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João Pedro César Machado

ADVOGADO

Análise do Decreto-Lei 78-A/2021 de 29/9, publicado no Diário da República nº


190/2021, 1º Suplemento, Série I;
E,
Da Resolução do Conselho de Ministros nº 135-A/2021 de 29/9, publicada no
Diário da República nº 190/2021. 1º Suplemento, Série I.

Tentarei com este parecer, utilizar uma linguagem o mais acessível possível ao
grande público, que não tem de ter conhecimentos , nesta área específica do
saber, sendo certo, que se por um lado pretendo informar os cidadãos dos seus
legítimos direitos, como forma de se poderem defender e fazer valer os mesmos,
por outro, alguma tecnicidade na terminologia é indispensável porque
incontornável.

Vamos então começar pelo Decreto-Lei nº 78-A/2021 de 29/9 e que entra em


vigor amanhã, e que para efeitos do grande público, legisla sobre a controversa
questão do uso das máscaras e concretamente o seu artigo 13º-B.
Mas antes de entrarmos na análise deste diploma e do seu polémico artigo, o 13º-
B, temos de recuar ao “famoso”, porque já foi alvo de trinta e uma alterações,
conforme referido no art. 1º alínea a) do Dec/Lei nº 78-A/2021, Decreto-Lei nº 10-
A/2020 de 13/3.

Esse Decreto-Lei n.º 10-A/2020 teve de ser ratificado pela Lei da Assembleia da
República, Lei n.º 1-A/2020, de 19 de Março, que impôs o primeiro estado de
emergência.

E porquê? Porque o Governo não tem competência para poder dispor


inovatoriamente em matérias que incidem sobre direitos, liberdades e garantias,
em situação de calamidade, como tinha feito através desse Dec. Lei. Assim, à data
em que o mesmo foi exarado, padecia de inconstitucionalidade orgânica, por
violação do disposto no artº 165 nº1 al. b) e artº 19 nº1, ambos da CRP.

Não deixando de ser “curioso” que a Lei n.º 1-A/2020, de 19 de Março, emitida
posteriormente ao Decreto-Lei nº10-A/2020 de 13/3, venha ratificar um diploma
ferido de inconstitucionalidade, pelo menos orgânica, com efeitos retroativos.
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Terminado o estado de emergência, no final de Abril de 2021, tal decreto deixou


de vigorar na ordem jurídica portuguesa, não só porque caducou com o termo das
leis de emergência que o ratificaram, como porque não pode subsistir
autonomamente, por incompetência orgânica do Governo para a sua produção
original.

Ou seja, a chamada “obrigatoriedade do uso das máscaras”, perdeu a cobertura da


Lei nº 1-A/2020, de 19 de Março, com o fim do Estado de Emergência em finais de
Abril de 2021, precisamente, porque esta matéria é da competência relativa da
Assembleia da República, uma vez que a questão do “uso de máscaras”, quer em
espaços fechados quer em abertos, colide frontalmente com artigo 26º da CRP que
consagra a todos o direito à sua identidade pessoal e à sua imagem
“1.A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da
personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à
palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra
quaisquer formas de discriminação.”

E desde então, não mais a Assembleia da República veio a legislar, repita-se, sobre
a “questão das máscaras”, que sendo uma matéria de reserva relativa da sua
competência (art. 165º nº 1 alínea b) porque versa precisamente sobre “Direitos,
liberdades e garantias, e como tais incluídos, entre outros, o direito à identidade e
à imagem contidos no artigo 26º da CRP, que está precisamente incluído no Título
II, Capítulo I, Direitos, liberdades e garantias pessoais.

Pelo que dúvidas não me restam, que a Lei n.º 1-A/2020, de 19 de Março não mais
está em vigor com o fim do Estado de Emergência em finais de Abril deste ano.
Caindo assim, toda e qualquer obrigação do uso de máscaras quer em espaços
fechados quer em espaços abertos, até…hoje!
Ora bem,

Com o Decreto-Lei nº 78-A/2021 de 29/9, o governo vem a legislar essa


obrigatoriedade no artigo 13º-B, mas, sem que tenha existido qualquer Lei de
autorização legislativa, emitida pela Assembleia da República!

Autorização esta, deste Órgão de Soberania, que é fundamental, para a


constitucionalidade orgânica do diploma ontem publicado, uma vez que sem a

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mesma, o governo não tem qualquer legitimidade constitucional para legislar


sobre as “máscaras”.

Assim, o Decreto-Lei nº 78-A/2021 de 29/9 está completamente e para sempre,


ferido de absoluta inconstitucionalidade orgânica!

Analisemos agora a constitucionalidade material deste artigo 13º-.B.


Uma vez que o mesmo, contende frontalmente com direitos de identidade e de
imagem, consagrados no art. 26º da CRP, bem como o direito à integridade moral
e física das pessoas (art. 25º CRP), também dúvidas não me restam que padece de
inconstitucionalidade material!

Manifesto também a estranheza, sobre o facto do governo continuar a insistir em


que a DGS possa “locais em que tal seja determinado em normas pela Direção-
Geral da Saúde” (art. 13º-B nº 1 alínea h), quando esta entidade apenas pode
emitir “recomendações” uma vez que não é um órgão do poder legislativo, sendo
esta, “não questão”, já do conhecimento da esmagadora maioria da população
portuguesa.

CONCLUSÃO: O Decreto-Lei nº 78-A/2021 de 29/9 é inconstitucional quer do


ponto de vista material quer orgânico, mais concretamente o seu artigo 13º-B,
que impõe a obrigatoriedade em determinados locais e espaços, do uso das
“máscaras”.

Analisemos agora a Resolução do Conselho de Ministros nº 135-A/2021 de 29/9,


publicada no Diário da República nº 190/2021. 1º Suplemento, Série I.
Procede o mesmo parecer que já realizei sobre a Resolução do Conselho de
Ministros nº 91-A/2021, publicada no Diário da República nº 132/2021, 1º
Suplemento, Série I, de 2021-07-09 e que instituiu o “certificado covid”.

As resoluções do Conselho de Ministros inserem-se na área administrativa do


Governo e destinam-se a regulamentar o que de inovatório foi determinado por
lei; isto é, regulam os conteúdos definidos através de Dec. Lei, que se reportam a
decisões político-normativas primárias.

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No caso, as Resoluções de Conselho de Ministros, porque diplomas de carácter


administrativo, não poderiam nem conter normas inovatórias na ordem jurídica
diversas das estabelecidas por Dec. Lei que visassem regulamentar nem, no caso,
existia sequer, vigente na ordem jurídica, decreto-lei que legitimasse e carecesse
de tal regulamentação.

Estamos pois perante diplomas inconstitucionais (todas as ditas Resoluções), quer


por violação do princípio da precedência da lei, decorrente designadamente dos
nºs 1, 6 e 7 do artigo 112.º, do artigo 199.º, alínea c), e também por violação do
artigo 198.º, n.º 1, alínea a), todos da Constituição da República Portuguesa (no
que concerne ao uso de Resoluções não para prover à boa execução de leis, mas
para criação, inovatória, de deveres e de restrições); quer por
inconstitucionalidade orgânica (no que se refere à restrição de direitos, liberdades
e garantias, por via governamental, em matéria para a qual a Constituição não lhe
confere competência para tal), por violação do disposto nos artº 198 nº1 als a) e b)
e artºs 161 als. c) e d), artº 165 nº1 al. b) e artº 200 nº1, todos da CRP.

Senão vejamos, os artigos 9º e 10º da Resolução do Conselho de Ministros nº 135-


A/2021 de 29/9, ao vedar o acesso a determinados locais, como bares e outros
estabelecimentos de bebidas com e sem dança, eventos e celebrações
desportivas, deixando em determinadas condições, muito peculiares diga-se de
passagem, o acesso a eventos de natureza familiar, como casamentos e batizados,
apenas a cidadãos vacinados, colide e viola de uma forma indescritível com o
“Princípio da Igualdade” consagrado no art. 13º da CRP e também o artigo 25º,
que consagra o “Direito à integridade pessoal”, como sendo inviolável, bem como
o “Direito de deslocação e de emigração”, plasmado no seu artigo 44º.

Importa ainda referir, o artigo 26º que nos seus nºs 1 e 2 consagra o direito “a
todos” de proteção legal contra quaisquer formas de descriminação”.

Não menos importante de referir, é a autêntica coação que é feita com esta
Resolução de Conselho de Ministros aos cidadãos portugueses, para que se

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vacinem se pretendem poder frequentar os espaços e locais, que em caso


contrário, lhes estão vedados.

Caindo também por “terra” um dos mais basilares princípios de um Estado de


Direito Democrático, que é um consentimento “livre” na decisão de um cidadão
em se submeter a um ato médico, como o é, a toma de uma vacina, porque
apenas o farão e o fizeram como é já bem sabido, pelas tristes razões apontadas e
muitas vezes até para poderem trabalhar sem sofrer coações e pressões por parte
das entidades patronais, comportamento este que constitui contraordenação
laboral e muito grave (art. 19º .nº 4 do Código do Trabalho).

E nem procede o argumento, que é um caso de saúde pública, esta descriminação


entre cidadãos vacinados e não vacinados, uma vez que já é do conhecimento
geral e noticiado por toda a comunicação social, que os vacinados também
transmitem a doença e são infelizmente, tão capazes de a contrair como os não
vacinados, bem como a validade temporal reduzida, da suposta imunização pela
toma destas vacinas.

CONCLUSÃO: A Resolução do Conselho de Ministros nº 135-A/2021 de 29/9,


publicada no Diário da República nº 190/2021 é também material e
organicamente inconstitucional, revestindo tão só e apenas o valor de uma mera
“recomendação” e por ferir, princípios constitucionais que se inserem nas
liberdades e garantias fundamentais, que nem em Estado de Emergência podem
ser suspensos, e muito menos no “Estado de Alerta” em que nos encontramos
agora, seja lá o que “isso for”, leia-se, o Estado de Alerta, tal como é neste Novo
Normal, apresentado aos portugueses.

Cesar
Assinado de forma
digital por Cesar
Machado
Machado Dados: 2021.09.30
15:55:24 +01'00'

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