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22/11/2021 15:23 Análise: BC perde controle sobre as expectativas de longo prazo | Finanças | Valor Econômico

Finanças
Análise: BC perde controle sobre as expectativas
de longo prazo
Boletim Focus já mostra sinais de desancoragem das expectativas de inflação em
relação às metas até 2025

Por Alex Ribeiro, Valor — São Paulo


22/11/2021 10h54 · Atualizado há 4 horas

Foto: Arquivo/Agência Brasil

O Banco Central está perdendo o controle das expectativas de inflação de longo


prazo, num processo que poderá ter um custo importante em termos de alta de
juros e de baixo crescimento da economia.

O boletim Focus de expectativas de inflação, divulgado nesta segunda-feira (22),


mostra sinais de desancoragem das expectativas de inflação em relação às metas

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22/11/2021 15:23 Análise: BC perde controle sobre as expectativas de longo prazo | Finanças | Valor Econômico

até 2025. Não se trata mais de um surto inflacionário, mas de um processo de alta
sustentada de preços na economia.

Os especialistas de mercado dividem a culpa entre o próprio Banco Central, que


muitos dizem que está atrás da curva no processo de aperto monetário, e os
desarranjos políticos e fiscais, com a burla ao teto de gastos e dúvidas sobre a
política econômica do governo a ser eleito no ano que vem.

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A expectativa de inflação para 2021 chegou, oficialmente, a dois dígitos. A projeção


mediana dos agentes econômicos para a variação do IPCA neste ano saltou de
9,77% para 10,12% na última sexta-feira.

As revisões atingem os dois anos seguintes. Para 2022, o mercado antecipa uma
inflação de 4,96%, ante 4,79% projetados uma semana antes. Está bem acima do
centro da meta definida para o ano, de 3,5%.

Nesse percentual, a previsão dos especialistas está bem próxima de romper o teto
da meta do ano que vem, de 5%. Assim, aos olhos do mercado, crescem os riscos de
o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ter que escrever duas cartas
seguidas explicando o estouro da meta. Neste ano, as chances de isso ocorrer já são
estimadas pelo BC em mais de 99%.

Embora desconfortável, esse descontrole inflacionário pode estar ligado sobretudo a


uma aceleração temporária da inflação, decorrente de uma sequência de choques
que atingiu a economia, com a alta da inflação importada e do preço de energia.

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Mas as previsões dos analistas para 2023 e anos seguintes sinalizam um


preocupante processo de desancoragem das expectativas. Os números mostram
que, na opinião do mercado, o Banco Central independente terá dificuldades de
cumprir à risca o seu mandato de estabilidade de preços.

A inflação projetada pelo mercado para 2023 subiu de 3,32% para 3,42% em uma
semana. Assim, vai se distanciando do centro da meta do ano, de 3,25%. Há pelo
menos um sinal de que o processo terá continuidade: a média das projeções já
estava em 3,46% na última sexta-feira.

A inflação projetada para 2024 subiu de 3,09% para 3,10%, acima da meta do ano,
de 3%. O incremento parece milimétrico, mas pode vir mais nas próximas semanas,
já que a média das projeções está em 3,22%.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) ainda nem definiu a meta para 2025, mas já
há um incipiente movimento de desancoragem em curso. A mediana das projeções
segue em 3%, provável meta, mas a média das projeções para o ano já subiu a
3,18%.

O conjunto das projeções do mercado para a inflação, para a atividade e para o juro
parece não fazer muito sentido. Os analistas esperam mais aperto monetário (agora,
veem juro em 11,25% ao ano ao fim de 2022) e crescimento cada vez menor (a
previsão para 2022 caiu de 0,93% para 0,7%).

Mais juros e um período mais prolongado de desemprego e subutilização da


capacidade produtiva deveriam significar, em tese, uma inflação mais baixa em
prazos mais longos.

As expectativas sobre a política fiscal ajudam a entender um pouco desse paradoxo.


O mercado vem revendo para cima a sua projeção para o déficit primário em 2022
(passou de 1% do PIB para 1,2% do PIB no último mês) e para o déficit nominal
(6,35% para 6,7% no mesmo período). Com o aumento do risco fiscal, fica mais difícil
o BC ancorar as expectativas de inflação.

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