Você está na página 1de 4

Hobbes:

Para Hobbes, o homem, no seu estado de natureza, vivia num verdadeiro estado de


guerra. Na falta de um Estado controlador e absolutista, o homem tende a atacar o próprio
homem. Tentando subjugá-lo na luta pelos interesses comuns, o homem torna-se lobo do
próprio homem.

O estado de tensão era constante e os conflitos iminentes, pois os homens, disputando


seus interesses, desejavam as mesmas coisas. Ele definiu direito natural como sendo a
liberdade que cada homem possui para usar seu próprio poder de acordo à sua vontade.

Uma conseqüência desse estado de natureza hobbesiniano é a dificuldade do homem em


gerar riquezas: ocupa-se primordialmente em atacar os outros ou proteger-se contra
ataques alheios.

Segundo Hobbes, é preciso que exista um Estado dotado de espada, armado, para forçar
os homens ao respeito. Desta maneira haverá, de acordo com Hobbes, mais equidade,
pois cada um receberá o que o soberano determinar. Mas o poder do Estado tem que ser
pleno. Hobbes desenvolve essa idéia e monta um Estado que é...

O homem usufrui de liberdade incondicional para preservar sua própria vida, sendo assim,
pode fazer qualquer coisa que lhe convém para alcançar seus objetivos. No entanto, os
homens sentem medo, pois, há um momento em que não suportam mais o estado natural,
a partir deste momento reúnem-se para realizar um contrato social, o qual é capaz de
manter a paz entre eles.

Surgem então as sociedades organizadas, as quais devem render-se a uma autoridade


absoluta que promoverá a paz entre os homens. O Estado deve ser soberano perante os
homens, visto que eles são maus por natureza, dominados por paixões, desejos, egoísmo,
ou seja, o homem é lobo de si mesmo, para que o Estado de natureza, composto por
barbárie, não seja retomado. Para ele, o contrato é firmado pelo homem, apoiado pela sua
razão, de forma que o mesmo abra mão da sua liberdade e de suas vontades para que as
relações entre os homens sejam racionais.

É defensor do estado monárquico. O soberano deve ser pleno e absoluto, ninguém pode
julgá-lo. O contrato não é assinado pelo soberano, portanto, não tem obrigações e
compromissos, apenas deve por fim a guerra de todos contra todos. Entende que a
igualdade leva à guerra, a liberdade é um valor retórico – já que, ao assinar o contrato, os
homens abrem mão de sua liberdade – e que a verdadeira liberdade é a luta pela vida.
Hobbes nega a propriedade como um direito natural.

Considerado como um dos teóricos do poder absolutista em vigor na Idade Moderna,


Thomas Hobbes viveu entre 1588 e 1679. Para Hobbes, o Estado deveria ser a instituição
fundamental para regular as relações humanas, dado o caráter da condição natural dos
homens que os impele à busca do atendimento de seus desejos de qualquer maneira, a
qualquer preço, de forma violenta, egoísta, isto é, movida por paixões.
Afirmava que os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros quando
não existe um poder capaz de manter a todos em respeito, pois cada um pretende que seu
companheiro lhe atribua o mesmo valor que ele atribui a si próprio. Dessa forma, tal
situação seria propícia para uma luta de todos contra todos pelo desejo do
reconhecimento, pela busca da preservação da vida e da realização daquilo que o homem
(juiz de suas ações) deseja. Deste ponto de vista surgiria a famosa expressão de Hobbes:
“O homem é o lobo do homem”.
Daí, nas palavras de Hobbes, “se dois homens desejam a mesma coisa [...] eles se tornam
inimigos”. Todos seriam livres e iguais para buscarem o lucro, a segurança e a reputação.
Nas palavras de Francisco Welfort, em sua obra intitulada Os Clássicos da Política (2006),
a igualdade entre os homens, na visão de Hobbes, gera ambição, descontentamento e
guerra. A igualdade seria o fator que contribui para a guerra de todos contra todos,
levando-os a lutar pelo interesse individual em detrimento do interesse comum.
Obviamente, isso seria resultado da racionalidade do homem, uma vez que, por ser dotado
de razão, possui um senso crítico quanto à vivência em grupo, podendo criticar a
organização dada e, assim, nas palavras de Hobbes, julgar-se mais sábio e mais
capacitado para exercer o poder público.

Dessa forma, a questão da igualdade e da liberdade em Hobbes é vista de forma diferente


daquela leitura mais convencional destes termos, com significados “positivos”, como se viu
nas revoluções contra o poder absolutista dos reis, principalmente no caso da Revolução
Francesa. Logo, a liberdade segundo Hobbes seria prejudicial à relação entre os
indivíduos, pois na falta de “freios”, todos podem tudo, contra todos.

A paz somente seria possível quando todos renunciassem a liberdade que têm sobre si
mesmos. Hobbes discorre sobre as formas de contratos e pactos possíveis em sua
obra Leviatã, apontando ser o Estado o resultado do “pacto” feito entre os homens para,
simultaneamente, todos abdicarem de sua “liberdade total”, do estado de natureza,
consentindo a concentração deste poder nas mãos de um governante soberano. Seria
necessária a criação artificial da sociedade política, administrada pelo Estado,
estabelecendo-se uma ordem moral para a brutalidade social primitiva. Citando Hobbes,
Francisco Welfort mostra que o Estado hobbesiano seria marcado pelo medo, sendo o
próprio Leviatã um monstro cuja armadura é feita de escamas que são seus súditos,
brandindo ameaçadora espada, governando de forma soberana por meio deste temor que
inflige aos súditos. Em suma, este Leviatã (ou seja, o próprio Estado soberano) vai
concentrar uma série de direitos (que não podem ser divididos) para poder deter o controle
da sociedade, em nome da paz, da segurança e da ordem social, bem como para defender
a todos de inimigos externos. Mais especificamente, nas palavras de Hobbes:
“Isso é mais do que consentimento ou concórdia, pois resume-se numa
verdadeira unidade de todos eles, numa só e mesma pessoa, realizada
por um pacto de cada homem com todos os homens [...] Esta é a
geração daquele enorme Leviatã, ou antes – com toda reverência –
daquele deus mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa
paz e defesa” [...] É nele que consiste a essência do Estado, que pode
ser assim definida: ‘Uma grande multidão institui a uma pessoa,
mediante pactos recíprocos uns aos outros, para em nome de cada um
como autora, poder usar a força e os recursos de todos, da maneira
que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum’.
O soberano é aquele que representa essa pessoa”. (HOBBES, 2003,
p.130-1 31).
Dessa forma, estes seriam alguns dos princípios que justificariam os discursos do poder
absolutista ao longo da Idade Moderna. Fica evidente que neste modelo de Estado que
desconsiderava as liberdades individuais não haveria espaço para a democracia e suas
instituições. Ao contrário, os usos da força, da austeridade e da repressão, geram
sociedades onde prevalece a desigualdade, a instabilidade, o medo e o esvaziamento da
discussão política. Por isso, o final da Idade Moderna foi marcado pela Revolução
Francesa, encabeçada por uma burguesia descontente com os desmandos de um rei e
desejosa por participação política. Assim, ao se olhar para a História, é possível ver que as
características deste Estado Soberano não se limitaram às monarquias na Europa, mas
também se fizeram presentes – mesmo que indiretamente e com outra roupagem – em
diversos regimes ditatoriais como no Brasil e em tantos outros países na segunda metade
do século XX, guardadas as devidas proporções. Da mesma forma, é contra Estados
totalitários com tais características que lutam hoje muitos povos do norte da África e do
Oriente Médio.
Hobbes parte da idéia do “homem natural” e este por natureza é a condição em
que se encontram os homens fora de uma comunidade política ou da sociedade. Nesse
estado os homens disputam todas as coisas por direito natural e absoluto. O homem, em
sua natureza, defende Hobbes, possuem “direitos de natureza”, que trata-se do direito à
sobrevivência. A partir desse direito, os homens unem-se a fim de preservar suas vidas,
criando um contrato social. Para Hobbes, essa necessidade leva-os a produzirem um
contrato para firmar a paz e a segurança:
A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de os defender das invasões dos
estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança
suficiente para que, mediante o seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam
alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda a sua força e poder a um homem, ou a uma
assembléia de homens, que possa reduzir as suas diversas vontades, por pluralidade de
votos, a uma só vontade. O que equivale a dizer: designar um homem ou uma assembléia
de homens como representante das suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se
cada um como autor de todos os atos que aquele que representa a sua pessoa praticar ou
levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e segurança comum; todos
submetendo assim as suas vontades à vontade do representante, e as suas decisões à
sua decisão (p. 130).
                 A criação do Estado estaria ligada a essas necessidades. O objetivo deste
Estado seria a segurança particular, a superação da lei de natureza ou da conjunção de
uns poucos homens ou famílias, assim como de uma grande multidão, a não ser que
dirigida por uma só opinião.

            Para Hobbes os súditos não têm o direito de renunciar ao pacto que confere esses
poderes ao soberano. “É desta instituição do Estado que derivam todos os direitos e
faculdades daquele ou daqueles a quem o poder soberano é conferido, mediante o
consentimento do povo reunido” (131). Uma fez o pacto confirmado torna-se obrigado a
assumir todos os atos do monarca, por absurdos que sejam, mesmo aqueles que
contrariam os seus próprios interesses. Os súbditos não podem mudar a forma de
governo, não pode haver transgressão do poder soberano, ninguém pode, sem injustiça,
protestar contra a instituição do soberano apontado pela maioria, as soberanas ações não
podem ser justamente acusadas pelo súbdito, em fim, nada que o soberano faz pode ser
punido pelo súbdito.
         Hobbes define o Estado como:

[..] uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com
os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usara força e os
recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a
defesa comum (p.131).
          
          Com relação aos Súditos, afirmou que “Aquele que é portador dessa pessoa chama-
se soberano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes são súbditos”
(p.131).
         Para Hobbes, o Estado é a materialização dos desejos dos súditos, ou seja, seu
autor. Por isso que o Estado não pode ser contestado, pois estaria havendo uma auto-
contestação, “dado que cada súbdito é autor dos actos do seu soberano, cada um estaria
castigando outrem pelos actos cometidos por si mesmo” (p.132). Para este autor o
soberano é juiz do que é necessário para a paz e defesa dos seus súbditos, tendo o direito
de fazer regras pelas quais todos os súbditos possam saber o que lhes pertence, e
nenhum outro súbdito pode tirar-lhes sem injustiça. Também a ele pertence a autoridade
judicial e a decisão das controvérsias E de fazer a guerra, e a paz, como lhe parecer
melhor, E de escolher todos os conselheiros e ministros, tanto da paz como da guerra, E
de recompensar e punir, e (quando nenhuma lei tenha determinado a sua medida) o de
arbitrar, O poder soberano não é tão prejudicial como a sua falta, e o prejuízo deriva na
sua maior parte de não haver pronta aceitação de um prejuízo menor.
         Para Hobbes existem três formas de Estado: monarquia, democracia e aristocracia.

          Hobbes ainda indica que nomes como tirania e oligarquia não se tratam de nomes
de outras formas de governo, e sim das mesmas formas quando são detestadas pela
sociedade.

Quando o representante é um só homem, o governo chama-se uma monarquia. Quando é


uma assembleia de todos os que se uniram, é uma democracia, ou governo popular.
Quando é uma assembleia apenas de uma parte, chama-se-lhe uma aristocracia. Não
pode haver outras espécies de governo, porque o poder soberano inteiro (que já mostrei
ser indivisível) tem que pertencer a um ou mais homens, ou a todos (p.141).

          Quanto as leis civis, destaca Hobbes, que o Estado está acima destas. Para ele o
Estado é o único legislador. Mesmo quando as leis não estão escritas e aparentemente
tornaram-se leis devido ao tempo e ao costume, na verdade, são leis por que do
consentimento do Estado.
          Em fim, Hobbes apresenta o o Estado como o elemento máximo, existente acima de
tudo e todos para o a preservação do “direito de natureza”, ou seja, de sobrevivência.

Você também pode gostar