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ESTIGMA

A sociedade procura constantemente uma categorização e a delimitação do ambiente


social, que dá origem a diferentes julgamentos de caracter natural ou comum ao
individuo, com base nas categorias em que o individuo se insere, à luz das expectativas
sociais. Estas expectativas sociais, sob a forma de pré-noções, encontram-se assentes
nos diferentes grupos sociais, e visam uma ordem social. Visto que os atributos do
individuo são alvo de uma categorização intrínseca na sociedade, dá-se a formação,
estruturação e organização de um conceito de normalidade social.

Desta forma aqueles que apresentam um grupo de atributos que diferem da regularidade
social, tendem a ser excluídos da ordem social. E neste contexto que surge o conceito de
Estigma.

Um estigma é uma representação da realidade, um processo de formação de status


morais que a sociedade consciente ou inconsciente, continuamente cria de forma a
caracterizar os indivíduos com base nos seus atributos. É intrinsecamente ligado a juízos
de valor, uma depreciação onde se analisa a identidade humana. Ou seja, um estigma
manifesta-se sob a forma de afirmação uma posição moral quanto à
normalidade/anormalidade do individuo por parte da sociedade. Este comportamento
tem por norma a redução da pessoa a uma inferioridade e limita-se a comparar a sua
“anomalia” á normalidade, tomando o partido de que estes atributos indesejáveis são
incompatíveis com a expectativa social criada, esquecendo os aspetos positivos e
normais do individuo. Rebaixamos o seu potencial pessoal, mesmo antes de o conhecer.
Criamos assim uma identidade social virtual que, provavelmente é destinta da sua
identidade social real, isto é, aquilo que ele realmente mostra ser. Estes desvios sociais,
explicados pela teoria da rotulagem, contam com a presença da estigmatização que
modifica e constrói socialmente a identidade do individuo com base na interpretação e
na criação de expectativas sociais quanto ao seu comportamento ou ao seu carácter.
Como o autor refere “nossas preconceções, nós as transformamos em expectativas
normativas, em exigências” p.12. interpreta-se que a ordem social se dá pela formação
de ideais, expectativas e exigências da ação humana na sociedade. Porém, “o que é
preciso, na realidade, é uma linguagem de relações e não de atributos” pág. 13.

Goffman quer dizer com isto, que a estigmatização não deve definir uma pessoa com
base na sua identidade social, mas sim nas relações sociais que eles apresentam perante
o seu contexto social. Deste modo, o estigma surge como meio de discrepância entre o
real e o social.

3 TIPOS DE ESTIGMA:

Como já foi visto, a estigmatização tem subjacente uma depreciação e um atributo


geralmente visto como negativo, seja por fatores físicos, psíquicos ou pelos valores e
ideais do individuo em contexto com o seu grupo social. Esta rotulagem surge pela
implementação de uma ordem social que limita a normalidade, a expectativa social.

Apesar de muitas vezes representada por um coletivo de indivíduos, sob a forma de


grupos sociais, esta perceção do social começa por uma introspeção individual, cuja
base é assente na existência de diversas motivações que variam consoante o contexto
social em que o individuo se insere. Com esta multiplicidade de origens da
discriminação, Gofman distingue 3 tipos de estigma.

Primeiramente, o estigma referente ao defeito físico. O seu objetivo de julgamento são


as deformidades visualmente percetíveis, ou seja, as abominações corporais. Um
exemplo facilmente compreendido, são os portadores de deficiências crónicas, que
limitam o individuo a uma mobilidade reduzida.

De seguida, encontra-se o defeito do caracter individual, estigma que tem como alvo a
desonestidade, as falsas crenças, ou seja, as características anormais a nível psíquico do
individuo. Exemplo deste estigma, são os indivíduos portadores de distúrbios mentais
ou as vítimas de suicídio.

Por último o estigma caracterizado pelo seu juízo de valor e pela interpretação face a
normas individuais e do grupo social em que os indivíduos estão inseridos, ao terem um
comportamento depreciativo de uma serie de atributos de um individuo pode,
simultaneamente, confirmar a normalidade de outro individuo.

No entanto, uma pessoa ao ser vítima de uma estigmatização pode se tratar de um


reconhecer de uma característica já conhecida, ou então de um rótulo que nem para o
próprio individuo é percetível.

Neste sentido surgem duas formas de perceção do estigma: o desacreditado e o


desacreditável. A condição de desacreditado diz respeito a perceção do individuo do
estigma que é alvo e o reconhecimento da mesma por ser um atributo socialmente
evidente. Isto acontece quando existe uma discrepância entre a identidade real de um
individuo e a sua identidade virtual. O reconhecimento do atributo invulgar, dá-se
quando esta característica ou atitude perdura no tempo e se torna comum na vida do
individuo. Nesse sentido, as pessoas vão adquirir a perceção dessa anomalia e o próprio
irá questionar sobre a normalidade da sua função. Já o estado de desacreditável surge
quando a característica destinta não é percetível nem pelos atores sociais nem pelo
próprio.

Representações do corpo da vida humana: as vítimas de estigmas, sofrem a influencia


social que um estereotipo tem, que os desvaloriza enquanto indivíduos com potencial, e
visa a desintegração social, é, portanto, claro que cabe ao estigmatizado desacreditado
tentar ocultar o constante processo de atribuição de estigma dos seus atributos e a
modificação inerente à sua identidade social. É preciso aprender a viver com o estigma,
seja de que natureza for, porém, apesar de ser possível a aceitação do rótulo, muitas
pessoas passam pela sua omissão, visam ao desfarce da sua realidade virtual, e para tal,
ocorre um jogo de representação constante no palco da vida quotidiana.

A pessoas estigmatizada que não obtém o respeito do individuo, pode não aceitar-se a si
mesma, na medida em que os seus defeitos são expostos e reconhecidos pelo social.
Neste sentido, cabe ao estigmatizado o objeto de atingir a normalidade, através de
diferentes meios.

Goffan, aponta essas destintas metodologias frequente com a procura da reintegração


social. Há quem passe por um processo de vitimização, em que o individuo se
desculpabiliza os seus fracassos pela anomalia que detém, ou a consideração do seu
sofrimento como uma “bênção secreta” pg.20, como uma oportunidade de
aprendizagem pessoal. Há quem adquira um humor próprio face ao seu atributo, com
vista a normalizar e desvalorizar a sua diferenciação. Por outro lado, a quem se tente
superar de forma proativa, com o objetivo pela prática de atividade que lhes são
inicialmente renegadas face a sua anomalia. Exemplo deste caso, é a participação de
diversos indivíduos, com as mais variadas deficiências nos jogos paraolímpicos. Há
igualmente a criação de refúgios para os estigmatizados, como por exemplo a existência
de grupos sociais, representados por associações de uma determinada deficiência que
visa a integração e ao desligar dos efeitos de estigma que carrega no seu quotidiano
(existe uma forma de superação, poderá se esforçar á pratica de actividades das quais
são renegados, pelas quais a incapacidade socialmente reconhecida, poderá ser
trabalhada de forma a reduzir a anomalia, sendo que o que era incapaz de fazer, poderá
tornar-se na sua maior competência.

Identidade social

Para Goffman, a identidade social, é um valor que tem origem num processo de
categorização social, que se entende como um conjunto de todos os atributos associados
a um ser, e que caracterizam individualmente, ou seja, a sua identidade é a imagem que
representa a sua essência. No entanto, a estigmatização continua do social, molda e
transforma as identidades sociais dos indivíduos. Assim, Goffman apresenta uma
distinção entre os dois tipos de identidades sociais.

A identidade social real, que não é nada mais nada menos que o caracter e os atributos
que o individuo manifesta no social, que prova possuir. Por outro lado, apresenta-nos a
identidade social virtual, identidade de acordo com as expectativas, estereótipos criados
em redor de um individuo.

Esta última está relacionada com a influência direta da perceção dos atores sociais pela
identidade alvo de estigmas, que é, portanto, construída e modificada em função das
expectativas que o social impõe sobre o mesmo individuo. O autor também refere a
necessidade coletiva da sociedade em estabelecer uma ordem social, em que haja uma
serie de comportamentos, ações e valores comuns ás regras estabelecidas, de modo a
haver um consenso e uma sociedade coesa. Mas essa coesão é posta em causa pela não
aceitação da diferenciação, do desvio á ordem, que submete em causa a identidade dos
indivíduos com atributos dispersos, dando origem à estigmatização e á transformação da
identidade real do individuo, numa identidade virtual.

Mas um grande problema está assente nesta discrepância entre a identidade social
virtual e a identidade social real, que é a desintegração do individuo na sociedade, por
este ser desvalorizado continuamente quando foge à normalização e, portanto, é
necessária uma requalificação constante dessa identidade virtual do individuo de forma
a não desvalorizar e limitar o valor do individuo, zelando por uma integração social.

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