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Professor Marcos Galdino Apresenta: 

30 Repertórios 
Socioculturais 
COMPLETOS para sua 
Redação do ENEM 
 

 
 

APRESENTAÇÃO 
 

A  maior  parte  dos  alunos  que  se  candidatam  à  realização  do  ENEM  não  está 
preocupada em garantir um repertório sociocultural.  

Seduzidos  pelas  ideias  mirabolantes  de  quem  não  entende  do  assunto, 
preocupam-se  em  gabaritar  o  maior  número  de  questões  e  fazer  uma  redação 
mediana,  acreditando  no  milagre  das  “Fórmulas  Prontas”  e  “Repertórios 
Coringa”. 

O  resultado  desses  "métodos"  que se valem do DESESPERO dos candidatos, são 


as  chamadas  redações  "Frankensteins",  compostas  por  citações  forçadas, 
descontextualizadas  e  que  podem  ser  ZERADAS,  caso  haja  ocorrência  de  plágio 
ou fuga do tema. 

Ou  seja,  as  soluções  "coringa"  não  são  as  mais  adequadas  para  VOCÊ, que quer 
garantir uma redação escrita com consistência e profundidade. 

 
 

O  e-book  “30  Repertórios  Socioculturais  Completos  para  sua  Redação  do 


ENEM”,  que  você teve acesso GRATUITAMENTE é um fragmento do material que 
disponibilizo  no  meu  curso  INÉDITO  chamado  ​“Desbloqueio  dos  Repertórios 
Socioculturais 2.0”​, que te ensina COMO GARANTIR 40% DA NOTA DA REDAÇÃO 
DO ENEM, através do domínio dos Repertórios Socioculturais.  

Isso  mesmo:  dos  1000  pontos  disponíveis,  400  pontos  estão  diretamente 
relacionados  aos  Repertórios  Socioculturais!  Isso  significa,  que  sem  o  domínio 
dos Repertórios Socioculturais, É IMPOSSÍVEL ALCANÇAR A NOTA MÁXIMA.  

Se  você  faz  parte  do  grupo  de  alunos  que  está  preocupado  em  garantir  um 
repertório  sociocultural  de  qualidade  e  sair  na  frente  dos  seus  concorrentes, 
esse curso é para você! Para se inscrever, basta você c
​ licar aqui​! 

Se  esse  e-book  foi  útil  para  você  de  alguma  forma,  ficarei  muito  feliz  em  saber! 
Envie seu f​ eedback​ por e-mail para ​repertorios.galdino@gmail.com​.  

Bons estudos! 

 
 

1.   A  VIDA  NA  SOCIEDADE  DE  VIGILÂNCIA: 


George Orwell e o clássico “1984”
A  obra "1984", de George Orwell trata de uma temática que não poderia ser 
mais  atual:  o  que pode ocorrer com uma sociedade altamente vigiada? E quando 
essa vigilância transforma-se em mecanismo para controlar as pessoas? 

A  história  se  passa  no ano de 1984, em um futuro distópico onde o Estado 


impõe  um  regime  extremamente  totalitário  para  a  sociedade,  através  da 
vigilância  do  Grande  Irmão,  imposta  pelo  partido (Ingsoc), onde ninguém escapa 
do seu poder. 

Esse  romance,  apesar  de  contar  a  história  no  futuro,  foi  inspirado  em 
regimes  totalitários  das  décadas  de  1930  e  1940,  trazendo  uma  profunda 
reflexão  e  crítica  ao  fato  de  cidadãos  comuns  serem  reduzidos  a  peças  para 
servir o Estado, através do controle total. 

Muito  mais  do  que  o  nazismo  e stalinismo é possível traçar paralelos com 


diversas formas de controle do governo e também do mercado sob a sociedade. 

O  livro  marcou  não  só  sua  geração  por  já  ter  nascido  tocando  em 
assuntos  polêmicos,  mas  influenciou  vários  pensadores,  obras  e  até  a  cultura 
pop. 

 
 

"Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o 


passado” 

 
 

2.   “OS  FINS  JUSTIFICAM  OS  MEIOS”?  Pensando 


política a partir de Nicolau Maquiavel 
Produzido em 1513, “O Príncipe” é um clássico literário mundial do escritor 
italiano  Nicolau  Maquiavel.  Publicado  em  1532,  desde  a  primeira  edição  já  era 
uma obra póstuma. 

Redigido  sob  a circunstância da ruína de uma república, o autor refere-se a 


todos  os  reis,  príncipes,  duques  e  imperadores  que  fazem  parte  de  um  governo 
hereditário concentrado em único indivíduo. 

Maquiavel  explica  detalhadamente  tudo  que  um  novo  príncipe  precisava 


ter e fazer para conquistar e se manter no poder. Do ponto de vista de Maquiavel, 
um  príncipe  precisava  ter  sorte  e  virtú,  que  significava  habilidade  e  inteligência 
para governar. 

Defendia  que  a  desonestidade,  a  mentira  e  a  crueldade também poderiam 


ser úteis, pois um governante que se mantém piedoso e fiel a palavra dada talvez 
cause  desgraças  ainda  maiores.  Como  na  política  tudo  muda  muito  rápido,  faz 
sentido afirmar que "os fins justificam os meios". 

 
 

Em sua opinião, é possível estabelecer algum paralelo entre o pensamento 


maquiaveliano e a política na atualidade? 

 
 

3.   INDIVÍDUO  E  SOCIEDADE:  Discutindo  essa 


relação com Émile Durkheim. 
No  pensamento  durkheimiano  a  sociedade  prevalece  sobre  o  indivíduo, 
pois  quando  este  nasce  tem  de  se  adaptar  às  normas  já  criadas,  como  leis, 
costumes, línguas, etc. 

O  indivíduo,  por  exemplo,  obedece  a  uma  série  de  leis  impostas  pela 
sociedade e não tem o direito de modificá-las. 

Para  Durkheim  o  objeto  de  estudo  da  Sociologia  são  os  fatos  sociais. 
Esses  fatos  sociais  são  as  regras  impostas  pela  sociedade  (as  leis,  costumes, 
etc. que são passados de geração à geração). 

É  a  sociedade,  como  coletividade,  que  organiza,  condiciona  e  controla  as 


ações  individuais.  O  indivíduo  aprende  a  seguir  normas  e  regras  que  não  foram 
criadas  por  ele,  essas  regras  limitam  sua  ação  e  prescrevem  punições  para 
quem não obedecer aos limites sociais. 

Afinal, você é o que quer ser ou o que a sociedade espera de você?  

 
 

4.   SOCIEDADE  DO  CONSUMO:  como  o  sistema 


tenta nos convencer a não combatê-lo
A  inconsciência  convém  ao  sistema  mundial. Convém às grandes marcas, 
ao  senhor  chamado  mercado,  o  fato  de  os  seres  humanos  se  tornarem  meros 
consumidores,  "copos  sem  fundo"  que  consomem  tudo  aquilo  que  podem, 
tentando preencher as suas lacunas. 

O  sistema  educacional  é  projetado  para  nunca  quebrar  o  molde,  para  nos 


limitar  a  obedecer.  Aldous  Huxley  disse  em  seu  livro  Happy  World  (1932):  "uma 
ditadura  perfeita  teria  a  aparência  de  uma  democracia,  mas  seria  basicamente 
uma  prisão  sem  muros  em  que  os  prisioneiros  nem  sequer  sonhariam  em 
escapar. Seria essencialmente um sistema de escravidão no mundo". 

Isso  significa  que,  graças  ao  consumo  e  entretenimento,  os  escravos 


amam  sua  servidão. O sistema não quer que você saiba o quão poderoso você é, 
o  sistema  não  quer  que  você  acorde  e  perceba  que  você  é  único  e  dotado  de 
uma  consciência  individual.  A  identificação  com  uma  consciência  coletiva 
voltada  para  o  consumo  é  a  melhor  arma  que  esta  sociedade  possui.  Quem  se 
enquadra nos padrões estabelecidos é aceito, quem não se enquadra, ignorado. 

 
 

É  por  isso  que  constantemente  bombardeiam  a  nossa  psique  com  séries, 


filmes,  música,  e  outras  formas  de  "entretenimento"  que,  longe  de  promover 
valores e conhecimentos, apenas nos distraem e nos manipulam.  

Afinal,  não  é  adequado  ao  sistema  que  você  perceba  que  tudo  o  que 
procura através do prazer e do consumo já reside dentro de você. 

Como superar a alienação tão presente nos sistemas sociais e econômicos?

 
 

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5.   SEGREGAÇÃO  URBANA  E  SOCIOESPACIAL:  o 


problema é a falta de espaço? 
O  Brasil  tem  uma  densidade  demográfica  de  23,8  habitantes  por 
quilômetro  quadrado.  Se  compararmos  com  a  China,  (148  habitantes  por  km²)  , 
entenderemos que espaço, não é bem o problema que se tem por aqui. 

Então,  qual  seria  a  origem  da  segregação  socioespacial  no  Brasil?  Os 
estudos  sobre  segregação  socioespacial  têm  apontado  a  desigualdade  social 
como  fator  que  mais  diminui  as  oportunidades  de  mobilidade  social,  acesso  ao 
emprego,  estreitamento  dos  horizontes  de  oportunidades  e  uma  série  de 
desvantagens para os mais pobres. 

Kaztman  em  um  estudo  publicado  em 2001, afirma que “a pobreza urbana 


socialmente  isolada  se  constitui  no  caso  paradigmático  da  exclusão  social”.  Há 
um  tripé  que  propicia  o  isolamento  social  dos  pobres  urbanos:  segregação 
residencial, do trabalho e educacional. 

A  exclusão  dos  pobres  fica  patente  na  segmentação  do  trabalho 


(precarização  do  emprego);  segmentação  educativa:  “se  os  ricos  vão  aos 
colégios  dos  ricos,  se  a  classe  média  vai  aos  colégios  da  classe  média  e  os 
pobres  aos  colégios  dos  pobres,  parece  claro  que  o  sistema  educativo  pouco 
pode fazer para promover a integração social e evitar a marginalidade". 

 
 

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A  segregação  socioespacial  tornou-se,  assim,  uma  marca  recorrente  na 


consolidação  das  periferias,  em  vista  das  maiores  condições  dos  segmentos 
altos  e  médios  da  sociedade  de  disputar  as  prioridades  estatais  e  o  fundo 
público,  relegando-se  a  um  segundo  plano  as  demandas  das  classes 
trabalhadoras.  É  importante  observar  que  as  causas  da  ampliação  da 
precariedade  persistem,  enquanto  o  Estado  segue  praticamente  inoperante 
nesse quesito. 

Ou  seja,  parece  mais  cômodo  ao  Estado  prender  e  até  matar  pelo 
cometimento  de  crimes,  do  que  agir  de  forma  efetiva  nesses  espaços, 
promovendo  justiça  social,  educação,  segurança  e  moradia  digna,  impedindo 
que os crimes aconteçam. 

E você, o que pensa sobre o assunto? De quem é a responsabilidade? 

 
 

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6.   OS  QUATRO  PILARES  DAS  SOCIEDADES  MAIS 


RICAS DO MUNDO: o que aconteceu com eles? 
Segundo  Niall  Ferguson  (2014),  o  governo  representativo,  a  economia  de 
mercado,  o  Estado  de  Direito,  a  sociedade  civil  foram  em  tempos  os  quatro 
pilares das sociedades da Europa Ocidental e da América do Norte.  

Foram  eles,  e  não  as  vantagens  geográficas  ou climáticas, que colocaram 


o  Ocidente,  por  volta de 1500, na rota do domínio global. Estas instituições estão 
a degenerar-se de forma alarmante. 

Francis  Fukuyama,  em  1989,  proclamava  eufórico  a  universalização  da 


democracia liberal ocidental como forma última do governo humano. 

  Ora,  acontece  que  a  marca  do  liberalismo  econômico  perdeu  o  lustro  e  o 


capitalismo  de  Estado  chinês  vive  indiferente  aos  princípios  da  democracia 
ocidental.  Quem  apostou  que  com  a  queda  do  muro  de  Berlim  haveria  uma 
reconvergência de sistemas errou. E errou feio. 

Se  as  instituições  falharam,  há  que  se  indagar  o  que  aconteceu  a  esses 
quatro  pilares  das  "sociedades  fecundas,  criativas  e  livres"  que  gravitaram  à 
volta  do  governo  representativo,  da  economia  de  mercado,  da  Sociedade  Civil  e 
do Estado de Direito - constantemente ameaçado. 

 
 

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7. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO OU 


DESINFORMAÇÃO? Como a manipulação da 
informação afeta as relações sociais 
Em  sua  obra  "Ambiguidade  e  Ambivalência"  (1999),  Bauman  discute  a 
ambivalência  das  relações  sociais,  em  suas  faces  negativas  e  positivas, 
permanecendo  a  impressão  de  que  a  vida  em  sociedade  é  essencialmente 
ambígua,  como  são,  ademais,  as  relações  de  poder:  podemos  até  encontrar  o 
poder  que  enobrece,  mas  é  bem  mais  comum  o  poder  manhoso,  dissimulado, 
que se aproveita da sombra para prosperar. 

O  poder,  como  bem  diria  Foucault,  se  esgueira  pelas  beiradas,  busca  não 
ser  percebido  para  influir  tanto  mais,  procura  a  obediência  do  outro  sem  que 
este  a  perceba,  inventa  privilégio  que  a  vítima  pensa  ser  mérito,  usa  o  melhor 
conhecimento para imbecilizar. 

Não  seria  diferente  com  a  informação:  desinformar  pode  ser  seu  projeto 
principal. Não se trata apenas de nos entupir com informação de tal forma que já 
não  a  saibamos  manejar,  mas  sobretudo  de  usá-la  para  seu  oposto,  no  sentido 
mais preciso de cultivo da ignorância. 

Mais  que  tudo,  conhecimento  é  ambivalente:  sempre  foi  nossa arma mais 


decisiva  da  emancipação,  mas  não  o  é  menos  da  colonização. O processo atual 

 
 

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de  globalização  aponta  para  esta  direção  de  modo  ostensivo:  o  que  mais  se 
globaliza  são  formas  globalizantes  de  discriminação.  Longe  de  as  chances 
estarem  mais  bem  distribuídas,  concentram-se  em  clivagens  tanto  mais 
drásticas. 

A  sociedade  da  informação  informa  bem menos do que se imagina, assim 


como  a  globalização  engloba  as  pessoas  e  povos  bem  menos  do  que  se 
pretende. Na sociedade da mercadoria, mercadoria vem antes. 

Como  superar  isso?  A  inteligência  está  na  habilidade  de  lidar  com  a 
ambivalência.  Aprender  é  sobretudo  saber pensar, para além da lógica retilínea e 
evidente.  O  mundo  da  informação  é  agitado,  conturbado,  porque  é,  ao  mesmo 
tempo, intrinsecamente manipulado e impossível de ser totalmente manipulado.  

O risco de manipulação é intrínseco. O risco de nos libertarmos dela, 


também. Será? 

 
 

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8.  O INSTITUCIONALISMO RELIGIOSO na visão de 
Friedrich Nietzsche 
O  Anticristo,  de  Friedrich  Nietzsche,  é  uma  das  obras  mais  polêmicas  e 
provocativas da história da filosofia. 

Redigido  entre  o  verão  e  o  outono  de  1888,  O  Anticristo  apresenta  o 


repúdio  de  Nietzsche  ao  cristianismo  de  seu  tempo,  e  não  pode  ser  entendido 
sem que se entenda a distinção que ele faz entre este e o cristianismo original.  

Nessa  perspectiva,  Nietzsche  afirma  que  o  cristianismo  passa  a  ser  a 


religião  dos  fracos,  daqueles  que  necessitam  de  um  tipo de ilusão que justifique 
sua  verdadeira  condição.  Nas  próprias  palavras  do  filósofo,  "em  nome  do  céu, 
nega-se a terra". 

Logo,  a  moral  cristã,  segundo  Nietzsche,  é  fruto  de  uma  espécie  de 
ressentimento,  como  que  um  auto-envenenamento  através  de  uma  vingança 
inibida, sem a força e a coragem necessárias para serem levadas a cabo. 

Sua  crítica  é  dedicada,  sobretudo,  aos  sacerdotes,  que  segundo  ele, 


invertem  os  valores  ao  se  apropriar  desse  ressentimento  e  o  direcioná-lo  para 
condenar  aos  que  ele  denomina  "espíritos  livres",  mantendo  a  submissão  dos 
fiéis.  "Quando  a  bíblia  diz  que  Deus  perdoa  aquele  que  se  arrepende",  afirma 
Nietzsche, "isso quer dizer 'Deus perdoa aquele que se submete ao sacerdote'". 

 
 

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A  solução  apresentada  por  Nietzsche  é  o  Niilismo,  que  basicamente  seria 


a  descrença  total  nos  valores  impostos  pela  sociedade,  principalmente  da 
sociedade  ocidental,  de  valores  majoritariamente  cristãos. Assim, mais que uma 
crítica  envenenada,  a  obra  de  Nietzsche  permite  sérias  reflexões  sobre  o 
institucionalismo  religioso,  ao  poder  ideológico  e  político  da  religião,  além  de 
lançar  desconfiança  sobre  a  aparência  de  moralidade  das  ações  realizadas  em 
nome da religiosidade. 

Em sua opinião, como o niilismo apresentado por Nietzsche pode 


solucionar as lacunas morais deixadas pela religião? É possível se desprender dos 
elementos transcendentais sem cair num vazio absoluto? 

 
 

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9.   MICHEL  FOUCAULT:  por  que  somos  educados 


para para obedecer ao invés de pensar? 
O  homem moderno nasceu no fim do séc. XVIII e já está para morrer, disse 
Foucault.  Mas como nasce este homem que conhecemos hoje? Como se dá vida 
a este ser? 

Até  um  pouco  antes  da  Revolução  Francesa,  e  a  partir  daí  com  cada  vez 
mais  força,  a  subjetividade  se  tornou  algo  que  se  fabrica,  o  poder  age  em  cada 
indivíduo  para  fabricar  corpos  dóceis,  o  trabalha  detalhadamente,  sem  folga, 
sem espaços. 

O  corpo  dócil  se  faz  na  união  destas  duas  características:  utilidade  em 
termos econômicos e docilidade em termos de obediência política. 

A  fórmula  é  simples:  o  corpo  dócil  é  tão  obediente  quanto  produtivo.  O 


soldado  mais  mortal  e  que  obedece  ordens  mais  prontamente;  o  aluno  mais 
quieto  e  que  tira  notas  mais  altas;  o  trabalhador  mais  produtivo  e  menos 
preguiçoso;  o  doente  mais  criterioso  no  hora  de  tomar  seus  remédios  e  menos 
queixoso às dores do tratamento. 

Está  aqui  o  resultado,  um  corpo  cindido,  afastado  de  seu  poder  político, 
mas  completamente  ligado  à  maquinaria  econômica.  O  corpo  humano  entra 

 
 

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numa  maquinaria  de  poder  que  o  esquadrinha,  o  desarticula  e  o  recompõe”  – 


(Foucault, Vigiar e Punir). 

O  corpo  é  docilizado  para  se  tornar  mais  uma peça na grande máquina de 


produção.  E  como  qualquer  produto  de  produção  em  massa,  este  corpo  passa 
por  vários  estágios  de  confinamento  até  estar  acabado:  tudo  começa  com  a 
família,  depois  é  necessário  ir  para  a  escola,  para  aprender  os  primeiros 
rudimentos  de  obediência  e  produção;  aos  dezoito  anos:  quartel,  aperfeiçoar-se 
em  seguir  ordens  sem  pensar;  após  toda  a  preparação,  fábrica,  produzir, 
trabalhar, ser lucrativo, ser eficiente. 

Enfim,  os  corpos  dóceis  são  efeitos  reais  de  uma  sociedade  disciplinar 
que  produz  indivíduos  seriados.  Ninguém  escapa.  A  violência  agora  é  à  conta 
gotas,  distribuída  homeopaticamente  ao  longo  da  rotina,  para  que  nem  você, 
nem eu, possamos perceber. 

Qual o tipo de atitude que o atual momento histórico exige: seres 


disciplinados ou pensantes? 

 
 

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10. MICHEL  FOUCAULT:  porque  o  discurso  da 


neutralidade  é  apenas  mais  uma  forma  de 
dominação.  
De  acordo  com  Foucault,  um  discurso  pode  ser  conceituado  enquanto 
rede  de  signos  que  se  conecta  a  outros  tantos  discursos  em  um sistema aberto 
que reproduz e estabelece os valores de determinada sociedade, perpetuando-os 
e constituindo uma ideologia dominante. 

Essa  ideologia  dominante  define  procedimentos  de  exclusão  como,  a 


interdição,  manifesta-se,  por  exemplo,  no  campo  da  sexualidade  ou  da  política, 
atuando  como  mecanismo  de  controle extremo, regulando o que se pode ou não 
pode ser dito, assim como o que pode e não pode ser feito, gerando ignorância. 

Constantemente  notamos  que  no  caso  da  política,  o discurso deixa de ser 


transparente  e  neutro  para  tornar-se  o  lugar  onde  a  palavra  exerce  privilégio  e 
poder,  sendo  subsidiado  pelas  instituições  sociais  que  legitimam  seus  apelos 
discursivos, concedendo-lhes sentido. 

Foucault  defende  que  o  poder  do  discurso  pode  funcionar  negativamente, 


distorcendo a verdade e garantindo a dominação do poder ideológico opressor. 

 
 

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Essa  forma  de  “ameaça”  se  dá  através  do  saber,  disseminado  pelas 
instituições  sociais,  principalmente  a  escola  -  que  torna-se  espaço  de  disputa 
entre os que almejam o poder. 

A  instituição  escolar  desempenha  nesse  sentido  o  papel  de  modelador, 


adestrador  dos  indivíduos,  fazendo-os  entender  quais  as  ideias  e  discursos 
apropriados  dentro  do  contexto  social,  principalmente  segundo  a  classe  ou 
grupo que detém o poder. 

Apesar  de  toda  a  instrumentalização  da  educação  enquanto  reprodutora 


dos  discursos  dominantes,  Foucault  afirma  que  "Todo  o  sistema  de  educação  é 
uma  maneira  política  de  manter  ou  de  modificar  a  apropriação  dos  discursos, 
com os saberes e os poderes que estes trazem consigo". (Foucault) 

Ou  seja,  é  possível  por  meio da educação, transformar as formas como se 


percebem  os  discursos,  educando  para  a  consciência  e  criticidade,  criando 
mecanismos  de  resistência  e  contraposição  aos  discursos  dominantes, 
desmascarando a farsa discursiva tão presente no interior das instituições. 

 
 

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11. “VOCÊ  SABE  COM  QUEM  ESTÁ  FALANDO?”: 


uma frase tipicamente brasileira - contribuições 
de Roberto DaMatta. 
 

O  “sabe  com  quem  você  está  falando?”  expressa  um  rito  autoritário,  que 
indica  a  existência  de  classes  sociais  organizadas  hierarquicamente.  Por  isso  o 
“sabe  com  quem  você  está  falando?”  por  muito  tempo  foi  velado,  presente 
apenas nas entrelinhas dos conflitos sociais. 

O  “sabe  com  quem  você  está  falando?”  cada  vez  mais  revela  a 
“preocupação  com  a  posição  social  e  a  consciência  de  todas as regras relativas 
à manutenção, perda ou ameaça dessa posição” (Roberto da Matta). 

Da  Matta  destaca  que  no  Brasil,  há  uma  estrutura  social  com  base  na 
intimidade  social,  em  que  as  classes  sociais  se  comunicam  por  meio  de 
relações  entrecortadas  que  acabam  embaraçando  os  conflitos  e  o  sistema  de 
diferenciação social e política com base nas relações econômicas.  

A expressão é usada quando a pessoa ao sentir sua autoridade ameaçada, 
desejar  impor  o  seu  poder,  ao  perceber  de  forma  inconsciente  ou  consciente  a 
possibilidade  de  ser  inferiorizado  quanto  ao  seu  status  social,  possível 

 
 

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vulnerabilidade,  ou  mesmo  quando  o  interlocutor  é  percebido  como  ameaça  ao 


cargo que ocupa. 

Ao  estabelecer  uma  diferença  entre  indivíduo  e  pessoa,  Da  Matta  destaca 
que  no  Brasil  as  leis  só  se  aplicam  aos  indivíduos  e  nunca  às  pessoas,  numa 
sociedade  em  que  o  conflito  e  o  interesse  dos  diversos  grupos  podem  se 
transformar  num  instrumento  de aprisionamento da massa que deve seguir a lei, 
sabendo que existem pessoas bem relacionadas que nunca obedecem. 

Esse  é  o  dilema  apontado  pelo  autor,  em  que  as  regras  universalizadas 
que  deveriam  suprimir  as  desigualdades  acabam  legitimando-as,  em  que  as leis 
tornam  o  sistema  de  relações  pessoais mais solidários, operativos e preparados 
para superar a autoridade impessoal da regra. 

Em sua opinião, o que leva as pessoas a usarem esse argumento? 

 
 

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12. ZYGMUNT  BAUMAN:  é  possível  ter 


segurança sem abrir mão da liberdade? 
 

Bauman  considera  isso  um  contrassenso,  lançando  dúvidas  sobre  as 


ferramentas  preventivas  utilizadas  pelas  pessoas  e  organizações,  considerando 
que dificilmente elas podem ser dadas como totalmente seguras. 

Para  Bauman,  as  pessoas  passam  boa  parte  de  suas  vidas  temendo  “o 
sofrimento  que  pode  advir  das  ameaças  permanentes  pairando  sobre  nosso 
bem-estar”. 

Bauman  afirma  que,  “em  nossa  sociedade  altamente  individualizada,  em 


que  se  presume  que  cada  indivíduo  seja  responsável  por  seu  próprio  destino  na 
vida,  essas  condições  implicam  a  inadequação  do  sofredor  para  tarefas  que 
outras  pessoas,  mais  exitosas,  parecem  desempenhar  graças  à  maior 
capacidade e maior esforço”. 

Ou  seja,  mesmo  que  se  conquiste  algo  que  traga  segurança,  em  um  dado 
momento a pessoa é instada a perceber o progresso histórico à sua volta e, logo, 
o [progresso] individual, “parece lembrar um pêndulo do que uma linha reta”. 

Assim,  quando  se  tem  liberdade,  muitos  são  os  que  se  percebem  com 
déficit  de  “segurança  existencial”;  quando  se  tem  segurança,  a  preocupação  é 

 
 

24 

com  as  “amarras”  que  tal  segurança  impõe  para  o  proponente  alinhado  às 
diretivas estabelecidas. 

Ou  seja,  não  adianta  ter  um  emprego  com  estabilidade  se,  por  outro  lado, 
tal ocupação é marcada por processos repetitivos e pela falta de estímulo. 

Parece,  então,  haver  uma  única  saída:  evitar  os  extremos  e  as  receitas 
prontas.  A  vida,  então,  é  vista  como  “dinâmica  dialogista”,  com  altos  e  baixos. 
Devemos reconhecer essa condição. 

No final, é necessário lidar com o que Bauman chama de “mãe de todos os 
medos”,  ou  o  “medo  dos  medos”  referente  à nossa condição de finitude, o medo 
da morte. 

A  liberdade  se  encontrará  com  a  segurança  quando  encontrarmos  o 


equilíbrio entre o que se espera e o que se pode desejar. 

Logo,  a  segurança  e  a  liberdade,  não  são  coisas  que  se  conquistam,  mas 
estados  de  espírito  que  se  alcançam  diante  de  uma  postura  afirmativa  em 
relação a vida, independente do que ela venha a proporcionar. 

Como segurança e liberdade podem caminhar juntas em um mundo tão 


inseguro? 

 
 

25 

13. SÃO  AS  PERGUNTAS  QUE  MOVEM  O  MUNDO 


-  contribuições  do  filósofo  Sócrates  para  a 
educação 
O  filósofo  grego  Sócrates,  considerado  “pai”  da  filosofia  e  da  ética 
ocidental,  ensinava  deixava  claro,  para  os  jovens  de  sua  época,  quão  belo  é  a 
arte de perguntar. 

Segundo  Sócrates,  o  questionamento  é  a  ferramenta  de  trabalho  de  todo 


filósofo.  O  filósofo  pergunta  não  porque  quer  ser  chato,  mas  porque  quer  saber 
mais,  quer  aprender  mais,  quer  ser  mais.  O  filósofo  não  se  contenta  com  o  que 
está aí. Ele quer ir além, superar-se! 

Só  se  aprende  verdadeiramente por meio de perguntas. O questionamento 


é essencial para a aquisição de novos conhecimentos. 

A  arte  de  perguntar  é  o  princípio  da  liberdade.  Quem  é  educado  por  meio 
de perguntas torna-se cidadão. 

Dessa forma, só há aprendizagem significativa quando a pessoa consegue 
elaborar  as  próprias  perguntas.  É  preciso  que  as  escolas  brasileiras  ensinem 
urgentemente  a  arte  de  perguntar.  Não existe outra saída. Perguntar é libertar-se 
das amarras do consenso. 

 
 

26 

Sócrates,  enquanto  filósofo,  sempre  fez  perguntas.  Perguntas  que  se 


tornaram  modelos  para  muitos  homens  e  que  são,  até  hoje,  difíceis  de  serem 
respondidas:  Quem  é  o homem? Por que existo? O que é o belo? O que é o justo? 
E ele nunca se contentava com as respostas. 

Infelizmente,  atualmente  as  pessoas  não  gostam  de  quem  faz  perguntas. 
Na verdade, as pessoas gostam mesmo é de respostas prontas. 

Vive-se  a  lei  do  menor  esforço.  No  oráculo  moderno  Google  encontra-se 
resposta para tudo, inclusive, para si mesmo. 

Ao  contrário  de  tudo  isso,  é  preciso  de  uma  Educação  para  o 
questionamento,  para  a  contestação.  É  preciso  dizer não para o status quo, para 
o  politicamente  correto.  Sócrates,  o  incansável  questionador,  pode  ser  um  belo 
exemplo para os jovens de hoje. 

Somente  por  meio  de  uma  educação  questionadora  que  se  constrói 
espaços  democráticos.  À  liberdade,  os  direitos  fundamentais,  à  cidadania  etc., 
são  conquistas  advindas  da  luta.  Sócrates  pode  ser  considerado  um  belo 
exemplo para a sociedade atual. 

“O homem sábio pergunta, enquanto o homem ignorante responde” - Sócrates 

 
 

27 

14. COMO EXPLICAR O FENÔMENO DA 


POBREZA? Considerações sobre a 
desigualdade social no Brasil e suas 
consequências 
 

Estudos  apontam  que  nossos  problemas  relacionados  à  pobreza  não 


resultam  diretamente  da  falta  de  recursos,  e  sim  da  sua  má 
alocação/distribuição. 

Pensemos  juntos:  o  mundo  produz  anualmente  80  trilhões  de  dólares  de 
bens  e  serviços.  Divididos  por  8  bilhões  de  pessoas,  isso  representa  3.500 
dólares por mês por família de quatro pessoas. Ou seja, é mais que suficiente. 

Se  usarmos  o  mesmo  fundamento  em  relação  ao  Brasil,  que  tem  um  PIB 
de  6,5  trilhões  de  reais  e  uma  população  de  208  milhões,  concluiremos  que 
estamos precisamente na média mundial. 

Uma  distribuição  mais  justa  asseguraria  11  mil  reais  por  mês  por  família 
de 4 pessoas. 

Ou  seja,  esse  valor  seria  suficiente  para  todos  viverem de maneira digna e 


confortável.  Pensar  sobre  redução  da  desigualdade  é  o  principal  caminho  para 

 
 

28 

uma  sociedade  mais  decente  e  mais  produtiva  e  deveria  estar  na  agenda  de 
qualquer gestor público. 

A partir dos dados acima apresentados, o que podemos concluir: o 


problema da desigualdade social brasileira é econômico ou político?  

 
 

29 

15. CULTURA  DO  CANCELAMENTO: a internet é o 


melhor “tribunal”? 
A  cultura  do  cancelamento  tem  chamado  a  atenção,  principalmente  nas 
redes  sociais,  por  tratar-se  de  uma  onda  que  incentiva  pessoas  a  deixarem  de 
apoiar  determinadas  personalidades  ou  empresas,  públicas  ou  não,  do  meio 
artístico  ou  não,  em  razão  de  erro  ou  conduta  considerada  reprovável.  Nos 
termos  da  definição  da  palavra  “cancelar”,  a  ideia  do  movimento  é  literalmente 
“eliminar”  e  “tornar  sem  efeito”  o  agente  do  erro  ou  conduta  tidos  como 
reprováveis. 

Segundo  a  psicanalista,  Nayara  Borges,  o  ato  de  cancelar  não  só 


representa  um  retrocesso  de  valores,  como também aponta falta de maturidade: 
“Há,  com  certeza,  muita  infantilidade  envolvida  nesse  processo.  Essa  ideia  de 
que  a  sua verdade é a única que vale, leva à intolerância que, consequentemente, 
leva  ao  linchamento,  quando  na  verdade  o  diálogo  seria  e  sempre  será a melhor 
solução.” 

Ocorre  que,  especificamente  com  relação  à  cultura do cancelamento, e ao 


contrário  do  Direito  em  que  há  um  devido  processo  legal  para  justificar  uma 
punição  ou  não,  o  “tribunal  da  Internet”  não  costuma  oportunizar  sequer  o 
exercício do contraditório. 

 
 

30 

Nesse  contexto,  observa-se  que  o  “Tribunal  da  Internet”  não  realiza  seus 
julgamentos  com  igualdade  ou  proporcionalidade.  Primeiro,  porque  deixa-se  de 
discutir  ideias  e  passa-se  a  discutir  pessoas  ou  empresas.  Segundo,  porque 
poucos  preferem  ouvir,  entender  e  formar uma opinião antes de atacar. Terceiro, 
porque  outras  pessoas  ou  empresas  envolvidas  em  situações  análogas,  por 
exemplo,  não  sofrem  sanções  na  mesma  intensidade  que  as  “canceladas”. 
Quarto,  porque,  no  mundo  virtual,  é muito tênue a linha entre a crítica construtiva 
e o ataque revestido de ofensas. 

Afinal, a cultura do cancelamento, é parte do exercício dos direitos da livre 


manifestação de pensamento ou uma ameaça à liberdade de expressão? 

 
 

31 

16. RACISMO  ESTRUTURAL  e  seus  impactos  na 


sociedade brasileira 
Racismo  estrutural  é  a  formalização  de  um  conjunto  de  práticas 
institucionais,  históricas,  culturais  e  interpessoais  dentro  de  uma  sociedade  que 
coloca  um  grupo  étnico  em uma posição de prestígio em detrimento dos demais 
grupos. 

Assim,  por  corresponder  a  uma  estrutura,  o  racismo  não  está  apenas  no 
plano  da  consciência  –a  estrutura  é  intrínseca  ao  inconsciente,  reproduzindo  e 
recriando  desigualdades  e  privilégios,  perpetuando  o  atual  estado  das  coisas. 
Trata-se  de  um  elemento  estrutural  no Brasil porque formatado desde a vigência 
do escravismo colonial como modo de produção (1500-1888). 

Segundo  relatório  do  PNUD  (Programa  das  Nações  Unidas  para  o 


Desenvolvimento),  um  negro  no  Brasil  ganha,  em  média,  a  metade  da  renda  de 
um  branco.  Segundo  o  mesmo  relatório,  os  negros  brasileiros  levaram  10  anos 
para  atingir  o  Índice  de  Desenvolvimento  Humano  (IDHM)  experimentado  pelos 
brancos  no  ano  2000.  Mesmo  assim,  o  IDHM  desse  grupo  da  sociedade 
continuou a avançar e, em 2010, era 14,4% superior ao dos negros. 

Pesquisas  recentes  apontam  que,  considerando  apenas  o  universo  dos 


indivíduos  que  sofreram  morte  violenta  no  país  entre  1996  e  2010, constatou-se 
que,  para  além  das  características  socioeconômicas  –  como  escolaridade, 

 
 

32 

gênero,  idade  e  estado  civil –, a cor da pele da vítima, quando preta ou parda, faz 


aumentar  a  probabilidade  do  mesmo  ter  sofrido  homicídio  em  cerca  de  oito 
pontos percentuais. 

Nessa  perspectiva,  não  existe  racismo  reverso,  dentre  outras  razões,  pelo 
fato  de  que  nunca  houve escravidão reversa, nem imposição de valores culturais 
e  religiosos  dos  povos  africanos  ao  homem  branco,  tampouco  o  genocídio  da 
população branca, como ocorre até hoje o genocídio do jovem negro brasileiro. 

E você, o que pensa acerca dos caminhos para a superação do racismo no 
Brasil? 

 
 

33 

17.  COMO  EXPLICAR  A  VIOLÊNCIA?  Contribuição 


de grandes pensadores de todos os tempos 
 

Segundo  Thomas  Hobbes,  pensador  contratualista,  "o  homem  é  o  lobo do 


próprio  homem",  o  que  significa  que  o  ser  humano  possui  uma  violência 
instintiva, natural, e que seria responsável pela sua autopreservação. 

Jean-Jacques  Rousseau,  também  contratualista,  compreende  que  "todo 


homem  é  bom,  mas  a  sociedade o corrompe". Ou seja, a violência é resultado da 
corrupção  do  gênero  humano,  que a partir do surgimento da propriedade privada 
torna-se egoísta e ambicioso, usando a violência como forma de poder. 

Cesare  Lombroso,  psiquiatra  positivista,  compreendia  a  violência  e  suas 


formas,  como  a  delinquência,  um  problema  biológico,  desenvolvendo  uma  tese 
que  ficou  conhecida como "teoria do criminoso nato", na qual afirmava que havia 
indivíduos com maior propensão ao cometimento de crimes que outros. 

Émile  Durkheim,  clássico  da  Sociologia,  foi  o  primeiro  pensador  a  tratar  o 


problema  da  violência  fora  das  concepções  individualistas,  retratando-a  como 
resultado  da  "Anomia  Social",  resultado  da  falta  de  vínculos  sociais  e  perda  da 
capacidade da sociedade em regular o comportamento dos indivíduos. 

 
 

34 

Norbert  Elias,  defende  que,  ao  longo  do  "processo  civilizador",  as 
sociedades  deixaram  de  utilizar  formas  públicas  de  violência,  como o suplício, o 
que  implica  na  "gradual  pacificação  das  interações  cotidianas",  ou  seja,  apesar 
dos  pesares,  a  sociedade  atual  é  menos  violenta  que  aqueles  que  a 
antecederam. 

Michel  Foucault,  ao  narrar  a  história  da  violência  em  sua  célebre  obra 
"Vigiar  e Punir", compreende que a sociedade moderna não é menos violenta que 
as  sociedades  anteriores,  mas  sim,  utiliza  formas  distintas  de  violência  através 
da ação coercitiva das instituições sociais. 

Em sua opinião, o que é violência? Como combatê-la? 

 
 

35 

18.  COMO  ENTENDER  O FENÔMENO DOS ESTADOS 


AUTORITÁRIOS?  Contribuições  da  filósofa  Hannah 
Arendt. 
Como  é  possível  que  pessoas  ditas  "normais"  sejam  capazes  de  realizar 
tamanha  brutalidade, como aquela que levou ao extermínio de milhões de judeus 
e  outras  minorias étnicas durante o Holocausto? Como explicar o que faz um ser 
humano  "normal"  realizar  os  crimes  mais  atrozes  como  se  não  estivesse 
fazendo nada demais? 

Na  obra  "Eichmann  em  Jerusalém"  (1963),  escrita  após  acompanhar  o 


julgamento  de  Adolf  Eichmann,  Arendt  se  espanta  com  a  frieza  do  mandatário 
nazista  ao  narrar  as  atrocidades  realizadas  nos campos de concentração. O que 
chama  mais  a  atenção,  ao  seu  ver,  é  que  Eichmann  não  apresentava  nenhuma 
patologia,  nem  mesmo  uma  convicção  ideológica  que  justificasse.  Hannah 
Arendt conclui que, esse é um caso em que, a única causa do mal, é o mal em si. 

Foi  justamente  isso  que  levou  Arendt  a  usar  o termo banalidade do mal. O 


praticante  do  mal  banal  não  conhece  a  culpa.  A  autora  conclui  que  o  mal 
torna-se  banal  quando  os  seres  humanos,  inseridos  em  uma  sociedade 
"massificada"  subjugados  por diversas formas de dominação, tendem a se sentir 

 
 

36 

sem  poder,  solitários,  submissos  e  condicionados,  o  que  os  torna  alienados  e 


incapazes de pensar as conseqüências das ordens dadas pelos seus superiores. 

Assim,  o  mal  banal  caracteriza-se  pela  ausência  do  pensamento.  Essa 


ausência  provoca  a  privação  de  responsabilidade.  O  praticante  do  mal  banal 
submete-se  de  tal  forma  a  uma  lógica  externa  que  não  enxerga  a  sua 
responsabilidade nos atos que pratica. 

O  culto  a  personalidade,  o  uso  de  propaganda  ideológica  e  a  repressão 


aos  que  pensavam  de  forma  oposta  ao  regime,  são  características  daquilo  que 
Hannah  Arendt  categorizou  como  "totalitarismos",  que segundo a autora, têm no 
Nazismo,  Fascismo  e  Stalinismo  sua  maior expressão, que ao usar da prática do 
terror  Fundamentada  no  princípio  do  medo,  neutraliza  a  ação  política  dos 
cidadãos. 

Em sua opinião, quais são os maiores riscos de um Estado ditatorial ou 


autoritário para os cidadãos? Há resquícios do autoritarismo de Estado no Brasil? 

 
 

37 

19.  AS  10  PIORES  CARACTERÍSTICAS  DO 


FASCISMO  E  COMO  IDENTIFICÁ-LO:  Contribuições 
do filósofo italiano Umberto Eco 
 

1.  Culto  a  tradição  -  Basicamente,  a  tradição  aqui  é  superexaltada  e  pode 


ter cunho ocultista – como tinham os nazistas, por exemplo. 

2.  Recusa  da  modernidade  -  Toda  a  modernidade  é  considerada  como 


degenerada  em  si  mesma,  sendo  a  culpada  por  boa  parte  dos  problemas  da 
humanidade. 

3.  Rejeição  do  pensamento  crítico  -  O  pensamento  crítico  pode  levar  o 


indivíduo  a  distinguir-se  da  maioria,  o  que  para  uma  ideologia  totalitária, 
representaria uma ameaça. 

4.  Medo  do  diferente - Regimes fascistas tendem a homogeneizar o todo e 


temer aqueles que não fazem parte dele. 

5. Apelo às classes médias frustradas - Ele pode vir de várias formas: após 
uma crise econômica ou política, uma humilhação. 

 
 

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6.  Nacionalismo  -  Nem  todo  nacionalista  é  fascista,  mas  todo  fascista  é 


nacionalista – e também xenófobo. 

7.  Estado  de guerra permanente - O fascista está sempre em guerra contra 


alguém. Ele necessita dela para existir e se manter assim. 

8.  Elitismo  -  De  origem  aristocrática  e  reacionária, todos do grupo fascista 


são  os  melhores,  os  mais  fortes  e  mais  capazes  –  ao  menos  assim  se 
apresentam. Qualquer um diferente disso é considerado fraco ou vitimista. 

9.  Controle  e  repressão  sexual  -  Eco  afirma  que  o  fascismo  condena  de 
forma  intolerante  hábitos  sexuais  não-conformistas,  da  castidade  à 
homossexualidade. 

10.  Populismo  -  O  fascismo  lança  dúvidas  sobre  o  poder  dos  governos 


parlamentares  de  representar  o  povo.  Eco  diz  que  este  é  o  primeiro  sinal  (ou  o 
cheiro)  de  um  representante  fascista  surgindo.  A  dúvida  do  desejo  da  maioria  e 
da  sua  representatividade  –  que  por  sua  vez  lança  esta  sobre  si  –  é  um  grande 
sinal. 

Em sua opinião, o fascismo ainda se manifesta nos dias atuais? 

 
 

39 

20.  COMO  INTERPRETAR  O  FILME  “CORINGA” 


(2019) com a ajuda da Filosofia.  
 

“Todo  homem  é  bom;  a  sociedade  o  corrompe”.  Essa é uma famosa frase 


do  filósofo  Jean-Jacques  Rousseau,  que  se  desdobra,  sobretudo,  na  história  do 
vilão.  Dessa  forma,  tal  afirmativa  é  amplamente  abordada  no  longa  metragem 
Coringa (2019), dirigido por Todd Philips. 

Na obra "O mal-estar da Civilização" (1930), Sigmund Freud argumenta que 
a  humanidade,  possui  tendências  destrutivas. Ele deixa bem claro que todos nós 
carregamos movimentos inerentes à destruição, anti-cultura e anti-sociabilidade. 

Zygmunt  Bauman,  por  sua  vez,  compreende  que  a  vivência  na 


modernidade  líquida  ultrapassa  os  limites  de  nossa  natureza  e  gera  como 
consequência direta a falta de empatia. 

Isso  se  dá,  porque  no  mundo  dito  "globalizado",  a  liquidez  e  a  volatilidade 
são  elementos  capazes  de  desorganizar  todas  as  esferas  da  vida social como o 
amor,  a  cultura,  as  relações  humanas  e  sociais.  E o resultado, segundo Bauman, 
é  sempre  o  mesmo:  carência  de  empatia,  inconsistência  e  falta  de 
comprometimento de uns para com os outros. 

 
 

40 

Para  o  pensador  brasileiro  Augusto  Cury,  a  empatia  é  uma  das  funções 


mais  importantes  da  inteligência,  pois  denota  o  nível  de  maturidade  das 
pessoas.  Dentre  as  habilidades  socioemocionais,  a  empatia  se  destaca  como 
competência fundamental para o convívio social. 

Afinal,  seria  Coringa  a  representação  de  um  vilão  que  a  sociedade  criou? 
Como  compreender  as  consequências  de  uma  sociedade  em  que  a  palavra 
empatia  cada  vez  mais  enfeita  Posts  e  Feeds  de  Redes  Sociais,  na  mesma 
proporção em que se torna artigo de luxo na nossa própria prateleira?  

Assistiu ao filme Coringa? Quais lições são possíveis extrair dele? 

 
 

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21.  TODOS  SOMOS  INTELIGENTES!  É  o  que  afirma 


Gardner na teoria das Inteligências Múltiplas. 
De acordo com Howard Gardner, são 8 os tipos de inteligência: 

1.  Inteligência  lógico-matemática:  Esse  tipo  de  inteligência  é  mais voltado 


para  conclusões  baseadas  na  razão,  e  descreve  a  capacidade  de  resolver 
equações  e  provas,  de  ter  pensamento  lógico,  detectar  padrões, fazer cálculos e 
resolver problemas abstratos. 

2.  Inteligência  espacial-visual:  Essa  inteligência  está  ligada  à  percepção 


visual  e  espacial,  à  interpretação  e  criação  de  imagens  visuais  e  à  imaginação 
pictórica.  Ela  permite  que  as  pessoas  compreendam  melhor  informações 
gráficas, como mapas. 

3.  Inteligência  verbo-linguística:  A  inteligência  linguística  se  refere  não 


apenas  à  capacidade  oral,  mas  também  a  outras  formas  de  expressão,  como  a 
escrita ou mesmo o gestual. 

4.  Inteligência  interpessoal:  A  inteligência  interpessoal  reflete  a 


capacidade  de  reconhecer  e  entender  os  sentimentos,  motivações,  desejos  e 
intenções de outras pessoas. 

5.  Inteligência  intrapessoal:  A  inteligência  intrapessoal  refere-se  à 


capacidade  das  pessoas  de  reconhecerem  a  si  mesmos,  percebendo  seus 

 
 

42 

sentimentos,  motivações  e  desejos.  Está  ligada  à capacidade de identificar seus 


hábitos inconscientes, transformar suas atitudes, controlar vícios e emoções. 

6.  Inteligência  naturalista:  A  inteligência naturalista refere-se à capacidade 


de  compreender  o  mundo  natural,  identificando  e  distinguindo  entre  diferentes 
tipos de plantas, animais e formações climáticas. 

7.  Inteligência  corporal-cinestésica:  A  inteligência  corporal-cinestésica 


implica  o  uso  do  próprio  corpo  para  resolver  problemas.  Diz  respeito  à 
capacidade  de  controlar  os  movimentos  corporais,  ao  equilíbrio,  à  coordenação 
e à expressão por meio do corpo. 

8.  Inteligência  musical:  A  inteligência  musical  permite  aos  indivíduos 


produzir,  compreender  e  identificar  os  diferentes  tipos  de  som,  reconhecendo 
padrões tonais e rítmicos. 

Já conheceu alguém que foi rotulado por não ser considerado inteligente? O 
que Gardner diria a estes rotuladores? 

 
 

43 

22.  CRISE  MIGRATÓRIA  NO  SÉCULO  XXI:  como  a 


pandemia do coronavírus agravou esse fenômeno 
As  migrações  internacionais  se  configuram  como  fenômeno  por  vezes 
dramático  e  fundamental  à  compreensão  da  complexidade  de  nossas 
sociedades.  E  o  no  centro  de  interesse  desse  debate  encontram-se  os 
refugiados,  pessoas  que  têm  que  deixar  sua  casa,  seu  país,  quase  sempre  por 
causa de guerras ou tragédias naturais. 

O  direito  internacional  e  a  maioria  das  políticas  nacionais  de  migração 


estabelecem  uma  clara  distinção  entre  migrantes  e  refugiados.  Enquanto 
migrantes  podem  ser  recusados  na  fronteira  do  país,  os  refugiados  devem 
receber proteção, pelo menos temporariamente. 

Entretanto,  nos  últimos  meses,  após  o  mundo  conhecer  uma  das  maiores 
crises  sanitárias  de  sua  história  recente,  promovida  pelo  Coronavirús,  as  crises 
migratórias  parecem  ter sido "ocultadas". Mas não é o que apontam os dados do 
último  relatório  do  Alto  Comissionário  das  Nações  Unidas  (ACNUR),  que  afirma 
que  até  o  final  de  2019,  79,5  milhões  de  pessoas  foram  forçadas  a  migrar,  e 
outras milhões ainda migrariam em 2020. 

Uma  das  crises  internacionais  mais  relevantes  da  atualidade  está 


acontecendo  na  Grécia.  No  mês  de  março  deste  ano,  pico  da  pandemia  na 

 
 

44 

Europa,  centenas  de  migrantes  e  refugiados  chegaram  de  barco às ilhas gregas, 


perto da Turquia, aumentando a pressão sobre os centros de imigração. 

Situação  semelhante  vivem  os  mais  de  5  milhões  de  venezuelanos  que 
deixaram  seu  país  rumo  ao Brasil, onde a pandemia e suas necessárias medidas 
de  contenção  deixaram  grande  parte  dos  refugiados  e  migrantes  trabalhadores 
da economia informal sem renda e sem acesso a serviços básicos. 

De  acordo  com  o  filósofo  polonês  Zygmunt  Bauman  "Os  refugiados 


simbolizam,  personificam  nossos  medos.  Ontem,  eram  pessoas  poderosas  em 
seus  países.  Felizes.  Como  nós  somos  aqui,  hoje.  Mas,  veja  o  que  aconteceu 
hoje.  Eles  perderam  suas  casas,  perderam  seus  trabalhos".  E  complementa:  "O 
choque está apenas começando." 

Como a pandemia do novo Coronavírus acabou ocultando outras crises que 


não deixaram de ocorrer? 

 
 

45 

23. CONSUMO, CONSUMISMO E 


SUPERCONSUMISMO: entenda a diferença entre 
esses conceitos 
 

CONSUMO  significa  adquirir  e  utilizar  bens  e  serviços  para  atender  às 


necessidades.  É  por  meio  do  consumo  que  nós,  humanos, satisfazemos nossas 
carências  mais  primárias  (como  alimentar-se  ou  vestir-se),  assim  como  as 
nossas  necessidades  mais  complexas  (como  habitação).  Assim  é  possível 
afirmar que nenhum ser humano é capaz de sobreviver sem o consumo. 

CONSUMISMO  ​refere-se  à  atitude  de  tentar  satisfazer  carências 


emocionais  e  sociais  através  de compras e demonstrar o valor pessoal por meio 
do  que  se  possui.  É  o  consumismo  que  está  no  centro  das  críticas  sociais  de 
autores  que  variam  desde  Zigmunt  Bauman  à  Annie  Leonard.  Desse  modo,  o 
consumismo  configura-se,  sobretudo,  em  um  estilo  de  vida  muito  presente  em 
sociedades  modernas  capitalistas  e  tem  se  mostrado  um  reflexo  da 
globalização e da mídia. 

Já  o  ​SUPERCONSUMISMO  é  quando  se  utilizam  recursos  além  dos 


necessários  e  dos  que  o  planeta  pode  suprir,  conforme  já  ocorre  nos  Estados 
Unidos,  Europa  e  outras  nações  do  mundo  capitalista.  É  quando  se  perde  de 

 
 

46 

vista  aquilo  que  é  importante  na  busca  por  coisas,  provocando  a  sobrecarga  e 
degradação  ambiental,  fato  que  compromete  a  sustentabilidade  ecológica  no 
longo prazo, pois diminui a biocapacidade do Planeta. 

Como  abandonar  o  “crescentismo”  ou  “crescimentomania”  (doença  do 


crescimento  a  qualquer  custo)  e  buscar  um  relacionamento  justo  e  sustentável 
com a natureza, com o clima e com as demais espécies vivas da Terra? 

É possível garantir um mundo sustentável com os mesmos hábitos de 


consumo? Qual é a melhor solução? 

 
 

47 

24. COMBATE ÀS F
​ AKE NEWS​: Censura ou proteção 
à liberdade de expressão? 
 

Censura  é  uma  ação  de  desaprovação  e  cerceamento  de  algum  conteúdo 


de  determinada  mensagem  (artística,  jornalística,  etc.) e sua possível retirada de 
circulação  pública.  Como  se  sabe,  a Constituição Federal de 1988 veda qualquer 
tipo de censura, seja ela de natureza política, ideológica ou artística. 

Segundo  estudo  da  Comparitech, o Brasil, com 17 mil pedidos de remoção 


de  conteúdo  das  redes  entre  2009  e  2018,  aparece  na  sexta  posição  no  ranking 
mundial  de  pedidos  de  remoção  de  conteúdos  da  internet,  à  frente  de  países 
como China e Venezuela, o que é preocupante para um país democrático. 

No  centro  do  debate  sobre  censura,  estão  as  tentativas  de  regulação  da 
internet  no  Brasil,  assim  como  as  novas  legislações  que  visam  combater  as 
chamadas  "Fake  News"  nas  Redes  Sociais.  Entretanto,  especialistas  no  campo 
do  Direito,  afirmam  que  o  efeito  de  tais  iniciativas  pode  ser  diferente  do 
esperado,  podendo  estimular  a  censura  ao  invés  de  combatê-la, ao ferir o direito 
constitucional à liberdade de expressão. 

É  importante  considerar  que  coibir  o  chamado  "discurso  de  ódio"  não  é  o 


mesmo  que  censura,  uma  vez  que  este  é  caracterizado  como  uma  das  formas 

 
 

48 

de  abuso  no  direito  de  liberdade  de  expressão,  através  de  manifestação 
agressiva  e  incitadora  do  ódio  de  certas  pessoas  em  detrimento  de  outras,  seja 
em  virtude  de  raça,  religião,  orientação  sexual,  opção  política,  dentre  outras 
particularidades. 

Já  o  recolhimento  de  conteúdos  didáticos  em  escolas  públicas, 


cancelamento de exposições artísticas e de performances em museus, proibição 
de  peças  de  teatro,  notificações  judiciais  para  artistas  e  músicos  são 
ocorrências  que,  pelas  semelhanças  com  o  período  da  Ditadura  Militar 
(1964-1985),  suscitam  dúvidas  sobre  a  superação  dos  mecanismos  de  censura 
pelo Estado Democrático de Direito. 

Afinal, existe censura no Brasil? Como as Fake News podem ser um risco à 
liberdade de expressão? 

 
 

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25.  MERITOCRACIA:  é  possível  avaliar  o  mérito  em 


um país de oportunidades para poucos? 
 

De  acordo  com  o  economista  norte-americano  Robert  H.  Frank,  autor  da 
obra  "Sucesso  e sorte – O mito da meritocracia", os que defendem a ideia de que 
o  sucesso  é  resultado  exclusivo  de  talento  e  perseverança,  estão  iludidos.  Ao 
longo  de  190  páginas,  Frank  demonstra  através  de  dezenas  de  histórias  das 
pessoas  mais  bem-sucedidas  da  atualidade,  o  quanto  estes,  ainda  que  não 
admitam,  contaram com uma bela “ajudinha” do acaso na concretização de seus 
projetos.  Ou  seja,  a  "sorte",  segundo  o  pesquisador,  é  um  fator  decisivo  para  o 
sucesso. 

Já  a  Juíza  Fernanda  Orsomazo,  compreende  que  o  cerne  de  toda  a 


polêmica  questão  consiste  na  necessidade  do  reconhecimento  de  privilégios. 
Segundo  a  magistrada,  ao  falarmos  de  meritocracia,  voltamos  nossa  atenção 
exclusivamente  ao  mérito,  deixando  de  lado a condição de vantagem que alguns 
grupos  de  indivíduos  têm  em  relação  aos  demais.  Ou  seja:  nascer  branco  em 
uma  sociedade  racista  e de tradição escravocrata, por exemplo, é um privilégio a 
ser considerado. 

Vamos  aos  dados:  Segundo  o  IPEA,  homens  negros  tendem  a  ganhar 


menos  que  homens  e  mulheres  brancas,  sendo  que  as  mulheres  negras 

 
 

50 

apresentam  rendimento  ainda  menor.  Quando  analisada  a  população  que 


caracteriza  os  10%  mais  ricos  da  população,  apenas  24%  são  negros,  já quando 
analisada  aqueles  que  configuram  os  10%  mais  pobres  da  população,  72%  são 
negros. 

O  historiador  Sidney  Chalhoub,  da  Unicamp,  entende  que  tratar  a 


meritocracia  como  valor  universal,  fora  das  condições  sociais  e  históricas  que 
marcam  a  sociedade  brasileira,  é  um  mito  que  serve  à  reprodução  eterna  das 
desigualdades  sociais  e  raciais  que caracterizam a nossa sociedade. Portanto, a 
meritocracia  é  um  mito  que  precisa  ser  combatido  tanto  na  teoria  quanto  na 
prática. Ou seja: sem igualdade de oportunidades, não há meritocracia real. 

Afinal, existe MERITOCRACIA em uma sociedade tão desigual como a 


brasileira? 

 
 

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26.  MACHISMO  ESTRUTURAL:  como  a 


masculinidade  tóxica  exerce  influência  negativa 
sobre mulheres e homens 
 

A  Masculinidade  Tóxica  é  um  modelo  de  masculinidade  hegemônica  que 


tradicionalmente  defendeu  valores  como  a  agressividade e a invulnerabilidade, e 
que  se  posicionou como detentor do poder e da palavra acima das mulheres. Em 
nenhum momento deve ser confundida com a masculinidade em si. 

A  Masculinidade  Tóxica,  é  prejudicial  tanto  às  mulheres  quanto  aos 


próprios  homens.  Expressões  como  "meninos  não  choram",  "você  parece  uma 
menininha"  ou  mesmo  "aja  como  homem",  ao  serem  naturalizadas  desde  a 
infância,  reforçam  preconceitos  e  contribuem  para  o  fortalecimento  de  uma 
cultura que rotula como fraco o homem que expõe seus sentimentos.  

Desta  forma,  meninos  se  transformam  em  homens  inseguros,  insensíveis 


e  sem  identidade  adequada.  E  julgam  comportamentos  pela  forma  como  foram 
educados. 

 
 

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No  interior  de  uma  estrutura  social  marcada  pelas diferenças de gênero, a 


masculinidade  tóxica  afeta  com  maior  intensidade,  sem  sombra  de  dúvidas,  as 
mulheres.  Ou  seja,  a misoginia (sentimento de aversão pelo feminino) é uma das 
consequências  mais  danosas.  Traz  consigo  o  silenciamento  das  mulheres,  a 
negação  do  universo  feminino  e,  em  última  instância,  os  relacionamentos 
abusivos,  gerando  sentimentos  recorrentes  como  dúvidas,  confusão  mental, 
ansiedade,  insegurança,  ou  até  mesmo  esperança  de  que  o  parceiro  mude  e  os 
abusos cessem. 

A  Masculinidade  Tóxica  tem  influência  direta  sobre  a  violência  contra  a 


mulher,  em  especial,  a  violência  doméstica.  De  acordo  com  Fórum  Brasileiro  de 
Segurança  Pública  (FBSP),  há  536  casos  por  hora  no  Brasil  e  quase  a  mesma 
proporção  de  mulheres  que  dizem  ter  sido  vítimas  de  algum  tipo  de  violência 
física  ou  sexual.  Já  os  casos de feminicídio (quando uma mulher morre pela sua 
condição  mulher)  fazem  do  Brasil  o  5º  país  em  morte  violentas  de  mulheres  no 
mundo. 

Como combater a masculinidade Tóxica e outras expressões do 


machismo?  

 
 

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27.  COMO  O  RACISMO  FEZ  O  ESTADO  CONDENAR 


INOCENTE  -  Conheça  a  História  do  mais  jovem 
Condenado a pena de morte nos EUA. 
 

George Stinney Jr., de ascendência africana, foi o mais jovem condenado à 
morte  nos  Estados  Unidos  no  século  XX.  Ele  tinha  apenas  14  anos  quando  foi 
executado na cadeira elétrica. 

Durante  o  julgamento,  mesmo  no  dia  de  sua  execução,  George  sempre 
carregava  a  Bíblia  com  ele,  jurando  que  era  inocente.  Ele  foi  acusado  de  matar 
duas  meninas  brancas,  Betty  de  11  anos  e  Mary,  de  7,  cujos  corpos  foram 
encontrados perto da casa onde o adolescente morava com seus pais. 

Na  época,  todos  os  membros  do  júri  eram  brancos.  O  julgamento  durou 
apenas 2 horas e a sentença foi anunciada 10 minutos depois. 

Os  pais  da  criança  foram  ameaçados  e  negados  o  acesso  ao  tribunal, 
apenas  para  serem  expulsos  da  cidade.  Antes  de  sua  execução,  George  passou 
81  dias  na  prisão  sem  a  oportunidade  de  ver  seus  pais.  Ele  foi  mantido  em 
confinamento  solitário,  a  100  quilômetros  de  sua  cidade,  e  foi  interrogado 
sozinho, sem advogado e sem pais. 

 
 

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Ele  foi  executado  com  5380  volts  na  cabeça.  70  anos  depois,  sua 
inocência  foi  provada  por um juiz da Carolina do Sul. A criança era inocente, mas 
injustamente  acusada  de  um  crime  muito  mais  grave  aos  olhos  de  alguns: 
nascer negro. 

Compartilhar  este  relato  é  um  soco  no estômago, mas é essencial saber e 


lembrar.  É  essencial  admitir  que  a  discriminação,  embora  de  forma  mais  sutil, 
ainda  é  uma  realidade  e  pode  ter  efeitos  igualmente  letais,  principalmente  nos 
países periféricos. 

Você conhece o filme “A espera de um milagre”, baseado na história de 


George Stinney Jr.? Quais as principais reflexões que podem ser extraídas desta 
história real? 

 
 

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28.  A  CULTURA  PATRIARCAL  E  SUAS 


CONSEQUÊNCIAS  NO  BRASIL:  você  sabe  o  que  é 
paternidade tóxica?  
 

Se  você  até  agora  não  havia  ouvido  falar  de  PATERNIDADE  TÓXICA, aí vai 
um  alerta:  esse  é  um  dos  temas  mais  relevantes  na  atualidade,  e  que  apesar  de 
sua  importância,  não  tem  sido  tratado  abertamente  pela  maioria  dos  meios  de 
comunicação por ainda ser um TABU. 

A  Paternidade  Tóxica  diz  respeito  ao  comportamento  narcisista  daqueles 


pais  que,  em  nome  do  cuidado,  oferecem  uma  criação  marcada  pelo  MEDO, 
prejudicando os filhos enquanto evidenciam seu CONTROLE sobre eles. 

São  pais  que  exigem  que  os  filhos  orientem  suas  vidas  em  torno  da 
satisfação  das  suas  necessidades  e  desejos,  num  ambiente  de  constante 
COMPETIÇÃO, independente do quanto isso possa ser doloroso para eles. 

Um  dos  casos  mais  recentes  sobre  o  tema  envolveu  o  canal  do  YouTube 
"Bel  para  Meninas",  que  tem  mais  de  7 milhões de inscritos. Após boatos de que 
a  protagonista  Bel,  de  13  anos,  era  forçada  a  fazer  os  vídeos,  os  pais  foram 

 
 

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obrigados  por  determinação  judicial  a  retirar  do  ar  todas  as  publicações em que 
a menina aparece. 

Segundo  análise  do  Perito  Facial  Vitor  Santos,  do  canal  do  Youtube 
"Metaforando",  Bel  apresentava  em  vários  vídeos  indícios  de  que  sofria  abuso 
psicológico,  de  uma  mãe  possivelmente  narcisista  e  que  na  maioria  dos  vídeos 
não demonstrava qualquer forma de afetividade. 

Pais  que  frequentemente  sufocam  ou  fazem  chantagem  emocional  para 


controlar  os  filhos,  pais  que  humilham  ou  fazem  seus filhos se sentirem mal por 
terem  opiniões  contrárias,  pais  que  punem  e  não  dialogam,  pais  que  oferecem 
desprezo ou violência verbal que machuca estão entre os casos mais comuns de 
pais tóxicos. 

O  fato  é,  que  para  um  pai  ou  mãe  considerados  tóxicos,  um  filho  nada 
mais  é do que um objeto manipulável, o que acaba lhe impedindo de desenvolver 
uma  identidade  própria,  nutrindo  um  constante  sentimento  de  culpa  e complexo 
de inferioridade. 

Até que ponto a idealização da instituição familiar coopera para a paternidade 


tóxica? Deixe nos comentários! 

 
 

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29.  DESAFIOS  PARA  A  SUSTENTABILIDADE  numa 


sociedade do consumo 
Segundo  Emery Kay Hunt, Professor Emérito de Economia da Universidade 
de  Utah,  o  CAPITALISMO  tem  3  características  principais:  produção  de 
mercadorias,  orientada  pelo  mercado;  propriedade  privada  dos  meios  de 
produção  e  comportamento  CONSUMISTA,  da  maioria  dos  indivíduos  dentro  do 
sistema econômico. 

De  acordo  com  o  ecossocioeconomista  polonês  Ignacy  Sachs,  a 


sustentabilidade  ambiental  refere-se  à  capacidade  de  sustentação  dos 
ecossistemas  -  que  é  a  capacidade  de  absorção  e  recomposição.  Sachs  afirma 
que  "a  sustentabilidade  ambiental  pode ser alcançada por meio da limitação dos 
recursos  e  produtos  facilmente  esgotáveis  ou  ambientalmente  prejudiciais, 
substituindo-se  por  recursos  ou  produtos  renováveis,  abundantes  e 
ambientalmente inofensivos. 

O  capitalismo  sustentável,  por  sua  vez,  baseia-se  numa  redução  do 


impacto  meio  ambiental  das  mercadorias  e  dos  processos de produção, através 
da  reciclagem  ou  da  maior  eficiência  energética  e  tecnológica.  Por  outro  lado, 
fundamenta-se  no  mercado  como  a  principal  ferramenta  para  conseguir  estes 
objetivos  ambientais,  associando-os  à  privatização  e  à  mercantilização  dos 

 
 

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recursos  naturais,  convertendo-os  em  capital  natural.  Desta  visão  surgiram,  por 
exemplo, os créditos de carbono. 

Já  para  o  Professor  Michael  Löwy,  pensador  ecossocialista  brasileiro 


radicado  na  França,  se  faz  necessário  considerar  as  ameaças  exponenciais  que 
o  modo  de  produção  CAPITALISTA  e  seus  consequentes  hábitos  de  consumo 
impõem  sobre  o  meio  ambiente,  bem  como  a  iminência  de  uma  quebra  no 
equilíbrio  ecológico  mundial,  que  coloca  a  civilização  humana  em  risco.  Löwy 
propõe  uma  crítica  à  organização  devastadora  do  consumismo  capitalista,  de 
modo  que  a  crise  ambiental  é  severamente  mais  grave  do  que  qualquer  crise 
econômica por ameaçar a continuidade de nossa espécie. 

Estamos diante de uma crise ambiental sem precedentes na história da 


humanidade. O que fazer?  

 
 

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30.  O  QUE  É  CAPACITISMO?  Como  essa  prática 


atinge a pessoa com deficiência. 
 

O  capacitismo  (ableism,  em  inglês),  significa  a  subestimação  da 


capacidade  e  aptidão  de  pessoas  em  virtude  de  sua  deficiência  e  é  pautado  na 
construção  social  de  um  corpo  padrão  perfeito,  denominado  como  “normal", 
enquanto as deficiências passam a ser compreendidas como falhas. 

Parte  do  seu  desconhecimento  e  a  falta  de  debate  pela  população  se 
devem  ao  descumprimento  da  legislação  que  garante  o  direito  de  participação 
plena da pessoa com deficiência na sociedade. 

Outro  motivo  que  acaba  camuflando  o conhecimento sobre o capacitismo 


é  que  ele  se  manifesta  de  forma  muito  velada,  muitas  vezes,  entendido  como 
heroísmo  e  supervalorização  por  quem  o  pratica,  revelando  uma  discriminação 
inconsciente. 

Dentre  as  leis  que  amparam  a  inclusão  da  pessoa  com  deficiência  no 
Brasil  destacam-se  a  Lei  de  Cotas  criada  em  1991,  com  foco  na  inclusão  no 
mercado  de  trabalho  e  a  LBI  (Lei  Brasileira  de  Inclusão)  de  2015,  que  reforça  a 
acessibilidade como direito fundamental. 

 
 

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A  prática  do  Capacitismo  atinge  a  pessoa  com  deficiência  de  diferentes 


maneiras,  como  o  acesso  ao  meio  físico  e  a  criação  de  barreiras  para  que 
exerçam  atividades  independentemente;  e  também  como  barreiras 
socioemocionais  quando  essas  pessoas  são  tratadas  como  incapazes, 
dependentes, sem vontade ou voz própria para exprimir suas vontades. 

Tratar  uma  pessoa  deficiente  de  forma  infantilizada,  incapaz  de 


compreender  o  mundo,  um  problema  em  um  serviço  público  por  exigir 
acessibilidade,  assexualizada,  inferior  ou  que  deva  ser  medicada  e  afastada  do 
convívio comum dos demais cidadãos são exemplos de Capacitismo. 

O  controle  de  corpos  e  a  busca  do  corpo  perfeito é um tema discutido por 


diferentes  filósofos,  como  Michel  Foucault,  que  por  meio  do  conceito  de 
biopoder,  que  associa  à  criação  de  patologias  para  os  corpos  que  saem  da 
"normalidade" estabelecida. 

"A maior deficiência não está no corpo do deficiente físico, mas, na alma 
daquele que é preconceituoso." 

 
 

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SOBRE O AUTOR  
Professor  Marcos  Galdino  é  Filósofo  e  Pedagogo 
de  formação,  com  Mestrado  e  Doutorado na área 
de  Sociais  e  Humanidades.  Atua  como  professor 
em  cursos  pré-vestibulares  há  mais  de  15  anos, 
sendo  que  nos  últimos  5  dedica-se  a  estudar 
exaustivamente  as  contribuições  das  Ciências 
Humanas  para  um  melhor  desempenho  nas 
provas de Redação. 

Criou e desenvolveu o curso “Desbloqueio dos Repertórios Socioculturais”, que já 
está  em  sua  segunda  edição,  no  qual  ensina  aos  estudantes  como  atingir  a 
pontuação  máxima  nas mais importantes competências da Redação do ENEM, a 
C2  e  C3,  garantindo  os  melhores  repertórios  para  os  principais  eixos  temáticos 
da prova mais disputada do Brasil.  

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