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Introdução à

Tecnologia dos
Materiais
A estrutura CFC possui um fator de empacotamento maior (0,74 contra os 0,68
da estrutura CCC), ou seja, os átomos se arranjam de uma forma mais densa. É isso que

densidade aumenta (densidade é massa de um corpo dividido pelo volume deste corpo,
se a massa não muda e o volume diminui então a densidade aumenta). Depois de
transformado, continuando o aquecimento, o volume continua a aumentar devido a
dilatação linear. Quando se atinge a temperatura de 1392 ºC ocorre desta vez, uma
expansão. Isto quer dizer que houve novamente uma transformação de fase. Neste caso,
do ferro gama (CFC) para ferro delta (CCC). Como o ferro delta (idêntico ao ferro alfa)
possui menor fator de empacotamento, ocorre uma dilatação quando da transformação
de fase. Com o aquecimento tem-se então uma nova transformação de fase, para o
estado líquido (a 1536 ºC).

2. DEFEITOS CRISTALINOS

Vimos que a organização atômica nos cristais segue uma determinada ordem à longa
distância. A estrutura cristalina, como mostrado na seção anterior, é isenta de defeitos. No
entanto, sabe-se que na natureza nem tudo é perfeito, então seria razoável esperar certa
quantidade de defeitos na rede na rede cristalina.
Já foi mencionado que a estrutura cristalina define as propriedades dos materiais. No
entanto, não foi dito que nesta estrutura cristalina existem defeitos. Sim, estes defeitos são
inevitáveis e inclusive existe um certo valor mínimo de defeitos presentes num material
cristalino em equilíbrio, para uma determinada temperatura. Na verdade, o tipo de rede
cristalina, os tipos de defeitos cristalinos (discordâncias) e a quantidade destes defeitos é que
determinam o comportamento mecânico de um material.

2.1 VAZIOS

Os vazios (ou lacunas) ocorrem quando a posição de um átomo na rede cristalina não
está ocupada. A quantidade de vazios (lacunas) presente na rede cristalina aumenta com a
temperatura, pois os átomos oscilam mais violentamente e é provável que saltem para outro

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local ou em direção à superfície. Por exemplo, a 700 ºC, de cada 100.000 pontos da rede
cristalina, um está vazio.
A Figura 4 mostra um exemplo de um vazio na rede cristalina.

(a) (b)
Figura 4 Representação esquemática de um vazio na rede cristalina (a) e uma analogia
com os grãos de milho em uma espiga(b).

Este tipo de defeito é considerado um defeito de ponto, pois é unidimensional,

2.2 ÁTOMO INTERSTICIAL

Os átomos intersticiais ocorrem quando um átomo não está em sua posição correta,

vizinhos produzindo uma certa distorção na rede.


A Figura 5 mostra um exemplo de átomos intersticiais

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(a) (b)
Figura 5 Representação esquemática de um átomo intersticial na rede cristalina
(a) e uma analogia com os grãos de milho em uma espiga(b).
Este defeito também é considerado um defeito pontual. Este tipo de defeito interfere
muito pouco nas propriedades mecânicas dos materiais.

2.3 CONTORNOS DE GRÃO

Os contornos de grão são defeitos importantes nos materiais. Eles são na verdade uma
falha na orientação dos cristais. É mais fácil entender o que é o contorno de grão quando
explicamos de onde ele vem. A Figura 6 ajuda a exemplificar o fenômeno.

Figura 6 - Representação esquemática da solidificação do material e a formação dos


contornos de grão a partir de vários núcleos (Callister, 2002).

Durante a solidificação do ferro (por exemplo), começam a surgir núcleos de


cristalização (Figura 6a). Isto é, átomos começam a se aglomerar (sempre seguindo a
estrutura cristalina). No entanto, numa panela onde se tem o metal derretido (fundido)
começam a aparecer milhões de núcleos de solidificação ao mesmo tempo. Um núcleo não
sabe, no entanto, a orientação dos outros núcleos, e assim, cada um deles se forma numa

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orientação diferente. Dentro do núcleo é que se tem a mesma orientação cristalográfica.
Conforme os núcleos vão crescendo (Figura 6b) os átomos se agregam no núcleo formado
seguindo a orientação cristalográfica deste núcleo. Quando todo o material se solidificou os
núcleos se encontram, porém, com orientações cristalográficas diferentes (Figura 6c). Assim,
nesta região de encontro dos núcleos não há uma união completa e perfeita como dentro do
núcleo. Estes núcleos, ou seja, região cristalina com a mesma orientação cristalográfica é
chamada de grão. Os contornos de grãos então são as fronteiras onde regiões com diferentes
orientações cristalinas se encontram. Estas regiões são possíveis de se visualizar em um
microscópio e aparecem como linhas de separação como mostrado na (Figura 6d).
Os contornos de grão influenciam marcadamente nas propriedades dos materiais.
Quanto menor o tamanho dos grãos mais resistente tende a ser o material. Existem
tratamentos térmicos que podem alterar o tamanho de grão.

2.4 DISCORDÂNCIAS

As discordâncias podem ser consideradas como os defeitos mais importantes nos materiais
metálicos cristalinos. Um tipo de discordância é mostrado na Figura 7.

(a) (b)
Figura 7 - Representação esquemática de uma discordância em forma de cunha (a) e sua
analogia numa espiga de milho (b).

Esta é caracterizada pela presença de uma fileira extra de átomos na rede cristalina. A
este tipo de discordância damos o nome de discordância em cunha. Existem outros tipos de
discordâncias (em hélice e mista), mas iremos nos fixar nesta para fins didáticos. Este tipo de
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defeito é chamado defeito em linha, pois o defeito seria uma linha perpendicular ao plano da
página.
A discordância é um defeito muito importante, pois ela comanda o mecanismo de
deformação plástica do material. Quando um material cristalino se deforma permanentemente
ele o faz através de movimentação de discordâncias como no exemplo da figura 8.

Figura 8 - Representação esquemática da movimentação de discordância em cunha


(Callister, 2002).
Se eu aplico uma força (como mostrada na Figura 8) para deformar o material. Tudo
nos levaria a pensar que a força necessária para movimentar uma coluna de átomos seria a
somatória das forças de ligação entre os átomos do plano, certo? No entanto, a força
necessária é muito menor. Isto ocorre porque os átomos adjacentes à discordância quebram
suas ligações e se ligam com os sucessivos átomos mais próximos, assim a discordância se
movimenta.

3. SOLUÇÃO SÓLIDA

A maioria das pessoas gosta de café doce. Para adoçar o café é necessário misturar
açúcar numa certa quantidade. Se você faz parte das pessoas que adoçam o café já deve ter
notado que você adiciona algo sólido em um líquido (açúcar e café, respectivamente).
Para que você sinta o café doce é necessário que o açúcar sólido se dissolva no café.
Quando isso ocorre você não consegue mais diferenciar o açúcar do café, isto porque temos
uma solução monofásica. Neste caso, para se ter uma solução monofásica é necessário que
todo o açúcar se dissolva no café. Caso você coloque açúcar demais, parte dele se dissolve e
parte fica no fundo da xícara. Isto seria uma solução bifásica. Dizemos que o açúcar atingiu o
limite de solubilidade e este precipitou no fundo da xícara. Depois de dissolvido, o açúcar e o
café ficaram no estado líquido. Na metalurgia, o conceito é muito similar, porém, trabalhamos
geralmente, com solução sólida.
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O bronze é uma liga cobre e estanho. Mas como dois materiais sólidos podem se
dissolver um no outro? Na verdade não é bem assim que ocorre. O que se faz geralmente é
fundir os materiais e após a solidificação temos então um dissolvido no outro, formando uma
liga metálica. Mas, como ocorre essa dissolução? Existem, basicamente, duas maneiras:
Solução Sólida Intersticial;
Solução Sólida Substitucional.

A Figura 9 mostra a representação destes dois tipos de solução sólida.

(a) (b)

Figura 9 - Representação esquemática da solução sólida intersticial (a) e solução sólida


substitucional (b).

Na solução sólida intersticial (Figura 9a) o soluto entra nos espaços vazios (interstícios) da
rede cristalina (p.ex. o ferro CCC possui 32% de espaço vazio na célula unitária). No entanto,
para isso o átomo que entra nestes interstícios deve ter um tamanho pequeno o suficiente para
poder entrar neste. No ferro, os átomos que podem entrar em solução intersticial são,
principalmente o H, B, C, N e O.
No caso do átomo de soluto não ser suficientemente pequeno para caber nos interstícios da
estrutura cristalina do solvente ele pode entrar em solução sólida substitucional. Por exemplo,

m solução sólida. No entanto, o


átomo de cromo tem o tamanho parecido com o átomo de ferro, logo ele entra em solução
sólida substitucional. Já o carbono que é pequeno, entra em solução sólida intersticial.
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