teoria era o Metalismo, que afirmava que a quantidade de metais preciosos
determinava a riqueza de uma nação, e por isso o Estado deveria controlar a mineração
e o comércio desses metais.
- Além disso, a teoria do Protecionismo defendia a imposição de tarifas e barreiras
comerciais para proteger a indústria local e estimular a produção interna.
Práticas do Mercantilismo
Na prática, o Mercantilismo foi marcado por políticas económicas protecionistas e
intervencionistas.
- Os Estados implementavam políticas de monopólios comerciais, concedendo
privilégios exclusivos a determinadas empresas para o comércio com as colônias e
outros países.
- Também eram comuns as políticas de subsídios e incentivos governamentais à
produção de bens considerados estratégicos para a nação.
- Além disso, eram utilizadas políticas de regulação e controle do comércio exterior,
como a imposição de altas tarifas de importação para proteger a indústria local e
estimular a produção interna.
- Os governos também buscavam promover a colonização de territórios ultramarinos
para garantir o acesso a matérias-primas e criar mercados para seus produtos.
- As Companhias de Comércio, como a Companhia das Índias Orientais e a Companhia
das Índias Ocidentais, eram exemplos de empresas comerciais monopolistas criadas
pelos Estados para explorar colônias e estabelecer monopólios comerciais.
David Hume foi um filósofo e economista escocês do século XVIII que teve um grande
impacto na filosofia e na economia. Suas ideias incluem:
- Escritos sobre a natureza da moeda, a inflação e o dinheiro
- Teoria da oferta e da procura
- Criticismo da teoria mercantilista
- Defesa do livre comércio
- Teoria do comércio justo e equilibrado
- Enfoque no papel da observação empírica na economia
- Crítica ao determinismo económico
- Defesa da razão e da liberdade individual.
Legado do Mercantilismo
Apesar do declínio do Mercantilismo, seu legado ainda é visível em muitos aspetos
do sistema económico moderno.
- Muitas das práticas económicas, como o protecionismo comercial e a intervenção do
Estado na economia, ainda são debatidas e praticadas em alguns países atualmente.
- O Mercantilismo também teve um papel importante na formação do capitalismo
moderno, ao estabelecer as bases para a acumulação de capital, o desenvolvimento da
indústria e do comércio, e a expansão colonial.
- Por fim, o Mercantilismo foi um marco importante na evolução do pensamento
económico, servindo como base para o desenvolvimento de outras teorias e escolas
económicas ao longo da história.
Conclusão do Mercantilismo
- O Mercantilismo foi um sistema económico que prevaleceu na Europa durante os
séculos XVI ao XVIII, caracterizado pela busca de acumulação de metais preciosos,
políticas protecionistas, controle do comércio exterior e intervenção do Estado na
economia.
- Apesar de suas críticas e declínio, o Mercantilismo deixou um legado importante na
formação do capitalismo moderno e influenciou muitas práticas económicas ainda
presentes atualmente.
Fisiocracia
Críticas à Fisiocracia
- Falta de consideração de outras atividades económicas além da agricultura, a ausência
de uma teoria de valor e a visão utópica de uma ordem natural idealizada.
Adam Smith
Introdução
Adam Smith (1723-1790) foi parte do Iluminismo Escocês (juntamente com
David Hume, Adam Ferguson, Thomas Reid, etc.), tendo sido Professor de Lógica e
Filosofia Moral na Universidade de Glasgow, atividade da qual resultou o seu livro Teoria
dos Sentimentos Morais (1759).
Mas é com a publicação da Riqueza das Nações (1776) que Smith vai ganhar
maior notoriedade e ser por muitos considerado como o “pai fundador” da ciência
económica.
O objetivo da sua obra é como o próprio título completo indica, descobrir “a
natureza e as causas da riqueza das nações”.
Na resposta à questão do fundamento da riqueza das nações, Smith defende que é
o trabalho humano e a forma como é aplicado. Esta é uma ruptura significativa com as
ideias mercantilistas e fisiocratas que o antecederam.
A Riqueza das Nações está organizada em cinco partes ou “livros”:
- Os dois primeiros livros abordam a primeira e a segunda causa da riqueza das
nações;
- o terceiro discute a importância relativa das atividades agrícola, manufatureira e
comercial;
- o quarto apresenta e critica “os sistemas de economia política”;
- e o quinto trata dos “deveres do soberano” e do seu financiamento.
a) Preço real
O preço real de uma mercadoria é dado pela quantidade de trabalho que essa mercadoria
pode comprar.
Os deveres do soberano
O primeiro dos deveres do soberano era a defesa da “sociedade da violência e
das invasões de outras sociedades independentes”.
A defesa poderia ser assegurada quer por uma milícia quer por um exército
permanente. Smith considerava o exército permanente profissionalizado uma melhor
solução e atribuía ao soberano, isto é, ao Estado, a missão de organizar e manter esta
instituição com fundos provenientes dos impostos.
O segundo dever do soberano era “proteger, tanto quanto possível, todos os
membros da sociedade contra a injustiça ou os ataques de qualquer outro membro”, isto
é, garantir a justiça – designadamente a proteção da propriedade privada e o respeito
pelos contratos.
Em terceiro, o soberano deveria ainda zelar pela “criação e a manutenção
daqueles serviços e instituições que embora possam ser altamente benéficos para uma
sociedade, são, todavia, de uma natureza tal que o lucro jamais poderia compensar a
despesa.
Exemplo: estradas, pontes, canais navegáveis e portos, e educação.
Smith defende como princípio geral o autofinanciamento desses serviços e
instituições através de portagens, taxas e, no caso do ensino, de propinas.
Thomas Malthus e o Ensaio sobre o Princípio da População
A Revolução Francesa e as guerras napoleónicas, deram origem em Inglaterra a
uma viragem conservadora e a uma reformulação da Economia Política, na ótica de um
liberalismo conservador.
Os trabalhadores manuais começaram a ser encarados como “classe perigosa”.
Thomas Robert Malthus (1766-1834), sacerdote anglicano, que veio a ser o primeiro
professor de Economia Política, é o expoente desta viragem.
No Ensaio sobre o Princípio da População, os autores que critica são, sobretudo, o inglês
William Godwin (1756-1836) e o francês Marquês de Condorcet (1743-1794):
- William Godwin (1756-1836), que propunha uma nova filosofia (anarquista): uma
sociedade perfeita pode produzir pessoas perfeitas. Um limite populacional não seria
problemático, já que a humanidade não se propagaria mais;
- Marquês de Condorcet (1743-1794), que via o progresso social baseado na igualdade
das nações, dos indivíduos dentro das nações e na perfeição da humanidade.
As ideias de Malthus
A melhoria da condição dos pobres não pode ser alcançada com políticas
assistencialistas e muito menos com medidas de redistribuição da propriedade.
No Ensaio sobre o Princípio da População, de 1798, defende que para garantir a
prosperidade geral, o esforço individual deve ser premiado e a preguiça punida.
A propriedade privada é essencial para premiar a iniciativa, o esforço e o engenho
individuais.
Contrariamente, a ajuda aos pobres é um prémio ao ócio, um desincentivo ao
trabalho que acarreta o aumento do número de pobres. O contexto é o das Poor Laws.
As leis naturais
Estas leis determinam que existe uma tendência permanente para que o
crescimento da população seja mais rápido do que o crescimento da produção de produtos
alimentares.
Enquanto a população tende a crescer em progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16...),
duplicando em cada 25 anos a produção de alimentos cresce apenas em progressão
aritmética (1, 2, 3, 4, 5, ...), já́ que os terrenos agrícolas são escassos e os seus
rendimentos limitados.
O banquete da natureza é limitado.
Tal deve-se aos rendimentos decrescentes da terra e finalmente à exaustão dos solos.
Fatores que atenuam estas leis:
o Antecipação de dificuldades quanto ao sustento das famílias, entrave ao
casamento precoce (redução de gastos, alterações ao modo de vida e da posição
social; tempo e meios necessários para a constituição da posição profissional;
dependência de caridade) – freio preventivo, que poderá́ causar vícios.
o Fome e privações sofridas pela infância nas classes baixas – freio positivo, que
é a causa da miséria
Conclusão: não se deve ajudar os pobres, para permitir a livre ação do equilíbrio natural.
É por esta razão que a Economia Política surge como uma “ciência sinistra” nesta época
para certos autores, como Thomas Carlyle.
Críticas a Malthus
- Subvaloriza o progresso técnico na agricultura.
- Não considera a possibilidade de alterações demográficas substanciais que advêm do
próprio desenvolvimento (ver teoria da transição demográfica, slide seguinte).
- A política desumana que propõe em relação aos pobres.
A questão do valor
Para ele, a utilidade de um bem é necessária, mas não é a fonte do valor. O que
determina o valor das mercadorias é a quantidade de trabalho utilizada para as produzir.
Esta é a regra.
É certo de que existem bens que devem o seu valor à escassez, mas têm pouca
expressão – obras de arte, vinhos “vintage”, etc. – mas dado que são em número reduzido,
a Economia Política estuda os anteriores.
Por seu turno, o valor do trabalho é afetado pela relação entre oferta e procura de
trabalho, mas sobretudo “pelas alterações nos preços dos produtos alimentares e outros
bens de primeira necessidade”.
Ricardo considera não só́ o trabalho diretamente incorporado nos bens no seu
processo de fabrico, como o trabalho incorporado nos bens de capital (instrumentos de
produção e nas matérias-primas) que é “transferido” gradualmente para os bens
produzidos.
O valor da mercadoria tem de ser repartido pelo trabalho, o capital e a terra, mas
a forma como esta repartição é feita não afeta o valor de troca dos bens a não ser que se
deem três circunstâncias particulares:
a. se as proporções e capital fixo e circulante não for a mesma nos bens que
estão a ser trocados;
b. se o capital fixo não tiver a mesma duração em ambos os casos; (c) se a
velocidade de retorno do capital diferir.
No entanto, mais uma vez Ricardo vai abstrair destes casos particulares e teorizar como
se as exceções não existissem.
Repartição do rendimento
Uma vez determinado o valor de troca dos bens, como são determinados os
rendimentos respetivamente da terra, do trabalho e do capital – a renda, o salário e o lucro.
Determinação da renda
“A renda é aquela parte do produto da terra que é paga ao senhorio pelo uso das
potencialidades originárias e indestrutíveis do solo” – não compreende as benfeitorias.
Quando a terra é abundante não existe propriedade, nem renda. Só́ quando a terra se torna
escassa e apropriada privadamente é que existe renda.
Exemplo:
3 talhões de terra de igual dimensão, mas de fertilidade diferente. O proprietário e o
agricultor são personagens distintas.
Talhão 1 – 100 alqueires de trigo com produto líquido, ou seja, depois de retirados os
gastos com sementes e com trabalho.
Talhão 2 – 90 alqueires de trigo.
Talhão 3 – 80 alqueires de trigo
É possível demonstrar logicamente que o Talhão 1 vai fornecer ao seu proprietário uma
renda de até 20, o Talhão 2 de até 10 e o Talhão 3 nenhuma renda.
Trata-se de uma renda diferencial.
O valor de troca do trigo (como o de todos os produtos) estabelece Ricardo, é determinado
pela quantidade de trabalho incorporado nas piores condições de produção.
Nota: 1 alqueire corresponde a cerca de 13 litros.
Determinação do salário
O preço natural do trabalho é aquele preço que é necessário para permitir que os
trabalhadores, em geral, sobrevivam e se reproduzam sem que o seu número aumente ou
diminua.
O preço natural do trabalho, o salário natural, depende do preço natural dos
bens de primeira necessidade e tende a aumentar com o crescimento demográfico e a
acumulação de capital.
O preço de mercado do trabalho depende da oferta e da procura no mercado de
trabalho. O ajustamento do preço de mercado ao preço natural é feito pelo mecanismo
demográfico.
Determinação do lucro
O lucro é considerado o resíduo que sobra do excedente de produção, depois de pagos a
renda e os salários.
Contra tendências
- Aperfeiçoamento nas máquinas utilizadas na produção de bens de primeira
necessidade.
- Melhoramento nos processos agrícolas.
O progresso técnico poderia assim (apenas) retardar o aparecimento do estado
estacionário.
Mas o comércio internacional poderia ter um efeito duradouro, se conseguisse
fornecer produtos agrícolas mais baratos, prevenindo que as terras marginais entrassem
em cultivo.
Assim, os lucros não cairiam e a acumulação de capital prosseguiria.
Jean-Baptiste Say
Jean-Baptiste Say (1767-1832) foi o mais importante representante da Economia
Política Clássica em França.
Divergiu dos clássicos ingleses em aspetos importantes e acrescentou elementos
inovadores à Economia Política.
Teoria do valor
Contrariamente à escola inglesa, Say defendia que a utilidade é o fundamento do
valor de um bem, sendo a utilidade definida pela capacidade que o bem tem de satisfazer
desejos subjetivos de quem o procura e está disposto a pagar por ele.
Os serviços
Como os serviços também têm utilidade, não faz sentido distinguir entre trabalho
produtivo e improdutivo, como autores precedentes fizeram (fisiocratas e Adam Smith).
O empresário
Inspirado em Cantillon, considera o empresário como ator central e distinto do
detentor de capital.
O empresário adquire os serviços do trabalho, do capital e da terra no mercado e
combina-os de forma a satisfazer a procura dos consumidores a um preço de venda que
cubra o custo dos serviços produtivos por ele adquiridos, deixando ainda uma margem de
lucro.
A consequência desta conceção é que lucros e juros emergem como categorias
distintas.
O lucro é a remuneração do empresário e o juro a remuneração do capital, o qual
pode ou não ser seu.
A lei de Say
Say é sobretudo famoso por um contributo que não foi seu – a chamada “lei de
Say” (“la loi des débouchés”).
Segundo esta lei, as situações de sobreprodução de que falava Malthus, não seriam
possíveis porque “os produtos se trocam por produtos” ou, como se passou a dizer, “toda
a oferta cria a sua própria procura”.
Quando um produto é vendido, há, ao mesmo tempo, um rendimento que é criado
e distribuído aos trabalhadores, aos credores, aos fornecedores e ao próprio empresário e
logo transformado por eles em procura de novos produtos. O produto que se vendeu criou
a procura de outros produtos, trocou- se por produtos
A moeda, como nos fisiocratas e em Smith, era apenas um intermediário das
trocas.
Por isso, Say era favorável ao “laissez-faire”. Os desequilíbrios de sobreprodução
no mercado tenderiam a ser ultrapassados pela deslocação do capital para outro mercado
(de um com excesso para outros com escassez). Ou seja, nunca poderia acontecer em
todos os mercados em simultâneo.
Esta asserção ignora, contudo, o efeito do entesouramento.
O socialismo utópico
Os “socialistas utópicos” consideravam o capitalismo como um sistema social
irracional, desumano e injusto e repudiavam a ideia de “laissez faire” e de concorrência,
assim como a doutrina da harmonia espontânea de interesses.
As alternativas de organização social que propunham partiam de uma visão
generosa da natureza humana e tinham como objetivo potenciar o melhor da espécie
humana, favorecendo a solidariedade e a cooperação em oposição ao interesse próprio e
à concorrência.
A mais-valia
Os circuitos:
o M-D-M’ → [Circulação Mercantil Simples]
o D-M-D’ → [Circulação Monetário-Mercantil Desenvolvida]
Em que D’ é maior que D, sendo a diferença a mais-valia
Circulação mercantil simples
- Na circulação mercantil simples, os pequenos produtores – os artesãos e os
camponeses – vendem as suas mercadorias por dinheiro para comprarem outras
mercadorias.
b) Força de trabalho
A força de trabalho, como qualquer mercadoria, tem um valor de uso e um valor de
troca.
O valor de uso da força de trabalho, é a utilidade que tem para quem a adquire, isto
é a sua capacidade de criar mais-valia.
O valor de troca da força de trabalho é, como no caso de qualquer mercadoria,
determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para a produzir, isto é,
pela quantidade de trabalho necessário para produzir os bens de subsistência do
trabalhador.
c) Trabalho necessário e sobre-trabalho
Expresso em termos monetários:
o o trabalho necessário corresponde ao salário (valor de troca);
o o sobre-trabalho é a parte do trabalho realizado que não é remunerada e da qual
resulta a mais-valia.
O excedente obtido pelo capitalista sob a forma de mais-valia é a expressão direta da
exploração do trabalho pelo capital no modo de produção capitalista.
A última lei estabelece que o capitalismo está sujeito a crises e depressões cíclicas cada
vez mais frequentes e de maior intensidade.
- As crises são sempre de sobreprodução (ou subconsumo) decorrendo das despesas de
investimento (acumulação de capital), em articulação com a evolução do “exército
industrial de reserva”.
A Revolução Marginalista
Crise da Economia Política Clássica (EPC) na segunda metade do século XIX,
com as críticas de inspiração historicista e socialista a ganharem influência.
Paralelamente, alguns economistas começam a desenvolver uma crítica da EPC
assente na ideia de renovação da teoria económica através do reforço da sua
“cientificidade” e na busca de “neutralidade axiológica”. Nesta perspetiva, a EPC
apresentava os seguintes problemas:
a) Não seria suficientemente científica.
b) Sofria de inconsistências teóricas.
c) Teria implicações sociais e políticas “perigosas”.
a) O problema de cientificidade
1. Uso da matemática
Não usava extensivamente a matemática (ao contrário da Física, encarada como o modelo
de “ciência exata”).
2. Leis não gerais
Apesar de pretender fazê-lo, a EPC não formulava leis gerais, universais, dado que se
referiam a classes sociais (trabalhadores, capitalistas, proprietários de terras) que
remetiam para as sociedades europeias em determinada época histórica.
3. Julgamentos morais
A Economia não deveria fazer julgamentos de valor, por exemplo, sobre redistribuição
(separação entre Economia e Ética).
b) Inconsistências teóricas
Críticas aos clássicos:
- Ricardo fazia depender a teoria de valor-trabalho de pressupostos exigentes e a sua
teoria da distribuição dependia inteiramente do postulado que estabelece que os
salários tendem a fixar-se ao nível de subsistência.
- Ao longo do século XIX, no entanto, ia-se tornando evidente que os salários dos
trabalhadores, em certas circunstâncias, podiam assegurar mais do que a simples
sobrevivência das famílias operárias, sem que implicasse uma tendência para a
descida posterior dos salários.
c) Implicações sociopolíticas
Quanto às implicações sociais e políticas, o problema, segundo alguns autores, residia:
- No antagonismo de interesses das classes sociais que inevitavelmente decorre da
teoria da distribuição do rendimento de Ricardo ou das análises de Malthus.
- Da tendência para a descida da taxa de lucro que logicamente resulta das suas teorias
da população e do valor (para uma ciência que advoga o laissez-faire, as perspetivas
de conflito social insanável e de estagnação futura surgiam como problemáticas).
Interpretações da crise
- “Correcção” dos excessos anteriores; confiança nos mecanismos “automáticos” de
mercado para ultrapassar a situação.
- No entanto, a deflação verificada (em termos de preços e salários), contribuiu para
agravar o problema.
Política monetária
Através do aumento da oferta de moeda, as autoridades monetárias poderiam
influenciar o nível da taxa de juro. A descida da taxa de juro teria um efeito de aumento
do investimento privado (via redução dos seus custos)
Política orçamental
Keynes defendia o abandono do princípio do equilíbrio orçamental (de curto
prazo) em favor de uma política orçamental contra cíclica, geradora de déficits em
períodos recessivos e de excedentes em períodos de expansão – o que conduziria a um
equilíbrio orçamental inter-temporal (de médio prazo).
A dívida pública contraída na fase de recessão para financiar o déficit, seria
reembolsada na fase de expansão. Este reembolso da dívida contribuiria então para
reduzir o ritmo da expansão, amortecendo a amplitude do ciclo e contribuindo para a
estabilização macroeconómica.
Instrumentos de política orçamental expansionista: aumento direto dos gastos
(investimento público), redução de impostos, aumento de transferências.
Em situações de crise profunda/depressão, Keynes considerava a política
orçamental mais eficaz do que a política monetária. Dentro da política orçamental,
privilegiava os gastos diretos em detrimento de medidas que afetassem o rendimento
disponível (impostos, transferências).
Em complemento, Keynes defendia também:
- intervenções reguladoras nos mercados financeiros tendentes a controlar as
dinâmicas especulativas e a reforçar a confiança dos investidores;
- políticas redistributivas do rendimento e da riqueza tendentes a favorecer o
crescimento do consumo.
Alcance teórico e político
Segundo Keynes, os dois problemas económicos fundamentais a que era
necessário dar resposta consistiam na incapacidade de gerar pleno emprego e na
“arbitrária e desigual distribuição do rendimento e da riqueza”.
A sua posição era a de que só o reforço da intervenção do Estado na economia
poderia dar uma resposta eficaz a estes problemas.
Tal significava abandonar a lógica do “laissez-faire”. No entanto, a motivação
central não era a destruição do sistema, mas antes a salvaguarda das suas instituições
económicas e políticas fundamentais, a sua “salvação”.
Welfare State
Relatórios Beveridge (1942, 1944)
Modelo de economia mista, visando um equilíbrio entre Estado e mercado, entre
interesses do capital e do trabalho.
Aspetos fundamentais:
o Políticas sociais - segurança social (cobertura universal, proteção no desemprego,
doença, velhice), educação, saúde.
o Políticas de estabilização keynesianas (política orçamental e política monetária).
o Intervenção direta do Estado (empresas públicas em áreas como a energia,
transportes, comunicações, banca, algumas indústrias, etc.).
o Redistribuição do rendimento e da riqueza, através de impostos altamente
progressivos e da composição da despesa.
o Modelo de concertação social, envolvendo a participação de representantes do
Governo, dos empresários e dos trabalhadores.
Globalmente, até à década de 70, o modelo vai garantir elevados níveis de crescimento
económico, com elevada estabilidade (ausência de crises significativas) e progresso
social.
Bretton Woods foi uma conferência realizada em Bretton Woods, New Hampshire,
Estados Unidos, em julho de 1944.
A conferência reuniu representantes de 44 países aliados durante a Segunda Guerra
Mundial, com o objetivo de estabelecer um novo sistema monetário internacional após o
fim da guerra.
Objetivos:
- o principal objetivo de Bretton Woods era criar um sistema financeiro e monetário
internacional estável que facilitasse o comércio global e a recuperação económica
pós-guerra.
- os líderes buscavam evitar a repetição das crises económicas que ocorreram na década
de 1930, como a Grande Depressão.
Como resultado da conferência, duas instituições importantes foram criadas:
o Fundo Monetário Internacional (FMI): O FMI foi estabelecido para promover
a estabilidade financeira global, monitorar as políticas económicas dos países
membros e fornecer assistência financeira em caso de crises económicas.
o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) ou
Banco Mundial: O Banco Mundial foi criado para financiar projetos de
desenvolvimento económico e reconstrução pós-guerra, com foco em
infraestrutura e redução da pobreza.
Papel do Dólar
O dólar americano foi escolhido como a principal moeda de reserva internacional e como
referência para outras moedas. Isso deu aos Estados Unidos uma posição dominante no
sistema monetário internacional.
O problema do conhecimento
Partindo do reconhecimento das limitações do conhecimento e da escassez de
informação, Hayek defendia que os mercados tinham melhores resultados do que
qualquer outro mecanismo alternativo, pois permitiam mobilizar o conhecimento
parcelar dos indivíduos, permitindo que a economia beneficie como um todo deste
conhecimento disperso.
O mercado de Hayek é um “processo de descoberta”. Os agentes económicos
dotados de conhecimento e informação parcelar procuram constantemente oportunidades
de ganho, interpretando os sinais emitidos pelo mercado, através dos preços.
Pelo contrário, a intervenção do Estado, e em particular a sua forma extrema de
planeamento central, atribui a um indivíduo, ou grupo de indivíduos, com um
conhecimento e uma informação tão limitada como os restantes, a prerrogativa da
determinação dos preços e mesmo um poder coercivo sobre os restantes indivíduos. Não
era, por isso, eficiente.
Além disso, dada a coerção envolvida, o sistema de planeamento central, seria
atentatório da liberdade pessoal. A intervenção estatal na esfera económica seria um passo
na direção do totalitarismo político.
Na obra de Hayek, a defesa da não-intervenção passa pela contestação de todos
os argumentos a favor do envolvimento do Estado em questões económicas – seria não
só́ causadora de ineficiência, como também um passo para o totalitarismo.
o a necessidade de combater a tendência para a formação de monopólios;
o a necessidade de estabelecer a igualdade de oportunidades entre os indivíduos,
redistribuindo a riqueza e o rendimento.
Os monopólios resultam geralmente da proteção das empresas e de lobbies
profissionais pelos governos, contra a concorrência interna ou internacional.
Todas as empresas, por mais poderosas que sejam, estão sujeitas, no caso de não
serem protegidas pelo Estado, à entrada de concorrentes no “seu” mercado.
Se os monopólios procurassem tirar partido do seu poder, praticando preços
demasiado elevados para obter lucros extraordinários, eles estariam a criar condições para
que novas empresas se estabelecessem no ramo.
Na realidade, concluía Hayek, a existência de monopólios não constitui um problema.
As intervenções redistributivas em nome da “justiça social”, são particularmente
visadas por Hayek.
A desigualdade é vista não só́ como inevitável, mas como condição da
prosperidade.
Os indivíduos são diferentes, produzem resultados diferentes.
Se o Estado procurasse redistribuir estes resultados, retirando uma parte aos mais
bem-sucedidos para a dar aos menos bem-sucedidos, quer uns quer outros teriam um
incentivo menor para o esforço. Os primeiros porque veriam a sua recompensa
reduzida, os segundos porque obteriam uma recompensa, mesmo sem esforço.
E as vantagens individuais que não resultam do esforço nem da capacidade, como as
que decorrem de “nascer em berço de ouro”?
o “Há́ partes da herança cultural que são transmitidas de forma mais eficaz pelas
famílias”.
o “Seria insensato negar que uma sociedade terá́ provavelmente uma elite melhor
se a sua ascendência não for limitada a uma só́ geração, se os indivíduos não forem
deliberadamente obrigados a partir do mesmo nível”.
O domínio da justiça é procedimental, ao nível das regras e do seu cumprimento. Sobre
os resultados não se pode afirmar que sejam “justos” ou “injustos”. Todos tenderiam a
conformar-se com a distribuição resultante.
Inflação e desemprego
A par da crença na maior eficácia da política orçamental relativamente à política
monetária, o “consenso keynesiano” incluía também a convicção de existia uma relação
inversa entre desemprego e inflação.
Esta relação, formalizada na “curva de Phillips” estabelecia que era possível
reduzir o desemprego, quando o desemprego aumentasse, à custa de uma maior inflação,
e reduzir a inflação, quando a inflação era o maior problema, à custa do desemprego.
Em finais da década de 1960, Friedman contrapõe a esta visão uma teoria segundo
a qual existe uma taxa “natural” de desemprego abaixo da qual não é possível descer,
senão à custa de uma taxa de inflação crescente.
Em consequência, a tentativa de manter o desemprego abaixo da taxa “natural”,
com expansão da oferta de moeda, originaria uma espiral inflacionista incontrolável. Mas
a inflação, por sua vez, tenderia a reduzir o nível de emprego, repondo o desemprego na
taxa “natural”, sem que os preços baixassem. Qualquer tentativa de reduzir de novo o
desemprego implicaria uma inflação superior ainda. Além disso, provocaria uma maior
incerteza fruto da volatilidade de preços, aumentando a própria taxa “natural”.
Desta forma, quando a inflação é elevada, desemprego e inflação poderiam crescer
em paralelo. A teoria de Friedman parecia então explicar o fenómeno observado da
estagflação.
Na sua perspetiva, o desemprego poderia ser reduzido – a taxa “natural” de
desemprego podia descer – apenas se os mercados de trabalho fossem tornados mais
“flexíveis”. Isto implicava que fosse eliminado o poder “monopolista” dos sindicatos e
removida, ou reduzida, a proteção social aos desempregados (salário mínimo e subsídios
de desemprego).
As políticas monetárias que defendia deviam traduzir-se num controlo apertado
do crédito e da emissão monetária pelas autoridades monetárias. O objetivo seria evitar
um crescimento da massa monetária superior ao do produto. Esta seria a regra
fundamental para a condução da política monetária, chegando mesmo Friedman a
defender a sua constitucionalização.
Advogava, por isso, a independência das autoridades monetárias relativamente
ao poder político, possibilitando que a política monetária fosse conduzida exclusivamente
por critérios de ordem “técnica”.