Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

A1 – DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Larissa Pereira de Sousa R.A 817126490


Nathália Saldanha Taveira R.A 817123143
Victoria Vanessa Viana de Sousa R.A 817117404
Sob a ótica do direito internacional privado (“DIPr”) brasileiro:

A) Qual ordenamento jurídico regula os aspectos patrimoniais (regime de bens)


do casamento de Markus e Renate?
Com base no caso relatado, Marcos casou-se com Renate em Roma, considera-se que
a primeira moradia deles foi na Itália, consequentemente o ordenamento jurídico que vai
regular o regime de bens será onde houve a primeira moradia conjugal (Roma – Itália).
Temos entendimento no Art. 7 § 4 Da Lindb.

Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras


sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os
direitos de família.
§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do
país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do
primeiro domicílio conjugal. (grifo nosso)

O Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial sob o n. 134246 / SP, assim


decidiu:
Ação declaratória. Casamento no exterior. Ausência de pacto
antenupcial. Regime de bens. Primeiro domicílio no Brasil. 1. Apesar
do casamento ter sido realizado no exterior, no caso concreto, o
primeiro domicílio do casal foi estabelecido no Brasil, devendo aplicar-
se a legislação brasileira quanto ao regime legal de bens, nos termos
do art. 7º, § 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil, já que os cônjuges,
antes do matrimônio, tinham domicílios diversos. 2. Recurso especial
conhecido e provido, por maioria.

Diniz (2012, p. 244-245) faz a distinção entre capacidade de direito ou de gozo da


capacidade de exercício ou de fato.

A primeira refere-se à "aptidão, oriunda da personalidade, para adquirir


direitos e contrair obrigações". A segunda é a "aptidão de exercer por
si os atos da vida jurídica, dependendo, portanto, do discernimento".
Salienta que grande parte dos autores entende que é a capacidade de
exercício que se submete ao art. 7.º da LINDB, ou seja, à lei pessoal.

E ainda, O Código de Bustamante dispõe em seu artigo 188 que:

Código de Bustamante artigo 188 - Art. 188. É de ordem publica


internacional o preceito que veda celebrar ou modificar contratos
nupciais na constância do matrimonio, ou que se altere o regime
de bens por mudanças de nacionalidade ou de domicilio
posteriores ao mesmo.

Desta forma, o regime de bens não poderia ser alterado mesmo que o casal tenha feito
o registro do casamento em repartição consular e constituído domicilio no Brasil.
b) qual ordenamento jurídico regulava os aspectos da relação paterno filial entre
Markus e Renate e seus filhos?

O ordenamento jurídico que regula os aspectos de relação paterno-filial entre os


familiares (pai, mãe e filhos) é o País de último domicílio da cujus, que estava
domiciliada no Brasil e os imóveis sobre os quais deve decidir a jurisdição estão situados
também no Brasil, portanto, deve decidir a jurisdição brasileira, Markus é herdeiro
necessário, mas os herdeiros são os filhos, sendo ele concorrente deles. Como
podemos ver nos seguintes Artigos.

Artigo 7º § 7º LINDB - Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da


família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do
tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda

Art. 1.845. Código Civil - São herdeiros necessários os descendentes, os


ascendentes e o cônjuge.

Art. 10º do Código Civil - A sucessão por morte ou por ausência obedece a
lei do país em que era domiciliado o defunto (...)
§ 1º - A vocação para suceder em bens de estrangeiro situados no Brasil
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge brasileiro e dos
filhos do casal, sempre que não lhes seja mais favorável a lei do domicílio.
§ 2º - A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para
suceder.

Em adição a isto temos a seguinte jurisprudência:

RELAÇÃO Nº 0162/2021
Processo 1008042-71.2020.8.26.0664 - Inventário - Inventário e Partilha
- Simone Pereira Neves - Graig Robert Maclugash - Fazenda Pública do
Estado de São Paulo - Vistos. (i) Bens e Valores depositados no Brasil
devem ser inventariados pela Justiça Brasileira (art. 23 do CPC). (ii) O
falecido, estrangeiro, era domiciliado, ao tempo do óbito, no Brasil, pelo a
sucessão é regulamentada pelo Direito Nacional (art. 10 do Decreto
Lei 4657/42). (iii) Os sucessores, esposa brasileira e dois filhos menores
estrangeiros, são domiciliados no Brasil, pelo que sua capacidade para
suceder é regulamentada pela Lei Brasileira (art. 10 do Decreto
Lei 4657/42). Pelo plano de partilha a esposa fica apenas com a meação,
não concorrendo com os filhos menores na parte do falecido. Sem prejuízo,
pois, aos menores, e sendo o plano de partilha apresentado por sua mãe e
em seu interesse também, sendo a genitora maior e capaz, sem notícia de
divórcio averbado lá ou aqui, HOMOLOGO O PLANO DE PARTILHA. Sem
necessidade de expedição de formal porque não há necessidade de registro
junto ao CRI. O dinheiro dos menores deve ser depositado em juízo, em até
30 dias, para garantia de resguardo, autorizado levantamentos mediante
requerimento fundado. Comunique-se a Fazenda do Estado de São Paulo
para lançamento tributário do ITCMD. Ciência ao MP. PRIC -
ADV: VINICIUS ZANGIROLAMI (OAB 343094/SP)

Segundo Sílvio de Salvo Venosa, tem-se que:


“A capacidade para suceder é a aptidão para se tornar herdeiro ou legatário
numa determinada herança. A vocação hereditária está na lei, norma
abstrata que é. Daí por que a lei diz que são chamados os descendentes,
em sua falta os ascendentes, cônjuges, colaterais até quarto grau e o
Estado.”32

2- Considerando-se que os filhos de Markus e Renate são menores, se o casal


pretendesse se divorciar, sob o ponto de vista do DIPr brasileiro, o divórcio entre
Markus e Renate poderia ser processado em outra jurisdição que não a brasileira?
Se sim, em que extensão? Ainda, seria necessário homologar no Brasil tal
eventual divórcio estrangeiro?

No caso em tela, mostra que Renate e Markus se casaram pelo regime de separação
total de bens, porém nos traz que o casal possuía bens comuns, deste modo terá que
ocorrer a partilha de bens. Desta forma, os bens comuns adquiridos pelo casal são bens
imóveis localizados no Brasil, fica competente o ordenamento jurídico brasileiro de
ajuizar o divórcio, pois o mesmo ordenamento não admite decisão de outro Juiz, que
não seja do Brasil, no que diz respeito a partilha de bens no Brasil. Portanto, somente o
juízo brasileiro é competente para ajuizar o divórcio, conforme o artigo do CPC abaixo:

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à
partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

O divórcio também poderia ser processado na Itália, porém só teria competência para
julgar guarda dos filhos e alimentos por exemplo.
E mesmo após divorciados na Itália, teria que ser homologado no Brasil, pelo Supremo
Tribunal de Justiça, para que seja reconhecida e produza efeitos em território nacional,
conforme dispõe o art. 961 do CC.

Art. 961 CC - A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a


homologação de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas
rogatórias, salvo disposição em sentido contrário de lei ou tratado.

Analisaremos os julgados do STJ a seguir acerca de homologação de sentença


estrangeira de divórcio no Brasil:

SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA Nº 2.259 - CA


(2007/0065804-5)

EMENTA
SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVÓRCIO. HOMOLOGAÇÃO. 1.
Homologa-se sentença estrangeira de divórcio que não viola a soberania
nacional, os bons costumes e a ordem pública. 2. Alegação de ausência
de citação que não tem procedência. O requerido compareceu à audiência
de instrução e julgamento realizada pelo juízo estrangeiro e formulou
reivindicações. 3. Preenchimento das condições legais para a
homologação da sentença estrangeira que se reconhece. 4. O divórcio
realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros,
produzirá efeitos ao Brasil somente após um ano da sentença, ou mais de
dois anos de separação de fato. 5. Sentença homologada para que
produza os seus jurídicos e legais efeitos.[2]

SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA Nº 7.782-6 ESTADOS


UNIDOS DA AMÉRICA

EMENTA

SENTENÇA ESTRANGEIRA - DISSOLUÇÃO DE CASAMENTO -


ACORDO. Estando a sentença estrangeira autenticada pelo consulado
brasileiro e coberta pela preclusão maior, passado o período previsto no §
6º do artigo 226 da Constituição Federal, impõe-se a homologação.

Conforme exposto, tratando-se de casal onde um dos dois nubentes é brasileiro, a


doutrina diz ser necessária homologação de divórcio estrangeiro. Porém o §5º do art.
961 do CC contraria esse entendimento dizendo que a sentença estrangeira de divórcio
consensual produzirá efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo STJ.

Art. 961, § 5º, CC - A sentença estrangeira de divórcio consensual produz


efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior
Tribunal de Justiça

A seguir entendimento do STJ sobre o tema:

HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA Nº 4707 - EX (2020/0324226-


5) RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE DO STJ
REQUERENTE: T M B ADVOGADOS: PAULO HENRIQUE DE MATOS -
MG200849 LUIZ FERNANDO ALVES GONCALVES - MG182547
REQUERIDO: A P M M
DESPACHO Cuida-se de sentença estrangeira relativa a divórcio consensual
simples, ou puro, porque nele não há disposição sobre guarda, alimentos,
adoção e/ou partilha de bens, mas apenas a dissolução do matrimônio.
Intime-se a requerente, na forma dos arts. 9º e 10 do Código de Processo Civil,
para que, no prazo de 30 dias, manifeste-se acerca do disposto no § 5º do art.
961 do mesmo código.
Decorrido o prazo sem resposta, arquivem-se os autos nos termos do art. 216-
E, parágrafo único, do RISTJ.
Publique-se.
Brasília, 09 de março de 2021.
MINISTRO HUMBERTO MARTINS
do 1º Ofício do Registro Civil do Distrito Federal, em falta de domicílio
conhecido, quando tiverem de produzir efeitos no país.
(grifo nosso)

Você também pode gostar