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1 Marivaldo, irritado por ter tido seu nome inscrito no SPC pela imobiliária “Tudo Roxo”, faz

uma postagem nas redes sociais, no dia 10/01/2021. Na referida postagem, diz que a
Imobiliária “Tudo Roxo” é uma “ladra”, e que seu sócio gerente, o sr. João Lilás, é um
“judeu agiota”, e que também João Lilás falsificou a assinatura de Marivaldo no contrato
firmado com a imobiliária. Indignada, a Imobiliária “Tudo Roxo” interpõe um pedido de
explicações em juízo, no dia 10/02/2002, querendo que Marivaldo esclareça sua acusação.
No dia 09/07/2021, João Lilás oferece uma queixa-crime contra Marivaldo por calúnia,
difamação e injúria. No dia 10/07/2021, por sua vez, a imobiliária “tudo Roxo” oferece
queixa-crime contra Marivaldo por calúnia e injúria. No caso, pergunta-se:
O que dizer da ação penal movida pela Imobiliária e pelo sócio-gerente?
A ação movida pela Imobiliária não deve prosperar, visto que as pessoas jurídicas não são
consideradas sujeitos passivos no crime de calúnia.
Nessa linha, também predomina o entendimento de que a pessoa jurídica não possui honra
subjetiva, impossibilitando-a de figurar como sujeito passivo do crime de injúria.
Cumpre ressaltar que os titulares da pessoa jurídica podem ter a honra lesada, tornando-se, nessa
circunstância, vítimas do crime.
Por seu turno, a ação movido pelo sócio-gerente pode ser acatada em relação aos crimes de calúnia
e injúria, tendo em vista que lhe foi imputado fato definido como crime, atingindo-lhe a honra
objetiva, além de ter ocorrido ofensa à sua dignidade, ultrajando a sua honra subjetiva.
Em relação ao crime de difamação, a ação deve ser rejeitada, em virtude da postagem de Marivaldo
envolver fatos tipificados como crime, envolvendo, também, uma questão étnica e religiosa.

O que dizer da punibilidade destes delitos?


Concernente à calúnia, caso Marivaldo se retrate cabalmente antes da sentença, ficará
isento de pena.
Além disso, se Marivaldo sofrer um pedido de explicações em juízo, mas se recusar a dá-
las ou, a critério do juiz, não as dê satisfatoriamente, responderá pela ofensa.
Ademais, Marivaldo conseguindo provar que a imputação feita é verdadeira, não há se
falar em calúnia.
A injúria não admite a exceção da verdade, entretanto, pode ocorrer o perdão judicial nas
seguintes situações: quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a
injúria; no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
Que infrações penais podem ser atribuídas a Marivaldo? (1,0)
As infrações penais que podem ser atribuídas a Marivaldo são calúnia e injúria.
O crime de injúria fica evidenciado pelo uso da expressão “judeu agiota”, a qual foi direcionado ao
sr. João Lilás. Nesse caso, trata-se de injúria preconceituosa (qualificada), conforme o art. 140, § 3º,
do Código Penal.

A calúnia está caracterizada por Marivaldo imputar o crime de falsificação de assinatura ao sócio
gerente, sr. João Lilás. Ademais, ao dizer que a Imobiliária “Tudo Roxo” é uma ladra, Marivaldo
também responderá por calúnia, entretanto, o sujeito passivo será o sr. João Lilás.
Conforme preleciona o professor Damásio de Jesus, “se caluniar é atribuir a alguém a prática de
crime, e se somente o homem pode ser sujeito ativo de crime comum, é evidente que só ele pode ser
caluniado. Dessa maneira, a imputação caluniosa dirigida a uma pessoa jurídica se resolve em
calúnia contra as pessoas que a dirigem, tratando-se de crime comum”.
Além disso, o professor Cezar Roberto Bitencourt destaca que “como prevalece, no Brasil, a teoria
da ficção, a doutrina historicamente tem-se posicionado contra a possibilidade de a pessoa jurídica
ser sujeito passivo do crime de calúnia”.
Por ter feito a postagem em redes sociais, as penas serão aumentadas em um terço, caso Marivaldo
seja condenado pelos crimes de calúnia e injúria.
Um sujeito pretende matar sua vizinha, para, após a morte da desafeta, ocupar ilicitamente suas
terras. À noite, vê o que supõe ser sua vizinha encostada numa árvore. Ato contínuo, pega sua arma
de uso restrito e atira na vítima, causando-lhe a morte. Todavia, quando se aproxima do corpo,
percebe que não era sua vizinha, mas sim sua amada filha, que estava ali recostada. Como o sujeito
responde penalmente?

Neste caso, vai responder como se tivesse praticado o crime contra sua vizinha.
Conforme o art. 20, § 3º, do Código Penal, o erro quanto à pessoa contra a qual o crime é
praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou
qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
Em suma, no erro sobre a pessoa ou error in persona, o sujeito deve ser punido pelo crime que
efetivamente cometeu contra a filha (vítima efetiva), como se tivesse atingido a vizinha (vítima
virtual).

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