Você está na página 1de 21

OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

2. MODELAGEM DOS PROCESSOS DE SEPARAÇÃO

2.1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS GERAIS

O atraso no desenvolvimento de modelos de separação, comparativamente com o


estado do conhecimento sobre os processos de cominuição, reside, em larga medida,
nas enormes dificuldades de obtenção das distribuições experimentais de teor dos
produtos a tratar, distribuições essas que, em última análise, obrigam sempre a deter-
minações analíticas partícula-a-partícula, naturalmente, de muito custos (sentido lato)
elevados.
Estas dificuldades analíticas não têm facilitado o acesso aos histogramas de teor da
alimentação, situação que não tem contribuído para aceitar como desafio teórico o
estabelecimento dos modelos do processo como funções de transição.
Indicador claro desta insuficiência é a procura insistente da comunidade científica, ao
longo das últimas décadas, de separações laboratoriais de referência que funcionem
como métodos indirectos de análise. São exemplos destas tentativas, a utilização de:
 separações em Cyclosizer
 contagem de pontos ao microscópio
 separações em Líquidos Densos
 separações em Super-Panner
 separações no Separador Magnético Isodinâmico Frantz
 separações de Flutuação

Em todos estes casos, para evitar a realização das referidas análises químicas par-
tícula-a-partícula, pretende-se efectuar separações de grande precisão de corte para
obter lotes que se enviam para análise química. Desta forma as células dos
histogramas são obtidas por um processo não analítico (no sentido químico do teor),
sobre as quais são obtidos os teores químicos médios para cada classe.

Mais recentemente, nas últimas duas décadas, assistimos ao desenvolvimento dos


métodos de Análise de Imagem nos quais foi depositada uma enorme esperança para
obtenção dos dados necessários ao estudo dos processos de separação. A menos das
dificuldades relacionadas com os problemas estereológicos da extrapolação das
observações em área para os volumes, estes métodos permitem obter e tratar de forma
automática uma enorme quantidade de informação sobre a composição de lotes de
partículas em observação.

De qualquer modo, enquanto se está a discutir apenas o acesso a dados sobre a


composição das partículas, para depois as classificar e histogramas, ou directamente
sobre a composição de classes determinadas previamente por um outro qualquer
processo, estaremos sempre a perseguir um ponto de vista estático. Ou seja,

- 56 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

enquanto nos situarmos apenas no domínio analítico, cada histograma determinado


representa apenas o lote em questão e nas circunstâncias em que se encontra.
Com base exclusiva nesse ponto de vista estático, a informação bruta obtida jamais
permitirá fazer qualquer tipo de inferência acerca das propriedades de um lote que
venha a resultar de uma qualquer operação de separação sobre ele efectuada. Para se
atingir esse desiderato será necessário optar claramente por um ponto de vista
dinâmico (no sentido em que temos vindo a utilizar este termo) que permita descrever
satisfatoriamente o comportamento do sistema de partículas em termos de evolução
do teor das partículas com a diminuição do calibre durante os processos de
cominuição, isto é, existe uma necessidade imperiosa de adoptar um modelo de
evolução do estado de libertação das partículas durante a fragmentação.

2.2 LIBERTAÇÃO COMO ESTADO DINÂMICO, OU


COMINUIÇÃO COMO PROCESSO GERADOR DE LIBERTAÇÃO

O conceito de libertação como estado dinâmico, que resulta da noção de cominuição


como processo de produção de novos atributos nas partículas, em particular calibre e
teor e, portanto, geradora de libertação, em vez de um simples processo de redução de
calibre ou aumento da superfície específica, é adequadamente descrito pela
formulação do processo de fragmentação na forma bivariante, na qual a função des-
truição, K(x,y) das partículas progenitoras e a função formação de calibre e teor,
B(x,y|x*,y*), das partículas-filhas produzidas por cominuição a partir das anteriores,
passam a ter uma dependência simultânea no calibre e no teor, ou seja:

px, y  f x, y  f x, y  K x, y  f
x *, y *
x *, y *  K x*, y *  Bx , y | x*, y *

Segundo este ponto de vista, uma vez conseguida uma caracterização das
distribuições de propriedade calibre e teor (fx,y)em um estádio precoce da evolução do
processo de cominuição, porventura ao nível da descrição textural do minério a um
dado calibre de trabalho, ou mesmo sobre espécimes não fragmentados, se for
possível parametrar e calibrar devidamente essas duas funções cinéticas, então estará
garantido o acesso às distribuições conjuntas de calibre e teor em qualquer estádio da
evolução do processo de fragmentação.

Até este momento o único esforço realizado relativamente à formulação da


cominuição como processo de simples redução de calibre, consistiu na generalização
envolvida pela passagem à formulação bivariante.
Contudo, o simples facto de todo o edifício conceptual ter sido construído partindo de
princípios e conceitos gerais, vai permitir dar uma importante série de passos evoluti-
vos, que outros autores, que chegaram à mesma equação cinética anterior por via
empírica, não conseguiram dar. Atentemos, então, nesses passos.

A própria definição de distribuição conjunta permite decompor a função formação


de calibre e teor, B, no produto da formação marginal de calibre, A, pela formação
do teor condicionado ao calibre da partícula-filha, C, ou seja:

- 57 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Bx, y|x*, y*  C y|x, x*,y*  Ax!x*, y*

Entretanto, um passo altamente significativo pode desde já ser dado: uma vez que a
cominuição é um processo markoviano de primeira ordem, o conhecimento do calibre
de uma partícula-filha torna o calibre da progenitora irrelevante, de modo que a
função formação de teores condicionados ao conhecimento prévio do calibre atingido
pelas partículas após cominuição, depende apenas do teor da progenitora, isto é:

C y!x, x*,y*  C y| x , y*

Chegados a este momento, para avançar no sentido de obter os respectivos modelos


informáticos que permitem simular os processos em que estamos interessados, há que
obter a necessária condensação de parâmetros para as novas funções cinéticas e
encontrar uma via para a sua determinação experimental, o que, por si só, não deixa
de ser um problema de complexidade notável, haja em vista a dependência conjunta
das várias funções cinéticas nas variáveis calibre e teor. No momento actual, porém,
em um caso muito particular de cominuição, é ainda possível avançar um pouco mais
no sentido das simplificações que vínhamos fazendo, assunto que trataremos no
próximo capítulo.

LEI BETA DE EULER


MODELO DE LIBERTAÇÃO POR COMINUIÇÃO ALEATÓRIA

A fragmentação diz-se aleatória, não-discriminatória ou transgranular, quando não


existe qualquer relação entre o mecanismo de fractura e as propriedades dos grãos da
textura original da rocha, isto é, o conjunto de fracturas que se instalam nas partículas
no decorrer do processo de cominuição é absolutamente ao acaso, não dependendo
das propriedades dos grãos e, portanto, não privilegiando qualquer grão ou fronteira,
ocorrendo essas fracturas um pouco através de todos os grãos presentes na matriz (daí
o nome de transgranular).
Embora tendo consciência de que nenhum processo industrial de fragmentação se
aproxima minimamente deste conceito idealizado, este vai ser um excelente ponto de
partida para arranque da discussão do problema da libertação numa base conceptual
genérica. Por outro lado convém lembrar que entre os processos de fragmentação
natural altamente discriminatória, do tipo da cominuição química operada durante os
processos geológicos de meteoração e erosão – que até podem contribuir para a
formação de jazigos – e os processo de cominuição mecânica de energia intensiva,
como os operados em moinhos de barras e bolas sob baixos tempos de residência, em
que a elevada potência do mecanismo de instalação de fracturas não respeita qualquer
fronteira de grãos ou outras suas propriedades, pode existir toda uma série de
processos mais ou menos discriminatórios.

No pressuposto da aceitação do caso particular de a fragmentação ser não-discrimina-


tória, ocorre um outro importante conjunto de simplificações de elevado significado.
Com efeito, é de imediato reconhecimento que, no caso de a cominuição ser aleatória,
ambas as funções destruição e formação de calibre deverão ser independentes do
teor da partícula progenitora, o que conduz a:

- 58 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

K x, y  K x e Ax!x*, y*  Ax!x*

Esta constatação permite descrever a cominuição como processo de produção de


partículas libertas, no caso não-discriminatório, separadamente em:
 por um lado, a formulação tradicional de cominuição como simples fenó-
meno de redução de calibre, suportada pelas convenientes função destrui-
ção de calibre, K, e função formação de calibre, A;
 e, por outro, o conhecimento da distribuição de teor C dentro de cada
classe granulométrica gerada por cominuição, isto é, a função formação
de teor;
a qual, ao permitir reescrever a equação instantânea da cominuição batch na forma
teor calibre (agora as funções descritas nas equações anteriores estão representadas
como funções contínuas das variáveis calibre e teor, x e y), vai conduzir ao passo
seguinte da análise de libertação no caso concreto em estudo:

d f x, y  1 
  K x   f x, y     K xi   C  y | x, yi   Ax | xi   f xi , yi   dxi  dyi
dt 0 x

Convém, antes de mais, relembrar que a teoria da cominuição como processo de


redução de calibre, já estudada anteriormente, é um campo de investigação muito bem
trabalhado, quer do ponto de vista da condensação de parâmetros, quer das técnicas
de ajuste para determinação experimental desses parâmetros com vista à determinação
de K(x) e de A(x|xi). A condensação de parâmetros das funções Destruição, K(x), e
Formação de Calibres, A(x|xi), foi já devidamente trabalhada em capítulos anteriores.

Contudo, a procura de formas analíticas adequadas para C(y|x,yi) e que permitam a


sua condensação tem sido, ao longo dos últimos anos, o ponto central do trabalho de
muitas equipas de investigação.

Uma primeira contribuição realmente inovadora nesta área foi dada pela linha de
acção de Tratamento de Minérios desta Escola do Porto, ao mostrar que a aplicação
do argumento da Lei Limite de Probabilidade permite invocar para esta função
formação de teor a forma de uma LEI BETA DE EULER. Na realidade, a formação
de partículas por cominuição é um processo aleatório complexo derivado de uma mul-
tidão de fenómenos microscopicamente diferentes e de factores imprevisíveis, que su-
gerem que a presença de um mecanismo de propagação de erro origina produtos ma-
croscopicamente diferentes. Assume-se, assim, o facto de que nenhum factor particu-
lar, ou pequeno grupo de factores, controla fundamentalmente o processo de
cominuição, o que é consistente com o argumento de não-discriminação adoptado.
Consequentemente, a multiplicidade de todos os factores no seu conjunto, que ori-
ginam as distribuições de calibre e de teor como efeitos observáveis, e considerando a
nossa substancial ignorância da sua natureza específica e dos pormenores dos seus
efeitos, parece adequado invocar o teorema da distribuição limite para aceitar para
a função formação de teor condicionada ao calibre, em estudo, a forma de uma dis-
tribuição BETA:

C y | x, yi   Q pq  y p1  1  y 
q 1

- 59 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

em que Qpq é uma constante e p e q parâmetros que controlam a forma da Lei Beta e
que deverão ser função do teor das partículas progenitoras, yi, e, obviamente, também
do calibre das partículas-filhas, x, de modo a descrever a desejada dependência da
forma da função com o calibre das partículas após cominuição:

p  f1  yi , x  e q  f 2  yi , x 

Função Beta de Euler

Investiguemos agora como varia a forma da Lei Beta com os valores dos seus
parâmetros p e q, ou seja, com a variação do calibre das partículas-filhas, nunca
perdendo de vista que a função Beta é um descritor estatístico das propriedades da
população em geral que se torna irrelevante para as partículas individualmente,
testando a sua adequação para a condensação de parâmetros da função cinética
C(y|x,yi).

Este estudo vai ser conduzido construindo o diagrama (p,q) com quatro regiões,
respectivamente, p,q >1, p <1 e q >1, p >1 e q <1 e p,q <1, representado na figura
seguinte, nas quais a função Beta assume as quatro formas típicas conhecidas. Uma
vez que o comportamento da função, enquanto funcional do teor y, depende dos
valores de p e q, as suas variações de forma, desde a situação de nem haver minério
útil nem ganga liberta até ao caso de ambos estarem libertos, passando pelas situações
intermédias de ou só ganga ou só minério útil liberto, confirmam as conjecturas
iniciais de que esses comportamentos dependem do teor das partículas progenitoras,
yi, e do calibre das partículas-filhas, x.

Diagrama (p,q)

- 60 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Ainda nesta linha de raciocínio, constata-se que na região p,q>1 em que há ganga e
minério por libertar, a maior parte dos teores se acumulam em volta do teor médio, y ,
da curva que é dado por:
p
y
pq

e que esse acumular é tanto maior quanto maior for o valor de (p+q), facto que por si
permite olhar para (p+q) como uma medida do calibre x, das partículas.
A análise do diagrama permite ainda identificar a existência de dois calibres
notáveis, inícios da libertação da espécie mineral útil e da ganga, que correspondem
às barreiras q=1 e p=1, respectivamente:

xm : q  f 2  xm , yi   1 e x g : p  f1 x g , yi   1

Lei Beta de Euler como modelo de condensação


dos parâmetros da Formação de Teores
no caso da fragmentação não-discriminatória

Decorre, directamente da aceitação da fragmentação como processo não-discrimina-


tório, que os lotes de partículas resultantes de fragmentações sucessivas a partir de um
lote inicial de calibre graúdo e teor y* (eventualmente, no limite, uma única partícula
correspondente ao jazigo inteiro!) têm todos o mesmo teor médio e igual ao teor
médio do lote inicial. Com efeito, uma fragmentação aleatória, por definição, não be-
neficia qualquer tipo de concentração preferencial das espécies úteis em determinados
lotes de calibre. Assim, para o caso da fragmentação não-discriminatória, o teor
médio, y , da fracção de calibre x descrita por C(y|x,yi) deverá ser independente do
calibre x e igual ao teor médio y* do minério:
p
y  y*
pq

de onde se conclui que, no caso da fragmentação aleatória, as linhas de igual teor no


diagrama (p,q) são rectas que passam pela origem:
1 y
q  p
y

de tal modo que a linha a 45º corresponde a um minério bifásico de teor médio 50%,
sendo os minérios pobres, de teor médio < 50%, representados pelo feixe de rectas
posicionado no semi-quadrante superior.

- 61 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Linhas de igual teor para diferentes teores médios g*

Chegados a este ponto, é desde já claro que o modelo responde a comportamentos


reais conhecidos: para y* < 50%, como é o caso dos minérios metálicos, quando a
ganga inicia a sua libertação (p=1) ainda não há partículas com teor máximo, isto é,
ainda não se iniciou a libertação da espécie útil, o que é uma interpretação clara da
velha constatação de Gaudin (1939) de que em cominuição aleatória o constituinte
mais abundante inicia a sua libertação a calibre maior que o constituinte menos abun-
dante.

Por outro lado, dado que a variância é uma medida da dispersão do teor das partículas
em volta do teor médio, ela pode ser usada para avaliação global do estado de liberta-
ção de um dado sistema particulado (a variância é mínima no caso da partícula igual
ao jazigo inteiro por fragmentar e máxima para um lote completamente liberto).
Neste pressuposto, partindo do valor da variância do teor y de uma partícula-filha de
calibre x, proveniente de uma progenitora de teor y*, dado pela variância da distri-
buição Beta em função de p e q,
pq
 2 y| x , y* 
 p  q    p  q  1
2

em última análise, o estado de libertação dependerá do calibre x na medida em que for


possível exprimir p e q como funções de x.
Se em vez de se tomar a variância, tomarmos o quociente, , entre a variância
do teor no lote de calibre x e a variância máxima que, como vimos, ocorre a um
calibre em que a distribuição de teores é representada por duas funções de Dirac
centradas, respectivamente em y=0 e y=1, para medida do estado de libertação,
obteremos a seguinte expressão:

- 62 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

q
1     p
2

2
o que mostra que no diagrama (p,q) as linhas de igual variância são rectas paralelas
de declive -1. Como, entretanto,  é uma medida do estado de libertação do lote de
calibre x, por sua vez função de (p+q), conclui-se, igualmente, que as linhas de igual
variância são linhas de igual calibre no diagrama (p,q), de modo que:
p  q   x 
o que conduz à equação das linhas de igual calibre no diagrama (p,q):
q   x   p

Linhas de igual calibre (unidade = calibre in situ da textura)

Graduação do Diagrama (p,q) - Lei Topológica

Uma vez chegados à forma das linhas de iso-calibre, coloca-se a questão da sua gra-
duação, isto é, da calibração do próprio diagrama (p,q) em termos do calibre, x, das
partículas, o qual é a variável condicionante de C(y|x,y*).
O estabelecimento da forma analítica precisa para (x) é um problema complexo e
sobre o qual, virtualmente não existem trabalhos experimentais, dadas as enormes
dificuldades práticas inerentes bem como a real impossibilidade de obtenção de frag-
mentações aleatórias. Cavalheiro foi bem sucedido na tentativa da solução deste
problema usando uma técnica de Monte-Carlo que incluiu os seguintes passos:
 geração, em computador, de uma textura tridimensional representativa de
um minério sintético sob diferentes teores, do tipo poliedros de Voronoi
que reproduz razoavelmente bem texturas granitóides;
 simulação de um processo de cominuição não-discriminatória através de
uma amostragem que consiste na retirada sucessiva de cubos de vários cali-
bres, cujos centros são posicionados ao acaso em todo o volume da textura;

- 63 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

 exame de cada um dos cubos para determinação dos teores volúmico e su-
perficial em cada uma das espécies minerais simuladas presentes no grão
(este trabalho analítico, partícula-a-partícula só foi possível devido à exis-
tência de um minério digitalizado);
 com os dados analíticos foram construídos experimentalmente os histogra-
mas de teores para cada classe de calibre, C(y|x,y*), aos quais foi ajustada a
lei Beta para determinação de p e q para cada classe de calibre analisada.
Os resultados confirmaram largamente a validade da conjectura da lei
limite de probabilidade, não apenas para os teores volúmicos, mas também
para os teores planares obtidos em cortes serrados das texturas e para os
teores superficiais;
 gráficos dos valores ajustados de (p+q)=(x) com o calibre x foram exa-
minados em ordem a encontrar uma função que plausivelmente
aproximasse (x). Para os casos estudados das texturas de Poisson-Voronoi
em fragmentação não-discriminatória, Cavalheiro encontrou a seguinte lei
que apelidou de LEI TOPOLÓGICA:
 x   K  x  expK  x 
 cálculos empíricos de K, efectuados sobre grande número de texturas anali-
sadas mostrou a sua variação com o calibre do grão da própria textura,
como seria de esperar. Por força da conformidade dimensional, o produto
K.x deverá ser adimensional, pelo que Cavalheiro prefere usar
C
K
z
em que z representa o calibre médio do grão "in situ" da textura e C é uma
constante que depende apenas do tipo da textura o que autorizou esse autor
a sugerir para ela a designação de constante topológica.

Com base neste modelo, que permitiu levar a bom termo o processo de concentração
de parâmetros para a Função Formação de Teores para o caso da cominuição
aleatória, é possível construir um algoritmo que vai ser utilizado daqui a pouco para
gerar lotes de partículas fragmentadas (de modo não-discriminatório, a partir de
texturas do tipo granitóide) para serem sujeitas a um processo de flutuação.

A Lei Topológica, enquanto conjectura para condensação dos parâmetros cinéticos,


actua ao nível do cinturão e, no estado actual dos conceitos apenas é aplicável e está
"experimentalmente" testada para o caso da fragmentação não-discriminatória e para
texturas granitóides.
Será, pois, sobre novas metodologias para condensação de parâmetros que se deverão
desenvolver esforços no sentido de procurar as soluções da libertação de texturas mais
complexas e sobre efeitos discriminatórios da cominuição. A experiência resultante da
aplicação do modelo a dados industriais, nomeadamente aos da nova Lavaria do Pro-
jecto de Produção de Concentrados de Pirites Alentejanas (Aljustrel), evidenciou já,
por exemplo, que as fragmentações discriminatórias são razoavelmente aproximadas
por deslizamentos do calibre da textura, z, ao longo da escala granulométrica, para o
qual, contudo, é necessário procurar as adequadas conjecturas, sem, contudo, se
invalidar a Lei Beta que, como descritor global do fenómeno, mantém a sua validade
para além do caso da fragmentação discriminatória. Um outro modo de ver o
problema da fragmentação discriminatória, enquanto fenómeno que faz depender o
teor médio de cada classe de calibre do próprio calibre, será procurar uma forma dife-
rente da rectilínea para as linhas de iso-teor do diagrama (p,q).

- 64 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Em termos de metodologia sistémica, mais uma vez estamos perante um caso


exemplar que demonstrar as virtudes do método tecnológico: sobre uma visão cientí-
fica e redutora (decomponibilidade e análise) operada sobre a complexa função
formação de teor e calibre do modelo de cominuição bivariável, o modelo de liberta-
ção proposto efectua, no caso particular da fragmentação aleatória, uma síntese re-
construtiva interpretadora das relações entre os vários fenómenos em jogo, à custa
duma meta-linguagem expressa pelos parâmetros intervenientes na Lei Topológica.

Ajustes da Lei Topológica aos dados da


Mineralogia Quantitativa

Tendo em vista testar o modelo a dados experimentais, recentemente, a propósito de


um trabalho de mestrado que se encontra em fase terminal, foram realizados vários
ensaios de moagem do minério cuprífero de Neves-Corvo para ajuste da Lei
Topológica e cálculo previsional do estado de libertação de dois lotes de minério
moídos a calibres diferentes, tendo cada um, respectivamente, K80=40 micra e K80=50
micra.
Numa primeira fase foram efectuadas análises mineralógicas e texturais sobre
superfícies polidas de amostras não fragmentadas para avaliação directa do calibre
médio do grão na textura. Após moagem, os produtos foram sujeitos a uma separação
granulométrica em Cyclosizer (6 classes de calibre), sendo posteriormente cada classe
submetida a análise mineralógica (sobre montagem dos grãos em resina) com
microscópio óptico e contador de pontos para determinação dos histogramas de teor
(6 classes de teor) por cada uma dessas classes de calibre.

Após ajuste da Lei Topológica, com determinação da constante, C, e do calibre médio


da textura, z, os resultados da Lei Beta conduziram às seguintes previsões:

- 65 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Grade Histograms of the Cyclosizer Products


Experimental Values
7 0
6 0
% Particles

5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
7 6 4 6 2 6 1 9 1 3 9

Average Size (micra)

O t h e r C p y ( 1 0 - C p y ( 3 5 - C p y ( 6 0 - C p y
3 5 %) 6 0 %) 9 0 %) ( > 9 0 %)

Grade Histograms Conditional on Size


Beta Law Predictions
7 0
6 0
% Particles

5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
7 4 4 6 2 6 1 9 1 3 9

Average Size (micra)

O t h e r C p y ( 1 0 - C p y ( 3 5 - C p y ( 6 0 - C p y
3 5 %) 6 0 %) 9 0 %) ( > 9 0 %)

- 66 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

3. MODELAGEM DOS PROCESSOS DE SEPARAÇÃO POR


FLUTUAÇÃO

CINÉTICA DA FLUTUAÇÃO, CONSTRUÍDA À LUZ DA POSSIBILIDADE DE


PREVISÃO DO ESTADO DE LIBERTAÇÃO.
O MODELO FENOMENOLÓGICO

Mercê da sua grande importância tecnológica em concentração de minérios, a flu-


tuação por espumas tem sido fortemente estudada em termos de cinética separativa.
Na óptica da maior parte dos autores, de que se destaca o nome de Garcia-Zuniga
(1935) como pioneiro, a cinética de flutuação, enquanto estudo da variação temporal
das propriedades da espuma que transborda de uma célula de flutuação e identificação
quantitativa de todas as funções de transferência, é adequadamente descrita como um
processo de primeira ordem ("rate process").
Para além dos modelos cinéticos, a que no curso se dedica principal atenção, Lynch
define 3 categorias de modelos:

 empíricos, obtidos por correlações estatísticas entre variáveis dependentes e


independentes, aplicáveis a secções inteiras de lavarias de flutuação;
 probabilísticos, em que a recuperação na espuma é relacionada com a pro-
babilidade de sucesso de uma sequência de acontecimentos, como a colisão
da partícula com uma bolha, a adesão após colisão, a levitação e a drena-
gem;
 cinéticos, descritos na base de um processo de primeira ordem:

dm
 K m
dt

ou, dividindo a massa m de material flutuável pela massa de material sólido


total dentro da célula, de modo a obter a concentração média, C, de material
flutuável:
  K  C que, por integração conduz a C  C 0  exp K  t 
dC
dt

Assim, a recuperação, , passa a ter a formulação exponencial:

  (C 0  C) C 0  1  exp  K  t 

sendo Co a concentração média inicial da polpa.

Este modelo cinético, parecia, contudo, não ajustar convenientemente a realidade


experimental conhecida uma vez que esses dados normalmente não concordam com
uma exponencial simples. Em vez de procurar uma ordem diferente da primeira que
melhor ajustasse os dados (nomeadamente, a ordem zero - flutuação inibida - ou
ordens fraccionárias de difícil interpretação física em flutuação), a solução, preconiza-

- 67 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

da por vários autores, consiste em aceitar uma combinação linear de cinéticas de pri-
meira ordem de constantes cinéticas diferentes.

Cinética da Flutuação como combinatória de cinéticas de 1ª ordem

O ponto de vista que suporta esta conjectura pressupõe que o fenómeno de Flutuação
por espuma segue, generalizadamente, uma cinética de 1ª ordem, segundo a qual a
velocidade de processamento (dm/dt) é proporcional à massa m em processamento
levantada à potência unitária, e que os desvios a esse comportamento
experimentalmente observados não resultam do desrespeito da essência dessa
conjectura, mas de que não existe uma única constante K capaz de representar a
globalidade do fenómeno, mas que existirá uma dispersão de valores dessa constante
cinética consoante o número de diferentes “famílias” de partículas com diferentes
comportamentos face ao fenómeno. Assim, a anterior equação diferencial assume a
forma:

d mi
  K i  mi cuja forma integrada é mi  mi 0  exp K i  t  , com
dt

 Ki – constante cinética que caracteriza a “família” i;


 mi – massa de partículas na “família” i no instante t ainda dentro da célula;
 mi0 – massa de partículas na “família” i no instante inicial, com  mi 0  m0 .
i

Por esta formulação, a recuperação, , ao fim do tempo t de flutuação é dada por:

mio  mi m  mi 0  exp K i  t 
  i 0  1  exp K i  t  
m
    i0
i m0 i m0 i m0

  1  exp K i  t   Fi
i

mi 0
sendo Fi  a percentagem (distribuição) inicial de partículas da “família” i..
mi

- 68 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Pertencem a esta classe os modelos tradicionais correntemente mais referidos na


literatura, "Fast & Slow", "Rectangular Distribution", etc, que autores como
Dowling, 1985, e Ek, 1991, referem de modo muito sistematizado em artigos
posteriores.

No modelo "Fast & Slow", concebe-se apenas a existência de “2 famílias”, uma de


flutuação fácil, portanto de velocidade de flutuação KF elevada (partículas libertas e
bem colectadas) e outra lenta (mistos) de velocidade KS, a aquelas representando FF %
da alimentação e estas FS %:

  1  exp K F  t   FF  1  exp K S  t   FS

Notar que se admitirmos apenas a existências dessas duas “famílias”, naturalmente


FS=1-FF. Mas se os resultados experimentais evidenciarem que pode ser definida
uma Recuperação Limite (Ultimate Recovery, tendência para uma assímptota abaixo
de 100% na recuperação), que representaremos por R∞, então nesse caso, a expressão
anterior poderá assumir a forma tradicional do modelo "Fast & Slow", com
Recuperação Limite:

  1  exp K F  t   FF  1  exp K S  t   R  FF 

Quando se adopta o modelo "Rectangular Distribution", aceita-se que há uma


infinidade de famílias que possuem todas as possíveis velocidades de flutuação, desde
zero até um valor máximo (Kmax), mas que nenhuma delas é mais abundante que as
outras, ou seja, adopta-se uma distribuição rectangular de velocidades. Neste caso,
porque temos uma distribuição contínua da constante cinética, o cálculo da recupera-
ção exige a resolução de um integral definido (e não um simples somatório):

1  exp K  t  f (k )  dk  1  1
 1  exp K max  t 
K max

0 K max  t

A grande questão que se coloca a estas abordagens é o facto de se ajustarem aos dados
através de parâmetros empíricos, que embora possuam um significado físico claro, a
sua relação com as propriedades reais da massa de material ensaiado jamais poderá
ser determinada.
Concretamente, por exemplo, num modelo "Fast & Slow" determinam-se experimen-
talmente as velocidades cinéticas de flutuação de duas classes de partículas, uma
rápida e outra lenta, bem como a sua frequência relativa no lote inicial. Contudo, não
será possível associar essas classes a qualquer fracção concreta de partículas do lote.
Quando muito, poderemos imaginar que as rápidas corresponderão predominantemen-
te a partículas libertas, mas, por exemplo, nada se poderá afirmar sobre se são graúdas
ou finas.

- 69 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Modelo Fenomenológico de Flutuação por Espumas


baseado em análise de libertação

A alternativa aos modelos anteriores só poderá surgir se à partida estiver garantido o


conhecimento das distribuições das propriedades mais relevantes para o processo de
flutuação, em particular o calibre e o teor. Ora, de acordo com o que temos vindo a
expor, o acesso a esse conhecimento só poderá surgir da existência de um modelo de
libertação que permita prever essas necessárias distribuições sobre lotes fragmentados
a diferentes calibres.
Uma vez na posse de tal modelo, passará a haver acesso às distribuições conjuntas de
massa, mi,j(t), de partículas de cada classe de calibre i e de teor j. Nessa altura, a
combinação linear de cinéticas de primeira ordem será obtida por:

d mi , j
  K i , j  mi , j t 
dt

que, após integração no tempo e somatório para todas as classes fenomenológicas,


conduz à previsão de material ainda retido na célula ao fim do tempo de residência t:

mt    exp K i , j  t   mi , j 0 
i j

Para o cálculo das velocidades de flutuação de cada classe fenomenológica, Kij.


podem agora ser propostas conjecturas para as relacionar com os valores previamente
conhecidos do calibre e do teor da partículas pertencentes a essa classe.
Sem querer penetrar profundamente no problema da modelagem da flutuação, poderá
aceitar-se como ponto de partida para a condensação de parâmetros a existência de
dois mecanismos decisivos no processo:
 probabilidade de colisão, Pci entre partículas e bolhas, normalmente função
dos calibres da bolha e da partícula;
 probabilidade de adesão, Pai após colisão, dependente da flutuabilidade da
partícula e, em última análise, do seu teor e da actividade do colector;

Assim, a velocidade de flutuação será, para cada classe de partículas de calibre xi e


teor yj, dada por:
K i , j  Pci xi ,bolha   Pa j  y j ,  colector 
em que bolha e colector são dois parâmetros a ajustar, o primeiro relacionável com o
diâmetro das bolhas e o segundo com a selectividade do colector.

Finalmente, podem ser introduzidos dois efeitos, um de escalamento da cinética para


permitir velocidades cinéticas maiores que a unidade, e um efeito de arrastamento
indiscriminado, para justificar a drenagem incompleta das partículas que foram
arrastadas para as espumas. Porque se trata de fenómenos indiscriminados, os
parâmetros que os condensam são independentes do calibre e do teor. O primeiro, Kf,
surge como parâmetro multiplicador e o segundo, Kd, como parâmetro aditivo:
K i , j  Pci xi ,bolha   Pa j y j ,  colector   K f  K d

- 70 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

ARTICULAÇÃO DO MODELO DE LIBERTAÇÃO


COM O MODELO DE FLUTUAÇÃO POR ESPUMAS

Chegado a este momento, em que a constante cinética de cada classe fenomenológica


está definida como função directa dos valores médios dos seus calibre e teor, a
articulação do modelo de libertação com um modelo de flutuação por espumas é
conseguida, de imediato, pela aplicação do algoritmo de libertação (enquanto
previsor da distribuição conjunta de calibre e teor de uma massa de partículas que
sofreu um dado processo de cominuição) para o cálculo dos valores de mij(0) o que,
por sua vez, vai permitir a integração do anterior sistema de equações diferenciais que
exprimem matematicamente o modelo de flutuação desenvolvido, depois de
conhecidos todos os parâmetros cinéticos.

Simulação numérica com os modelos


de Libertação e Flutuação

Uma vez definidas as classes de calibre li, de calibre médio lmi, e de teor gj, de teor
médio gmj, e caracterizado o minério pelo seu teor médio, g* e a sua textura (de tipo
granitóide, único caso para o qual o modelo de libertação está validado) pelo calibre
de grão "in situ", z, o operador pode dar a composição granulométrica que pretende
ensaiar, as características do colector (segundo uma escala para cálculo de colector) e o
calibre da bolha (para ajustar as probabilidades de colisão segundo bolha).
Alternativamente, no caso do modelo estar integrado num algoritmo de cominuição
calibreteor, o operador, em vez de fornecer a composição granulométrica da
alimentação a flutuar, deverá indicar os valores dos parâmetros que condensam as
funções cinéticas Destruição, Kt(x), e Formação de Calibres, At(x|xi) da
fragmentação desse minério.

Na posse dos dados e dos "input" referidos, o algoritmo de libertação-flutuação pode


ser resumido da seguinte forma:

1. Conhecimento prévio dos seguintes dados sobre o minério:


 vector composição granulométrica, s(lmi), (medido experimentalmente, pre-
visto por simulação ou simplesmente calculado durante a integração
numérica da equação diferencial da moagem batch nas classes de calibre e
teor de todos os progenitores);
 teor médio do minério, g*;
 calibre médio do grão da textura original, z;
2. Calcula-se o calibre médio de cada classe de calibre, lmi e efectua-se o quoci-
ente, (lmi/z), entre esse calibre e o calibre do grão da textura;
3. Para cada calibre médio, lmi, da família de calibres, calcula-se pela Lei Topoló-
gica o valor de (lmi/z), que, como vimos, é a ordenada na origem da linha de
iso-calibre (q=(x)-p) correspondente ao lote granulométrico respectivo (não
esquecer que este calibre é a variável condicionante da distribuição de teores
condicional que queremos calcular !);
4. Pela intersecção da recta de iso-teor (cujo declive é função exclusiva do teor
médio do minério, g*) com a de iso-calibre (de declive -1 e de ordenada na

- 71 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

origem, (lmi/z), calculada na alínea anterior) obtêm-se os valores dos


parâmetros p e q.

Algoritmo para geração de lotes de partículas fragmentadas

5. Com a Lei Beta devidamente parametrada por p e q, a sua integração nos inter-
valos de teor em que se decidiu dividir o espaço dos teores, gj, de teor médio
gmj, conduz à determinação do respectivo histograma de teores condicionado
ao calibre:
cg mj l mi    C pq  y p 1  1  y 
g mj 1 q 1
 dy
g mj

6. A ponderação de cada histograma de teores condicionado ao calibre pelo


respectivo vector composição granulométrica, s(lmi) gera a previsão do
histograma conjunto de teor e calibre procurado:
f g mj , l mi   cg mj l mi   sl mi 

Histograma conjunto de calibre e teor

- 72 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

7. Calculando-se, finalmente, o histograma marginal de teores, g(gmj), por inte-


gração do histograma conjunto para todas as classes granulométricas:
g g mj    f g mj , l mi 
mi
expressão que, como vimos, descreve o estado de libertação do lote de par-
tículas em dado momento do processo de cominuição;

8. A partir do histograma conjunto de calibre e teor, f(gmj,lmi) = mij(0), e com


base nos valores dos parâmetros cinéticos da flutuação, colector, bolha, Kf e Kd,
dados como input, com os quais se calculam as probabilidades de colisão e
adesão segundo um qualquer critério de condensação, como, por exemplo o
seguinte:
Pci  função bolha , l mi  exp bolha / l mi   
 função , g mj   colector  g mj
colector
Pa j colector

inicia-se a integração do sistema de equações diferenciais:


mt    exp K i , j  t   mi , j 0 
i j

cuja solução permite calcular a recuperação acumulada do processo, bem


como os respectivos teores acumulados, ao longo do tempo.

Seguidamente apresentam-se os resultados de alguns ensaios de manipulação deste al-


goritmo de simulação para uma série de experimentações numéricas.

O primeiro conjunto de ensaios foi realizado na hipótese de flutuar quatro tomas de


um mesmo minério com um teor médio conhecido (e textura granitóide) correspon-
dentes a 4 graus de moagem. Por questões de comodidade, refere-se cada uma das dis-
tribuições granulométricas pela razão entre o seu calibre máximo e o calibre médio, z,
do grão na textura (o dobro, igual, metade e um décimo).
Admite-se, também, trabalhar com a mesma configuração experimental (pH, tipo e
consumo de colector, nível de polpa, injecção de ar, etc), o que equivale a dizer que se
usaram os mesmos parâmetros para gerar as funções cinéticas da flutuação.
Na figura seguinte apresentam-se esses resultados.

RESULTADOS DA SIMULAÇÃO
Diferentes Graus de Libertação

0.9
Recuperação -------------------Teor

0.8 2xZ

0.7

0.6 1xZ
0.5

0.4 0.5 x Z
0.3

0.2
0.1 x Z
0.1

0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo de Flutuação

- 73 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Os resultados evidenciam claramente que quanto maior o calibre máximo menos


liberto está o minério e, obviamente, menor é a recuperação limite ("ultimate
recovery"), mantendo-se, como se pode verificar, um andamento semelhante para os
teores médios acumulados, pois caso contrário não seria legítima a conclusão!

Para os dois casos extremos, referidos na figura anterior - minério mal liberto e
minério bem liberto - foram construídos os gráficos dos histogramas conjuntos, bem
como as respectivas Curvas de Lavabilidade Limite, calculadas directamente sobre os
histogramas marginais de teor, isto é, sem a interferência das imperfeições do
processo de flutuação.

HISTOGRAMA CONJUNTO
Minério por Libertar

0.08

0.07

0.06

0.05

0.04

0.03

0.02

0.01 Graúdos
0
0
Finos
1

HISTOGRAMA CONJUNTO
Minério Liberto

0.16

0.14

0.12

0.1

0.08

0.06

0.04

0.02 Graúdos

0
0
Finos
1

- 74 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

CURVAS DE LAVABILIDADE

0.9

0.8

0.7

0.6
Minério mal liberto
0.5
Minério liberto
0.4

0.3

0.2

0.1

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Teor de Corte

Num segundo ensaio procurou-se usar um colector menos selectivo para a toma de
minério de menor calibre máximo, isto é, a que se encontra mais liberta. Os
resultados, expressos na figura seguinte, mostram claramente que a recuperação limite
subiu bastante, mas, em contra partida, o teor acumulado do concentrado baixa
drasticamente, como, aliás, seria de esperar.

RESULTADOS DA SIMULAÇÃO
Variação da Selectividade

0.9

0.8
Recuperação ------------Teor

0.7
Baixa
0.6
Selectividade
0.5
Alta
0.4
Selectividade
0.3

0.2

0.1

0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo de Flutuação

Uma vez que se trata de resultados de duas flutuações sobre um mesmo estado de
libertação do minério, mas sob configurações cinéticas distintas - no caso em questão,

- 75 -
OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

diferenças de tipo e/ou consumo de colector – as lavabilidades que daqui resultam são
já lavabilidades reais uma vez que no fenómeno da separação entraram já as
interferências do calibre e do teor na flutuabilidade das partículas.

Eficiência Técnica Total de um Processo de Separação

Esta é, com efeito, uma forma excelente para mostrar a complexidade do conceito de
eficiência técnica total, , de um processo de separação, decompondo-o em três
factores de diferente significado:

 = G  F  T

 um factor geométrico, G, directamente relacionado com o estado de libertação -


a este nível a separação será ideal, conduzida infalivelmente pelo teor das partícu-
las - lavabilidade limite;
 um factor físico, F, que expressa a diferença entre o caso anterior e uma
separação real em que as partículas são recolhidas no concentrado de acordo com
a sua flutuabilidade - esta diferença deriva de uma correlação esbatida entre
flutuabilidade e teor, resultante da interferência de todos os outros controlos
químicos do processo - lavabilidade real;
 um factor técnico, T, também resultante da imperfeição da separação, neste caso
devida às múltiplas interferência hidrodinâmicas reinantes dentro da célula e
expressas no modelo pela influência do calibre na probabilidade de colisão das
partículas com as bolhas - lavabilidade real.

- 76 -

Você também pode gostar