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Conceito de Transportes1.
Autor: Msc. Fabrício Barbosa Freitas2
1
Trecho retirado da dissertação de Mestrado em Planejamento Urbano Regional e Gestão de
Cidade. Universidade Cândido Mendes. 2008.
2
Arquiteto e Urbanista – Universidade Gama Filho. Professor e Coordenador do Curso de
Arquitetura e Urbanismo – Universidade Estácio de Sá. Unidade Praça XI.
Já a palavra modo será empregada aqui para caracterizar de que
maneira o transporte é realizado. As pessoas podem se deslocar pela cidade
de bicicleta, de carro, a pé, montado em animal, de ônibus, trem, bonde,
barcas, helicóptero, etc. Entre esses modos, os mais utilizados são os carros,
ônibus, trem, metrô, bicicleta e a pé; o transporte de cargas é realizado
basicamente por caminhões, camionetes e vans, mas podemos ver
também o deslocamento de cargas ser feito por carretas rebocadas por trator
ou até mesmo carroça puxada por animais. No que diz respeito a classificação
desses modos, eles podem ser motorizados (utilizando fonte de energia
mecânica ou elétrica para o deslocamento) e os não motorizados (que utilizam
esforço realizados pelo homem ou animal).
Quanto à propriedade desses modos de transporte, podemos classificá-
los como privado ou individual (onde o veículo pertence à pessoa que está
dirigindo), público, coletivo ou de massa (utilizado por várias pessoas
simultaneamente e pertencente a uma empresa ou outra pessoa) e semipúblico
(onde o veículo pertence a uma empresa ou indivíduo, sendo utilizado por um
grupo determinado de pessoas, com rotas e horários adaptáveis aos desejos
dos usuários). Para exemplificar o modo privado temos a bicicleta, o andar a
pé, moto e carro; para o modo público, podemos citar os ônibus, bondes, trem
e metrô; e os semipúblicos temos o táxi, mototáxi, lotação (transporte
alternativo), veículo alugado ou fretado.
Vamos nos atentar um pouco mais nos modos de transporte individual a
pé, de bicicleta, de carro e no modo público feito por ônibus, já que serão os
tipos de transporte de mais importância nessa dissertação, e que norteará os
preceitos de uma mobilidade urbana sustentável.
O modo individual de deslocamento a pé é o mais antigo modo de
transporte urbano, sendo também um dos mais importantes e mais utilizados
para percorrer pequenas distâncias, com ou sem a utilização de um modo
complementar. Hoje em dia, grande atenção vem sendo dada ao transporte a
pé na maioria das cidades, sendo implementada vias exclusivas para pedestres
nas regiões comerciais dos centros das cidades, passagens aéreas e
subterrâneas, semáforos para pedestres, alargamento de calçadas, etc. Até
mesmo numa grande cidade como São Paulo, 34% do deslocamento é feito a
pé3, sem contar no percurso a pé para ter acesso aos veículos que a pessoa
vai utilizar.
A bicicleta é, sem dúvida, o veículo mais utilizado pelas pessoas no
mundo, podendo atribuir a utilização desse transporte o seu baixo custo de
aquisição e manutenção, além da facilidade de utilização e estacionamento.
Podemos também citar a vantagem para saúde como uma boa característica
da bicicleta, uma vez que requer um esforço benéfico à maioria das pessoas.
Como principal desvantagem, podemos mencionar a questão da segurança no
trânsito, na sua maioria pela falta de estrutura viária adequada a esse modo de
transporte.
Com a Crise do Petróleo, nos anos 70, a bicicleta foi encarada no Brasil
como um remédio dos transportes urbanos, esse pensamento acabou caindo
por água a baixo nos anos 80 e início dos anos 90. Após 1994, com o
surgimento de um conjunto de políticas criadas por algumas prefeituras
brasileiras, a bicicleta começou a ter uma nova aparição no cenário nacional,
sendo que as mudanças mais radicais só começam com a homologação do
novo Código de Trânsito Brasileiro em 1998, colocando de vez a bicicleta como
veículo protegido no trânsito das cidades.
Em muitos países o incentivo ao uso de bicicleta tem sido cada vez
maior, visto a economia de combustíveis e as questões relacionadas à
poluição; já que não é um meio de transporte poluente e não consome energia
não renovável. Até mesmo em cidades de primeiro mundo como na Alemanha,
Japão e Holanda, o número de bicicletas é superior os número de carros. No
Brasil, o número de bicicletas no ano de 2001 era de 48 milhões 4, colocando o
país como o maior da América do Sul e um dos maiores do mundo em número
desse veículo, sendo que não possuímos mais de 600 km de vias exclusivas
ao uso de bicicleta, refletindo o pouco caso das autoridades em infra-estrutura
cicloviária nos últimos vinte anos. Para se ter uma idéia, apenas a cidade do
Rio de Janeiro possui um órgão específico para o tratamento das demandas
dos ciclistas, sendo também o único município com um orçamento anual
3
VASCONCELOS, Eduardo Alcântara de. A cidade, o transporte e o trânsito. São Paulo:
Prolivros, 2005. Página 43.
4
VASCONCELOS, Eduardo Alcântara de. A cidade, o transporte e o trânsito. São Paulo:
Prolivros, 2005. Página 50.
destinado a implantar novas infra-estruturas e para a realização de
manutenção nos investimentos já realizados.
Com a criação do Ministério das Cidades em 2003 e a criação do
Programa Nacional de Apoio Municipal criado pelos empresários do setor
cicloviário (ABRACICLO), pretende-se que até 2010 a rede cicloviária no país
passe dos atuais 600 km para algo entorno de 3000 km, fazendo com que,
juntamente com a criação de políticas públicas favoráveis como a construção
de bicicletários públicos, a população possa ter mais segurança em trafegar
com um veículo frágil diante de um trânsito bastante violento.
5
VASCONCELOS, Eduardo Alcântara de. A cidade, o transporte e o trânsito. São Paulo:
Prolivros, 2005. Página 47.
nome de omnibus6. Com a Revolução Industrial, o modo de produção artesanal
passa a ser realizado com máquinas e equipamentos especiais, o que faz com
que um grande número de transportes públicos apareça simultaneamente por
toda a Europa.
Durante todo o século XVIII e início do século XIX várias tentativas de
movimentar mecanicamente o omnibus foram feitas. Contudo, somente no ano
de 1890 os primeiros veículos movidos a gasolina começaram a ser utilizados;
a esses veículos foi dado o nome de ônibus7. Em 1920 os primeiros ônibus
movidos a óleo diesel começaram a aparecer, primeiro na Alemanha e depois
na Inglaterra. Daí em diante, e, sobretudo, com a substituição de pneus de
borracha maciça por pneus de câmera de ar, que até então era utilizado
apenas em bicicletas, o ônibus passou a substituir os bondes no transporte
público, tendo em vista o seu custo, sua total flexibilidade nas rotas e pela
maior confiabilidade.
Com as inovações tecnológicas e o passar do tempo, os ônibus ficaram
cada vez mais modernos, chegando a constituir hoje em dia o principal modo
de transporte público urbano empregado no mundo.
Podemos citar como as principais vantagens na utilização dos ônibus e
dos outros meios de transporte públicos: a contribuição na democratização da
mobilidade, já que é, por muitas pessoas, a única forma de locomoção pela
cidade; é o transporte que proporciona a maior segurança e comodidade com o
menos custo; aparece como uma alternativa para a substituição do transporte
individual, reduzindo impactos negativos como congestionamentos; diminui a
necessidade de investimentos em ampliação do sistema viário,
estacionamentos para carros, sistema de controle de tráfego e proporciona
uma ocupação mais humana do solo urbano.
No campo das desvantagens temos a rigidez nos horários de
passagens, o que acaba sendo um problema nos locais de baixa freqüência de
transporte; a necessidade de se caminhar ou utilizar outro meio de transporte
para complementar a viagem; o maior tempo de viagem, devido a menor
velocidade média dos veículos e a necessidade de esperar pelo transporte, em
alguns casos por muito tempo.
6
Verbete que significa “para todos” em latim.
7
Nome dado aos omnibus acionados por propulsão mecânica.
Cada vez mais as maiores cidades do mundo vêm realizando ações com
o intuito de melhorar o transporte público e incentivar a população e não
utilização do automóvel, sendo que o principal objetivo dos governantes e a
principal queixa da população são os fatores que envolvem a qualidade.
Podemos classificar segundo Antônio Clóvis e Isaac Guilhermo (2004),
em doze os fatores que influem na qualidade dos transportes públicos:
Acessibilidade - associada à facilidade de se chegar ao local de
embarque e de sair do local de desembarque e chegar ao destino
final avaliando a distância de caminhada desses locais e a
caracterização da comodidade dos percursos;
Freqüência de atendimento - avaliada com base no intervalo de
tempo entre viagens consecutivas;
Tempo de viagens - que vem a ser o tempo gasto no interior do
veículo e depende basicamente da velocidade média de
transporte e a distância percorrida;
Lotação - diz respeito à quantidade de passageiros no interior do
veículo, podendo ser avaliado com base na taxa de pessoas em
pé por metro quadrado que ocupa o interior do veículo;
Confiabilidade - está relacionada com o grau de certeza dos
usuários de que o veículo passará na origem e chegará ao
destino no horário previsto;
Segurança – diz respeito aos acidentes que envolvem os
veículos públicos bem como os atos de violência que ocorre
dentro dos veículos;
Características dos veículos - pode ser entendida basicamente
como o estado de conservação dos veículos de transporte;
Características dos locais de parada - um bom local de parada
deve possuir sinalização adequada, calçadas com largura
suficiente, cobertura e bancos;
Sistema de informação - disponibilizando os horários e
itinerários das linhas, bem como o número e nome das mesmas;
Conectividade - facilidade de deslocamento dos usuários entre
dois locais quaisquer da cidade;
Comportamento dos operadores - podendo ser avaliado
perante ao nível de habilidade e cuidado dos condutores e
cobradores; e por fim, o estado das vias, a qualidade de
rolamento com o intuito de se evitar freqüentes reduções de
velocidade acaba resultando no nosso último fator de qualidade
nos transportes públicos.
Todos esses fatores na busca da qualidade dos transportes públicos
buscam ajudar na estratégia urbanística de reduzir a quantidade de viagens e
distâncias percorridas, assim como no rearranjo na ocupação e no uso do solo
urbano. Esse rearranjo visa também substituir a mobilidade pela acessibilidade,
ou em outras palavras tornar a mobilidade mais acessível, uma vez que o
desejo da população não é pela viagem, e sim por chegar aos locais onde
desenvolverão alguma atividade.