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“A Urbanização desigual: A especificidade do fenômeno urbano em países

subdesenvolvidos”

Resenha crítica elaborada por José Vamberto Alves 1

A obra de Milton Santos foi originariamente impressa na cidade de Paris, nos


anos 1971, com o título original: “Spécificité du phenomene urbain em pay/sous-
développés”. No Brasil foi revista José Fernandes Dias e impresso pela Editora Vozes,
Petrópolis, nos anos 1980.

A visão da relação homem e espaço é objeto de discussão do Autor nesta obra, e


no seu esforço de filosofar em busca da verdade, o espaço deixa de ser simplesmente uma
área onde se exerce a atividade humana, assumindo aparências mais amplas de uma estrutura
social.

Santos analisa a especificidade do fenômeno urbano no contexto dos países


subdesenvolvidos, levando-se em consideração dados e informações coletadas no período
estatístico de 1920 a 1960.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, de forma aprofundada,


uma comparação numérica entre uma série de taxas e determinados indicadores de
desenvolvimento cujos dados e informações comprovam que a urbanização moderna dos
países industrializados acompanhou a Revolução Industrial.

Utilizou-se o critério “modernização” sendo os países separados em luminosos e


opacos. Na lista dos países hegemônicos figura os Estados Unidos da América, Suécia,
Inglaterra, Finlândia, Suécia, Holanda, País de Gales. Os países subdesenvolvidos foram
relacionados em 04 grupos, sendo que o Brasil figurou no segundo grupo, ao lado do Peru,
Porto Rico, Irã, México e Venezuela.

Para efeitos de comparação e no que tange a evolução socioeconômica, o estudo


escolheu como parâmetro um país considerado à época desenvolvido, a Finlândia e outro
subdesenvolvido, coincidentemente o Brasil.

Os parâmetros definidos para o estudo e análise de resultados foram a


urbanização, o consumo de energia, a taxa de escolaridade nos cursos secundários, a
expectativa de vida, a percentagem de mão-de-obra não agrícola e a densidade do
movimento postal.

Os pontos de partida para os estudos foram a evolução da modernidade, a


fecundidade feminina, a taxa de natalidade, o crescimento natural, a mortalidade versus
natalidade e as formas de crescimento urbano.

No que se refere às estruturas socioeconômicas destaque para as escolhas das


atividades urbanas e “modernas”, além das estruturas das empresas, do emprego industrial e
do consumo.

1
O resenhista é acadêmico do Curso de Bacharelado em Geografia da FAENG/UFMS.

1
Nos processos socioeconômicos da urbanização, a criação concomitante de um
excedente urbano e de um excedente rural teve como consequência o enriquecimento
coletivo, o que permitiu a industrialização progressiva.

Nesse sentido, a evolução do emprego assumiu contornos bem diferentes nos


países desenvolvidos e nos subdesenvolvidos. Nos primeiros, são os progressos tecnológicos
que, levando à urbanização, contribuíram para a transformação; nos países subdesenvolvidos
foi a evolução demográfica.

Nos países desenvolvidos há um processo cumulativo de capital, nos


subdesenvolvidos o processo é explosivo, mais localizado, mais seletivo e, por isso mesmo,
criador de descontinuidades. Isto explica as diferenças nos espaços – nacional, regional e
interior das cidades.

Nos países industrializados os processos econômicos predominaram sobre os


demográficos e precederam sua evolução; o contrário ocorreu nos países subdesenvolvidos.

A cidade dos países industrializados faz parte integrante de um território que a


gerou e com a qual viveu, em constantes inter-relações, enquanto a cidade dos países
subdesenvolvidos aparece muitas vezes como um corpo estranho, inserido em um meio com
o qual estabelece relações descontínuas no espaço e no tempo.

A ausência de ligações contínuas e homogêneas isola a cidade de seu meio; a


região foge à influência da cidade e as duas evoluem separadamente, sendo que no estudo
das cidades e do espaço nos dois mundos, alguns conceitos precisam ser abordados, como os
que se referem às cidades novas, as locais, a primacial e as macrocéfalas.

Sobre tais conceitos Milton Santos em Espaço e Sociedade (1982), outra de suas
obras, escreve um capítulo intitulado “As cidades locais no Terceiro Mundo”, onde
argumenta que em países subdesenvolvidos se interessa de preferência pelas grandes
cidades.

Destaque principalmente pelo fenômeno da macrocefalia, ou seja, uma rede de


centros urbanos muito desequilibrada em quantidade de população, num país, região ou
estado, onde há grandes cidades e faltam cidades de média dimensão.

Nosso Autor também trata em suas obras do fenômeno urbano, o das cidades
locais afirmando que essas cidades são mais comumente denominadas na literatura
especializada por cidades pequenas, mas que ele opta pela nomenclatura cidades locais,
diferentemente da cidade primacial, assim entendida aquela é considerada a mais importante,
mais iminente.

O argumento que sustenta seu entendimento é exatamente o critério do número


de população. Ocorre que Milton Santos entende que aceitar um número mínimo, como o
fizeram diversos países e também as Nações Unidas, para caracterizar diferentes tipos de
cidade no mundo inteiro, é incorrer no perigo de uma generalização perigosa.

Finalizando a obra, ressalta-se do entendimento exposto pelo Autor que a


receptividade do espaço, possibilitada pelas infraestruturas que traçam no território vias de
comunicações rápidas e integradoras, determina a especialização funcional das cidades.

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