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Em todos estes casos, para evitar a realização das referidas análises químicas par-
tícula-a-partícula, pretende-se efectuar separações de grande precisão de corte para
obter lotes que se enviam para análise química. Desta forma as células dos
histogramas são obtidas por um processo não analítico (no sentido químico do teor),
sobre as quais são obtidos os teores químicos médios para cada classe.
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
px, y f x, y f x, y K x, y f
x *, y *
x *, y * K x*, y * Bx , y | x*, y *
Segundo este ponto de vista, uma vez conseguida uma caracterização das
distribuições de propriedade calibre e teor (fx,y)em um estádio precoce da evolução do
processo de cominuição, porventura ao nível da descrição textural do minério a um
dado calibre de trabalho, ou mesmo sobre espécimes não fragmentados, se for
possível parametrar e calibrar devidamente essas duas funções cinéticas, então estará
garantido o acesso às distribuições conjuntas de calibre e teor em qualquer estádio da
evolução do processo de fragmentação.
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
Entretanto, um passo altamente significativo pode desde já ser dado: uma vez que a
cominuição é um processo markoviano de primeira ordem, o conhecimento do calibre
de uma partícula-filha torna o calibre da progenitora irrelevante, de modo que a
função formação de teores condicionados ao conhecimento prévio do calibre atingido
pelas partículas após cominuição, depende apenas do teor da progenitora, isto é:
C y!x, x*,y* C y| x , y*
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K x, y K x e Ax!x*, y* Ax!x*
d f x, y 1
K x f x, y K xi C y | x, yi Ax | xi f xi , yi dxi dyi
dt 0 x
Uma primeira contribuição realmente inovadora nesta área foi dada pela linha de
acção de Tratamento de Minérios desta Escola do Porto, ao mostrar que a aplicação
do argumento da Lei Limite de Probabilidade permite invocar para esta função
formação de teor a forma de uma LEI BETA DE EULER. Na realidade, a formação
de partículas por cominuição é um processo aleatório complexo derivado de uma mul-
tidão de fenómenos microscopicamente diferentes e de factores imprevisíveis, que su-
gerem que a presença de um mecanismo de propagação de erro origina produtos ma-
croscopicamente diferentes. Assume-se, assim, o facto de que nenhum factor particu-
lar, ou pequeno grupo de factores, controla fundamentalmente o processo de
cominuição, o que é consistente com o argumento de não-discriminação adoptado.
Consequentemente, a multiplicidade de todos os factores no seu conjunto, que ori-
ginam as distribuições de calibre e de teor como efeitos observáveis, e considerando a
nossa substancial ignorância da sua natureza específica e dos pormenores dos seus
efeitos, parece adequado invocar o teorema da distribuição limite para aceitar para
a função formação de teor condicionada ao calibre, em estudo, a forma de uma dis-
tribuição BETA:
C y | x, yi Q pq y p1 1 y
q 1
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em que Qpq é uma constante e p e q parâmetros que controlam a forma da Lei Beta e
que deverão ser função do teor das partículas progenitoras, yi, e, obviamente, também
do calibre das partículas-filhas, x, de modo a descrever a desejada dependência da
forma da função com o calibre das partículas após cominuição:
p f1 yi , x e q f 2 yi , x
Investiguemos agora como varia a forma da Lei Beta com os valores dos seus
parâmetros p e q, ou seja, com a variação do calibre das partículas-filhas, nunca
perdendo de vista que a função Beta é um descritor estatístico das propriedades da
população em geral que se torna irrelevante para as partículas individualmente,
testando a sua adequação para a condensação de parâmetros da função cinética
C(y|x,yi).
Este estudo vai ser conduzido construindo o diagrama (p,q) com quatro regiões,
respectivamente, p,q >1, p <1 e q >1, p >1 e q <1 e p,q <1, representado na figura
seguinte, nas quais a função Beta assume as quatro formas típicas conhecidas. Uma
vez que o comportamento da função, enquanto funcional do teor y, depende dos
valores de p e q, as suas variações de forma, desde a situação de nem haver minério
útil nem ganga liberta até ao caso de ambos estarem libertos, passando pelas situações
intermédias de ou só ganga ou só minério útil liberto, confirmam as conjecturas
iniciais de que esses comportamentos dependem do teor das partículas progenitoras,
yi, e do calibre das partículas-filhas, x.
Diagrama (p,q)
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
Ainda nesta linha de raciocínio, constata-se que na região p,q>1 em que há ganga e
minério por libertar, a maior parte dos teores se acumulam em volta do teor médio, y ,
da curva que é dado por:
p
y
pq
e que esse acumular é tanto maior quanto maior for o valor de (p+q), facto que por si
permite olhar para (p+q) como uma medida do calibre x, das partículas.
A análise do diagrama permite ainda identificar a existência de dois calibres
notáveis, inícios da libertação da espécie mineral útil e da ganga, que correspondem
às barreiras q=1 e p=1, respectivamente:
xm : q f 2 xm , yi 1 e x g : p f1 x g , yi 1
de tal modo que a linha a 45º corresponde a um minério bifásico de teor médio 50%,
sendo os minérios pobres, de teor médio < 50%, representados pelo feixe de rectas
posicionado no semi-quadrante superior.
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
Por outro lado, dado que a variância é uma medida da dispersão do teor das partículas
em volta do teor médio, ela pode ser usada para avaliação global do estado de liberta-
ção de um dado sistema particulado (a variância é mínima no caso da partícula igual
ao jazigo inteiro por fragmentar e máxima para um lote completamente liberto).
Neste pressuposto, partindo do valor da variância do teor y de uma partícula-filha de
calibre x, proveniente de uma progenitora de teor y*, dado pela variância da distri-
buição Beta em função de p e q,
pq
2 y| x , y*
p q p q 1
2
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
q
1 p
2
2
o que mostra que no diagrama (p,q) as linhas de igual variância são rectas paralelas
de declive -1. Como, entretanto, é uma medida do estado de libertação do lote de
calibre x, por sua vez função de (p+q), conclui-se, igualmente, que as linhas de igual
variância são linhas de igual calibre no diagrama (p,q), de modo que:
p q x
o que conduz à equação das linhas de igual calibre no diagrama (p,q):
q x p
Uma vez chegados à forma das linhas de iso-calibre, coloca-se a questão da sua gra-
duação, isto é, da calibração do próprio diagrama (p,q) em termos do calibre, x, das
partículas, o qual é a variável condicionante de C(y|x,y*).
O estabelecimento da forma analítica precisa para (x) é um problema complexo e
sobre o qual, virtualmente não existem trabalhos experimentais, dadas as enormes
dificuldades práticas inerentes bem como a real impossibilidade de obtenção de frag-
mentações aleatórias. Cavalheiro foi bem sucedido na tentativa da solução deste
problema usando uma técnica de Monte-Carlo que incluiu os seguintes passos:
geração, em computador, de uma textura tridimensional representativa de
um minério sintético sob diferentes teores, do tipo poliedros de Voronoi
que reproduz razoavelmente bem texturas granitóides;
simulação de um processo de cominuição não-discriminatória através de
uma amostragem que consiste na retirada sucessiva de cubos de vários cali-
bres, cujos centros são posicionados ao acaso em todo o volume da textura;
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
exame de cada um dos cubos para determinação dos teores volúmico e su-
perficial em cada uma das espécies minerais simuladas presentes no grão
(este trabalho analítico, partícula-a-partícula só foi possível devido à exis-
tência de um minério digitalizado);
com os dados analíticos foram construídos experimentalmente os histogra-
mas de teores para cada classe de calibre, C(y|x,y*), aos quais foi ajustada a
lei Beta para determinação de p e q para cada classe de calibre analisada.
Os resultados confirmaram largamente a validade da conjectura da lei
limite de probabilidade, não apenas para os teores volúmicos, mas também
para os teores planares obtidos em cortes serrados das texturas e para os
teores superficiais;
gráficos dos valores ajustados de (p+q)=(x) com o calibre x foram exa-
minados em ordem a encontrar uma função que plausivelmente
aproximasse (x). Para os casos estudados das texturas de Poisson-Voronoi
em fragmentação não-discriminatória, Cavalheiro encontrou a seguinte lei
que apelidou de LEI TOPOLÓGICA:
x K x expK x
cálculos empíricos de K, efectuados sobre grande número de texturas anali-
sadas mostrou a sua variação com o calibre do grão da própria textura,
como seria de esperar. Por força da conformidade dimensional, o produto
K.x deverá ser adimensional, pelo que Cavalheiro prefere usar
C
K
z
em que z representa o calibre médio do grão "in situ" da textura e C é uma
constante que depende apenas do tipo da textura o que autorizou esse autor
a sugerir para ela a designação de constante topológica.
Com base neste modelo, que permitiu levar a bom termo o processo de concentração
de parâmetros para a Função Formação de Teores para o caso da cominuição
aleatória, é possível construir um algoritmo que vai ser utilizado daqui a pouco para
gerar lotes de partículas fragmentadas (de modo não-discriminatório, a partir de
texturas do tipo granitóide) para serem sujeitas a um processo de flutuação.
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
7 6 4 6 2 6 1 9 1 3 9
O t h e r C p y ( 1 0 - C p y ( 3 5 - C p y ( 6 0 - C p y
3 5 %) 6 0 %) 9 0 %) ( > 9 0 %)
5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
7 4 4 6 2 6 1 9 1 3 9
O t h e r C p y ( 1 0 - C p y ( 3 5 - C p y ( 6 0 - C p y
3 5 %) 6 0 %) 9 0 %) ( > 9 0 %)
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
dm
K m
dt
(C 0 C) C 0 1 exp K t
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
da por vários autores, consiste em aceitar uma combinação linear de cinéticas de pri-
meira ordem de constantes cinéticas diferentes.
O ponto de vista que suporta esta conjectura pressupõe que o fenómeno de Flutuação
por espuma segue, generalizadamente, uma cinética de 1ª ordem, segundo a qual a
velocidade de processamento (dm/dt) é proporcional à massa m em processamento
levantada à potência unitária, e que os desvios a esse comportamento
experimentalmente observados não resultam do desrespeito da essência dessa
conjectura, mas de que não existe uma única constante K capaz de representar a
globalidade do fenómeno, mas que existirá uma dispersão de valores dessa constante
cinética consoante o número de diferentes “famílias” de partículas com diferentes
comportamentos face ao fenómeno. Assim, a anterior equação diferencial assume a
forma:
d mi
K i mi cuja forma integrada é mi mi 0 exp K i t , com
dt
mio mi m mi 0 exp K i t
i 0 1 exp K i t
m
i0
i m0 i m0 i m0
1 exp K i t Fi
i
mi 0
sendo Fi a percentagem (distribuição) inicial de partículas da “família” i..
mi
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1 exp K F t FF 1 exp K S t FS
1 exp K t f (k ) dk 1 1
1 exp K max t
K max
0 K max t
A grande questão que se coloca a estas abordagens é o facto de se ajustarem aos dados
através de parâmetros empíricos, que embora possuam um significado físico claro, a
sua relação com as propriedades reais da massa de material ensaiado jamais poderá
ser determinada.
Concretamente, por exemplo, num modelo "Fast & Slow" determinam-se experimen-
talmente as velocidades cinéticas de flutuação de duas classes de partículas, uma
rápida e outra lenta, bem como a sua frequência relativa no lote inicial. Contudo, não
será possível associar essas classes a qualquer fracção concreta de partículas do lote.
Quando muito, poderemos imaginar que as rápidas corresponderão predominantemen-
te a partículas libertas, mas, por exemplo, nada se poderá afirmar sobre se são graúdas
ou finas.
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
d mi , j
K i , j mi , j t
dt
mt exp K i , j t mi , j 0
i j
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
Uma vez definidas as classes de calibre li, de calibre médio lmi, e de teor gj, de teor
médio gmj, e caracterizado o minério pelo seu teor médio, g* e a sua textura (de tipo
granitóide, único caso para o qual o modelo de libertação está validado) pelo calibre
de grão "in situ", z, o operador pode dar a composição granulométrica que pretende
ensaiar, as características do colector (segundo uma escala para cálculo de colector) e o
calibre da bolha (para ajustar as probabilidades de colisão segundo bolha).
Alternativamente, no caso do modelo estar integrado num algoritmo de cominuição
calibreteor, o operador, em vez de fornecer a composição granulométrica da
alimentação a flutuar, deverá indicar os valores dos parâmetros que condensam as
funções cinéticas Destruição, Kt(x), e Formação de Calibres, At(x|xi) da
fragmentação desse minério.
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
5. Com a Lei Beta devidamente parametrada por p e q, a sua integração nos inter-
valos de teor em que se decidiu dividir o espaço dos teores, gj, de teor médio
gmj, conduz à determinação do respectivo histograma de teores condicionado
ao calibre:
cg mj l mi C pq y p 1 1 y
g mj 1 q 1
dy
g mj
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
RESULTADOS DA SIMULAÇÃO
Diferentes Graus de Libertação
0.9
Recuperação -------------------Teor
0.8 2xZ
0.7
0.6 1xZ
0.5
0.4 0.5 x Z
0.3
0.2
0.1 x Z
0.1
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo de Flutuação
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
Para os dois casos extremos, referidos na figura anterior - minério mal liberto e
minério bem liberto - foram construídos os gráficos dos histogramas conjuntos, bem
como as respectivas Curvas de Lavabilidade Limite, calculadas directamente sobre os
histogramas marginais de teor, isto é, sem a interferência das imperfeições do
processo de flutuação.
HISTOGRAMA CONJUNTO
Minério por Libertar
0.08
0.07
0.06
0.05
0.04
0.03
0.02
0.01 Graúdos
0
0
Finos
1
HISTOGRAMA CONJUNTO
Minério Liberto
0.16
0.14
0.12
0.1
0.08
0.06
0.04
0.02 Graúdos
0
0
Finos
1
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
CURVAS DE LAVABILIDADE
0.9
0.8
0.7
0.6
Minério mal liberto
0.5
Minério liberto
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Teor de Corte
Num segundo ensaio procurou-se usar um colector menos selectivo para a toma de
minério de menor calibre máximo, isto é, a que se encontra mais liberta. Os
resultados, expressos na figura seguinte, mostram claramente que a recuperação limite
subiu bastante, mas, em contra partida, o teor acumulado do concentrado baixa
drasticamente, como, aliás, seria de esperar.
RESULTADOS DA SIMULAÇÃO
Variação da Selectividade
0.9
0.8
Recuperação ------------Teor
0.7
Baixa
0.6
Selectividade
0.5
Alta
0.4
Selectividade
0.3
0.2
0.1
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo de Flutuação
Uma vez que se trata de resultados de duas flutuações sobre um mesmo estado de
libertação do minério, mas sob configurações cinéticas distintas - no caso em questão,
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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS
diferenças de tipo e/ou consumo de colector – as lavabilidades que daqui resultam são
já lavabilidades reais uma vez que no fenómeno da separação entraram já as
interferências do calibre e do teor na flutuabilidade das partículas.
Esta é, com efeito, uma forma excelente para mostrar a complexidade do conceito de
eficiência técnica total, , de um processo de separação, decompondo-o em três
factores de diferente significado:
= G F T
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