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Boa tarde a todos, gostaria de agradecer pela presença de vocês.

Hoje vamos apresentar


algumas das importantes mudanças e inovações trazidas pela Lei 14.112 à Lei 11.101/05.

O meu tempo está um pouco curto e talvez não dê para falar com riqueza de detalhes sobre
a negociação prévia, que foi uma inovação trazida, mas, caso necessário, podemos reservar
outro momento para aprofundamento nesse tema.

Não dá para começar a falar sobre negociação prévia, sem antes falar sobre métodos
alternativos à solução de conflito. Quando falo alternativos, significa: alternativos à
jurisdição.

Como o ser humano é um ser social e, dessa relação, naturalmente surgem conflitos, é
necessário pensar em formas de resolvê-los.

Tradicionalmente, sempre que há um conflito, o judiciário é acionado para solucionar. Aqui no


brasil tudo é judicializado, né?

Contudo, há um termo chamado “sistema multiportas”, inspirado no sistema americano,


caracterizado por não restringir as controvérsias ao judiciários, oferecendo meios alternativos
muitas vezes mais adequados ao tipo de conflito.

Então o judiciário é uma dessas portas a ser batida quando se tem um conflito, mas não é a
única e nem sempre deve ser a primeira porta.

Fazendo um curto relato, a Lei 14.112/20 foi inspirada no sistema francês de prevenção e
antecipação da crise da empresa, surgido em 1985, e na Diretiva Europeia (EU) 2019/1023 que
dispõe sobre os regimes de reestruturação preventiva, que criam um sistema de negociação
preventiva.

Mas também não podemos ignorar que aqui no Brasil já tínhamos alguns estímulos
disciplinados.

A lei de mediação, que é de 2015 e o próprio CPC, que no art. 3º, §3º prevê como norma
fundamental que juízes, defensores, promotores e advogados devem incentivar esses métodos
alternativos à solução de conflito. Apenas fazendo um paralelo à lei 14.112, o art. 22, I,J prevê
que o AJ tem o dever de estimular a mediação e conciliação em processos de RJ. Mas há uma
crítica quanto a isso, que não dá para ser aprofundada agora em razão do tempo.

Já no âmbito empresarial, já haviam estímulos de mediação e conciliação desde 2016:

Com a pandemia principalmente, alguns estados criaram CEJUSCs temáticos (como o Pará) ou
plataformas via e-mail, visando colaborar com a conciliação e mediação (como o TJSP, TJRS e
outros).

a RJ do Grupo Oi foi a maior do Brasil até chegar a Odebrech. Só de credores listados, tem
55.000, mas sem considerar os 800 mil processos judiciais ainda não transitados em julgado.
Mensalmente chegavam em torno de 1.500 habilitações de crédito e o processo.

AJ contratou a FGV para criar uma plataforma online e conseguiu mediar 52.000 acordos, e
sempre quando alguém ajuíza um incidente de impugnação ou habilitação, o processo vai
direto para essa plataforma. Isso economizou 52.000 ações ao judiciário, número bastante
expressivo, além de credores satisfeitos.

O novo pensamento deve ser, portanto, que esse processo funciona, tanto é que funcionou
antes mesmo da lei 14.112 e é o futuro no processo de Recuperação.
Os requisitos para concessão desse benefício (e digo benefício porque há esse prazo de
suspensão de execuções individuais por até 60 dias sem precisar entrar com recuperação
judicial) é estar enquadrado no art. 48 da Lei. Vou falar bem rapidinho esses requisitos:

exercer atividades a mais de 2 anos;

não ser falido (e, se foi, estejam declaradas extintas as responsabilidades daí decorrentes)

não ter há menos de 5 anos obtido concessão de recuperação judicial

não ter sido condenado por crime falimentar


Feito o acordo, apenas um juiz que seria competente para conhecer eventual pedido de RE ou
RJ pode homologá-lo (e se posteriormente houver ajuizamento da ação, a orientação é que
esse mesmo juízo se torne prevento)

Se a empresa devedora mesmo se utilizando do instrumento de negociação prévia tenha


ajuizado pedido de recuperação judicial antes de 360 dias após firmado o acordo, haverá
cancelamento e a dívida originária passa a vigorar, enquanto que são abatidos dessa dívida os
valores eventualmente pagos pela empresa.

Com isso, da mesma forma que a lei pensou em proteger a empresa, concedendo um prazo
de suspensão das execuções por até 60 dias, pensou em proteger o credor, ao abater o prazo
de 60 dias, do prazo de blindagem das execuções.

Também houve mudança no prazo de blindagem. Antes era Improrrogável, mas o STJ
admitia a prorrogação. E hoje a lei admite a prorrogação uma única vez. Como a lei é nova,
ainda não sabemos como será a jurisprudência relação a possibilidade de prorrogação.

E mais, o prazo de suspensão de 60 dias utilizados na fase pré judicial, será abatido do prazo de
blindagem, evitando que seja prejudicado pelo uso sucessivo de um processo de insolvência.
Esses mecanismos visam evitar o pensamento empresarial de empurrar a dívida com a barriga,
na medida que confere segurança ao credor para negociar.

Se vier a ser requerida a recuperação judicial ou extrajudicial em até 360 dias contados do
acordo firmado durante o período da conciliação ou mediação pré-processual, os direitos e
garantias dos credores serão reconstituídos conforme as condições originalmente contratadas,
verificando-se valores e as classes creditícias para todos os efeitos desta Lei no âmbito do
sistema recuperacional. Dessa forma é eliminada a hipótese de o credor ver um crédito já
renegociado em fase de pré-insolvência ser incluído em processo de recuperação judicial, em
que poderia sofrer nova alteração por novação.

Ademais, é vedado que haja conciliação e a mediação sobre a natureza jurídica e classificação
de créditos, bem como sobre critérios de votação em AGC.

Um ponto negativo é que, caso haja pedido de recuperação judicial ou extrajudicial, o prazo de
60 dias será deduzido do prazo de blindagem (180 dias), mas pode haver prorrogação por mais
180 dias, conforme já mencionado.

Dá tempo de falar um pouco sobre as alterações no prazo de blindagem?

Caso dê:

Tentando explicar bem resumidamente, ao juiz receber o pedido de RJ de uma empresa e este
pedido é deferido, o juiz determina suspensão de todas as execuções pelo prazo de 180 dias.

Antes, havia previsão expressa na lei que esse prazo era improrrogável. Porém, o STJ vinha
entendendo que, se a devedora não deu causa à morosidade, era sim possível a prorrogação
do prazo até a AGC.

Com as alterações trazidas pela 14.112, a prorrogação do prazo passou a ser prevista, contudo,
por uma única vez. Por isso que há uma certa fragilidade em relação a deduzir os 60 dias da
negociação prévia dos 180. Com a RJ ou RE a empresa teria apenas 300 dias de blindagem, o
que, sinceramente, acho pouco tempo, considerando a morosidade do judiciário para
convocar uma AGC.

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