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©2004, Andy Stanley

Originalmente publicado nos


EDITORA VIDA EUA com o título Fields of God
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Liberdade ©2019, Editora Vida Edição
CEP 01512 -070 – São Paulo, publicada com permissão da
SP Tyndale House Publishers, Inc.
Tel.: 0 xx 11 2618 7000 (Illinois, EUA)
Fax: 0 xx 11 2618 7044
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por Editora Vida.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR


Editor responsável: Gisele QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES,
Romão da Cruz
COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Tradução: Maria Emília de
Oliveira

Revisão de tradução: Sônia
Freire Lula Almeida Scripture quotations taken
Revisão de provas: Josemar from Bíblia Sagrada,Nova
de Souza Pinto Versão Internacional, NVI ®
Diagramação: Claudia Fatel Copyright © 1993, 2000, 2011
Lino Bíblica Inc.
Capa: Arte Peniel Used by permission IBS-STL
U.S.
All rights reserved worldwide.
Edição publicada por Editora
Vida,
salvo indicação em contrário.
Todas as citações bíblicas e de
terceiros foram adaptadas
segundo o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa, assinado
em 1990, em vigor desde
janeiro de 2009.

1. edição: jun. 2019

Dados Internacionais de Catalogação na


Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Stanley, Andy Campos dourados : um lugar além
do medo, um privilégio além da imaginação / Andy
Stanley ; [tradução Maria Emília de Oliveira]. -- São
Paulo : Editora Vida, 2019.
Título original: Fields of Gold.
ISBN 978-85-383-0387-9
1. Contribuição cristã I. Título.
19-23488

CDD-248.6

Índice para catálogo sistemático: 1. Contribuição


financeira : Vida cristã : Cristianismo 248.6 Cibele
Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
À minha mãe, Anna Stanley,
a mulher mais generosa
que conheço.
Sumário

Introdução
1. Poeira ao vento
2. Uma ambição crescente
3. Trocando de lugar
4. O novo acordo
5. Lições de semeadura
6. O que você deve temer
7. A alegria de dar
Epílogo
Introdução

O ato de dar era simples quando eu era criança.


Desde pequeno, fui ensinado a separar 10
centavos de cada dólar que ganhava e colocá-lo na
salva que recolhia ofertas. Não sabia nada mais que
isso. Fui criado acreditando que dar era apenas uma
das coisas que devíamos fazer com o dinheiro. Não
havia nenhum esforço envolvido. E, como eu não
ganhava dinheiro, nunca senti nenhum medo
relacionado ao ato de dar. É claro que não me
preocupava com o fato de que a falta daquele
dinheiro dado poderia ameaçar a minha qualidade de
vida. Eu sempre tive comida com fartura e roupas
finas para usar.
No entanto, ao longo dos anos, à medida que
comecei a ganhar mais dinheiro, passei a notar uma
leve hesitação ao ofertar: eu ainda dar 10 centavos
de cada dólar que ganhava. Mas agora ganhava
centenas ou milhares de dólares de cada vez. E de
algum modo isso era diferente. Sempre que
preenchia um daqueles cheques com valores
aparentemente muito altos, algumas preocupações
como as seguintes passavam pela minha cabeça: E
se eu precisar do dinheiro para outra coisa? Estou
economizando o suficiente? E se surgir uma
despesa inesperada? Será que alguém contribui
com uma quantia tão alta assim?
A luta interior não me impediu de dar a
porcentagem estipulada, mas certamente tirou um
pouco da alegria nessa área. Quando comecei a
avaliar a minha hesitação, concluí que o problema
não era avareza. Era medo. Aos poucos, passei a
ofertar com medo. Conclusão: eu estava perdendo a
confiança na minha fé de longa data de que Deus é
quem ele diz ser e que fará o que prometeu fazer.
Sob a pressão crescente de equilibrar o orçamento
todos os meses, fui pouco a pouco me tornando
irracional a respeito do que pensava de Deus, de sua
fidelidade e do meu papel como administrador dos
recursos dele.
Desde aquela época, descobri que não estou
sozinho nessa luta. Para muitos cristãos, a oferta
generosa transformou-se em oferta do medo. Não
nos opomos a apoiar o Reino de Deus com os
nossos recursos. Não somos avarentos. Mas nos
preocupamos. Preocupamo-nos porque, se não
cuidarmos das nossas necessidades em primeiro
lugar, não haverá quem cuide delas.
No entanto, o testemunho da Escritura,
acompanhado da experiência de milhões de cristãos,
envia uma resposta ressonante às nossas
preocupações. Todo medo associado a dar para o
Reino de Deus é irracional. É semelhante ao
agricultor que, por medo de perder as sementes,
recusa-se a cultivar seus campos. Por mais absurdo
que possa parecer, muitos de nós nos sentimos
culpados por estocar a semente financeira que Deus
deseja que seja semeada para futura colheita. E tudo
por causa do medo.
O princípio de semear e colher aplica-se às nossas
finanças. Aqueles que semeiam generosamente
podem aguardar uma colheita generosa e receber um
retorno farto. Não faz nenhum sentido permitir que
as nossas preocupações quanto ao futuro limitem o
que podemos dar. Ainda assim, para a maioria de
nós existe um medo latente, um medo capaz de nos
roubar a alegria. Mas pior que isso é o medo que
nos força a nos trancar com o dinheiro e deixar
Deus do lado de fora.
Nas páginas a seguir, vamos desvendar esse medo
irracional de dar. Estudaremos as palavras de Jesus e
consideraremos a vida de vários de seus seguidores
de nossos tempos. E assim descobriremos que dar é,
na verdade, um convite ao nosso Pai celestial, para
que ele se envolva nas nossas finanças. Com o
envolvimento do Pai, vem a promessa que deve
amenizar de uma vez por todas o medo de dar. Ele
promete reenviar semeadores generosos com
sementes suficientes para continuar a semear
generosamente ao longo da vida.
O resultado?
Campos dourados — nesta vida e na vida por vir.
Capítulo 1
Poeira ao vento

O céu do lado oeste estava cada vez mais escuro.


Em poucos instantes, o panhandle [Nota
1]inteiro de Oklahoma seria engolido pela escuridão

avassaladora. Jeremiah Clary começou a conhecida


tarefa de enrolar trapos úmidos e enfiá-los nas
frestas da porta para impedir a entrada da poeira.
Naquela tarde em especial, as rajadas de vento
carregavam toneladas de terra pelo ar na direção da
casa dele. Até a fresta mais estreita no batente das
janelas permitiria a entrada de uma densa camada de
poeira em todas as superfícies da casa.
A família Clary havia sido atraída às planícies do
Sul pela promessa de colheitas em abundância e
campos imensos e férteis de trigo. Durante algum
tempo, foi exatamente o que eles encontraram.
Entretanto, durante a década de 1920, milhares de
imigrantes ambiciosos começaram a arar vastas áreas
de pastagens virgens para plantar suas fortunas. A
Grande Depressão estimulou outros colonizadores
rumo ao Oeste, e eles rapidamente exploraram a
mina de ouro orgânica da região central dos Estados
Unidos. Em 1931, as chuvas pararam. Mais de 40
milhões de hectares de esperanças e sonhos se
secaram sob o sol escaldante. Aquele, no entanto,
foi apenas o prelúdio da verdadeira devastação. Sem
nada para conter a terra seca, os ventos que um dia
foram tão úteis às planícies ocidentais arrastaram a
poeira, grão a grão, e a transformaram em um
gigantesco jato de areia.
Para piorar a situação, os raios do sol causticante
tostaram a terra exposta, transformando a região
inteira em um imenso forno de barro que provocou
uma fúria maior ainda dos vendavais. Aquela
combinação inusitada de terra, vento e fogo foi
semelhante a uma ira apocalíptica. Nuvens de poeira
subiam quilômetros em direção ao céu, deixando
uma paisagem totalmente uniforme. Embora tenha
levado milhares de anos para que um pouco da
camada arável do solo se acumulasse, ela foi levada
embora em questão de minutos. Na esteira de uma
tempestade como aquela, as plantações de trigo
quase da altura de um homem foram completamente
desnudadas. Toneladas de terra acumularam-se em
cercas, construções e rebanhos agonizantes.
A seca duraria uma década. Praticamente 8
toneladas de terra por acre foram perdidas em cada
ano. E o tempo todo fazendeiros como Jeremiah
Clary continuavam pensando que certamente as
chuvas voltariam logo.
Em uma área circular que alcançava cinco
estados, mais de 850 milhões de toneladas de terra
foram perdidas. Um jornalista que passou pela
região descreveu a cena como uma gigantesca dust
bowl [taça de pó]. O nome pegou.
Jeremiah acendeu um lampião enquanto a casa
inteira da família Clary vibrava com o ataque furioso
da tempestade negra. Em algum lugar da estratosfera
acima dele, havia 34 dólares de uma mistura especial
de sementes vermelhas da Turquia que ele havia
plantado uma semana antes. Foram todas
arremessadas na direção do Missouri.
Todas as vezes que cultivava seus campos,
Jeremiah gastava um mês de salário em sementes. E,
depois de cinco anos seguidos sem nenhum ganho, a
situação estava chegando a um ponto no qual ele
não teria mais condições de continuar a manter a
rotina. Ele pensou nas possibilidades de perder tudo
de novo se tivesse coragem de replantar.
Assim como incontáveis fazendeiros na mesma
situação, Jeremiah estava lutando contra uma forma
incomum de ansiedade. Em tempos normais de boas
safras e anos chuvosos, teria parecido absurdo
estocar sementes na época da plantação. Mas, sob a
pressão dos tempos, muitos fazendeiros estavam
sendo acometidos de uma aversão psicológica ao
plantio. E se outra tempestade vier e levar embora
meu investimento... e se todos os meus esforços
forem aniquilados de novo... e se... e se...?
Jeremiah começou a sentir uma estranha ligação
com os sacos de sementes que sobraram. Ele sabia
que as sementes não valeriam nada se continuassem
paradas no celeiro. Mas Jeremiah não conseguia
livrar-se da sensação de que seria melhor deixá-las
lá, protegidas dos “e se” que açoitavam as planícies
com previsibilidade cada vez maior.
Algumas semanas se passaram, e vários outros
fazendeiros começaram a plantar novamente.
Depois de alguns dias, a temporada de germinação
terminaria e outro verão abrasador estaria a
caminho. Jeremiah chegou quase a tremer de
indecisão. Se não plantasse logo, perderia a chance
até mesmo de uma colheita escassa. E até uma
colheita escassa pelo menos reabasteceria seus
depósitos de sementes. Mas, se plantasse, poderia
acabar perdendo tudo. Ele voltou ao celeiro para
verificar mais uma vez as sementes. A ironia era
avassaladora.
Jeremiah Clary não era ganancioso. Mas, sob o
peso da incerteza, aos poucos estava se tornando
irracional.
Abandonando os campos da generosidade

Você e eu vivemos em uma taça de pó. Todos os


dias nos preparamos para a devastação iminente que
pode nos fazer desaparecer do cenário financeiro e
eliminar os nossos depósitos de sementes. Em nosso
mundo, os “e se” manifestam-se em circunstâncias
como redução no ganho após a aposentadoria,
despesas inesperadas e a confusão econômica
mundial. Enfiamos trapos molhados nas fendas da
nossa carteira de investimentos e esperamos dias
melhores.
No meio disso tudo, temos de produzir uma
colheita — uma colheita espiritual. Assim como
Jeremiah Clary, temos um estoque limitado de
sementes financeiras para plantar no Reino de Deus.
Talvez você já tenha sonhado em semear campos
férteis de generosidade. Mas a realidade o ensinou a
ser mais cauteloso. E se eu der exageradamente? E
se não sobrar o suficiente para mim? E se...?
Não somos gananciosos, mas muito semelhantes a
Jeremiah Clary. Sob o peso cada vez maior da
incerteza, é fácil começarmos aos poucos a ser
irracionais a respeito dos nossos bens materiais.
Perdemos de vista quem é o verdadeiro dono desses
bens. Não conseguimos entender como deveríamos
semeá-los no Reino de Deus. E ficamos confusos
quanto ao que realmente deveríamos temer em
relação ao nosso dinheiro nesta vida — como, por
exemplo, enfrentar a eternidade tendo semeado
apenas alguns punhados da nossa riqueza pessoal
para o Reino de Deus.
Não estamos sozinhos. Milhões de cristãos no
mundo inteiro estão paralisados nos trilhos
financeiros em razão dessa ansiedade. É muito
provável que tenham a intenção de ser mais
generosos. Mas, em algum ponto ao longo do
caminho, a incerteza surgiu sorrateiramente e eles se
acomodaram ao status quo: uma versão diluída do
que eles poderiam estar semeando para o Reino de
Deus — se não fosse o medo que sentem.
Nos Estados Unidos, apenas um terço ou talvez
metade de todos os membros da igreja contribui
financeiramente para suas igrejas. Só isso. E dos que
contribuem, apenas 3 a 5% dão 10% de suas
receitas.
Nesse meio-tempo, a riqueza acumulada pelos
frequentadores de igreja tem alcançado níveis
recordes. E, apesar das oportunidades sem
precedentes para o ministério mundial, hoje os
cristãos americanos dão proporcional-mente menos
à igreja do que davam durante a Grande Depressão.
Mesmo aqueles que ofertam são quase sempre
hesitantes e acanhados a esse respeito. Reagem
quando a salva para recolher ofertas é passada ou
quando os cartões de fidelidade de contribuição
estão vencendo. Mas não existe exatamente uma
paixão ardente para aumentar o entendimento que
possuem para alcançar as missões grandiosas de
Deus. É comum os cristãos adotarem uma postura
reativa, não proativa. Eles ofertam com relutância ou
para abrandar sua própria culpa.
Em geral, a reação da igreja tem sido
simplesmente a de aumentar a pressão sobre seus
membros. Os líderes das igrejas criam engenhosas
campanhas para arrecadação de fundos, enviam
correspondências bem elaboradas, colocam grandes
termômetros na frente dos templos e trancam as
portas até que as metas sejam atingidas. Mas, por
baixo de toda essa competição pela fatia do
mercado, penso que existe um problema enraizado
que as igrejas quase sempre deixam passar
despercebido.
Para muitos cristãos, o problema não é que essa
marca não seja visível nas igrejas. Nem que os
cristãos sejam gananciosos demais para contribuir.
Penso que a falta de generosidade entre os cristãos
pode ser atribuída ao nosso antigo medo.
Medo de semear

O medo sempre foi um dos principais inimigos


que impedem o crescimento da fé. Ele tem uma
forma de toldar o pensamento e obscurecer os fatos.
Talvez você saiba exatamente como Deus gostaria
que você administrasse o seu dinheiro, mas o medo
tem o potencial de paralisar você ou o enviar a outro
caminho.
É importante entender que o medo e a fé
costumam andar de mãos dadas. Por natureza,
quando desejamos aumentar a nossa fé,
aumentamos a exposição aos medos. Na verdade, o
medo e a fé convivem paralelamente. A incerteza é
um ingrediente essencial para ambos. Sem o
elemento do desconhecido, não poderia haver fé. É
nesse momento de fé que aprendemos a confiar
menos no que vemos e a confiar mais no que não
vemos. A fé ocupa o vão, ser-vindo de ponte. Mas é
também nesse momento que ficamos mais
vulneráveis ao medo. Muitos cristãos sabem como
deveriam contribuir, mas o medo se intromete antes
que eles possam ligar um lado ao outro do vão com
a fé.
Não é por acaso que a Bíblia aborda essa
condição frente a frente. Não há nenhuma dúvida
quando se trata dos versículos destinados a nos
ajudar a vencer os medos e a aceitar o chamado de
Deus para sermos administradores generosos em vez
de proprietários temerosos. Em Mateus 6.33, Jesus
garante-nos que, quando buscarmos seu Reino em
primeiro lugar com as nossas sementes, não
deveremos ter medo de ficar sem nada:

Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino


de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas
serão acrescentadas a vocês.

Vamos descobrir logo a seguir neste livro que a


natureza de Deus é reabastecer os depósitos
daqueles que se esforçam para serem fiéis
condutores da obra de seu Reino. Quando você
participa com Deus na missão dele, pode confiar
que ele o recompensará abundantemente por todas
as suas boas ações. Quando começar a ver sua
riqueza pela ótica de Deus, você verá que a coisa a
temer não é dar exageradamente, mas semear muito
pouco.
Notas do Capítulo

Nota 1 - Parte do estado de Oklahoma semelhante a um cabo de


panela.[N. do T.] [Voltar]
Capítulo 2
Uma ambição
crescente

P or ser pastor, a minha responsabilidade principal


é encorajar e preparar as pessoas para
intensificarem seu relacionamento com o Pai
celestial. Na verdade, a missão da North Point
Community Church é conduzir o povo a ter um
relacionamento crescente com Jesus Cristo. Mas há
também outro campo de atuação pelo qual sou
responsável dentro dessa mesma área: a
administração financeira. Como cristãos, todos nós
temos a responsabilidade de tirar o máximo proveito
do nosso dinheiro para os propósitos do Reino.
Raramente encontro resistência quando converso
com as pessoas a respeito de investir em seu
relacionamento com um Deus invisível que as ama
incondicionalmente. Mas a luz vermelha se acende
quando insisto para que ofertem seu dinheiro ganho
com muito suor. Os “e se” derramam-se sobre elas
como chuva de primavera, encharcando toda faísca
de entusiasmo que sou capaz de provocar.
Percebo que o fato de eu ser pastor possa dar a
você um motivo para desconfiar d as minhas
intenções. Pode ser que você já tenha tido uma
experiência negativa com um pastor. Quem sabe
tenha sido pior: uma experiência negativa com um
pastor relacionada ao seu dinheiro. A boa notícia é
que não quero o seu dinheiro. Você não encontrará
um envelope com o endereço da minha igreja colado
com fita adesiva no final deste livro.
Além disso, este não é um livro que trata de dar o
dízimo à igreja à qual você pertence. O meu
objetivo ao escrever este livro é libertar você da idéia
de porcentagem e mostrar-lhe um caminho de vida
construído sobre a premissa de que Deus
recompensa aqueles que o buscam e buscam seu
Reino em primeiro lugar. Tão logo essas duas
verdades passarem a ocupar o primeiro plano e o
centro do seu pensamento, o seu medo de dar
desaparecerá. Então, somente então, você estará
livre para experimentar a emoção de dar sem medo.
Nascido para dar

Eu gostaria que todo cristão fosse tão destemido


quanto Milton Scott. Ele foi um homem que ofertou
de modo mais destemido que qualquer outra pessoa
que conheci. O “sr. Milton” misturava-se
silenciosamente à paisagem do lugar onde fui criado.
No entanto, sob a superfície, sua história parecia
uma lenda.
Na época em que morreu aos 106 anos de idade,
Milton Scott tinha vivido muito melhor que dez
homens em média. Nascido em 1895, ele viveu em
três séculos diferentes. Viu a demonstração feita
pelos irmãos Wrights com o primeiro aeroplano.
Assistiu a um desfile do almirante Dewer, herói da
Guerra Hispano-Americana. Comandou a unidade
de soldados negros durante a Primeira Guerra
Mundial e recebeu a mais alta condecoração
nacional da França, a Legião de Honra Francesa.
Teve uma esposa amorosa e quatro filhas. Scott
fazia caminhadas diárias durante a velhice, e, certa
noite, quando se viu frente a frente com um
assaltante que portava uma arma, ele disse ao
bandido que fosse em frente e atirasse porque ele
mesmo não ia cooperar. (O bandido fugiu.) Durante
a vida inteira, ele viu a modificação do sistema de
transporte desde o cavalo e a charrete até a nave
espacial.
Nos negócios, o sr. Milton também teve sua cota
de oportunidades. Na juventude, passou a ter laços
de parentesco com a família Candler, de Atlanta,
porque duas irmãs dele se casaram com dois irmãos
Candler. O sr. Milton observou com indiferença
quando os investidores eram procurados para
comercializar e distribuir uma nova bebida que Asa
Candler estava lançando. Mais, sempre que contava
essa história, ele encolhia os ombros e explicava:
“Não quero nada com esse tal refrigerante chamado
Coca-Cola, fabricado por Asa Candler”.
Milton Scott teve uma vida produtiva. Geriu uma
bem-sucedida indústria têxtil dos 25 aos 102 anos,
quando vendeu a empresa a um conglomerado
britânico. Mesmo depois de afastar-se dos negócios,
ele orava regularmente pela empresa.
Talvez o fato mais notável a respeito do sr. Milton
tenha sido seu fiel compromisso com seu chamado
para trabalhar em prol do Reino. Ele nasceu para
dar. Mais especificamente, sentiu o chamado para
colocar a Palavra de Deus nas mãos de pessoas
ansiosas por assimilá-la. E ele sabia que não havia
alegria maior que encontrar uma nova oportunidade
de financiar uma distribuição da Bíblia; ele chamava
essas distribuições de seus “projetos”.
Para ele próprio, o sr. Milton destinou um modo
de vida muito modesto. Normalmente guardava
quatro ternos, quatro pares de sapatos e meia dúzia
de camisas brancas em seu guarda-roupa. E dirigia
um carro popular americano, que era substituído a
cada dez anos. Morou a vida inteira na mesma casa
que construiu para sua noiva em 1920. Na casa não
havia uma cozinha moderna. Não havia banheira
com hidromassagem. Nem sequer ar-condicionado
até ele completar 90 anos, quando uma enfermeira
passou a morar na casa e pediu um aparelho para
viver com mais conforto.
Em dias normais, o sr. Milton comia bacon no
desjejum e depois se sentava em sua cadeira favorita
e lia a Bíblia durante uma ou duas horas. Em média,
ele lia a Bíblia inteira quatro ou cinco vezes por ano,
um ritmo que manteve até completar 80 anos de
idade. Depois de ler a Bíblia, fazia um curto
percurso a pé até o trabalho, onde cuidava da
fábrica e de sua sala de oração. Gostava de comer
hambúrguer, ver os jogos de futebol do Georgia
Bulldogs e contar anedotas. Equilibrava com
maestria um modo de vida simples com entusiasmo
pela vida.
Diferentemente da maioria das pessoas com
rendas cada vez maiores, o sr. Milton não teve um
padrão de vida elevado. Nem ficava procurando
desajeitadamente uma nota de 20 dólares quando a
salva para recolher ofertas era passada. Para Milton
Scott, financiar a obra do ministério era uma
prioridade. E ele a financiava. Em segredo e sempre
vigilante, ocupava-se da tarefa de dividir seus
ganhos entre as obras de Deus ao redor do mundo.
No decorrer da vida, acumulou uma lista de
realizações que muitas instituições de caridade
sonhavam receber.
Ele colaborou no transporte clandestino de
milhares de exemplares da Bíblia para a Rússia antes
da instalação da Cortina de Ferro. Financiou sozinho
um ministério para preparar prega-dores leigos por
toda a América do Sul. Também sozinho foi um dos
maiores colaboradores que enviaram ajuda ao país
de Bangladesh durante dois anos seguidos. Foi
pessoalmente responsável pela impressão e
distribuição de mais de 30 traduções da Bíblia
Wycliffe. Na China, no Egito, na Índia e na América
Central, e em muitos outros lugares, um grande
número de pessoas teve contato com a Bíblia pela
primeira vez graças à visão e à generosidade daquele
homem. Ele também tomou para si a tarefa de
cuidar dos órfãos e das viúvas, apoiando um
ministério para viúvas e pagando mensalidades da
faculdade para vários estudantes órfãos.
O sr. Milton enviava seus assistentes para
investigar o trabalho interno dos ministérios que ele
estava pensando em ajudar. Assim que Deus
colocava um projeto adequado em sua mesa e
dinheiro em sua conta, ele se dedicava à tarefa de
dar. Era comum chegar a zerar sua conta duas ou
três vezes por ano. Em seus últimos anos de vida,
um sobrinho encarregado de cuidar de seus bens o
avisava quando faltava dinheiro. Todas as vezes que
a conta era reabastecida, ele retomava a tarefa.
O sr. Milton parecia imune aos “e se” que a
maioria de nós teme. Não estou dizendo que não
existiam. Ele viveu durante toda a Grande Guerra.
Sobreviveu à Grande Depressão. Criou uma grande
família. Mas, apesar de todos aqueles acenos para
preocupar-se consigo, ele se encantava tanto na
alegria de dar que não se dava conta das
preocupações. Não tinha um fundo de reserva. Não
acompanhava o mercado de ações. Apenas ofertava
e ofertava.
Em razão de seu compromisso de guardar
segredo durante a vida inteira, ninguém sabe
exatamente quantos milhões passaram por suas
mãos. As estimativas conservadoras sugerem que ele
doou, no mínimo, de 70 a 80% de sua renda. No
mínimo. E o tempo todo manteve um modo de vida
que quase se igualava ao da classe média.
Qual é o limite da sua oferta?

A história de Milton Scott tem uma forma de pôr


as coisas em perspectiva. Deve fazer-nos pensar
duas vezes antes de proferir a esmo palavras como
“generoso” e “autossacrifício”. Alguns o
consideravam radical, mas todos nós concordamos
que ele levava muito a sério o ato de dar.
Antes de prosseguirmos, porém, considere-mos o
assunto do ponto de vista pessoal.
Enquanto estava lendo a história de Milton Scott,
você pensou um pouco no modo em que oferta?
Sentiu-se desafiado? Culpado? Deprimido?
Vou fazer a mesma pergunta que faço a mim
mesmo. Se Milton Scott pôde viver no Sul sem ar-
condicionado enquanto dava a maior parte de sua
renda, qual é a quantia razoável que devemos dar
durante toda a nossa vida?
Você consideraria dar 50% do total de sua renda
para a obra do Reino?
Concordo, talvez o valor seja um pouco alto. Mas
com certeza 30% a 40% do total parece razoável,
não? Isto é, provavelmente você ainda poderia se
dar ao luxo de ter um aparelho de ar-condicionado,
por exemplo.
Que tal 20%?
Ou 10%?
Tenho uma confissão a fazer. Meu propósito
inteiro ao contar a história de Milton Scott foi o de
pôr você à prova. E o desafio que acabo de lançar
também fez parte daquele teste. Agora vejamos
como você procedeu.
Para a maioria de nós, a idéia de dar quantias
exorbitantes do que ganhamos provoca uma
sensação de medo. Quando você é desafiado com a
idéia de dar mais, que tipo de sentimentos
experimenta? Talvez o assunto o tenha forçado a
pensar em algumas formas de aumentar sua oferta:
fazer alguns sacrifícios ou possivelmente algumas
mudanças no modo de vida. Houve alguns sinais de
medo?
Este é um pensamento assustador: E se Deus o
chamasse para ofertar além de seu nível de
conforto? Você sentiria medo? Tentaria justificar-se
ou o consideraria impraticável? E, se nesse meio-
tempo, você perdesse uma oportunidade de colheita
mediante a qual Deus o fez prosperar claramente?
Veja, quando reagimos com medo a um convite
de Deus, perdemos o direito de receber a
recompensa por ser administradores fiéis. Semear
com fé resulta em colheita eterna. Acovardar-se por
medo resulta em campos vazios.
Com o passar do tempo, ficamos tão acostumados
a racionalizar e a contornar esses desafios que nos
tornamos insensíveis a eles. Quando isso acontece, é
fácil desprezar histórias como a de Milton Scott
como se fossem extremos inatingíveis (ou
impossíveis). Nós as colocamos na mesma categoria
das histórias de Madre Teresa, do apóstolo Paulo e
de dezenas de outros exemplos que, segundo
imaginamos, jamais nos igualaremos a eles.
Admiramos aqueles homens e mulheres corajosos,
mas com certeza não temos a intenção de ser como
eles, certo?
Antes de desconsiderar este assunto, pense em
como se sente com a idéia de dar mais. Sente-se
desconfortável? Com medo? Que tipo de
pensamentos passaram por sua mente quando o
desafiei com aquelas porcentagens? Você começou a
preparar uma lista de motivos para explicar por que
não pode dar além de determinado limite? Alguns “e
se” vieram à sua mente?
Todos têm um limite quando se trata de dar. Seja
uma quantia em dólar, seja uma porcentagem, há
alguns níveis de ofertas que são fáceis de alcançar e
outros que nos deixam inquietos. Por mais que você
esteja disposto a dar para o Reino de Deus, mais
cedo ou mais tarde ficará contra a parede. Para
muitos cristãos, a parede é o medo. Enquanto não
reconhecer o medo, você nunca será capaz de
destruir a parede.
Por natureza, o conceito de generosidade está em
conflito direto com o conceito de autopreservação.
Há um ponto no qual sua generosidade criará uma
ameaça direta ao seu bem-estar. A sabedoria
convencional diz que, se não houver algo que
governe a sua generosidade, você acabará na
pobreza. A idéia de não ter o suficiente é uma
realidade para todos nós. Portanto, é natural sentir-
se dividido entre o desejo de compartilhar com
outros e o desejo de nos proteger. Seu coração quer
ser generoso, mas suas emoções registram medo.
Quando se tornou cristão, você se inscreveu em
um sistema econômico completamente diferente.
Quer você perceba quer não, sua identificação com
Cristo dá direito a um plano muito especial de
compensação. Portanto, enquanto o mundo ao seu
redor perpetua a idéia de procurar ser o número um,
Cristo o chama para cuidar dos interesses dos
outros. Na verdade, ele promete tomar conta de
você nesse meio-tempo.
Significa que, quando atinge o limite de sua
oferta, o cristão tem opções que os não cristãos não
têm. O não cristão precisa parar. Se ele não cuidar
de si mesmo, talvez ninguém cuidará. Mas, como
cristão, você não necessita ficar preso a um limite de
medo e autopreservação. Os limites da sua
generosidade não estão prescritos por meros
princípios financeiros. Em geral, dar um passo para
fora da sua zona de conforto não significa
irresponsabilidade descuidada, mas um ato
necessário de obediência.
É natural sentir medo quando você começa a
contribuir fora de como se sente confortável. Talvez
comece a duvidar da sua generosidade. Mesmo que
Deus apresente a você uma oportunidade óbvia de
dar, isso nem sempre é fácil. E, se você não estiver
preparado para esse momento, o medo poderá
atrapalhar a sua capacidade de ser um bom
administrador dos recursos de Deus.
Na verdade, dentre todas as coisas que impedem
os cristãos de sair da zona de conforto, o medo
talvez seja o mais significativo. A ganância também
exerce um papel, claro. Mas penso muitas vezes que
nós deixamos o “e se” se intrometer na maneira em
que gostaríamos de dar. E se a economia for por
água abaixo? E se eu perder o meu emprego? E se
outra guerra começar? E se eu tiver uma despesa
inesperada? E se eu não conseguir pagar as
minhas contas?
Com o tempo, você começa a se acostumar a
justificar as suas oportunidades de dar. O seu
coração torna-se insensível às necessidades ao seu
redor, as necessidades que Deus deseja que você
supra. E o medo é o princípio de tudo.
Destruindo o medo

Na qualidade de pastor, vejo dois tipos de


contribuintes: pessoas que ofertam o que lhes sobra
e pessoas que ofertam primeiro e depois vivem com
o que sobrou.
O primeiro grupo não é ganancioso. Apenas tem
prioridades diferentes. Os que dele participam
acham-se responsáveis por suprir as próprias
necessidades. E a sobra vai para ajudar a obra de
Deus. Você conhece alguém assim?
O segundo grupo considera que tudo pertence a
Deus, inclusive a responsabilidade de suprir as
necessidades diárias. Os que dele participam sentem-
se, portanto, livres para assumir a missão de
administrar os recursos de Deus conforme a
generosidade deles determina. A generosidade é
prioritária, embora eles não ofertem
descuidadamente. Ofertam com critério e sem
esforço.
O problema em dar as sobras é que a nossa
generosidade talvez nunca supere a capacidade que
temos de suprir as nossas necessidades. Se
prosperarmos, haverá algumas sobras. Mas, no
momento em que enfrentamos uma incerteza
financeira, a generosidade passa para o segundo
plano.
Em 2Coríntios 9.7, o apóstolo Paulo diz: “Cada
um dê conforme determinou em seu coração, não
com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem
dá com alegria”. Deus deseja que cada um de nós
contribua com o coração alegre. No entanto, quanto
mais o seu coração estiver ocupado com o fardo de
suprir as suas necessidades, menos ele levará em
consideração os avisos de Deus para ser generoso.
Para as pessoas do segundo grupo, os doadores
generosos, dar em primeiro lugar é uma questão de
lógica. Elas entendem que Deus é dono de tudo e
controla tudo. Sentem-se livres para investir nos
interesses de Deus em primeiro lugar e depois em
suas próprias necessidades. É a coisa racional a ser
feita.
Para os que ofertam as sobras, é sempre uma luta
ser generoso nessa área. Eles ouviram os sermões.
Leram os versículos. Prestaram atenção nos
testemunhos. Mas, de uma forma ou de outra,
continuam resistentes. Eles precisam alimentar a
família, pagar a aposentadoria, e o mercado
financeiro é duvidoso. Portanto, resistem a Deus,
com medo de não conseguir administrar as próprias
responsabilidades financeiras e, ao mesmo tempo,
contribuir para a obra de Deus.
É saudável sentir um pouco de medo, mas
também pode ser perigoso. O medo tem o poder de
nos fazer agir de modo contrário às nossas crenças.
Em essência, o medo pode nos tornar irracionais.
Eu pergunto: não é racional confiar o seu dinheiro
a Deus, uma vez que tudo pertence a ele? E não é
racional confiar a Deus algo que está fora do seu
controle? Então, não é irracional confiar o nosso
destino eterno a Deus, e mesmo assim recusar o
convite dele para gerir o nosso dinheiro?
O medo tem uma forma de torcer a verdade.
O momento da verdade

À medida que você segue adiante no


relacionamento com Deus, de vez em quando ele o
põe à prova para saber até que ponto você resiste a
colocar a mão no bolso. É uma questão de fé. Não
acontece toda semana nem todo mês. Mas com
muita frequência Deus o incentivará a sair da zona
de conforto com respeito à generosidade. Se deseja
mesmo que Deus controle o seu dinheiro, você
precisa seguir a orientação dele. Há uma linha que
você precisa estar disposto a atravessar. Você precisa
estar disposto a chegar a um ponto no qual não
poderá confiar em sua pilha de dinheiro, mas
somente em Deus como provedor. Não estou
falando de agir irresponsavelmente com o dinheiro.
Estou falando de uma atitude na qual a voz de Deus
soa mais alto que a trilha sonora dos “e se” da sua
vida.
Pense nessa linha como se fosse a linha do “e se”.
Você saberá que está chegando perto dela quando o
desejo de seguir a sua generosidade se chocar com
pensamentos como estes: E se a taxa de juros
mudar? Ou: E se a inflação aumentar?
Conforme dissemos, essa linha não é igual para
todos. Por exemplo, 10% tem sido sempre
razoavelmente fácil para mim. Fui ensinado a dar o
dízimo da minha primeira mesada quando criança,
portanto não é um esforço muito grande. Para mim,
ser dizimista está dentro da minha zona de conforto.
Eu poderia ser dizimista a vida inteira sem chegar
perto do limite do medo ou de ter de lidar com a
questão de quem é proprietário dos meus bens e
quem me fornece o sustento todos os dias. Mas, ao
longo da minha vida, houve momentos de definição
nos quais fui desafiado a dar mais e além da minha
contribuição normal. Cada vez que enfrentei um
desses desafios, senti medo.
O medo faz parte normal da vida de qualquer um
que queira crescer na fé. Há sempre um traço de
grande preocupação quando você chega perto da
beira do precipício. Naquele momento de incerteza,
quando você põe o seu futuro financeiro nas mãos
de um Deus invisível, é natural sentir um frio no
estômago.
Mesmo quando preparamos o coração para ouvir
os lembretes do Espírito Santo, nem sempre é fácil
obedecer. A primeira vez que fui desafiado a dar
mais e além do que costumava, estava no primeiro
ano do ensino médio. No culto de um domingo à
noite, uma jovem aluna do curso de enfermagem foi
à frente para fazer um pedido de oração ao pastor, o
meu pai. Depois de um diálogo inaudível, meu pai
falou em tom de voz mais alto que a música.
Embora não fosse comum para o culto de uma noite
de domingo, Deus pôs no coração do meu pai que
ele deveria contar a situação da jovem à
congregação. Ela precisava de dinheiro para pagar as
mensalidades da faculdade.
Assim que o meu pai contou a história da jovem,
senti um cutucão interno de que eu deveria dar 100
dólares a ela.
Essa quantia talvez não pareça tão alta nos dias de
hoje. Mas, para um aluno do ensino médio em
1975, era muito alta. Eu ganhava 2,90 dólares por
hora para limpar o departamento de refeições na
Winn-Dixie, tentando economizar um pouco para
comprar um carro. Sem mencionar que já estava
dando o dízimo daquele valor. Portanto, a idéia de
me desfazer de 100 dólares em um ato de
generosidade era o mesmo que saltar de um
precipício.
A tensão foi enorme. Por um lado, eu queria ser
generoso. Mas, por outro, estava com medo.
A princípio, tentei dizer a mim mesmo que estava
apenas tendo um “ataque de generosidade”. Você
sabe o que é ataque de generosidade? É como se
sente quando ouve histórias de pessoas morrendo de
fome na África ou de crianças sem-teto na periferia
da cidade. A maioria dos ataques de generosidade
não é muito ameaçadora. A necessidade financeira
está quase sempre tão distante que não imaginamos
fazer parte da solução do problema. É seguro sentir
um pouco de compaixão sem o perigo de pôr em
risco a nossa qualidade de vida.
No entanto, aquele ataque de generosidade estava
bem na minha frente. E estava prestes a me custar
um mês de pagamento. Os “e se” começaram a
encher a minha mente mais rápido do que eu
conseguia processá-los. E se eu nunca conseguir
comprar aquele carro? E se precisar do dinheiro
para outra coisa? E se eu mudar de idéia mais
tarde? E se estiver sendo levado apenas pela
emoção?
Havia algo muito direto e proposital a respeito da
idéia de dar o dinheiro a ela. Tive certeza de que era
o que Deus desejava. Mas, ao mesmo tempo, havia
algo muito real a respeito dos meus medos.
No final, dei o dinheiro a ela. O medo não
desapareceu completamente. Mas, por um motivo
qualquer, decidi entregar todos os meus medos e
dizer: “Deus, não quero ser impulsivo, mas não
quero que o medo se intrometa no caminho de
seguir a tua vontade quando deres um aviso ao meu
coração. Não estou totalmente confortável ao dar
este dinheiro, mas estou muito desconfortável em
não o dar”.
Não sei se os meus 100 dólares fizeram diferença
para aquela aluna de enfermagem. Mas sei que
fizeram grande diferença para mim. Aquele
momento de confiar em Deus diante do medo
financeiro é um exemplo ao qual volto repeti-das
vezes enquanto sigo Deus como bom administrador
ao longo dos anos. Foi um momento de definição na
minha fé. Não me lembro de ter gasto 100 dólares
de uma só vez no ensino médio. E com certeza não
tenho nada a falar sobre outras quantidades que
gastei. Mas nunca me esquecerei de submeter-me
aos avisos de Deus para dar.
O fator medo

Se você for generoso por muito tempo, cedo ou


tarde ficará frente a frente com o medo. Por mais
assustador que seja às vezes, Deus nos dá a semente
financeira com um propósito: semear. Se não
abrirmos a mão e não deixarmos a semente voar,
nunca saberemos que fruto Deus produziria por
meio dela.
Não sei como Milton Scott lidou com o medo.
Mas, com base na minha experiência, sei que o
medo é um teste constante de fé para você viver
com a mão aberta em relação ao dinheiro, dar com
liberalidade e confiar em que Deus reabastecerá o
seu estoque de sementes.
Ao longo da minha vida, enquanto me debato
com o desejo de abrir a mão, descobri que não estou
sozinho. Tenho conversado com centenas de
pessoas que também desejam fazer diferença no que
se refere aos bens materiais. Assim como eu, todas
fazem estas mesmas perguntas: Como posso
participar daquilo que Deus deseja fazer
financeiramente no mundo? E quanto essa
participação me custará? A luta entre o medo e a
generosidade é tão real que quase vemos a batalha
da luta interna.
Para solucionar essa tensão, precisamos mudar
nossa idéia de posse. Quem é o verdadeiro dono dos
nossos bens materiais? E quem decide o que deve
ser feito com o seu dinheiro? Se você acredita que
tudo pertence realmente a Deus, então não tem nada
a temer. Se Deus é a fonte de toda a riqueza e
controla as entradas e saídas do seu dinheiro, não há
nenhum motivo para não dar.
Se, porém, você incluir Deus nas suas finanças,
terá de submetê-las ao controle dele. E isso significa
responder ao chamado da generosidade. Quando
chegar ao ponto de entregar o controle a Deus, você
conhecerá o tipo de generosidade que ele tem em
mente. Na verdade, o exemplo de generosidade
apresentado por Jesus foi o da viúva que ofertou a
última moeda que possuía (v. Marcos 12.42-44). Ela
não podia contar com mais nada, a não ser com a
promessa de Deus de suprir suas necessidades.
Sinceramente, eu me sentiria muito mais à vontade
se histórias como essa não fossem a exigência
conclusiva dos Evangelhos. É preciso coragem para
pensar com mais calma a fim de assimilar seu
significado. Mas, quando fazemos isso, há pouco
espaço para interpretações erradas. Deus não deseja
que a nossa generosidade seja limitada pelo medo.
Deus planta a pergunta na vida de cada pessoa:
“Você confia em mim?”. Confiar em Deus
financeiramente significa experimentar paz e
contentamento por sentir a emoção de participar da
missão financeira dele para o mundo. Confiar nas
nossas economias significa sentir ansiedade e
angústia por não aceitar um dos convites principais
da vida.
O perigo de não cruzar a linha, seja onde for que
você estiver, é deixar Deus fora de suas finanças.
Dizer não Deus nessa área é equivalente a dizer que
você não deseja a participação dele nos assuntos
relacionados aos seus bens materiais — e, em última
análise, ao seu coração.
Talvez Deus não o tenha chamado a contribuir
em proporção equivalente a Milton Scott. Mas será
que Deus não o incentivou a chegar a um nível de
generosidade que o fez sentir-se um pouco
desconfortável? Será que o medo o impediu de
seguir Deus e colaborar financeiramente com seu
Reino? Será que você vai chegar ao fim da vida sem
nunca ter certeza disso?
Passe um tempo em oração para saber onde está
esse nível. Mas, se realmente quiser vencer o medo
e experimentar a alegria desenfreada da
generosidade, prepare-se para enfrentar um
princípio e uma promessa que poderão mudar a sua
vida para sempre.
Capítulo 3
Trocando de lugar

B illy Ray Valentine fez um curso rápido de


administração do dinheiro. Ele era o fictício
mendigo de rua no filme Trocando as bolas cuja má
sorte foi revertida da noite para o dia. Os irmãos
milionários Randolph e Mortimer Duke imaginaram
que poderiam pegar um arruaceiro desprivilegiado
como Billy Ray e transformá-lo em uma parte
produtiva de seu império de investimentos. Deram-
lhe roupas novas, casa nova, uma limusine com
motorista, um mordomo e uma posição de prestígio
na empresa deles.
A princípio, Billy Ray não entendeu. Quando os
irmãos Duke o levaram para dar um passeio em sua
nova residência na parte alta de Filadélfia, Billy Ray
estava secretamente desconfiado de que a esmola
era grande demais. Randolph tentou explicar que o
lugar inteiro lhe pertencia. Mas Billy Ray viu a
situação de forma diferente, porque vinha de um
mundo dominado pelo medo de não ter dinheiro.
Receava que, se não agarrasse a oportunidade de
conseguir o necessário para viver, poderia passar
fome. E as explicações dos irmãos Dukes sobre
toucinho de porco e futuros bens de consumo não
foram entendidas por ele. Billy Ray estava
concentrado em qualquer grana na qual conseguisse
pôr as mãos: charutos cubanos, punhados de
chocolate e bugigangas folheadas a ouro que
pudessem ser trocadas na loja de penhores. Essa era
a única forma de comércio que ele conhecia.
Com o tempo, Billy Ray caiu na conversa dos
irmãos. Começou a confiar no que os Dukes
estavam dizendo e se deu conta de que não
precisava mais ter medo de passar fome. Logo
depois, deixou de pensar em suas necessidades
básicas e concentrou-se na tarefa de cuidar dos
assuntos da Duke and Duke. Assim que sua
perspectiva mudou, Billy Ray tornou-se um
funcionário valioso.
Não consigo deixar de pensar que muitos cristãos
são muito semelhantes a Billy Ray Valentine. Deus
deseja entregar vastas porções de seu império para
cuidarmos. Não para nosso consumo pessoal, mas
para serem semeadas na obra do Reino. Ele deseja
administradores competentes para lidar com seus
assuntos, distribuir sua riqueza e divulgar sua
mensagem.
Será que entendemos realmente?
As estatísticas sobre as nossas ofertas sugerem
que não. Estamos cercados das vastas riquezas de
Deus e de suas numerosas promessas de que ele
supre todas as nossas necessidades. Ele nos deu uma
tarefa simples: ser bons administradores de seus
recursos, potencializar sua riqueza em favor do
Reino. Mas, de uma forma ou de outra, parece que
não entendemos. Da mesma maneira que Billy Ray
Valentine, enchemos os bolsos de cada moeda extra
que Deus nos dá. Viemos de um mundo no qual a
pobreza é perder o emprego ou fazer um mau
investimento. Aprendemos a ter medo. Em geral,
estamos mais preocupados com a próxima refeição,
a prestação da casa própria ou o plano de
aposentadoria que investir no Reino. Assim, sempre
que Deus nos abençoa com mais do que
necessitamos, vemos essa bênção como uma
oportunidade de assegurar o futuro ou garantir a
próxima refeição, embora Deus tenha a intenção de
que seja uma oportunidade para darmos mais.
Com o tempo, a generosidade quase sempre é
passada para segundo plano. Em vez de ser a nossa
tarefa principal, é algo de que lembramos somente
quando sobra dinheiro. Nossa generosidade torna-se
limitada pela quantidade de dinheiro extra que
acumulamos em dado momento. Esse é o retrato da
generosidade cautelosa, uma generosidade devastada
pelo medo.
O conceito de dar sem medo talvez seja novo
para você, mas existe há muito tempo. Um dos
melhores exemplos de generosidade provém de uma
igreja no século I.
A lei da colheita

Em sua segunda carta aos cristãos de Corinto,


Paulo elogia a igreja por sua generosidade para com
os cristãos de outra cidade.
No entanto, ao perceber a tensão natural entre
generosidade e medo, Paulo aproveitou a
oportunidade para fortalecer a confiança deles,
fazendo-os lembrar das condições da nova posição
que ocupavam como administradores no Reino de
Deus. No processo, ele nos fornece constatações
valiosas para o novo relacionamento entre as nossas
necessidades, entre as necessidades dos que nos
rodeiam e entre o Deus cuja missão é suprir tanto
umas quanto outras.
Essa passagem é crucial para você entender a
reação de Deus à sua oferta. Ela nos mostra os
bastidores do mundo do Pai celestial. Ressalta o que
vai fazer no seu mundo e como deseja que você
participe com ele.
Lembrem-se: aquele que semeia pouco,
também colherá pouco, e aquele que semeia
com fartura, também colherá fartamente. Cada
um dê conforme determinou em seu coração,
não com pesar ou por obrigação, pois Deus
ama quem dá com alegria. E Deus é poderoso
para fazer que toda a graça lhes seja
acrescentada, para que em todas as coisas, em
todo o tempo, tendo tudo o que é necessário,
vocês transbordem em toda boa obra. Como
está escrito:

“Distribuiu, deu os seus bens aos


necessitados;
a sua justiça dura para sempre”.

Aquele que supre a semente ao que semeia e


o pão ao que come, também lhes suprirá e
multiplicará a semente e fará crescer os frutos
da sua justiça. Vocês serão enriquecidos de
todas as formas, para que possam ser
generosos em qualquer ocasião e, por nosso
intermédio, a sua generosidade resulte em ação
de graças a Deus (2Coríntios 9.6-11).

A passagem nos mostra três constatações que nos


podem ajudar a entender o que Deus deseja de nós
na área da contribuição financeira e por que nossos
medos são infundados.
1ª constatação: A lei da colheita aplica-se às suas
finanças

[...] aquele que semeia com fartura também


colherá fartamente.

A primeira constatação que Paulo revela é que a


lei da colheita, o princípio da semeadura e da
colheita, aplica-se à sua oferta. Essa simples
observação é capaz de revolucionar a sua idéia sobre
generosidade. Paulo está dizendo em essência que
aqueles que ofertam generosamente receberão um
retorno pela participação. Além disso, há uma
correlação direta entre quanto você oferta e quanto
recebe de volta. Quanto mais você semear, mais
colherá. Parece um pouco arriscado dizer isso, mas
creio que Paulo está sugerindo que a quantia
confiada a você durante toda a sua vida quase
sempre depende do modo que você administra o que
já recebeu. Se você contribuir conforme deve, Deus
dará mais.
Vamos encarar os fatos. Esse princípio tem sido
levado a todos os tipos de extremos. Algumas
pessoas interpretam mal essa passagem para obter
ganhos pessoais. Todos os tipos de promessas
extravagantes são apresentados: “Envie-me 1 dólar,
e Deus dará a você 10 de volta”. E muitas pessoas
se decepcionam porque esperavam se enriquecer
com esse princípio.
Paulo não estava falando a pessoas que queriam
se enriquecer. E não estava tentando extrair dinheiro
delas. Paulo já tinha o dinheiro. Estava
simplesmente explicando como Deus deseja que os
homens e as mulheres fiéis ajam como condutores
para distribuir sua riqueza ao redor do mundo. Não
para ganho pessoal, mas para o progresso do Reino.
Paulo estava encorajando aqueles que queriam
superar o medo de dar para cruzarem a linha da
generosidade sem limites. E Paulo deseja que
saibamos que é seguro obedecer a Deus e ser bons
administradores.
Há uma boa notícia para os doadores relutantes.
Quando você oferta algo valioso, há uma sensação
de perda. Você tinha algo. Agora não tem. E isso
pode ser um tremendo desincentivo para dar mais.
Paulo, porém, entende esse conceito sob uma óptica
completamente diferente. Ele diz que dar para a
obra de Deus não é jogar alguma coisa fora. É um
investimento, não uma perda. O fazendeiro que
semeia não perde a semente. Ele ganha uma
colheita.
Que fazendeiro com bom senso diria: “Estou com
medo de semear porque não vou ter as sementes de
volta. O que acontecerá se eu perder esta semente?”.
Todo fazendeiro sabe que, se deseja uma colheita,
precisa semear. Ele não ganhará nada se tiver os
bolsos cheios de sementes. Nem ganhará nada se
orar: Ó Deus, dá-me uma colheita. Não tenho
certeza se estou pronto para semear, mas, Deus,
confio que me ajudarás. E estou guardando a
minha semente por precaução.
Esta é uma ótima notícia para quem tem medo de
dar em razão de insegurança financeira. Sugere que
a atitude mais sábia que devemos tomar
financeiramente é começar a semear nossa semente
financeira. Quando agimos assim, Deus se envolve
com o nosso dinheiro. Em termos financeiros, esse é
o lugar mais seguro em que podemos estar. Se você
nunca foi um doador generoso, provavelmente
nunca viu essa obra em sua vida. Não é de admirar
que se sinta inseguro.
Paulo, contudo, diz que qualquer um que esteja
disposto a semear grandes punhados de sementes
pode esperar uma bela colheita de volta. Trata-se de
um princípio. Quando ofertamos, Deus nos devolve
mais do que demos, para nos entregar mais nesta
vida, o que, por sua vez, nos capacita a dar mais. E
o ciclo continua.
2ª constatação: A oferta alinha a sua vida com os
planos de Deus

[...] “Distribuiu, deu os seus bens aos


necessitados; a sua justiça dura para sempre”.

Uma coisa é dar porque isso nos faz sentir bem


ou porque teremos Deus ao nosso lado em termos
financeiros. São motivações admiráveis, mas há
outra razão mais gratificante ainda que as
mencionadas. Paulo fala dela em 2Coríntios citando
uma obscura referência ao salmo 112:

“Distribuiu, deu os seus bens aos


necessitados; a sua justiça dura para sempre”.

À primeira vista, você pode estar questionando:


Por que Paulo incluiu esse versículo? Que relação
ele tem com o assunto? Os estudiosos têm várias
opiniões a respeito da intenção de Paulo. Mas,
mesmo sem uma análise profunda, há um ponto
básico e importante que podemos extrair dessa
passagem. Paulo está lembrando aos coríntios o
compromisso de Deus de distribuir seus dons e
cuidar dos pobres. Em outras palavras, Deus tem
um plano para este mundo. E, quando nos
envolvemos com ele dessa maneira, estamos
assumindo o nosso lugar em um plano muito maior
que a nossa vida e que o nosso punhado de
sementes. Estamos participando do plano
providencial de Deus para o mundo.
Deus se preocupa com os pobres e com a Grande
Comissão. Essa é a essência dele. Deus prometeu
cuidar dos pobres e prometeu que o mundo será
evangelizado. E está comprometido com esses
objetivos. Mas eles custam dinheiro. A verdade é
esta: Deus tirará o dinheiro de algum lugar, mas
prefere fazer parceria com seu povo para realizar a
obra. E está à procura de administradores confiáveis
que participem voluntariamente com ele, usando um
pouco de seu dinheiro para financiar os interesses
dele.
Então o que temos a temer? Por que Deus haveria
de querer retirar seus recursos para realizar a obra
que ele se comprometeu a fazer e deixar você sem
dinheiro? Em outras palavras, se você é parceiro de
Deus nessa obra, por que ele atrapalharia a sua
capacidade de colaborar com as coisas que são a
paixão do coração dele: os pobres e o ministério
divino?
Deus vai realizar o que deseja com ou sem a
nossa ajuda. Mas ele nos convida a ser parceiros
dele. E, quando aceitamos o convite, a nossa vida
passa a ter um significado totalmente novo.
3ª constatação: Bom serviço resulta em negócio
garantido

Vocês serão enriquecidos de todas as formas,


para que possam ser generosos em qualquer
ocasião [...].

Finalmente, Paulo faz uma promessa audaciosa.


Com toda a sinceridade, fico um pouco sem jeito ao
lidar com esse versículo em razão das muitas
maneiras erradas pelas quais foi interpretado no
passado. No entanto, é uma parte importante da
perspectiva de Deus sobre a oferta, e não podemos
desprezá-la.
Paulo explica desta maneira: “E Deus é poderoso
para fazer que toda a graça lhes seja acrescentada,
para que em todas as coisas, em todo o tempo,
tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem
em toda boa obra” (v. 8).
Como se não ficasse claro o suficiente, ele repete:
Aquele que supre a semente ao que semeia e
o pão ao que come, também lhes suprirá e
multiplicará a semente e fará crescer os frutos
da sua justiça. Vocês serão enriquecidos de
todas as formas, para que possam ser
generosos em qualquer ocasião e, por nosso
intermédio, a sua generosidade resulte em ação
de graças a Deus (v. 10,11).

Paulo não poderia ter sido mais explícito. Quando


somos fiéis e contribuímos generosamente,
realizamos uma boa obra para Deus. Como
resultado, ele nos devolve ainda mais. Quando
desejar distribuir de novo no futuro, ele se lembrará
de nós como parceiros competentes. Se um
restaurante presta bom serviço, os negócios estão
garantidos. O mesmo se aplica aos bons
administradores. Deus deseja dar recursos a você,
para que invista esses recursos na obra dele. E, se
você semear generosamente, Deus dará muito mais.
Além disso, Deus tem um cuidado especial com
os administradores fiéis. Se você trabalhar em
parceria com ele, receberá tudo de que necessita e
exatamente quando necessitar. É o que ele oferece.
Mas não significa que você deva sair por aí fazendo
compras exageradas. Essa não seria uma boa
administração. Significa que ele suprirá fielmente as
suas necessidades.
Riqueza verdadeira é ter tudo de que você
necessita quando necessita. E Deus é capaz de dar
todas as coisas, o tempo todo — tudo de que você
precisa.
Isso, então, deveria acabar com todos os seus
medos a respeito de dar. Na verdade, há apenas uma
coisa da qual devemos ter medo quando se trata de
dar: deixar de confiar em Deus a ponto de excluí-lo
da sua vida financeira. A pergunta que você deve
fazer é esta: Quem é mais competente para suprir
as minhas necessidades, eu ou Deus? O dinheiro na
poupança não o ajudará. O seu patrão ou a sua
herança não pagarão as suas contas. Mas Deus é
poderoso e está disposto a fazer isso por você. Se
você for generoso, ele o tornará rico, para que
continue a ser generoso. Mas ele quer que você
invista primeiro em seu Reino. Não para obter dele
o que você necessita, mas porque você deseja
sinceramente ser generoso no serviço que presta a
ele.
Essa é uma descrição de dar generosamente. Um
autor descreveu da seguinte forma essa promessa:
“A honra é permanente, a recompensa é eterna, e ele
(o doador) continuará a viver com conforto e a
ofertar liberalmente a outros”.[Nota 1]
Um salto no escuro

Quando fundamos a North Point Community


Church, estávamos em uma situação na qual
precisávamos levantar 1 milhão de dólares em
quatro meses para começar o projeto de construção.
Comecei, então, a orar para saber como a minha
esposa, Sandra, e eu poderíamos contribuir da
mesma forma que todos os outros. Foi então que
tive uma idéia maluca: não receber nenhum salário
da igreja durante os quatro meses de arrecadação de
fundos. É claro que, assim que tive aquele
pensamento, eu quis dizer: “Está bem, Deus, mas
falando sério...”. Contudo, depois de conversar
sobre o assunto com Sandra, tivemos certeza de que
era o que deveríamos fazer. Além do mais, achamos
que precisávamos contar à congregação, e isso
significava que não poderíamos voltar atrás depois
de dar o pontapé inicial.
Após o primeiro mês sem salário, recebi uma
ligação e um convite para falar em uma pequena
reunião para homens no Tennessee. Não costumo
aceitar esse tipo de compromisso. Mas o pedido
partiu de um amigo e, sinceramente, eu precisava de
um pouco de dinheiro. Decidi ir. Após o evento,
esperei que alguém me entregasse discretamente um
envelope e me agradecesse pela participação. Mas
ninguém me entregou nada. Fiquei surpreso e um
pouco decepcionado, mas não era a primeira vez
que aquilo acontecia, por isso não dei muita
importância ao assunto. Uma semana depois, recebi
uma carta de agradecimento, acompanhada de um
cheque de 5 mil dólares. Chocado e um pouco
desconfiado de que eles poderiam ter ouvido falar
da minha situação e do meu compromisso em não
receber salário, liguei para lá a fim de descobrir.
Como era de esperar, eles nem sequer sabiam que
estávamos tentando levantar dinheiro. Foi como se
Deus tivesse estendido a mão sobre o país e
coordenado as coisas para canalizar aquele dinheiro
na minha direção. Mas a quantia ainda não chegava
a quatro meses de meu salário.
Foi então que outro fato inusitado aconteceu. No
fim do ano, o meu contador me informou que havia
examinado as minhas antigas devoluções de imposto
e achava que o governo me devia dinheiro. A
princípio, achei engraçado e ri. Em seguida, ele me
contou qual era a quantia. Conforme ele explicou,
eu vinha pagando mais imposto do que devia desde
a minha ordenação como pastor, ou seja, durante
toda a minha carreira. E, apesar de o contador ter
conseguido documentação para apenas quatro anos,
acabei recebendo um enorme reembolso da Receita
Federal naquele ano. Para encurtar a história, o
valor que recebi daqueles dois incidentes
improváveis foi o equivalente a quatro meses de
salário — e um adicional de 7 mil dólares!
Algumas pessoas podem pensar que eu receberia
aquele dinheiro de qualquer forma. Não foi como se
ele tivesse crescido misteriosa-mente em uma árvore
no meu quintal. Veio por canais razoavelmente
lógicos. Mas quer saber? Estou convencido de que
veio de Deus. Para mim, não foi coincidência que o
meu contador só tivesse descoberto naquele ano que
eu havia pagado imposto a mais durante tanto
tempo. E também não foi coincidência eu ter
recebido quatro vezes mais do que sempre recebia
como palestrante. Da maneira que vejo, lançamos a
semente para o Reino de Deus e, como resultado,
Deus decidiu entregar mais ainda na nossa mão.
Pegamos esse dinheiro e o esbanja-mos com
prazeres pessoais? Não, nós o tratamos como Deus
o trata, e o administramos apropriadamente, e assim
por diante.
Na realidade, casos como esse têm acontecido
com tanta frequência na nossa família que, quando
se trata de dar, chegamos quase a esperar por eles.
Sandra e eu aprendemos que o nosso punhado de
sementes nunca é grande demais, porque Deus está
sempre à procura de pessoas que forneçam recursos
para seu Reino. E por que ele faria essa fonte
cessar?
Eu não contribuo para o Reino com a finalidade
de me enriquecer. Já sou rico. Possuo dois carros e
uma casa onde morar. Para pessoas de muitos
lugares ao redor do mundo, sou um homem rico.
Contribuo para o Reino porque sou cristão, e Deus
deseja que eu seja um bom administrador. A minha
experiência é que Deus sempre se revela de formas
extraordinárias todas as vezes que respondo ao
chamado para pôr a mão no bolso.
Sem medo

O medo está impedindo que você seja generoso?


Você oferta as sobras porque tem medo de não
conseguir pagar as suas contas? Já pediu a Deus que
forneça um plano para você administrar o dinheiro
que recebe dele? Um dia, como cristão, você
precisará disso. Precisará pegar um punhado grande
de sementes e dizer: “Deus, eu me preocupo muito
com dinheiro, por isso estou te convidando para
cuidar das minhas finanças. Quero ter certeza de
que estarás envolvido tanto nos tempos bons quanto
nos maus”.
Você está pronto para trocar o que possui por
algo mais valioso e assumir a posição que Deus está
oferecendo a você como bom administrador? Está
preparado para deixar o medo para trás e beneficiar-
se da lei da colheita, convidando Deus para
envolver-se na sua vida financeira? O dinheiro é, em
geral, a última porta que abri-mos para Deus,
porque achamos que ele representa segurança. Mas,
se você quer realmente ter segurança financeira,
precisa envolver Deus nesse assunto o mais rápido
possível. Quanto mais cedo começar a semear, mais
cedo colherá. Trata-se de um princípio no qual você
pode confiar.
Notas do Capítulo

Nota 1 - Matthew Henry’s Commentary on the Whole Bible:


New Modern Edition, Electronic Database. Peabody,
Mass.: Hendrickson, 1991. [Voltar]
Capítulo 4
O novo acordo

E nquanto tratamos dessa idéia de “envolver Deus


na sua vida financeira”, vamos parar um pouco
para explicar exatamente o que ela significa. Ao
sugerir que podemos envolver Deus na nossa vida
financeira, estou sugerindo também que podemos
deixá-lo de fora. Se queremos andar em campos
dourados um dia, precisamos que Deus esteja
conosco em cada passo do caminho, trazendo a
chuva e o calor do sol para transformar sementes
adormecidas em caules dourados de colheitas
produtivas.
A verdade é esta: Deus pode estar sentado na
lateral do campo, observando você lutar com as
finanças, ou pode estar ativamente envolvido como
sócio financeiro. Tudo depende do tipo de
administrador que você é. Não estou dizendo que
Deus é um gênio que dará o que você desejar se
você pronunciar as palavras mágicas. Nem que ele
nunca permitirá que você enfrente dificuldades
financeiras se fizer tudo o que é “certo”. Mas o seu
dinheiro é outra área da vida na qual você pode
começar a experimentar um relacionamento
interativo com seu Pai celestial. Basta que você o
convide.
Antes de tudo, penso que você acredita que Deus
pode intervir diretamente para mudar a sua situação
financeira. Veja por que penso assim. Por ser pastor,
tenho tido muitas oportunidades de aconselhar
pessoas com problemas financeiros. E nunca ouvi
ninguém orar assim:

Deus, como sabes, eu me afastei de ti


durante todos esses anos e segui os meus
planos sozinho. E, claro, estou envolvido
nesta catástrofe financeira, mas continuo
seguindo os meus planos porque ainda penso
que poderão dar certo. Vou continuar a me
virar sozinho e, assim, poderás ajudar outra
pessoa.

Não. Quando chegamos ao fundo do poço,


queremos de repente que Deus se envolva na nossa
vida financeira. Queremos desesperada-mente.
Deixamos de gostar de cuidar do nosso dinheiro,
mudamos de estratégia e começamos a pensar em
como convencer Deus a vir em nosso socorro. Você
já chegou a esse ponto?
Quando chegar, as suas orações serão mais ou
menos assim: Oh, Deus, socorre-me! Por favor,
envia-me um pouco de dinheiro. Faze alguma
coisa! Qualquer coisa!
Chega então o momento em que você concorda
em reconhecer que Deus controla tudo. De repente,
deixa de sentir vergonha de pedir-lhe que faça o que
você sempre soube que ele é capaz de fazer: colocar
um pouco de dinheiro aqui ou levar algumas
pressões financeiras para longe. Nesse momento,
você está completamente convencido da diferença
que Deus pode fazer nas suas finanças.
Não preciso convencer você de que Deus governa
toda a riqueza do mundo. Penso que concordamos
nesse ponto.
E, se esse for o caso, então o que nos impede de
pedir a Deus que se envolva neste momento, antes
de chegarmos ao fundo do poço? Se sabemos com
certeza que Deus é capaz de intervir diretamente na
nossa vida dessa maneira, o que estamos esperando?
Você acha que não faz sentido nos posicionar para
receber a intervenção direta dele o mais rápido
possível e com a maior frequência possível? Ou essa
idéia ainda o assusta um pouco?
Talvez fosse melhor você saber com certeza
quando Deus esteve envolvido e quando não esteve.
O que aconteceria com o seu medo se soubesse que
o mesmo Deus que controla as riquezas do Universo
toma conta de você, canalizando cuidadosamente a
quantidade perfeita de provisão para suprir cada
uma das suas necessidades?
Mais que uma sensação

Quero iniciar com uma palavra de cautela: essa


sensação não vai ser boa. Pense neste aviso sincero.
O que vou dizer a você vai colidir frontalmente com
os seus instintos naturais. É contrário ao bom senso,
diretamente oposto ao que você pensa que deveria
fazer. Se você vai envolver Deus na sua vida
financeira, precisa entender que haverá momentos
em que nem tudo será 100% confortável. Nem
50%. Você vai ter de estar disposto a confiar em
algo além da sua coragem, simplesmente porque a
sua coragem não é um bom medidor.
Lembre-se: o medo e a incerteza nos tornam
irracionais. E, quando reagimos com medo, quase
sempre acabamos tendo atitudes muito irracionais e
destrutivas em termos financeiros. Além do mais,
uma vez que o dinheiro é um assunto emocional,
ficamos especialmente vulneráveis a ter pensamentos
irracionais quando se trata do nosso dinheiro. Por
isso é muito importante basear as suas decisões
financeiras na verdade, não no instinto. Você nunca
aconselharia alguém a comprar ações de uma
empresa só porque acha certo. Primeiro examinaria
os índices de preço/rendimentos e quanto ganharia
em cada ação.
Da mesma forma, você deve ser cuidadoso para
não permitir que a sua teologia financeira seja
corrompida pela emoção. Se decidirmos deixar Deus
de fora porque “não parece certo”, a nossa oferta se
baseará na emoção, não na verdade. Esse tipo de
pensamento irracional impedirá que você convoque
o Deus do Universo para envolver-se nas suas
finanças. Não parece o mesmo que ter medo de
chamar a polícia para salvar você de um assaltante
porque a polícia também porta armas? Ou não
consultar um médico porque você tem medo de que
ele aplique uma injeção, uma injeção que poderia
salvar a sua vida? No entanto, quando não
permitimos que Deus faça parte da nossa vida
financeira, distanciamo-nos da única pessoa no
Universo com capacidade para eliminar
definitivamente os nossos medos a respeito de
conseguir pagar as despesas. É como dizer: “Vou me
proteger financeiramente deixando Deus de fora e
fazendo questão de que ele não se envolva na minha
vida financeira”.
Esse modo de pensar, meu amigo, é
completamente irracional.
Mande as suas preocupações embora

Se você pudesse perguntar pessoalmente a Deus a


respeito de cada uma das suas preocupações
financeiras, não gostaria de saber o que ele diria?
“Deus, e se não pudermos comprar
mantimentos?”
“Deus, e se não pouparmos para tempos mais
difíceis?”
“Deus, e se um de nós adoecer?”
Todas essas preocupações são válidas. E é um
pouco difícil ser generoso quando estamos
sobrecarregados de preocupações. Mas Deus tem
uma estratégia para lidar com as suas preocupações,
uma estratégia que, por sua vez, o livrará para
confiar todos os seus bens a ele.
Jesus tocou diretamente nesse ponto. Na verdade,
ele descreveu o relacionamento entre as nossas
necessidades físicas e os nossos medos. Em seu
pronunciamento mais enfático, o Sermão do Monte,
Jesus disse:

“Portanto eu digo: Não se preocupem com


sua própria vida, quanto ao que comer ou
beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao
que vestir [...]. Portanto, não se preocupem,
dizendo: ‘Que vamos comer?’ ou ‘Que vamos
beber’ ou ‘Que vamos vestir?’ Pois os pagãos é
que correm atrás dessas coisas; mas o Pai
celestial sabe que vocês precisam delas.
Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de
Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão
acrescentadas a vocês”(Mateus 6.25,31-33).

“Que vamos comer?”, “Que vamos beber?”, “Que


vamos vestir?” Essas perguntas não são bastante
conhecidas? A maioria das nossas preocupações
com as despesas cai em uma dessas categorias. E,
mesmo assim, Jesus disse que não devemos nos
preocupar com elas. Ao contrário, devemos focar
totalmente outra coisa: seu Reino. E, se fizermos
isso, ele diz que as nossas necessidades físicas
também serão supridas.
Você deve ter ouvido essa passagem a vida inteira.
Mas já parou para pensar no que ela diz realmente?
Que tal se você acordasse amanhã e, em vez de
pensar em pagar as contas, pensasse em dar? “Ei,
vou trabalhar hoje e não vejo a hora de chegar o dia
do pagamento porque preciso dar outra oferta à
minha igreja”. Ou: “Querida, este templo está muito
pequeno, por isso estou pensando em conseguir
mais um emprego para podermos construir um
templo maior, com espaço para todo mundo... ah, e,
a propósito, sobrou um dinheirinho este mês. O que
você acha de irmos ao supermercado e comprar um
pouco de comida?”.
Não pensamos assim, certo? Saímos da cama e
vamos trabalhar principalmente para ter alimento em
casa. E, depois de comprar o necessário, pensamos
em dar. Mas Jesus diz: “Ei, de agora em diante vai
ser o contrário”. Em essência, ele pegou a hierarquia
de necessidades de Maslow e virou-a de cabeça para
baixo. Isso é suficiente para fazer qualquer um
tremer de incerteza. Talvez exista algo dentro de
você que queira dizer: Onde está a relação entre
dar para o Reino de Deus e conseguir comprar
mantimentos? Não faz sentido. E certamente não é
atraente para a sabedoria convencional. Portanto, se
você não enxergar a lógica normal pelo lado de fora,
não será capaz de aceitar essa promessa da forma
que deveria ser aceita. E talvez nunca enfrente os
seus medos a respeito de declarar isso para a sua
vida.
Lá, no centro do ensinamento de Jesus, há um
novo acordo para todos os que o seguirem. O
acordo é simples. Quando você prioriza o Reino de
Deus, ele promete suprir as suas necessidades para
viver. Jesus está dizendo em outras palavras: “Se
você se envolver nas minhas necessidades —
cuidando dos pobres e fazendo discípulos —, eu me
envolverei nas suas necessidades”. E, assim como
você e eu, os ouvintes de Jesus viviam em um
mundo de incertezas físicas e financeiras. Contudo,
Jesus prometeu que, se eles cumprissem sua parte
no acordo, ele supri-ria — com certeza — suas
necessidades. E Jesus só pode fazer essa promessa
se estiver verdadeiramente no controle da economia
mundial. Inclusive da sua e da minha.
O fato de Deus me convidar para ter um
relacionamento simbiótico com ele é um
pensamento fantástico para mim. Imagine um Deus
santo, todo-poderoso, idealizando um acordo
mutuamente benéfico, rebaixando seus planos a um
nível no qual eu seja capaz de participar, para que
produzam frutos. Como se ele precisasse de mim.
Deus pode fazer o que quiser, com ou sem a minha
ajuda financeira. Ele não precisa do meu dinheiro.
Afinal, tudo pertence a ele. No entanto, ele nos ama
tanto e deseja tanto interagir conosco que nos
convida a fazer uma parceria com ele na qual
contribuímos para suas necessidades e ele contribui
para as nossas. É assim que esse novo acordo
funciona. Quando você é parceiro de Deus para
cumprir o plano dele para o mundo, ele se interessa
pessoalmente por seu bem-estar. Ele quer que você
se alimente bem e tenha um teto para se abrigar,
para que continue a contribuir para o Reino dele.
Você tem agora uma escolha a fazer. Se deseja
que Deus se envolva nas suas finanças, precisa
dispô-las para os assuntos de Deus. E isso significa
dar. Você pode começar neste instante com aquilo
que já recebeu dele. Pode ser uma porcentagem do
seu próximo salário. Pode ser uma parte do seu
patrimônio líquido. Aonde quer que a voz da
generosidade o conduzir, você precisará segui-la,
apesar do medo que possa sentir.
Os seus medos financeiros só vão desaparecer
quando você agir. Poderá enfrentá-los sozinho,
usando os seus melhores instintos e sabedoria. Ou
poderá aceitar, de uma vez por todas, a lógica
contrária ao bom senso, a lógica de Deus, aquele
que controla tudo. Você quer envolver Deus na sua
vida financeira? Quer a garantia dele de que terá o
que comer, o que beber e o que vestir? Então você
necessita concentrar-se no plano dele. E, em termos
financeiros, significa responder ao chamado de
semear generosamente no Reino.
Se não quiser envolver Deus, ou se não tem
certeza, tudo bem. Mas quero dar um aviso.
Chegará o dia em que você se dará conta de que
precisa dele. Quando a situação financeira ficar
difícil demais, quando o seu medo de confiar em si
mesmo exceder o medo de confiar em Deus, você
lhe pedirá socorro. Trata-se apenas de uma questão
de tempo.
As palavras de Jesus são difíceis. São uma pedra
no caminho da lógica humana. Como o ato de dar
pode suprir as minhas necessidades? Como a
retirada de uma parte do meu ganho mensal pode
aumentá-lo? Como um passo em direção à incerteza
financeira pode me dar a maior segurança financeira
do mundo? Você jamais saberá se não tentar.
Um jogo de opostos

Talvez você pense que todos nós temos um


controle razoável sobre o medo. Todo mundo sabe
que as emoções nunca são guias muito confiáveis.
Você pode estar sentado em um cinema com toda a
segurança e em ambiente climatizado, segurando um
saco de pipoca e um refrigerante, e mesmo assim
com as emoções em completo turbilhão por causa
do que está sendo projetado na tela.
Estatisticamente, o maior risco de você se machucar
em razão de uma viagem aérea é no carro, no trajeto
até o aeroporto, mas adivinhe que parte faz as mãos
das pessoas transpirarem. As emoções raramente
acompanham a realidade. Em grande parte do
tempo, elas nos dizem o contrário do que é
verdadeiro. É como se estivessem competindo em
um jogo de opostos.
Nas montanhas do norte da Geórgia, há o Camp
Highland, um acampamento que usa elementos de
aventuras como lições objetivas de vida. O ponto
alto do acampamento é o arborismo, uma atividade
esportiva assustadora. Só em pensar em saltar do
alto de um poste de telefone em direção a uma
plataforma a mais de 2 metros de distância é o
suficiente para fazer o coração disparar. O outro
elemento do local chama-se “Zona de Queda”. O
nome em si provoca medo. Mas gosto muito do
arborismo pela ilustração que apresenta sobre
confiar nas emoções versus confiar em Deus. Assim
que você se sente protegido pelo sistema de
segurança e com um equipamento aprovado pelos
órgãos competentes, os medos deixem de ser
justificados. Na verdade, são irracionais. Mas o fato
de saber disso não os afugenta. O arborismo é uma
descrição perfeita de como permitimos que a
percepção e a falta de percepção influenciem as
nossas decisões e direção na vida — especialmente
na área das finanças. Mesmo quando estamos
protegidos com o cinturão de Deus, é muito difícil
dar aquele primeiro passo de generosidade.
Caso você já tenha visitado um lugar semelhante a
Camp Highland e tido a oportunidade de andar em
uma corda a 12 metros de altura do solo ou
arremessando-se em queda livre de uma plataforma
no topo de uma árvore, vou contar um segredinho
que apenas os profissionais do ramo conhecem. Se
quiser divertir-se em vez de ficar apavorado o tempo
inteiro, há uma atitude simples que você pode tomar
que desarma instantaneamente todo o medo de cair.
Assim que colocar o cinto de segurança,
enganche-o no cabo de segurança no alto e apoie-se
apenas no cinto. Simplesmente confie no seu
cinturão. Antes de saltar e abandonar-se à aventura,
pense no que aconteceria se você caísse. É
impressionante. Assim que a pessoa entende que —
graças ao sistema de segurança — a queda não é
uma ameaça tão grande assim, ela enfrenta os
elementos das cordas com uma dose de confiança
que nunca teve antes.
O mesmo aplica-se à oferta generosa. Quando
você pensa no que aconteceria se confiasse em Deus
para suprir as suas necessidades, esse pensamento
muda a sua perspectiva instantaneamente e para
sempre.
Se Deus fosse envolvido na sua vida financeira,
você se sentiria mais seguro ou menos seguro? E se
pode confiar que Deus o socorrerá em uma
emergência financeira, você não acha que ele o pode
livrar dessa emergência? Então, o que é mais
racional?
É evidente que Deus não nos forçará a pôr a mão
no bolso. Ele espera que o convidemos para ser o
Senhor dos nossos bens materiais e envolver-se na
nossa vida financeira. E isso significa dar uma parte
do que já recebemos, seja em forma de dízimo de
tudo o que ganhamos, quer contribuindo com
patrimônio líquido quer com outra quantia que ele
puser no nosso coração. Para isso, devemos ser
menos controladores. Significa convidar Deus a nos
dar uma missão financeira maior que nós mesmos. É
difícil, mas não lhe causaria tristeza se perdesse uma
oportunidade como essa?
Repetindo, não se trata de dar para receber mais.
Não se trata de pedir a Deus que o torne mais rico.
Trata-se de neutralizar os medos que estão
atrapalhando o espírito de generosidade dentro de
você. Trata-se de descobrir a emoção de fazer parte
do plano de Deus para o Universo e experimentar a
segurança que você sente por saber que o seu
Provedor é o dono de todas as provisões. Quando
semeamos, Deus se faz presente de formas
extraordinárias. E, quando você sentir a perfeita
provisão de um Pai celestial amoroso, todos os
medos começarão a desaparecer.
Capítulo 5
Lições de
semeadura

D epois de ler os quatro últimos capítulos, talvez


você esteja pronto para convidar Deus a entrar
na esfera de ação de suas finanças. Pronto para
enfrentar os medos e começar a semear. Você
decidiu que não pode esperar uma colheita sem
lançar a semente. É capaz de visualizar os extensos
campos dourados brilhando sob o vento suave do
Espírito, e agora está pronto para começar a semear
com fé.
Pode ser que esteja se perguntando: Quanto devo
dar? Onde dar? Quando dar? Vamos analisar
algumas ações práticas que devem ser seguidas para
a semeadura.
O plano de Deus para a oferta

Há um princípio simples na Bíblia que fornece


uma resposta à pergunta “Quanto devo dar?”. A
idéia está expressa na mesma passagem que lemos
antes, em 2Coríntios. Nesses versículos, o apóstolo
Paulo explica exatamente quanto devemos dar:

Cada um dê conforme determinou em seu


coração, não com pesar ou por obrigação, pois
Deus ama quem dá com alegria (9.7).

Talvez você estivesse esperando algo mais ou


menos parecido com um plano financeiro. Paulo não
apresenta nenhum cálculo de valor bruto ou líquido,
nem menciona tabelas de depreciação ou de
dividendos. Diz apenas que devemos contribuir
conforme o nosso coração determinou. Só isso. E,
apesar de não parecer uma resposta muito sólida, é a
única de que necessitamos para orientar as nossas
ofertas.
O plano é, de certa forma, agradavelmente
simples. Não menciona uma porcentagem nem um
valor específico. E não há nenhuma referência a
pressão. Ele diz: “Não com pesar ou por obrigação,
pois Deus ama quem dá com alegria”.
Com essa afirmação, Paulo elimina a idéia de dar
com má vontade ou motivado pela culpa. Em outras
palavras, se é assim que você se sente quanto a dar,
Deus diz: “Tudo bem, continue assim. Vou usar
outra pessoa”. Deus sabe que quem oferta com
pesar ainda está pensando como proprietário, não
como administrador. E, em vez de pegar o seu
dinheiro e deixar você sem entender a parte mais
importante, Deus diz: “Não, você não entende.
Quero que sejamos sócios, eu como proprietário e
você como administrador”.
Quando você começar a aceitar o papel de
administrador, conseguirá dar de coração. Você se
verá como sócio de Deus para cumprir os propósitos
eternos e até começará a pensar em elaborar um
plano de ofertas. O administrador não espera que a
salva para recolher ofertas passe para só depois
decidir quanto vai dar. Ele pensou muito antes,
porque a oferta tem um grande significado para ele.
Entende por que está ofertando e consegue
visualizar o impacto que sua contribuição terá. Há
um grande estímulo quando você se dispõe a dar
como administrador.
Em contraste, quando você dá por obrigação, não
pensa muito no assunto. Essa oferta é, em geral,
uma reação impulsiva a um pedido. Pode estar
acompanhada de culpa, pressão ou medo de passar
vergonha. E normalmente é uma oferta do que
sobrou.
Já vimos que Deus ama quem dá com alegria. Ele
não deseja que você dê com pesar. Deseja que vá
para casa, olhe seu estoque de sementes e determine
no coração quanto gostaria de semear. Deseja que
pense cuidadosamente nas suas circunstâncias atuais,
na sua vida, no seu potencial e nas suas finanças.
Deseja que envolva a sua família. Deseja que ore
por isso. E depois quer que você elabore um plano.
Pode ser uma porcentagem ou uma quantia. Mas a
idéia é que você pare quando a sua mente estiver
clara e diga: “Deus, aqui está o estoque de sementes
com as quais me abençoaste. Agora quero que me
ajudes a determinar uma porcentagem ou uma
quantidade de sementes e depois tomarei uma
decisão”.
Então, nos tempos bons e nos tempos maus, você
permanecerá fiel ao plano recebido de Deus. E Deus
devolverá a você e o abençoará de acordo com o
que ofertou. Não se trata de uma promessa para
você se enriquecer. É uma promessa que o Deus de
todos os tesouros da terra quer fazer para envolver
você na distribuição de sua riqueza, a fim de
financiar seus propósitos ao redor do mundo.
Dar deve ser uma experiência relacional. Se você
não se sentir mais perto de Deus — como se ele o
estivesse impelindo a dar e sua oferta fosse uma
expressão de devoção sincera a ele —, não entendeu
nada a respeito de contribuir para o Reino. O ato de
dar envolve matemática, portanto sempre haverá a
possibilidade de tornar-se uma fórmula sem vida ou
um dever para cumprir a lei. Mas não é assim que
funciona o ensinamento bíblico do Novo
Testamento a respeito da oferta. Se você planeja dar
conforme determinou no coração, descobrirá que a
oferta não é um ato mecânico, destituído de paixão
ou rotineiro.
O plano adquire forma

Está claro que dar com generosidade e alegria


deve ser a espinha dorsal do seu plano. Mas vamos
encarar a situação. Confiar nas ondas da
generosidade não deve ser a base do plano. Vamos,
portanto, dar um passo adiante e fornecer uma
estrutura prática para a generosidade. Estas
orientações úteis o manterão na direção certa.
Eu gostaria de apresentar um plano que o vai
ajudar a quantificar todos esses conselhos a respeito
de dar. É claro que não se trata de um plano preto
no branco, um plano passo a passo, mas, sim, de um
plano que o manterá em sincronia com o coração de
Deus a esse respeito. Para os iniciantes, a simples
idéia de ter um plano é um conceito bíblico, sem
mencionar que é também uma boa idéia (v.
Deuteronômio 14.22). Penso que não basta ofertar
“conforme o Espírito o conduzir”, isto é, quando a
idéia vier à sua mente. É claro que Deus o conduzirá
a ofertar espontaneamente de tempos em tempos, e
a generosidade deve ser sempre o motivo maior.
Mas a idéia de planejar é fundamental ao que a
Bíblia diz a respeito do dinheiro. Além do mais, se
der sem um plano, você ficará vulnerável às próprias
emoções e, conforme vimos, as emoções podem ser
influenciadas pelo medo. Assim, a melhor estratégia
para dar tem como base uma abordagem dupla: um
plano básico combinado com a disposição de
considerar a idéia de dar espontaneamente quando
oportunidades únicas surgirem.
Primeira parte: os ‘três pês”

Vamos começar com um plano básico. Um bom


plano proporciona orientações para ajudar você a
lidar com as questões práticas do ato de dar, como
quanto dar e quando dar. Se você examinar tudo o
que a Bíblia tem a dizer sobre esse assunto, vários
temas recorrentes surgirão. Embora não diga
exatamente o que fazer em cada situação, a Bíblia
identifica os princípios fundamentais para ajudar
você a tomar decisões acertadas e elaborar um plano
sólido para suas ofertas. Assim como um bom plano
educacional é construído sobre três matérias básicas
(leitura, escrita e aritmética), um bom plano para dar
é construído sobre “três pês”— prioridade da oferta,
porcentagem da oferta e progressividade da oferta.
Prioridade da oferta

O primeiro P representa prioridade. De todos os


itens do seu orçamento mensal, a oferta deve ser
prioridade máxima. Não apenas uma prioridade,
mas a primeira prioridade. Em outras palavras, antes
de você pagar a mensalidade da casa própria, fazer
compras no supermercado ou pagar outras contas, o
primeiro cheque a ser preenchido deve ser destinado
à sua igreja e a outros ministérios que você sustenta.
Veja por quê. Se você pagar todas as despesas antes,
isso causará um impacto na sua oferta. É exatamente
assim que as prioridades funcionam. Aquilo que
você pôr em primeiro lugar terá precedência sobre
tudo o que vier depois. Conforme já explicamos, a
generosidade deve ter um papel principal para
orientar sua oferta. Na verdade, Deus quer que ela
seja o primeiro ímpeto por trás do seu plano de
ofertas. E a generosidade tende a vir imediatamente
depois de você ter recebido seu salário ou renda.
Esperar até que seu ganho tenha minguado e
diminuído por causa das suas obrigações mensais
tem a tendência de abafar a generosidade. No
entanto, se você priorizar a oferta, tudo o mais
assumirá um lugar apropriado por trás da prioridade
da obra de Deus.
Se você priorizar Deus na sua contabilidade,
evitará não ter recursos quando chegar o momento
de dar a parte dele. Imagine convidar Deus para um
grande banquete e servir o prato dele em último
lugar. Opa! A comida acabou antes de chegar até
ele, e você vai pegar algumas sobras na geladeira.
Você jamais faria isso com Deus. E não deveria
fazer também com seu dinheiro. Separe a parte dele
antes, para não desonrar o seu convidado mais
importante.
A minha esposa é uma excelente cozinheira. E,
sempre que temos convidados para jantar, ocorre
uma sequência estranha de eventos. Por mais
ingredientes que tenha em mãos, Sandra vai ao
supermercado para comprar os itens do cardápio
que ela planeja servir aos nossos convidados. Há
alimentos suficientes em casa. Mas parte da tarefa
do anfitrião é preparar uma refeição especial para os
convidados. E, depois que estes são servidos e vão
embora, a nossa família aproveita as sobras da
refeição no dia seguinte. É claro que temos sobras
suficientes na geladeira para alimentar os
convidados; no entanto, é mais apropriado honrá-los
com as primeiras porções da refeição e deixar as
sobras para nós.
Quando se trata de dar a Deus, devemos agir da
mesma maneira. Devemos honrar a Deus com a
primeira porção da nossa renda em vez de oferecer-
lhe as sobras. Significa que, quando você receber o
pagamento, deve preencher um cheque com a
porção de Deus em primeiro lugar. Depois use as
sobras para suprir as suas necessidades, como pagar
contas ou abastecer a casa com comida. Essa é a
definição de prioridade da oferta.
Porcentagem da oferta

O segundo P representa porcentagem. O que


mais aprecio a respeito da idéia da porcentagem da
oferta é que ela materializa o processo inteiro da
oferta. Lembre-se: quanto mais você for capaz de
impedir que o medo influencie a sua carteira, menos
risco correrá de afastar-se de Deus no que se refere
às suas finanças. Quando você assume o
compromisso de dar uma porcentagem da sua renda,
não há erro. Os números não mentem. Dez por
cento é sempre 10%, mesmo que você não confie
que o Pai celestial suprirá todas as suas
necessidades. Seja qual for a porcentagem que
escolher, você tem um alvo que pretende alcançar,
por mais que as suas emoções oscilem.
Eu gostaria agora de fazer alguns esclarecimentos
a respeito do dízimo — dar 10% de sua renda. Eu
poderia apresentar todos os tipos de análises
acadêmicas do Antigo Testamento e depois
reconciliar a lei levítica com a teologia do Novo
Testamento a respeito da graça. Mas acho
desnecessário. Imagine-se recebendo dez notas de 1
dólar de Deus. Lembre-se: Deus é o proprietário e
você é apenas o administrador, não o proprietário.
Ao olhar as contas na sua mão, você diz: — Deus,
estás me entregando 10 dos teus dólares. O que
desejas que eu faça com eles? Vai querê-los de
volta?
Deus responde: — Só quero 1 deles de volta.
Embasbacado, você replica: — Só 1? Tens
certeza?
— Sim. Quero apenas 1.
— E o que desejas que eu faça com os outros 9?
— Faça o que quiser — ele responde.
— Quer dizer que estás me dando 10 dólares e
queres apenas 1 de volta? Que posso ficar com os
outros 9? — pergunto sem acreditar.
Você entendeu a idéia. Você imagina contratar um
gerente financeiro para administrar seu plano de
aposentadoria e dizer a ele que pode ficar com 90%
de tudo? É basicamente o que Deus faz com você.
Se pensar bem, tudo o que Deus pede para o
investimento dele é 10% do principal. Chega a ser
quase hilário. E pensar que temos dificuldade de dar
essa parte a ele.
Se você pensar realmente nas suas finanças como
se Deus fosse o proprietário de tudo, verá que é
apropriado dar uma porcentagem para ele. E se está
procurando uma porcentagem na Bíblia que com
certeza agradará a ele — por obediência ou por dar
com alegria —, 10% é um bom percentual para
começar (v. Gênesis 28.22). Era a quantia observada
no Antigo Testamento, portanto essa é uma quantia
que Deus decidiu ser apropriada. Talvez ele conheça
uma fórmula mais elaborada e 10% seja a quantia
exata que deixará o nosso coração firme quando os
nossos recursos oscilarem. Não sei ao certo por quê.
Mas, quando falou sobre o assunto, Deus pediu
10%. Embora os tempos do Antigo Testamento
estejam muito distantes, 10% continua sendo um
bom ponto de referência para a nossa contribuição
hoje em dia.
E, então, está disposto a tentar 10%? Ou essa
porcentagem ainda o assusta um pouco?
Quer esteja pronto para dar o dízimo quer não,
desejo encorajar você a escolher uma porcentagem e
começar a usá-la nas suas ofertas. É a melhor
maneira de criar referências e começar a entender
um processo de tomada de decisão que, do
contrário, seria intangível. Que porcentagem você
acha que deve dar? Que tal 5%? Mesmo que os seus
joelhos comecem a tremer e você possa contribuir
com apenas 1%, insisto para que se comprometa a
dar essa porcentagem e permaneça firme. Se
precisar de mais disciplina, determine um prazo para
trabalhar dentro dele. Tente 30 ou 60 dias e veja o
que acontece.
É muito importante começar de um ponto
qualquer, de um lugar qualquer, porque, enquanto
você não tentar, não estará em condições de
experimentar a intervenção do Criador de toda a
economia do mundo quando ele começar a
movimentar-se na área das suas finanças. E assim
que você tiver um encontro com ele, a sua
motivação subirá às alturas como um foguete.
Escolha a porcentagem e comece assim que receber
o próximo contracheque.
Finalmente, muitas pessoas me perguntam se
devem dar o dízimo da renda bruta ou da renda
líquida. Eu respondo com uma pergunta: “Que tipo
de colheita você deseja, bruta ou líquida?”. Lembre-
se: você está semeando. E colherá o que semear.
Será recompensado na eternidade pela forma com
que lida com seu dinheiro hoje. Você deseja uma
recompensa bruta ou uma recompensa líquida? Para
mim, dar o dízimo da quantia bruta é uma
proposição razoável. Descobri que você pode ajustar
o seu modo de vida para adaptar-se a qualquer
variável, desde que decida fazer isso.
Progressividade da oferta

O terceiro P representa progressividade. Significa


aumentar progressivamente a porcentagem da sua
oferta ao longo dos anos. Se você tem permanecido
nos 10% por vários anos, talvez seja hora de passar
para 12% ou 15%. Veja por que eu acho que é uma
boa idéia. A fé e a fidelidade crescem de mãos
dadas. Você não pode separá-las. Se a fé deve
ganhar força e aumentar, a fidelidade também deve
se desenvolver.
Enquanto você viver neste mundo, Deus deseja
que a sua fé aumente sempre. A agenda dele para a
sua vida é que você seja transformado
gradualmente, pouco a pouco, para ser semelhante a
Cristo. Essa é a natureza da fé. Seu progresso é
constante, e seu alvo é ser semelhante a Cristo.
Ora, quando o assunto é dinheiro, você precisa
também crescer na fé em relação a ele. Mas não
poderá crescer como doador se não aumentar a sua
oferta. Em outras palavras, se é dizimista há vinte
anos e nunca aumentou a porcentagem do que dá,
você não cresceu como doador. É claro que tem sido
fiel em termos de perseverança, o que é ótimo. Mas,
para que a sua fé cresça, ela precisa ser esticada de
tempos em tempos. E isso significa aumentar
progressivamente a porcentagem que deposita nas
mãos de Deus, o proprietário das suas finanças.
No decorrer dos anos, Sandra e eu fomos
desafiados a aumentar as nossas ofertas em várias
ocasiões. Não em todos os anos, mas sabemos
quando é chegada a hora de reexaminar os objetivos
propostos. A experiência espiritual quando você
começa a ser dizimista é muito grande. Você mal
acredita que se dispôs a fazer algo voluntariamente
com seu dinheiro que se opõe aos princípios
normais da economia. Mas a emoção de honrar a
Deus e confiar que ele intervirá em seu favor torna
esse ato irresistível. É empolgante porque você se vê
frente a frente com Deus o tempo todo.
Depois de uns tempos, é fácil dar o dízimo. Ele se
torna uma segunda natureza, como um reflexo que
você mal percebe dali em diante. Mas o ato de dar
deve ser sempre uma experiência empolgante e
espiritual, uma experiência de estar mais perto de
Deus. Se a sua oferta passou a ser um ato rotineiro,
talvez seja hora de esticar um pouco a sua fé
financeira. À medida que você contribui para
financiar as obras de Deus, sente-se forçado a
confiar nele para suprir as suas necessidades?
É em torno disso que gira uma fé crescente. Com
o passar do tempo, não basta apenas comprometer-
se com uma porcentagem. Crescer significa revisar
seus objetivos de ofertar e, de vez em quando,
aumentar a porcentagem.
Segunda parte: Instigado a dar — (o quarto P)
Agora vamos falar da segunda parte da nossa
estratégia para dar: a disposição para pensar em dar
espontaneamente quando surgem oportunidades
únicas. Pense nesta parte como o quarto P:
Provocado a dar.
Ter um plano é importante. Mas, de tempos em
tempos, Deus talvez o provoque a dar uma oferta
especial que vai além de uma fórmula mecânica.
Poderá ser a experiência mais relacional de todas as
suas ofertas. Não há nada como saber que Deus está
vivendo, movendo-se e interagindo com você. Dessa
forma, Deus usa provocações para avisar que você
se encontra em uma posição única para suprir as
necessidades do Reino.
Certa vez, fiz uma palestra em um acampamento
de jovens no Alabama. O líder musical do
acampamento era um rapaz encantador e com o
coração dedicado a Deus. Ele havia feito uma longa
viagem para conduzir o louvor no acampamento.
Naquela semana, Sandra e eu soubemos que o líder
musical e sua esposa estavam esperando o primeiro
filho. Era grande o entusiasmo deles, mas as
despesas médicas com a gravidez os estavam
sufocando financeiramente.
No meio da semana, Deus soprou no meu
ouvido: Que tal dar àquele rapaz o dinheiro que
você receberá por ter feito a palestra no
acampamento? Sandra e eu conversamos sobre o
assunto e concordamos em abrir mão do dinheiro.
Foi um pouco assustador porque nem sequer
sabíamos quanto eu receberia. E se fosse um valor
muito grande, mais do que estávamos dispostos a
oferecer ao rapaz? Mas decidimos ir em frente fosse
qual fosse o valor da palestra no acampamento. E
foi o que fizemos.
Essa é a minha explicação a respeito de ser
provocado a dar. Não fazia parte do nosso dízimo
normal. Era uma quantia muito maior. Várias
semanas depois soubemos, por meio de uma carta,
que Deus usou aquela oferta de forma poderosa
para ajudar o casal a pagar as despesas relativas ao
nascimento do bebê.
Quando você é provocado a dar, a sua perspectiva
muda. Você deixa de ver Deus como uma máquina
de venda automática e começa a vê-lo como Pai
celestial e pessoal. No decorrer da vida, ele o
apresenta constantemente a pessoas que necessitam
de ajuda. Pode ser uma necessidade espiritual ou
física. Às vezes, é você quem necessita; outras, você
supre o que é necessário. É assim que o corpo da
igreja funciona. Aliás, é assim que a raça humana
funciona. Como administradores, temos o privilégio
de interagir com o Pai celestial e suprir as
necessidades de seus filhos no mundo. Sem o
elemento da provocação com respeito ao que você
oferta, o processo inteiro pode tornar-se muito frio e
calculado. As provocações é que dão vitalidade à
igreja como corpo.
Em 1João 3.17, lemos: “Se alguém tiver recursos
materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se
compadecer dele, como pode permanecer nele o
amor de Deus?”. Deus usa as necessidades dos
outros como oportunidades para exibirmos seu amor
vivo dentro de nós. E muitas vezes essas
oportunidades são reveladas por meio de
provocações especiais que estão acima e além da
nossa contribuição normal e programada.
Os nossos três filhos recebem uma mesada
rotineira. No entanto, de vez em quando eu lhes dou
um dinheiro extra para uma programação especial,
como férias. Não se trata de dar uma coisa ou outra.
Eu lhes dou as duas. O mesmo se aplica a dar para o
Reino de Deus. Se você vir seu irmão passando
necessidade, não importa se já entregou a sua oferta.
Você deve ser receptivo à idéia de que Deus o está
usando para suprir, de forma inesperada, as
necessidades do seu irmão.
O fator Deus

Você acaba de receber um esquema abrangente a


respeito de dar, que inclui um plano básico
construído ao redor de três pês, um plano sensível às
provocações de Deus para suprir necessidades
especiais e esporádicas de seu Reino que possam
surgir ao longo do caminho.
Agora vamos falar um pouco mais a respeito do
medo. Ao olhar para esse plano no papel e ver o seu
salário espremido entre tantas contas a pagar, talvez
você esteja pensando: Não temos condição de fazer
isso! Se você reagir desse modo, há uma parte da
equação que você se esqueceu de incluir: o fator
Deus.
Por ser pastor, tenho o privilégio de conhecer de
perto algumas das histórias mais incríveis a respeito
de dinheiro que você talvez nunca tenha ouvido. Ao
longo dos anos, tenho conversado com centenas de
pessoas endividadas ou com saldo negativo. Para
elas, não fazia nenhum sentido dar dinheiro a uma
igreja ou a um ministério. Mas, de alguma forma,
assim que reuniram coragem para fazer uma
tentativa, a vida delas começou a mudar. De tempos
em tempos, ouço histórias de pessoas que venceram
o medo inicial de dar o dízimo. E elas sempre
contam que, assim que começaram a dar, Deus
envolveu-se nas suas finanças. O dinheiro apareceu
inesperadamente. A dívida foi paga muito mais
rápido do que esperavam. Não estou tentando
parecer místico. Mas essas pessoas são provas vivas
de que a atitude de dar pode abrir a porta para que o
Pai celestial se envolva nas suas finanças.
Rudy e Trina, um desses casais, tinham uma
dívida de quase 20 mil dólares em várias áreas:
despesas no cartão de crédito, prestação da casa
própria, prestações de dois carros e um
financiamento estudantil. Eles mal conseguiam viver.
Para piorar a situação, haviam acabado de saber que
Trina estava grávida e que sua vaga seria desativada
quando ela voltasse ao trabalho após a licença-
maternidade. O casal não sabia o que fazer. Naquele
domingo, eu estava falando sobre a idéia de dar o
dízimo e envolver Deus nas nossas finanças. Após o
sermão, Rudy e Trina aproximaram-se de mim com
algumas perguntas. “Você está dizendo que devemos
começar a dar agora, quando a situação está de
cabeça para baixo como nunca vimos?”,
perguntaram. Garanti-lhes que, em meu modo de
pensar, até alguém naquela situação deveria
envolver-se sem demora em ser um bom
administrador.
Quase dois anos depois, recebi uma carta de
Rudy e Trina. O garotinho do casal havia começado
a andar. Eles estavam escrevendo para me contar
que, embora o assunto não tivesse feito sentido na
ocasião, haviam decidido seguir o meu conselho a
respeito de dar. “Andy, não dá para descrever como
foi bom estar livres das dívidas!”, disseram. E
prosseguiram contando que, algumas semanas
depois de começarem a dar o dízimo, ocorreram
vários eventos tremendos que impactaram suas
finanças. Primeiro, a grande empresa na qual Trina
trabalhava foi envolvida em um processo a respeito
da descontinuidade do contrato de trabalho após a
licença-maternidade. Embora o processo não tivesse
nada que ver com Trina, a empresa tomou medidas
imediatas para proteger-se de futuros problemas e
elaborou uma política empregatícia completamente
nova. Resultado: Trina recebeu uma compensação
especial e inesperada de 35 mil dólares — o
suficiente para pagar a dívida do cartão de crédito e
o financiamento estudantil. Como se não bastasse,
ofereceram a Trina a possibilidade de criar uma
nova posição na qual ela poderia trabalhar em casa.
Nesse ínterim, Rudy recebeu uma notícia
extraordinária. De repente, três vice-presidentes
acima dele foram contratados para trabalhar em
outras empresas. Durante a reorganização, Rudy foi
promovido a uma posição que normalmente levaria
anos para ocupá-la. Por ter recebido um novo carro
da empresa e um bônus pela promoção, Rudy
conseguiu quitar também o financiamento dos dois
carros. Seu novo salário era tão alto que eles
decidiram que Trina poderia parar de trabalhar e
cuidar do filho em tempo integral.
No entanto, a melhor parte da carta de Rudy e
Trina foi o grande entusiasmo deles a respeito do
trabalho missionário que haviam ajudado a financiar.
Contaram várias histórias sobre as oportunidades
que tiveram de envolver-se em projetos
evangelísticos e contribuir espontaneamente para
suprir as necessidades de várias famílias da cidade
na qual moravam. Eles entenderam verdadeiramente
seu papel como administradores dos recursos
oferecidos por Deus.
O que mais me espanta a respeito da história de
Rudy e Trina é a frequência com que ouço histórias
semelhantes à deles. Não faz sentido no papel, mas
há o fator Deus. Em muitos casos, Deus está apenas
esperando envolver-se nas finanças de seus filhos.
Precisamos confiar nele o suficiente para dar o
primeiro passo e lançar a semente que temos nas
mãos.
Quando você sente o amor do Pai celestial ao
suprir as suas necessidades, o seu medo encontra um
páreo à altura dele. Porque o per-feito amor lança
fora o medo.
Capítulo 6
O que você deve
temer

A raça humana é notória por ter medo das coisas


erradas. O percurso da História está repleto de
entulhos de medos deixados para trás que um dia
controlaram erroneamente o destino da humanidade.
É fácil ver o absurdo deles no espelho retrovisor da
vida.
Grande parte dos medos dos homens da
Antiguidade foi eliminada por um pensamento
completamente invertido. Quando o homem temia
os espíritos malignos como se fossem a causa de
uma dor de cabeça, logo criou um medo maior de
ter o crânio furado por onde os espíritos poderiam
sair. O medo das bruxas de Salém, Massachusetts,
foi aos poucos substituído pelo medo de um sistema
jurídico que estava começando a se comportar como
um bando de lunáticos. Durante séculos, o medo de
cair do Planeta impediu os europeus de descobrirem
a América até, finalmente, ser substituído pelo medo
de perder novas e imensas riquezas. Na infância,
temos medo do primeiro dia de aula. Mas a
sabedoria prevalece quando começamos a sentir
medo de crescer sem receber instrução escolar. O
medo de ir ao dentista desaparece diante do medo
de perder os dentes por negligência. E a lista vai
longe.
Todos os medos obedecem a uma hierarquia.
Alguns ocupam posição mais alta que outros. A
verdade é que o medo substitui o medo. Uma forma
de combater o medo é suplantá-lo com outros de
categoria mais alta. Uma coisa é clara. O medo veio
para ficar; ele se encontra no centro da nossa
humanidade frágil. Passamos grande parte da vida
evitando o medo. Mas, apesar de todos os nossos
esforços, ele nunca vai embora. Não houve
nenhuma geração que tenha conseguido viver sem
medo. Para a maioria de nós, não há nem um dia
sequer sem que o elemento do medo esteja presente.
Portanto, precisamos concluir que o medo não
pode ser evitado como se fosse algo do qual
podemos tirar proveito. Se o medo fosse água, a
idéia seria não permanecer na secura, porque é
inútil. A idéia é pegar uma onda e surfar nela até
chegar à praia dourada. Veja bem, o medo pode ser
benéfico. O medo do perigo é benéfico quando age
para preservar a vida. O medo do fracasso é
produtivo quando nos empurra em direção ao
sucesso. E Provérbios ensina que “O temor do
Senhor é o princípio da sabedoria” (9.10). Desse
modo, a idéia não é evitar o medo, mas escolher
com sabedoria os medos que enfrentar. Somos
irracionais quando temos medo de coisas erradas.
Quando priorizamos os nossos próprios medos de
modo incorreto, corremos um risco maior.
Quanto mais cedo você espalhar os medos sobre a
mesa e priorizá-los, melhor. Analise-os para
conhecer seu verdadeiro perigo, e depois priorize-os.
Que medos justificam a sua atenção? E quais são
verdadeiramente benignos? A sabedoria é o segredo
para classificá-los.
No entanto, quanto mais ameaçadores forem os
medos, mais difícil será lidar com eles com
sabedoria e classificá-los. Qual é o mais importante:
o medo de denunciar abuso físico ou o medo de
manter-se em silêncio? As vítimas de abusos têm
dificuldade em saber. O mesmo ocorre em relação
ao mundo. É maior o medo de confrontar a tirania
de um Hitler, de um Fidel Castro ou de um Saddam
Hussein, ou mais aterrorizante ainda não dar atenção
a ele? Quando a vida e a morte dependem das
nossas decisões, a sabedoria parece ilusória.
Problema multiplicado

Quando se trata de dinheiro, qual é o seu maior


medo? Qual deve ter prioridade? Que preocupações
devem guiar as suas decisões financeiras? Se você
for igual a mim, preocupa-se às vezes com a sua
capacidade de sobreviver a um grande revés
econômico. Talvez você tenha medo de alguma
tragédia pessoal capaz de afundá-lo financeiramente.
E há sempre o pesadelo do “E se eu adoecer?”.
Existem bons motivos para sermos cautelosos
sobre como investir o dinheiro. São medos que, em
geral, nos levam a guardar o nosso dinheiro para
conseguir viver bem durante os “e se” que nos
perseguem. Mas, conforme vimos, aqueles mesmos
medos têm também o potencial de enfraquecer a
nossa decisão de dar.
Do outro lado do medo contínuo, estão as
constatações que acabamos de discutir. Em vez de
temer a idéia de enfrentar problemas financeiros sem
ter um pouco de dinheiro guardado, deveríamos ter
medo de enfrentar a mesma situação sem o Pai
celestial ao nosso lado na linha de frente. Pense
nisto: qual é o seu maior medo? Não ter dinheiro
suficiente ou não ter o envolvimento do Pai
celestial? A resposta a essa pergunta determinará o
que fazer em relação ao futuro.
Ironicamente, enquanto escrevo este capítulo,
estou me lembrando de dois anos muito
decepcionantes referentes ao meu patrimônio
pessoal. Assim como muitos americanos, vi a minha
carteira de investimentos ser reduzida pela metade.
Quando olho para trás, sabe do que mais me
arrependo? De ter guardado tudo em dinheiro vivo.
Deveria ter aberto mais a mão. Pelo menos poderia
mostrar o que fiz com ele. Na situação atual, estou
menos seguro financeiramente que antes e investi
menos na obra do Reino.
Jesus contou uma história em Mateus 25 que
ilustra perfeitamente esse ponto. Na parábola, havia
um administrador-servo que recebeu uma quantia
para investir. Mas, em vez de investir o dinheiro, ele
o enterrou para mantê-lo em segurança. Mais tarde,
ao explicar seu comportamento, ele disse a seu
senhor que teve medo de investir mal o dinheiro e
perdê-lo: “Eu sabia que o senhor é um homem
severo [...]. Por isso, tive medo, saí e escondi o seu
talento no chão” (v. 24,25). O servo pensou que
seria melhor deixar o dinheiro em lugar seguro e,
pelo menos, devolvê-lo totalmente quando o dono
voltasse. Por isso, desobedeceu às ordens de seu
senhor por ter sentido medo. Avaliou mal a situação.
De repente, um novo medo tomou conta do
coração do servo quando ele se deu conta das
consequências de seus atos. O novo medo foi bem
pior que o primeiro, quando ele decidiu enterrar o
dinheiro. “E lancem fora o servo inútil, nas trevas”,
disse o senhor aos seus guardas, “onde haverá choro
e ranger de dentes” (v. 30).
O fato é que aquele servo não soube lidar com
seus medos e os priorizou da maneira incorreta;
embora estivesse com medo no início, sua falta de
sabedoria causou um medo maior no final. Ele não
tomou uma atitude para combater o medo. Na
verdade, por não ter feito nada, ele o multiplicou.
Quero, portanto, fazer mais uma vez esta
pergunta: qual é o seu maior medo? De não ter o
suficiente, ou de não ter o envolvimento do Pai
celestial no domínio de suas finanças? Se a incerteza
quanto ao futuro foi a sua maior preocupação, você
buscará primeiro o seu próprio reino. Se o medo de
não ter o suficiente for maior que o medo de não ter
o envolvimento de Deus nas suas finanças, você
buscará primeiro o Reino de Deus. Semeará com
generosidade, sem medo e intencionalmente. E o
resultado será uma paz que desafia a lógica humana,
uma alegria cujo brilho é muito mais intenso que a
mera felicidade.
O seu maior medo determina se você
simplesmente economiza para o futuro ou contribui
para o futuro.
Quando o tempo expira

O livro A lista de Schindler, cujo filme ganhou o


prêmio da Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas, relata a história verdadeira do
esforço de um homem para extrair o melhor de uma
oportunidade de desespero. Como diretor da fábrica
de equipamentos na Alemanha nazista, Oskar
Schindler decide tirar o máximo proveito de sua
posição para salvar a vida dos judeus. Ao empregá-
los em sua fábrica, Schindler consegue manter os
judeus condenados longe das câmaras de gás. Mas o
preço para mantê-los é alto. Pouco a pouco, ele
liquida seus bens pessoais para manter o negócio
produtivo e proteger a vida de seus empregados.
Administra suas reservas com muita cautela para
ajudar o maior número possível de pessoas, sem
fracassar financeiramente.
No final da história, os nazistas são derrota-dos. A
importância total dos esforços de Schindler é
finalmente revelada quando os mortos são contados
e os vivos voltam cambaleantes para a liberdade. Em
meio a esse desfecho, Oskar Schindler tem uma
constatação surpreendente: ele poderia ter salvado
mais vidas. Sufocado por esse terrível remorso, ele
lamenta os poucos bens que ainda possui, bens que
poderiam ter sido liquidados para salvar os judeus da
morte. Se ao menos ele soubesse quando a guerra
terminaria, poderia ter feito mais. Agora, porém, é
tarde demais.
Oskar Schindler foi um herói. Ele é reconhecido
por ter salvado mais vidas durante a Segunda Guerra
Mundial que qualquer outra pessoa. Mas,
curiosamente, ele só pensou naquilo que não fez.
Gostaria de ter feito mais.
Esse exemplo mostra-nos uma lição poderosa a
respeito da generosidade porque, da mesma forma,
até os cristãos generosos quando olham no espelho
retrovisor da vida provavelmente gostariam de ter
ofertado mais. E, para aqueles que nunca semearam,
imagine o horror de seu remorso quando tiverem de
prestar contas de suas finanças nesta vida.
Se permitirmos que o medo da pobreza nos
domine agora, teremos mais medo no fim quando
perdermos tudo. Mas, se usarmos a sabedoria e
começarmos agora a prevenir o medo e o remorso
inevitáveis, não teremos nada a temer no fim.
Lição básica sobre economia

Um bom amigo meu, Mike Kendrick, dirige uma


empresa de investimentos que fornece capital
financeiro às empresas em expansão. No apogeu da
internet, a empresa dele possuía várias dezenas de
empregados e um grande escritório no norte de
Atlanta.
Mike leva muito a sério seu papel de
administrador. Quando tudo ia bem, ele passava
grande parte do tempo pensando em como
aproveitar seus bens ao máximo para o Reino de
Deus. Além de contribuir financeiramente, Mike
teve uma idéia revolucionária: usar sua plataforma
como empresário para ajudar ministérios recém-
organizados a deslanchar. A princípio, convidou
vários ministérios para usar o espaço extra de seu
escritório, o que os fez economizar muito dinheiro
com despesas mensais. E não parou aí. Usando seu
tino comercial, Mike transformou a idéia em um
negócio formal e começou a exportá-lo,
convencendo outros empresários cristãos a fazer o
mesmo com seus recursos extras. Alguns cederam
espaços extras e outros doaram serviços valiosos,
como ajuda contábil, legal e administrativa.
Pouco tempo depois, dezenas de ministérios
começaram a pedir ajuda ao Ministry Ventures, para
transformar sua visão de servir a Deus em realidade.
Muitos desses ministérios existem graças a Mike e
seu sonho de aproveitar os recursos que possuía ao
máximo para o Reino de Deus.
De repente, um fato inesperado aconteceu,
forçando Mike a rever o modelo de seu negócio a
fim de sobreviver. Mas, em meio ao que se tornou
um pesadelo financeiro, Mike sentiu a provisão e a
proteção de Deus. Durante toda aquela experiência
dolorosa, ele sentiu a presença de Deus e sabia, em
seu coração, que no fim tudo daria certo. Afinal, foi
por meio de sua generosidade e boa administração
que ele convidou o Criador da economia para ser
seu sócio empresarial. Ele não tinha nada a temer.
Depois de tantas dificuldades, Mike venceu em
termos financeiros e espirituais. Embora seu
patrimônio líquido tenha sido reduzido
significativamente, sua fé se fortaleceu mais que
nunca. E, ao peneirar as sobras de seu mundo
financeiro, ele descobriu que alguns de seus
investimentos continuaram a render grandes
dividendos, apesar da economia — os investimentos
que ele havia feito na obra do Reino.
Ao olhar ao redor, ele viu dezenas de novos
ministérios frutificando graças à sua generosidade
durante os bons tempos. Em essência, os bens que
Mike poderia ter guardado para si teriam sido
reduzidos à metade de seu valor, ou menos. Mas
tudo o que ele doou floresceu. Assim como o
agricultor que semeia generosamente, Mike viu-se
cercado de campos de trigo dourados e fortes, uma
colheita que sobreviveu à seca financeira.
Mike foi, de muitas formas, a personificação
destas palavras de Jesus: “Aquele que ama a sua
vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua
vida neste mundo, a conservará para a vida eterna”
(João 12.25). Ao olhar além do aspecto temporário
e em direção à dimensão eterna, Mike encontrou
coragem para lançar a semente que dura para
sempre. Ao fazer isso, ele descobriu uma grande
verdade: o que é dado não pode ser retirado. O
dinheiro investido no Reino de Deus fica
imediatamente fora do alcance das condições
econômicas mais turbulentas. É o mais seguro de
todos os investimentos.
A incerteza financeira é uma realidade. Por mais
que nos esforcemos para nos proteger das
eventualidades, a verdade é que nenhum de nós está
completamente imune à turbulência econômica,
tanto no âmbito pessoal quanto no empresarial.
Quando o inesperado surgir novamente, seremos
afetados. Nosso patrimônio líquido, e possivelmente
nossa renda, sofrerá impacto. E naqueles tempos em
que tudo parecer estar disponível a quem quiser
tomar posse indevida, desejaremos muito ter a
garantia de que não estaremos sozinhos.
Desejaremos saber com certeza que, se lançarmos as
nossas ansiedades financeiras ao Pai celestial, ele de
fato cuidará de nós (cf. 1Pedro 5.7).
Sua certeza, então, gira em torno da sua
generosidade atual. A disposição em investir hoje no
Reino do Pai será refletida no envolvimento dele nas
suas finanças, tanto agora como depois. Por isso é
muito importante que você semeie com
generosidade enquanto pode. Mas, conforme a
aventura de Mike Kendrick ilustra tão bem, essa é
apenas metade da história.
Além da paz pessoal que sentimos ao saber que
não enfrentamos tempos turbulentos sozinhos, há a
alegria que sentimos ao saber que uma parte da
nossa riqueza não pode ser tocada pela turbulência
econômica deste mundo. Tudo o que foi investido
fora do nosso reino pessoal produzirá fruto para a
eternidade.
Tenho outro amigo chamado David Wills. Ele
trabalha em uma organização que ensina as pessoas
a ser doadoras generosas. David contou-me sua
conversa com um senhor de 83 anos que possuía
um patrimônio líquido de 30 milhões de dólares.
David estava tentando ajudar aquele homem a
vencer o medo de dar. Mas o homem não conseguia
abrir mão de seu dinheiro conquistado a duras
penas. David fez o possível para ajudá-lo a entender
que, se doasse um terço de seu dinheiro, ele
continua-ria em ótima situação financeira. Àquela
altura, o homem virou-se para David e disse:
“Rapaz, você precisa aprender algumas coisas sobre
economia. Vivi durante a Grande Depressão. Na
época, eu era um homem rico. Vi mais de 30
milhões de dólares dos meus bens materiais
desaparecerem da noite para o dia”.
Ele estava com medo. E com bons motivos.
David ficou sem palavras durante um instante. Sua
primeira reação foi encorajar o homem a continuar a
trabalhar e poupar. Mais tarde, confidenciou-me que
a história do homem o fez sentir um pouco de medo
a respeito de sua própria situação. Afinal, se um
sujeito com 30 milhões de dólares não está seguro,
quem está?
No entanto, David pediu-lhe que refletisse nesta
idéia: “Imagine como o senhor se sentiria hoje se
tivesse doado metade de sua riqueza pouco antes do
desastre econômico de 1929”. O homem pensou por
um momento e sorriu. Em seguida, preencheu um
cheque polpudo e entregou-o a David para ajudar
uma lista de organizações sem fins lucrativos que
trabalhavam em prol do Reino. Naquele dia, ele
abriu mão de 8% de sua riqueza. Dois anos depois
ele faleceu e abriu mão de tudo.
Neste instante, enquanto lê estas palavras, você
tem uma oportunidade maravilhosa. Com o
movimento rápido de uma caneta, você pode
convidar o Pai celestial a entrar no mundo das suas
finanças e, ao mesmo tempo, ter a certeza de que
uma parte da sua riqueza é intocável tanto por
tragédias pessoais como nacionais.
E o que há para temer?
Capítulo 7
A alegria de dar

S e você for igual a mim, neste momento está


pensando se refletiu bem nessa idéia de dar sem
medo. Quando alguém apresenta um padrão,
queremos saber se estamos à altura dele. Quero,
portanto, dar a você uma visão clara de como
acertar no alvo de dar sem medo.
Já falamos sobre porcentagens e outras maneiras
úteis de medir o seu progresso nessa jornada. Mas
não quero que essas coisas o desviem do ponto
central de dar sem medo. Veja bem, os quatro pês
são ótimas orientações a serem seguidas. No
entanto, a maior recompensa de vencer o medo
nessa área não é absolutamente algo que possa ser
medido em termos financeiros. O momento de
glória de vencer o medo de dar é o instante em que
você começa a sentir a alegria de dar. Se eu pudesse
dar a você um alvo para atirar, seria esse. Conforme
sugeri no início , a questão não gira muito em torno
de porcentagens ou quantias. Gira mais em torno da
condição do coração. O oposto de um coração
medroso não é um coração corajoso, como você
pode pensar. É um coração alegre.
Não há forma melhor de medir isso. Você saberá
que venceu o medo quando começar a sentir alegria
no ato de dar. Talvez isso não ocorra de modo
instantâneo. Pode ocorrer de maneira tão gradual
que você quase não notará. Mas, aos poucos, saberá
que chegou lá quando a emoção de causar impacto
financeiro começar a tomar conta de você e o
encher de alegria.
As igrejas do mundo inteiro estão repletas de
pessoas motivadas a dar para cumprir os
mandamentos da Escritura. Esse é um começo. A
meta é descobrir a alegria de viver em íntima
parceria financeira com o Pai celestial. E, quando a
descobrimos, a oferta passa a ser um ato de
adoração empolgante e cheio de paixão. No entanto,
a certa altura, a oferta precisa passar da coluna “ter
de” para a coluna “querer” da nossa vida. Isso só
acontecerá quando vencermos os medos e os
atirarmos ao chão.
Quero, portanto, perguntar: A oferta é uma
paixão para você? Não parece a você um ato de
adoração? Não traz alegria a você?
A maneira de responder a essas perguntas será um
indicador de onde você se encontra na jornada entre
abandonar o medo e sentir alegria. Se estiver menos
que emocionado com o fato de dar generosamente,
você ainda tem um longo percurso a percorrer.
O filantropo acidental

Donald Rauer não era o que podemos chamar de


grande doador. Como gerente intermediário de uma
grande indústria, ele trabalhava muito por cada
centavo que ganhava. Durante 60 horas por semana,
ele fazia uma mágica em seu departamento,
transformando suor e sangue em um elixir que
motivava os funcionários a produzirem o máximo
para a empresa. Donald tinha vinte e cinco anos de
casa e era a espinha dorsal de produtividade da
empresa. Acreditava muito no trabalho árduo e no
pagamento justo. “Não existe essa história de
almoço grátis”, ele dizia a seus funcionários,
encorajando-os a persistir. E, apesar de sua equipe
ser bem compensada pelo sucesso alcançado, não
era segredo que fora uma conquista de todos.
Donald havia trabalhado muito por tudo o que
conseguira alcançar. Na escola era um atleta de
pequena estatura, mas abriu caminho aos trancos e
barrancos para conseguir uma bolsa de estudos para
atletas de futebol que pagou a maior parte de suas
despesas com a faculdade. O resto ele ganhou
trabalhando em uma loja de móveis perto do
campus.
Semelhante a um avarento de um romance de
Dickens, Donald dedicou-se a uma filosofia
econômica que deixava pouco espaço para a
filantropia.
Um dia, Donald recebeu um telefonema que
mudaria sua vida. O único parente vivo de Donald,
tio Mike, havia falecido depois de uma longa luta
contra um enfisema. Donald receberia uma grande
soma de dinheiro. Mas não foi o que mudou sua
vida. O executor testamentário de tio Mike explicou
que o testamento incluía alguns termos um tanto
inusitados. Ao saber de sua morte iminente, tio Mike
organizou uma fundação especial para metade de
seus bens restantes; no entanto, não havia decidido
quem seria o beneficiário. A fundação possuía agora
perto de 1 milhão de dólares. Tio Mike sempre havia
respeitado a ética no trabalho e o bom senso de
Donald. Assim, entre seus últimos desejos, nomeou
Donald como agente fiduciário de sua fundação.
Cabia agora a Donald decidir como distribuir quase
1 milhão de dólares. E, de acordo com os desejos do
tio, ele tinha doze anos para realizar a tarefa.
A princípio, Donald tentou recusar a missão.
Depois tentou esquecê-la. Mas logo ficou claro que
as alternativas não faziam muito sentido. Se ele não
distribuísse os fundos, alguém os distribuiria. O
mínimo que ele poderia fazer era realizar os desejos
do tio. Com muita relutância, durante vários meses,
ele passou a aceitar cada vez mais sua nova missão.
Por ser profundo conhecedor do valor de 1 dólar,
Donald examinou com muito empenho as prováveis
instituições de caridade. Investigou minuciosamente
e com frieza as operações de cada instituição,
procurando motivos para desqualificá-las.
Finalmente, Donald escolheu um punhado de
organizações que até ele próprio julgou estarem
acima de qualquer suspeita. Como se estivesse
reconhecendo a derrota, Donald começou a
distribuir pequenas somas de dinheiro a cada uma.
O que aconteceu a seguir foi nada mais, nada
menos, que um milagre.
Nos meses seguintes, Donald começou a receber
relatórios sobre o trabalho que estava sendo
realizado com suas relutantes doações. Pessoas
morrendo de fome estavam sendo alimentadas.
Crianças abandonadas estavam recebendo
tratamento médico. Agricultores itinerantes estavam
aprendendo a cultivar novos frutos para alimentar
seus povoados. A princípio, Donald mostrou pouco
interesse. Mas sua casca dura começou a amolecer à
medida que ele acompanhava o progresso desses
beneficiários ao longo do ano. Quando surgiam
necessidades urgentes, Donald com frequência
designava recursos da fundação para ajudar.
Finalmente, começou a fazer visitas anuais para ver
seus donativos em ação. Logo depois, mostrou-se
encantado.
Para encurtar a história, Donald acabou pedindo
aposentadoria parcial da fábrica a fim de passar os
verões como colaborador voluntário, e foi grande
sua satisfação em confraternizar-se com as famílias
às quais ajudava. Elas enviaram cartas e fotos
durante vários anos. Um dia, Donald organizou em
primeira mão um programa de intercâmbio que
levou as famílias do Terceiro Mundo aos Estados
Unidos para receberem treinamento sobre
agricultura durante um ano. Ele sempre hospedava
os visitantes em sua casa.
O envolvimento de Donald no trabalho de
cooperação durou oito anos. E a cada ano ele doava
uma parte maior de seu tempo — e mais dinheiro da
fundação. Graças a seu entusiasmo, Donald realizou
completamente os desejos de seu tio quatro anos
antes do prazo. E, quando faltou dinheiro, ele fez o
impensável: começou a transferir seus próprios
recursos financeiros para a fundação. Para
compensar a redução de valor de seu crescente
trabalho filantrópico, Donald renomeou uma grande
parte de suas propriedades a fim de iniciar um fundo
de doação para a fundação. E, para manter seu
trabalho constante, a maior parte de seu salário e
pensão da fábrica ia diretamente para uma conta
bancária da obra voluntária. Donald trabalhava na
fábrica cerca de nove meses por ano, dedicando os
outros três meses completamente ao seu novo
chamado.
Finalmente, Donald se aposentou da fábrica aos
71 anos. Depois disso, continuou ativamente
envolvido no trabalho da fundação durante mais de
quinze anos. Na época em que morreu, ele estava
dedicando completamente sua vida a oferecer
compaixão aos necessitados. O fato mais espantoso
na vida de Donald não foi o impacto que ele causou
com suas doações, mas o impacto que tais doações
causaram nele.
Donald não sentiu nenhum medo ao passar
adiante a fortuna do tio. O dinheiro não era dele,
portanto ele não se preocupou em gastá-lo porque
isso não o afetaria pessoalmente. E, sem a influência
do medo na equação, Donald foi rapidamente
seduzido por algo que todos nós fomos criados para
sentir: a alegria pura de dar.
Imagine por um minuto que você é responsável
por dar destino ao dinheiro de outra pessoa. Você
não tem permissão para gastá-lo. Só pode decidir
que destino terá. Quando você pensa assim, não é
tão difícil imaginar que é prazeroso ser filantropo.
Quem não gostaria de ser uma corda salva-vidas
para aqueles que realmente necessitam? Que homem
ou mulher não dormiria um pouco melhor se
soubesse que fez diferença no mundo?
No entanto, essa é exatamente a situação em que
nos encontramos quando temos uma perspectiva
correta a respeito dos nossos bens. Recebemos o
dinheiro de alguém. Temos a oportunidade de
decidir o destino dele. E a única coisa que se
interpõe entre nós e a alegria incontrolável é aceitar
a realidade e arregaçar as mangas para trabalhar na
filantropia cristã.
O agricultor não compra a semente para consumi-
la ou estocá-la. Ele apenas decide onde plantá-la. E
só quando a semente estiver definitivamente
plantada no solo é que o agricultor poderá colher
seus frutos. O mesmo ocorre com a alegria. Se você
ainda não encontrou os seus beneficiários neste
mundo, talvez esteja se privando da alegria para a
qual foi criado. Se o medo o impede de lançar a sua
semente — semear —, você não colherá nada.
Talvez você seja um filantropo relutante. Mas eu
gostaria de o encorajar com esta idéia: um pouco
além do medo que impede sua generosidade há uma
colheita de alegria. E um pouco além do auge dos
maus pressentimentos e dos vales ermos da sua vida
financeira há campos dourados balançando ao sabor
do vento para aqueles que simplesmente se dispõem
a fazer a caminhada.
Epílogo

J eremiah Clary acomodou-se na cadeira de


balanço feita com madeira de carvalho em sua
varanda. O sol da manhã lançava raios brilhantes
sobre um mar sem fim de trigo dourado e cintilante
diante dele. O ar do início de outono era refrescante.
Milhões de gotas de orvalho formavam prismas sob
os raios do sol, cobrindo a plantação com o brilho
de um diamante. Uma brisa leve soprava sobre o
trigo, criando movimentos semelhantes a ondas de
rebentação douradas na praia particular de Jeremiah.
Encantado, ele sorriu.
Jeremiah lembrou-se de seis meses antes, dias de
tormenta e ansiedade. Lembrou-se de uma manhã
em especial quando a vida parecia estar pendurada
na corda bamba. Viu-se encolhido naquele celeiro
empoeirado e açoitado pelo vento, sentado em cima
de sacos de semente como uma galinha mãe em
alerta total. As condições haviam sido perfeitas para
o plantio no final da temporada de semeadura. Mas
Jeremiah estava trancado com ferrolhos mentais no
celeiro. Foi um tempo em que ele lutou para não
perder o juízo.
Desde aquela época, muitos dos antigos amigos
de Jeremiah haviam desistido e se mudado para a
Califórnia. Outros haviam permanecido, tentando
outra atividade fora da agricultura. Mas Jeremiah
decidira colocar a mão no arado mais uma vez.
Apesar do medo das nevascas terríveis, ele reuniu
coragem para semear com a esperança renascendo.
E hoje era o dia da colheita.
Montado em seu trator, Jeremiah examinou a
mais rica safra de Harper County. Era o mesmo que
estar dirigindo o trator em direção a um pote de
ouro. Naquele mesmo dia da colheita, os outros
agricultores estavam vivendo seus piores medos.
Aqueles que se acovardaram diante da ameaça de
tempestades de poeira sem semear estavam agora
vendo seus campos desertos e com as mãos vazias.
Jeremiah respirou fundo e ajeitou o chapéu de couro
na cabeça como se fosse uma coroa de joias. A linha
do horizonte mostrava o trigo até onde a vista podia
alcançar. O medo não mais existia.

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