1) O documento discute a educação feminina no Brasil do século XIX sob a influência do catolicismo ultramontano.
2) A Igreja via na educação uma forma de combater as ideias modernistas, enquanto o Estado incentivava escolas católicas para melhorar a educação.
3) A oligarquia brasileira encontrou nas escolas das Irmãs de São José de Chamberry um local para educar suas filhas longe das ideias modernas.
1) O documento discute a educação feminina no Brasil do século XIX sob a influência do catolicismo ultramontano.
2) A Igreja via na educação uma forma de combater as ideias modernistas, enquanto o Estado incentivava escolas católicas para melhorar a educação.
3) A oligarquia brasileira encontrou nas escolas das Irmãs de São José de Chamberry um local para educar suas filhas longe das ideias modernas.
1) O documento discute a educação feminina no Brasil do século XIX sob a influência do catolicismo ultramontano.
2) A Igreja via na educação uma forma de combater as ideias modernistas, enquanto o Estado incentivava escolas católicas para melhorar a educação.
3) A oligarquia brasileira encontrou nas escolas das Irmãs de São José de Chamberry um local para educar suas filhas longe das ideias modernas.
Igreja e educação feminina Roberto Romano, em seu clássico Brasil: Igreja (1859-1919): uma face do contra Estado, e Augustin Wernet, em seu também clássico A Igreja paulista no século XIX. E foi sob conservadorismo. a orientação de Wernet que Ivan Aparecido Manoel conduziu a pesquisa que resultou no livro MANOEL, Ivan Aparecido. ora resenhado, originalmente apresentado como tese de doutoramento no fim da década de Maringá: UEM, 2008. 102 p. 1980, na Universidade de São Paulo. O texto foi publicado em 1996 pela editora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (EDUNESP), porém, como é comum em trabalhos que contribuem sobremaneira com as reflexões O chamado catolicismo ultramontano tem historiográficas, não tardou a se esgotar. sido nas últimas décadas objeto de inúmeros Desse modo, a reedição de Igreja e estudos na área de história. É compreensível o educação feminina (1859-1919) pela editora da interesse dos pesquisadores nesse projeto Universidade Estadual de Maringá (EDUEM) coloca católico ao se considerarem os reflexos dessa novamente ao alcance do público um estudo autocompreensão em diferentes esferas da essencial aos interessados, especificamente, nos sociedade, em seu longo período de vigência desdobramentos do catolicismo ultramontano (1800-1960). Em poucas palavras poderíamos em terras brasileiras, na história da educação, ou afirmar que o ultramontanismo foi uma resposta mais especificamente, na história da educação da Igreja às ameaças que vinham se feminina no Brasil e, de modo geral, a todos os avolumando desde a ruptura das relações que se interessam pela história do Brasil, em feudais e da ética católica, com a introdução especial, num dos temas mais recorrentes de do assalariamento, da ética mercantilista, da nossa historiografia: a implexa recepção dos constituição dos Estados nacionais e da ideais modernistas por parte da oligarquia preponderância do poder civil sobre o religioso conservadora do Brasil. e, em especial, das transformações abruptas Este último aspecto é muito importante na na esfera intelectual que abririam caminho, a escrita do livro, pois, de acordo com o autor, a partir do humanismo, à Reforma Protestante, ao busca pelo entendimento das muitas faces do Iluminismo, ao Liberalismo, ao materialismo conservadorismo oligárquico brasileiro se fez dialético e ao socialismo. presente em cada página de seu estudo: “uma Em face de todas essas perdas, no século grande interrogação orientou a escrita desse livro: XIX, a Igreja resolveu agir de maneira radical, como entender e explicar de modo razoavel- provocando uma verdadeira agitação mente competente as atitudes contraditórias e sociopolítica ao anunciar sua reação ao mundo ambíguas da oligarquia brasileira” (p. 18). moderno, condenando o capitalismo e suas O livro, que foi dividido em quatro capítulos, teorias, bem como a esquerda em todas as apresenta no primeiro um interessante panorama suas vertentes. Em suma, o projeto político da educação feminina no século XIX. Se a ultramontano estruturou-se em torno da rejeição educação das jovens não havia sido à ciência, à filosofia e às artes modernas, preocupação central para a oligarquia até as condenando o capitalismo, a ordem burguesa, últimas décadas do século XIX, num momento os princípios liberais e democráticos e todos os em que as meninas eram educadas apenas movimentos esquerdistas, como o socialismo e para atender às lides domésticos, esse quadro o comunismo. alterar-se-ia radicalmente diante dos ideais No Brasil, as sendas para as pesquisas nesse modernistas que se propagaram no Brasil nos tema foram abertas, sobretudo, por dois autores: últimos decênios do século XIX. Esse novo
contexto passou a exigir da mulher de escolas e atenuar a premente necessidade conhecimentos que iam além do preparo para da oligarquia, qual seja, uma educação dirigir uma casa ou governar seus escravos. conservadora para suas filhas. Mas qual era a Cobrava-se domínio sobre a leitura e a escrita e proposta educacional desse colégio? Para conhecimento mínimo da nova e complexa responder a essa indagação, Ivan Manoel configuração mundial. Se a necessidade de reservou o quarto e último capítulo de seu livro. uma educação “sociocultural” das mulheres se As escolas das Irmãs de São José de mostrava urgente, mais urgente ainda era para Chamberry ofereciam três formas distintas de a oligarquia encontrar escolas que educassem matrículas: o internato pago, o externato gratuito as suas jovens, que, até então, eram instruídas, e o orfanato. O internato era o ponto forte das em sua grande maioria, por professores escolas e o externato, consequentemente, era particulares, longe das precárias escolas de importância secundária. Já o orfanato punha públicas, de onde eram afastadas pelo receio às claras a política conservadora desse modelo que nutriam seus pais de misturá-las às crianças de educação. O autor, a partir de menos abastadas. documentação original, mostra que todas as Todavia, a mesma modernidade que forças estavam concentradas nas alunas do exigia uma educação diferenciada de suas filhas internato (que eram oriundas de famílias ricas), trazia consigo inúmeros perigos que de modo que o modelo de externato (criado preocupavam, deveras, a oligarquia brasileira, com o intuito de atender a famílias que não pois o modernismo nesse momento significava tinham condição de subsidiar o ensino de suas muito mais do que inovações tecnológicas; ele filhas e, sobretudo, fazer frente às escolas pressupunha extensão dos direitos civis para gratuitas mantidas pelos protestantes) possuía todos, até mesmo para as mulheres. Daí o motivo menor quantidade de alunas e contava com do temor da oligarquia ao feminismo, um dos um número inferior de professores, matérias e maiores fantasmas que subjaziam sob os ideais seriação. No orfanato as meninas recebiam modernistas. doutrinação religiosa e prendas para exercerem No segundo capítulo, Ivan Manoel a função de empregadas domésticas, ou em apresenta uma Igreja que, estando no auge de casos extraordinários, a docência em escolas sua política de romanização (denominada públicas. Além do baixíssimo nível de instrução, catolicismo ultramontano), substanciava essas meninas do orfanato eram responsáveis verdadeira ojeriza a todas as ideias modernistas por inúmeros serviços, como as lides de limpeza que punham em xeque as doutrinas da Santa e de cozinha. Sé. Das páginas desse capítulo transparece O olhar atento do autor sobre as fontes também um clero conservador, capitaneado descortina o cotidiano nos colégios das Irmãs por Dom Antônio Joaquim de Melo, que não de São José. O primeiro aspecto destacado foi poupava esforços no ataque à modernidade e a centralidade do modelo de internato, que enxergava na educação, em especial na entendido como o melhor e mais natural educação feminina, uma forma de livrar a método de educação das crianças. O internato família brasileira dos males modernistas. teria como função-chave a vigilância e, por A confluência de temores e necessidades conseguinte, o controle sobre o corpo, os fez com que Igreja, Estado e oligarquia se gestos, os comportamentos, as linguagens etc., unissem. O autor demonstra no terceiro capítulo elementos primordiais na formação de uma que a Igreja tinha por objetivo frear a mulher dotada de “ornamentos culturais”, mas modernidade que se infiltrava no Brasil e via na também de polidez. O ensino resultava de uma educação o melhor antídoto; o Estado, ao mescla de disciplinas, orações diárias e leituras incentivar as escolas católicas, vislumbrava uma das obras de autores filiados ao ultramontanismo oportunidade de amenizar as precariedades do – em clara contraposição à “pedagogia ensino público; já a oligarquia encontrava nas moderna”. Nesse clima de severa disciplina havia escolas católicas espaço ideal para instruir suas ainda espaço para uma acirrada atmosfera de filhas sem maculá-las com as distorções do disputa entre as alunas, tudo sob o estímulo do modernismo. Essa junção de interesses modelo pedagógico que guiava os colégios corroborou para que, em 1851, capuchinhos e das Irmãs de São José. freiras francesas da cidade de Chamberry, na As conclusões do autor são reveladoras: Saboia, trouxessem para São Paulo o conjunto num momento em que os referenciais doutrinário ultramontano. Às irmãs de São José modernistas avançavam pelo mundo, a de Chamberry coube a tarefa de suprir a falta oligarquia brasileira filtrou o que era interessante
para sua perpetuação (abandono da herança aniquilar incômodos postulados dessa mesma colonial escravista e inserção no mercado modernidade. mundial capitalista moderno) do que poderia A riqueza das minúcias conjugadas ameaçar os seus tradicionais costumes magistralmente aos grandes temas da (emancipação das mulheres) e pôr em risco historiografia brasileira por meio de uma fluente seu status quo (extensão dos direitos civis). Uma escrita impossibilita uma apreciação satisfatória elite, portanto, ambiguamente modernizante e do livro de Ivan Manoel em um texto dessa conservadora. Por outro lado, o clero brasileiro natureza. Nossa intenção é lançar o convite à marcado pelas tinturas do ultramontanismo se leitura a todos os que se interessam pelo tema pôs ao lado do Estado e da oligarquia no intuito tratado em Igreja e educação feminina (1859- de estender seu projeto de romanização. As 1919), mas também a todos aqueles que ações dos clérigos ultramontanos na educação apreciam obras históricas que primam pelo rigor foram impulsionadas pela ausência do Estado teórico, pelo amparo documental e por uma no ensino público brasileiro e pelas benesses de escrita envolvente. uma oligarquia que, paradoxalmente, investia nas escolas católicas os lucros obtidos num André Dioney Fonseca modelo econômico modernista com o fito de Universidade Federal da Grande Dourados
A Importância Do Comércio Intrafirma Nos Fluxos Comerciais Do Brasil - Uma Análise A Partir Dos Fluxos de Exportações e Importações, Utilizando A Hipótese de Baumann.