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Cuiabá, Segunda-feira, 28 de Junho de 2021
Lançamento
Lenda serve de chamariz
para questões ambientais
‘Ikuiapá: na boca do Pari’ traz à tona personagem lendário
Capa do livro e mapa lúdico da região, desenvolvido por Ruth Albernaz e José Eduardo Moreira da Costa
D
escendo as margens do rio Cuiabá, da
Barra do Pari até Porto Jofre (onde as
águas desembocam no rio Paraguai), o
Minhocão, personagem mais famoso das
lendas cuiabanas, traz um pouco da história, geografia,
cultura e lendas da Baixada Cuiabana no novo livro
“Ikuiapá: na boca do Pari”. O personagem central
deste enredo tem um ousado desafio: acabar com a
poluição do rio Cuiabá. A obra, que tem foco no público
infanto-juvenil, é de autoria dos professores Anna
Maria Ribeiro Costa e Rosemar Eurico Coenga, com
ilustrações do artista plástico João Batista Conrado.
O lançamento será nesta terça-feira, 29, a partir das
18h, no jardim do Sesc Arsenal. O livro estará à venda
por R$ 56,90 no lançamento. A obra também pode
ser adquirida, após o evento, por meio da Entrelinhas
Editora. Nas 64 páginas impressas em policromia, o leitor
é convidado a fazer uma viagem lúdica pela Baixada
Cuiabana. O enredo começa na chácara da família do
autor, Rosemar Eurico Coenga, que na obra encarna
o pequeno menino Branco (seu apelido de infância).
Cuiabano de tchapa e cruz, Branco cresceu ouvindo as
histórias das famosas lendas cuiabanas na casa de sua
Artista plástico João Batista
Conrado, responsável pelas ilustrações
Fotos Ricardo Carracedo
Anna Maria Ribeiro Costa, uma das autoras do livro
avó, localizada na Barra do Pari. Agora traz essas mesmas na obra, como os santos pantaneiros, Márcio Bororo,
lendas (a maioria desconhecida pela maior parte dos a cavalhada de Poconé e outros festejos da região e o
cuiabanos) ao conhecimento do público. “Vivi momentos Quilombo de Mata Cavalo. “Várias pessoas importantes
importantes da minha infância à beira do rio Cuiabá, de Cuiabá e desses municípios são convidadas a
ouvindo histórias do Minhocão do Pari. Pari onde esta encontrar uma saída para salvar o rio Cuiabá. Todos vão
história se passa. Este livro é uma declaração de amor se juntar para salvar o rio e conscientizar as pessoas da
à infância, às brincadeiras vividas em cima da árvore, importância de manter as águas limpas. Dedicamos esse
do tempo de caça de marmelada, pitomba, de banhos livro à nossa querida Dunga Rodrigues, que teve papel
tomados no rio. Era o tempo das enchentes, ora das importantíssimo na compilação das lendas cuiabanas,
secas, dos passeios de charrete, do delicioso quebra- principalmente por conta do livro dela Cuiabá - Roteiro
torto, do entardecer, das histórias apavorantes à luz das lendas, editado pela UFMT em 1985”. “Nossa intenção
da lamparina, do rio outrora brilhante e transparente”, não é que as pessoas parem apenas na leitura, mas
relembra o autor. A editora do livro, Maria Teresa que se conscientizem, porque os cuidados começam
Carrión Carracedo, conta como se deu o encontro dentro de casa, com a separação do lixo, o uso racional
entre os dois amigos que resultou nesta obra repleta de da água e o plantio de árvores, por exemplo. Queremos
criatividade. Um certo dia, Rosemar foi tomar café da que essa consciência comece em casa e se multiplique,
manhã na casa de Anna Maria e ao comentar que o pai porque há inúmeras ações em Cuiabá em prol do meio
estava reconstruindo a casa da infância, à beira do rio ambiente”, expõe. A intenção é, também, que a população
Cuiabá, uma cascata de emoções da infância começou tenha acesso às lendas que hoje já nem fazem mais
a fluir. Com riqueza de detalhes, Rosemar se lembrava parte do imaginário da maior parte dos cuiabanos.
das antigas lendas ouvidas quando criança da boca da “O conhecimento leva as pessoas, crianças, jovens e
avó, do pai e da tia. Encantada com as histórias, Anna adultos, a respeitarem não só o rio, mas também as
não sossegou até convencer Rosemar a escrever a obra. cidades e o Estado onde moram”, finaliza Anna Maria
“Agora, com a ajuda de João Batista, também professor Ribeiro Costa. Publicado pela Entrelinhas Editora, a
e artista, podemos acompanhar o menino Branco em obra conta com mil exemplares e foi financiado pelo
suas andanças, o Minhocão e outros personagens, além Edital de apoio à Literatura da Secretaria Municipal de
de conhecer melhor o rio Cuiabá, que os autores (três Cultura, Esporte e Turismo de Cuiabá em 2018.
professores) querem muito ajudar a preservar. Sabemos
que parte da história é real, parte é inventada. Será? O
importante é deixar a imaginação nos arrebatar”, afirma
Maria Teresa. Anna Maria Ribeiro Costa, que assina a
obra em conjunto, explica que tiveram a ideia de contar
essas histórias para as crianças e jovens, retomando os
seres do folclore mato-grossense, em prol da vida do
rio Cuiabá, hoje tão agredido pela poluição. Além das
lendas, a narrativa traz informações sobre a geografia,
história e cultura das cidades e vilarejos localizados às
margens do rio Cuiabá. A história parte do Pari e passa
por Santo Antônio do Leverger, Barão de Melgaço,
Baía de Chacororé, Baía de Siá Mariana, terra indígena
Baía dos Guató, até chegar a Porto Jofre, onde o rio
Cuiabá joga suas águas no rio Paraguai. Dentro do livro
há até um mapa lúdico da região, desenvolvido por
Ruth Albernaz e José Eduardo Moreira da Costa. O
personagem central da obra é o Minhocão do Pari, que
conduz todo o enredo. Tentando resolver o problema
da poluição dos rios, o lendário personagem se depara
com diversas situações e obstáculos, além de convidar
muitos personagens de Cuiabá para esta luta, como as
cantoras Vera e Zuleika, Vera Capilé, Comadre Creonice
e Comadre Nhara. Durante o trajeto, também convida
diversos seres sobrenaturais das lendas regionais para a
luta de salvar o rio Cuiabá, como Bicho Apá, Bicho d’Água,
Cavalo d’Água, Jacaré Encantado, Neguinhos da Boca
do Guató, Sereia, Jaú de Cabelo, Piraputanga do Ouro,
Mãe do Ouro, Jacomea, Mamaé e Serpente Emplumada. Rosemar Eurico Coenga, que na
Outros elementos culturais também são lembrados obra encarna o pequeno menino Branco