Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bruno Cadotti PÓS-BANCA
Bruno Cadotti PÓS-BANCA
Ijuí (RS)
2012
1
Ijuí (RS)
2012
2
3
RESUMO
ABSTRACT
The brazilian constitutional tradition has a long walk. This route is marked by the
acceptance of the principle of division of powers, with the exception of the Monarchic
Constitution of 1824 (marked by the existence of the Power Chair). Since then the principle of
division of powers was maintained and executed with one of the pillars of the rule of law. In
actuality, this principle is clearly present in the Federal Constitution, also called the Citizen
Constitution, and is one of the key elements defining the democratic State of law. Despite its
centrality, this principle is being questioned because of the growing demand for legal
solutions for the realization of fundamental rights and guarantees. This process is the
possibility of the so-called judicial activism and judicialization of politics. The phenomenon
of the judicialization of politics is the central theme of this study.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 39
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 41
9
INTRODUÇÃO
Para tanto foi necessário o estudo da evolução histórica do Estado a partir do Estado
Absolutista e, sucessivamente, do Estado Liberal, visando à compreensão da origem do
Princípio da Tripartição dos Poderes, que se consolida de forma avançada na Constituição
Federal de 1988 no Brasil. Esta que, indubitavelmente, transformou consideravelmente o
ordenamento jurídico, político e social, edificando-o sob o princípio da Democracia.
Uma das principais mudanças foi o destaque conferido ao Poder Judiciário frente aos
demais Poderes, tendo em vista sua eficiência quando buscou os direitos fundamentais da
sociedade. Além disso, a evolução do sistema de controle de constitucionalidade teve um
10
papel importante neste processo, fazendo com que o Brasil alcançasse um grau avançado de
democracia e de efetivação dos direitos e garantias fundamentais.
Partindo da premissa de que quando o Judiciário julga determinado caso, com fulcro
basicamente em princípios, aplicando ahermenêutica, ele está inovando juridicamente, eis que
surge a controvertida denominação de “Ativismo Judicial”. Contudo, como já dito, tal postura
é polêmica. Neste contexto é importante lembrar que existem diversos posicionamentos
acerca dela, os quais discutem a legitimidade institucional.
Para o devido entendimento das funções do Estado, principalmente no que diz respeito
à separação dos Poderes, necessário é o entendimento da trajetória percorrida pelas
civilizações até a eclosão dos Estados Democráticos de Direito. O presente trabalho tem como
ponto de partida o surgimento do Estado Moderno, entendido como a primeira forma de
Estado que compõe uma sociedade civilizada.
Estado Moderno, cujas principais características são a ligação íntima do homem ao solo em
que vive e a dominação do poder pela Igreja, no Estado Moderno o poder da Igreja vai se
dissipando e os indivíduos passam a desenvolver novas formas de sobrevivência, as quais não
lhes permitem uma vida de forma sedentária (BEDIN, 2008).
Assim, vai se consolidandoo conceito de Estado formado por Perry (1999 apud
BEDIN, 2008, p.81), segundo o qual se constitui numa “unidade política autônoma à qual os
súditos devem taxas e obrigações. O pré-requisito essencial do conceito ocidental de Estado,
tal como se configurou nos primórdios do período moderno, era a ideia de soberania.”
Também nesta seara, Streck e Morais (2010, p.44) definem quatro movimentos que
desenvolveram e constituíram o Estado Moderno, quais sejam:
Não obstante, Bodin (apud BEDIN, 2008, p. 110) ainda menciona atributos específicos
à soberania:
13
Consolidada a forma de Estado, há que relacionar o Poder a uma função, pois para
Streck e Morais (2010, p.43):
Streck e Morais (2010, p.46) ainda referem que “a passagem da forma estatal medieval
para o Estado Absolutista representou um avanço para as relações sociais e de poder.”
Também mencionam que o Estado calca-se na burocracia e no exército, sendo elementos
fundamentais, respectivamente, para a manutenção estrutural principal do Estadoque é a
soberania.
1
Cfe. Roth, André-Noël. O direito em crise: fim do estado Moderno? In: FARIA,José Eduardo (Org.).Direito e
globalização – implicações e perspectivas. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 24.
14
Poder situar o liberalismo como uma doutrina que foi-se forjando nas marchas e
contramarchas contra o absolutismo onde se situa o crescimento do individualismo
que se formula desde os embates pela liberdade de consciência (religiosa). Todavia,
isso avança na doutrina dos direitos e do constitucionalismo, este como garantia(s)
contra o poder arbitrário, da mesma forma que contra o exercício arbitrário do poder
legal.
Bonavides (1996, p.42) entende que é o primeiro Estado jurídico guardião das
liberdades, e surgiu com a Revolução Francesa. Refere, também, que a foi a burguesia, por
meio de contradições principiológicas, quem acordou o povo para a consciência de suas
liberdades políticas. Aponta que foi a Revolução Francesa que pontificou o liberalismo nos
textos constitucionais.
Com isto, é possível trazer breves definições de liberalismo emitidas por Bobbio (apud
STRECK; MORAIS, 2010, p. 56-57), segundo o qual “[...] o liberalismo é uma doutrina do
Estado limitado tanto com respeito aos seus poderes quanto às suas funções.” Ou “o
liberalismo é uma determinada concepção de Estado, na qual o Estado tem poderes e funções
limitadas, e como tal se contrapõe tanto ao Estado absoluto quanto ao Estado que hoje
chamamos de social.”
a) Separação entre Estado e Sociedade Civil mediada pelo Direito, este visto como
ideal de justiça;
b) A garantia das liberdades individuais; os direitos do homem aparecendo como
mediadores das relações entre os indivíduos e o Estado;
c) A democracia surge vinculada ao ideário de soberania da nação produzido pela
Revolução Francesa, implicando a aceitação da origem consensual do Estado, o
que aponta para a ideia de representação, posteriormente matizada por
mecanismos de democracia semidireta – referendum e plebiscito – bem como,
pela imposição de um controle hierárquico da produção legislativa através do
controle de constitucionalidade;
d) O Estado tem um papel reduzido, apresentando-se como Estado Mínimo,
assegurando, assim, a liberdade de atuação dos indivíduos.
Neste processo as ideias de John Locke tiveram uma importância diferenciada. Locke
partiu da teoria dos direitos naturais, afirmando que a existência do indivíduo é anterior ao
surgimento da sociedade e do Estado. E que “nesse estado pacífico os homens já eram
dotados de razão e desfrutavam da propriedade que, numa primeira acepção genérica
utilizada por Locke, designava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos
naturais do ser humano.”(MELLO, 2006, p. 84-85).
Quanto à propriedade, Locke (apud MELLO, 2006, p. 85) diz que: “já existe no estado
de natureza e, sendo uma instituição anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo
que não pode ser violado pelo Estado.” Refere também que o homem era naturalmente livre e
proprietário de sua pessoa e de seu trabalho, sendo que o limite da propriedade era fixado pela
capacidade de trabalho do ser humano.
Com esta concepção de propriedade ele ainda entende que possa haver violação desses
direitos e para coibir estes inconvenientes os homens se unem e estabelecem livremente o
contrato social que, por sua vez, realiza a transição do estado de natureza para a sociedade
política ou civil. Nesse sentido, Mello (2006, p.86) expressa:
16
Nesta linhagem Mello (2006, p.87) refere que após estar estabelecido estado civil, em
sequência vem a escolha da forma de governo, e que no contrato originário, por unanimidade
ganhou lugar o princípio da maioria, no qual prevalece a decisão majoritária, mas são
respeitados os direitos da minoria.
Ainda, na concepção de Locke (apud MELLO, 2006, p. 87), “todo o governo não
possui outra finalidade além da conservação da propriedade.”E, em seguida, para o autor:
Adentrando nas funções exercidas pelos poderes, Locke (apud MELLO, 2006, p. 100)
acentua a extensão do poder legislativo, dizendo que “a primeira lei positiva e fundamental de
todas as comunidades consiste em estabelecer o poder legislativo enquanto primeira lei
natural fundamental, que deve reger até mesmo o poder legislativo.” Menciona também que
“esse poder legislativo não é somente o poder supremo da comunidade, mas sagrado e
inalterável nas mãos em que a comunidade tenha uma vez colocado.”
Pode-se perceber indícios de democracia pelo que expõe Locke (apud MELLO, 2006,
p. 101) sobre o poder legislativo:
17
Nem pode qualquer edito de quem quer que seja, concebido por qualquer maneira ou
apoiado por qualquer poder que seja, ter força e a obrigação de uma lei se não tiver
sanção do legislativo escolhido e nomeado pelo público; porque, sem isto, a lei não
teria o que é absolutamente necessário à sua natureza de lei: o consentimento da
sociedade, sobre a qual ninguém tem o poder de fazer leis senão pelo próprio
consentimento daquela e pela autoridade dela recebida.
Na percepção de Locke (apud MELLO, 2006), o poder legislativo é aquele “que tem o
direito de estabelecer como se deverá utilizar a força da comunidade no sentido da
preservação dela própria e de seus membros.” As leis devem ter força constante e duradoura,
necessitando, consequentemente, de perpétua execução e observância. Assim, torna-se
necessário um poder permanente que acompanhe a execução das leis, qual seja, o executivo.
Locke (apud MELLO, 2006, p. 102) também se refere a um terceiro poder, que diz ser
um poder natural de uma comunidade, conferido aos indivíduos quando há controvérsias entre
qualquer membro da sociedade e os que estão fora dela. Quando da reparação do dano são
empenhados todos os membros da comunidade, surgindo o poder federativo, que assim
define: “O poder de guerra e de paz, de ligas e alianças, e todas as transações com todas as
pessoas e comunidades estranhas à sociedade, podendo-se chamar ‘federativa’, se assim
quiserem.”
No que diz respeito à vinculação entre os poderes, Locke (apud MELLO, 2006)
entende que os poderes executivo e federativo, por mais que distintos, não devem separar-se,
colocando-se em mãos distintas, em virtude de que a força do público ficaria sob comandos
diferentes e, consequentemente, causar desordem, ou nas suas palavras “ruína”.
Importante salientar que Locke (apud MELLO, 2006, p.103) se refere ao legislativo
como sendo um poder fiduciário, destinado a entrar em ação para certos fins, e ainda que
“cabe ainda ao povo um poder supremo para afastar ou alterar o legislativo quando é levado a
verificar que age contrariamente ao encargo que lhe confiaram.”
Por último, Locke (apud MELLO, 2006) afirma que quando o poder executivo, senhor
da força da comunidade, empregá-la para impedir a reunião e a ação do legislativo, ou seja,
empregar a força sobre o povo num estado de guerra com o povo, este que tem o direito de
reestabelecer o poder legislativo ao exercício dos seus poderes.
Na sua versão mais divulgada, a teoria dos poderes é conhecida como a separação
dos poderes ou a equipotência. De acordo com essa versão, Montesquieu
estabeleceria, como condição para o Estado de direito, a separação dos poderes
executivo, legislativo e judiciário e a independência entre eles. A ideia de
equivalência consiste em que essas três funções deveriam ser adotadas de igual
poder. (ALBUQUERQUE, 2006, p.120).
Albuquerque (2006, p. 120) ainda menciona que na teoria de Montesquieu “há uma
imbricação de funções e uma interdependência entre o executivo, o legislativo e o judiciário.”
Ou seja, há vinculação entre os mesmos e, desta forma, necessidade de outra instância capaz
de moderar o poder do executivo. O autor traduz essas palavras, expressando que:
Trata-se, dentro dessa ordem de ideias, de assegurar a existência de poder que seja
capaz de encontrar uma instância independente capaz de moderar o poder do rei
(executivo). É um problema político, de correlação de forças, e não um problema
jurídico-administrativo, de organização de funções.
19
Para que haja moderação é preciso que a instância moderadora (isto é, a instituição
que proporcionará os famosos freios e contrapesos da teoria liberal da separação dos
poderes) encontre sua força em outra base social. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 119-
120).
Os mesmos autores, todavia, mencionam que “as transformações sentidas pelo Estado
conduziram a um processo de compartilhamento de atribuições.” (STRECK; MORAIS, 2010,
p. 181). Referem que para amenizar estes problemas utilizam-se mecanismos como o de
delegar atribuições de um a outro órgão. Contudo, afirmam que atualmente seria preferível
falar em colaboração de poderes,
Desta forma, o Estado Liberal chega ao seu limite e uma nova etapa do Estado
Moderno está se formando: a denominada etapa do Estado Democrático de Direito e seus
avanços.
[...] a organização política em que o poder emana do povo, que o exerce diretamente
ou por meio de representantes, escolhidos em eleições livres e periódicas, mediante
sufrágio universal e voto direto e secreto, para o exercício de mandatos periódicos,
como proclama, entre outras, a Constituição brasileira.
2
“A constituição dirigente é o estatuto jurídico do político, o plano global normativo do Estado e da
comunidade.” (CANOTILHO apud BULOS, 2009, p. 21).
21
deDom Pedro I, que no ano de 1823 dissolveu o Poder Constituinte e, temendo limitações,
passou a elaborar a primeira Carta Magna do Brasil de forma, evidentemente, autocrática.
Art. 154. O Imperador poderá suspendel-os por queixas contra elles feitas,
precedendo audiencia dos mesmos Juizes, informaçãonecessaria, e ouvido o
Conselho de Estado. Os papeis, que lhes são concernentes, serão remettidos á
Relação do respectivo Districto, para proceder na fórma da Lei. [sic].
Julgando ser esta a principal característica que marcou o Brasil Império, além da
forma de governo monárquico-hereditária, os demais pontos não merecem ênfase no presente
estudo, uma vez que o Poder Moderador sobressaifrente aos demais que têm relação com o
presente tema. Ademais, é importante compreender algumas particularidades da época em que
o fato se sucede, qual seja, o Brasil Republicano.
22
Este novo modelo constitucional traz consigo a valorização dos princípios e dos
direitos fundamentais, sendo materializados na Constituição Federal de 1988 e,
consequentemente, impondo uma nova forma de interpretação pelo Poder Judiciário, de modo
que todo ordenamento jurídico passa a ser interpretado à luz dos princípios nela incluídos.
Considerando os princípios como normas abertas, segue o entendimento de
Barroso(apudALMEIDA, 2011, p. 22) a esse respeito:
24
Com efeito, neste novo modelo, o constituinte opta pelas denominadas cláusulas
abertas ou conceitos jurídicos indeterminados no qual os intérpretes – juízes e
demais operadores jurídicos – tornam-se coparticipantes do processo de criação do
Direito, completando o trabalho do legislador ao fazer valorações de sentido para as
cláusulas abertas e ao realizar escolhas entre soluções possíveis.
Para relevar, contudo, de forma mais impetuosa, a importâncias que hoje se dá aos
princípios, Bonavides (2010, p. 294) emite sua percepção:
cidadã, concluindo que o sistema político estruturado pela Constituição está ligado ao
welfarestate, qual seja, um Estado que tudo providencia, bem como em tudo intervém.
Em suas palavras, Ramos (2010, p. 271) infere que este modelo de Estado-providência
é justamente propulsor do Ativismo Judicial:
O principal fator que leva os juízes a atuarem de modo mais criativo (no limite,
chegando ao ativismo) é a grande transformação do papel do direito e do Estado na
moderna “sociedade do bem-estar”: mais cedo ou mais tarde, no entanto, como
confirmou a experiência italiana e de outros países, os juízes deverão aceitar a
realidade da transformada concepção do direito e da nova função do estado, do qual
constituem também, afinal de contas, um “ramo”. E então será difícil para eles não
dar a própria contribuição à tentativa do Estado de tornar efetivos tais programas, de
não contribuir, assim, para fornecer concreto conteúdo àquelas “finalidades e
princípios”: o que eles podem fazer controlando e exigindo o cumprimento do dever
do Estado de intervir ativamente na esfera social, um dever que, por ser prescrito
legislativamente, cabe exatamente aos juízes fazer respeitar.
Com isto, em determinadas situações, o Poder Judiciário passou a assumir “as vezes”
do Legislativo, suprindo o que foi deixado para trás por aquele. Pode-se referir,neste sentido,
“que os limites impostos pelo legislador são claramente ultrapassados, configurando-se, pois,
desvio de função por parte do órgão jurisdicional.” (RAMOS, 2010, p. 110). Porquanto, nesta
seara, o autor tece as seguintes considerações:
Isto se dá devido ao que o autor denomina como sendo a judicialização da vida, o que
significa que as questões abastadas de repercussão política e social, que deveriam ser
decididas pelas instâncias políticas tradicionais, quais sejam, o Congresso Nacional e o Poder
Executivo, estão sendo deliberadas pelos órgãos do Poder Judiciário. As causas disto,
certamente, advêm de uma tendência mundial e do modelo institucional brasileiro.
modo uma determinada evolução doutrinária e institucional, que não deve passar
despercebida.”
As “duas técnicas” de controle, citadas pelo autor, são o controle por via de exceção e
o controle por via de ação. Porquanto, a primeira trata-se de um meio menos amplo, aplicado
pelo recurso extraordinário e mandado de segurança. A segunda estende, amplamente, os
meios para atacar inconstitucionalidades. Desta forma salienta Bonavides (2010, p. 330):
deve-se entender o exercício da função jurisdicional para além dos limites impostos
pelo próprio ordenamento que incumbe, institucionalmente, ao Poder Judiciário
fazer atuar, resolvendo litígios de feições subjetivas (conflitos de interesse) e
controvérsias jurídicas de natureza objetiva (conflitos normativos).
Barroso (2010) faz entender que o ativismo não é fato, mas sim atitude. Ocorre quando
há déficit ou retração de outros Poderes, permitindo que o Judiciário aplique princípios,
principalmente visando a preencher lacunas, diante de situações que não estão previstas em
lei. Desta forma, inovajuridicamente e se tornaprotagonista no cenário.
A este respeito se manifesta Gomes (apud ALMEIDA, 2011, p. 6), afirmando que
“para Arthur Schlesinger há ativismo judicial quando o juiz se considera no dever de
interpretar a Constituição no sentido de garantir direitos.”O autor segue afirmando que “se a
Constituição prevê um determinado direito e ela é interpretada no sentido de que esse direito
seja garantido, não há ativismo, mas sim, judicialização do direito considerado.” (GOMES
apud ALMEIDA, 2010, p. 6). Ainda, segundo o autor, o ativismo ocorre sempre que o juiz
inventa uma norma, cria um direito, ou inova o ordenamento jurídico. Além disso, cita duas
espécies de ativismo judicial: o inovador, no caso de o juiz criar uma norma, e o ativismo
revelador. Nesse último o juiz também irá criar uma regra, um direito, contudo com base em
princípios constitucionais ou na interpretação de uma norma lacunosa.
Quanto à origem do Ativismo Judicial não há nenhuma corrente que lidere a produção
científica do tema nem mesmo teorias pétreas que orientem a sua investigação. Sabe-se,
porém, de antemão, que sua origem faz alusão com a jurisprudência norte-americana,
conforme dispõe Barroso(2010, p. 7):
Em que pese o entendimento acima referido ser um dos mais conhecidos, há que
referir as posições que o controvertem, tais como os citados por Almeida (2011, p.5):
32
Vanice Regina Lírio do Valle assevera que o termo ativismo judicial, conquanto se
refira ao meio jurídico, nasceu com a publicação de um artigo na revista americana
Fortune, pelo jornalista americano Arthur Schlesinger, numa reportagem sobre a
Suprema Corte dos Estados Unidos, no qual ele traçou o perfil dos nove juízes da
Suprema Corte. Ainda, segundo a autora, desde então o termo vem sendo utilizado,
normalmente, em uma perspectiva crítica quanto à atuação do poder judiciário.
De fato, desde o final da Segunda Guerra Mundial verificou-se, na maior parte dos
países ocidentais, um avanço da justiça constitucional sobre o espaço da política
majoritária, que é aquela feita no âmbito do Legislativo e do Executivo, tendo por
combustível o voto popular. Os exemplos são numerosos e inequívocos. No Canadá,
a Suprema Corte foi chamada a se manifestar sobre a constitucionalidade de os
Estados Unidos fazerem testes com mísseis em solo canadense. Nos Estados Unidos,
o último capítulo da eleição presidencial de 2000 foi escrito pela Suprema Corte, no
julgamento de Bush v. Gore. Em Israel, a Suprema Corte decidiu sobre a
compatibilidade, com a Constituição e com atos internacionais, da construção de um
muro na fronteira com o território palestino. A Corte Constitucional da Turquia tem
desempenhado um papel vital na preservação de um Estado laico, protegendo-o do
avanço do fundamentalismo islâmico. Na Hungria e na Argentina, planos
econômicos de largo alcance tiveram sua validade decidida pelas mais altas Cortes.
Na Coreia, a Corte Constitucional restituiu o mandato de um presidente que havia
sido destituído por impeachment. Todos estes casos ilustram a fluidez da fronteira
entre política e justiça no mundo contemporâneo.
33
Cappeletti (apud RAMOS, 2010, p. 110) afirma que no sistema de commom Law os
precedentes assumem posição declarativa ou criativa, interferindo diretamente na maneira
como os juízes e tribunais aplicam o direito legislado, e afirma: “o direito legislativo é visto
em certo sentido como fonte excepcional do direito.”Ramos (2010, p. 110) assim
complementa:
Judicialização é contingencial. Num país como o Brasil, é até mesmo inexorável que
aconteça essa judicialização (e até em demasia). Mas não se pode confundir aquilo
que é próprio de um sistema como o nosso (Constituição analítica, falta de políticas
públicas e amplo acesso à Justiça) com o que se chama de ativismo. O que é
ativismo? É quando os juízes substituem os juízos do legislador e da Constituição
por seus juízos próprios, subjetivos, ou, mais que subjetivos, subjetivistas
(solipsistas). No Brasil esse ativismo está baseado em um catálogo interminável de
“princípios”, em que cada ativista (intérprete em geral) inventa um princípio novo.
Na verdade, parte considerável de nossa judicialização perde-se no emaranhado de
ativismos.
Por outro lado, Maciel e Koerner (2002, p. 124) remetemao entendimento de Cittadino
no que tange à efetivação dos direitos fundamentais, inferindo-se, do exposto, que a autora
tende a defender a Judicialização, pois:
Registrem-se os seis pontos enumerados por Valle (apud ALMEIDA, 2011, p. 8) como
sendo condições para o surgimento e a consolidação da judicialização da política: “um
35
sistema político democrático; a separação dos poderes; o exercício dos direitos políticos; o
uso dos tribunais pelos grupos de interesse; o uso dos tribunais pela oposição; e a
inefetividade das instituições majoritárias.”
aqui debatidas, pois eminentes são os riscos à democracia perante esta situação. Não obstante,
as suas raízes podem surgir conforme sinalizado a seguir:
Para melhor elucidar tal situação, qual seja, a crise do Poder Legislativo, é salutar
compreender que se trata de órgão eletivo que, em tese, representa a soberania popular.
Apresenta-se, a seguir, a enunciação de Botelho (2011, p. 7) a este respeito:
Desta forma, sua legitimidade justifica-se pelo fato de o Judiciário estar decidindo no
sentido de alcançar objetivos previstos na Constituição, os quais são aprovados em
Assembleia Nacional Constituinte. O intérprete constitucional, portanto, que é o Judiciário, ao
fundar suas decisões em Princípios Constitucionais, legitima os seus atos. Conforme
Cittadino(apudROSÁRIO,2008, p. 825-826):
Em outro texto, Cittadino (2002, p. 135) ainda fundamenta que o ativismo pode
contribuir com a evolução sistêmica, assim dispondo:
CONCLUSÃO
Por este ângulo pode-se defender um Ativismo Judicial legítimo, considerando como
causa a aplicação dos princípios constitucionais assecuratórios de direitos fundamentais. Em
que pese haver inovação normativa quando da sua aplicação, haja vista a imprecisão da
linguagem constitucional, se está diante de uma situação na qual os direitos fundamentais, tão
amplamente assegurados na Constituição, passam a ser concretizados.
Não se vislumbra, portanto, qualquer mitigação ao princípio democrático, visto que tal
atuação decorre da própria Constituição. Desta forma, tais atos estão fortalecendo os
princípios da democracia e os principais fundamentos do Estado Democrático de Direito.
Merece ser destacadaainda a ampliação das formas de controle de constitucionalidade que
conferiram ao cidadão instrumentos para tornarem efetivos, via ingresso de ações
constitucionais, os direitos e garantias previstos na Constituição.
Por derradeiro, é importante destacar que o estudo não teve a pretensão de defender a
atuação política pelo Poder Judiciário ou sua postura ativista na atualidade. O objetivo
principal foi compreender o fenômeno e verificar as suas implicações, em especial diante do
princípio democrático. Desta forma, pressupondo que o ativismo Judicial e a Judicialização da
Política são realidades objetivas, inegáveis da atualidade, o estudo preocupou-se, acima de
tudo, com a compreensão de tais fenômenos e os limites que devem ser opostos, em especial
para preservar a vontade suprema do povo.
41
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Vicente Paulo de. Ativismo judicial. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/
revista/texto/19512>. Acesso em:7 maio 2012.
BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 6.ed. São Paulo: Malheiros,
1996.
______. Constituinte e Constituição. A democracia, o federalismo, a crise contemporânea. 3.
ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
COELHO, Inocêncio Mártires et al. Curso de direito constitucional. 4. ed. rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2009.
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT,
Francisco C. (Org). Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu,
Rousseau. 16.ed. São Paulo: Ática, 2006.
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de direito constitucional. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: parâmetros dogmáticos. São Paulo: Saraiva,
2010.
ROTH, André-Noël. O direito em crise: fim do estado Moderno? In: FARIA,José Eduardo
(Org.).Direito e globalização – implicações e perspectivas. São Paulo: Malheiros, 1996.
SILVA, José Afonso da.Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros,
2010.
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política e teoria do Estado.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
______; ______. OAB in foc.Uberlândia, MG, ano 4, n. 20, p. 15, ago/set. 2009.