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CAPÍTULO III
PROPRIEDADES DOS AQUÍFEROS
Resumo
(1) Aquíferos
São formações saturadas de água, que não coincidem necessariamente com
o mesmo tipo de formação geológica, mas que, sob o ponto de vista prático,
apresentam propriedades hidrogeológicas semelhantes; não devem ter
descontinuidades importantes, por exemplo: se houver uma interface
impermeável, de argila, entre duas camadas hidraulicamente boas condutoras,
por exemplo de arenito, por exemplo, solo, argila, arenito, argila, arenito,
bedrock impermeável, está-se na presença de dois aquíferos.
(2) Aquitardos
São formações menos permeáveis que as anteriores, das quais não é
possível extrair água em quantidade que as torne interessantes sob o ponto de
vista económico, mas que, apesar disso, constituem uma componente não
desprezável na recarga de aquíferos com que contactam.
PROTECÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS Capítulo III 2
(3) Aquicludos
Ainda são menos permeáveis que os anteriores; localmente não contribuem
para a recarga dos aquíferos mas, a nível regional, podem ter uma acção de
recarga não negligenciável.
Exemplos de aquíferos
Há, basicamente, dois tipos de aquífero, consoante a água se encontra contida entre
um tecto e um muro relativamente impermeáveis, caso em que o aquífero se designa
por confinado, ou a água apenas está apenas retida na base, caso em que a superfície
do aquífero está livre, designando-se por aquífero livre. Além destes, considera-se
também o caso mais raro de aquíferos cativos, que são depósitos de água fósseis, no
sentido em que não há percolação e consequente renovação da água ao longo do
tempo e os aquíferos suspensos, que são assim designados por a sua superfície livre
ficar acima do nível freático vizinho. As figuras seguintes ilustram diferentes tipos de
aquíferos.
PROTECÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS Capítulo III 3
Aquífero livre
PROTECÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS Capítulo III 4
Aquífero suspenso formado pela retenção de um depósito pouco permeável de argila acima da
toalha de água, na zona não saturada.
PROTECÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS Capítulo III 6
3.2 Porosidade
porosidade de drenagem
volume da agua que pode ser drenada por gravidade
ωd =
volume total de solo
Tudo o que atrás ficou dito aponta para um certo comportamento fractal do
maciço rochoso, que a uma escala regional pode apresentar uma porosidade em
grande resultante de grandes fracturas, confiantes com sistemas cada vez mais
delicados de fracturação, chegando-se a uma escala sub-microscópica a uma rede de
diaclasamentos imperceptíveis, que os pedreiros designam por “correr da pedra”.
Formação Porosidade
total %
Marsily Fetter Llamas
Granito e Gneisse 0,02 - 1,8 1,42% 0,2 -4
Quartzitos 0,8 - -
Xistos, ardósias, micaxistos 0,5 - 7,5 - -
Calcáreos e dolomites 0,5 - 30 1 - 30 0,5- 15
Gessos 8 - 37 -
Arenitos 3,5 - 38 - 15 - 25
Tufos vulcânicos 30 - 40 14 - 40 30 - 50
Areias 15 - 48 25 - 50 10 -35
Argilas 44 - 53 33 - 60 40 - 60
Silt Até 90 35 - 50 -
Os exemplos anteriores mostram que a maior ou menor facilidade com que a água
pode circular nos interstícios de uma formação geológica não pode ser correctamente
caracterizada apenas pela porosidade total. A porosidade efectiva por sua vez também
não serve para definir essa característica, já que uma mesma porosidade efectiva pode
PROTECÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS Capítulo III 11
Q = K A Δh / L (Eq.3.1)
U =Ki (Eq.3.2)
que é outra forma da lei de Darcy, que chegou às conclusões anteriores quando
estudava as fontes da cidade de Dijon em 1856.
A lei de Darcy deixa de ser válida para valores do gradiente hidráulico muito
elevados, bem como para valores muito baixos. No primeiro caso porque o regime
deixa de ser laminar, deixando as forças de atrito de serem proporcionais à velocidade
de filtração e passando a ser proporcionais ao quadrado daquela velocidade, pelo que
a recta degenera numa parábola; para valores de velocidade de percolação muito
baixos, que correspondam a circulações em meios de muito baixa condutividade
hidráulica, há também desvios da lei de Darcy junto à origem, visto as moléculas de
água só começarem a circular, libertando-se das forças de adesão superficial, para
valores do gradiente hidráulico não nulos. As duas figuras seguintes evidenciam as
duas situações.
PROTECÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS Capítulo III 13
k
U=− ( grad p + ρ g grad z ) (Eq.3.3)
μ
sendo k a permeabilidade intrínseca, dimensão [ L2 ] , μ a viscosidade dinâmica ,
dimensão [ M L-1 T-1] , ρ massa por unidade de volume da água, dimensão [ M L-3 ],
g a aceleração da gravidade, dimensão [ L T-2] e z a cota topográfica do ponto.
PROTECÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS Capítulo III 14
k
U=− ( grad p + ρ g grad z ) (Eq.3.4)
μ
⎡ k xx k xy k xz ⎤ k xy = k yx
⎢ ⎥
k = ⎢ k yx k yy k yz ⎥ k xz = k zx
com ⎢ ⎥ sendo
⎢⎣ k zx k zy k zz ⎥⎦ k yz = k zy
a expressão compacta (3.4) pode ser desenvolvida para obter, para o caso geral, as três
componentes da velocidade de filtração num meio anisotrópico:
K xx ∂p K xy ∂p K xz ⎛ ∂p ⎞
U x =− − − ⎜ +ρ g ⎟
μ ∂x μ ∂y μ ⎝ ∂z ⎠
K xy ∂p K yy ∂p K yz ⎛ ∂p ⎞
U y =− − − ⎜ +ρ g ⎟
μ ∂x μ ∂y μ ⎝ ∂z ⎠
K xz ∂p K yz ∂p K zz ⎛ ∂p ⎞
U z =− − − ⎜ +ρ g ⎟
μ ∂x μ ∂y μ ⎝ ∂z ⎠
(Eq.3.5)
para os quais o mesmo autor determinou a lei do escoamento, para cada um dos cinco
regimes, consoante a parede é macia ou rugosa e o escoamento é laminar ou
turbulento:
⎛ ρ g e2 ⎞
Tipo 1 : macia laminar V = −⎜ ⎟ J
⎝ 12 μ ⎠ f
(Eq.3.7a)
4/7
⎡ g ⎛ 2 ρ e5 ⎞
1/ 4
⎤
Tipo 2 : macia turbulento V = −⎢ ⎜ ⎟ Jf ⎥
⎢⎣ 0,079 ⎝ μ ⎠ ⎥⎦
(Eq.3.7b)
⎛ 3,7 ⎞
Tipo 3 : rugosa turbulento V = −⎜ 4 e g ln ⎟ J f
⎝ Rr ⎠
(Eq.3.7c)
⎡ ρ g e2 ⎤
V = −⎢ ⎥J
) ⎥⎦ f
Tipo 4 : rugosa laminar
⎢⎣12 μ (1 + 8,8 Rr
1,5
(Eq.3.7d)
⎛ 1,9 ⎞
Tipo 5: muito rugosa turbulento V = − ⎜ 4 e g ln ⎟ J f
⎝ Rr ⎠
(Eq.3.7e)
e
K= K + Km [LT-1]
b f
(Eq.3.9)
⎡ 1⎛ l l ⎞⎤
K = Km ⎢1 + ⎜ − ⎟⎥ (Eq.3.10)
⎣ 2 ⎝ L − l L⎠ ⎦
em que l é o comprimento médio das fracturas e L a distância média entre fracturas.
Se considerarmos novamente o caso das fracturas contínuas, a condutividade
hidráulica do meio contínuo equivalente depende do cubo da abertura das fracturas:
Fgρ
K = e3 (Eq.3.11)
12 μ b C
1 ⎛ sin 2θ ⎞
ψ1 = arctan⎜ ⎟
2 ⎝ cos 2θ K A / KB ⎠
(Eq.3.12)
K A KB sin θ
2
Ki =
K A sin ψ i + KB sin(θ − ψ i )
2
QL
Q = − KA grad h ou K = (Eq.3.13)
( h1 + L − h2 ) A
Q= K Ah/L (Eq.3.14)
dh
Q=−a (Eq.3.15)
dt
dh KA dt
=− (Eq.3.16)
h a L
integrando obtém-se:
h AK
ln =− ( t − t0 ) (Eq.3.17)
h0 aL
esta última expressão significa que se traçarmos num gráfico ln h versus tempo,
obtemos uma recta cuja pendente é proporcional a K.
PROTECÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE AQUÍFEROS Capítulo III 21
No caso do meio ter uma permeabilidade muito baixa, será necessário aplicar
pressões maiores com a ajuda de uma bomba e medir o respectivo caudal para
diferentes valores da pressão. A inclinação da recta que assim se obtém dá a
condutividade, conforme a figura seguinte.
∑l i
=∑
li
(Eq.3.18)
K medio Ki
K medio = ∑ ei = ∑ ei Ki (Eq.3.19)
Quando se instala uma captação num aquífero, ou quando este é descarregado por
causas naturais, a água que é retirada do subsolo, onde até então estava armazenada;
a retirada de água reflecte-se no esvaziamento de poros anteriormente carregados de
água - caso dos aquíferos livres, ou no relaxamento elástico do aquífero, por
convergência elástica do leitos confinantes, incluindo variações de volume
decorrentes da própria elasticidade da água, no caso dos aquíferos confinados e
cativos. Define-se coeficiente de armazenamento e representa-se por S uma grandeza
adimensional igual ao cociente do volume de água que se consegue extrair de um
prisma de altura igual à altura do aquífero e de base quadrada com uma unidade de
área e o volume do prisma quando se provoca um rebaixamento piezométrico de
uma unidade de carga hidráulica no aquífero. Representa-se por Ss o coeficiente de
armazenamento específico que é uma grandeza de dimensão [L-1] igual ao cociente
entre o volume de água extraída de um volume elementar de aquífero e esse volume
elementar, quando se rebaixa o nível piezométrico de uma unidade de carga
hidráulica. No caso do aquífero confinado, considerando uma direcção perpendicular
aos leitos de confinamento, conforme a figura,
S = ∫ Ssdx3
0
3.7 Transmissividade
0 0
velocidade de filtração segundo a direcção xx normal ao corte. Supondo que a
condutividade hidráulica é uma determinada função, representada a tracejado na
figura anterior, U x = − K M grad h , isto é, a velocidade de filtração varia de ponto
para ponto M, com o gradiente hidráulico constante Q = grad h ∫ K M dz ; o integral
e
T = ∫ K dz ; se a
e
desta última expressão designa-se por transmissividade
0
condutividade hidráulica for isotrópica e idêntica em todo o ponto do espaço, T = Ke ,
sendo T expresso em [L2T-1].