Juiz de Direito do 2º Juizado Especial Cível da Comarca de
Ouro Fino, Estado de Minas Gerais.
Processo nº: 5000140-89.2020.8.13.0460
Connie Desiree Lemos Banchieri Flausino, já qualificada
nos autos em epígrafe, vem, respeitosamente a presença de Vossa Excelência na ação que move em face de Azul Linhas Aéreas Brasileiras S/A, impugnar a contestação apresentada, o que faz nos seguintes termos:
Quanto a preliminar apresentada de inépcia da inicial,
entende, respeitosamente, que se confunde com o mérito, ademais, as ações propostas nos Juizados Especiais não detêm os rigores formais exigidos na Justiça Comum, tudo porque, a própria parte pode requerer em Juízo, sem a necessidade de advogado ( Jus Postulandi).
Agrega-se que, a presente tem espeque na Lei 13.105/2015,
segundo a qual as condições da ação se fundam no interesse de agir e na legitimidade da parte (artigo 330 CPC).
Ainda, as relações jurídicas entre passageiros e companhias
aéreas, estão abroquelas pela Lei 8.078/90 CDC, dada a natureza de prestação de serviços e relação de consumo entre estes, o que via de regra dá-se a inversão do ônus da prova (artigo 6, VIII do CDC).
Por fim, a ré apresentou extensa defesa, dando controvérsia
valida a presente, em todos os seus termos.
Assim, pelos inconsistentes argumentos lançados e
divorciados das leis, impugna a preliminar arguida e requer o seu indeferimento pelas razões acima.
Quanto ao mérito, causa espécie as alegações da ré, “gigante
da aviação”, que a autora deveria apresentar no ato do fato, prova da existências dos objetos que desapareceram da mala, chegando ao desplante de perguntar em defesa, onde estão as notas fiscais dos bens. Afirmando ainda, que autora poderia ter deixado tais objetos em sua casa, e vai... pergunta se tais objetos eram novos e se foram comprados durante a viajem; Mas se esquece, que ela, a própria ré, reconhece que houve avaria na bagagem e que o peso de embarque era maior que no desembarque (fls.8). Portanto, faltava bens e objetos da bagagem.
Como se vê, o dano material é evidente e o moral
também, tudo porque, a ré insiste em dizer que estou à querer levar vantagem e enriquecer à custas dela, chegando até a pedir nota fiscal de presentes dado por meu filho a mim e meu marido. Ora, já não basta o constrangimento e o dessabor que passei por horas no aeroporto ao ver minha mala violada sem meus pertences, ainda ser chamada de aproveitadora e mentirosa!
Entendo que, toda logística do transporte aéreo é de
responsabilidade da ré, desde a coleta da bagagem até sua entrega na esteira do aeroporto de destino, devendo ser responsabilizada, por eventuais danos causados por seus empregados, quer seja por culpa ou dolo destes.
A inversão do ônus deverá ser aquilatada e deferida por
Vossa Excelência nos termos do artigo 6º VIII do CDC, pois tudo que aleguei no pedido inicial é verossímeis e segundo o autor Carlos Roberto Barbosa Moreira:
“A verossimilhança se assenta num juízo de
probabilidade, que resulta, por seu turno, da análise dos motivos que lhe são favoráveis (convergentes) e dos que lhe são desfavoráveis (divergentes). Se os motivos convergentes são inferiores aos divergentes, o juízo de probabilidade cresce; se os motivos divergentes são superiores aos convergentes, a probabilidade diminui.” (MOREIRA, Carlos Roberto Barbosa. Notas sobre a Inversão do Ônus da Prova em benefício do Consumidor. Revista dos Tribunais, São Paulo, n. 22, p. 142, abr./jun. 1997)
Soma-se a isto, a hipossuficiência que refere o artigo 6º,
VIII do CDC quanto ao conhecimento das normas técnicas e à informação e segundo Paulo de Tarso Sanseverino conclui:
“A hipossuficiência, que é um conceito próprio do
CDC, relaciona-se à vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. Não é uma definição meramente econômica, conforme parte da doutrina tentou inicialmente cunhar, relacionando-a ao conceito de necessidade da assistência judiciária gratuita. Trata-se de um conceito jurídico, derivando do desequilíbrio concreto em determinada relação de consumo. Num caso específico, a desigualdade entre o consumidor e o fornecedor é tão manifesta que, aplicadas as regras processuais normais, teria o autor remotas chances de comprovar os fatos constitutivos de seu direito. As circunstâncias probatórias indicam que a tarefa probatória do consumidor prejudicado é extremamente difícil.” (SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 348).
A empresa aérea, é sempre a responsável civil pelas
ações ou omissões por seus atos praticados, ou de seus empregados, agentes, prepostos ou terceiros contratados ou subcontratados, como se as ações ou omissões prestadas fossem realizadas por ela própria.
A ré, independentemente de agir com culpa ou não, é
exclusivamente responsável por quaisquer danos que a bagagem venha a sofrer.
Na sua defesa, a ré, não trouxe nenhuma prova capaz de
ilidir sua culpa. A alegação de que não houve o dano e não há prova de que a bagagem foi violada, cai por terra, pois, o próprio documento produzido por ela, ré, reconhece o sinistro, além do peso a menor da bagagem, tornando-se fato incontroverso.
Ademais, não cabe, agora, maiores discussões, tudo porque
os dispositivos legais invocados são taxativo em relação a responsabilidade civil da ré e se sobrepõe a qualquer instrução ou regra de órgãos de controle.
De qualquer forma, passei por dissabores e desgastes
totalmente desnecessários, gerando assim o dano moral pretendido.
Nada assiste a ré em se escusar de efetuar o pagamento do
valor pedido na inicial, além do dano moral em valor a ser determinado por Vossa Excelência, mesmo porque sua culpa é evidente, confessa e expressa em Lei.
É cediço que nesse tipo de relações consumeira de
prestação de serviços, a inversão do ônus da prova é regra.
Ante o exposto, impugna a defesa apresentada pela ré
em todos os seus termos e requer a inversão do ônus da prova, ante argumentação acima, e que o pedido inicial seja julgado inteiramente procedente.