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A Zona de Desenvolvimento Proximal:

um conceito fundamental para a prática pedagógica

Artes Visuais, Licenciatura EAD


Psicologia da Educação - Atividade Portfólio 2 - Ciclo 3
Discente: Nerize Portela Madureira Leôncio
Docente: Lilian Paula Degobbi Bérgamo

Porto Seguro-BA

2020

Os seres humanos aprendem desde o dia em que nascem até o momento da morte.
Interessante que independente da experiência que se têm de vida, o movimento de aprendizado é
constante, especialmente nos dias de hoje, onde a velocidade das transformações é enorme. É
possível perceber a nível global, diferentes formas de aprender e ensinar, relacionadas à cultura,
valores, cosmovisões de distintos povos. Porém podemos notar que independente do ambiente onde
ocorre o aprendizado, quando acontece no seio de uma sociedade, de um povo, ele acontece por
meio de mediações, estas mediações ocorrem devido à um certo acúmulo de saberes, de
conhecimentos mais ou menos cristalizados, alguns ancestrais, que ocorrem no sentido da
preservação da vida ou da sobrevivência, ou pura e simplesmente como resultado da ação do
homem sobre a natureza. Podemos até dizer que, muitas ações do homem hoje sobre a natureza
ocorrem com sentido contrário à preservação da vida, por conta de interesses políticos, econômicos
e individuais. Mas voltando ao cerne da questão, obviamente poderíamos criar algumas situações
hipotéticas onde há aprendizagem sem a mediação, por exemplo, como a história retratada pelo
filme “Náufrago" onde o indivíduo, por conta de um acidente, se vê numa ilha deserta, e consegue
sozinho aprender uma série de técnicas para sobreviver. Ainda assim podemos imaginar que o
personagem da história mesmo estando sozinho está, digamos, aprendendo com a natureza, por
meio da observação, da tentativa e do erro, e algumas vezes, do insight em diversos momentos,
mostrando o quão pode ser árduo o caminho de aprender só.

Pois bem, nesta questão da aprendizagem as teorias construtivistas, especialmente Vigotsky,


nos mostra o quanto do aprendizado em sociedade é importante porque se constitui neste eterno
movimento de ensinar e aprender. O aprendizado que ocorre por meio das relações que
constituímos, desde o momento em que nascemos, que constroem nossos valores, que nos define
enquanto seres humanos, e que também nos habilita a sobreviver. Tal autor desenvolve o conceito
de zona de desenvolvimento proximal, que corresponde ao movimento de aprendizado de uma
pessoa, indivíduo, independente de sua idade, que acontece pela mediação de uma segunda pessoa,
professor, adulto, ou pessoa mais experiente. Sendo assim antes de aprender algo novo, existiria o
nível de desenvolvimento real, que corresponde àquilo que a pessoa sabe fazer de fato, e o que ela
pode atingir, enquanto ser em desenvolvimento, através da mediação de uma outra pessoa mais
experiente (nível de desenvolvimento potencial). A zona de desenvolvimento proximal será
então esse percurso cognitivo, esse caminho que ocorre no decorrer de uma situação de
aprendizagem, que relaciona-se à internalização de técnicas, conhecimentos, saberes, que seriam
mais dificilmente alcançados, ou levariam mais tempo para acontecer, caso não houvesse a
mediação. Ressalta-se que este conceito pode ser aplicado em qualquer situação de aprendizagem, e
que cada fase humana possui suas peculiaridades, limitações, potencialidades, correspondente às
características biológicas e fisiológicas de desenvolvimento do corpo e da mente do ser humano.
Uma criança de 0 à 2 anos que está no período sensório-motor, apreende o mundo por meio de
movimentos reflexos.

Trago como exemplo, uma situação observada em vídeo, em que a mãe está colocando o
filho de 6 meses para comer um pedaço de manga. A mãe está comendo também um pedaço de
manga, o bebê na cadeirinha de comer consegue segurar a manga apesar da coordenação estar em
desenvolvimento, e de alguns espasmos involuntários, ainda assim ele consegue já nesta fase
segurar o pedacinho da manga e levar à boca. Como o bebê do vídeo, aparentemente, ainda não tem
dentinho, o que ele faz basicamente é amassar o pedacinho de manga com as mãos, arrancar um
pedaço que se solta da casca, e levá-lo à boca pra sentir gosto, mas não é muito efetivo no ato de
comer, pela falta de dentes e de coordenação. Nesta fase a criança costuma ser alimentada pela mãe
com papinhas dadas na boca do bebê. Então é uma fase que corresponde à uma passagem gradativa
da condição de ser alimentada pela mãe, onde a criança é mais passiva e ainda está aprendendo a
comer comidinhas mais sólidas, para uma fase em que ela começa a desenvolver autonomia de
comer sozinha. De segurar os alimentos, amassar, levar à boca, sentir o tato o gosto, mesmo que
ainda não corresponda a capacidade efetiva de se alimentar de maneira satisfatória. A mediação da
mãe nesta fase, é mais no sentido de armar situações e observar, dando o pedaço da fruta pra criança
na mão, ou espalhando brinquedos na sala, não existe uma comunicação verbal propriamente.
Durante o desenvolvimento neuronal e a maturação fisiológica, o ato de brincar com a comida, de
experimentar, de agarrar, de levar à boca é altamente recomendada. E na verdade é um momento
onde quase todos objetos são levados à boca, pois é através da boca que o bebê conhece o mundo
nos primeiros meses de vida, por ser este órgão um dos mais desenvolvidos. E justamente neste
movimento entre o que o bebê esta conseguindo fazer no momento atual, e o que, a cada dia, é
experienciado através da mediação do adulto possibilitando situações e observando, que a zona de
desenvolvimento proximal se realiza. Especialmente na fase de 0 a 2 anos, onde basicamente se
aprende pelo movimento e pelos sentidos, esta atualização acontece num ciclo muito curto, a
criança é movida e aprende, experimentando o mundo a cada segundo.

Num segundo vídeo enviado por outra mãe, a criança está com 2 anos e 8 meses. A criança
está sentada em uma mesinha pequena, e almoçando, e a mãe está ao lado. A criança já consegue
manipular objetos com um pouco mais de precisão. Já existe também uma comunicação verbal
entre a mãe e o filho. No início a criança pega a comidinha com a colher e estica na direção da mãe
como se estivesse a oferecer sua comida a ela. E a mamãe diz que não é pra ela, e segurando a
mãozinha da criança, direciona ao prato dizendo que é para a criança comer. Assim ajuda a criança
a pegar um pouco mais de comida na colher e a cada acerto a mãe incentiva dizendo “isso”, de
forma prolongada. A criança então segura a colher e leva à boca enquanto imita as palavras da mãe,
dizendo “isso”, como se estivesse fazendo graça. Como a sua coordenação ainda está em
desenvolvimento, a criança já consegue segurar a colher e levar à boca, porém com algumas
intervenções da mãe ajudando a segurar com mais firmeza. Ou seja, é uma autonomia que aos
poucos vai sendo construída, a cada momento a criança vai aperfeiçoando mais sua habilidade.
Portanto a zona de desenvolvimento proximal ela não ocorre de um momento pra outro, num piscar
de olhos, mas, corresponde à uma etapa de aprendizado gradativa em que a criança passa pela
maturação orgânica e neurofisiológica, experimentando, tentando, apreendendo e aperfeiçoando,
através da mediação de um outro indivíduo. Neste caso, a mãe.

Este exemplo apesar de ser no contexto doméstico e não escolar, nos ajuda a perceber que o
conhecimento da zona de desenvolvimento proximal, nos permite pensar na educação, como um
processo gradativo. Assim como no cotidiano, existem situação que se dão naturalmente gerando
aprendizado e desenvolvimento nas crianças, estas acontecem como proposição seja dos pais e/ou
cuidadores das crianças. Um ambiente de incentivo, é sempre mais promissor para o
desenvolvimento, através do qual a criança vai se descobrindo por curiosidade, observação
imitação, criação, etc. Da mesma forma e deslocando para o ambiente escolar, o professor não deixa
de ser um propositor, no qual faz sugestões, propõe caminhos, intervém, não no sentido de limitar o
aluno, mas sim no sentido de desenvolver potências, técnicas já conhecidas, ou talvez até buscando
experiências e caminhos onde o resultados sejam desconhecidos também. Mas independente de que
o resultado seja imprevisível, num primeiro momento, há um certo background que moveu a
experiência do educador a pensar em desenvolver uma idéia de ensino-aprendizagem nova com os
alunos. Mesmo porque enquanto se mantém aberto, as próprias experiências dos alunos podem
emergir, fazendo acontecer algo diferente e mais rico ainda. É nesse sentido do construtivismo de
Vigotsky, que reside a maior importância do aprendizado em sociedade, aberta à múltiplas
possibilidades, à sensibilização do que podemos alcançar de resultado, da potência que se
estabelece, dentro do ‘encontro’, entre educando e educador.

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