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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS COORDENAÇÃO DO CURSO DE


DIREITO

ASAPH DE SOUZA MENDONÇA, LETÍCIA ARAÚJO BELZ, LETÍCIA FERNANDES


OLIVEIRA, LUANNA CRISTINA DE ALMEIDA QUINTELA, MICHELY YASMIN
FERREIRA FADEL

RUPTURA DEMOCRÁTICA E O ESTADO DE EXCEÇÃO A PARTIR DE 1964

RIO BRANCO, 2021


ASAPH DE SOUZA MENDONÇA, LETÍCIA ARAÚJO BELZ, LETÍCIA FERNANDES
OLIVEIRA, LUANNA CRISTINA DE ALMEIDA QUINTELA, MICHELY YASMIN
FERREIRA FADEL

RUPTURA DEMOCRÁTICA E O ESTADO DE EXCEÇÃO A PARTIR DE 1964

Problematização - reflexão - narrativa histórico


jurídico apresentada ao curso de direito da
Universidade Federal do Acre como requisito para
avaliação final.

Prof. Dr. Francisco Pereira da Costa

RIO BRANCO

202
A partir do momento em que se iniciou a ditadura civil militar em 1964 no Brasil,
novos rumos foram tomados no que cerne a justiça e seu sistema judiciário e leis
anteriormente tão bem dispostas no cérebro do cidadão. É de suma importância
destacar logo no princípio que os militares ao assumirem o poder autoritário e
arbitrário do Brasil, passaram a promover mudanças fundamentais para manter a
todo custo seu poder sobre o país e refrear qualquer tipo de resistência que pudesse
vir a acontecer. Essas mudanças se caracterizaram pelo uso opressor e despótico
da violência, a censura institucionalizada e a mudança nas leis da constituição
vigente e/ou desrespeito das leis oficiais que garantiam a democracia da população
brasileira. No entanto, mesmo dotados do poder geral no país e colocando em
prática os desvios de direitos humanos e demais direitos fundamentais, foi-se
construída uma história pela soma dos poderes da época que legitimavam
atrocidades antidemocráticas, além de normalizá-las.

De um lado, o Congresso Nacional confeccionou a legalidade autoritária


(PEREIRA, 2010) que, embora adotando procedimentos e fórmulas
legislativas esquizofrênicas, serviu para tentar confundir o regime de fato da
época com um regime de direito. De outro, o Executivo construía discursos
que tentavam dotar de normalidade institucional a ruptura provocada pelo
golpe de 1964. (DORNELES Vanessa, 2017, P.1)

Dentre as inúmeras ações autoritárias e simultaneamente antiliberais


arbitrárias, uma das mais importantes e que gerou maiores transformações e
posteriormente indignações foram os Atos Institucionais. Desde o primeiro ato, o AI-
1 em abril de 1964, o país foi inundado pela onda de um poder totalitário. Com
eleições presidenciais sendo restringida ao Congresso Nacional – este dominado
pelos militares – o povo deixava de possuir um representante que reproduzisse seus
interesses dentro do poder público. Com o passar dos anos, os militares foram se
fortalecendo dentro do regime que os mesmos impuseram, partindo do uso dos Atos
Institucionais (AI) para reivindicar as mudanças e arbitrariedades pelas quais
desejavam sufocar o povo. A cada novo “AI” publicado, a população ia perdendo
seus direitos. Os primeiros Atos Institucionais – considerados os mais “brandos” –
iam retirando toda e qualquer autonomia do povo brasileiro e entregava tudo isso
nas mãos dos ditadores e seus cúmplices. O pensamento critico havia virado crime;
greves e protestos pacíficos eram punidos com forte violência, prisão e até mesmo
tortura e morte; a arte era censurada livremente e para aplacar qualquer desejo de
resistência do povo, os militares criaram um milagre econômico, que nada mais era
do que empréstimos infinitos e uma bomba prestes a explodir. E foi assim que os
apoiadores da ditadura sufocaram a resistência.

Já em 1968 existia uma dualidade entre os militares que assumiram o


governo autoritário. Eram chamados de moderados aqueles que desejavam
restaurar os direitos ao povo ou até mesmo acabar com a ditadura, por outro lado
existia a linha dura que não aceitavam devolver o governo nas mãos dos civis. Com
um cenário de crise iminente, o presidente vigente da época, marechal Artur da
Costa e Silva, outorgou o AI-5 em 13 de abril de 1968. Considerado o mais duro e
antidemocrático dos atos institucionais, o AI-5 desestruturou momentaneamente
qualquer possibilidade de retomada democrática. É importante enfatizar que esses
Atos Institucionais eram outorgados na própria constituição e que tinham o apoio do
congresso nacional – uma vez que esse estava nas mãos dos ditadores – e do
judiciário – que também estava refém de arbitrariedades. Nesse ínterim, é mister
destacar que houve durante o longo período de ditadura no Brasil, a publicação de
uma nova constituição brasileira que ocorreu em 1967 e buscou legitimar o regime
militar, aumentando o poder do executivo em função do legislativo e do judiciário
criando uma hierarquia constitucional centralizadora, que por sua vez só suprimiam
cada vez mais as liberdades individuais.

A clara interferência nefasta do poder Executivo sobre os demais demonstrou


como o poder Judiciário foi subjugado até o limite, para que dessa forma as ações
completamente ilegais dos militares fossem justificadas e inclusive legalizadas
através dos Atos Institucionais e Complementares. Era um estado de caos absoluto,
em que os poderes responsáveis por proteger a população, estavam nas mãos dos
tiranos. O Estado de Exceção instituído pelos militares com o objetivo de proteger a
população e o Governo Brasileiro de uma ameaça comunista – na qual não passava
de mais uma inverdade do regime – foi responsável por mitigar o desenvolvimento
democrático de uma república tão nova quanto a brasileira. É verdade que para uma
parte da população, a ilusão de um “milagre econômico” somado a uma organização
social mais rígida, serviu de motivação para a defesa do regime cruel e pútrido que
tentava se embelezar por meio de uma imprensa censurada e totalmente
direcionada. Boa parte da massa que acreditava no regime dos militares, não
sabiam as atrocidades perpetradas por eles, nem muito menos eram severamente
atingidos pela exclusão de direitos individuais e ações antidemocráticas dos
governantes. Uma classe média alta que lucrava com o totalitarismo e sofria com a
ausência de pensamento político era em peso da população que defendia a Ditadura
Militar Brasileira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente, portanto, que o período após o golpe civil militar, que conferiu na
ditadura no Brasil, foi um momento de intensos processos de perda de liberdades
individuais, de censura livre, torturas e mortes contra opositores e grandes perdas
democráticas.

Houveram lutas e resistências que foram sufocadas pelo peso de uma mão
de ferro militar, mas que nunca deixaram de tentar se libertar de um regime
opressor. A consequência para toda a oposição ao regime que parava nas garras
dos tiranos era normalmente a tortura indiscriminada e a morte arbitraria. Os Direitos
Humanos sofreram um duro golpe com esse regime. Mesmo com todos esses
sofrimentos civis passados por significativa parte da população, ainda era comum
encontrar quem defendesse e defende a Ditadura Militar Brasileira com severo
afinco. Partindo desse pressuposto e de toda memória histórica herdada desse
período, por que existiu e ainda existem indivíduos que apoiam tal regime? Por que
o sofrimento e perda de vidas não comovem esses apoiadores? E finalmente, onde
ocorreu o erro que permitiu que tais problematizações fossem levantadas?

REFERÊNCIAS

Schinke, Vanessa DornelesA história que nos contam: a memória do judiciário sobre o
regime autoritário. Revista Direito e Práxis [online]. 2017, v. 8, n. 2 [Acessado 22 Junho
2021] , pp. 1224-1249. Disponível em: <https://doi.org/10.12957/dep.2017.23011>. Epub
Apr-Jun 2017. ISSN 2179-8966. https://doi.org/10.12957/dep.2017.23011.

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