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Parecer Jurídico n° 00001

Rio de Janeiro, 02 de julho de 2020.

Requerentes: Familiares .....

Ementa: Defesa do Consumidor: Negativa da Seguradora de Saúde na Cobertura e Prestação


de Serviços.

Relatório:

Trata-se de um caso de defesa do consumidor, onde Renata, 26 anos, precisou ser


internada em regime de urgência no hospital Barra D’or, no Rio de Janeiro, em consequência
do agravamento do seu quadro clínico causado pela COVID-19.Após dois dias de internação
na UTI, familiares foram informados pelo hospital que o seguro saúde do qual Renata é
segurada, da empresa Vai na Fé, comunicou que os procedimentos relativos à doença não
seriam cobertos pelo referido plano, inclusive os testes COVID-19. Em ato contínuo, o
hospital solicitou o pagamento dos custos de internação e, alternativamente, propôs a
transferência de Renata para um hospital do SUS. Fato é que o plano se nega a cobrir os
custos, afirmando que a COVID-19 não está no rol de doenças obrigatórias a serem cobertas
pelo plano

É o relatório, passo a opinar:

Primeiramente cabe informa que um contrato de prestação de serviço, tem natureza


jurídica de: Contrato bilateral, sinalagmático, oneroso, consensual, comutativo e
personalíssimo, em regra.
O Contrato de plano de saúde tem por natureza e finalidade socorrer o segurado no
momento que ele mais precisa, nos percalços e imprevistos, quando o segurado está com sua
saúde frágil, precisando assim, de cuidados médicos.

Um contrato de prestações de serviços deve ser formulado tendo como base o princípio
a boa-fé, lealdade, transparência e equidade.

Feito essas considerações iniciais, é o parecer:

Fundamentação:

O Direito a Saúde é um direito de todos, conforme preceitua a Constituição Federal de


1988.

Quando uma pessoa contrata uma seguradora de saúde, o faz para que esta cubra todo e
qualquer procedimento médico, desde ao primeiro atendimento, incluindo, internação, exames,
medicação. Não pode a segura de saúde se esquivar de sua responsabilidade.

Fato é, que estamos vivenciando uma pandemia mundial, que tem afetado a saúde de
milhões de pessoas, e o Estado, por si só, não tem como suportar toda a demanda que este
momento tem causado. Ainda, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já se posicionou e
firmou entendimento de que Plano de Saúde não pode se recusara cobrir tratamento do Covid-
19 (https://www.conjur.com.br/2020-mai-05/opiniaoplano-saude-nao-recusar-cobrir-tratamento ).
E quando se fala em tratamento, está incluído todo e qualquer procedimento necessário para
preservar a vida do segurado.

A partir desse posicionamento da OMS, a Agência Nacional de Saúde Suplementar


(ANS) publicou a Resolução Normativa nº 453/2020, no dia 13 de março de 2020,
determinando que: “o exame de detecção do novo coronavírus, bem como consultas,
internações, terapias e medicação que podem ser empregados no tratamento de pacientes
infectados, passou a ser cobertura obrigatória pelos planos de saúde que operam no país.”
Ainda, no momento que o segurado mais precisa, não pode a prestadora de serviços se
negar em fazer tal procedimento, pois a negativa fere a boa-fé contratual, além de ferir a
dignidade da pessoa humana.

Ocorre que a negativa, além de ir contra a resolução expedida pela ANS, fere o direito
à saúde, sendo tal direito de grande relevância na medida em que previsto no artigo 6º da
Constituição Federal de 1988, configurando-se como direito social prestacional.

Vale resslatar, ainda, que a relação existente entre o plano de saúde e o contratante é
uma típica relação consumerista, que se desenvolve no âmbito da Lei nº 8.078/90, conhecida
como Código de Defesa do Consumidor. E ainda, o STJ editou recentemente a Súmula 608,
dispondo que: "Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de
saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão".

Assim sendo, a Política Nacional das Relações de Consumo que permeia o CDC tem
por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, à
sua saúde e à sua segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua
qualidade de vida, bem como a transparência e a harmonia a elas inerente (CDC, artigo 4º,
caput).

Eis alguns dos princípios básicos dessa política protecionista: o reconhecimento da


vulnerabilidade do consumidor (CDC, artigo 4º, I); a exigência de uma ação governamental
dirigida à sua efetiva proteção (CDC, artigo 4º, II), com presença atuante do Estado no
mercado (CDC, artigo 4º, II, "c"); a harmonização dos sujeitos das relações de consumo
sempre com base na boa-fé e no equilíbrio (CDC, artigo 4º, III); a informação adequada com
vistas à melhoria do mercado de consumo (CDC, artigo 4º, IV); e a coibição e a repressão
eficientes de todos os abusos nele praticados (CDC, artigo 4º, VI).

Logo, no exercício da sua livre iniciativa fundada em valores sociais (CF, artigos 1º, IV
c.c. 170, caput, e V, c.c. 173, § 4º, c.c. 174, caput), as operadoras de planos de saúde devem
ser transparentes e agir de boa-fé (objetiva), assegurando o equilíbrio nas relações de consumo
com o atendimento das necessidades dos seus contratantes, em especial diante da pandemia.
Com efeito, a proteção à saúde é direito básico dos consumidores (CDC, artigo 6º, I),
corolário das determinantes constitucionais positivas da cidadania (CF, artigo 1º, II) e da
dignidade da pessoa humana (CF, artigo 1º, III).

Assim, havendo a inclusão pela ANS do exame de detecção do Coronavírus, além da


cobertura de todo o tratamento no rol de procedimentos obrigatórios aos beneficiários de
planos de saúde, a negativa de cobertura viola não apenas o previsto na Resolução Normativa
nº 453/20, como também a Lei 8.078/90.

Conclusão:

Após toda a análise feita, o parecer jurídico opina:

Que a prestadora de Plano de Saúde tem o dever e obrigação em cobrir todo o


tratamento sob pena de causa um dano irreparável ou de difícil reparação, haja vista que não
deve prosperar a alegação de que o procedimento não está no rol de obrigatoriedade da ANS.

Assim sendo, diante da negativa, os familiares podem e devem ajuizar ação de


obrigação de fazer com pedido de tutela de urgência (Art. 300 do CPC/15), a fim de que a
segurado de saúde se abstenha de efetuar qualquer cobrança quanto ao tratamento realizado, e
ainda, que se abstenha de transferir Renata para o SUS, e que se abstenha de suspender o
tratamento e que cubra todo o procedimento necessário, pois a vida é o maior bem jurídico a
ser tutelado.

É esse o parecer.

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