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Copyright © 2020 Manuh Cota

Capa: Greyce Kelly


Diagramação: Greyce Kelly
Revisão: Greyce Kelly

Dados internacionais de catalogação (CIP)


Costa, Manuh
Atraído
1ª Ed
1.Literatura Brasileira. 1. Título.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem
permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998).
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
To dos os direitos desta edição reservados para a autor.
Sumário
Obcecado ou apaixonado por ela?
Pesadelos
Coisas concretas
Algumas decisões
Lane Me escuta
Minha
Nível 11 da atração
Submisso, dominador, Condessa!
Momentos felizes
Filho
Rendido
Quero cuidar de maria
Medo, agência, passado você!
Entregue a Maria
Nível 12 da atração
Entregue a mim
Nível 13 da atração
Escolhas necessárias
Maria é linda
Danças
Pedidos aceitos
Nível 14 da atração
Meu lar
Prazer com ela
Nível 15 da atração
Medos e partidas
Ela me ama
Dias sem ela
Não consigo ficar longe
Chegada
Estresse
Coisas ótimas
Novidades
Nível 16 da atração
Bebês
Ela se esconde
Nível 17 da atração
Coisas que devem ser ditas
Nível 18 da atração
Nível 19 da atração
Outras brigas
Nível 20 da atração
Grato
Medo aniquilador
Nível 21 da atração
Nomes que não devem ser ditos
Não tem volta
Onde as coisas devem ficar
Nível 22 da atração
Nível 23 da atração
Última despedida
Pai
Que o mês acabe logo
Nível 24 da atração
Louco
Novo futuro
Nível 25 da Atração
Indo para casa
Fim da atração
Obcecado ou apaixonado por ela?
Acabei por trazer o livro de Maria comigo, consegui ler algumas
páginas durante a viagem, mas não me concentrava, Orgulho e preconceito...
isso é muito a cara dela..., mas por bem ou por mal tudo me lembra Maria.
A casa dela ficou para trás ontem pela manhã, e lá eu deixei meu
coração, as lembranças, não consegui olhar para trás porque aquilo me
machucava, me doía saber que eu precisava ir embora.
Deixei Maria no Brasil e vim para América.
Tive que vir, e isso foi mais como uma obrigação dolorosa que tudo,
também por que eu preciso pensar com mais cautela em tudo, ainda que
dentro de mim tudo doa quando me lembro dela. Abandoná-la foi um
sofrimento, mas precisava vir, não havia outro jeito, papai precisava me ver,
ao menos para que se preocupasse menos.
Durante toda a viagem fiquei me lembrando dos momentos em que
ficamos juntos, de tudo o que sentia, de todas as nossas conversas, do sorriso
dela, do toque dela, do quanto Maria me é querida, ter que deixá-la para trás
foi terrível, e saber que agora estou a milhares de quilômetros dela me tortura
lenta e profundamente.
Mas não sinto que isso seja ansiedade, desejo, nem atração, nem
mesmo um fetiche—coisa que cheguei a pensar que fosse—eu apenas a amo
tanto que dói quando não a tenho por perto.
As palavras de Alejandro deixaram uma pequena dúvida em mim, me
questionava se estava ali por que queria ou por que tinha medo de ficar só,
pois desde que a conheci meus dias tem sido muito diferentes de todos os
dias da minha vida, mas só me vinha a cabeça a ideia de que Maria era o meu
tudo—e ainda é—e eu a queria para sempre ao meu lado.
Não consegui comer.
Não consegui dormir.
Não conseguir ficar quieto.
Eu só pensava nela, em estar com ela, com Fernando... como eles
ficariam aqueles dias? Como ela ficaria?
Eu sei que ela se magoou muito quando eu disse que partiria, eu sei
que a machuquei com a notícia, mas não queria ir embora sem que ela
soubesse daquilo, depois que eu falei que partiria havia tanta decepção em
Maria, tanta mágoa, apesar dela não admitir eu sei que ela gosta de mim, eu
sei que ela me quer por perto, e isso nem Alejandro nem ninguém vai fazer
com que eu questione.
Eu apenas não sei se sou suficientemente bom para ela, se toda essa
merda de medo um dia vai passar, se ela se sujeitará a tudo sem temer ou sem
se sentir humilhada.
Depois que eu dei a notícia ficamos em silêncio na sala, Fernando se
juntou a nós dois, mas Maria estava calada e distante, e eu tentei abafar toda e
qualquer sensação ruim dentro de mim, fiz o que sempre soube fazer de
melhor, ser frio, fiquei na minha, por que eu sabia que se desse alguma
brecha e ela me pedisse para ficar eu ficaria, e estando lá ao seu lado não me
permitiria ver tudo com alguma clareza, bem, de nada adiantou, ainda vejo
tudo turvo.
Os sentimentos não acabaram, as sensações não foram embora do
meu corpo, mas eu ainda não sei se isso é realmente somente o amor,
Alejandro me fez acreditar que tudo isso é um tipo de dependência muito
forte, cheguei à conclusão que sim, mas também estou apaixonado por Maria,
me apeguei ao filho dela.
Dirijo em silêncio rumo a casa do meu tio, não coloco os pés naquele
lugar a anos, mas sei que ele se preocupa comigo, e o máximo que
encontrarei lá é ele e Mirna.
Me lembro agora da rejeição de Maria a ideia de que eu viesse
embora, da forma seca na qual me tratou e fico me indagando sobre tudo,
mas não chego a resposta alguma, por que apesar de termos ficado juntos
todo esse tempo, em nenhum momento ela demonstrou que realmente me
amava, eu sei que ela não me ama, e isso é... não sei explicar como me sinto,
mas queria realmente que fosse diferente, que ela fosse um pouco mais
carinhosa comigo, atenciosa...
Queria que ela me compreendesse!
Eu queria me entender!
Estou com a cabeça cheia, lotada, preciso descansar, preciso dormir e
comer, mas não consigo.
Pedi a Sarah que falasse para Maria sobre a minha viagem, dei a
desculpa de que precisava resolver algumas coisas na empresa, mas apenas
isso, não tive coragem de mentir para Maria, se bem que não é exatamente
uma mentira, é apenas uma pequena parte da verdade. Também deixei uma
boa quantia em dinheiro, e pedi a Olaf que ficasse para cuidar dela.
Quero que Sarah compre tudo o que Maria desejar, roupas novas para
ela e Fernando, quero que ela faça compras para casa dela, que ela compre
tudo para que Maria fique bem esses dias durante a minha ausência.
Sandy já deve ter começado a cuidar de Maria, nessas alturas elas já
devem estar treinando, olho pelo vidro escuro e percebo que já cheguei a casa
de papai, fico olhando para o volante alguns momentos, ainda é muito cedo,
Olaf deixou o meu carro no aeroporto, esta foi a primeira vez em anos que eu
vim basicamente só de um lugar para outro, e por mais incrível que pareça,
não enfartei pelo fato de pegar trânsito, nem fique tão receoso de que me
visse através do vidro do carro.
—Medroso de merda!
Respiro fundo.
Saio do carro arrumando o terno, meu celular vibra dentro do bolso e
verifico as mensagens... Denzel Alejandro.
—Ora, ora se não é o meu irmãozinho pau no cu destruidor de
corações!
Leio as mensagens.
"Eu fiquei no Rio, só por segurança mesmo"
"Espero que não dê um chilique"
"Já chegou?"
Conheço Alejandro, ele não ficou para cuidar de ninguém além dele
mesmo, me contrário, mas nem sei se vale apena, para mim ele já tinha
voltado com Júlia e Gil.
"Não se aproxime demais da minha mulher Alejandro ou eu arranco
o seu pau fora"
Dois segundos depois e uma imagem carrega, é a imagem de Maria,
ela está sentada na mesa da cozinha com Sarah e Sandy, verifico o relógio de
pulso, aqui ainda é muito cedo, mas apenas de ver a foto dela já me sinto
aliviado.
"Me dê notícias, e fique longe da Sarah, ela não é para você"
"Ok"
—Como se eu acreditasse.
"Cuide para que ela fique bem e se exercite, não deixe ninguém se
aproximar dela"
"Você não quer que eu coloque uma coleira nela Jack?"
"Cuida da sua vida Alejandro, não te pedi para ficar"
"Está magoado comigo, entendo, só estava magoado, você já está na
casa do papai?"
"Já, até"
Coloco o celular no bolso e vou para casa do meu pai, respiro fundo
antes de tocar a campainha, depois que toco escuto o som dos passos da
bruxa, assim como apelidei carinhosamente a esposa do meu tio a alguns
anos.
Mirna abre a porta, ela usa um vestido de cor cinza comprido, os
cabelos loiros estão presos num coque ensopado de gel, ela parece meio
surpresa em me ver, por certo por que não coloco os pés nessa casa a anos,
desde o dia em que ela começou a colocar todos contra mim, Mirna não
aceita que o filho do jardineiro coloque os pés na casa grande, acho que eu
tinha uns dezessete anos na última vez que vim aqui.
Entro sem cumprimentar, acho que funciona bem melhor assim entre
eu e ela, nos odiamos, e ela não é a primeira a pegar a fila por não gostar de
mim, ela e todo o clã dos Carsson's me odeiam.
Vou para sala onde encontro papai sentado em sua poltrona com um
jornal na mão, ele me olha sob os óculos, mas parece bem mais que surpreso
com a minha visita.
—Benção papai!
Me aproximo e seguro sua mão, papai fica meio assim, acho que ele
ainda não acredita que eu esteja aqui, mas enfim, eu sei que ele não está bem.
—Deus o abençoe filho.
Me afasto e me sento no sofá perto da poltrona dele, olho envolta, a
casa não mudou muito nesses anos, Mirna nunca foi do tipo vaidosa, ela é
muito simples na verdade, sei que ela já deve ter ido na cozinha igual a uma
camela preparar um café, ao menos educada ela sempre foi.
—Onde estava filho? você desligou o celular, fiquei preocupado.
—Fui ao Brasil, conheci a família de Maria, o filho dela.
Não tenho vergonha, não tenho medo, mas não queria que papai
ficasse preocupado comigo, sei que sou um empecilho na vida dele desde que
nasci.
—Você não está bem Jack!
—Estou sim pai, só preciso dormir um pouco.
—Tem um quarto desocupado...
—Posso dormir num hotel.
—Jack, não acha que é hora de esquecer essa rixa?
—Pai eu vim para ver o senhor, o senhor está bem?
—Fiquei muito preocupado, você não pode fazer isso com o seu velho
pai Jack.
—Me desculpe pai, eu apenas queria muito poder conhecer mais a
família de Maria.
—E como ela está?
—Bem.
—O menino gostou de você?
—Acho que sim.
Coço a nuca, papai fica me olhando e percebo que ele realmente se
interessa por meu casamento, por minha felicidade, ele sabe que eu não estou
bem, já não sou normal, agora longe dela... fico muito pior.
—Por que não a trouxe?
—Ela tem uma vida no Brasil pai, o filho dela.
Papai parece meio confuso, desvio o olhar e dentro de mim, o coração
começa a doer.
—Não sei se isso dará certo pai, não sei se sou homem para assumir
uma família, uma mulher.
—Mas você estava tão convicto de que iriam ficar juntos! Maria
parece uma boa moça Jack, eu gostei dela.
—Alejandro acha que ela não vai se acostumar comigo...
—Ela não tem que se acostumar com você Jack, ela precisa gostar de
você meu rapaz.
—Pois é pai, mas nem isso tenho certeza de que ela sente.
—Alejandro não deveria ter te dito isso.
—Me serviu para pensar se realmente devo ficar com Maria, somos
muito diferentes... sinto que a venço pela minha teimosia, não sinto que haja
motivos para que ela me queira...
—Você a ama filho?
Não penso duas vezes antes de responder, mas sou sincero.
—Eu a amo, mas também sou obcecado por ela.
Papai não se surpreende, ele sabe que sou doentio às vezes.
—Então tem motivos para que ela te queira Jack.
—Mesmo eu sendo um louco escopofóbico?
—Ela não sabe disso?
—Sabe pai, mas...
—Então ela está com você porque o ama, nenhuma mulher se
submeteria a algo assim sem ao menos gostar, talvez nem mesmo por
interesse!
Fico calado absorvendo as palavras do meu pai, ele é um homem
sensato e sincero, e não sei de fato por que dei ouvidos a Alejandro.
—Sabe o que tem que fazer não sabe?
Fito papai e faço que sim com a cabeça, me levanto e vou até ele com
um sorriso, beijo sua cabeça, e papai sorri aliviado.
—Diga a bruxa que deixo lembranças amargas!
A última coisa que escuto quando saio da sala é a risada alta do meu
pai, preciso resolver tudo, em breve estarei novamente do lado da minha
mulher, o lugar onde devo estar, com Maria.

Embarquei meia hora depois para São Francisco.


Logo que sai da casa de papai eu sabia que precisava resolver uma
dezena de coisas, durante este voo eu me lembre que acabei por trazer o livro
de Maria comigo, consegui ler algumas páginas durante a viagem, mas não
me concentrava, Orgulho e preconceito... isso é muito a cara dela... mas por
bem ou por mal tudo me lembra Maria.
Algumas horas depois o avião pousou e um dos meus carros me
esperavam na pista do aeroporto, havia ligado mais cedo para Joanne
explicando que chegara e que Olaf ficara no Brasil, ela providenciou um
carro e alguém que o levasse para o aeroporto.
Estou no prédio da BCLT na minha sala.
Daqui observo a grande metrópole enquanto tento me concentrar no
trabalho acumulado, envio de e-mails, uma pequena reunião com Joanne, Bea
está viajando, não trocamos mais que dez palavras, depois vim para minha
sala e usei o banheiro para um banho, decidi que era hora de conversar com
Maria.
Mandei minha primeira mensagem depois que consegui comer
alguma coisa, uma maçã.
"Bom dia, tudo bem por aí? Espero que sim, bjs"
Mas ela não respondeu, então tentei voltar a minha rotina, contudo
fiquei muito ansioso, a cada segundo eu ficava verificando o celular, liguei
para Olaf e ele me disse que ela deixou o celular para trás.
—Pois entregue para ela!
E desliguei.
Estou de mal humor, Maria não quer falar comigo. Eu a magoei.
Porra!
Decido enviar outra mensagem.
"Espero que esteja animada com seu primeiro dia de treino, Sandy é
ótima, bjs, Seu Jack"
Um minuto... Dois... dois e meio... três...
Outra mensagem no chat.
"Vida não quero brigar, estou com saudades"
Basicamente implorando apenas por um pouco de atenção e Maria
nem visualiza, decido ignorar o fato de que talvez esteja com raiva e vou
enviando as mensagens, também talvez ela esteja no treino com Sandy, ainda
que não justifique, sua manhã deve estar sendo cheia, Olaf me mandou uma
mensagem dizendo que elas estavam na praia no treino, pois Maria preferiu
assim.
"Espero que o Nando esteja bem, já estou com saudades dele, você já
acordou? "
Espero um minuto e envio outra.
"Vida?"
Nada dela visualizar...
"Gostaria que estivesse comigo agora"
"Espero que nos vejamos em breve"
"Acho que ainda está dormindo"
Eu sei que não.
Decido dar um tempo nas mensagens, irritado deixo o celular de lado
e volto para o meu computador, não demora muito e me sinto mais uma vez
preocupado, mesmo que não deva, pego o celular de novo, e decido ligar,
telefono uma, duas, três... sete vezes e nada... ela não atende, me irrito...
—Online!
Me vejo sorrindo, me sinto um grande merda idiota pela milésima
vez, Maria está visualizando minhas mensagens, opto por enviar mais
mensagens de novo.
"Estou lendo Orgulho e Preconceito, peguei na sua mala"
"Ah, desfiz a sua mala, coloquei seus novos livros na sua instante"
"Você tem calcinhas bem bonitas"
E enormes...
"Maria seu silêncio é uma tortura, você não precisa se preocupar,
deixei uma quantia modesta para que possa aproveitar suas férias com o
Nando, acho que posso chamá-lo assim, me sinto próximo do seu filho, gosto
dele, posso fazer um papel de pai para ele"
Suspiro, Maria não visualiza... Não me importo, talvez se eu começar
a falar como realmente me sinto ela perceba a importância que tem na minha
vida, o quanto eu a amo, não importa o que pensam sobre a minha doença,
nem o que o meu irmão pensa sobre tudo isso, eu amo Maria, começo a criar
afeto pelo filho dela, por seu lar, tudo o que quero é ela comigo, com ou sem
doença, com ou sem máscara, ela é tudo o que mais quero na face da terra.
"Esses dois dias foram os mais divertidos da minha vida, nunca
consegui vencer tantas barreiras, me sinto grato, tenho esperanças de novo"
"Talvez não saiba a importância disso tudo para mim, me senti parte
de uma família de verdade, foi muito bom"
Sorrio e me lembro de algo.
"Piscina de bolinhas"
"Tá, parei"
"Vida, por que você não atende?"
"Maria atenda agora"
"Atenda"
"ATENDA"
"AGORA"
"AGORA"
"AGORA"
"AGORA"
"AGORA"
"AGORA"
"Você não vai me responder?"
Ela digita, e enfim chega a primeira mensagem de Maria no meu
celular, solto o ar mais que frustrado.
"Estava me exercitando senhor Carsson"
"Vida!"
Envio um áudio.
—Atende tá?
Logo em seguida meu celular está discando o número dela, Maria não
demora a atender.
—Oi!
—Oi Jack.
Uma onda de alívio me invade rapidamente.
—E aí? Como foi com a Sandy? — estou ansioso para saber.
—Foi bom, fizemos ioga—a voz dela está neutra.
—Você está bem?
—Sim e você?
—Estou bem, em São Francisco.
—Ah, entendo.
—Resolvendo algumas coisas aqui, você não está com saudade?
—Sim, estou. — Ela é sincera, eu sei que sim. — O que houve?
—Nada, apenas sinto muita falta de vocês.
Maria suspira do outro lado da linha, ela se preocupa comigo e não
quero isso, só quero que ela fique bem.
—Obrigado por você ter aceitado que Alejandro fique, ele não está
bem esses dias, precisa relaxar.
—É? Ele parece bem.
—Alejandro tem depressão.
Não minto, talvez também esses dias no Brasil sirvam para o meu
irmão desligar de tudo, terminou recentemente com a namorada, talvez esteja
querendo ter a Sarah por perto justamente para esquecer a outra.
—Ele não parece ter essas coisas.
—Mas ele tem, me preocupo com ele, a namorada o largou, ele é
muito difícil... como eu.
—É, ele não fala muito.
Eu e Alejandro temos muito incomum, apesar de eu e ele sermos
também bem diferentes, em alguns sentidos somos bem parecidos,
apreciamos muito o silêncio como num todo, não somos muito de ficar
conversando com as pessoas.
—Por que ele terminou com ela?
—Por causa da Sarah.
Parece justo que eu fale.
Alejandro me enviou algumas mensagens e li depois que desci do
avião, nessas mensagens ele me disse que a namorada havia terminado com
ele e que queria voltar, mas que não voltaria por conta de Sarah, ele alega que
gosta da amiga de Maria, eu o chamei de idiota, mas enfim, ele gosta dela.
—Ele nutre sentimentos por ela.
—Ela não deu esperanças para ele.
—Maria você não precisa falar que eu e o meu irmão somos dois
doidos, eu sei disso.
Venta bastante onde ela está, escuto o som do vento do fundo.
—Não é isso.
—Então...
—Por que ele nutre sentimentos por ela?
—Por que ela deu em cima dele.
—Ela não deu, ela me disse que apenas foi educada.
—Não quero que ele sofra, ele me pediu para ficar por que quer se
aproximar dela, não pude impedi-lo, Alejandro é um bom rapaz.
—Eu não disse que ele não é.
—Vida está brava por que o meu irmão gosta da sua amiga?
—Estou brava com você!
Rio contrariado, Bingo!
—Entendi.
—Que bom.
—Não fique sem atender.
—Você não manda em mim.
De novo de volta ao amargor imenso que é a teimosia da minha
mulher...
—Claro que não, só sou seu marido doido.
—Jack eu gosto muito de você e estou muito feliz que você faça parte
da minha vida, mas você não pode ir embora sem ao menos me falar para
onde vai, ou sei lá, me dar ao menos um pouco de tranquilidade. — Ela está
realmente chateada, a voz cheia de raiva. — Você acha que eu não me
importo quando tudo no que eu mais penso é em você, em nós, em como será
tudo isso.
Analiso sua resposta e falo apenas o necessário.
—Sinto muito, foi de caráter urgente, estou tentando resolver tudo o
mais rápido possível para voltar... você não desistiu certo?
—Claro que não — fala apressada. — Você não parece bem.
—Logo que eu voltar eu te explico.
—Está bem.
—Preciso ir, fique atenta ao celular.
—Ok.
—Gosto muito de você Maria, por favor tenha um pouco de
paciência.
—Aham.
Ela não fala mais nada, o assunto acabou, e eu estou me corroendo
por dentro por ela não dizer ao menos que me quer lá, que sente minha falta,
me sinto um grande... bobo apaixonado e carente.
—Nós falamos depois, beijo.
—Beijo.
Desligo, olho envolta, estar sozinho já não tem tanta graça, e me
esconder já não parece um refúgio tão agradável... não sem Maria por perto.
—Preciso terminar tudo e voltar — suspiro e olho envolta. — Para
minha mulher teimosa e arredia.
Pesadelos
Tento me concentrar no trabalho, funciona, durante as primeiras
horas, depois estou novamente pensando em Maria, meus pensamentos não
saem dela, não importa o quão eu tente, não importa o quanto eu queira
deixar de lado os pensamentos e esquecer de tudo o que passamos, me
detenho sempre que pego o celular em mandar mensagens para ela, mas na
primeira vez que ele vibra já fico em alerta, para o meu contra gosto é o
Alejandro.
"Maria não comeu nada hoje"
Essas pequenas pirraças que ela faz me irritam profundamente.
"Que mais?"
"Tá de mal humor?"
"Denzel aconteceu algo mais importante?"
"Gosto da Sarah, mas ela me despreza"
"Ninguém gosta de você, algo mais que eu deva saber?"
"Sabe, você é o pior irmão do mundo"
Engulo o bolo que se forma na minha garganta com isso, eu sei que
sou um monstro, não preciso que fiquem repetindo.
"Bem-vindo Alejandro"
"Olha, não quero brigar, só estou falando que gosto dela"
"Da mesma forma que falei que amo Maria e você me mandou
desistir dela"
—E eu ainda pensei nisso — completo em voz alta, Alejandro digita.
"Desculpe, essa não foi minha intenção, não quero que venha para o
Brasil e fique mais longe da gente do que já vive Jack"
"Sem sentimentalismo medíocre"
"Eu não sou o Ph e o Jonas"
"Mas parece"
"Enfim, quero a Sarah, o que faço para ela me querer?"
"Ela é mais velha que você Denzel, ela não vai te querer"
"Valeu pela força"
Quero rir só de imaginar a cara de infeliz e de coitado que ele faz,
Alejandro é muito mais sentimental do que aparenta.
"Ok, tenta conversar com ela"
"Ela me evita"
"Você não disse que ela deu em cima de você?"
"Menti"
— Novidade.
Alejandro manda carinhas com olhinhos virando, eu estou fazendo
isso agora.
"Cuide para que Maria fique bem, volto logo"
"Está bem, se cuida mano"
"Jack"
Ele me manda um emoji mostrando o dedo do meio.
Bloqueio o celular e logo vejo mensagens de Bea e Joanne, alguns e-
mails, mas estou com um pouco de sono, não consigo me concentrar direito,
não dormi desde que sai do Brasil. Vou para o sofá me livrando da camisa,
tomo os remédios para tremedeira das mãos — ansiedade aguda — e me
deito, lentamente minhas memórias se voltam para Maria, para o Nando,
quero muito poder voltar para eles logo.
Fecho os olhos tentando dizer para mim mesmo que tudo vai dar
certo, que dessa vez eu enfim conseguirei tudo o que mais quero desde
sempre e me vejo sorrindo ao me lembrar do sorriso do Nando quando
ganhou a coleção do HP, da felicidade estampada nos lábios daquele garoto.
Lentamente meu corpo relaxa no estofado do sofá e vou
adormecendo.
Começo a ressonar, meu corpo permanece pesado e afundando no
sofá, aos poucos minha consciência se perde e o sonho começa.
Estou sentado numa cama, mas no sonho meu corpo não é adulto,
minhas pernas são mais curtas, e meus sapatos não são de garoto, estou num
canto que odeio estar, num quarto que detesto, e todo o cheiro doce do lugar
invade minhas narinas muito rapidamente, muito pior que tudo, é ter sonhos
tão reais.
Minhas pernas estão tremendo, e eu vejo o tecido azul cintilante
reluzindo em meu corpo, uso um vestido infantil de lantejoulas, um vestido
de alças e todo bordado, no meu rosto tem maquiagem, algo que me deixa
parecendo uma boneca, e meus cabelos estão penteados para o lado.
Ela acabou de me dar banho, ela acabou de me vestir e de me entregar
para ele...
Aperto os olhos quando escuto os passos no sonho, num canto escuro
do quarto Alejandro está escondido e encolhido, eu o enfiei no armário logo
que ela me entregou ao monstro, disse para ficar em silêncio, ela não sente
falta dele, ela não sente falta de mim. Meu corpo se treme todo, e abaixo a
cabeça apertando mais os olhos, o pesadelo é tão real que sinto as palmas das
minhas mãos soadas, o monstro entra e seus passos ecoam pela minha mente
me causando mais e mais arrepios de medo, dor, pavor, nojo.
Meu corpo se treme todo, e abaixo a cabeça apertando mais os olhos,
o pesadelo é tão real que sinto as palmas das minhas mãos soadas, o monstro
entra e seus passos ecoam pela minha mente me causando mais e mais
arrepios de medo, dor, pavor, nojo.
—Olá querida!
Sua voz é baixa e nojenta, tenho asco, fico duro, sentado na cama
olhando para o chão, o monstro se aproxima e quando sua mão pousa em
minha cabeça fico endurecido pelo pavor.
—Pronta para... brincar?
Olho para porta, do armário e vejo entre as frechas o olhar quieto e
assustado de Alejandro, depois, logo em seguida o monstro me toca a face...
"Nãoooo"
Meu berro é alto no sonho, um grito de socorro e de dor.
—Não!
Levanto, meio zonzo, apavorado, meu coração acelera tanto que dói
no peito, minhas costas ardem pelo esforço, e fico tentando respirar, por
alguns momentos tonto, me levanto e vou para o banheiro, a vontade de
vomitar entalada na garganta, logo que vomito lavo a boca, ergo a cabeça e
lavo meu rosto, tento recuperar a respiração, e demoro um pouco para voltar
para minha sala.
—Ele não é real Jack! — digo para mim mesmo. — Ele está preso,
ele nunca mais irá fazer isso nem com você, nem com criança alguma.
Volto para minha mesa e me tremo todo.
Meu corpo tem todas as sensações daqueles momentos, eles nunca
saem da minha mente, tudo o que vivi naquele tempo quando meus pais
morreram.
Meu celular volta a vibrar, desbloqueio tentando controlar a
tremedeira das mãos.
"Jack... cara... me ajuda"
Me lembro do olhar do garotinho escondido no armário, sempre tentei
tanto proteger o meu irmão... ainda que eu não seja o melhor irmão do
mundo, sempre quero o melhor para ele e Júlia.
Consigo colocar meus pensamentos em ordem, rapidamente me
lembro dela.
"Maria comeu?"
"Não"
"Ok"
Rapidamente envio uma mensagem para Maria acompanhado de um
emoji irritado.
"Você não comeu nada hoje"
Ela não demora muito para responder.
"Estava sem fome, agora vamos almoçar"
"Coma muita salada"
"Taaaaa"
Mando um rostinho mostrando os dentes, coloco tudo em ordem na
minha mesa e vou a cafeteira, preciso estar acordado, não quero cochilar e ter
outro pesadelo desses, não quero lembrar do pior momento da minha vida.
Percebo que choro depois de alguns momentos e seco as minhas faces.
Papai não sabe os motivos pelos quais tenho tanta insônia, ele não
sabe o quanto é apavorante ter pesadelos assim, eu sempre tento afastar as
sensações e o medo, mas elas sempre retornam, e parece que quanto mais eu
tento, mais as lembranças e o medo me assombram, eu não tenho medo
exatamente de dormir, eu tenho medo dos sonhos, por que esses sim me
atingem.
Retorno ao trabalho e bebo um pouco de café, mas com o passar dos
minutos me sinto novamente solitário, ansioso, nervoso, abalado e
desprotegido, coisa que não permito que ninguém perceba.
Exceto por Clair, Lane e Richard mais ninguém sabe disso, e por
mim ninguém saberá.
Pego o celular e começo a enviar mensagens para Maria, não consigo
fazer nada mesmo, nem me concentrar, preciso me distrair, acredito que se
ela estivesse comigo facilmente eu estaria bem longe do meu passado, eu não
teria tido esses pesadelos horríveis.
"Ele gosta dela"
Maria responde rápido.
"Já percebi"
"Não quero que ele se magoe"
Estou sendo bem franco, porque apesar de tudo, sempre que
Alejandro fica com crises intensas de depressão atinge não apenas papai, mas
a mim.
"Jack ele mal conhece ela"
"Alejandro não se importa com isso, conheço ele."
"Ela odeia ele"
"Por que?"
"Eu não sei"
"Vida você está com um humor péssimo"
"Não pague para ver Jack"
Quero sorrir, mais amargo do que feliz, acho que é para isso que eu
realmente sirvo e sempre vou servir... magoar as pessoas, feri-las, não mereço
que ninguém realmente gosta de mim, o simples fato de que não sei dar amor
para ninguém é a resposta para isso, ainda que eu tenha certeza de que a amo,
sei, que muito mais magoo Maria que tudo.
Suspiro e olho para área de trabalho do meu computador.
Tem uma foto dela bem aqui, dormindo, agarrada aos travesseiros,
essa foi uma das primeiras fotos que eu tirei dela, sorrio, toco a tela, ela está
muito longe de mim, e isso me machuca, me machuca tanto!
—Isso não vai ficar assim Maria.
Coisas concretas
Me ocupo ao máximo e as horas voam.
Também tem muito trabalho acumulado, precisava mesmo colocar em
dia.
Fico olhando várias vezes para o celular, mas não o pego, quando
enfim uma notificação chega, tento engolir a ansiedade e pego o aparelho, é
uma mensagem do Fernando, estou sorrindo.
"Oi Jack, tudo bem aí? Estou com saudade"
—Também estou com saudade garoto.
Fernando desperta em mim tantos sentimentos fortes que mal sei
descrever, eu nunca pensei que fosse olhar para o filho de uma mulher e me
sentir assim... como se ele já fosse meu também.
Me indago se me sentirei assim quando Maria tiver um filho meu, eu
sempre quis muito ser pai, apesar de viver só por todos esses anos, eu queria
muito ter filhos, alguém ao meu lado, uma chance de ter uma família, mas
isso foi roubado a alguns anos quando Condessa me tirou o direito de ser pai,
me endureci depois daquilo, ela tirou a criança e me avisou meses depois.
O Bebê não tinha a ver conosco... mas me indago se o bebê que ela
tirou realmente seria recebido num momento bom de nossas vidas, nós dois
não tínhamos o que poderia ser chamado de relacionamento, aquilo era uma
doença que se alastrou por anos dentro de mim, foi o início de tudo, metade
dos meus problemas começaram quando eu aceitei ser submisso de Condessa,
então, se uma criança viesse nem eu sei como faria uma vez que seu
nascimento impactaria e mudaria nossas vidas para sempre.
Saio dos meus pensamentos ao ouvir o som do vibrador, tem
mensagens agora da Maria, abro no mesmo momento.
"Oi Jack sou eu... enfim, boa noite, sua Duda, bju"
—Sua Duda! — repito e estou sorrindo ainda mais. — Minha!
Ligo no mesmo momento para ela, Maria atende no segundo toque.
—Minha? — provoco, pois, não resisto.
—Convencido — protesta ela, mas parece calma.
Me sinto bem ao ouvir sua voz.
—Como foi a aula?
Sei que foi tudo bem, ou imagino que tenha sido, o professor me
mandou e-mail falando sobre a aula.
—Foi boa.
—E como estão as coisas aí?
—Estão bem, e aí?
—Muito trabalho.
Ela fica calada, imagino que não esteja gostando nenhum pouco da
minha ausência, mas no momento estou fazendo o possível, correndo com
tudo para poder resolver tudo isso.
—O que foi vida?
—Estou com saudade.
Ela não sabe o quanto isso é importante para mim.
—Eu também.
Sua voz está tão triste que me sinto mal.
—O que está fazendo?
—Vou preparar o jantar.
—Está bem.
Já vi que ela não quer conversar.
—Até mais Jack.
—Até mais.
Desligo.
Escuto o som da chamada, é uma chamada de vídeo, fico meio fora de
órbita por alguns momentos, depois atendo, talvez o garoto queira apenas
falar um "oi".
Diante de mim surge um Nando sorridente, ele acena para mim, e
escuto um barulho sem igual, alguns berros e gritos, o som do que parece ser
um game.
—Oi Jack!
—Oi.
Não sei o que falar.
—Estamos com saudade, quando você vai vir?
—Espero que em breve.
—Estava falando com a mamãe? Vocês brigaram?
Estou espantado com a astúcia do garoto, ele é muito esperto.
—Não, não brigamos.
—Ah, é que ela tá meio chateada esses dias.
—Bem eu acho que...
Mas bem antes que eu complete a frase, o garoto está correndo com o
ipad para longe do barulho, ele sorri, inverte a câmera, e logo vejo, a mulher
que mexe com o meu coração perto da pia, Fernando abaixa a mão e vejo a
perna de Maria, fico parado esperando que ela fale, me sinto idiota por querer
chorar, bastante idiota.
Sinto tanta falta dela, ela não sabe o quanto.
—Mãe.
Fernando fica parado ao lado dela.
—Você tá brava com o Jack?
—Não.
A resposta é concreta, fico ouvindo a conversa.
—Ele volta quando?
—Acho que daqui a um tempo.
—Tomara que logo né mamãe.
—Sim.
Acho que ela manda ele fazer algo, Nando desliga a ligação, suspiro,
ao menos eu pude vê-la, Maria está mais bronzeada, mas um pouco abatida,
não parece assim tão feliz, imagino que seja por eu ter vindo para cá.
Mal coloco o celular de lado e começa outra ligação, agora do próprio
número dela, meu coração começa a bater feito louco, mas quando atendo é o
Nando de novo, ele sorri e faz sinal de silêncio, depois inverte a câmera, e
mais uma vez, Maria está diante de mim, de costas, a mulher mais linda do
mundo usando roupas simples, no lugar onde eu gostaria muito de estar com
ela, com seu filho, o meu lar.
—Mãe — Fernando chama.
Maria se vira e fala:
—Oi.
—Sorri para mim.
Ela sorri, um sorriso lindo e único, e o meu coração se embarga,
coloca a mão na cintura e seus lábios se alargam ainda mais no sorriso.
Gostaria muito de estar lá com eles.
—O que você falaria para o Jack se ele estivesse aqui?
Esse garoto é muito inteligente!
—Não sei.
—Ah vai mãe, fala que gosta dele, você gosta.
Maria olha fixamente para câmera, mas ela está longe de estar
desconfiada.
—Claro que eu gosto, ele é o meu boy magia.
Sorrio, reviro os olhos.
—Ele é legal mãe.
—Você gosta dele?
—Ele gosta de gibis.
Ela se senta à mesa, seu semblante está suave e calmo.
—Filho... Por que você brigou na escola?
—Por causa de uma menina.
Fernando olha para tela e me apoio na mão, o cotovelo na mesa.
Poxa Moleque, já tão pequeno e virando um brigão por conta de
uma garota?
—Você gosta dela?
—Sim, eu beijei ela.
Cacete.
—Mãe eu gosto dela, mas acho que ela não gosta tanto assim de mim.
—Por quê?
Fernando olha para o sentido do chão, me endireito na cadeira, e isso
me causa uma dor imensa, me sinto destruído em imaginar que seja por conta
da perninha dele.
—Mãe você tá brava?
—Não filho, ele machucou você? Assim que passar o recesso eu vou
na secretaria da escola...
—Não mãe eu tô bem, só levei um empurrão e arranhei a perna, já
até sarou.
—Mesmo assim eu vou falar com a diretora.
—Tá.
E rapidamente ele desliga a ligação, a última imagem que vejo de
Maria é dela levantando, suspiro.
Isso não pode ficar assim.
Bato com os dedos na madeira da minha mesa, e nesse momento meu
celular volta a tocar, me encho de expectativa, mas logo que percebo na tela o
nome de Condessa perco toda a empolgação.
Atendo.
—Luck, onde você se enfiou? Por que não me atende? Qual é o seu
problema? Tem ideia do quanto estou preocupada?
—Condessa calma!
—Calma? Calma é o caralho, eu estou preocupada.
Você sempre está preocupada.
—Onde esteve? Essa mulher está te afastando de mim!
Você já me afastou de você a muito tempo!
—Calma — repito, mas não sinto como se isso mudasse em nada a
forma como eu vejo Maria. — Você está bem Condessa?
—Não — berra irritada. — Onde está?
—São Francisco! — respondo por que não gosto muito de mentir, na
verdade não suporto mentira. — E você?
—Onde mais? Na França! — reclama chateada. — Ela está aí?
Nunca gostei de dar satisfação da minha vida para Condessa, mas
aprendi a suportar ela com o passar dos anos, aprendi a lidar com ela, por que
ela tem sido, uma das únicas pessoas que ainda parecem também me suportar
e se importar comigo, ao menos ela não me julga pelo meu estilo de vida,
pelo contrário, ela sempre foi bem compreensiva em muitos outros sentidos.
—Não.
—E onde ela está?
—No Brasil.
—E estava lá com ela?
—Sim Soraya, ela é a minha esposa.
Ela arfa do outro lado da linha, e me preparo para ouvir.
—Ela só quer o seu dinheiro Luck, essa mulher é mais velha que
você, uma oportunista!
—Ela não é assim.
—Ela só quer te dar o golpe, está fodendo com ela sem camisinha?
—Condessa...
—Ela vai te dar o golpe da barriga, até quando acha que ela
suportará essa situação?
—Ela me ama!
—Ela sabe quem é você? Ela sabe sobre mim? Ela faz como eu fazia?
—Não Condessa porque ela não é você.
Dentro de mim tudo vai ficando alterado, eu detesto quando Condessa
fica querendo de alguma forma me influenciar, isso não vai mudar nada na
minha vida, e eu realmente jamais desejaria que Maria fosse como ela,
simplesmente entendo que o que sinto pela Maria é um milhão de vezes mais
forte do que o que eu sinto por Condessa.
—Você só está se enganando se pensa que ela vai te aceitar desse
jeito Luck, essa mulher não irá te querer quando souber toda a verdade
sobre nós dois...
Suspiro, olho para tela e desligo a ligação, e digo para mim mesmo
que não importa quantas vezes ela ligue, eu não irei atender.
Preciso terminar tudo logo.
Isso é a coisa mais concreta que tenho agora na vida e nada nem
ninguém me dirá o contrário.
—Preciso voltar para minha mulher e para o meu filho!
Algumas decisões
Tomei uma decisão.
Telefonei mais cedo e conversei com a mãe de Maria, até que
houvesse algum tipo de acordo ela recusou a minha proposta, simplesmente
me sinto inquieto, bem mais do que já sou. Quero que Maria fique bem, ao
menos até decidir vir morar comigo aqui, e ainda que ela não faça a mínima
ideia dos meus planos, eu sei que ela vai acabar aceitando o que quero.
Ela e Fernando precisam de mais espaço e conforto, e eu preciso que
ambos fiquem mais seguros.
Dona Francisca não gostou da minha sugestão, logo que atendeu o
telefone ela estava com receio, claro que eu esperava que ela fosse um pouco
mais receptiva, mas deu logo para ver a quem Maria puxou quanto a
teimosia.
A cada duas palavras que eu ouvia dela uma era "não", em alguns
momentos ela pareceu ofendida ou coisa assim, então decidi falar com seu
padrasto, ele não pareceu tão receptivo também, mas ao menos foi mais
calmo quanto a conversa.
Ao menos me ouviu.
Com o decorrer do dia fiz diversos telefonemas para Alejandro, ele é,
o meu procurador no Brasil, ele já está procurando uma forma de resolver
tudo com os pais dela de um jeito diplomático, o que eu acho muito
complicado.
Toda e qualquer dúvida que eu poderia possuir em relação ao que
Condessa me disse quanto a Maria foi apagada quando liguei para sua mãe e
ela basicamente me insultou quando fiz minha oferta.
Pensei que seria muito simples convencê-la a mudar, estou disposto a
pagar tudo, mas Dona Francesca me chamou muito sutilmente de "abusado" e
em outras palavras me disse que Maria não estava à venda, que eu era um
descarado se achava que poderia comprá-los.
São pessoas honestas, pessoas que verdadeiramente não estão
interessadas no que eu tenho a oferecer.
Logo isso foi muito bom para mim, por que os pais dela ainda que
tenham recusado a minha proposta, de alguma forma só reforçou tudo o que
eu já sabia sobre eles, sobre Maria, me senti de alguma forma muito
orgulhoso, eu sei que ela jamais irá querer me dar qualquer tipo de golpe, eu
sei que Maria verdadeiramente gosta de mim, talvez não da forma como eu a
amo, nem deveria, meu amor é obsessivo e obscuro, mas ao menos ela não é
um interesseira.
Mandei mensagens para Maria, mas estive lotado de trabalho, meus
dias de ausência na empresa me custaram horas e horas de análises e tantos
relatórios que eu mal sabia por onde começar.
Chequei o celular diversas vezes, mas não havia mensagens dela,
contudo sabia que ela estava tendo um dia lotado com Sandy, as aulas com o
professor, mas sei que ela irá ao médico, Sara me mandou diversas
mensagens durante o dia falando sobre como estava sendo, como tudo estava
assim como Alejandro, aquilo só aumentou a vontade de eu estar com ela e o
Nando, quis muito telefonar para ela porém sei que ela está meio arisca com a
minha distância, ainda que não pudesse fazer nada, eu só queria terminar logo
o trabalho para poder voltar para o Brasil.
Visualizo agora as mensagens que enviei para ela nas quais não tive
retorno algum.
"Oi, bom dia, ando meio ocupado, espero que seu dia esteja sendo
proveitoso, Jack"
"Ainda atarefado, a aula com a Sandy foi proveitosa? Espero que
sim"
"O Fernando está bem? Hoje estarei em reunião o dia todo, não
poderei falar muito, depois te chamo"
"Oi, você foi no médico?! espero que esteja tudo bem, fique bem"
A última enviei a algumas horas atrás, mas ela não visualizou
nenhuma, suspiro.
—Por que você é tão orgulhosa mulher?
Estou olhando para o meu celular em silêncio, e do aparelho não vem
som algum, Maria está me desprezando, é isso, tudo o que mais detesto.
Não tenho paciência, preciso falar com ela.
Estou discando o número quando o visor do meu celular se ascende,
na tela o nome do padrasto dela surge, atendo imediatamente.
—Carsson!
—Olá Jack, tudo bem?
—Sim senhor, como está?
—Bem, espero não estar atrapalhando!
—Em absoluto.
Gostaria de não estar tão nervoso, mas me apavoro com a hipótese de
eles continuarem resistindo, meu objetivo não é afastá-la dos pais, nem ela
nem o Nando, sei que para ambos seria um sofrimento.
—Conversei bastante com a Fran, não queremos mudar Jack, essa é
uma decisão muito complicada para ser dada tão rápido, a Júlia tem a
escola aqui nos arredores...
—Já disse que providencio a escola para ela e para o Fernando, o
senhor não precisa se preocupar.
—Não nos agrada querer nada de graça, Francesca não quer parecer
uma aproveitadora, a Duda nem sabe disso...
—Não quero que ela saiba, apenas isso, lá será um bairro melhor
para Maria, para o Fernando, é próximo de uma boa escola, lá vocês terão
segurança e conforto.
—Temos segurança e conforto aqui Jack, moramos aqui a anos.
Posso entender, mas no momento, eu quero muito mais que a minha
esposa e o meu filho fiquem bem e seguros, num lugar bom e confortável.
—Mas não podemos interferir se isso realmente é o melhor para
Duda, se formos temos uma condição.
Fico incrédulo com a resposta, boquiaberto.
—Jack?
—Ah, sim, claro senhor, o que?
—Vamos vender a casa aqui para ir pagando devagar, posso vender
minha academia também, o imóvel é meu, eu quero usar esse dinheiro como
entrada, também temos um dinheiro na poupança.
—Senhor Vanderson...
—É a única condição que eu e Francesca temos para mudar, nós não
aceitamos nada de graça.
Como eles são... teimosos... orgulhosos...
—Dinheiro não é problema senhor Vanderson.
—Para você Jack, contudo somos honestos e a Fran e eu sempre
fomos trabalhadores, posso aceitar a proposta desde que aceite que vamos
pagando aos poucos.
Tenho outra alternativa?
—Está bem, encare isso como um pequeno... —penso bem na palavra
— ... investimento, vou investir e o senhor pode ir pagando depois.
—Ótimo.
—Alejandro comprará a casa e a academia, fique despreocupado,
não ficará desempregado.
—Muito obrigado Jack, pela oportunidade.
Já fiz minha proposta mais cedo, meu celular vibra.
—Ok, preciso desligar, qualquer coisa que precisar não hesite em
pedir.
—Sim, até mais cara.
—Até.
E desligo.
Fico ansioso só de ir direto no chat, mas meu sorriso some conforme
não vejo mensagem alguma dela, respiro fundo e jogo o celular para longe.
—Melhor terminar logo erra porra de relatório.

Meu celular vibrou mais cedo, e logo que abri o visor me vi sorrindo,
contudo, enquanto lia a mensagem meu sorriso foi desaparecendo.
"Oi, bom dia Jack, espero que as suas reuniões sejam proveitosas,
faça muitos novos negócios e que ganhe muito mais dinheiro do que tem, sim,
fui ao médico, e o Fernando está muito bem, eu também, tenha um ótimo dia
de NEGÓCIOS"
Tentei me manter calmo diante do desgosto, eu inclusive já estava
guardando tudo na mochila, me sentia feliz em saber que Maria me
respondeu depois de horas em silêncio, lotado de trabalho, adiantando tantas
coisas, se ela soubesse o quanto eu estou com saudade não teria me mandado
algo assim.
Respondo também sem um pingo de paciência.
"Infelizmente não posso me dar ao luxo de ignorar a minha vida por
sua causa"
"Você disse que não vai me largar e me prendo a isso, precisa saber
suportar algumas situações e essa é uma delas, enquanto não decidir vir e
ficar perto de mim"
"E terceiro, trabalho duro todos os dias, não se refira a minha
profissão assim, você está me desmerecendo, está sendo uma completa
infantil e grossa"
"Por último ressalto a insignificância do seu comentário pois não
acrescentou em nada a minha vida ou o meu dia, tenho mais o que fazer, até"
Guardei meu celular na mochila e fui tomar meu banho.
Mal consigo pensar direito, minha cabeça está tão lotada, não durmo a
quase dois dias, desde que vim embora do Brasil para cá ela é a única coisa
que domina meus pensamentos, seu nome vem e vai em minha cabeça, e não
consigo pensar com tanta exatidão imaginando que talvez ela esteja tão longe
de mim, e tudo o que eu ganho é um "você só pensa em seu trabalho"
Admito que vem sendo assim a muito tempo Maria, admito que o meu
trabalho tem sido minha maior prioridade, mas você tem tomado muito mais
espaço na minha vida do que qualquer outra coisa.
Não deveria ser assim, eu deveria me amar assim como Lane fala,
só que não consigo!
Infelizmente o pior de tudo é saber que nessa merda de vida tenho
consciência de tudo o que fiz, tudo o que sou, e eu sou assim.
Sou uma droga de rejeitado que mal sabe como lidar com as
merdas dos medos que sente, que assusta as pessoas, que sempre prefere
estar só, e que não suporta os olhares de ninguém, nem os da própria
mulher.
Não encaro nada disso como uma fuga, nem como algo que quero.
Tive que vir para resolver as coisas na empresa, mas ela não entende,
não somente isso, mas precisava muito falar com papai, eu sei que talvez seja
difícil para ela, mas para mim também está sendo péssimo ficar longe.
Terminei o banho, mas não fiz a barba, me olhava no espelho e sentia-
me vazio...
Talvez seja isso, ela vem preenchendo tanto a minha vida com sua
presença que nada à minha volta faz sentido sem ela... foi assim com
Condessa, e eu havia prometido para eu mesmo que nunca mais permitiria
que mulher alguma se tornasse o meu tudo, mas foi isso o que aconteceu,
numa velocidade tão grande que me sinto machucado com qualquer coisa que
ela me fale.
Preciso falar com a Lane, parece que a única pessoa na face da terra
que ainda se preocupa comigo—além do meu pai—e ainda se importa, é ela.
Liguei para o piloto.
E logo que me sequei me vesti, meu próximo destino.
—Nova York.
Suspirei, mas não chequei o celular.
—Depois Brasil.
Lane Me escuta
—Oi Lane!
Lane ergue o olhar logo que entro no consultório.
Ela está no notebook, a recepcionista dela recua com seu olhar, eu sei
que ela já encerrou o atendimento, eu já sei que por hoje ela não atenderia
mais ninguém, contudo acho que para mim ela abre uma exceção, Lane
sempre abre uma exceção para mim.
A recepcionista dela sai da sala e fecha a porta atrás de si, Lane me
olha, seus olhos verdes pairam sobre mim e ela sorri, tornou-se depressa,
muito mais uma amiga do que minha psicóloga.
Ela levanta e indica o sofá. Faço terapia com a Lane já a algum
tempo, ela sabe de toda a minha vida, ou ao menos algumas coisas, algumas
outras eu ainda não tenho tanta segurança para falar, tenho receios, sei que
ela é psicóloga e não desmereço metade dos diplomas que ela tem na parede
atrás de sua mesa, mas algumas coisas sobre mim, somente eu e Deus
sabemos.
É melhor assim.
A viagem até aqui me chateou bastante, acredito que eu deveria ter
avisado, mas estou absolutamente impaciente, já tomei alguns remédios para
me acalmar mas não consigo, Lane se senta na poltrona de frente para o sofá
onde costumo me deitar, mas desconfio que ainda sim não consiga relaxar.
—Eu estou apaixonado Lane!
Ela me olha totalmente surpresa, pega seu caderno de notas e a caneta
costumeira, Lane usa uma saia lápis e uma blusa de rendas escura, o terninho
está pendurado na cadeira, seu consultório fica afastado do centro num prédio
de dois andares, a vizinhança é tranquila e silenciosa, tenho vindo aqui pelo
menos uma vez no mês desde que nos conhecemos, claro que as
circunstâncias nas quais nos envolvemos foram meio estranhas na época, mas
hoje tudo o que mantemos é amizade.
Apenas isso, e o vínculo profissional é claro.
Não conseguiria ver a Lane de uma forma diferente a esta.
—Sério?
—Bem mais que sério, nos casamos em Vegas e ela está no Brasil.
—Você? Se casou em Las Vegas com uma Brasileira?
—É!
Vindo de mim, isso é realmente algo surpreendente, mas Lane apenas
sorri e volta para as suas anotações, minha visita será bem rápida.
—Ela me enlouquece.
—E está apaixonado? Desde a última vez que conversamos você
estava mantendo-se bem longe de todo o mundo.
—Ainda faço isso, mas Maria é diferente, ela tem um filho.
—Ok.
Lane sorri, os cabelos castanhos fazem ondas que caem dos lados dos
ombros dela, usa um salto alto que a deixa muito mais elegante do que
sempre é, ela é uma mulher negra e linda, mas o que acho mais atraente em
Lane sempre é o sorriso dela.
—Tem visto Condessa?
—Não, vi ela a alguns dias atrás.
—Você sumiu!
—Eu fui ao Brasil visitá-la, desliguei meu celular e fiquei meio que
incomunicável.
—Permite que ela te veja?
—Não!
—Isso será bem complicado...
—Ela não se importa Lane, me apaixonei tão rápido que me sinto
tolo, não sei o que fazer sobre isso.
—Deixa as coisas acontecerem Jack...
—Quero me entregar Lane, quero ser normal!
—Jack você é normal — observa ela me olhando com dureza. —
Quanto a esposa vai devagar, talvez isso assuste ela.
—Mais?
Passo a mão nos cabelos.
—Talvez não seja amor Jack... talvez seja apenas um marasmo.
—Eu saberia se fosse apenas empolgação Lane, eu só não sei lidar
com ela.
—Por quê?
—Ela meio que rejeita os meus sentimentos.
—Sério?
—Ela tem medo da minha doença e eu não sei como lidar com isso.
—Disse que ela não se importava.
Gosto da Lane porque ela me entende na velocidade dos meus
sentimentos, dos meus pensamentos, ela não fica enrolando, é direta como eu.
—Ela não se importa em não olhar, mas isso a deixa com receio de se
entregar a mim.
—Talvez ela não o ame...
—Ela me ama Lane, o sentimento é recíproco.
—E ela te satisfaz na cama?
—Como nenhuma outra, Maria é incrível!
—Ela já sabe sobre Condessa?
—Mais ou menos.
—Sabe que não pode esconder isso dela.
—Eu sei Lane, eu vou contar toda a verdade para ela, estive sem
tempo, só queria conversar com alguém, estava ficando sufocado.
—Não fique assim... você está tomando os calmantes?
—Tive muitos pesadelos, acho que é porque ela está longe.
—Jack... calma!
Odeio quando me mandam ficar calmo.
Calma é o caralho!
Respiro fundo, eu sei que ela não tem culpa por eu estar super
ansioso.
—Tá — sorrio. — Eu a amo Lane, isso é tão... estranho e bom, ela me
deixa louco, é teimosa e ela é tão briguenta!
—Parece que você está se auto descrevendo — Lane sorri de volta,
mas apenas neutra. — Quer um chá?
—Estou sem tempo, meu voo para o Brasil sai em meia hora, só
passei para te ver Lane, me deseje sorte está bem?
—Claro.
Me aproximo dela e dou um beijo na cabeça, depois sorrio, e começo
a me afastar para o rumo da porta.
—Quatrocentos dólares Jack, você veio fora do meu horário de
atendimento, mas te dou um desconto, você nunca deixou a Dolores te ver.
—Faço a transferência na segunda.
Saio do consultório e escuto uma risadinha de Lane, realmente, nesse
tempo todo nunca permiti que Dolores sua recepcionista me visse, por isso
talvez ela tenha se assustado com a minha chegada.
Passo por ela e a mulher fica me olhando com espanto, desço pela
saída de incêndio — que costumo usar — e quando saio, o carro já está a
minha espera, quase não converso com esse motorista durante o percurso até
o aeroporto, é um dos homens de confiança de Olaf.
Alguns minutos depois me vejo embarcando, consigo comer uns
biscoitos e chá, depois vou para cabine, consigo dormir por algumas horas, e
quando desperto me sinto grato por não ter tido nenhum pesadelo, mas é só.
O sono se vai, e eu pego meu celular na mochila sentindo-me mais
tranquilo para conversar com Maria.
Desbloqueio a tela sem pressa.
—Ela está digitando!
Como eu sou idiota, simplesmente sorrio, começo a digitar também.
"Ah, você decidiu falar com o homem de negócios?"
"Sua grossa"
Não consigo me controlar.
"Jack você sempre tem crises de raiva comigo, claro, mudou bastante
esses dias, eu sinto muito a sua falta e fiquei magoada que tenha ido sem dar
explicações, você é o meu marido e tem que ficar do meu lado, é a sua
obrigação"
Jamais veria você como uma obrigação Maria!
Que ideia mais absurda do caralho.
"Não pude ficar e sinto muito por isso"
"Sinto sua falta"
Meu coração bate absurdamente no peito.
"Você precisa ter paciência"
"Ah é? E você? Você me atormentou tanto para que eu o quisesse,
veio aqui, me comeu e foi embora"
"Maria não seja dramática"
"Eu quero VOCÊ"
Sorrio.
":)"
"Odeio você Jack"
"Maria precisa saber esperar, para mim também está sendo um
grande desafio, sinto sua falta, mais do que qualquer outra coisa, é
TORTURANTE ficar longe de você e me sinto MACHUCADO com isso"
Não é possível que ela não entenda.
"Tá bem, mas eu queria muito que estivesse aqui comigo"
"Eu sei vida, eu também quero"
"Não se faça de santo"
Envio um desses emojis com chifres sorrindo, simplesmente não
quero brigar com ela, não quero me distanciar dela, é horrível ficar brigando
com Maria em qualquer sentido que seja.
"PRECISO MESMO TRABALHAR, fique bem bebê"
"Tá bem"
Ela começa a digitar, e pela demora, já imagino que seja uma pequena
ofensa, ou alguma acusação.
—Mulher teimosa.
Mas já ganhei meu dia em saber que ela sente falta de mim, que
ela me quer por perto, é um claro sinal de que gosta de mim, de que me
ama.
Eu sei que sim.
A mensagem chega e eu a leio depressa.
"Jack me desculpe se eu fui grosseira de alguma forma com você, não
foi minha intenção ferir seus sentimentos, sei que você trabalha muito e
entendo isso, mas só queria que soubesse que me sinto mal por você estar
longe da gente, sinto sua falta e ficar longe de você é um grande DESAFIO,
nos apegamos a você, Nando está com saudades, eu não consigo parar de
pensar em você um segundo desde que você foi embora, gosto muito de você.
Com minhas sinceras desculpas, Maria!"
Termino de ler e me sinto tentado em responder, mas não respondo.
—Vou deixar para falar pessoalmente.

Olho envolta.
É muito bom estar aqui, acho que todos na casa dos pais dela já estão
dormindo pois lá está absoluto silêncio, Maria deixou sua casa bem
organizada, tudo no canto, tento conter os sorrisos nos meus lábios, a forma
como meu coração se acelera.
Não consigo me conter, é tão bom estar aqui de novo... meu lar.
Meu verdadeiro lar.
Alejandro já telefonou avisando que ela saiu, não chequei minha caixa
de e-mail para verificar as mensagens do dia, mal consigo acreditar que
realmente cheguei, logo que o avião aterrissou eu só pensava em como ela
reagiria ao me ver... bem, ver não, mas estar comigo, quero ver o menino,
quero poder abraçá-los, Nando e Maria... minha família.
Deixo minha mala num canto do quarto dela, observo através da
janela a noite iluminada no Rio, acho que não me importaria de morar aqui,
parece ser um lugar mais tranquilo, mas sei que não posso me dar ao luxo de
ficar aqui, seria bem arriscado caso alguém soubesse quem eu sou.
Também não quero que Maria more em qualquer lugar, nem ela nem
o meu menino, quero os dois num lugar onde sei que terão mais conforto e
espaço, um canto onde Maria terá lazer, segurança, lá eles dois terão dias
mais sossegados e mais tranquilos longe da violência dos bairros mais
periféricos.
Me sento na cama e fico por momentos olhando o porta retrato que
está na cabeceira, Maria ao lado de Nando quando ele ainda era uma criança,
juntamente com Sarah, ambas sorriem, Maria usa uma calça jeans e uma
camiseta e Sarah shorts e uma regata, Nando é uma criança pequena de uns
seis anos ainda, cabelos cacheados e olhos vívidos, ele usa uma botinha —
sua bota — na perna e um calção vermelho, sorri para câmera...
Quero muito fazer parte disso, quero muito poder viver com ambos,
farei o possível para que os dois tenham do melhor, cuidarei deles, sei que
agora no começo tempo será bem complicado, mas vou sim fazer de tudo
para vir no Brasil com frequência, nem que para isso tenha que arrumar mais
sócios ou colocar Alejandro na administração da BCLT junto com mais
alguém de confiança.
Sem eles eu não fico mais.
Escuto o som de passos, depois o barulho da porta da frente, fico em
alerta, na verdade apavorado, ainda que me sinta um grande tolo por isso, não
sei se estamos prontos para isso, quero falar com ela primeiro, quero estar
pronto em todos os sentidos.
Ainda não estou completamente pronto, tem momentos em que
me sinto forte e em outros pego pelo medo... ainda suscetível, não! Maria
Ainda não pode me ver!
—Estou morta — escuto Sara falar.
—Nunca mais me leve naquele lugar escuro.
É a voz dela... Minha Maria.
—Boa noite Duda.
E os passos se aproximam do corredor do quarto, deixei a porta
aberta, me afasto em silêncio para o banheiro, esta é a minha única saída, não
esperava que ela chegasse assim do nada, Sarah nem me chamou no chat para
avisar... também não avisei para Sarah que cheguei aqui, acho que a última
mensagem que trocamos eu estava fazendo desembarque.
Logo seus passos se aproximam, Maria entra no banheiro, eu a
observo em meio a semiescuridão de costas para mim, não resisto.
—Senhora Carsson.
Ela se assusta, não me importo, eu a abraço e sinto o cheiro
inconfundível de seu perfume, parece que o meu coração está se enchendo
novamente de tranquilidade e paz, ao mesmo tempo que um alívio percorre
todo o meu corpo, ela se vira, e pula em cima de mim me apertando com
força pelo pescoço, também devolvo o aperto com todo o amor que tenho
dentro de mim, Maria também me cheira e a sinto física e emocionalmente
bem próxima de mim.
Mais que tudo.
Me inclino e colo a testa na dela apertando os olhos, cheiro seu nariz,
ela sorri.
—Você está aqui.
—Claro que estou.
Lágrimas caem pelas faces dela, isso me machuca e ao mesmo tempo
me deixa um pouco feliz, ela sentiu minha falta, Maria tem sentimentos por
mim.
—Não chore — peço baixinho.
—Me desculpe por hoje, me desculpe por...
—Esqueça isso.
Ela me beija, me encho de vontade e essa sensação gostosa pelo meu
corpo, senti falta da boca da minha mulher, desse jeito, ainda que chore eu a
correspondo, mas nosso beijo é louco e intenso, um beijo que exprime nossa
frustração em ficarmos longe um do outro.
—Fugi um pouco — digo e abraço ela com mais força. — Não chore.
—Me desculpe, não... não precisava vir.
—Eu não estava mais aguentando um segundo.
—Como chegou aqui tão rápido?
—Já estava a caminho.
Ela sorri e me beija novamente, sentimos muita falta um do outro, e se
antes eu tinha alguma dúvida sobre seus sentimentos por mim elas foram
sancionadas nesse momento, Maria sente algo por mim, nem que seja
carinho, ainda que ela esconda isso, eu a puxo e vamos nos beijando para o
quarto, ela mantém os olhos fechados, chora, deixo seus lábios e desço para o
seu pescoço, ela me puxa e me beija com mais vontade que nunca... também
sentiu falta de outras coisas pelo visto, tanto quanto eu, a atração começa a
queimar meu corpo, aperto seus quadris contra os meus.
—Eu estou sem camisinha.
—Ah, eu não quero fazer sexo com você Jack, só queria mesmo te
sentir junto de mim.
—Entendi.
Rio e ela também, a mantenho em meu abraço, mas ela não me larga.
—Vida.
—Hum.
—Você está me deixando sem ar.
—Ah, desculpe.
Ela me solta e eu a puxo de volta, seu sorriso é evidente e cheio de
felicidade, lábios cheios e avermelhados pelos meus beijos, suas mãos tocam
a gola da minha camisa depois minha gravata.
—Estou faminto — estou sussurrando em seu ouvido. — Muito
faminto.
—Acho que posso te dar... alguma coisa.
Ah, Mulher...
Ela me provoca... ela quer tanto isso quanto eu quero, eu a empurro e
Maria cai deitada na cama rindo bastante disso.
—Você precisa de uma lição.
Minha voz tem tom de ameaça.
—Eu?
Maria zomba de mim.
—É.
—Por quê?
—Por ter tirado a minha paz ontem.
—Tirei?
—Tirou.
Muito mais que isso, ela ri, subo na cama tirando os sapatos, tiro seu
par de tênis e quero rir do par de meias cor de rosa que ela usa, me inclino
sob seu corpo beijando onde quero, no queixo, o doce aroma de sua pele se
infiltra nas minhas narinas como um perfume que não sai mais dos meus
sentidos, ela agarra minha gravata e eu a vejo sorrindo.
—Mas eu pensei que nada tirava a sua paz.
—Você tira.
Exploro sua boca num beijo feroz, quero seu corpo no meu com
urgência, quero sentir o calor de suas pernas, me enfiar nelas, meter até que
não aguentemos mais bem rápido...
Mas meus pensamentos são interrompidos pelo som de passos lentos,
vou para o lado imediatamente e respiro fundo, Maria se ergue e suas
bochechas estão vermelhas, menos de cinco segundos Nando entra no quarto
correndo, seu olhar vívido, os sorriso nos lábios do garoto vai de ponta a
ponta, sorrio de volta.
—Jack, você voltou cara!
Ele nem espera, vem correndo e pula em cima de mim, abraçar o
Nando depois de tantos dias sem vê-lo é muito bom, o garoto me aperta e
mexo em sua cabeleira cacheada, ele usa pijamas, parece tão mais pequeno
do que ele é, mas acima de tudo, sua luz própria o torna uma criança doce e
gentil.
Eu o amo como a um filho que ainda não tenho.
—Não corra assim — aperto o garoto. — Você está bem?
—Sim — Nando vai para cima da mãe. — Desculpe cara.
Acho que ainda é muito cedo para uma pessoalidade, mas não
acho que seja pedir muito depois que ele me chame de pai... será que ele
aceitaria? Maria iria se opor?
—Tudo bem — sorrio. — Você fez um excelente trabalho garoto,
cuidou dela direitinho.
—Eu sei.
Maria beija a cabeça do Nando sorrindo, não abre os olhos por nada.
—Mãe você não vai abrir os olhos?
—Não — responde. — Você sabe que tenho que levar essas coisas a
sério.
—Eu o vi passando no corredor, achei que era mentira, estava
bebendo meu leite, achei que fosse um sonho, esperei ouvir a voz dele —
Nando está empolgado. — Eu fiquei com medo dele não voltar.
—Não precisa ter medo — aviso sincero. — Por que você acha que
eu não voltaria?
—Por causa da minha perna ne cara, tem gente que não gosta.
Eu o olho, uma criança que merece todo o carinho e atenção de ser
tratada como qualquer outra se sente rejeitada por sua deficiência, isso mexe
bastante comigo, mas não me permito sentir pena do Nando, isso não!
—Ah, mas eu não sou assim cara!
Maria chora sem silêncio.
—Sua mãe está muito sensível.
—É mesmo.
—Acho que ela precisa de um abraço.
O garoto a aperta com força e Maria cai para trás, sorrio ao observá-
los... minha família.
—Não quero que fale mais essas coisas está bem? — Maria pede.
—Tá mãe, desculpa — Fernando para de sorrir. — Mãe, não chora.
—Por que não vai buscar uma água para ela? — pergunto e o puxo
para mim, abraço o menino.
—Tá, mas mãe, eu to bem, não chora.
Eu o solto, e Fernando sai do quarto me olhando como se não
acreditasse, olho para sua mãe e a puxo para o meu colo, Maria me abraça
novamente encostando o rosto em meu peito, nem mil abraços serão
suficientes para matar tudo o que senti esses dias, foi torturante e doloroso
estar longe dela.
—Ele vai a um especialista e não se fala mais nisso.
—Está bem.
—Agora, onde nós paramos mesmo?
Ela não para de sorrir, pula em cima de mim, fica deitada em cima de
mim.
—Quando você vai para América?
—No sábado.
Ela não parece feliz em ouvir isso, mas apenas conformada, eu
mesmo não queria que as coisas fossem assim, mas não tenho muitas
alternativas.
—Sou um homem muito requisitado.
—Ah é?
Rio, seus dedos percorrem meus lábios, ela sorri tão esperançosa... o
peso de seu corpo é gostoso, Nando volta, mas não corre.
—Vocês dois vão me deixar dormir aqui com vocês né? A tia Sah
ronca.
—Claro que sim.
—Obrigado cara.
—De nada cara.
Fernando sorri segurando o copo d'água.
—E como foram esses dias por aqui? Sua mãe deu muito trabalho?
—Não, ela se comportou direitinho, eu e o Olaf jogamos vídeo game
e eu já estou lendo o HP, montei bastante meu quebra-cabeças e a mamãe
começou a malhar.
—Ah, ela está malhando.
Levo um beliscão, rio sem me importar, ela se ergue e Nando lhe
entrega o copo de água.
—Acho que eu estou com fome.
—Você quer uma salada?
—Seria ótimo.
—Preparo então, pode aproveitar e tomar um banho, Nando você me
ajuda?
—Aham.
Percebo seu nervosismo, ela bebe um pouco da água, suas mãos
tremem, beijo sua bochecha enquanto tomo o copo de sua mão, logo Nando
está conduzindo ela para fora do quarto, levanto e os sigo em silêncio, no
corredor Maria pega o menino no colo.
—Amo você Nando, não precisa ter medo de que as pessoas não
gostem de você por causa da sua perninha, você tem um coração maior que a
perna.
—Acha que ele não se importa?
Por que deveria me importar?
—Por que se importaria?
—Não quero parecer um peso na sua vida.
—Quem te disse isso Nando?
—Ninguém, eu apenas acho que ter um filho como eu seja um peso.
—Nando nunca mais fale isso entendeu? Nunca mais!
Me aproximo e os abraço por trás.
—Desculpe preciso me certificar que os dois estão mesmo bem.
—Cara você é muito legal.
Não quero que o Nando pense que o rejeitarei por sua limitação, ele
só merece uma coisa por minha parte, ao menos que eu faça o papel de pai
em sua vida, coisa que o pai biológico não faz. Olho para ela, prefiro que esse
tal sujeito se mantenha bem longe da minha mulher e do meu filho, sinto
vontade de soltar os cabelos de Maria desse coque, afagá-los, beijo seu
pescoço com carinho.
—Vai para o banho — ordena ela.
—Eu mal cheguei e você já está me tratando assim? — estou
balançado.
—Vai logo!
Não poderia ser diferente... Maria tenta de toda maneira se guardar de
mim, esconder seus sentimentos, mas não me importo, eu os libero e me
afasto vendo-a colocar Nando no não e ambos se afastarem para o rumo da
cozinha.
É só que eu não quero me afastar dela, quero aproveitar cada
segundo com ela.
Volto ao quarto e enfio a mão embaixo do travesseiro, sei que ela
deixa aqui, pego a máscara e vou para cozinha ouvindo a conversa de Maria
com Nando.
—Mãe.
—Oi.
—Você tá tão feliz agora.
—É.
—Eu também.
Maria abre a geladeira e faço sinal de silêncio para o Nando, eu a
abraço por trás, não consigo manter as mãos longe dela por muito tempo.
—Você não precisa fazer tudo isso.
—Claro que precisa, você trouxe a minha máscara?
—Sim.
—Muito obrigada.
Coloco a máscara em seu rosto, a viro e a beijo com carinho, Nando
ri, mas não me importo muito, ainda que saiba que a deixo constrangida com
a situação.
—Eu posso preparar o suco.
—Só preciso de uma mãozinha não deve ser difícil.
—Então eu corto e o Fernando espreme, e a senhora fica sentada bem
aqui.
Faço com que ela se sente, lhe dou um beijo na cabeça e puxo as
mangas do terno para cima.
Me sinto aliviado e feliz, é ótimo estar de volta ao meu verdadeiro
lugar, ao lado da minha esposa, do meu filho.
De volta ao meu lar.
Minha
Eu a observo em seu silêncio.
Nando já foi para o sofá, como a salada, bebo um pouco do suco,
Maria parece tão incerta, percebo um pouco de sua inquietude.
—E como foi no médico? — pergunto tentando puxar assunto.
—Foi bom.
—E as aulas?
—São ótimas, Sandy e maravilhosa e Joseph muito inteligente.
—Sandy é sobrinha do meu pai.
Percebo sua surpresa.
—A mãe dela era minha tia — confesso. — Morreu a dois anos de
câncer, não a conheci.
—Que pena.
Não posso dizer assim tão de repente, mas também me senti meio
estranho quando soube que a mãe da Sandy morreu.
—Você e a Sarah saíram?
—Ela me levou para as compras — tediosa ela inclina a cabeça para o
lado, rio. — Não tem graça.
—E compraram muitas coisas?
—Ela me obrigou a comprar umas... roupas íntimas e tal, quer que eu
fique bonita para você.
—Você comprou lingeries para usar para mim?
—Acho que sim.
—Para mim?
Não consigo resistir, é muito bom ver a cara que Maria faz ao tentar
dá uma de durona, seca, em parte por que é parte de sua personalidade, mas
percebo que ela não quer demonstrar que sente nada por mim, talvez por
conta da minha doença, claro, isso me machuca bastante, mas acho que não
bem por isso, talvez o orgulho dela a impeça de demonstrar que sente
qualquer coisa que seja por mim.
—E... Você vai usar? — questiono sem esconder meu tom de
deboche.
Adoro soar debochado... é algo que faz parte de mim, ou cínico, e
irônico... ao menos não finjo ser algo que não sou.
—Acho que não tem outra finalidade senhor Carsson.
Sorrio e pisco, mas simplesmente fico atiçado com a ideia de vê-la
usando uma lingerie.
—Vai usar... Hoje?
Ela está corada... do jeito que eu gosto... mas quero vê-la corada na
cama.
—Você disse...
—Acha mesmo que eu viria para casa da minha mulher sem
camisinha?
Levanto-me, coloco o prato e o copo na pia, olho para o rumo da sala,
Fernando já adormeceu no sofá, coloco a mão em seu ombro, preciso de algo
mais concreto que toques, que abraços, beijos, preciso da minha mulher.
—Vem.
—O Nando...
—Querida não se preocupe com isso, apenas confie em mim.
Ela se ergue, eu a seguro pela cintura e eu a conduzo para o nosso
quarto, sei que ela tem um pouco de receio, minha mão pressiona sua cintura
por que desejo um pouco mais de sentir seu corpo junto ao meu, ela se
recosta em mim, seu corpo é tão quente, Maria toca a minha face e sua mão
desliza para minha nuca, ela me puxa e me beija, seus lábios são quentes e
desejosos. Não tenho paciência, enquanto me beija a ergo no meu colo, sei
que nosso beijo a excita, sei que ela gosta, que também sente falta de mim,
ela também me quer, apenas seu beijo me diz isso.
Não preciso de palavras para saber quando uma mulher quer
muito foder comigo.
Entro em seu quarto e chuto a porta, Maria lambe o meu lábio e
quando morde o lábio de cima fico muito tentado a fazer uma grande merda
com a boca dela, coloco ela no chão, e a olho, ela toca meu maxilar e depois
se afasta puxando a blusa para cima, afrouxo a gravata observando-a se
despir para mim, vendada... isso não deveria ser um fetiche, mas acaba se
tornando.
Tiro a camisa, ela o sutiã, estou puxando a calça juntamente com a
cueca quando ela se ergue já sem calcinha, observo sua nudez, as curvas, os
seios fartos, as coxas nas quais quero me enfiar, a cor da pele bronzeada que
adoro, sinto muito mais desejo por ela do que por qualquer outra mulher na
face da terra.
Maria se inclina e me abraça, é mais um gesto de carinho que tudo,
ninguém nunca foi assim comigo, as vezes ela me pega meio desprevenido,
toco suas costas e encontro seus lábios mais uma vez com intensidade.
É uma busca desenfreada, busco sua língua e ela a minha, algo
imensamente forte, delicioso.
Deixo sua boca e beijo seu pescoço, com a ponta da língua traço um
caminho úmido até seu seio e o lambo, a pele dela se arrepia toda, e lambo
novamente o mamilo excitado, chupo com força, ela arfa vindo com o corpo
para frente, enfio a mão no bolso da calça e pego a camisinha.
Ela toca meus braços, aperta com força, sua boca está entreaberta e
ela respira pela boca, a pele do corpo toda está ouriçada, olho para o outro
seio e abocanho com empenho, chupo fazendo um estalo gostoso, me ergo e
lambo a extensão de sua garganta, o gosto do perfume fica na ponta da minha
língua, também quero que ela me toque... seguro sua mão e coloco sob meu
peito fazendo com que em toque.
Abro o envelope da camisinha, ela toca meu peitoral, isso me excita
de uma forma indescritível, sua capacidade de apenas me deixar tão excitado
com um toque, as mãos suaves vão para os meus ombros e descem pelos
lados do meu corpo, toca meus quadris, ela tem tanto zelo em fazer isso,
Maria gosta de me tocar.
Não pode ver... Mas pode sentir... então farei com que sinta muito
bem para que não deseje olhar.
Tiro sua máscara, ergo sua face e a beijo desenrolando a camisinha no
meu pau, me sento na cama e puxo ela com cuidado para o meu corpo, abraço
ela, ainda que queira fazer isso com pressa sei que devo ter um pouco mais de
paciência, beijo seu seio com cuidado, seguro sua cintura ela se abre para
mim e eu observo o canto que mais adoro de seu corpo, cheiro, sua respiração
se acelera assim como a minha.
Ela cheira a morango.
—Você já está pronta para mim.
Cheiro mais uma vez, e abaixo seu corpo, jogo Maria na cama e ela se
espalha, seus seios saltam, engatinho até seu corpo e abro mais suas pernas,
beijo sua barriga, abro mais e observo a buceta aberta para mim, eu a olho, a
boca dela... forma esse "O" sacana que eu adoro, ela aperta os olhos...
Me enfio nela devagar, toco seus quadris em movimentos de baixo
para cima, ela se encolhe prendendo o pau na carne quente, está úmida,
viscosa, quentinha para mim, tiro e subo metendo enquanto eu a beijo com
um pouco de violência.
—Você é tão gostosa.
—Você também.
—Eu também?
—Você é muito gostoso.
Beijo seu queixo, e me apoio na cama entrando e saindo de dentro
dela, Maria se contraí me prendendo mais dentro dela, ela se estica na cama
soltando as pernas para os lados, suas coxas tremem um pouco, e eu sei que
lhe dou bastante prazer.
É muito gostoso foder com ela.
É muito delicioso meter com ela.
Não consigo fazer devagar, meus quadris se movem mais rápido e
meto com força preenchendo-a totalmente, me apoio nas mãos e faço como
gosto vendo-a rapidamente alcançar seu primeiro orgasmo.
—Ah isso.
—Jack não...
—Na minha boca.
Ela se contorce, me inclino e chupo ela tentando conter a vontade
imensa que tenho de gozar, escuto seus gemidos enquanto lambo seu ponto
mais sensível, por alguns instantes ela prende o quanto pode até que se
entrega ao pequeno orgasmo, beijo todos os cantinhos sensíveis dela.
—Jack.
—Hum — beijo a parte de dentro de suas coxas.
—Preciso fazer xixi.
—Ah.
Isso vai ser muito bom.
Seguro seu braço, mas Maria ainda está meio bamba, eu a ergo em
meu colo.
—Quero fazer uma coisa.
—O que?
—Quero que você faça amor comigo.
—Não estávamos fazendo isso até eu estragar tudo?
—Quero que prenda o xixi.
Beijo sua cabeça, e a levo para o banheiro, fecho a porta com o pé, ela
demora um pouco para responder.
—Tá.
—Tem que prender o máximo que conseguir.
Me sento no vaso e puxo sua perna de forma que ela fica de frente
para mim, a ergo e a coloco em cima do meu cacete, toco os lados de seu
corpo, quero arranhar ela toda, mas me detenho, respiro fundo.
—Se mova.
Ela se segura em meus ombros e começa a se mover devagar, sorrio
muito tentado, e tento respirar fundo com a sensação de tê-la sentando no
meu pau, Maria não tem experiência alguma, ela morde meu pescoço e sobe
os quadris depois desce bem lentamente, prendo, seguro a bunda e ajudo a se
mover no meu pau.
—Gosta de morder Senhora Carsson!
Ela me morde de novo no pescoço e arfo.
—Queria muito te foder hoje.
—Boca suja.
Rio, eu a movo no meu cacete.
—Em inglês parece menos ofensivo vida.
—É?
Faço que sim, Maria ri, e ela abaixa os quadris me enfiando até o talo
nela.
Que Caralho.
—Estou muito sensível. — Ela sussurra.
—Eu também — mordo seu queixo. — Você me enlouquece.
Ela continua a se mover bem devagar.
—Sente desconforto?
—Não nem dor.
—O que Wesley disse?
—Pode liberar geral.
Gargalho, Maria me aperta.
—Para você liberar?
—Aham.
—Posso saber para quem?
—Para o meu marido.
—É?
—Sem medo de ser feliz.
Eu a beijo, mas não quero carinho, nem conversa, eu a puxo com
força fazendo-a gemer alto, ela se endireita e puxo mais uma vez seus quadris
fazendo com que sente com força no meu pau, ela gosta.
Se contraí e gemo tomado por um prazer mais intenso, Maria respira
com dificuldade assim como eu, ambos presos um ao corpo do outro, seguro
seus pulsos e a empurro para trás fazendo com que se segure nos meus
joelhos, puxo seus quadris e ela prende, sinto ela latejando em mim, começo
a estocar com ela observando seus seios pulando, seu corpo todo para mim.
Ela começa a entrar no frenesi, mas não paro, ela se segura toda
contraída, e percebo que a pressão dentro dela aumenta, Maria prende o
prazer e isso me dá um tesão do caralho, ergo a mão observando-a toda aberta
para mim, lhe dou um tapa na parte sensível, ela salta se movendo mais
rápido, a cabeça inclinada para trás, os quadris pulando com impetuosidade,
ela me mela todo enquanto senta, e seu orgasmo quase me enlouquece.
—Faça em mim — peço observando-a foder comigo.
Dou outro tapa no clítóris e meto com ela com mais força, libero o
prazer, a paixão circulando pelas minhas veias juntamente com a luxúria do
prazer, a camisinha prende a porra, mas não me importo, ela soluça enquanto
libera o que quero em cima de mim e isso faz com que eu sinta ainda mais
prazer, seguro-lhe os braços e a puxo, eu a beijo.
Minha Esposa... Minha Mulher... Minha Amante.
Nível 11 da atração
Ela está debruçada sobre meu corpo, sua respiração mansa, seu corpo
grudado ao meu pelo suor, e acho que cochila.
—Vida.
Maria me solta e sai de cima de mim, e percebo sua vergonha ainda
que não me olhe, mas eu não me importo com isso. Sua barriguinha sobe e
desce e seus seios estão ouriçados, as bochechas dela estão vermelhas e a
boca também.
A trepada a envergonhou.
Ela se afasta, me adianto.
—Hei, volta aqui, para onde você pensa que vai?
Seguro-a pelo pulso e a puxo para mim, me levanto e a abraço, não
quero que ela se sinta arrependida, tudo isso foi incrível para mim, me
satisfez de uma forma que nunca senti na vida.
—O que foi? — minha pergunta é muito óbvia.
Quero ouvi-la falando que está envergonhada, mas não
arrependida, isso não!
—Eu... eu... eu...
Envergonhada! Ufa!
—Precisamos de um banho.
—Desculpe.
—Por?
—Fiz... xixi em você!
Rio, eu a observo, os olhos fechados, a boca entreaberta, os lábios
carnudos que me fazem pensar em sacanagem quando estou perto dela, acho
que Maria não tem mesmo nenhuma noção do que fizemos a pouco, do que
realmente aconteceu, a proporção disso, ela é tão inocente as vezes que sinto-
me honrado ou coisa assim.
—Não há necessidade de preocupação.
Maria não gostou do que eu falei, seu semblante endurece.
—Jack...
—Vida, não!
Não vou discutir com ela por conta disso, não adianta.
Preciso que ela aprenda e descobrir tudo isso ao meu lado e não vejo
nenhum tipo de problema que descubra sua sexualidade comigo, ela vai
aprender a sentir prazer de uma forma diferente da qual as pessoas estão
acostumadas, eu não gosto de sexo casual, meu negócio é foder como me dá
prazer, e uma boa esguichada me dá muito prazer.
Conduzo ela para dentro do box, ligo o chuveiro, a puxo e quando a
água fria cai ela arfa, rio de sua surpresa, as coisas são tão óbvias e ainda sim
Maria insiste em resistir, eu entendo sua resistência, apenas não tolero que ela
sinta-se incomodada com a minha forma de ver o mundo.
Esta é a minha forma de viver a vida e ela terá que se adequar a
isso, não por ser minha mulher ou amante, mas porque a amo, a amo
muito e eu a quero para sempre ao meu lado. Sou controverso, difícil,
complicado demais, porém eu a Amo e acho que aos poucos ela
entenderá sua posição em nosso relacionamento, tiro a camisinha e jogo
para longe.
—Pensei que havia rasgado, você está bem?
—Sim.
Ela solta os cabelos depois que pega o sabonete líquido na parede
embutida.
—Comprei algo para você.
—O que é?
—Um secador.
Ela sorri, toco sua face, pois adoro seu sorriso, senti tanta falta desses
lábios, senti tanta saudade dela, eu a abraço sem me importar com a água
meio fria, senti-la junto a mim é um alívio bem recebido.
—Pode me lavar por favor? Acho que fiquei exausto.
Me toque Maria, Por Favor.
—Ah, entendi.
—Que bom.
Ela lava meu peito com sabonete líquido espalhando-o com zelo, seu
toque é suave, as mãos pequenas descem pelo meu abdômen, pego o
shampoo e despejo na cabeça, ela desce mais e mais e fecho os olhos quando
toca mais embaixo.
—Você não precisa ter vergonha de mim Maria, nem de nada do que
fazemos entre quatro paredes, somos casados.
—Eu sei.
Isso a encoraja, ela toca meu pau, observo-a em seu receio infinito, e
não entendo por que ela tem tanta insegurança de me tocar, se nunca permiti
que ninguém se aproximasse mais que fisicamente de mim. Maria sabe que
eu gosto dela, que confio mais nela do que deveria, apesar de sermos dois
desconhecidos eu confio nela minha vida, tudo o que tenho, é algo bem maior
do que uma noite de sexo louca em Las Vegas, e ainda sim ela tem medo de
se aproximar demais de mim.
Ela é um enigma.
Será que não percebe ou que tem medo demais de gostar de mim?
De me aceitar?
Não quero que ela se sinta assim.
Seus dedos envolvem o meu pau com cuidado novamente e suspiro
afastando a espuma para trás dos olhos, é impossível manter o controle perto
dela as vezes, apenas seu toque é suficientemente poderoso para que me sinta
duro.
—Seu toque é maravilhoso — minha voz é baixa e quase não sai.
—É?
Eu a beijo porque não resisto, enquanto ela me lava sinto-me preso ao
seu toque, cativado pelas sensações que me provoca, nenhuma mulher me
impactou tanto, nenhuma mulher me deixou tão louco assim, também quero
tocá-la.
—Agora é a minha vez.
Apalpo seus seios e respiro fundo, toco os lados de sua cintura e
minhas mãos vão para bunda, aperto o corpo contra o meu para sentir sua
pele na minha, me esfrego nela, ela umedece os lábios pega por uma surpresa
que me faz querer rir, e a minha mão se enfia na suas dobras, está quentinha
ainda, contudo respiro fundo mais uma vez e me contento apenas com o
toque.
—Você é tão molhada — digo ainda muito baixo. — Quente.
—Você me deixa assim — confessa ela.
É muito bom ouvir isso.
—Ah, deixo?
—Deixa, isso é sua culpa.
Sorrio, respiro fundo, e me afasto por que sei que farei merda se
continuar com isso, quero muito ferrar com ela agora, e talvez isso soe mais
como uma violência para Maria, ainda que queira literalmente enfiá-la no
meu mundo eu sei que ela tem receio e se assusta com frequência com a
minha forma de ver a vida, então, como prometi para mim mesmo, com ela
irei devagar.
Nunca fui devagar, mas aprendo com ela a saber lidar com isso.
—Você quer dormir vida?
—Quero deitar, foi um dia longo... nas trevas.
Estou rindo, definitivamente está mulher não nasceu para frequentar
shoppings nem nada parecido.
—Foi ao Shopping, tudo isso por mim?
—E com o seu dinheiro.
—É o mínimo que posso fazer por você, não estou aqui para te levar
aos lugares e comprar coisas como os outros maridos.
—Aham.
—Maria, sem orgulho, eu quero que você esteja sempre bem, para
isso precisa aceitar o que tenho para te oferecer.
—Quarenta mil?
Queria ter dado mais, porém fiquei com receio de que Sarah se
espantasse, Alejandro já achou quarenta muito, contudo quero que Maria
tenha tudo do bom e do melhor, a forma desaforada na qual o semblante dela
se fecha me deixa um pouco chateado, porém assim do nada ela me puxa para
baixo e me beija, é um beijo calmo, diferente da raiva expressa em seu rosto.
—Senti sua falta.
Suspiro, sinto-me feliz demais em ouvir isso.
—Também senti sua falta vida.
E ela me aperta mais provando isso.
—O seu tio Geraldo já está bem?
—Gerald, sim, está.
Ela se afasta vergonhosa, foi automático, apesar de eu ter esse meu
jeito de ser não era meu objetivo constrangê-la.
—Desculpe, não era intenção corrigi-la, é um grande defeito.
—Tudo bem, preciso lavar o meu banheiro do meu pipi.
—Faço isso para você, vá para cama.
Não entendo seu espanto.
—Só preciso que você saia...
Teimosa.
—Maria você ainda está aqui?
Pego-a pelo braço e a levo para fora do banheiro, sei que ela vai
insistir e acabaremos discutindo se ela continuar falando sobre esse assunto.
Mijou e daí? Senti que nunca gozei tanto na vida como a pouco.
Fecho a porta logo que a coloco para fora do banheiro depois quero rir
ao imaginar a cara de brava que ela faz com isso.
—Acho bom você estar com os cabelos secos quando eu for para
cama — falo olhando envolta e me enrolo numa toalha. — O secador está no
criado.
Tem uns materiais de limpeza e desinfetante embaixo da pia, um
rodo, uso a ducha do chuveiro para molhar o lugar, aprendi a limpar meu
banheiro quando estava no primeiro internato. Meu tio compreendia da minha
doença então eu tinha um quarto só meu com um banheiro só meu, ele pagou
para que eu não tivesse que me misturar com as outras crianças, como todos
tinham a obrigação de manter seus cômodos limpos e organizados além disso
eu também lavava meu próprio banheiro.
Fui diagnosticado com Esquizofrenia nessa época, também os
diretores do internato decidiram que era melhor daquela forma.
Escuto o barulho do secador, puxo toda a água com o rodo depois que
enxáguo o lugar, deixo a janela aberta e guardo tudo depois que termino. Saio
do banheiro e eu a vejo sentada na cama secando os cabelos com raiva, da
vontade de rir com a cara amarrada dela.
—Quer ajuda?
—Não, obrigado.
—Vida não comece.
—Não aja como se isso fosse normal por que não é.
—Ficaria surpresa com as coisas que eu já fiz, isso é completamente
normal para mim.
Maria se levanta totalmente nua, observo a bunda dela e os seios do
lado do corpo, da vontade de atacar ela aqui mesmo, contudo sei, que o clima
anterior acabou depois do que fiz a pouco e do que acabei de falar.
—Fale algo — peço, mas tudo o que escuto é silêncio.
Ela quer conversar, mas não estou tão disposto a explicar tudo de um
jeito tão fácil, como posso explicar sem que ela saiba as coisas terríveis nas
quais me submeti na vida? Isso irá machucá-la e pior, afastá-la de mim para
sempre, no entanto sei que se eu não falar talvez isso a deixe ainda mais
distante mesmo que não se machuque, quem sabe, meu silêncio a venha
machucando muito mais do que tudo o que tenho a dizer?
—Se sentia bem em fazê-las?
Tenho que ser sincero, ela merece isso.
—Às vezes sim.
—Coisas como...
—Quer mesmo que eu fale?
Tenho certeza que sim.
—Você quer falar?
Sou tomado por uma surpresa inesperada, me aproximo, eu a puxo
para mim, e nos deitamos na cama, Maria joga o secador enquanto eu a
abraço, toco seus seios.
—Ligue o ar.
Levanto e vejo que ela procura a máscara na cama, ligo o ar
condicionado e pego uma máscara de dentro da minha bolsa, volto para cama
e coloco a máscara em sua face. Novamente me deito e ela vem se
aconchegando quando me envolvo em seu corpo, seu rosto está em meu peito
bem como metade de seu corpo em cima do meu, enfio a mão nos cabelos
dela, ganho um beijo carinhoso no meu peito. Suspiro.
É a hora de falar.
—Às vezes nós acabamos fazendo coisas absurdas pelas outras
pessoas, achamos que é o que queremos e que isso é o melhor para nós
quando na verdade você só quer agradar os outros.
—Foi assim com vocês dois?
—Da minha parte sim, fazia tudo por ela.
Fiz tudo por alguém que nunca mereceu e me ferrei, e este é o meu
grande problema, ainda que a minha entrega a Maria seja diferente do que foi
o que vivi com Condessa, Condessa foi a mulher que eu acreditei que amava,
mas tudo o que tínhamos era dependência e uma doença relacionada ao que
sentíamos um pelo outro, com Maria a minha entrega é de todas as formas,
emocional e física.
—Hoje não faria isso por ninguém — não tenho tanta certeza disso
olhando-a tão de perto, mas ela não precisa saber de minhas inseguranças.
—Como começou tudo isso?
—Soraya teve uma infância coberta de abusos por parte dos pais dela,
o pai batia muito nela — explico por que é a verdade. — Pelo o que ela fala.
Maria está reflexiva.
—Ele batia nela... e ela gostava?
—Na infância não, mas conforme a adolescência ela foi criando
algum tipo de... gosto por isso.
—Tipo uma síndrome de Estocolmo.
Exatamente.
—Ela criou alguma dependência dessas surras porque ela apanhava
do pai dela, ela o amava como pai, e aprendeu a amá-lo como agressor.
—Pode repetir? Eu acho que o seu laudo é muito melhor que o da
Lane.
Sinto um beliscão no braço e a aperto, ainda que não deva rir acabo
fazendo isso, estou relaxado.
—Ela cresceu, o pai ficou velho, e parou de bater nela, quando o pai
descobriu o que alimentou em Soraya acabou por se matar com um tiro na
boca.
—Não entendi.
—Ela se apaixonou por ele Maria.
Silêncio.
Compreendo que isso seja chocante, quando Condessa me contou sua
história, ainda que eu tenha sido por toda a minha vida um total louco, senti-
me péssimo em saber disso.
—Maria?
—Hum — pigarreia. — Ela se apaixonou pelo pai, você dizia.
—Acredito que parte dela se apaixonou pelo refúgio que as surras
representavam na vida dela, Soraya sempre teve distúrbios psicológicos
seríssimos — puxo sua perna para cima de meu quadril e fico de lado, toco
sua coxa, penso por instantes. — Ela desde sempre foi paranoica e sofria de
depressão, a mãe dela nunca se importou, era uma mulher muito vazia e
superficial.
—Ela sempre foi rica?
—Sim, a família dela é muito importante, mas eles nunca fizeram o
mínimo esforço para colocarem algum limite em Soraya, o pai achava que
batendo nela conseguiria fazê-la obedecê-lo, acabou fazendo muito mal para
ela.
—Ele batia nela com um cinto?
—Não queira saber a forma como ele batia nela.
E nem queira saber como ela gosta que os homens batam nela, ou
melhor, eu bati.
—Mas eu quero saber.
—Maria talvez não esteja pronta para ouvir isso, é tudo muito fora da
sua realidade.
—Quero saber.
—Tem certeza disso?
—Sim.
—Promete que não vai sair correndo por aquela porta?
—Eu não vejo a porta Jack.
Submisso, dominador, Condessa!
Eu a beijo, a tensão voltando para o meu corpo, não gostaria que se
assustasse mas ela quer e merece saber disso mais que qualquer um, ao
menos para que quando souber tudo realmente não se assuste mais ainda, que
aceite o que fiz no meu passado.
—no início ele batia nela com cinto, depois ele passou a bater nela
com uma vara, ela me disse que várias vezes ele batia nela com o que via pela
frente, mas por fim, ele a amarrava nua na cama e batia nela com um chicote,
até que ela sangrasse, ou desmaiasse de tanta dor.
Faço uma pequena pausa, em minha mente vem algumas coisas que
fiz com Condessa, mas eu as afasto, isso ficou no meu passado, num passado
que tento esquecer a um tempo.
—Por fim ele a espancava com chutes e socos, ela relata que ja tinha
treze anos quando isso acontecia, batia nela até ela perder os sentidos —
digo. — Quando ela fez dezessete anos ele parou de bater nela, então ela
começou a sentir falta disso, fazia coisas absurdas para o pai bater nela, mas
ele já estava velho e se dizia arrependido de tudo o que fez.
—Coitada.
Ela tem pena de Condessa, eu também tinha... no começo.
—Ele a chamava de Condessa!
—Soraya desenvolveu essa paixão por levar surras logo depois que
viu que o pai não bateria mais nela, ele estava arrependido.
—Mas já era tarde demais, ela se tornou masoquista.
—Sim — toco-lhe a face com o indicador, ela está com o semblante
duro. — Nessa época eu a conheci.
—Ela foi para faculdade e te conheceu? Mas você não é
escopofóbico?
—Sou, mas ela deu um jeito de fazer com que eu me aproximasse
dela.
Eu a beijo e com receio completo:
—Perdi a minha virgindade com ela.
Maria se espanta a cada pequena revelação.
—Ela já era bem experiente.
—Perdeu a virgindade com dezoito anos?
—Dezenove.
É, eu sei, eu era um merda... bem, ainda sou!
—Demorou um ano para que eu realmente perdesse o medo de estar
com ela.
—Como se conheceram?
—Eu ia as aulas, mas sempre me sentava muito afastado, ela uma vez
me parou na hora da saída e me convidou para um café, fugi dela — suspiro.
— Foi muito constrangedor.
—Imagino.
Maria me abraça com mais força, ela se solidariza com a minha
doença, ela tenta me entender de verdade.
—E depois?
—Nós começamos a sair sempre, ela respeitava as minhas limitações,
sempre íamos a lugares mais vazios, longe de pessoas, o que ajudou muito foi
o fato de que ela e eu gostávamos das mesmas coisas — faço com que se
deite de costas e me deito em seu corpo, coloco a cabeça entre seus seios e
toco seu mamilo esquerdo devagar. — Não sei, apenas cansei de ficar sempre
sozinho.
—Imagino que tenha sido muito ruim para você.
—Ainda bem que imagina, não queira ser assim Maria, nunca.
Sua mão se enfia na minha nuca, sei que ela me entende.
—Depois do primeiro ano estávamos completamente apaixonados,
mas eu me expus a ela de uma forma que nunca expus para ninguém — eu a
olho, mas sei que apenas estive apaixonado por Condessa desde o início e ela
não sentia nada por mim. — Falei sobre a minha doença desde o começo, ela
entendeu bem, mas eu nunca senti como se ela fosse verdadeira comigo
quanto a ela própria, ela era muito dissimulada as vezes.
—Ela se escondia de você.
—Sim, depois ela começou a entrar na minha mente com toda essa
história de submissão, no começo éramos apenas eu e ela — explico. —
Desculpe, quer que eu continue?
—Sim, vem cá vida.
Depois que me chama me ergo, me deito em cima dela, e nos
beijamos, tento relaxar, coloco o queixo entre seus seios.
—Praticávamos masoquismo, nos primeiros meses eu era o que batia,
não me envergonho disso, e não me arrependo, quero deixar bem claro que
ela não me forçou a nada — toco seus lábios. — Adorava bater nela.
—Adorava? — Maria está incrédula.
Não sei por que as pessoas se surpreendem tanto, isso é tão
comum para tantas pessoas no mundo!
—Sim, foi algo que realmente me cativou, achava que isso de alguma
forma satisfazia o meu ego, era novo, algo que me permitia manter controle
sobre a minha vida, alguém, eu mandava nela — vou para o lado, me chateio
em pensar que ela sente nojo de mim ou algo assim. — Já está enojada?
—Não, claro que não — retruca. — Você sentia prazer em bater nela?
—Sentia prazer em humilhá-la por ela me submeter a isso, porque eu
queria seu amor e sua aceitação e tudo o que ela me oferecia era um chicote e
horas de tortura.
É muito difícil me compreender, a anos venho tentando me encontrar,
mas chega um momento na vida em que tudo parece claro e óbvio demais,
por mais que eu tenha tentado encontrar respostas para tudo o que fiz, concluí
muitas vezes que o que tinha com Condessa era amor, inicialmente sim, mas
depois tive certeza de que não era amor, por que tudo aquilo envolvia apenas
o querer dela, as ordens dela e as vontades que ela impunha.
—Amava ela, escolhi ela para ser minha única companheira, e tudo o
que ela me oferecia era o que ela queria, quando ela queria, no terceiro ano
em que estávamos juntos ela já não estava satisfeita com as surras que lhe
dava — digo o que eu pensei logo que conheci Condessa.
—Faziam sexo durante a tortura?
—Claro que sim Maria.
—Ah, desculpe.
—Soraya queria alguém mais firme, eu não era assim, eu a amava, e
as vezes me submeter a isso me deixava deprimido, estava cansado das
exigências dela, e isso estava me esgotando imensamente.
Amei muitas vezes a companhia de Condessa, a atenção que ela me
deu, foi um tipo de amor, mas algo tão doentio que mal sei como descrever.
—Quantas vezes...
—Às vezes duas, três vezes no dia no começo, ela adorava apanhar,
ainda adora.
—Está falando que ela ainda prática essas coisas?
—Com o marido dela, para algumas pessoas é muito difícil sair disso
Maria.
—Mas eles dois acham isso normal?
—Ele gosta de bater e ela adora apanhar, acho que sim.
—E quando eles tiverem bebês?
—É, eu realmente acho que eles vão ter que parar em algum
momento, mas não acho que seja algo tão abusivo, os filhos dele moram com
eles.
—E você... você é amigo deles?
—Sim.
Não gosto de mentira, ainda que soe hipócrita que omita muitas
coisas dela.
—Não é tão simples, posso continuar?
—Sim, por favor.
—No terceiro ano eu já não queria mais, eu já não a satisfazia nesse
sentido, então ela começou a procurar por um outro Dominador, tenho
certeza que nesta história desde o princípio, eu era mais submisso que ela
própria.
—Claro, amava ela, estava se sujeitando a isso por amor.
—Então ela os conheceu, tentei me afastar dela, mas ela não permitia,
em parte porque sei que um lado dela me amava muito, ela sempre falou isso.
—Mas o outro lado era mais forte que o amor, não é?
—Sim, e foi esse lado que me convenceu a começar tudo novamente,
no começo íamos pouco a casa deles, os encontros aconteciam apenas uma
vez no mês, esse casal era jovem, e os dois adoravam jogos sexuais.
—E você participava de tudo por livre e espontânea vontade? Não
tinha vergonha deles?
—Tinha, mas...
—Você faria tudo para que ela ficasse com você.
Sei que a magoo com isso e gostaria mesmo de não estar falando algo
assim para minha atual esposa, atual e única esposa, eu a beijo, não quero que
ela se sinta triste nem minimizada com isso.
—Passei a apanhar, eu apanhava da mulher e ela do homem, tudo
entre nós quatro, fazíamos sexo sem problemas diante deles e eles diante de
nós, mas não praticávamos troca de casais, e não havia prática homossexual
entre nós quatro.
—Tipo, vocês se envolviam na prática do sadomasoquismo apenas,
mas nas relações não.
—Era o que eu e Lia achávamos, descobrimos que Soraya e Raymond
estavam tendo relações fora do que chamávamos de "pequeno acordo" no ano
seguinte.
—Eles dois estavam tendo um caso!
—No quarto ano nós quatro já éramos acostumados, éramos casais
fixos, adorávamos isso.
—Você adorava?
—Me acostumei, e as coisas não são da forma que os outros veem.
—Está falando que você gostava de apanhar?
Mais de apanhar do que de bater.
—Sim, e de bater também, e adorava que as pessoas me vissem
transando com Soraya, isso me excitava.
—Mas não tinha medo de ser visto?
Muito.
—Não era eu, era o que eu queria ser, e era o que ela queria, e eu seria
o que ela quisesse porque eu a amava.
Ou era nisso o que eu acreditava.
—Não fique brava.
—Não estou, apenas me surpreendo em saber que tem homens que
fazem tudo por esse tipo de mulher.
Mas sei que ela está irritada, diria com ciúmes.
—Mas eu percebia que mesmo com os meus esforços isso não era o
suficiente para nós, nesse ano Lia descobriu que estava grávida do terceiro
filho deles, então nós tivemos que parar com as práticas, eles sempre
respeitavam muito isso.
—Respeitavam a gravidez dela?
—Maria eles eram católicos praticantes, pessoas com famílias, pais,
eles tinham dois filhos pequenos, eram pessoas como quaisquer outras.
É muito complexo falar sobre isso com alguém de fora, demorei
meses para contar certas coisas para Lane, e ela entende muito disso pois é
psicóloga.
—Nos afastamos, eu me afastei, mas acho que para Soraya não era o
suficiente, ela passou a se encontrar com Raymond secretamente, Lia
descobriu e eu já desconfiava, mas tinha tanto medo de perdê-la que eu
simplesmente não falava.
—Sofria em silêncio.
—É, um dia, Lia me ligou desesperada, eles já haviam tido o bebê a
alguns meses, dissera que tomou veneno, eu a encontrei já sem vida, mas não
foi apenas isso o que encontrei, ela segurava algumas fotos, liguei para
Raymond e para polícia, ela tomou vários antidepressivos com remédios para
o coração — sinto-me inquieto ao lembrar da cena. — Foi a pior coisa de se
ver.
A coisa mais degradante que vi na vida, odeio lembrar desse
momento, é angustiante ver alguém sem vida.
—Imagino.
—No velório dela eles dois mal disfarçaram, e isso foi o que mais me
enfureceu, eu os segui, Soraya me dissera que voltaria logo para o
alojamento, mas ela foi para casa deles, tinha as chaves e acesso livre a tudo,
no mesmo dia do enterro duas horas depois encontrei Raymond batendo em
Soraya na sala, ela amarrada com um fio e completamente nua com Plugins
até no rabo, sinto nojo disso.
Seu semblante exprime um certo nojo, algo que nem comparo ao que
senti, foi algo bem mais forte que nojo, repugnei Condessa e Rey por anos.
—As fotos que Lia estava vendo antes de morrer eram fotos de
Soraya e Raymond saindo de um motel no carro dele, afrontei ela no mesmo
dia a noite, ela chegou calada, mas havia um brilho nos olhos dela que só
uma bela surra poderia dar, ou uma bela trepada, tinha medo de que ela me
largasse contudo não iria me sujeitar aquilo.
—Ela negou?
—Não, ela não negou e propôs que eu continuasse como seu
namorado, ela tentou me explicar muito calmamente sua proposta em que
Ray seria seu dominador e eu o homem que suportaria ela nos dias em que
ele não quisesse lhe espancar, recusei, pedi ela em casamento, prometi que
faria de tudo para manter nossa união, mas ela disse que eu não era os
suficiente para ela e que se eu quisesse ficar com ela teria que me submeter a
isso.
—A ser o submisso dela.
—Sim, e eu não queria.
Tudo é bem nítido em minha mente agora.
—Terminamos, para ela acho que foi um alívio, mas para mim não foi
tão fácil, vivia atrás dela, e logo as ameaças por parte de Raymond
começaram, certa vez ele me chamou para conversar, como um verdadeiro
amigo, ele não é uma pessoa ruim, ele tem quarenta anos hoje.
—Poxa.
—É, e ele era o nosso melhor professor de Cálculo.
Ela fica calada.
—Raymond me aconselhou a desistir de Soraya, que ele mesmo
tentaria ajudá-la a sua forma, joguei na cara dele que ele era o culpado pela
morte de Lia, ele ficou meio calado, me olhava com um certo medo nos
olhos, mas eu prometi que não me aproximaria mais dela.
—Precisava deixá-la partir.
—Mas não entendia dessa forma, por que para mim, eu era a única
pessoa que poderia compreender ela, e eu não me imaginava num mundo em
que não existisse Condessa.
Suspiro novamente.
—Então um dia eu cansei de sofrer e coloquei um fim ao sofrimento
—Toco-lhe a face, ela me beija — Não sinta por isso, o suicídio foi a menor
das coisas.
Tenho receio de falar sobre a tentativa de suicídio, mas sei que
devo.
—Alejandro me encontrou no meu quarto, chamou a ambulância e eu
sobrevivi, quando acordei Soraya e Ray estavam no meu quarto, meu tio, eles
haviam contado tudo para ele, na época fiquei furioso.
—Seu tio era alheio a tudo? — Ela boceja.
—Querida nunca contaria para o meu tio que espancava uma mulher,
ou duas, ele me mataria se soubesse.
Ela sorri.
—Mas ficou sabendo, então ele me afastou de Soraya, basicamente
me obrigou a abrir minha empresa, nesse ano eu me formei, e foi um ótimo
exercício, enfiei a cara no trabalho.
—E ficou rico, foi para um castelo e viveu feliz para sempre.
—Amor, não!
Sei que ela detesta quando eu a imito, mas não me importo, ela ri e eu
acabo rindo.
—Tá bem, parei — toco suas costas. — Quer saber sobre a agência
hoje?
—Acho que é melhor deixar para amanhã — Maria está cansada. —
Ai mesmo amor.
Eu a beijo, seus ombros sobem e descem, mas não percebo tensão, e
estou aliviado de que nossa conversa não tenha acabado numa briga ou coisa
assim.
Ao menos ela me ouve, tenta me compreender.
Depois de tudo adormeço ao seu lado, amando-a um pouco mais por
isso.
Momentos felizes
Toco as costas da minha morena, mas ela não se move, então começo
a beijá-la.
—Você precisa acordar!
Isso surte algum efeito, a pele dela se arrepia com meus beijos e
sorrio, pois sei que ela não está mais dormindo.
—Vida!
Gosto muito da quentura de sua pele, desço beijando suas costas,
enfiado dentro de seus cobertores, não posso falar que dormi tanto quanto
queria, mas quero poder aproveitar mais com ela antes de ir embora, ficamos
longe um do outro por muito tempo, ao menos para mim.
—Acorda!
—Não, me deixa em paz.
Maria fala que eu sou rabugento, mas ela não é muito diferente disso,
mas soa tão manhosa quanto uma gatinha preguiçosa.
—Sandy já está chegando.
—Ah não.
Eu a puxo pelo ombro e me deito em seu corpo, ela me abraça com e
suas mãos estão tocando minhas costas, sinto-me relaxado, estar com ela é
muito bom, mas pela pequena careta que ela faz suponho que tem algo de
errado.
—Você está dolorida, não é?
—Minhas coxas, doem.
—É normal, Sandy pega pesado as vezes.
—Não é culpa dela, é culpa sua.
Maria me faz rir, ele é direta e objetiva demais, contudo isso a torna
engraçada as vezes, puxo ela de forma que fica em cima de mim e ela relaxa
em meu corpo, é muito bom tê-la a vontade comigo, acostumada comigo
como sou, apesar de não ser literalmente algo que podemos chamar de
normal.
—Vida?
—Hum.
—Você está brava?
—Não, por quê?
—Por eu ter falado sobre Condessa.
Preciso saber.
Maria fica calada por alguns instantes, não tem como adivinhar, ela é
alguém um pouco fechada, do tipo de mulher que se leva anos para
desvendar, ainda não a conheço tão bem quanto deveria, mas sei que isto é
algo que vamos adquirindo com o tempo, ela precisa confiar em mim e eu
preciso aprender a esperar, coisa que tem sido complicada para mim desde
sempre, todavia quero muito que Maria aprenda a se abrir mais comigo.
—Não, claro que não!
—Você está silenciosa.
—Quero dormir.
Ainda assim não me convenço.
Mas não quero estragar o clima harmonioso que estabelecemos
ontem.
—Quer?
Maria se ergue feito uma gata manhosa, beija meu peito e sua boca
ligeira sobe para o meu pescoço, é difícil manter o controle perto dela, parece
que a força de vontade se esvai a cada segundo quando estamos juntos, eu
não era assim antes conhecê-la, pelo contrário, sempre soube exercer controle
sobre mim mesmo em todos os sentidos da minha vida, mas essa mulher sabe
como me tirar do sério apenas com beijos.
Ela morde minha orelha e fico todo ouriçado, e sua boca vem para
mim com tanto desejo que me inflamo, ela é carnuda e vermelha, sua língua
percorrer minha boca com lentidão e tento capturá-la mas ela é mais rápida,
seguro-a pelo pescoço e a puxo, devolvo a lambida devagar, gosto de
retribuir tudo o que ela me dar, ainda que seja de forma excessiva, por que
não quero enfiar a língua na sua boca exatamente e sim outras coisas...
Mas não é isso, não é um envolvimento carnal, eu a quero de uma
proporção absurda, extremista e doentia, e mesmo assim Maria me aceita
como eu sou, ela se sujeita as minhas condições e se permite estar comigo
assim, eu a amo tanto que isso as vezes me machuca, na maioria delas por
que estamos longe um do outro, porém o que mais sinto agora é o sentimento
de aceitação, coisa que nunca tiveram por mim, apenas meu pai.
—Obrigado por aceitar — digo olhando-a com cuidado.
—Obrigado por confiar em mim Mister "M".
Ela coloca a mão na boca logo que fala, quero rir, ela é tão displicente
que às vezes me faz rir, faço cócegas na barriga e ela dá um pulo alto, solta
uma gargalhada exagerada e alta esperneando na cama, adoro seu sorriso.
Vê-la sorrir me faz um bem inigualável, ver ela feliz me faz feliz
também.
Somos interrompidos por batidas na porta.
—Mamãe, sou eu.
Nando.
Levanto e abro a minha mala, me visto o mais rápido possível.
—Mamãe eu fiz o café de vocês, a bandeja pesa.
Porra Garoto, por que não me chamou para ajudar?
Coloco a camisa, vou até a porta e abro, um calor estranho vai
subindo a minha face logo que me deparo com a mãe dela, é inevitável que
me sinta constrangido perto de estranhos, privacidade é o meu lema a anos,
estar aqui significa estar cercado de pessoas que sempre estão por perto, o
suficiente para bisbilhotar — outra coisa que não suporto — contudo sei que
devo ser no mínimo flexível por conta de Maria, do Nando.
—Bom dia senhora!
—É — Maria se esconde embaixo de seus cobertores. — Desculpe.
—Tudo bem formiguinha — Minha sogra fica me olhando de um
jeito estranho. — Hoje eu e o Van passaremos o dia fora, nos vemos a noite.
Eles irão arrumar a mudança, acho melhor assim, o trato que fiz com
o senhor Van foi de que não contassem nada para Maria, não nesse momento,
sei que ela nunca aceitaria assim de cara, quero que Maria saiba na hora certa.
—Mas mãe...
Dona Francesca se afasta, eu sei que ela é orgulhosa, ela não gosta da
situação e vejo que para ela é mais como uma obrigação aceitar a minha
proposta, estas são pessoas simples que nem sonham quanto dinheiro tenho e
que não preciso me submeter a nada disto, mas acho que com o tempo irão se
acostumar com o meu estilo de vida, Maria inclusive, principalmente ela e o
Nando.
Pego a bandeja das mãos dele, tem canecas de café e pão com queijo
derretido, cheira, Nando corre para cama todo alegre, vejo de longe o quanto
ele ama sua mãe e vice e versa, ele sobe em cima dela depressa como se fosse
ainda um garotinho pequeno pedindo o amor de sua mãe, carinho e atenção.
Quero que ele melhore da perna, que ele seja um garoto forte e sadio,
eu sei que eles precisam de dinheiro, por mais que Maria relute em admitir
um tratamento para o Nando andar normalmente talvez esteja fora do alcance
financeiro dela, mas farei de tudo para que ele aprenda a dar seus passos
sozinho, e em breve ficar sarado desse pequeno problema.
—Tá, a vovó me ajudou, Alejandro e Olaf já chegaram, e a Sandy. —
Ele toca o rosto dela com carinho e sorri. — Mãe seu cabelo tá igual a uma
arapuca.
Está mesmo.
E eu nem tinha visto o quão engraçado isso é, tenho uma mulher de
cabelos rebeldes, que é a rebeldia em pessoa, mas que tem um coração tão
imenso que não sei mensurar em palavras.
—Muito obrigada pelo apoio.
Nando ri de sua mãe irônica, ela vai arrumando o cabelo toda
constrangida, envolvida pelos cobertores e coberta de vergonha. Me
aproximo da cama com abandeja e os observo conversar, estive tão longe de
pessoas que analisar seus comportamentos e relacionamentos é algo muito
incrível, também nunca presenciei este tipo de afeto em nenhum momento da
minha vida, claro, quando criança tive uma mãe maravilhosa, porém ela
morreu e tudo o que tive depois disso foram momentos ruins e de medo, mas
prefiro não pensar nisso agora, a verdade é que eu não quero pensar nisso
nunca mais.
—Estava brincando — Nando se corrige risonho.
—Eu sei, eu sou linda de qualquer jeito.
É verdade... minha linda!
Nando se senta na cama e me sento perto deles com a bandeja no
colo, sei que para ele é muito confuso ver sua mãe com uma venda nos olhos,
mas incrivelmente sua inocência não permite que perceba tudo o que
acontece, pelo contrário, ele se diverte com isso.
—Você vai malhar agora?
—Aham, só vou tomar café, se bem que não acho muito boa ideia,
depois eu como.
—Se você estivesse acordado na primeira vez que eu chamei daria
tempo de fazer a digestão — replico sincero.
Maria estende as mãos e cobre os olhos do Nando, depois me mostra
a língua, rio ouvindo as risadas do Nando se espalharem pelo quarto, eu sei
que sou mandão, e não me importo nenhum pouco com isso, e aprendo a
amar essa mulher cada dia mais e mais.
Filho
—Seu café — seguro sua mão e coloco a caneca sob ela. — Ao
menos tente comer uma torrada.
—Tá — responde Maria num volume baixo. — Você vai... dar na
minha boca?
Quero sorrir, mas meu corpo todo se enche de expectativa com essa
pergunta, meus olhos não saem dos lábios carnudos de Maria.
—Claro!
—Hei cara, você quer vir comigo montar meu quebra-cabeças?
Olho para Nando saindo do pequeno transe.
—Claro — falo. — Fernando, pode me chamar de Jack.
—Tá legal — o menino pula para fora da cama. — To te esperando
no meu quarto, vou trocar de roupa, e não demore.
—Chego daqui a pouco.
—Vou te esperar com a porta aberta cara... quer dizer, Jack.
—Tudo bem.
—Tá.
Acredito que aos poucos ele aprenda a gostar de mim, o garoto sorri,
um tanto constrangido, eu sei que provavelmente é por que nunca teve uma
presença masculina na vida além de seu "avô" Van, gosto disso, prefiro
assim, eu serei o pai dele.
—O que foi Vida?
—Nada.
Maria Parece insegura de repente, não consigo entender por que, até
que chego a uma pequena e incomoda conclusão.
—Logo resolveremos essa questão.
Preferia que fosse diferente pois para mim, é muito melhor estar aqui
com ela e o Nando, longe da solidão e da dor que vem me consumindo a
anos, um vazio que somente eles dois veem preenchendo desde que eu os
conheci, primeiro ela, depois o garoto, mas infelizmente as coisas não são tão
simples no meu mundo.
Meu mundo é escuro e vazio, e preencher a escuridão com a luz e o
vazio com algo é uma coisa bem complicada na vida real, ainda mais minha
vida, que se acerca de segredos nos quais se revelados podem arruinar tudo o
que começo a construir com ela.
Não permitirei que ela fique tão longe de mim mais, não
emocionalmente, quanto as barreiras físicas, essas se tornam uma verdadeira
tortura, mas farei de tudo para que fiquemos juntos o máximo de tempo, eu,
ela e o Nando, minha nova família.
—Tá bem.
Sei que ela não gosta disso, Maria não fala, mas sei que gosta de mim,
se ao menos ela falasse isso claramente para mim com outras palavras seria a
melhor coisa do mundo, ouvi-la falar que me ama, que quer que eu fique,
coisas que eu sei que no momento ela não está disposta a dizer.
—Vou ficar com o Fernando no quarto dele, e você mocinha, vai
malhar.
—Tá.
Ela se enche de suspiros, não espero e a beijo, eu sei que talvez nada
disso seja suficiente para ela, mas só de Maria aceitar minha doença, me
aceitar aos poucos como eu sou... já é o suficiente.
—Você é a melhor.
Me ergo, eu a olho e me afasto, mas de repente não quero estar tão
longe dela, sorrio e giro os calcanhares, retorno e a beijo como quero, como
gosto, sua boca é receptiva e quente, a boca da minha mulher, alguém que
amo mais do que qualquer outra coisa na face da terra, que quero, que desejo,
ela me faz sentir como um grande tolo por isso, mas ainda sim, eu a amo, a
amo por quem ela é e representa cada momento na minha vida desde que
literalmente a atravessou num sinaleiro em Vegas.
Me ergo dando um último beijo e consigo me afastar as vezes parece
impossível manter as mãos longe dela.
Saio do quarto tentando me sentir otimista em vê-la vendada, eu sei
que de longe esse é o relacionamento mais estranho no qual uma mulher
poderia viver com um homem, se é que para as outras pessoas isso pareça um
relacionamento, mas apesar de tudo eu amo a minha esposa, e ainda que seja
incompreensível aos olhos dos outros, eu quero que ela fique bem, e quero
viver isso com ela, com o Nando, que quero muito que um dia Maria me veja,
quero ser alguém bom, um homem dentro do possível... normal.
Impossível!
Mas ao menos eu tentarei, e eu não desistirei disso.
Entro no quarto do Nando e bem assim do nada sinto uma lufada
intensa no meu rosto, o travesseiro faz um barulho estranho e quando abro os
olhos ele está rindo muito da minha reação, sinto-me preso a um pequeno
choque, mas logo em seguida, começo a rir de vê-lo gargalhar com minha
reação.
—Moleque atrevido, você vai ver...
Ele sai gritando pelo quarto enquanto tenta correr, rio, e não faço
muito esforço para agarrar o pequeno travesso, Nando é mais lento, mas não
é tão frágil, os sorrisos dele despertam em mim um sentimento terno e de
proteção, algo que nunca senti por ninguém na minha vida, acho que se um
dia, Maria tiver coragem de me dar uma criança eu me sinta assim em relação
a ela.
Um filho.
Um Verdadeiro filho para mim.
Nunca pensei que me afeiçoaria tão rápido a uma criança, tão pouco
que alguma fosse gostar de mim tão rápido, isso é algo inexplicável e forte,
acho que é assim que o meu tio se sentiu em relação a mim quando eu o vi
pela primeira vez, como se visse a uma criança que deveria cuidar e proteger,
o que foi uma grande pena, foi o fato de que ele me deu para Clair, pois na
época ele estava muito ocupado cuidando da administração do hospital.
—Eu já estou lendo o livro — Nando fala rindo à beça faço cócegas
nele. — Para Jack!
—Eu mereço um pouco de respeito moleque atrevido — respondo e
me sento em sua cama, mexo nos cabelos dele. — E o quebra cabeças?
—Ali — indica a mesa de cor azul pequena. — Eu já estou montando,
ele também é muito legal.
—Que bom garoto.
Nando se senta na cama e fica me olhando com uma espécie de
admiração, confesso que me sinto intimidado com o olhar do garoto, pois
nunca me olharam assim, pelo contrário, todo mundo da minha família me
odeia, para o meu pai eu sou um filho problemático, para os meus irmãos
mais novos um fraco e para os meus irmãos mais velhos um nada, acho que
por isso eu odeio que as pessoas me olhem, elas fazem tantos julgamentos ao
meu respeito... não sei.
Quero me esconder do olhar do Nando também, sou um Merda!
—Você é um cara legal Jack, você e a mamãe vão se casar?
Olho para aliança de casamento no meu anelar esquerdo e me sinto
idiota.
—Acho que já pulamos essa parte — respondo sentindo-me
constrangido.
—Você não pediu para mim.
Reconheço esse tom autoritário, pelo visto, o menino herdou isso
da mãe.
—Bem Fernando, eu posso me casar com a sua mãe?
—Você vai fazer um bebê nela e abandonar ela como o meu pai fez?
Arregalo os olhos e faço que não com a cabeça, Meu Deus!
—Não, não, eu não farei isso.
—Minha mãe já sofreu muito sabe? Uma vez eu ouvi a minha vó
falando que eu fui um bebê indesejado, eu não quero isso para outra criança,
eu sei que a minha mãe trabalha muito e se dedica muito para eu ficar bem,
mas você sabe cara, minha perna é um problema nas nossas vidas, e é
complicado.
As sagacidade e inteligência de Fernando me assustam.
Não sei nem o que falar.
—Eu não sei por que o meu pai abandonou a minha mãe, mas a minha
vó Sueli disse que é porque ele é um galinha.
Ele é um Merda de um filho de uma pu...
—Só não magoa a mamãe tá bem? — pede Nando pensativo. — Ela
merece uma família de verdade, sem falar que a minha vó a mataria se
engravidasse de novo.
—Tá.
Nunca me senti tão intimidado com o olhar de alguém... Bem,
mentira, me senti intimidado com os olhares de Maria no cassino, mas bem,
eu fiquei bêbado logo em seguida...
—Combinado.
Ele estende a mão para mim e eu a aperto cordialmente, depois eu o
puxo e o abraço com força.
—Eu prometo que não vou machucar sua mãe nem você menino.
—Você está me sufocando Jack.
—É carinho.
Minha forma de dizer que amo as pessoas, sufocando-as.
Mas Nando ri, e me vejo rindo também, porque sei que pela primeira
vez na vida, sou bem-vindo na vida de alguém.
Ele também é muito bem-vindo na minha vida.
Rendido
Fico sentado na cama ouvindo o som do chuveiro.
Dentro de mim as coisas funcionam um pouco mais rápido, mas não
consigo me mover, porque é como se eu não conseguisse sair do buraco em
que me enfiei quando me lembro de tudo o que vivi no percurso da minha
vida até aqui.
Agora essa mulher desordeira aparece e me faz querer algo bem maior
que apenas surras, momentos de prazer, ela me fascina e me deixa admirado
com sua personalidade e me faz sentir como um garoto desolado por sua
rejeição.
Tudo foi sempre composto por muros a minha volta.
Havia muita vontade em mim de ter dinheiro, meu trabalho, meu
objetivo de vida era ser alguém tão rico ou mais rico que os Carsson, mostrar
para minha família que ainda que eu fosse um bastardo eu era um homem
capaz de ter minha própria fortuna, depois quando descobriram que eu era um
prodígio eu me tornei uma criança sagaz, ainda que isolada e antissocial,
coisa perfeitamente explicada pelos cientistas, contudo ir tão cedo para
faculdade para mim não foi uma novidade.
As coisas que eu possuía não pareciam ter sentido algum por conta do
meu medo e os sentimentos se misturaram quando eu ainda era novo e
conheci Condessa na faculdade, naquele momento ela se tornou meu mundo,
tudo o que eu mais queria e nunca havia tido, um grande amor, uma grande
paixão, um vício tão forte quanto um choque de adrenalina.
Me vi totalmente preso a ela por anos da minha vida, a suas
vontades, desejos e fetiches.
Eu estava louco por ela, eu a queria e somente ela me meu objetivo de
vida, até eu perceber que para ela eu não tinha um sentido diferente de um
capricho, algo manipulável e descartável como todos os homens foram em
sua vida.
Logo depois que tudo acabou entre nós dois eu me sentia como um
saco vazio, os restos de um jovem homem que se tornou muito velho antes do
tempo, alguém com conteúdo de sobra para dar a doutores de Harvard sobre
física quântica e matemática, mas que no coração carregava algo tão pesado
quanto uma tonelada de dores e sentimentos ruins.
Aquilo me tornou vazio pois eu não sabia ainda lidar com a dor, bem,
na verdade não sei.
Então hoje me vejo, apaixonado por uma estranha que me rejeita, que
não entende meu estilo de vida, que não aceita meu passado e que não
compreende o significado de tudo para mim, e que me faz me sentir mal por
ter sido tudo o que ela não merece para fazer parte de seu presente.
Maria merece alguém melhor que eu, ela merece ser feliz com
alguém normal..., mas eu não consigo ficar longe de Maria, mesmo sendo
um completo Anormal.
Isso me machuca tanto.
Algo grita dentro de mim para ir falar com ela, mas não sei se devo,
se tenho que conversar, se posso, pois sei que talvez essa conversa nos
arruíne, não somente pelo meu passado, mas pelo meu presente, pois
Condessa ainda faz parte dele.
Fico preso a indecisão até que consigo me levantar, estou irritado,
bastante irritado eu diria, eu sei que tenho que colocar um ponto final nesse
assunto ainda que não saiba como.
Vou para o banheiro, eu a vejo tomando banho de costas para mim,
grita uma música que eu jamais ouvi a letra em toda a minha vida, ela faz isso
porque sabe que me irrita, me provoca, e consegue, estou tão cego de raiva
que só percebo que Maria está próxima quando já a puxo para perto num
abraço apertado, ela se assusta.
—Você me irrita.
Seus lábios tremem, úmidos e carnudos, seus olhos estão trincados
com força, e me odeio a cada segundo por ser assim, só que não consigo ser
diferente do que sou.
—Você precisa aceitar que eu tenho um passado.
—Quero saber da agência.
Sua exigência me toma de surpresa.
—Você promete que vai parar de cantar?
—Eu sou uma excelente cantora.
Sorrio contrariado, ela está irritada, eu a viro para mim e a beijo, pois
não resisto aos lábios que adoro, ela me corresponde aos poucos, meu doce e
irritante pecado se rende a mim com a mesma intensidade saborosa de antes.
Ela se rende aos poucos enquanto eu estou completamente
rendido.
—Tem coisas bem piores que Soraya.
Ela parece bem disposta a ouvir.
—Tem certeza de que quer saber sobre isso?
—Absoluta.
Eu não tenho tanta certeza de que você estará tão convicta quando eu
acabar de falar sobre a Agência.
Quero cuidar de maria
—Podemos tomar o café enquanto conversamos então.
Ela concorda com um assentir de cabeça, me afasto tentando manter a
calma, pois sei que as coisas não estarão assim tão dentro do controle logo
que eu começar a falar para Maria sobre as centenas de coisas do meu
passado, ou ao menos parte delas.
Maria fica parada e eu analiso seus traços, seus ombros caídos e a
água que caí atrás de seu corpo, dentro das partes cavernosas do meu cérebro
me vem imagens eróticas da nossa primeira noite, de quando a possui como
queria, ainda que eu estivesse longe de estar sóbrio, tudo o que eu queria
estava ali me despertando desejo, vontade, um lado primitivo que somente ela
tem a capacidade acordar em mim.
Um animal que sempre esteve adormecido, no qual fica louco quando
é despertado por ela.
Não consigo entender ainda isso, nunca me senti assim em relação a
mulher alguma, mas ela... ela me enlouquece.
Estou duro, e tudo o que mais quero nesse momento é poder levar ela
para cama e mostrar o quanto podemos desfrutar de momentos bons juntos,
mas tudo o que devo fazer algo diferente disso, coisa que não quero e que sei
que machucará muito ela.
Sei que ela não entenderá, que ela não vai aceitar, mas também sei
que isso é algo do qual terei que falar para ela, e em algum momento ela irá
ao menos ter ciência de que ficou no meu passado.
Me afasto, mas fico parado no box observando-a.
Maria não se move, as curvas do corpo dela estão cobertas de espuma,
pequenas gotas d'água, respiro fundo, realmente difícil, fico de costas para
ela.
—Vida você vem?
—Tá estou indo.
Sinto vontade de atacar quando me viro de novo e ela já está
enxaguada, seguro seu braço logo que me aproximo, a conduzo para fora do
box e pego a toalha. Começo a secar seus braços, não sinto como se isso
fosse algo estranho, foi algo que desenvolvi com o passar dos anos, ser um
submisso inclui uma dezena de coisas que muitos homens não estão dispostos
a fazer, essa talvez seja uma delas, mas não foi bem por conta de Soraya que
desenvolvi essa mania de cuidar dos outros, nunca cuidei de ninguém, nem
de Soraya, talvez pelo acordo de submissão eu tenha feito muitas coisas por
ela, mas Maria foi e é a única mulher na qual trato dessa forma.
Nunca cuidei de ninguém, mas gosto de sentir que cuido dela.
Maria desperta em mim tantas coisas que não sei como explicar,
nunca saberei na verdade.
Escuto o som dos passos lentos e percebo a pequena presença canina
perto da porta, Claus boceja, com a toalha seco seus cabelos.
—Quero que fique bem.
—Eu sei.
—O seu cachorro está nos observando.
Seco seus braços e seios com zelo, gosto de sentir que Maria está
protegida e bem, é como quando mamãe cuidava de mim, ela era tão zelosa
comigo, nunca ninguém cuidou tão bem de mim quanto minha mãe, me
sentia seguro e feliz de ver seu sorriso, o quanto ela me amava e me tratava
bem, quero que Maria se sinta assim também, como se alguém cuidasse dela,
a protegesse, que perceba meu amor através disso.
—Você gosta de me secar.
—Gosto de cuidar de você.
—Por quê?
E ela não entende isso.
—Não quero que morra.
Não quero que ela se afaste, não quero que ela parta para longe de
mim assim como foi com minha mãe, meu coração ficaria destruído, eu na
verdade acho que não consigo prosseguir com a minha vida sem que Maria
esteja nela porque a amo, eu a venero, acho que apenas ela não percebe isso.
—É algo que desenvolvi depois da morte da minha mãe, coisa de
louco.
—Jack você não é louco.
Não é isso o que os laudos médicos dos meus psiquiatras da infância e
adolescência dizem, eles também dizem coisas que eu não quero que ela
saiba, eu sei que eu nunca vou passar de um monstro doentio, mas não quero
que Maria esteja tão ciente disso, quero mostrar para ela que posso mudar
minha forma de ser, sarar da minha doença, dar tudo o que nunca tive de
ninguém... amor.
—Quero que fique bem — não sei o que falar além disso.
—Eu sei, também quero que você fique bem.
E eu sei que ela é verdadeira.
—Eu gosto muito de você.
—Também gosto muito de você.
—Acha que pode aprender a... me amar?
Maria parece apavorada, mas não tenho medo de uma resposta.
O não eu já tenho.
—Em algum momento você vai ter que se apaixonar por mim.
—Você também.
—Não é o caso.
Já me apaixonei.
Lhe dou um beijo na cabeça, o peito dela sobe e desce, sua respiração
se altera, sorrio.
—Já sou louco por você vida.
—Eu acho que já me deixa louca Jack.
Ela não quer falar de amor... Resistindo como sempre.
—Em que sentido?
—Eu nunca ficaria pelada na frente de um homem.
—Nem do pai do seu filho?
De repente Maria está tensa, outra coisa da qual ela não quer falar,
mas vai ter que falar, ela parece detestar esse cara contudo não é isso, as
vezes tenho a sensação de que ela tem medo de falar disso.
—Você não gosta de falar dele.
—Porque ele é insignificante para mim.
—Ele magoou muito você.
—Ele me machucou profundamente.
—Ele batia em você?
E só de pensar nisso minha pele já começa a ficar ouriçada de raiva.
Se ele houve encostado num fio de cabelo se quer dela vou achar
esse cara no inferno e acabar com ele.
—Não, nós dois só ficamos juntos uma vez.
—E já engravidou?
—Sim.
Maria respira fundo e percebo seu mal estar em falar sobre isso, acho
que ele realmente fez muito mal e ela, mas no sentido emocional, isso não me
acalma, mas é o que basta para eu ter algumas certezas, só quero que ela me
confirme pois afinal de contas, mereço alguma verdade sobre tudo isso.
—Foi uma gravidez acidental então.
—Sim, já te falei que a minha mãe nunca aceitou.
Menos Mal.
—Hum, vamos.
—Só vou me vestir pode ir na frente.
—Nada de roupas.
Não entendo seu espanto, não entendo por que ela não se
acostuma, eu sou assim, não quero por porra de roupa nenhuma, para
que colocar roupa? Somos casados!
—Jack não é boa ideia...
—Vem.
Eu a pego no colo e a jogo por cima de meu ombro, não resisto e
acabo dando um tapa na bunda dela, é arredondada e grande, Maria se
encolhe assustada e sorrio, mas logo depois sou castigado, ela me dá uma
mordida na nádega, tão forte que faz com que todo o meu corpo trema com
isso.
—Desculpe — pede ela.
Não sabe o que fez, se eu não tivesse que conversar com você agora,
iria pedir por mais..., porém sei que você não está pronta para me oferecer
isso, nunca estará de fato.
—Tudo bem.
Beijo sua coxa onde dei um tapa, e ganho um beijo fui mordido, pego
a máscara embaixo do travesseiro, saio do quarto carregando-a assim.
—Você é notável senhora Carsson.
—Sou?
—Sim.
Sorrio feito um idiota, estou tão caído por essa mulher.
—Jack por que estamos pelados mesmo?
—Porque eu quero.
—Já posso te chamar de cinquenta tons?
—Não ouse.
—Mister "M" então.
—Ainda não.
Entramos na cozinha, eu a coloco no chão, coloco a máscara em sua
face e percebo que o copo dela automaticamente reage a isso bem, Maria
finalmente está se acostumando mesmo com a máscara, porém não sei se isso
é tão bom, ela estende os braços e tateia o ar, toca meu abdome e me empurra
para o lado, rio e a abraço por trás quando ela se afasta, adoro seu senso de
humor porque é imprevisível.
—Vida.
—Hum.
—Faz omelete para mim?
—Você gostou?
—Claro que gostei, você mentiu para mim sobre ser boa cozinheira.
—Faço então.
Percebo empolgação em seu sorriso.
—Eu te ajudo com os ingredientes.
—Tá bem.
—Você quer que eu te fale sobre a agência enquanto isso?
—Aham.
Chegou o Momento.
Medo, agência, passado você!
—Podemos usar cebola e pimentão — eu a solto. — Alho?
—Tem brócolis e espinafre cozido, coloque na pia.
—Tá.
Ajudo ela, Maria está cozinhando para mim, e me sinto meio tolo por
imaginar como serão nossos dias juntos depois de hoje, não falaremos sobre
problemas como os dois outros casais do resto do mundo, e duvido muito que
ela esteja pronta, ela nunca estará realmente pronta para lidar comigo, minha
doença os minhas limitações, tão pouco meu passado, mas sei que ela ao
menos está disposta a me ouvir, e isso já é um bom começo.
Depois de tudo ainda sinto um medo tremendo de perdê-la, mas tenho
certeza de que se ela não me quisesse provavelmente não estaria tão próxima
de mim em nenhum sentido.
Beijo seu pescoço ajudando-a a fatiar a cebola, tomo cuidado com os
ingredientes, quero sempre poder ter esse contato com ela, poder ter ela
comigo, ter ela por perto é um remédio para minha insanidade, uma cura para
minha dor, por mais que as pessoas não entendam como as coisas funcionam
para mim.
Por toda a minha vida estive procurando alguém ao menos que me
aceitasse, que me compreendesse, primeiro depois da morte de minha mãe,
alguém materna, mas Clair nada tinha a me oferecer além de rejeição e
desprezo, depois uma namorada, mas Soraya nunca nem chegou perto disso,
algo que demorei a compreender, porque eu era muito confuso em relação a
ela quando nos envolvemos, e então matei todas as chances de tentar achar
alguém que suprisse a minha necessidade, antes de ter uma mãe, depois de ter
uma mulher.
Por isso eu procurei a agência.
Porque achava que lá encontraria alguém parecida comigo, ou ao
menos alguém na qual eu me identificasse ao ponto de querer algo mais,
também pelo prazer que eu buscava, mas entendi que aquilo não me levaria a
lugar algum, porque se eu tivesse de achar uma pessoa que me aceitasse—no
mínimo—essa pessoa teria que passar tempo suficiente comigo para saber
lidar com tudo, meu passado é uma bagagem muito pesada para qualquer
uma saber lidar.
Também entendi que não conseguia me entregar a nenhuma mulher
depois de Soraya pelo medo de rejeição, isso me fez buscar uma vingança
privada, mas algo que era provocado contra mim mesmo, queria me punir por
todos os erros, vazio eu sempre fui, mas na época da agência...
Pensando bem, acho que ela não vai saber lidar com essa porra
toda.
—Depois que eu abri a empresa me sentia muito vazio — falo com
cuidado. — Não conhecia outras mulheres, queria reparar o mal que tudo
aquilo me fez.
—Você queria se sentir normal?
—Sim ou apenas ter a chance de ter alguém que não me sujeitasse a
tudo isso.
—A ser submisso.
—Eu era doente, não havia a menor chance de me aproximar
normalmente de alguma mulher, nem fisicamente nem emocionalmente.
Ou apenas me aproximar de uma mulher, sou um porra de um
medroso mesmo!
—Então procurou a agência — Maria diz. — Como achou essa
agência?
—Quando se tem um pouco de dinheiro e se conhece a pessoa certa
isso é o de menos — seguro sua mão, olho para as camadas de cebola
lembrando de algumas coisas ruins que fiz. — Eu basicamente comecei a ter
encontros duas vezes na semana, no começo eu tinha uma ou duas parceiras
por noite, as vezes três.
Ou várias...
—Era cômodo para mim e muito fácil, queria achar alguém que
estivesse disposta a conviver comigo pela minha limitação.
— E isso não aconteceu.
—Não, percebi logo que nenhuma das mulheres com quem me
envolvi eram compatíveis comigo.
Realmente, é estranho lembrar que faz pouco tempo que eu parei de
sair com as mulheres da agência, parece que faz muito mais tempo que não
tenho encontros com garotas daquele lugar!
—E como funcionava?
—Alguém da agência ligava e marcava o encontro.
—Na agência?
—Não, em um hotel ou alguma casa que eles alugam, depende muito
do lugar.
—Em qualquer lugar do mundo?
Você não tem ideia dos lugares para onde eles podem enviar a
mulher mais próxima... ou o homem!
—Sim, a qualquer hora com o tipo de pessoa que você desejar.
—Até homens?
—Nunca saí com homens.
Isso não é bem verdade, mas... não, ainda não querida, você não está
tão pronta ao ponto de saber disso.
Beijo-lhe o pescoço, seguro suas mãos e as deposito sobre o brócolis.
As vezes se torna algo muito fácil e banal de se pensar, afinal de
contas, é normal um homem ter vários encontros com mulheres diferentes,
mas os meus encontros eram tão... estranhos!
Eu sou estranho.
—Tive vários casos nesse ano, mas isso estava atrapalhando muito o
meu foco, a empresa estava em fase de crescimento, precisava me concentrar.
—Você gostava delas?
Nunca gostei de ninguém, mas confesso que algumas me
cativavam.
—De algumas sim, outras eram apenas pessoas com quem eu gostava
de estar, e nem todas foram minhas amantes.
—Quantas?
Acho que trinta e sete, mas não me lembro direito, acho que as
garotas da agência foram as únicas coisas que eu não contei na minha vida.
—Acho que trinta, nunca parei para contar.
Não disse que eu era um santo, nem prometi que falaria
completamente tudo por trás do que houve, mas não gosto de mentira,
realmente, não me lembro.
—Tinha uma libido incontrolável, era um pouco vaidoso no começo e
convencido, só tinha vinte e três anos.
Isso não é completamente verdade, mas falar da idade agora...
isso não é o assunto.
—Isso foi a três anos Jack.
Mais ou menos.
—Para mim parece que faz muito tempo, desde aquele ano mudei
muito.
—Você não teve nenhuma namorada?
—Não posso chamar aqueles envolvimentos de namoros, algumas
eu... eu usava para me divertir um pouco.
—Divertir.
Depois que observa ela parece meio intrigada com isso, mas é a pura
verdade.
—Fazia coisas com elas.
Tiro a faca da mão dela e a seguro pelos ombros e a viro para mim,
analiso sem semblante tentando buscar respostas para o que acabei de falar,
gostaria de ser suficientemente corajoso para que Maria me visse nesse
momento, olhar em seus olhos para me sentir inteiro, um homem sem medo
do que as pessoas veem sobre ele, um homem de verdade mas não consigo.
—Praticávamos sadomasoquismo.
Ela fica sufocada e dura, os nervos de seu corpo enrijecem, e não
queria ter que ser portador dessa coisa toda, mas eu a quero tanto que não
acho justo que ela não saiba, eu a amo tanto que não quero mentir para ela,
não consigo, não sobre isso, me inclino e encosto a testa na dela, Maria solta
o ar devagar, sinto sua respiração nos meus lábios.
—Fale algo.
Mas ela não fala e isso me frustra, olho para sua boca e não resisto em
beijá-la, tenho muito medo de que não compreenda o que tento falar, que
interprete isso mal — coisa que sei que está acontecendo nesse momento.
Porque sinto, que a cada dia que passo ao seu lado, eu deixo de
ser o outro homem que eu era antes dela.
Nunca encontrei tanto refúgio em algo tão simples... apenas um beijo
dela, mas o receio ainda me toma todo.
—Você vai me abandonar agora?
—Já disse que não vou te abandonar.
Fecho os olhos reforçando isso dentro de mim, ela não partirá como
minha mãe partiu, ela não me abandonará como Clair me abandonou, ela não
me trairá como Condessa me traiu, Maria ficará ao meu lado, e farei tudo
para que ela reforce isso dentro dela também.
—Eu mudei muito desde então, eu não prático mais, foi num processo
de transição da minha vida.
—Que época?
—Meus negócios começaram a se expandir, e a empresa precisava do
dono. Foi quando eu comecei a fazer terapia com a Lane, e comecei a minha
ressocialização.
—Para você pode andar em público.
—Eu odeio massas.
—Por isso você agiu daquela forma comigo no baile?
—Uso toda a minha autoconfiança para isso.
—E fica frio com as pessoas.
Frio é muito pouco perto do que posso ser querida, tudo o que
tenho é... Medo!
—Acho que você não percebeu o quanto estava apavorado em saber
que pelo ou menos trezentas pessoas estavam me olhando.
—Apavorado?
—Sim, e enjoado.
Maria me abraça de forma repentina e isso mata a agonia de me
lembrar daquele momento.
—Já fiz coisas terríveis.
—Eu não me importo com isso.
Passo os braços envolta dela e a abraço também me sentindo seguro.
—Talvez algumas coisas você não tolere.
—Você não quer que as coisas deem certo?
—Claro que quero.
—Então se permita isso.
—Você é tudo o que eu mais quero.
E você não sabe o quanto.
—Você é muito fofo quando quer Jack.
Beijo sua cabeça.
—Minha omelete.
Não quero parecer fofo, gosto de manter a minha reputação intacta,
pois sei que ela ainda terá uma lista imensa de decepções quando conhecer
quem eu realmente sou.
—Ah, claro, você pode despejar quatro ovos...
Maria fala como devo fazer, me afasto e vou pegando os ingredientes
e misturando tudo, começo a gostar muito mais de nossa convivência que
tudo, ela me ouve, ela procura me entender e ela sabe como respeitar as
minhas limitações, gosto disso nela, como pessoa.
—Jack.
—Sim?
—Você está agindo assim para me agradar?
—Nunca faria isso com você Maria, eu sou assim as vezes, sou
complicado já disse.
Misturo as gemas na vasilha, não tenho tanto jeito assim com a
cozinha, mas compartilhar esses momentos com ela é muito bom.
—Você gosta... gosta de estar comigo?
Que pergunta.
Eu a olho de cima abaixo, e já começo a pensar sacanagem.
—Por que não gostaria?
—Não sou interessante.
Como?
Maria tateia o ar e a observo puxar uma cadeira e se sentar, ela está
envergonhada, não quero imaginar como seria se ela visse a forma como eu
realmente a olho.
Quero comer ela e ela vem com essa conversa de "sou feia?"
—Por que não se acha interessante?
—Bem, eu não sou das mais bonitas nem nada, eu não gosto muito de
sair nem essas coisas, e eu estou acima do peso.
—Alguém disse isso para você?
Tenho certeza de que foi exatamente isso, alguém a ofendeu, e já
começo a me irritar com a possível chance de ser o imbecil do pai do Nando,
o sorriso forçado não convence, ainda que esteja com os olhos fechados a
todo momento.
—Não precisa ter medo de que outras mulheres não queiram você,
algum dia você pode encontrar alguém jovem e compreensiva para ficar com
você, dar filhos.
Porra!
É isso, ela deve ter visto o pai do Fernando enquanto eu estive fora,
esse idiota falou alguma coisa para ela, e a última coisa que eu preciso é de
alguma espécie de pena da parte dela, me irrito.
—Não tenho medo de que não me queiram Maria, EU QUE NÃO
QUIS NINGUÉM.
—Só quero dizer que...
—Não diga!
Ela cora.
—Você quer me afastar de novo...
—Não, não é isso, apenas estou dizendo que você é rico, muito jovem
e é bonito, talvez consiga coisa melhor.
—Você é o meu melhor!
Estou sendo completamente sincero.
—Não se importa se as outras pessoas me acharem feia?
—Não preciso da opinião de ninguém, eu sei muito bem o que eu vejo
e quero, e chega com esse assunto.
—Tá!
—Vou te servir a minha omelete, mas você vai fazer para mim
depois.
—Tudo bem.
Melhor assim, porque se eu ficar imaginando coisas como a que
pensei a pouco vou acabar fazendo merda.
Essa mulher é apenas minha e nada nem ninguém vai dizer o
contrário, nem meu passado, nem o que eu fui, nem o meu medo, e por
fim, nem ela!
Entregue a Maria
Maria aceita mais uma garfada de omelete, ela mastiga devagar e
parece gostar da comida, tem vergonha, ela é tão tímida às vezes que me dá
nos nervos, o que é contraditório já que eu sou bastante tímido. Ela está
pensativa e calada, sempre apreciei silêncio, mas o silêncio que vem dela não
me deixa muito confortável.
Ela ergue a caneca e bebe o café depois que mastiga boa parte do que
dei a pouco, tento desvendar seus pensamentos, mas ela está fechada,
momentos reflexiva, momentos apenas quieta, gosto de quando ela conversa
comigo por causa disso, porque assim estou bem ciente de tudo o que
acontece, tanto quanto as coisas são para ela assim como são para mim.
Mas sofro de um mal muito forte, ansiedade e não resisto.
—No que está pensando?
—Nada.
Mentirosa.
—Já falei sobre seu silêncio.
—E eu já falei que sou um tédio.
Você está muito longe de ser tediosa Maria, mas não quero
discutir isso com você.
—Hora de voltar para o quarto, Alejandro já deve estar voltando.
Provavelmente está pensando em tudo o que falei.
Claro, não quero destruir os sonhos futuros do meu filho com essa
visão maravilhosa de dois adultos pelados andando dentro do que ele chama
de lar, nem denegrir a minha imagem de boa mãe.
Isso não.
Me espanto logo que escuto ela contando os passos baixinho.
—Você está contando?
—Claro, eu preciso me acostumar para quando você vier.
Paro, mas é um ato de choque, preciso saber, preciso perguntar,
preciso que ela confirme o que quero saber.
—Você quer que eu venha mais vezes... e concorda em continuar com
a máscara?
—Você não?
Fico calado.
Analiso suas feições, os cílios cumpridos, a sobrancelha escura e
grossa, as bochechas dela e a boca carnuda, e dentro do meu coração tudo se
agita com a afirmação de que mesmo sabendo de tudo, Maria me permitirá
estar próximo dela, ficar com ela, mesmo sabendo da agência e todo o resto.
Ela suspira e não consigo entender por que isso, depois solta minha
mão e sai esticando as mãos para os lados, pisco.
—Maria o que está fazendo?
—Reconhecendo a área.
Reconhecendo a área como se brincasse de cabra cega pelada pela
casa.
Sorrio, tamanho ridículo nunca imaginei viver com uma mulher, a
pego em meu colo e levo ela para o quarto, ela se segura em mim e percebo
que corro cheio de entusiasmo e felicidade.
Felicidade não é algo constante na minha vida, acho que é
perfeitamente normal para as outras pessoas saberem lidar com isso, mas o
sentimento para mim é tão forte que mal sei como concretiza-lo, porque saber
que ela de fato está disposta a viver tudo comigo — assim — me deixa cheio
de alegria, passo pela porta e ao entrar no quarto a jogo na cama.
—Você me paga.
Melhor forma de demonstrar felicidade: Ameaçando!
—Pelo o que?
Ela está apavorada, se assustou por eu ter pegado ela no colo, saí
correndo feito um louco.
Me afasto e passo a tranca na porta, ela se apoia nas mãos e vai
engatinhando para trás, agora incerta, me arrependo.
—Não precisa ter medo.
—Não faça mais isso ta?
Subo na cama, Maria recua, e vou para o corpo dela subitamente
contente.
Sou um misto estranho de boas e péssimas emoções, em parte por
conta da bipolaridade, realmente é difícil lidar com sentimentos para mim, é
como estar numa montanha russa onde as decidas são as crises de mal humor
e raiva e as subidas são súbitos focos de alegria e felicidade, coisa que nunca
tive ou fui.
—Você é a melhor.
Seguro sua mão e entrelaço a minha na dela observando nossas
alianças de casamento, beijo seu corpo onde quero, porque sei que ela é
minha e de mais ninguém.
"Meu pescoço", "meus seios", "minha mulher".
Sinto seu toque e fagulhas estranhas me tomam o estômago, sua mão
desliza para o meu ponto fraco: a nuca, e quando ela toca lá parece que meu
corpo todo relaxa.
—Quer ouvir música enquanto fazemos amor?
Nada de Rodeios aqui.
—S-sim.
—Boa escolha.
Me ergo, olho para o seu corpo e assim pensamentos obscenos me
vem a mente, ligo o ar e coloco o set list para funcionar no meu celular, puxo
as cortinas das janelas.
—Eu sou um pouco sentimental às vezes.
Ela não responde, pego um preservativo na minha mochila e coloco
observando Maria deitada, os olhos fechados, os lábios entreabertos, eu a
quero tanto!
Volto para cama e me deito sobre seu corpo, não quero ser um
completo bruto, ainda que seja algo bem impossível pois não é da minha
natureza, toco sua face e me curvo observando a maravilhosa cavidade quase
sem pelos, suas pernas entreabertas me recebem devagar, e quando mergulho
em sua umidade um arrepio me percorre da cabeça aos pés, seus quadris
sobem devagar enquanto a penetro, olho suas feições, ela está desejosa, mas
não é isso.
—Você é muito especial para mim Maria.
Não sei como falar que a amo de outra forma, não como se deve.
—Também gosto de você Jack.
Toco seus cabelos e a beijo devagar, ela está quente e viscosa, da
forma inconfundível que me deixa louco, adoro foder com a minha mulher, a
preencho bem devagar e a puxo para cima do meu corpo, ela se acomoda e eu
a movo segurando seus quadris, ela senta tão gostoso!
Seus olhos estão fechados, ela morde involuntariamente os lábios, e
minha mente se enche de expectativa, quero mais, muito mais do que pode
me oferecer e talvez esse seja meu grande problema, eu tenho que ir devagar
com ela, e isso parece sempre muito impossível pois ela me excita como
nunca conseguiram na vida.
Ela se apoia nas mãos e eu a movo comigo, ela me beija dobrando os
joelhos, a boca é quente, se enche de suspiros nos quais adoro arrancar, me
ergo e puxo suas pernas deixando-a sentada sob meu pau, latejo movendo ela,
observando a buceta deslizar em mim de um jeito fácil.
Aperto a bunda e lambo seu queixo, ela abocanha minha língua como
se já soubesse que eu a ofereço, ela chupa a minha língua lentamente e seu
gesto é coberto de erotismo, coisa que gosto, mergulho devagar provocando
ela como quero, o sexo com Maria é denso e concreto demais.
A pele macia e quente se arrepia, e sei que ela gosta da metida, sua
intimidade começa a ficar muito quente, e o sexo se torna mais sensível, ela
estremece entre meus braços, mas não paro de mover, é uma coisa de pele,
ela fica geme e todo meu corpo reage a isso, mas prendo, não é fácil ter muito
auto controle com Maria.
Mas para ela se torna uma tortura, espero que ela se acalme, e volto a
movê-la, ela abaixa a cabeça e franze a testa soprando, sensível e cheia de
vontade, os seios dela roçam no meu peito, sua pele me queima todo, aperto a
bunda e resisto em dar uns tapas, as vezes é difícil discernir entre uma boa
trepada e fazer amor com Maria, ela me provoca tanto que se torna algo
torturante.
Seus lábios soltam um gemido prolongado, e isso me deixa
extremamente sensível, da vontade de foder até não aguentar mais, mas tenho
calma, respiro fundo, faço com que sente, entrando e saindo, do começo do
meu pau até que não o veja, me esfrego nela, e a tiro, Maria se deita para trás
e suas pernas tremem, não consigo tirar os olhos da buceta, eu a beijo com
força, suas mãos se enfiam novamente em meus cabelos, minha boca devora
ela e me sinto preso a isso.
Gosto de sentir sua textura, sua quentura, seu gosto, ela é quente
e deliciosa.
Ela se excita muito fácil e por seus reflexos percebo a inexperiência,
saber que ela é apenas minha me deixa ainda mais excitado, tanto que isso se
torna muito difícil de suportar, não preciso apenas meter nela para que me dê
prazer, é algo visual, mas tão palpável que mal sei explicar, ela se ergue e
abro mais as pernas chupando ela e observando-a, ela treme e arfa gemendo
bem alto.
—Mais! — ela sussurra cheia de prazer. — Me dê mais.
Ela se entrega a mim sem medo, sem receio, e vejo que o fato de não
olhar não nos atrapalha na hora do sexo. Me ergo beijando sua barriga, tomo
seus seios entre os lábios, suas pequenas dobras úmidas pelo gozo intenso me
deixam fascinado, eu a beijo recebendo seu abraço, e entro nela sem
conseguir mais prender ou esperar, não existe barreiras nesse momento.
Compartilhamos de seu gosto divino, ela me recebe apertando os
olhos, as pernas dobradas enquanto estoco dentro dela, enquanto meto escuto
o barulho da trepada, definitivamente é muito difícil controlar ou conter perto
dela, tentar eu tento, mas parece impossível.
Caralho, muito gostosa!
—Vou gozar.
Ela está apoiada nos cotovelos, os seios pulam com a força da transa,
lambo o suor que escorre em seu pescoço e seu gemido é contínuo, esfrego
minha face na dela e aperto os olhos recebendo uma lambida longa no
pescoço, quando ela arfa, arrepios se espalham pela minha pele.
Fecho os olhos e me sinto como um animal que estava preso e é solto.
—Ah Maria!
Sinto que explodo dentro dela e meu corpo desaba buscando os
últimos vestígios de prazer que ela deixa no meu pau, meto uma última vez,
os quadris dela se movem com os meus devagar, ela me acompanha por
igual.
—Viu? — não resisto. — Sei ser legal as vezes.
Ela não responde, e não a culpo, mas ela sorri como se dissesse "sei",
isso já me basta, não sou legal... só as vezes.
Nível 12 da atração
Deixo-a dormindo, meu celular vibra em cima da cabeceira, saio da
cama e vou para o banheiro, logo de cara vejo que é a Júlia.
—Oi Júlia.
—Hey Jack, tudo bem?
—Sim.
Pela primeira vez na vida, tudo bem, mas Júlia não parece muito
animada pelo contrário.
—O que foi? Algo errado?
—Papai, ele está meio fadigado, você sabe que os problemas no
coração estão só piorando né Jack? Ele não te falou, mas foi para fila do
transplante.
Fico parado recebendo a notícia assim do nada.
—Alejandro não sabe ainda, eu escutei o Ph falando para o Jonas,
Jack eu estou com medo.
A voz da Júlia começa a ficar temorosa e escuto um fungado triste do
outro lado da linha, e não suporto a ideia de que talvez papai não esteja bem.
—Não precisa ter medo Júlia, eu vou contratar o melhor
cardiologista, calma.
—Ele não admite, Ph veio aqui e ele acabou brigando com papai, ele
está bem, mas sempre parece preocupado, depois do que houve com o
Alejandro e comigo...
Júlia não é uma garota assim tão problemática, mas durante a
adolescência ela teve distúrbios alimentares seríssimos, papai descobriu logo
e a colocou na terapia, mas toda essa coisa com Alejandro o deixou meio
agitado, e comigo também.
Me sinto culpado.
—Ele vai ficar bem Júlia, eu farei o possível para voltar logo.
—Está bem, manda um beijo para Duda.
—Sim.
Não consigo falar mais nada, desligo, respiro fundo e quero quebrar
alguma coisa, me sinto impotente.
Tiro a camisinha e faço a higiene, eu também me sinto perdido
quando se trata de papai, ele já não é tão jovem quanto antes, nem tão
vigoroso, sofre do coração a alguns anos, infelizmente o coração do velho já
não funciona bem, disso eu soube a algum tempo mas achei que o repouso e
o fato dele ter entregue parte da administração do hospital para o Ph e para o
Richard havia feito com que as coisas melhorassem para ele.
Fui ausente, bem, ainda sou, e não acho que meu pai mereça isso, e
me sinto mais frustrado que nunca de saber que não conseguirei estar muito
mais próximo dele neste momento por causa dos meus irmãos, da minha
família, porque eu sei que os Carsson nunca vão de fato de aceitar.
Volto para o quarto e observo a morena que dorme debruçada entre
lençóis de uma cama simples, sorrio incerto, não pela visão de seu corpo, das
curvas dela, mas porque a amo e ela significa muito para mim.
Aperto o reprodutor de música e me deito, me aconchego a seu corpo,
beijo sua testa, quero tanto que Maria esteja sempre comigo, isso me torna
alguém próximo do que posso chamar de normal, mas também porque ela me
faz querer muito uma família de novo, coisa que fui deixando de lado de um
tempo para cá.
Sonhei em ter uma família com Soraya mas isso não foi possível, tudo
o que tive dela foram decepções e tristeza, ela abortou um filho meu e eu
quase morri por conta dela, meus sonhos se reduziram a pó depois que tudo
acabou, a doença me tomou por completo e eu estava me enfiando num
buraco fundo logo que ela me deixou, no entanto agora sinto que encontrei a
mulher certa para mim.
É com ela que eu quero poder ter uma família... bebês... um lar.
Ela está vendada, mas sei que está acordada enquanto lhe toco as
costas, me curvo buscando seus lábios, meu pequeno consolo, tudo o que
quero bem aqui.
Maria desce e beija meu peito tão cheia de carinho que meu coração
fica preso, como sempre tem ficado desde que a conheci, sobe e fica em cima
de mim, se ergue apoiada nas mãos e fica diante de mim como se me
observasse, toco seus quadris percebendo uma ponta de coragem ou algo
assim vindo dela.
—Eu não me importo se não quiser oficializar Jack, podemos
combinar, você pode vir me ver uma vez no mês? Seria pedir muito? Posso
juntar dinheiro e ir te ver nos seus aniversários e tal, eu tenho poupança, não
quero te dar gastos.
Como?
Não consigo falar nada.
—Adoro ficar com você, claro, brigamos as vezes, mas estou muito
feliz que tenha aceitado o Nando e a minha família, eu, não tenho muito
como vê, mas seria ótimo se você viesse outras vezes como essa.
Pisco, incrédulo diante do que acabo de ouvir.
Ela está se declarando para mim, ela está me pedindo para voltar, ela
está dizendo que me adora e que é feliz quando estou por perto.
—Eu posso ficar mais bonita, me cuidar mais, Sah sempre fala isso,
deve ser importante para um homem ter sua mulher bem, só peço que tenha
paciência comigo e com o meu filho, que o aceite, ele é tudo o que eu tenho,
bem, agora tenho você, não quero que você vá embora.
—Não?
Minha voz quase não sai, luto internamente para que não eu não acabe
chorando em ouvir isso.
—Não, posso evitar bebês, tomar o remédio, podemos ter uma vida
como qualquer outro casal, quer que eu vá na América te ver? Posso me
acostumar com a sua doença, posso tentar entender, eu não me importo com o
seu passado, podemos esquecer isso e recomeçar, claro, ai depois se você
quiser, podemos falar com a minha mãe sobre algum tipo de coisa mais séria,
ela vai entender, se você quiser pode morar aqui comigo, sei que não é muito.
Esta Mulher realmente gosta de mim, ela quer mudar para mim,
e fala abertamente que sou o que ela tem, e ela aceita a minha doença, ela
quer se submeter a tudo para ficar ao meu lado.
Eu não consigo falar, as palavras "eu te amo" estão na ponta da
língua, mas minha voz não sai, fico apavorado, porque nunca ninguém foi
assim tão sincero comigo, tão transparente, e tão disposto a conviver com os
meus problemas, minha doença ou a minha bipolaridade.
Em contra mão acabo de saber que papai também precisa de mim,
tanto quanto Maria quer que eu fique e precisa de mim, ele é o meu pai, e ela
é a minha mulher, e isso causa uma divisão fática dentro de mim.
Ela fala que "me ama" enquanto meu pai está na outra América e
precisa de mim... Droga, o que eu falo?
Devo prometer para ela que vou ficar? Devo pedir que ela venha?
Mas sei que ela não vai vir, porque ela tem a família dela, e pedir que ela
escolha entre eu e sua família seria a pior coisa nestas hipóteses.
Machucaria muito Maria pedir que ela escolhesse, eu sei por que
já fiz isso, já a obriguei a centenas de coisas desde que nos conhecemos e
para ela as coisas não são bem assim.
Ela vai para o lado e sei que está magoada com o meu silêncio, isso
me fere profundamente, as pessoas estão muito acostumadas a tomarem
decisões baseadas nos sentimentos e eu não, eu sempre fui muito lógico e
objetivo, quando se trata do meu pai do de Júlia e Alejandro eu fico meio que
irracional, as emoções se afloram pois sei que verdadeiramente eles são a
minha única e verdadeira família.
O que posso falar para Maria? Eu não quero prometer coisas das quais
não poderei cumprir, mas uma coisa é certa.
—Eu não vou te abandonar.
—Não quero que você vá embora.
A mulher que mais amo e desejo bem diante de mim, mas que me
obriga a colidir com tantas coisas por esse amor que não sei como lidar.
—Mas eu preciso ir.
—E quando volta?
—Logo que resolver as coisas por lá.
—E vai demorar muito?
—Não seja ansiosa, acho que dá muito bem para ficar sem sexo por
alguns dias.
Ela se magoou, caralho, não sei como conversar direito, isso me
pegou de surpresa.
—Sabe, você não entendeu o que eu quis dizer, acha que eu te quero
aqui por que você é bom na cama?
—Por que seria?
Diga que por mim, diga que porque me ama Maria... Diga que me
que me ama assim como eu te amo.
—Porque eu sou uma estúpida que me importo com você, que gosta
de você e não para de pensar em você um segundo.
Cacete!
—Maria...
—Olha eu não sou a Soraya.
Graças a Deus você não é e nunca será ela.
—Eu nunca compararia você a ela.
—Então o que é?
—Não quero te machucar apenas isso.
—Me machucar?
—É, tudo isso o que você falou é irrelevante para mim, não se ofenda.
Estou falando merda, estou sendo frio, um babaca... Estou sendo
eu!
—Expus os meus sentimentos.
—Eu sei e agradeço — digo e faço uma pequena pausa, noto sua
frustração — Maria o que eu quis dizer...
—É que os meus sentimentos são insignificantes, que isso não faz
diferença para você porque você só quer alguém que o suporte para se
satisfazer.
—Maria!
—Você é mesmo um grande grosso.
—Me desculpe, é apenas o meu jeito.
—Melhor eu ir ver se a Sah já chegou.
—Ninguém nunca me falou algo assim, você não sabe o que está
fazendo comigo agora, preciso absorver tudo.
—Para que? Para ficar rindo da minha cara?
—Não merda! Para recusar a proposta cacete! Para ter forças para ir
embora, gostaria de ter uma opção na minha vida de "foda-se" mas eu não
tenho — a voz sai a força e acabo gritando — Eu tenho uma droga de vida
que não me permite se quer ter pessoas além da minha família perto de mim,
que porra!
Não existem dúvidas quanto ao sentimento, eu já o aceitei, o
problema é que estou tão acostumado a afastar as pessoas que é algo
automático na minha vida, em parte porque a escopofobia me deixa assim,
isolado, e em outros sentidos porque eu sou assim, aceito os sentimentos, mas
não sei lidar com eles na maioria das vezes.
—Você acha que as coisas são simples assim?
—Não acho isso, só falei o que eu quero, por que é assim que me
sinto.
—Acha que se sente pronta para lidar com os meus problemas? nem
eu consigo, precisamos de tempo para lidar com isso juntos e só morando
juntos podemos resolver nossas diferenças, acha que irei deixá-la aqui? não
mesmo!
Nego com a cabeça.
—Eu pensei em algo — falo — Já conversei com a sua mãe é claro.
—Não deveria ter falado, eu prometi para ela que não iria embora —
Maria está aflita, ela abraça as pernas como se tentasse buscar consolo.
—Calma — peço. — Nós vamos conversar sobre isso depois.
—Jack não posso largar a minha família para trás, por favor, não me
peça isso.
—E quer que eu largue a minha?
Ainda mais agora depois de saber sobre o avanço da doença de
papai.
—Não, acho que seus irmãos precisam de você.
—Então tenha calma, vamos resolver isso, apenas pare de ficar
falando essas coisas para mim senão eu vou pirar.
Não queria assustá-la, nem a deixar inquieta, ela se levanta e sai
tateando o ar devagar, sei que ela chora, e odeio essa situação tanto quanto
ela, mesmo ciente de que eu provoquei, isso é muito minha cara.
A mulher se declara para mim e eu a assusto com o meu jeito.
Que belo marido eu sou!
—Maria por favor... me desculpe eu não queria gritar com você,
apenas me assustei.
—Comigo? — Ela soluça. — Me desculpe, mas essa sou eu, eu
também nunca tive um relacionamento sério, você está insinuando que eu só
quero sexo como se eu fosse uma vadia.
—Não foi a minha intenção.
Não tenho paciência, me levanto e seguro seu braço, eu a puxo para
cama e as minhas mãos tremem um pouco, eu a coloco de frente para mim e
tiro sua máscara, ela abaixa a cabeça, e ver as lágrimas dela me chateia.
—Maria você já namorou com o pai do seu filho, já deve saber como
é mais ou menos toda essa coisa.
—Não namorei.
—Não consigo entender como tiveram um filho, e antes dele?
—Eu já disse que não.
Ela limpa as faces com as mãos, ainda não entendo, mas acredito nela,
mesmo que pareça algo impossível.
—Não chore, me desculpe.
—Me sinto um nada.
—Não se sinta assim eu sou um merda mesmo as vezes, mas... é que
isso é como uma auto defesa, eu tenho receio de ter as pessoas muito
próximas de mim.
—E as afasta? Até a mim?
—Eu estou tentando não fazer isso.
Entregue a mim
Toco sua face e não sei como lidar com tudo isso de forma tão
repentina.
—Você...
—Calada — não quero mais falar. — Sem discussão.
Vai acabar em merda se continuarmos discutindo.
Me inclino e beijo novamente seus lábios, ela não recua, eu a empurro
e Maria cai deitada na cama, me encho de vontade enquanto mordo seu seio,
ela geme e sei que provoco dor, mas é só que o sentimento é tão forte e
contínuo que não sei lidar, não sei, a possibilidade dela me amar e me pedir
para ficar me assusta muito, não contava com amor, tudo o que tinha era
esperanças, solto esse seio e mordo o outro, ela se encolhe e me apresso, eu a
seguro e a coloco deitada de bruços.
—Para você não esquecer de mim.
Pego uma camisinha em cima do criado e abro no dente, aproximo as
pernas dela e olho para bunda querendo muito me enfiar nela, monto nela, e
cheiro a pele que me fascina, uma pele morena e macia na qual desejo, mordo
seu ombro e meto com força dentro dela, Maria prende o grito, sei que ela
gosta, estou gemendo porque não consigo controlar também, ela é
deliciosamente única.
De todas as coisas que mais quis e quero na vida, essa mulher sem
sombra de dúvidas é a que mais me atormenta e me tira da zona de conforto,
eu a desejo, a quero muito, só que ainda é a coisa mais complicado do mundo
lidar com os sentimentos conflitantes que me causa.
Me ergo e seguro suas nádegas, começo a meter olhando meu pau
entrando e saindo de dentro dela, me apresso e ela ergue mais a bunda
permitindo que eu entre mais em sua pequena e deliciosa buceta, apoio os
meus joelhos e faço rapidinho ouvindo-a gemer baixinho, sua respiração
entrecortada, seu corpo quente está infinitamente cheio de prazer para me dar.
Ela se inflama e a sensação de entrar e sair dela me deixa
enlouquecido, olhar é um puto de um fetiche que me tortura a cada segundo,
a transa é intensa fazendo com que o meu pau lateje ereto dentro dela.
É muito simples, algo que me deixa ouriçado dos pés a cabeça,
observar o meu pau entrando nela é algo magnifico, saber que ela é só minha
e de mais, esse sentimento de posse é doentio, mas tão prazeroso.
Está em minhas veias, em meu corpo, na porra da minha alma.
Amo tanto essa mulher que uma transa não consegue ser só algo
banal, mergulho dentro dela profanado pelas sensações que me queimam
todo, mas com tantos sentimentos dentro de mim que mal saberia decifrar.
Gosto do prazer que sinto com Maria, mas adoro receber todo o
prazer que ela sente, adoro deixar ela exausta, quero esgotar ela, quero que
sinta tanto prazer que mal consiga pensar direito.
Porque é assim que me sinto satisfeito, vê-la gozar para mim é algo
que me faz sair da linha tênue do controle, algo que ainda tento manter
intacto, mas com ela não funciona, não tem efeito.
Fico descontrolado e meto mais fundo, ela se contorce e vejo seu gozo
feminino revestindo meu pau latejante, ela gozou muito rápido, mordo seu
braço para que seja punida por isso porque quando ela goza também sinto
vontade de gozar, porque a carne dela me reveste com tamanha intensidade
que parece impossível de segurar, quando ela treme me sinto conectado ao
seu corpo, não quero ir tão rápido, mas ela começa a ter vários orgasmos
enquanto afundo todo nela, as pernas dela tremem com violência, fecho os
olhos e tento me conter, mas se torna quase impossível.
Não há controle, não há força de vontade, só há um desejo
descontrolado de proporcionar prazer, porque isso me dá um puto de prazer,
algo que aprendo todos os dias a apreciar cada vez mais em mais ao seu lado.
Só com ela conheço o verdadeiro prazer, algo que me leva ao limite.
A cabeça do meu pau parece que vai explodir, mas continuo tentando
não me precipitar, Maria não ajuda, ela geme afundando a cabeça no colchão,
treme, se contorce, aperta a bunda envolta do meu pau, isso me faz querer
meter no rabo dela, mas percebo que já é muito tarde para querer voltar atrás.
—Vou gozar, me deixe morder sua buceta tá bem?
—Sim.
Tiro o pau de dentro dela, eu a viro e ela abre as pernas para mim, eu
a mordo primeiro e sinto seu gosto sentindo-me satisfeito com isso, me
masturbo enquanto chupo o pequeno círculo quente de prazer dela, mas sou
empurrado abruptamente, na verdade é quase um chute, ela se ergue como
uma leoa sedenta e toca meus ombros, depois se inclina e tira a proteção de
mim, depois a boca dela me toma com vontade.
Toco seus cabelos e respiro fundo maravilhado com a pequena
surpresa, ela está me fazendo um delicioso sexo oral, ela começa a chupar
com mais força, Maria não tem muito jeito, nem experiência, mas PORRA,
ela chupa muito bem!
Suas mãos estão apertando a minha bunda e não resisto, me deito, a
puxo pelas pernas, ela se apoia nos joelhos e abro suas pernas enfiando minha
cabeça entre elas, ela me masturba enquanto me chupa, enfio dois dedos na
boca e depois nela, aperto sua bunda com a outra mão e volto a chupar ela.
Mas parece impossível prender, ela enfia tudo na boca, Maria está
fora de controle, e ela não sabe que os meus instintos estão a flor da pele com
isso.
—Vou gozar, saia! — aviso, mas ela continua.
Ela quer isso tanto quanto eu quero.
Me chupa a pontinha com vontade e não consigo mais segurar, ela
enfia o máximo que consegue na boca e um choque forte me atinge as pernas,
minha boca toma ela provando mais uma vez dela, o clímax nos atinge ao
mesmo tempo com tanta proporção que o peso disso nos atinge de forma
igual.
Isso nos torna um.
Apenas de um jeito banal e simples, algo carnal, mas que nos torna
donos um do outro.
Nível 13 da atração
—Você é fantástica.
Não consigo pensar em mais nada para falar para ela.
Seu corpo está sob o meu, e a vista... é privilegiada.
O que posso fazer? Eu não presto!
Mas acho que essa é a primeira vez desde que nos conhecemos que
Maria se desprende, que ela começa a se entregar de verdade a mim como eu
quero, espero que essa seja a primeira de muitas outras vezes em que ela faz
sacanagem comigo do jeito que eu gosto, na violência, sem frescura, sem
medo.
Ela acaricia o canto da minha virilha suavemente, toco sua
panturrilha, acima de tudo gosto do corpo dela, ainda que tenha muitos
receios dos quais Maria não entenderia, e se desconfiar eu aposto que ela
ficaria muito magoada, melhor nem pensar nisso.
—Você gosta de ir ao cinema?
—Não muito, eu gosto mais de séries.
—Hum, não gosta de sair.
—Não.
Não estou muito surpreso, não esperava por uma afirmativa
exatamente, sei que ela não falou algo apenas para me agradar.
—Já tinha me falado isso, além de ler, ouvir música, e ficar tentando
compreender a minha mente doentia, o que você faz nas horas vagas?
—Eu ando sem camisa dentro de casa.
Acabo rindo da resposta, sinto um beijo suave no canto da minha
virilha.
—E o que mais?
—Eu não gosto de sair, vou na praia com a Sah pelo menos uma vez
no mês, fora isso de casa para o trabalho, do trabalho para faculdade e da
faculdade para casa, as vezes eu durmo no apê da Sah, principalmente
quando ela fica depressiva.
—Ela tem depressão?
—Ela tem um ex.
Toco sua coxa e minha mão está indo para bunda dela, beijo a bunda
onde quero.
—Você é muito gostosa Maria.
—Sou?
—É.
—Fala... sobre na hora do sexo?
—Em todos os sentidos — penso por alguns instantes. — Quero você
toda para mim, todas as partes do seu corpo, quero sua boca em mim sempre,
isso foi ótimo.
—Confio em você.
—Eu sei vida, também confio muito em você.
Toco a bunda dela, não consigo resistir.
—Sua bunda... quero ela.
—Você fala sobre sexo...
—Sim, mas isso não vai ser agora, mesmo que as vezes você me
enlouqueça com a sua bunda, você precisa se acostumar primeiro com a
ideia.
—Me acostumar?
—Ah Maria, você não precisa ter medo, não vou te machucar.
—Precisa disso?
—Eu quero, você também vai gostar, até agora fiz algo que não
gostou?
—Não.
—Então não fique com medo.
Ela fica calada.
—Não gostou do que eu disse?
—Apenas nunca me ocorreu que precisasse fazer isso.
—É o que eu mais quero.
—A minha bunda?
—Sim, desde que coloquei os olhos em você, foi a primeira fantasia
que eu tive com a sua bunda.
Não espero que responda, tenho muitas fantasias sexuais com Maria,
muitas delas incluem coisas das quais eu sei que ela nunca entenderá, outras
talvez a assustem, mas é a verdade.
—Não tenha medo, se não quiser nós não faremos, não vou obrigar
você a nada.
—Mas se eu não fizer talvez... procure outra mulher.
Não quero nenhuma outra, só quero você!
E isso não é algo bom, não no sentido real de tudo, não para um cara
ferrado como eu, alguém ser tão dependente de uma outra pessoa não é uma
coisa tão boa, mas não consigo mais pensar na minha vida com sem ela, não
consigo se quer imaginar como seria a minha vida sem seus sorrisos, sem sua
presença, sem seu corpo no meu como agora.
—Não preciso de outra mulher Maria, eu já disse que eu...
—E se eu nunca concordar?
—Vai concordar, acredite.
—Retire o que eu disse sobre você não ser egocêntrico.
Ela me toca com carinho, fecho os olhos e respiro fundo adorando o
toque, quero que ela sempre se sinta à vontade comigo, confortável.
—Gosta do meu corpo?
—Sim, você é quente.
—Sou?
—Aham.
Algo me vem à mente.
—Quente como um sol?
—Quente como um vulcão.
—Nenhuma chance de ser um sol?
Ela sorri e olho para o teto negando com a cabeça, acho que nunca
chegarei nem perto de ser um sol na vida dela.
—Vida.
—Hum.
—Por que não vem até aqui e me beija?
—Aqui está ótimo.
—Aqui também, a visão é perfeita.
Maria está rindo quando vai para o lado, me ergo atento ao seu
sorriso, é algo que me enche de paz e um sentimento forte de felicidade,
cheiro seu pescoço e quando ela me toca eu a beijo, sua mão se enfia na
minha nuca, e ela me beija de um jeito muito gostoso, natural.
—Você é linda.
—Você também é lindo.
—Sou?
—É, e é tudo o que eu mais quero para mim.
—De verdade?
—Sim.
—Para sempre?
Preciso que ela fale.
—Fale, por favor, é importante.
—Por quê?
—Para ter certeza de que não vai me largar.
—Para sempre.
Beijo seus lábios com lentidão, suas pernas me envolvem pelos
quadris e ela me prende entre seus braços.
—Hei... vocês dois — escuto Sarah chamar no corredor. — Chega de
sexo, hora do almoço.
—Tá — Maria devolve. — Já estamos indo.
Eu a olho, ela está envergonhada.
—Pensei que daria tempo de comer você mais uma vez — confesso e
sorrio. — Você é muito envergonhada vida.
—Eu sei, eu já nasci assim.
—Estou muito feliz aqui, com você.
—Eu também estou muito feliz que esteja aqui bebezão.
Rio, vou para o lado e percebo tarde as marcas vermelhas que deixei
em seus seios, seu braço, seu ombro, paro de sorrir.
—Acho que deixei marcas no seu corpo, me desculpe.
—Tudo bem, ninguém vai ver.
—Você vai ver.
—É? isso não é da sua conta.
—São marcas feias Maria — digo incerto. — Não pensei direito, me
desculpe.
—Eu não penso dessa forma.
—E o que pensa?
—São as marcas do amor, me deixa!
Me sinto mais seguro depois de ouvir isso, pois não tinha o objetivo
de machucar maria de nenhuma forma e acabo rindo da brincadeira, me
levanto, ela está deitada e completamente à vontade na cama, gostaria de ficar
um pouco mais com ela aqui.
—Vem, você precisa tirar esse cheiro de sexo de você.
—Eu estou morta.
—Vai se acostumar.
Espero que logo.
A ergo no colo e a levo para o banheiro.
—Jack.
—Hum.
—Você vai a academia sempre?
É uma pergunta curiosa, eu me exército com frequência, ainda que
muitas vezes eu não tenha tido tempo, não gosto de ficar parado, procuro
sempre me ocupar.
—Basicamente todos os dias, exceto quando eu viajo.
—Você pega peso?
—Sim, por quê?
—Curiosidades.
—Está bem?
Ela ri, sorrio ainda tentando entender essas perguntas, mas
provavelmente Maria quer saber mais ao meu respeito.
—Você...
—Eu vou fazer as minhas perguntas, e você vai respondê-las.
—E se eu me recusar?
—Eu vou queimar todas as suas roupas.
—Isso é uma ameaça?
—É um aviso.
—Posso mandar prendê-la senhora Carsson.
—Tente!
Ela é engraçada, e divertida, me faz rir, não havia me passado pela
cabeça que encontraria uma mulher tão divertida, é difícil encontrar pessoas
assim, não tenho tido tantos motivos para rir, para prosseguir, ela se torna
cada dia um desses motivos.
Coloco Maria dentro do pequeno box, eu a analiso, nego com a
cabeça ciente de que ela quer falar sobre mim.
—E então... o que quer saber?
—Nada sobre aparência, isso é insignificante para mim.
—É mesmo? — Não escondo minha ironia.
—Você gosta de malhar?
—Acho que já sabe a resposta!
—Entendi Van, não precisa ser grosso comigo!
Ligo o chuveiro e me sinto envergonhado por ter sido áspero, eu
queria ser mais constante em alguns sentidos, mas não consigo, não é
proposital, não tenho equilíbrio das emoções com tanta facilidade nem
controle.
—Prático Ioga também.
Apesar de não ajudar muito, eu tenho praticado muitos exercícios de
reflexão a algum tempo, indicação da Lane.
—É muito bom para relaxar, e se distrair.
—Eu adoro as aulas de ioga com a Sandy, eu nunca tinha feito,
quando não eu não estou tentando não cair, se torna um excelente exercício.
—É? não me diga.
Sou ignorado, não a culpo, não sei por que sou tão ambíguo, mas sou
assim sempre com todos que conheço, a lista não é grande justamente por
conta disso.
—Eu não pensei que fosse gostar e tal, odeio fazer exercícios.
—Por quê?
—Bem, eu as vezes me machuco muito tentando fazer as coisas, sou
um pouco desastrada.
—Não parece.
—Espere até me ver esbarrando em alguma coisa ou quebrando algo,
minha mãe antigamente me chamava de Trovão.
Duvido muito que isso aconteça, mas espero ficar tempo o
suficiente para ver... isso e muito mais!
Escolhas necessárias
Pego o shampoo, Maria se lava com sabonete líquido.
—Tem facilidade em se concentrar?
—Aham, o Nando também é assim, eu meio que me desligo de tudo
quando estou focada, fico presa no meu mundo.
—O mundo de Duda.
—é, por isso eu adoro ler, porque me sinto transportada para dentro
do mundo dos livros.
—Você já foi a grandes bibliotecas?
—Já, já fui na do centro, tem o acervo da universidade federal, mas eu
não tenho muito tempo de devolver os livros, acabo pagando multa, então eu
comecei a montar o meu próprio acervo.
—Onde fica?
—No meu baú, ele fica no quarto do Nando, ele também guarda os
livros dele lá.
—Nada de prateleiras?
—Não tenho muito espaço como vê.
—Você pode me mostrar?
—Claro, tenho muitas obras estrangeiras, claro que não são muitos
livros.
—Só romances?
—Também tenho alguns de astronomia, e os meus da faculdade.
—Ah é, advogada.
—É.
—Já escolheu a área?
—Direito internacional, eu gosto, quero prestar concurso para
trabalhar em alguma embaixada.
—E depois?
—Quero fazer faculdade de letras.
—Nada de literatura?
—Aqui não tem.
—E fora?
—Sonho impossível Jack, acho que já percebeu que eu não sou rica, e
também, eu quero comprar a minha casa, não quero morar para sempre com a
minha mãe.
—Você está se planejando?
—Tenho poupança, junto a um tempo.
—E onde seria essa casa?
—Aqui mesmo no bairro, hoje está muito caro, mas posso tentar um
financiamento, depois quero tirar a minha habilitação e tal, até lá já estarei
exercendo.
—Você é bem focada.
—É, eu preciso ser.
—E onde eu entro nisso?
Suponho que ela me inclua em seus planos, só espero não ouvir o
contrário, fico tenso em pensar nisso.
—Bem, você pode ficar vir me vendo, você disse não disse?
—É, mas e depois?
—Depois?
—É Maria, você acha que eu vou permitir que pague tudo sozinha?
Que não tenha conforto?
—Não quero que me dê nada, se você estiver comigo, dentro do que
puder é claro já estará bom.
—E quando tivermos bebês?
Ela não quer mesmo ter mais bebês... Acho que encontrei mais um
problema por não entender esse receio excessivo dela em ter filhos, afinal de
contas, tem um, por que não pode ter outro comigo?
Ok, eu sou um louco, mas quem sabe até lá eu não melhore um
pouco tudo isso? Eu Vou melhorar até lá, eu me esforçarei muito para
isso.
—Bem, você quer planejar bebês?
—Claro que quero, já disse que quero ser pai.
—Podemos pensar nisso assim que eu estiver numa casa minha, não
quero ter filhos aqui na casa da minha mãe, ela não aceitaria.
—A casa seria nossa, não sua.
Não gosto nenhum pouco do que eu acabei de ouvir.
—Jack você vai participar de tudo comigo, estaremos juntos.
—É? Então vai me deixar te dar tudo.
Agora ela quem não gosta nenhum pouco do que ouve.
—Vai se acostumar com isso.
—Eu não sou uma prostituta.
Me espanto com a resposta.
—Maria não comece, pelo amor de Deus, o que você está falando?
Tento não me irritar, mas essa ignorância dela quando se trata dessa
aversão ao meu dinheiro me deixa nervoso, eu sei que ela não quer meu
dinheiro contudo não vejo necessidade em ficar forçando a situação assim, e
ainda que fosse, que problema isso teria? É o meu dinheiro e com ele eu faço
o que eu quiser, ninguém tem nada com isso.
—Você é muito antiquada!
—Eu já sei disso.
—Estamos casados.
—Eu não quero nada seu.
—Vida...
—Eu tenho dois braços e duas pernas, eu posso trabalhar.
Não sei se me cativo ou me se irrito ainda mais.
—Mas não espera que eu more com você e pague tudo sozinha certo?
—Você... você vai vir morar comigo?
—Bem, acho que sim?
Maria morde os lábios, está incerta, insegura, eu também estou, mas
espero em breve resolver tudo e voltar definitivamente, ainda que seja quase
impossível.
—Você não quer morar comigo? — pergunto.
—Quero — responde sincera.
—Então?
—Não parei para pensar, você vai vir muitas vezes me ver?
—Várias!
—Bom.
—Eu não ando tendo tempo nesse mês, mas pretendo vir sempre, para
isso precisamos de ter nossa privacidade, um lugar onde nós dois e o
Fernando ficaremos seguros e bem.
—Não quero que faça promessas Jack, não precisa disso...
—Promessas? Você acha que eu estou levando tudo isso na
brincadeira? — questiono chateado. — Maria eu sou uma pessoa
completamente responsável e adulta, não zombe de mim.
Acho que estou me entregando demais a Maria enquanto ela pensa
que eu não estou levando nosso casamento a sério, não sei qual é o problema
dela, tenho meus defeitos e problemas, uma mala pesada que se chama
"passado" mas o medo desenfreado dela de que eu não esteja falando sério
quanto a tudo está me deixando quase ofendido.
—Desculpe.
Posso ser louco, posso ser um ferrado emocionalmente, mas eu
também tenho meus princípios.
—E... quais são os seus planos?
—Você vem para Copacabana, para o meu apartamento, também vai
ter um carro para andar com o Fernando, eu já conversei com a sua mãe, para
que não fique tão longe dela, eles iram se mudar para um apartamento no
mesmo prédio.
Ela fica chocada, é visível.
—Antes que você comece a tentar arruinar os meus planos com o seu
pessimismo devo avisar que isso não é nenhum pedido, eles dois já estão
providenciando a mudança.
Ela paralisa, não dou a mínima, não sei por que essa surpresa, será
que não passou pela cabeça dela que eu tenho muitos planos para que ela
fique bem e segura? E morando aqui, ela não terá nada disso.
—Vai tirar sua habilitação e vai terminar a sua faculdade até o fim do
ano.
—Vou?
—E vai sair da empresa onde trabalha.
—E o que mais?
Percebo sua irritação, e sei que a teimosia vai começar novamente, ela
não é uma mulher tão fácil ou dócil na prática, tem sim, um lado carinhoso
que se mostra presente em nosso relacionamento mas a teimosia e
persistência é algo que se mostra ainda mais forte em sua personalidade.
Ela é assim desde que decidi que ela faria parte de minha vida e
duvido que mude.
—Vai morar esses seis meses lá, e em janeiro você vai vir comigo
para Nova York, ou São Francisco, tenho residência fixa nos dois lugares,
onde eu estiver vocês dois estarão.
—Que bom saber disso.
—Eu sei, não precisa agradecer.
—Você... você...
Ela respira fundo parecendo que vai explodir.
Pois que exploda, eu não vou mudar nada, eu não vou permitir que ela
me afaste como tentou logo que soube da nossa noite em Vegas.
—Até lá nos casaremos no civil, acho que esses meses vão ser ótimos
para nós dois.
—Não me diga.
—Não adianta ficar brava comigo, já está feito.
—É mesmo?
—É mesmo!
Ela bate o pé no chão com força, as vezes é algo automático quando
ela fica muito brava, acho que nem ela percebe o quanto parece rabugenta
quando faz isso.
—Você é a minha mulher e o seu lugar é ao meu lado, você entende
as minhas limitações e me aceita, eu já percebi que você tem a sua vida e
respeito isso, mas não estou nenhum pouco disposto a permitir que você fique
mais longe do que estará nesses meses Maria — faço carinho em sua face. —
Você é o que eu quero, tudo isso também me assusta e é novo para mim, mas
estou disposto a superar o meu medo, quero uma família, você e o Fernando
comigo, isso é pedir demais?
—Não, mas isso não é justo — responde prestes a chorar e odeio isso.
—Eu sei, você não quer morar comigo então?
—Quero, mas não quero tudo dado!
—Querida, é isso o que os maridos fazem.
—Gosto do meu emprego.
—Não terá tempo para concluir a faculdade se trabalhar Maria.
Quero que ela se forme logo, que conclua tudo e aceite o que
tenho a oferecer, que seja apenas minha e de mais ninguém.
—Você também não vai ter dias fáceis, você vai ter aulas com a
Sandy e com o Joseph, poderá aproveitar para ficar mais com seu filho, a
rotina da sua família não mudará em nada, exceto pelo fato de que estarão
sempre perto de você, não quero afastá-la deles, esse não é o meu objetivo.
—Mas depois nós iremos embora...
—Deixe que as coisas aconteçam, não sofra por antecipação, até lá,
muitas coisas podem acontecer.
Ela fica calada e sei que pensa com muito cuidado em tudo o que
falei.
—A resposta é não?
Fico na expectativa, meu maior medo agora é que ela não aceite.
Se ela não aceitar eu não sei o que posso fazer, e eu sei que isso
não terá volta.
Maria é linda
—Não tente adivinhar Jack, você não é bom nisso.
Solto o ar lentamente, mas a tensão percorre meu corpo todo.
—Isso significa...
—Significa que você é um excelente físico, e que não serve para ser
psicólogo...
Não tenho paciência para joguinhos agora.
—Não me enrole.
—Sim!
Arfo e me alívio.
—Não faça isso comigo está bem? — peço.
—Isso o que?
—Não me enrole.
—Está bem.
—Ótimo!
—É?
—Não comece Maria, eu estava tão nervoso que quase me mijei todo.
Me aproximo novamente, por alguns momentos senti que o ar me
faltava nos pulmões, o meu coração está acelerado quando nossos lábios se
tocam, não gosto de pensar que ela recusaria, o que eu poderia fazer? Isso me
tortura!
—Você é o meu tudo.
Minha confissão é crua e sincera.
—Você também é o meu tudo.
Fico muito feliz de ouvir isso, eu a amo por isso, por tudo o que
Maria faz por mim.
—Você é a minha vida!
Eu fico apertando-a com força por alguns momentos pois não sei mais
como lidar com isso, esse será o segundo grande passo da minha vida, enfim,
eu e Maria poderemos ter um canto só nosso, um lugar onde teremos
liberdade e poderemos construir dentro do possível uma família normal.
Terminamos o banho e saímos do box, só dela ter aceito já me sinto
mais contente, porque sei que qualquer outra sob essas condições talvez não
aceitasse, pego a toalha e começo a secar seu corpo, beijo seus seios e sua
barriga, ela fica em silêncio me permitindo cuidar dela, acho que aos poucos
entende que é uma coisa minha.
—Você está bem? — pergunta.
—Estou.
Não deveria estar?
—Jack tem certeza que...
—Não comece.
—Está bem.
Ela me abraça.
—Vou pegar uma roupa para você.
—Ok.
Ela desiste logo de discutir, é algo que se torna cansativo, me afasto,
volto ao quarto e pego uma outra toalha para mim, pego nossas roupas e
retorno, mas me sinto preso logo que entro no banheiro e a vejo tatear o ar—
algo que se torna muito comum—e alcançar a pia, fica mais baixo, Maria se
curva tentando achar o creme dental, a escova, a posição é convidativa e
obscena.
Sinto um latejar comum na virilha, me excito tão fácil perto dela, eu
não sei bem o que acontece comigo nesse momento, pois nunca me senti tão
fora de controle perto de uma mulher, não é algo que eu queira, mas já fico
todo duro olhando para bunda dela.
Observo os seios fartos e as curvas de sua cintura, a bunda é grande e
redonda, os quadris largos, as coxas ásperas e grossas, mas ela tem um corpo
muito feminino, com dobrinhas dos lados, da vontade de me enfiar todo na
bunda dela, sentir sua cavidade, e depois quando cansar de meter na bunda,
meter na buceta.
Respiro fundo e deixo roupas penduradas no cabide da porta, me
aproximo dela, não consigo resistir por muito tempo.
—Já falamos sobre ficar de quatro certo?
Esfrego o pau na bunda dela, sua pele fica toda ouriçada, e coloco o
pau entre as nádegas sem conseguir pensar direito, minha boca se enche
d'água, Maria lava a boca dela.
—Posso?
—Não!
—Por favor.
—Jack temos que comer.
Quero te Comer!
—Ah é?
—É!
—E vai me deixar assim?
Ela não responde.
—Vida... eu quero, por favor, me deixe comer você agora.
Novamente não responde.
Sinto que preciso implorar para que ela queira também, talvez esse
seja um mal adquirido com os anos de submissão com Condessa, agora, um
lado meu que não gostaria que estivesse aqui se aflora, mas não quero que
Maria saiba que é isso, porque por eu mesmo, não veria nenhuma
necessidade de pedir, implorar que ela faça o que quero, como quero.
É mal de submisso.
—Aqui sim? por favor.
—Jack não...
—Vida, por favor, me deixe comer você.
—Jack!
—Diga que deixa sim?
—Estou exausta.
—Eu não.
—Você é insaciável.
—Eu quero, por favor, diga que deixa.
—Está bem.
—Obrigado.
Fico aliviado e satisfeito com sua resposta.
Vou ao quarto e pego uma camisinha, coloco enquanto volto para o
banheiro e ela está parada no mesmo lugar, observo sua bunda e abaixo,
seguro sua perna e a ergo, coloco apoiado no vaso já tampado, seguro seus
quadris e bem devagar conduzo a pontinha do pau para sua entrada, nada se
compara a isso.
É a porra da sensação mais fodida que senti na minha vida, meter
nela é viciante.
—Ah querida você é muito deliciosa.
—Você também é.
Abro mais a perna e fico olhando o pau entrando e saindo de dentro
da buceta, a carne treme e está tão molhada que deslizo muito facilmente para
sua cavidade, e faço bem devagar olhando a rosada entrada dela, tento ter
calma, beijo seu pescoço, a pele é quente e está toda arrepiada, ela é tão
deliciosa.
—Abra mais para mim.
—Vou cair.
—Se segure na minha nuca, não vou te deixar cair.
Mordo a orelha dela e a ergo metendo onde quero, Maria arfa e sei
que adora isso tanto quanto eu, vou metendo rapidinho na buceta, ela vai
ficando tão apertadinha que fica difícil segurar.
—Goze comigo vida.
Estou implorando, Maria fica retesando de forma que não consigo
segurar, a porra sai, ela se inclina recebendo o prazer com densidade, me
dando ainda mais prazer com seu orgasmo, ela se encolhe trêmula, mal
sabendo como lidar com isso, eu a puxo abraçando-a com força, ela enfia as
mãos nos meus cabelos instintivamente e eu a beijo como gosto.
—Você é perfeita.
Não consigo vê-la de outra forma, ela é tão gostosa que me faz
precipitar as coisas. Beijo-lhe o ombro apertando-a.
—Pronto? — pergunto.
—Aham.
Eu a libero.
—Você é muito forte.
—Não sou, você que é pequena demais.
—Visto quarenta e dois Jack!
—É? não me diga.
Me importo muito pouco com isso, apesar de saber que a minha
família não pensa assim.
—Às vezes quarenta e quatro dependendo do modelo.
—Eu te acho pequena.
Não entendo por que ela não gostou de eu ter dito isso.
—Por isso eu faço ioga, para ter controle sobre o meu corpo.
—Isso é muito fitness.
—Vou te mostrar o que é fitness depois senhora Carsson.
Ela ri, pego papel higiênico e a viro, limpo Maria, ela se segura em
mim.
—Gosto do seu corpo Maria, você é uma mulher que tem tudo o que
eu gosto.
—É? e o que seria?
—Bunda, peito, quadril, e coxa, o resto, é resto.
Levo um beliscão, mas me vejo rindo disso.
—Você não presta senhor Carsson.
—Eu disse que não era bom.
—Hum, vou mudar isso.
—Vai?
—Foi o que eu acabei de falar.
—E o que vai fazer? Me colocar de joelhos no milho?
—Não seria tão severa, acho que depois de uns beliscões você
aprende, e puxões de orelha.
—Você é uma mãe muito rígida.
—Sou mesmo.
Lhe dou um beijo e começo a me limpar, olho para escova de dentes
no lavatório e algo me vem a cabeça.
—Posso usar a sua escova de dentes?
—Você não trouxe uma?
—Trouxe, mas eu não vou buscar, quer tentar se vestir sozinha?
—Quero.
Lhe entrego a calcinha e Maria começa a se vestir.
—Nada de jeans hoje, escolhi algo que comprei para você.
—Você comprou algo para mim?
—Sim, em São Francisco, e você vai usar.
Ela não gostou, não dou a mínima.
—Está bem.
—E não vai reclamar!
—Não mesmo.
Pedi ao Olaf que comprasse algo para Maria, escolhi via internet, já
sabia seu número então não foi difícil, eu sei que ela detesta vestidos, mas
quero muito que ela se acostume a usá-los, ela fica muito bem de vestido.
Dou a sutiã para ela e começo a me vestir, coloco jeans e camisa, eu a
observo sorrir ao colocar o sutiã e quero sorrir também, Maria é tão simples
que as vezes me assusto com sua forma de ser, seguro seus braços e pego a
peça, a coloco em Maria e logo que o vestido se acentua em seu corpo seu
semblante se enche de tédio.
—Você disse que não iria reclamar — alerto.
A viro de costas sem esperar por resposta e abotoo o vestido, observo
as curvas dela, os seios, as coxas, tenho uma mulher muito bonita, minha
esposa é maravilhosa de vestido, consigo ver todas as curvas de seu corpo,
mas ela não parece gostar de vestido mesmo.
—Você fica muito bem de vestido vida.
—É?
Linda na verdade, mas ela fica calada, depois parece desconfortável
pelo o que eu disse, triste ou algo assim, seu semblante de repente muda e
Maria parece ser tomada por um tipo de medo ou algo assim.
—Você está tão brava assim comigo para ficar pálida?
—Não estou brava, muito obrigado.
E me beija, mas não me convenço, ela está pálida!
—A minha máscara Senhor Carsson.
Talvez discutir por causa de um vestido não seja a melhor coisa a se
fazer nesse momento certo? Melhor deixar para conversar depois.
—Só vou escovar os meus dentes, por que não pega na cama?
Ela não liga para resposta azeda que lhe dei, gira e sai andando, e
acho que por isso que consigo me afeiçoar ainda mais por Maria, ela não
espera por ninguém, ela não é do tipo de mulher que ficar dependendo de
ninguém além de si mesma. Acho que se eu passasse dias e dias analisando
sua forma de ser não entenderia e só encontraria mais e mais motivos para
gostar e desaprovar suas ações.
As vezes sua independência me irrita, outras a torna admirável
para mim.
Danças
Escovo os dentes rápido e vou para o quarto, ela está de frente para o
guarda roupa, já recolheu as roupas que deixamos jogadas no chão.
—Arrumo a cama — falo — Não quer passar o seu perfume?
—Qual?
—O que te deixa com cheiro daquele sorvete roxo.
Não lembro bem o nome daquilo, mas o cheiro dela é
inconfundível.
Vou arrumar a cama, mas estou de olho em cada gesto seu, Maria
mexe em seu guarda roupas, ela está distraída. O vestido caiu como uma luva
para ela. Ela começa a passar hidratante, seu cheiro é doce assim como o
perfume que ela acaba de passar no corpo.
—Gostou?
—É, ele é... confortável.
Ela espalha o hidratante pelas pernas e pelos braços.
—Aumente o som Jack!
Calço o tênis depois que organizo a cama, The Verve, Bitter Sweet
Symphony, Maria gosta de músicas antigas, acho que eu era uma criança
pequena quando essa música tocava, mas até gosto, apesar de ser meio brega.
—Ah, essa música brega!
—Cala a boca!
Sorrio com seu atrevimento, a mulher está me mandando calar a boca
com tanta autoridade que sinto como se fosse uma mãe.
—Precisa secar os cabelos.
—Está muito calor Jack, deixe os meus cabelos em paz, vem cá.
Me aproximo, Maria se vira, os olhos fechados, um traço de sorriso
em seus belos lábios, ela estende os braços e acerta em meu peito, depois
segura a camisa e me puxa para perto dela.
Enlouqueceu! Pronto!
—Dance comigo.
Dançar?
—Agora?
—Eu deixei que me desse o vestido!
Isso não vale senhora Carsson.
—Chantagista.
—Vamos, é bom treinar, quem vai saber se aparece outros bailes!
Por que não?
Passo o braço envolta de sua cintura e a aperto erguendo sua mão
esquerda, Maria Sorri quando começo a conduzi-la pelo quarto, dançamos
juntos, e quando ela ri novamente tudo está mais claro que nunca para mim,
apenas a amo, apenas a quero somente para mim, eu sei que Maria é apenas
minha, eu sei que ela é tudo o que mais quero desde que vi, e eu serei dela
muito mais do que apenas em uma noite.
Giro seu corpo com o meu, deslizo as mãos e aperto a bunda dela, ela
me enlaça o pescoço oferecendo a mim um beijo, tomo seus lábios com a
mesma urgência calorosa que me oferece, a morena me corresponde com
vontade e a afasto fazendo com que gire, depois a puxo para perto, seus
sorrisos se alargam.
Estou feliz em vê-la feliz.
—Hei — escuto Sarah chamar e travo. — Estamos com fome.
—Eu já estou indo!
Sei que terei mais chances de tirar ela para uma dança, quero
dançar com essa mulher por toda a minha vida.
—Vamos!
Me afasto e pego uma máscara seca, olho para o tecido preto e paro
de sorrir, novamente preso ao transe de ter que submetê-la a isso, mas sei que
não será por muito tempo.
—Nossos celulares, você precisava atualizar os seus contatos para
esse, do seu antigo, já fiz isso para você — enquanto você dormia.
—Aham.
—Espero que não se incomode, pode usar à vontade, apenas não
deixe que Fernando pegue.
—Por quê?
—Nossas conversas, vida não é algo para um menino de dez anos ver.
—Tem razão, ele entende mais dessas coisas que eu.
Eu a conduzo para fora do quarto logo que coloco a máscara em sua
face.
—Vai aprender com o tempo, adoro tecnologia, é o meu mundo, e o
seu filho também, pensei em dar um ipad para ele de presente de aniversário,
para ele não ficar pegando o seu celular.
—Assim... do nada?
—Eu não vejo problema algum em dar essas coisas para vocês, não
preciso comprar.
—Por quê?
—Eu ganho, ou esqueceu que eu presto serviço para empresas como
Apple, Microsoft, Samsung...
Estou nervoso confesso.
Sair do quarto as vezes é ruim, mesmo que eu saiba que apenas Sarah
está aqui com Olaf e Alejandro. Sei que a família dela tem livre acesso a casa
e isso me deixa tenso. Não gosto que fiquem por perto, por mais que eu
pareça natural as vezes, por mais que Maria não entenda, na maioria das
vezes permito que eles me vejam apenas por ela, o que é contraditório já que
muitas vezes não deixo que ela me veja.
Não sei explicar.
—Eu fiz lasanha e cupim recheado! Ok, mentira, pedi tudo do
restaurante da tia Fran e só coloquei para esquentar.
Eu já sabia, você não tem cara de quem sabe nem fazer as
próprias unhas, quanto mais comida.
—Temos muita salada e a lasanha é vegetariana, não é o máximo? Eu
pedi pronta, porém pré-cozida.
—Estou impressionada com os seus talentos na cozinha — Maria fala
com um tom de deboche. — Já podemos almoçar?
—Aham, os meninos já estão comendo, só falta nós quatro.
Olaf está na sala vendo jogo ao lado do Fernando, vamos para cozinha
e nos sentamos, sirvo Maria, Sarah de fato não fez nada, mas caprichou no
pedido.
—Quer comer sozinha? — pergunto.
—Sim, por favor.
Entrego o garfo, Maria tem sentidos aguçados, ou aprende a ter, me
sirvo de salada também, olho para Alejandro, ele está olhando para Sarah, lhe
dou um chute na canela, ele dá um pulo e faz cara feia, não sabe nem
disfarçar...
—Quer carne? — pergunto.
—Sim, eu adoro o cupim do restaurante.
Não curto carne, nunca gostei, não sei dizer exatamente por que, mas
essa carne também parece bem gordurosa, os brasileiros têm uma culinária
bem calórica e mais salgada, não quero que Maria acabe doente por conta
disso.
—Não pode comer muita gordura.
—Eu sei, estou acima do peso.
—Falo pela sua saúde Vida.
Ela fica vermelha.
—Jack, depois você deixa que eu a roube por alguns minutinhos? —
Sarah pergunta.
—Claro.
—Está bom? — pergunto.
—Sim, eu adoro cupim, Sah vamos acertar depois, aí você soma com
o dinheiro que emprestou para Juh.
—Não precisa se preocupar com isso, coma.
Maria parece desagradada, mas não me importo, lhe dou um beijo na
têmpora.
—Coma, Joseph vem mais cedo hoje.
—É mesmo, eu tenho inglês!
Ao menos parece mais contente com as aulas de inglês, não vejo a
hora dela vir comigo para os Estados Unidos.
—Gosta das aulas?
—Sim, eu sei bastante coisa, me senti até mais inteligente ontem
quando Joseph me elogiou pela minha conversação.
—Maria você é inteligente.
—É, para alguém que já tem quase trinta, eu não estou tão mal.
Me espanto que alguém tão jovem e inteligente se minimize tanto
assim, Maria não encara os elogios como algo positivo, é como se ao invés
disso ela encontrasse uma desculpa para se auto criticar.
—Duda você tem que parar com isso — Sarah retruca e tenho que
concordar com ela. — Você é muito inteligente, dedicada, pare de se
menosprezar.
Maria tem uma baixo estima muito forte, ela não sabe como se sentir
bonita ou até mesmo inteligente, ela se sente velha, algo bem próximo de
uma mãe ou coisa assim, isso me deixa intrigado, mas decido não insistir no
assunto na frente de Sarah e Alejandro.
Comemos em silêncio, e confesso que me irrito um pouco de pensar
que talvez isso seja por conta do peso dela, será que ela se sente assim porque
está um pouco mais cheinha? Isso não muda em nada o jeito como me sinto
em relação a ela, em nenhum sentido, talvez no começo estivesse bem
preocupado com o que minha família pensaria mas agora... agora isso não
importa, só quero que ela fique saudável, e quem sabe se ela emagrecer um
pouco não mude as impressões que tem sobre si mesma?
Termino meu almoço e levanto, Alejandro e eu nos afastamos, sei que
Sarah quer falar com ela.
Melhor pensar bem no que vou falar para Maria antes de entrar
nesse assunto.
Pedidos aceitos
—O que pretende Jack?
—Eu já conversei com os pais dela, vamos nos casar.
—E depois?
Olho para o meu irmão, nunca o vi tão sério em toda a minha vida,
Alejandro é daquele tipo de cara certinho e responsável que todo pai e mãe
quer ter como filho, ele sempre foi o filho ideal e leal que o meu pai desejou
ter, coisa que eu nunca fui e nunca serei.
—Eu quero poder vir ao Brasil ao menos uma vez por mês, não posso
tirar a Maria daqui tão de repente, logo que ela terminar a faculdade ela e o
Nando podem vir comigo para os Estados Unidos.
—E pretende manter ela vendada para sempre?
—Isso não é da sua conta.
—Essa situação é ridícula e doentia.
Eu sei disso.
—Eu já pedi que ela me olhasse, mas ela não quer, se te conforta, eu
já permiti que ela tirasse a máscara, mas é ela quem não quer tirar.
—Claro, agora ela ficou com medo de olhar para essa sua cara feia.
Sorrio, olho envolta, o apartamento é perfeito, a vista muito ampla, sei
que Maria e o Nando irão adorar morar aqui, todo o lugar é seguro,
organizado, ela ficará bem quando eu estiver fora, ainda que eu saiba que eu
não ficarei muito bem longe dela.
—Gosta mesmo dessa garota.
—Sim, ela é muito importante para mim Alejandro.
—O menino também.
—Os dois.
Alejandro se senta na cadeira e me sento de frente para ele, o vento
sopra com força, mas tudo em Copacabana parece perfeito demais, o mar, as
pessoas na calçada, e toda a vista esplendorosa do Rio de Janeiro.
—Queria ter crescido aqui — Alejandro fala pensativo. — Ter tido a
oportunidade de saber como é morar no lugar onde eu nasci.
Eu também queria ter sido criado aqui, mas fomos arrancados deste
lugar e levado para um outro lugar que me deixou cheio de marcas, dor, um
lugar que me tornou alguém que eu sei que a minha mãe nunca iria querer
que eu fosse, em parte, ir embora mudou todo o curso da minha vida, da vida
dos meus irmãos, mas tenho certeza que mamãe fez de tudo para que as
coisas pensando no que era melhor para nós 5.
—Será que teríamos nós tornado pessoas normais Jack? — pergunta
Alejandro olhando para a paisagem da cidade maravilhosa. — Você talvez
fosse uma pessoa sem medo não é mesmo?
—A vida é como é Alejandro — falo, sei que ele é alheio a tudo o que
vivi na casa de Clair. — Não há como mudar quem somos de uma hora para
outra.
—Disse para Sarah que gosto dela. — Ele me olha incerto. — Fiz
errado?
—Não, não fez — respondo. — Você tem todo meu apoio.
—Sei que ela é mais velha e tal, que ela nunca se interessaria por um
cara como eu, mas quero tentar sabe? Quero poder ser mais corajoso e
enfrentar os desafios da minha vida.
—Desde que não pule da primeira ponte que ver pela frente.
Alejandro sorri, é jovem, não é um rapaz feio, tenho certeza de que a
mulher que se casar com ele será muito feliz, ele tem um enorme coração.
—Melhor irmos — aviso e me levanto.
—Você vai conseguir Jack. — Ele fala. — Ela vai aprender a lidar
com a sua doença.
—Espero que sim.
Entramos no apartamento e fecho o blindex da sacada, olho envolta,
sei que este também será o meu lar todas as vezes que eu vier aqui, não estou
muito contente em abandoná-la, mas estou satisfeito de saber que ela ficará
bem.
—Tá pronto para pedir ela em casamento aos pais dela?
—Claro que não — falo e começo a ficar nervoso. —E para de agir
como se gostasse de mim.
—Você é o meu irmão esquizofrênico, alguém precisa gostar de você
Jack.
Me afasto.
Alejandro vem atrás rindo, tento deixar o nervosismo de lado, viemos
aqui e Olaf foi numa joalheria para mim, acho que preciso ser mais formal
quando se trata da Maria, também sei que devo fazer isso, formalizar o nosso
compromisso. Entramos no elevador.
—Jack vai se casar!
—Cala a boca imbecil, eu já sou casado.
—Senhora!
Dona Francisca passa por nós dois fazendo cara feia, eu sei que ela
me detesta por que eu a submeto a mudança, mas também sei que é muito
melhor que eles mudem para um lugar seguro, do que que permaneçam nesse
bairro, vivendo numa casa pequena e tendo que lidar com os riscos de uma
vida no subúrbio, sei que é meio arrogante da minha parte, nada humilde,
mas eu não quero ficar me preocupando com a Maria quando estiver longe —
muito mais do que já ficarei preocupado — porque sei que se os pais dela não
ficarem bem, ela não ficará bem. O Senhor Van me dá um sorriso cansado,
ele é mais simpático do que ela.
—Como vai rapaz? Vocês estavam passeando?
—Sim senhor.
Alejandro sobe as escadas na frente, Olaf entra depois de mim, ele
tranca o portão, subo os degraus me sentindo um pouco tenso, minha
conversa com os pais dela quando eu estava fora não foi das mais amistosas,
os pais de Maria apresentaram resistência com a minha ideia de levá-la para
morar em Copacabana, mas acabaram aceitando, Alejandro quem está
resolvendo a papelada e a mudança, o lado bom de se ter um advogado e
dinheiro é isso, tudo se resolve dentro do possível rápido e bem.
Entro na casa de Maria, ela está sentada no sofá ao lado de Sarah,
cabisbaixa, a mãe dela se senta entre ambas, avisei que pediria a mão de
Maria hoje, os pais dela estão cuidando da mudança, sei que eles são pessoas
que trabalham bastante e bem ocupadas, mas ainda assim, sei que preciso
fazer isso. Sarah tira Fernando da sala, Alejandro se afasta também, e ficamos
apenas eu, Maria, sua mãe e seu padrasto.
—Maria o seu namorado conversou conosco sobre você mudar para
Copacabana, ele disse que decidiram que era melhor assim e nos propôs que
ficássemos por perto — o padrasto dela fala. —Queremos saber se você
realmente gosta desse rapaz.
Nada incisivo.
—Gosto.
—Você tem certeza de que é isso o que você quer? — a mãe de Maria
é mesmo intimidadora.
—Sim, eu quero ficar com ele.
—Eu e a sua mãe aceitamos a proposta do seu namorado, entramos
nisso de cabeça, vai mudar nossa rotina, mas sabemos que é importante para
você que estejamos por perto, queremos ficar perto de você e do Nando.
Ela permanece calada, começo a ficar nervoso porque não gosto
disso.
—Não vamos deixar você ir assim — completa o padrasto dela. —
Ele comprou a nossa casa e a academia, demos o dinheiro como entrada para
pagar o apartamento, vamos morar perto de vocês.
—Filha eu... você sabe que eu me preocupo muito com você certo?
Não quero que o Nando cresça longe da gente.
Eu sei que Maria também não iria gostar de ficar longe deles, apesar
de todos os pesares são a família dela.
—Não será ruim para vocês?
—Não — diz Dona Francisca. — Você não quer a gente por perto?
—Claro que quero mãe.
—Não fique brava conosco — Dona Francisca olha para Maria com
um afeto imenso. — Não sou a melhor mãe do mundo, mas não suportaria
que você ficasse longe de mim, Júlia também.
Maria continua calada, me aproximo e coloco a mão no bolso,
procuro o anel que pedi que Olaf comprasse para ela.
—Estamos preparando tudo—reafirma a mãe dela.
—Está bem.
—Você está bem?
—Sim.
Sei que ela não está bem, não gosto disso.
—Já estamos organizando a mudança, já que vai ser até o começo do
mês que vem — dona Francisca se levanta e vai para o rumo da cozinha. —
Jack disse que se casaram no civil até o fim do mês, vamos fazer um jantar
com a família semana que vem.
—Maria não precisa ficar com medo, eu e a sua mãe entendemos que
você precisa se casar, foi uma decisão nossa.
Essa mudança vai realmente transformar a vida da família dela, não
havia pensado por esses aspectos, eu só quero que Maria fique bem e segura
com o Nando, sei que esse bairro não é tão seguro nem morar numa casa sem
proteção, no condomínio eles terão proteção e vigilância, me sento ao lado
dela, seguro sua mão, ela não gostou de ter que mudar, disso eu já sabia, só
não pensei que ela ficaria tão triste com tudo.
—Você aceita? — pergunto.
—Sim.
Sinto seu nervosismo, seu medo, o receio estampado na tensão de seu
corpo, ela não ergue o olhar nem se move, e isso é uma merda, literalmente.
—Vai dar tudo certo.
—Eu sei Jack.
—Estou nervoso.
—Por que eles estão olhando para você?
—Porque estou te pedindo em casamento agora, é oficial!
E me dar conta disso é apavorante.
—Mas já somos casados.
—Seus pais não sabem disso.
—O que pretende?
—Me ajoelhar?
—Jack pelo amor de Deus!
É agora.
—Maria você aceita ser a minha esposa?
—S-sim.
—Sua mão direita, por favor.
Minhas mãos tremem bastante, não sei dizer o quanto isso é bom e ao
mesmo tempo tenso, Maria também está nervosa, acho que ambos não
pensávamos que passaríamos por algo assim na vida, um casamento louco em
Las Vegas, depois um noivado de verdade na casa dos pais dela, sei que ela
merece até mais que isso, porém não consigo imaginar algo diferente para
nós dois nesse momento, eu gostaria que o meu pai estivesse aqui, na verdade
que eu tivesse uma família de verdade para me representar nesse instante,
mas eu não tenho, então, acho que é o suficiente apenas entender que as
coisas são como são e ponto.
Coloco o anel em seu dedo anelar direito, beijo sua mão.
—Obrigado por aceitar.
—Obrigada por pedir.
Sorrio, Maria é tão...
—Você é fantástica.
—Não vou esquecer isso senhor Carsson.
Os pais dela se aproximam, estão visivelmente emocionados, a mãe
dela a abraça e do nada sinto um abraço caloroso do padrasto dela.
—Fez a coisa certa rapaz!
—Obrigado.
Não sei reagir a demonstrações de afeto, ele me solta e Dona
Francisca me abraça, ela chora, fico duro, nunca deixei que me abraçassem
assim, não gosto de contato físico com ninguém, sempre achei meio estranho
e pessoal demais, é algo que evito, contudo nesse momento isso parece uma
grande tolice.
Nando vem correndo e a abraça, Sarah me abraça rapidamente e vejo
o meu irmão diante de mim com um sorriso enorme, ele abre os braços.
—Abraço irmãozinho.
Fecho a cara, Alejandro me aperta com força.
—Vocês vão ser muito felizes Jack, vai ver mano.
Olho para a mulher que amo, para o filho dela que se tornou meu e
sinto vontade de sorrir.
Eu espero que sim.
Eu sei que sim.
Nível 14 da atração
Dona Francesca está na cozinha cuidando de tudo.
Sarah está sentada ao lado de Alejandro no sofá que fica de frente
para mim e Maria, o meu irmão me disse a alguns momentos algo sobre
compromisso com Sarah ou coisa assim, foi quando o senhor Van me
abraçou mais uma vez e disse que precisávamos comemorar o noivado, e que
para aquilo, iria buscar cervejas, a mãe de maria se ofereceu para preparar o
jantar, não me opus, apesar de querer que fiquemos apenas eu ela e o Nando,
eles querem fazer parte disso, é importante para eles.
—Então, a formiguinha está noiva! — Sarah fala com deboche.
Alejandro me olha como cheio de orgulho, reviro os olhos, seguro a
mão de Maria, ela já é minha mulher, de todas e quaisquer formas, logo em
breve espero que nos casemos no civil, quero oficializar tudo o mais rápido
possível.
—Alejandro pediu Sarah em namoro — digo. —Ele quer algo mais
sério.
—Entendo — Maria afirma.
—Vamos falar com os meus pais amanhã — Sarah está tensa.
Acho que o Alejandro quer muito mais isso que ela, acredito também
que é um grande passo para a vida dele e de Sarah, infeliz ou felizmente, é
um mal de Carsson levar tudo literalmente ao pé da letra, a sério, o orgulho
percorre as veias das pessoas dessa família, ao menos, é assim comigo,
Alejandro, e os outros dois imbecis.
—Então, chamei o Alejandro para vir para Angra conosco no sábado
—Sarah diz — Vamos nós três e o Nando, que tal, Duda?
Queria poder ir também, Mas querer não é poder, tenho muitas coisas
a fazer, ainda que a minha prioridade seja a minha esposa, a empresa exige de
mim também, isso me chateia, me irrita, mas saber que Maria ficará bem e
segura me conforta em alguns sentidos.
—Parece uma boa ideia —Maria responde —Já foi em Angra,
Alejandro?
—Ainda não —meu irmão está tenso. —Vocês adoram praia.
—Sim —Maria parece querer sorrir. —Eu amo praia.
—É bom que se divirtam enquanto eu estiver fora.
Os suspiros de Maria não negam, ela não quer que eu vá embora. E
diabos, se eu pudesse, eu não iria.
—Uhu... Duda está noiva!
—Uhu... mamãe está noiva! — Nando fala.
Eu o olho, e o garoto ri atento a tv, também sentirei muita falta dele,
deste lugar, estar aqui é muito melhor do que estar só, ou vivendo a merda de
vida que eu vivia antes deles aparecerem.
—Criei um monstro —Sarah pragueja—Por falar em monstro, cadê o
robô?
Robô!
Sorrio, ele está hospedado num hotel não muito longe daqui
juntamente com Alejandro. Ele também está resolvendo algumas questões
dos móveis dos apartamentos e mais algumas coisas para mim e meu irmão.
Olaf não gosta de apelidos, mas eu tenho certeza que se tratando de
Maria ou Sarah ele não se importará, e ainda que eu esteja sorrindo, vejo
daqui o olhar curioso de Dona Francesca da pequena cozinha da casa da
minha mulher, as vezes eu tenho a impressão de que ela não gosta de mim,
em outros momentos fico apavorado em constar que ela está me espiando ou
coisa assim, tento me acalmar.
Odeio que fiquem as espreitas ou me olhando assim.
A mão de Maria pousa no meu peito, eu a olho.
—Fique calmo.
—Estou calmo, sua mãe não para de olhar.
—Acho que ela ainda não acredita.
—No noivado?
—Em me ver de vestido!
A tensão abandona meu corpo, mas meu riso é mais nervoso que tudo,
eu a puxo para mim, e seu abraço me acalma um bocado, Maria está me
apertando, me dando tanto apoio, ela não sabe o quanto isso é importante
para mim, ser alguém próximo do normal.
—Olaf foi para o hotel, ele precisa resolver algumas coisas para mim
—falo.
—Você é muito ocupado, cara?
Olho para o garoto, Nando enfia um bocado de salgadinho na boca e
mastiga, não sei se essas coisas são muito saudáveis para ele, mas não me
sinto no direito de falar nada, o padrasto de Maria entra carregando sacolas,
ele está todo contente.
—Um pouco — falo. — A empresa cresce.
Sei que não adianta explicar sobre negócios para o garoto, mas ele
sorri, e sinto vontade de falar um pouco sobre a BCLT para ele, quem sabe
um dia eu não o levo para conhecer o lugar?
—Bom, vocês aceitam?
—Claro!
O Senhor Van me entrega uma cerveja, depois outra para Sarah e uma
para Alejandro, não posso beber muito, mas não deixo de sorrir ao olhar para
a cerveja, porque me lembro de Las Vegas. A Irmã de Maria entra, apressada,
ela se aproxima.
—Cheguei — diz Júlia. — Não poderia perder esse momento.
Maria enrijece.
—Duda namorando.
—Não enche, Maria Djúlia.
E eu com os meus problemas com o Alejandro...
—Ok, parei, então, vamos para a parte legal, em que eu como e falo
sobre o meu dia maravilhoso arrumando a mudança.
—O que vão levar?
—Só o básico, mamãe disse que o apartamento é mobilhado, não
sabia que o meu pai tem dinheiro para isso, agora descobri por que ele não
me empresta dinheiro, muquirana.
—Dobra a língua —O padrasto de Maria está mexendo no som da
sala. —Você já foi na escola ver o negócio do histórico?
—Aham, você ou a mamãe tem que ir lá pegar.
—Vai pedir transferência? — Maria pergunta.
—Claro que vou, ou você acha que eu vou vir todos os dias do outro
lado da cidade para estudar? Meu pai vai pagar uma escola sem graça lá
perto.
E mais uma vez, Maria não gosta nenhum pouco de nada do qual eu
decidi fazer por sua família.
—Não tem com o que se preocupar —explico. —Ele vai pagar por
tudo, não aceitou que eu desse.
—É? —questiona. —Eu posso pagar também?
—Não!
Ela faz cara feia, beijo sua bochecha, eu a desarmo nesse momento.
—Vai ser muito bom dar aulas na academia da sua prima, Jack.
—Ah, eu acredito que você goste mesmo, Sandy é muito legal.
Conversei com Sandy via e-mail, não haverá problemas, Maria vai
aprender a se acostumar com isso também, em todos os sentidos, logo que ela
ver, tudo estará no lugar, inclusive eu em seu coração.
Meu lar
Procuro Maria na cama, mas ela não está aqui.
Me levanto e saio do quarto ainda com sono, passo pelo corredor
silencioso e observo a semi escuridão da casa da minha mulher, depois
quando chego a sala começo a sorrir, ela está deitada no sofá com foninhos
no ouvido, cruzo os braços e observo o pé dela balançando no braço do sofá,
o corpo relaxado, ela ainda usa o vestido.
Ela é tão linda.
—Por que saiu da cama?
—Perdi o sono.
Ela não está surpresa.
—Posso ficar aqui com você?
—Claro que pode, vem.
Maria se ajeita no sofá, me aproximo, me deito ao seu lado, ela coloca
metade do corpo em cima do meu, me abraça, não sei bem o porquê ela veio
para sala.
—O que foi?
—É que parece que eu estou sonhando, não sei, é tudo muito rápido.
—Sonhando?
—É.
Estou surpreso.
—Eu não sou um príncipe encantado, Vida.
—Nem todas as garotas do mundo querem um príncipe.
Ainda bem que você é uma delas, porque de príncipe só me sobraram
as ferraduras do cavalo Vida.
—Sempre tem o cavalo, não é mesmo?
Ela ri.
—Você é o meu Lorde das trevas.
—Encantado!
Seguro sua mão, depois beijo as costas da mão, Maria se ergue e eu
beijo sua boca, sei que foi uma noite muito importante para nós dois, para
mim, porém para ela um momento muito especial.
—O que achou do manicômio?
—Dá para suportar, só fiquei um pouco incomodado com a forma
como a sua irmã me olhava as vezes durante o jantar.
A família dela é muito indiscreta, muito espontânea, confesso que não
estou acostumado com pessoas assim, falantes, alegres, por diversas vezes,
Dona Francesca ficou me analisando, era constrangedor, assim como a irmã
da Maria, só que a mãe dela parecia mais por curiosidade, a irmã dela, porque
eu não sei, mas ficava sorrindo, as vezes para o Alejandro.
Não posso reclamar, a minha nova sogra é uma excelente cozinheira,
ela fez até um molho de couve flor separado para mim e Alejandro ao saber
que somos vegetarianos, também além disso, o padrasto de Maria foi muito
gentil, eu via tanto calor nos olhares dessas pessoas durante o jantar, que
apesar de tudo me fez imaginar como será ter uma família um dia, uma
família de verdade.
Maria me possibilita pensar em tantas coisas das quais não quis.
—Gosto da sua família, eles são engraçados.
—É, eles me matam de vergonha.
—Sua mãe cozinha muito bem.
—Por isso eu sou gorducha.
—Você é gostosa.
Tinha um bocado de receio quanto a isso a algumas semanas atrás
quando Maria encontrou meus irmãos em Malibu, mas agora, sem sombra de
dúvidas quero ela assim, desse jeito que ela é, eu não preciso que ela mude
por nada certo? Eu a amo tanto, eu a quero deste jeito, mesmo que ela seja
um pouco acima do peso, acredito que ela precisa se cuidar um pouco mais,
ao menos quanto a saúde, o não importa o que digam.
Ela me beija toda carinhosa, sei que não preciso de mais nada,
contudo, é difícil pensar que terei que partir e deixá-la para trás.
—Vou para Paris na madrugada de hoje, quero que você me prometa
que vai me responder sempre que eu chamar ou ligar, está bem?
—Ok.
Sei que ela detesta isso tanto quanto eu.
Maria mordisca meus lábios e sua língua invade a minha boca
novamente com lentidão, toco seu corpo devagar também.
—Quando você volta?
—Em duas semanas.
—Isso tudo?
—Preciso trabalhar, Maria.
Ela suspira desagradada.
—Está bem.
—Não fique brava.
—Não estou brava.
Não entendo.
—Então...
—Estou triste.
—Está?
—Claro que sim, vou sentir muito sua falta, Jack.
—Vai?
—Claro que vou.
Porra.
—Farei o possível para voltar logo.
—E a mudança?
—Será em duas semanas, até o final do mês, mas os seus pais já vão
começar a levar algumas coisas, seu padrasto vai ver se consegue levar
algumas clientes particulares para a academia da Sandy.
—E a minha mãe?
—Ela vai cozinhar para outra pessoa, não se preocupe.
—Você pensa em tudo?
—Quase tudo.
Maria coloca o foninho na minha orelha e adormece em meus braços,
eu a aperto e beijo sua cabeça pensando nas chances de conseguir ficar muito
tempo longe dela, sei que não conseguirei dormir direito, nem comer, e que a
cada dois segundos eu vou olhar no celular para checar que ela está bem, ver
se ela me mandou mensagem e ligar para o Alejandro para saber se está tudo
bem.
Não quero ter que ir, mas tenho que ir.
Eu a observo dormir quieta em cima de mim, e aos poucos sinto
minhas faces um pouco úmidas, porque a possibilidade de estar longe dela
me machuca tanto, numa proporção gigantes, ainda que eu não queira que as
coisas sejam assim, nunca pensei que amaria tanto alguém em toda a minha
vida.
Apenas a possibilidade de estar longe dela me deixa depressivo.
Maria é tudo o que eu tenho agora, ela é o meu único motivo de ser
feliz, de prosseguir, mesmo que eu saiba que isso é algo que me faz mal, que
não é "saudável", mas sei que se eu perder essa chance eu nunca conseguirei
me reerguer.
Me sinto machucado, ferido, doente longe dela, eu não consigo pensar
em se quer um momento a minha vida sem ela, sem essa casa, sem o Nando
conosco, uma vida simples e banal, mas regada de atenção, amor, uma
família normal, tudo o que eu nunca tive, eu tive os meus pais por tão pouco
tempo comigo.
Beijo sua cabeça mais uma vez e fecho os olhos, o calor de seu corpo
é incrível e acolhedor, e aos poucos consigo cochilar de novo, mas o sono é
curto e interrompido, abro os olhos novamente, e Nando está deitado em
cima dela, o garoto usa um pijama, ele sorri todo alegre.
—Nando, não. — Ela se queixa imediatamente.
—Deixe o garoto quieto.
Maria esconde um sorriso, toco sua nuca, meus dedos se enfiam em
seus cabelos.
Melhor não pensar mais na distância, eu vou voltar o mais rápido que
eu puder para eles dois, para cuidar deles e isso é o que importa.
—Mamãe.
—Oi.
—Estou com fome.
—Vou fazer um misto para você, que tal?
—Queria cereal.
—Adoro cereal — completo. — Acho que Olaf comprou, você pode
preparar para nós dois?
—Mas... pensei que só comesse coisas saudáveis.
—Você come coisas saudáveis, eu sou o homem dessa casa, eu como
o que eu quero.
—Uou! — Nando exclama arrastado.
Sorrio.
—Mãe, eu não deixaria.
—Você manda na casa, Jack, mas quem manda em você sou eu!
—Uouuu!
O que posso falar?
Acabo por rir da lógica, tem um pouco de verdade, Maria se ergue
assim que o Nando vai para o lado e depois ela vai para cozinha, Nando me
abraça com força, beijo a cabeleira do moleque, ele se ergue depressa todo
embaraçado, sei que ainda tem um bocado de vergonha e receio, quando eu
tinha a idade dele, não costumava ter amigos, nem um pai que brincasse
comigo, meu tio sempre tentou se aproximar de mim mas eu não deixava.
Sempre tive medo das pessoas.
Não quero que seja assim com o Nando, eu não sinto medo dele, por
incrível que pareça, ele é uma criança cativante, doce, sei que ele merece todo
o cuidado e amor que um verdadeiro pai poderia dar.
—Quando você vai se casar com a minha mãe? — pergunta Nando
num tom baixo.
—Logo.
—Legal.
—Você quer brincar?
—Bem, do que?
—Não sei, eu nunca brinquei com ninguém...
Eu acho.
Tenho poucas lembranças da infância, me lembro vagamente das
vezes que a minha mãe, quando trabalhava como enfermeira num hospital
daqui do Rio, me levava, as vezes ela me deixava no quarto com alguns
pacientes, havia uma menina, mas não me recordo bem quem era, só lembro
que visitamos a ala pediátrica algumas vezes, como mamãe não tinha com
quem me deixar, ela me levava.
—Deita-se ai, vamos brincar de avião.
—Está bem!
Me deito, Nando fica em pé no braço do sofá.
—Agora você ergue as pernas, eu me deito com a barriga nos seus pés
e você segura as minhas mãos.
Que brincadeira mais sem nexo.
Acabo rindo quando Nando se estica e apoia a barriga nos meus pés,
quando estico as pernas para cima, ele solta um grito alto e ri a beça, isso me
deixa um bocado empolgado, vê-lo sorrir, poder deixar o moleque feliz.
—Mãe, olha, eu estou voando! — berra Nando.
Maria está preparando o café na sala, sei que ela não vai olhar.
—Outra hora, filho, estou fazendo o café da tia Sah.
—É bom mesmo!
Sarah vai para cozinha, Nando berra e ri à beça enquanto sacolejo ele
para os lados.
—Você vai fazer a minha mãe feliz né? — pergunta Nando
pendurado. — Tipo, nós... Felizes para Sempre.
—Claro — afirmo. — É o que eu mais quero.
—A minha mãe já sofreu muito sabe? Na mão do meu pai, ele não
presta, largou ela grávida, a vovó fala que ele é um mal caráter.
É mesmo, e que esse desgraçado nunca cruze meu caminho.
—O meu pai nunca me quis.
—Não importa Nando, eu quero você e a sua mãe também.
—Tipo, como pai e filho?
—Se você quiser sim.
Ele sorri, percebo que isso machuca o garoto, eu nem quero imaginar
como Nando se sente, mas na verdade eu sei bem, porque já fui muito
rejeitado pela família da minha mãe, e em relação a família do meu pai,
nunca tive contato, sempre fui e me senti só em todos os sentidos.
—Ta Legal.
Ouço o som da porta.
—Quem Chegou?
—O seu irmão e a sua prima e o Robô.
Nando ri quando eu o sacolejo de novo.
—Vamos montar meu quebra cabeças?
—Claro.
—Mamãe, eu e o Jack vamos para o meu quarto montar o quebra-
cabeças, o Olaf quer comida.
Me ergo e pego o moleque no colo, ele gargalha todo contente, eu o
coloco no chão assim que entramos em seu quarto, Nando indica a mesinha
onde monta o quebra-cabeças, me sento no chão e ele de frente para mim.
—Eu gosto de montar coisas, mas ainda não sei o que vou fazer
quando eu crescer, o que você pensou em ser quando tinha dez anos?
Estava ocupado demais estudando trigonometria num quarto fechado,
fazendo anotações num quadro sobre física quântica e lendo pelo menos 4
livros por dia...
—Gosto de números.
—Odeio matemática, mas eu sou bom com ciências e português.
—Ciências é uma excelente matéria.
—Mamãe fala que eu vou ser um cientista muito bem sucedido na
minha vida adulta, mas eu também pensei em ser advogado igual ela. Ela
sempre trabalhou muito na vida sabe? Eu quero que ela descanse quando ela
tiver uns 50 anos, quero sustentar ela, quero que mamãe seja feliz, eu nunca a
vejo sorrindo, ela sempre trabalhou duro para me sustentar.
A inteligência e audácia do menino não me surpreendem, e não
consigo me sentir assim dos melhores ao ouvir isso, sei que Maria não
merece trabalhar tanto para ganhar tão pouco.
—Hei — Sarah abre a porta. — Vocês dois estão fofocando é?
—Homens não fofocam — Nando argumenta.
Da vontade de rir do jeito no qual Nando estufa o peito, olho para
Sarah.
—Poderia trazer o cereal para ele Sarah?
—Claro. — Ela fala e aponta para o Nando. — To de olho em você.
Nando revira os olhos, nesse momento é como se visse Maria diante
de mim.
Ela some no corredor, me volto para as peças do quebra-cabeças.
—É bom que esteja aqui Jack.
—Sim, muito bom.
Sorrio.
É mesmo muito bom estar aqui, fazer parte disso, mal vejo a hora de
voltar para casa, para esta casa, a minha nova casa.
—Você vai para Angra com a gente?
—Quem sabe Nando? — questiono a possibilidade. — Quem Sabe?
Prazer com ela
Eu a observo tomar banho.
Maria toca as marcas que deixei em seu corpo, e por mais que eu não
queira, estou chateado com isso, não queria machucar ela, na realidade eu
jamais deixaria marcas no corpo dela, não de forma tão negativa.
—Disse que te machuquei.
Ela nãos e move, porém sei que não gostou, porque são marcas
arroxeadas.
—Vão sumir — garanto incomodado.
—Eu não me importo.
Tiro as roupas, Maria saiu para se exercitar com a Sandy e a Sarah,
fiquei no quarto ajudando o garoto com o quebra cabeças, ele é muito
esperto, e muito rápido também, Fernando é daquele tipo de criança que é
curiosa e que gosta de resolver as coisas, traços que eu vejo na mãe dele.
—Acredita que o Fernando já está quase na metade do quebra-
cabeças?
—Acredito, quando ele quer uma coisa, ele vai até o fim.
—Ele é muito esperto.
—Claro, saiu a mim.
Me aproximo, puxo ela para mim, olho as marcas em seu corpo, beijo
seu pescoço, desagradado e com peso na consciência, no entanto, sei que se
ficar falando sobre isso, ela talvez se irrite.
—Por que não colocou canela no meu cereal?
—Não sabia se gostava.
—Tive que pegar do seu filho.
—Coitadinho de você.
Sorrio com o falso deboche em sua voz, e que mais soa como um
desafio para mim, eu a seguro pelos ombros e a viro para mim, e a beijo
como quero, Maria se ergueu segurando meus ombros e seu corpo sobe
deslizando sob o meu, isso me excita, e ascende em mim, de novo, essas
sensações intensas, algo do qual não consigo controlar tanto quanto queira.
Eu a seguro e quando suas pernas me envolvem, fico todo duro, a
carne dela roça em mim e deixando quente, sua boca devora a minha, quer a
minha, e seu corpo também cobiça o meu, com tanta vontade que acho
impossível que nos controlemos a este ponto... mesmo que deva.
—Estou sem camisinha.
—Ah!
—Vou pegar no quarto.
Mas ela se estica e pega o envelope dourado atrás do suporte, onde
coloca o shampoo, me beija, aperto a bunda com força.
—Má.
—Você não quer?
—Claro que não, só vim tomar banho.
Maria ergue as mãos rindo muito, acabo por rir, acho que ambos
sabemos que não tem como controlar isso de forma tão pacífica, eu a olho, a
água caindo sob seus seios, os cabelos presos e intocáveis, os lábios úmidos,
eu a solto e pego a camisinha que me oferece, mordo o envelope e abro, ela
alcança minha mão e toma o preservativo.
—Maria...
—Shhh!
Ela fica de joelhos, me toca, e me puxa segurando meus quadris, os
olhos ainda fechados, lábios que imploram por isso, ela me segura cheia de
confiança e enfia meu pau na boca, me perco na visão erótica, e sua língua
macia me lambe devagar, luto contra o fôlego, e meu corpo sobe quando ela
começa a me chupar, sua mão desliza até minha bunda, pego a camisinha de
volta.
—Isso é ótimo, querida, vou retribuir mais tarde.
Quero mais dar do que receber, quero chupar ela também,
retribuir.
Maria me lambe sem receio, a língua quente, maravilhosa, latejo
quando ela me mordisca, arfo tomado pela impaciência, e a beijo, porque isso
mexe comigo, meu corpo todo trêmulo, causado pelo toque da boca dessa
mulher, ela me toca, ainda sim, deixando claro sua vontade.
—De costas.
Ela me dá as costas, não resisto, por mais que tente, dentro de mim,
algo se profana, dou um tapa forte na bunda dela, coloco a camisinha no meu
pau depressa, e abaixo enfiando o pau nela até o talo, seu corpo sobe,
enquanto me reveste todo, me deixando sem ar, me inclino e mordo sua
orelha, adoro cada pedacinho de seu corpo, ele me recebe muito bem, como
nenhuma outra recebeu.
—Quando eu voltar, quero o meu presente!
—Dou com prazer, Senhor Carsson.
Solto os seus cabelos, e minha boca devora sua pele, mas tento ter
cuidado, seu pescoço, seu ombro, não deixarei marcas dessa vez... espero que
não. Empurro ela, mas não dá para ser delicado, puxo seus cabelos e enfio
ainda mais meu pau dentro dela.
—Agarre as minhas pernas por trás com força e não grite, está bem?
—Ok.
Ela obedece e se segura em mim, puxo seus cabelos enrolando meus
dedos neles, saio e entro dentro dela com força, seu corpo salta e repito de
novo, e de novo, a quentura me tomando, ela está molhadinha, toda molhada
só para mim.
Do jeito que eu gosto.
A boca dela fica entreaberta, e os seios pulam enquanto meto com
força em sua buceta, olho para baixo, e as sensações se intensificam, ela me
faz querer mais que isso, ainda que seja suficiente, quero ela por inteiro para
mim.
—Quero a sua bunda.
Toco o rabo sem receio, Maria se contorce e seu corpo se enche de
prazer, meto com mais intensidade, e ela se move debatendo-se com o prazer,
suas unhas se enfiam nas minhas coxas enquanto se segura em mim, não
consigo controlar o gemido.
Puta que pariu.
—Cacete, Maria, não faz isso — protesto.
—Tem certeza que era submisso? — Ela me provoca.
Puxo seus cabelos e meto com força, ela grita, e sufoco com as
sensações que seu corpo causam no meu.
—Não, nem sempre, eu já disse que adoro bater também, Maria, não
me tente.
—Isso é injusto.
—O que é injusto? — eu a olho, ela morde os lábios, fico ainda mais
tentado. —Você me deixa louco.
—Deixo? — Ela segura minha mão, e a desliza por seu corpo até
chegar onde gosto. —Por favor.
—Ah, Maria!
Eu a toco, seu prazer se contorcendo em mim, seu clítoris, coberto e
molhado pelo gozo que lhe proporciono, ela me acompanha, retraída, quente,
meus dedos se movem em gestos circulares, ela adora.
—Isso amor, goze para mim, só para mim.
Ela estremece e eu saio, tento não antecipar nada, mas isso se torna
difícil, Maria se abaixa de repente e tira a camisinha, ela me segura e me
chupa toda apressada, meus quadris se movem, e a porra sai, ela me lambe
todo, e meu corpo todo reage a isso, incontrolável, intenso, eu a observo e
chupo os dedos que a alguns segundos estavam tocando ela um a um.
Maria arfa se erguendo, mas não espero por nenhuma reação, empurro
ela contra a parede e a penetro mais uma vez, ela estremece.
—Ah, Jack!
—Goze comigo, sim?
Aperto sua perna mantendo-a erguida enquanto a penetro, a olho, ela
morde o lábio inferior com força, desejosa, quente, lambo o canto de seu
queixo e subo por sua bochecha, ela é tão deliciosa.
—Quero ver. —Ela se move comigo rapidinho, mete comigo ligeiro.
—Vida, deixa!
Pede cabisbaixa.
—Ah Maria, veja, sim? Quero que veja isso.
Ela nos observa, mas não consigo me sentir intimidado, pelo
contrário, isso me excita ainda mais, ela geme baixinho, meu pau entra e sai
dela, a bunda bate na parede com força enquanto fazemos, isso me causa
ainda mais prazer, desejo, não sei explicar.
Nunca saberei.
—Gosta de ver? —pergunto tentado. —Gosta de me ver metendo?
—Sim.
Me apoio na parede e seus quadris estão me consumindo muito
rápido, metendo comigo na mesma intensidade, os quadris serpenteando com
os meus.
—Ah Maria!
Não consigo segurar.
Saio de dentro dela, meu corpo todo queimando com as sensações,
contudo, ela não me dá tempo, me chupa nesse momento, é maravilhoso
gozar na boca dela assim, ela é maravilhosa.
Sorrio, dou outro tapa na bunda dela, os quadris dela insinuam o gozo,
e ela geme enquanto os orgasmos que a tomam se intensificam.
Eu a puxo mais uma vez e a beijo, o gosto da porra é compartilhada,
mas não tenho nenhum pingo de receio ou nojo, Maria me toca, mas não é
algo apenas sexual, eu sei que não.
—Vamos para a cama, vida, quero aproveitar o nosso dia da melhor
forma.
Ao menos, até que eu vá embora.
Nível 15 da atração
—Qual foi a maior loucura que você já cometeu na vida? —
questiono.
Quero saber tantas coisas sobre ela, quero descobrir quais são seus
medos, seus receios e seus desejos para o futuro, eu quero construir algo mais
sólido com Maria, quero que ela aprenda a confiar mais e mais em mim,
ainda que nosso relacionamento pareça louco, quero lhe mostrar que pode ser
como qualquer outro.
Porque tudo o que estou vivendo com ela é, a coisa mais louca que sei
que já vivi na minha vida, e a mais linda.
Ela é linda.
—Me casar bêbada em Las Vegas.
—Boa resposta —digo. —E... se arrepende?
—Acho que no começo tinha um pouco de medo, mas agora não, não
me arrependo.
—Muito bem. —Eu a beijo. —Qual é o seu maior medo?
—Tenho medo de altura!
—E subiu numa cobertura num prédio de trinta andares de olhos
vendados?
—É, as vezes tudo o que eu faço é confiar no meu marido de Las
Vegas.
—Boa resposta —beijo de novo, é parte do trato, a cada resposta um
beijo. —Você prefere loiros ou morenos?
—Você é loiro ou moreno?
—Excelente resposta!
E mais um beijo, Maria é sagaz, ri com o que disse, ela está mais à
vontade agora, relaxada, viemos para cama, fizemos amor, agora ela está
mais a vontade, seguro sua cintura e Maria vem para cima do meu corpo com
um sorriso lindo nos lábios.
—Gosto quando me toca, você é muito carinhosa.
—Me acho meio seca e fria as vezes.
—Acho que eu sou frio, você só tem vergonha demais de que as
pessoas se aproximem de você.
—Acho que pagaria uma sessão com você, Doutor Carsson.
—Pagaria? E tiraria muito proveio?
—Muito.
Toco sua face, seus cabelos, Maria se inclina e nos beijamos mais
uma vez, o estalo do beijo nos faz rir.
—Você é engraçada.
—Você também.
—Te machuquei?
—Você me obrigou do começo ao fim, teve um momento em que eu
achei que sei lá, você estava tirando proveito da minha inexperiência.
Acabo rindo da insinuação.
—Disse que se acostumaria não, disse?
—Obrigada por insistir.
—É?
—Eu reagi muito mal a tudo, ainda tenho um pouco de medo da sua
doença, quero entendê-la.
—Eu também.
—Eu sei que é verdade, Jack, você fica apavorado quando minha
família está aqui.
—Precisava ver no primeiro dia de Olaf.
—Trabalham há muito tempo juntos?
—Três anos mais ou menos, já me acostumei com ele, Olaf é
segurança e motorista, e nas horas vagas, um grande amigo.
—Mesmo?
—Ele me aconselha muito.
Por mais que não pareça, as vezes Olaf é insistente, um
verdadeiro pé no saco.
—É um bom homem.
—Você também é um bom homem... meu bom homem.
—Uou!
Ela toca minha nuca, sorridente, os lábios cheios de felicidade, sei que
aos poucos ela vai entender como as coisas funcionam, e eu, quem sabe, não
consiga lidar mais com a minha doença? Bem como meus irmãos e meu pai
tentam lidar? Tenho certeza de que terei coragem para que ela me veja, para
permitir que Maria me conheça, quem realmente sou, quem sabe um dia não
consigo lhe contar tudo o que houve na minha merda de vida para que ela
entenda sobre a Escopofobia?
Melhor nem pensar nisso.
—Acha que Alejandro foi precipitado?
—Ele gosta dela?
—Alejandro colocou na cabeça que está apaixonado por Sarah, já
tentei explicar para ele que as coisas não são assim, mas ele é muito,
complicado.
—Tem medo dele fazer uma loucura?
—Ele já passou dessa época, hoje ele supera bem o termino de um
namoro, mas o problema é que ele é muito ingênuo, se apega com facilidade.
—Ele tem 21 anos.
—É.
—Ele vai a alguma psicóloga também?
—Às vezes ele vai para sessão comigo, mas ele tem o psicólogo dele.
Alejandro conhece a Lane, inclusive, ele e a Júlia a conhecem a algum
tempo, ela já até conversou com o Alejandro uma vez, nada invasivo demais,
algo bem superficial.
—Por que ele tem depressão?
—Mal de família.
—Não entendi.
—Eu... ele... Júlia, somos os filhos problema.
Maria está surpresa, acho que ela pensa que os Carsson são uma
família composta por pessoas ricas e felizes, pior, normais, mal sabe ela, que
toda a família, é cheia de podres e problemas tão ou mais sujos do que os
problemas de qualquer ser humano na face da terra.
—Não diria que Júlia é depressiva, mas ela é muito instável, tem
alguns momentos que ela é mimada e infantil demais.
—Ela é muito jovem.
—Ela precisa entender que todos crescem um dia, até ela.
—Mas ela só tem dezoito anos.
—A questão é que Mirna a mima muito, Júlia é muito volátil as vezes,
isso me irrita.
—Alejandro tem crises contínuas?
—Não, hoje ele é mais controlado, ele apenas é muito só, isso o torna
mais deprimido.
—Por que ele é só?
—Ele não gosta de sair, dedicou-se aos estudos em período integral,
agora ele sente como se tivesse perdido a adolescência, tem crises intensas de
existência, fica bêbado, e tenta pular de alguma ponte.
—Acha isso normal?
—Não, ele já tentou isso três vezes e, se eu não tivesse ninguém para
vigiar, ele teria morrido.
Alejandro é difícil, não tanto quanto eu, mas ele tem os problemas
dele, parece uma praga.
—Ele tem algumas crises de insônia também, desde que terminou
com a namorada.
—Por que eles terminaram?
—Ela o traiu.
—Coitado.
—Eu também trairia.
—Por quê?
—Ele é virgem!
—Virgem?
—É, ele fala que está esperando a garota certa.
—Ele é bem tímido.
—Tivemos uma educação muito rígida, Maria, acho que eu ainda
meio que sai disso porque me envolvi com Condessa, mas Alejandro não,
depois que saiu do internato, ele se enfiou nos estudos, queria provar para o
meu tio que cresceu, sua autonomia.
—Acho que Sah não vai gostar disso.
—Eu também acho que não, ela é uma mulher bem para frente, não
parece gostar de homens como ele, eu disse isso.
—E o que ele falou?
—Ela é minha e eu vou me casar com ela.
Os lábios dela se enrijecem, logo em seguida eu a vejo rir, também
confesso que acho engraçado, Alejandro é possessivo, ciumento, mesmo que
não admita.
—Nada possessivo, deve ser mal de família.
—Eu sou obcecado, não possessivo.
—Você é minha, Maria, e eu vou te possuir até me cansar!
Lhe dou um tapa na bunda, porque mesmo sabendo que as coisas são
assim, não quero que Maria veja isso como algo ruim, é, é a merda da loucura
que me faz pensar assim.
—Não me teste —ordeno, seguido de um arrependimento latente,
acaricio o local. —Você gostou do que viu?
—Sim.
—Perdi o controle.
Maria cora até as orelhas, contudo, não quero nenhuma barreira na
hora do sexo com ela, não mais dos que as que temos no dia a dia.
—Vida.
—Hum.
—Às vezes eu sou um pouco agressivo, você se importa?
—Não, nenhum pouco.
Ela me beija, e sei que a minha vida terá muitos outros motivos para
tentar prosseguir, coisas mais importantes nas quais irei pensar, ela e o
Fernando, uma nova vida!
—Estou muito feliz que tenha aceitado vir morar no meu
apartamento.
—Eu também.
—Ele estará pronto em uma semana para te receber, você vai na
frente com o Fernando, está bem?
—Ok.
Quero que seja mais concreto, que ela saiba que a máscara nunca
limitará nosso relacionamento em nada apesar de todos os pesares, beijo sua
face, a máscara que a impede de me ver, quero que isso mude logo, logo.
—Me desculpe por isso, você merece bem mais que alguém com essa
coisa toda.
—Eu não quero outra pessoa, eu quero você.
Seus dedos entrelaçam os meus, e ela ergue a minha mão, a beija.
—Estou bem aqui, Jack, tudo bem, eu não preciso te ver agora, já
disse, quando estiver pronto, está bem?
—Está bem.
Não só me alivia como me conforta, estar com ela, saber que mesmo
longe, Maria será fiel aos meus sentimentos, por mais que não me ame, por
mais que tudo isso seja uma grande merda, o possível maior erro da vida
dela, eu quero que ela saiba que eu nunca a machucaria propositalmente
nesse sentido, e que logo que estiver pronto, ou bem, eu deixarei ela me ver,
de todas as formas possíveis.
Física e emocionalmente.
Toco seus seios observando-os, a cabeça encostada entre eles, as
batidas leves e calmas de seu coração, beijo seu seio devagar, a pele se
arrepia, o mamilo fica ouriçado, a pele dela também, mas está calma, toco o
outro com a língua, então, vejo a marca que deixei em seu seio, em seu
ombro, me sinto um bocado dividido.
—Você merece ser tratada com carinho.
—Sou como qualquer outra mulher, Jack.
—Não, não é, você é diferente de todas.
Desço, minha boca se enroscando em seu umbigo, seu ventre, e mais
embaixo, eu a olho, me ergo, não consigo conter a curiosidade.
—Posso fazer uma pergunta?
—Claro.
—Você se importa de usarmos brinquedos durante o sexo?
—Brinquedos?
Me deito em cima dela novamente, Maria toca minha nuca, acho que
já podemos dar esse passo no nosso relacionamento, quero que ela entenda
como as coisas funcionam para mim nesse sentido.
—Vibradores, algemas, plugs.
Maria endurece, contudo, não vejo nada demais na proposta, é algo do
qual gosto, e que não posso negar, não irei machucar ela, eu tentarei.
—Não seria para você, seria para mim, é claro —esclareço. —
Algumas coisas para você, é claro, mas a maioria para mim.
Sei que ela se assusta.
—Não vou te machucar —garanto, mas vou para o lado, porque o
clima vai passando rapidamente.
Isso assusta ela, e eu não quero isso.
—Quer que eu domine você? —Maria pergunta. —Quer que eu seja a
sua dominadora?
—Os dois!
Ela fica calada, e sei que não gosta do que acabo de afirmar, o que
posso falar? Não tem como eu esconder quem sou, nem evitar ser eu mesmo,
uma parte de mim quer estar perto da normalidade, de Maria, do Nando, mas
a outra parte ainda está aqui, e ela quer muito isso.
Quer ser dominada, controlada, dominar e controlar também.
—Fale algo —exijo.
—É algo do que precisa?
Maria tem medo, é isso, e fico irritado de repente, porque sei que o
que peço não é algo impossível, mas que não posso cobrar dela de forma tão
direta, nem obriga-la a isso, a verdade é que me irrito com a possibilidade
dela não concordar, porque sei que mais cedo ou mais tarde, talvez apenas
estes momentos não sejam suficiente para mim.
Sou um merda egoísta e mesquinho que só pensa em si mesmo, não
tem jeito.
Por mais que fuja, sempre esse lado meu retorna, querendo mais e
mais, muito mais do que as pessoas possam oferecer.
—Preciso de você, mas não posso ignorar a mim mesmo, eu sou
assim —respondo. —Eu não machucarei você.
Ela se incomoda com a minha resposta, as feições se contraem, e
Maria está séria.
—Maria, não se assuste, prometeu que não reagiria mal quando fosse
começando a me conhecer.
—Você quer me bater?
—Sim.
—E quer que eu concorde com isso como se fosse normal?
—Quero.
—Por quê?
—Porque eu me apaixonei por você.
Ela fica calada, se ergue e me dá as costas, e fica claro nesse instante
que talvez não seja recíproco, ela pode até sentir algo por mim, gostar de
como somos na cama, do que fazemos, mas não o suficiente para poder
querer me aceitar como sou, e isso me machuca, muito mais do que ouvir um
"não".
Se ela falasse "não" isso me destruiria, mas seu silêncio é
desolador, porque a amo, a amo muito mais do que ela poderia imaginar.
—Maria, eu... eu nunca falei algo assim para ninguém.
—Não preciso que minta para me manter na sua cama, Jack.
Gostaria que tudo não passasse de uma grande mentira, mas não
é.
—Não estou mentindo —respondo. —Você é quem eu quero, mas
também a minha esposa, a mulher que escolhi para ficar comigo até o fim dos
meus dias, não me ofenda falando isso, estou falando sobre o que sinto.
—Me pedindo para me submeter a algo assim?
—Você me perguntou por que eu quero que faça isso comigo e eu
estou respondendo, é porque eu gosto muito de você.
—E gostava das outras também.
—Não, elas eram apenas um meio para um fim.
—Qual era o fim?
—Me satisfazer, era o que eu usava para despejar a minha frustração,
por isso eu as machucava física e emocionalmente, assim como elas me
machucavam fisicamente.
Maria não se vira, permanece de costas para mim, ignorando quem
sou, o que sou e o que peço, aos poucos, parece que machucam meu coração,
a falta de compreensão dela é algo tão estranho.
—Quero estar com você, quero que viva isso comigo porque é algo
em mim que eu talvez nunca mude e não vou conseguir prosseguir sem que
esteja do meu lado nesse sentido também. —Jack toca as minhas costas. —
Não sofra com isso, Maria, em nenhum momento você ficara ferida, garanto.
—Eu não o satisfaço assim?
—Muito —reafirmo. —Mais que qualquer outra, você é a única que
me satisfaz por completo.
—Então, por que...
—Eu já disse que é parte da minha vida —interrompo ela porque fico
irritado com as perguntas. —Pare de fazer perguntas, você aceita ou não?
—Não — diz ela e se levanta. —Eu não quero isso.
—Por que não?
Maria permanece calada, de costas para mim, distante, desvio o olhar,
e não sei o que falar, neste momento, um estranho silêncio toma o quarto,
leva alguns instantes até que eu a veja respirar com força, me levanto da
cama ao perceber que ela procurar apoio e se desequilibra, então Maria
desmaia, assim, do nada, eu a ergo nos braços, meu coração acelera, tiro a
máscara de seus olhos assim que a coloco na cama, desesperado, procuro
alguma roupa pelo chão do quarto.
—Merda!
Se alguma coisa acontecer a ela eu nunca, nunca me perdoarei!
Medos e partidas
Não estava bem quando saí da casa dela, só ficou pior quando o avião
decolou e fiquei me lembrando que me despedi do Fernando nas pressas,
porque eu tinha medo de que se Maria acordasse tudo ali ficasse muito mais
complicado do que já estava e porque eu realmente não queria ter que ir, mas
vim, porque dentro de mim sabia que se continuasse lá tudo talvez acabasse.
Prometi ao garoto que voltarei logo e é isso o que farei, mas espero
mesmo que esses dias sejam suficientes para Maria ao menos pensar em se
acalmar.
Ela precisa de um tempo para respirar, para pensar e com certeza já
ficou provado que Maria fica muito bem sem mim por perto, aconselhei o
Alejandro a levar ela e a Sarah com o Fernando para viajar, ela ainda está de
férias, Sarah tem conhecidos que tem ilhas, eles foram para Angra, no final
das contas foi melhor assim.
Mesmo que para eu tenha sido uma das piores experiências da minha
vida, não fossem tantos problemas, ainda recebi uma ligação da Bea me
avisando que um dos meus clientes importantes queria me ver em Paris, ele
adiantou a viagem, veio a calhar devido a situação.
Estou bastante frustrado e com medo de como Maria reagirá quando
eu a chamar no chat, estou arrependido do jeito como encarei tudo, mas
também porque sei que ela não merecia aquilo, eu sei que não é normal, eu
não sou normal e isso está machucando muito ela.
É difícil se ter consciência das coisas e saber que não se pode mudar
tudo de uma hora para outra, desde que eu a conheci tem sido assim, tenho
tentado dar o meu melhor para ela só que nunca parece que é suficiente,
quando tento ser eu mesmo ela sempre sai machucada, como foi ontem, como
foi das outras vezes.
Acho que ela sentiu tanto nojo do fato de eu praticar BDSM que não
conseguiu processar a ideia de que pode em algum momento do nosso
relacionamento entregar-se a mim dessa forma, eu sei que foi por isso que ela
passou mal.
Penso em enviar algumas mensagens enquanto saio do avião, sei que
ela não vai respondê-las logo de imediato, a ilha para a qual eles foram é
longe, eu nem sei como começar, ligo os dados móveis e vejo as mensagens
de Alejandro.
“Mano, já estamos a caminho e estamos muito bem, a Duda está
melhor e o Nando também, espero notícias suas, Alê”
Alê?!
Rio meio que com deboche do apelido, isso é coisa da Sarah eu acho,
logo que entro no carro, começo a enviá-las.
“Oi, bom dia”
Penso em mais coisas para falar, mas nada me ocorre, sei que tenho
que me desculpar, mas não faço ideia de como elaborar um pedido de
desculpas. Digito as mensagens imaginando que já tenham chegado e ela
esteja cansada.
“Espero que já tenham chegado”
“Tive que sair mais cedo, me desculpe”
“Espero que esteja bem”
“Alejandro cuidará de vocês na minha ausência”
Maria não visualiza, o motorista manobra o carro para longe da pista e
antes que eu continue a mandar as mensagens, meu celular toca, atendo
começando a ficar irritado.
—O que quer Condessa?
—Ai, que grosseria!
—Se continuar a me ligar eu vou ter que trocar de número, já disse
para não ficar me ligando.
—Você está muito estressado, o que foi? Brigou com a gordinha?
—Sabe Soraya eu estou começando a entender aquela frase que eu li
esses dias.
—Qual frase meu amor?
—Às vezes satanás passa dos limites.
Ela ri do outro lado da linha, me chateio, acho que já passou da hora
da Soraya viver a vida dela e me deixar viver a minha, odeio quando ela fica
me tratando como uma criança que precisa de ser vigiada, ok fiz muita merda
no passado mas hoje eu estou melhor, cada dia melhorando e tentando não
cair de novo no poço, fiz muita merda quando era um pouco mais novo por
causa dela, por causa dos meus problemas de depressão, mas isso não quer
dizer que eu vá fazer novamente.
—Eu só liguei para saber se está bem.
—Estou ótimo.
—Já contou para sua gordinha que você é louco para dar umas
palmadas nela?
—Morre Soraya.
Desligo, ela liga e ignoro a ligação, depois de mais de 11 horas de
voo, eu basicamente ter vindo embora brigado com a minha mulher ainda
tenho que suportar ela?
Tem momentos em que Condessa é insuportável.
Volto para o chat, Alejandro está online.
“Já estamos aqui, tudo bem por aqui e com você mano?”
—Ah vai para porra você também Alejandro.
Nem respondo porque sei que um pico de estresse me toma todo,
respiro fundo e volto a enviar mensagens para Maria, ela é o que realmente
importa nisso tudo, ela e o Nando.
Minha família!
“Já chegaram”
“Desculpe, estou nervoso”
“Queria poder ter ido com vocês”
“Vida, me desculpe por ontem, acho que te fiz um grande mal com a
proposta”
“Esqueça isso, por favor”
“Apenas quis te mostrar o meu mundo, mas esse mundo ficou para
trás quando te conheci, você me mostrou isso, você e o Fernando, não
preciso disso, tenho você”
“Vida, responde”
Mas não visualiza nenhuma das minhas mensagens.
“Está bem, depois falamos”
Decido enviar áudios.
—Estou em Paris, queria que estivesse aqui comigo, vocês dois.
— Sinto falta de vocês, acho que te trago na próxima, mesmo que não
queira.
Estamos a caminho da reunião, aponto para a torre Eiffel e tiro uma
foto, mesmo longe daqui dá para ter uma visão prestigiada do lugar.
“Na próxima será ao vivo”
Maria não visualiza, checo o relógio de pulso, então envio uma
mensagem para Sarah, ela está offline também, o jeito e mandar para o
Alejandro.
“Pede para Maria ligar a internet”
“Já está de mal humor tão cedo?”
“Foda-se, faz o que eu to mandando”
“Acontece que chegamos a algumas horas e eu estou arrumando o
moldem”
“Pago sua conta de internet para que? Roteia para ela caralho”
“Ela está ocupada com o Fernando e a Sah”
Fico imaginando o quanto o Alejandro tem sorte por não ser tão
problemático como eu e estar lá desfrutando de férias com a mulher que ele
gosta, enquanto eu mal sei como lidar com a minha.
“Anda logo Alejandro”
“Você tem que entender que as coisas não são na hora que você quer,
vou arrumar o moldem e já aviso para ela”
Que legal!
“Reze para quando eu te ver não quebrar os dentes da sua boca”
“Faria isso com seu irmão?”
Nem me dou ao trabalho de responder, deixo o chat e respondo alguns
e-mails da Joanne, durante o percurso até o hotel onde me reunirei com o
cliente fico imaginando como teria sido trazê-la comigo, eu aposto que ela
teria adorado.
Fecho os olhos e me lembro do sorriso dela, do jeito como ela me
toca, dos seus beijos, abraços, sinto que aos poucos me entrego cada dia a
mais aos sentimentos, ao amor que sinto por aquela mulher, porque ela é tudo
o que tenho de mais precioso e não quero perdê-la por nada nesse mundo.
Eu não quero perder a Maria para meus medos, nem para minha
doença, muito menos para tudo isso que me tonei durante o passar dos anos,
mas é tão difícil tentar me adequar a ela e ela a mim, não posso mudar o que
sou de um dia para o outro.
Chegamos ao hotel, entro no lugar e sou recebido pelo gerente logo na
porta, Bea quem cuida dessas formalidades, eu o sigo depois de um breve
aperto de mãos, as apresentações, coloquei uma touca porque aqui é muito
frio essa época do ano, luvas, um casaco, sou conduzido a uma sala de
reuniões do lugar, meu celular vibra assim que me sento e logo de cara checo
a mensagem.
“Tá tudo ok Jack”
É da Sarah.
“Pede por favor para Maria me responder no chat? Por que ela não
ligou a internet?”
“Maria sendo Maria Jack, até parece que você não conhece ela”
Não respondo, conto mentalmente os segundos até ela começar a
visualizar tudo o que mandei, meu sorriso é automático, digito rapidamente a
mensagem.
“Ainda está furiosa comigo? Por favor, diga que não”
“Não, não estou”
“Você demorou muito”
“É longe de onde eu moro, em outra cidade”
“Eu sei, cadê o Nando?”
Uma foto é carregada, Nando e Alejandro nos fundos do lugar
pegando cocos, meu coração fica pequeno demais com a cena, eu quem
deveria estar ali com o garoto, eu sou o pai dele, o único pai que ele deve ter.
Um pai de merda, mas um pai!
“Inveja desse merda”
“Não fale assim do seu irmão”
“Desculpe, você está melhor?”
“Sim, estou bem, sinto sua falta”
Ah, Maria se você soubesse da merda que me sinto desde que sai da
sua casa.
“Eu sinto sua falta também, conversei com Sarah, achei melhor que
vocês ficassem por aí essa semana, Sandy irá com Joseph para que não
perca as aulas”
Foi o combinado.
“É bom que você desliga de tudo, pensa com calma”
“Uma semana é muito, Jack”
“Sem discussões”
“Jack, a Sandy e o Joseph tem as vidas deles para cuidar...
“Não discuta, Sandy é minha prima, ela é muito bem paga para isso,
o seu padrasto está por conta da academia, Joseph é um grande amigo, ele
está no Brasil somente para isso, por favor, não discuta”
Maria não digita nada, sei que não gosta da ideia, mas o que posso
fazer? Ao menos que fique na companhia de pessoas que irão ajudá-la da
melhor forma.
“Vida?”
“Ok.”
Recebo um emoji de olhos revirados e envio um emoji mostrando os
dentes, tenho certeza absoluta de que ela não quer isso, mas é assim que vai
ser, ao menos até eu voltar.
—Senhor Carsson...
Me levanto para cumprimentar o cliente, hora dos negócios, mais
tarde me entendo com a senhora Carsson... assim espero.
Ela me ama
Ela me enviou uma foto do belo lugar onde está, mais cedo Alejandro
me mandou fotos do Nando correndo na praia, em outras épocas da minha
vida eu posso imaginar que me julgaria um louco por me pegar imaginando
que um dia poderia sim me permitir ter uma família, mas então o garoto
estava sorrindo e eu fiquei com vontade de jogar bola com ele.
Nunca joguei bola na vida, mas foi a primeira coisa que me veio a
mente.
Enquanto o dia fluiu eu imaginei uma casa com a Maria, com um
bebê ou dois e todas aquelas coisas que só ela me faz sonhar, querer, coisas
que nunca tive e que não queria, ela e uma família para sempre.
Tenho medo dos meus sentimentos pela Maria as vezes, mas com
certeza amar ela é a melhor decisão que eu poderia tomar na minha vida, eu
sei que pedir que ela mude por mim é errado, ao menos quanto a minha
doença não me permitir ir além, mas quero sim construir algo sólido com ela.
Os devaneios me fizeram pensar também que talvez eu esteja indo
meio longe com o meu silêncio, com todo o medo de dizer para ela tudo o
que sinto, porque não quero que ela pense que é só sexo, que é só um fetiche,
não é, ela nunca seria só isso na minha vida, eu a amo muito.
Talvez eu só não saiba como expressar ou dizer porque nunca vivi
isso, eu tento bastante fazer com que as coisas deem certo mas sei que nunca
é o suficiente, que ela merece mais, o Nando merece mais, só que não sei de
uma forma diferente de fazer tudo funcionar.
E se de repente ela me olhar nos olhos e ver o quão monstruoso posso
ser? Deprimente? Doente? Psicopata?
Eu odiaria que Maria me visse e sentisse nojo de mim, que soubesse
do meu passado e fizesse julgamentos a meu respeito, mas pior que tudo isso
seria que ela me olhasse e percebesse que não sou nada do que ela possa
imaginar, porque a minha vida toda foi assim.
Sempre insuficiente para todos, para os Carsson, para meus meios
irmãos, para Condessa, para toda e qualquer pessoa que me tivesse por perto,
sempre fui rejeitado, sei que não aguentaria ser rejeitado por ela.
Pego o celular e checo as mensagens, estou numa reunião, tinha
respondido a alguns momentos a Maria pela foto, disse que a vista era bonita
e que estava trabalhando, também perguntei se ela estava bem, mas ela não
respondeu.
Olho para as pessoas aqui na sala e todas estão ocupadas mexendo em
seus notebooks ou celulares enquanto um analista de risco fala sobre um
gráfico sem graça e que apresenta uma margem de erro bem grande.
Seria tão mais prático se ele tivesse usado uma calculadora
científica...
"Vida, estou com saudades"
Depois que envio fico esperando ela responder, mas ela só visualiza,
já posso imaginar por quê.
Sei que está magoada comigo, por meu pedido, se eu soubesse que
isso a machucaria tanto nem teria cogitado aquilo.
"O que houve?"
"Jack, você me ama?"
Claro que sim.
Digito sem nem ver direito, é automático.
"Sim"
Maria merece isso, ela merece muito mais do que estou oferecendo,
quero que fique claro para ela meus sentimentos, mesmo que me sinta
receoso, sei que ela não me ama, mas quem sabe não aprenda a me amar? A
me compreender?
"O que está acontecendo?"
"Eu gosto muito de você, mas não sei se quero isso"
"Isso o que?"
"Que façamos essas coisas"
Sabia!
"Já disse para esquecer"
"Se eu não fizer, você vai me largar"
Nunca farei isso sob qualquer circunstância.
"Maria, eu não vou te largar"
"Você não ficará satisfeito"
"Você não sabe o que está falando"
E não sabe mesmo, porque eu farei tudo para que aprenda a entender
que aos poucos estou deixando meu passado de lado, que depois que a
conheci tudo tem sido um pouco melhor na minha merda de vida.
Mas preciso saber de algo.
"Me desculpe, então"
"Você, me ama?"
"Claro que amo"
Claro que ama?
Arregalo os olhos ao reler a mensagem, nego com a cabeça.
—Com licença senhores — peço e me ergo, me afasto da mesa
discando o número dela, minha mão treme, Maria atende de imediato — Não
demore —determino.
—Desculpe.
Sua voz está chorosa e isso me deixa triste, ela está chorando por
minha culpa.
—Por que está chorando?
—Porque eu não quero fazer essas coisas.
—Não faremos se não quiser.
Ela fica calada.
Acho que esperei toda a minha vida para escutar alguém falando que
me ama de verdade, do jeito que eu sou, com os cem por cento dos defeitos e
a margem de erro de menos um por cento, mas saber que ela me ama é algo
do qual não esperei que fosse ouvir tão rápido.
Estou nervoso e ao mesmo tempo espantado.
—Estou esperando, Maria! — Ela sabe o que eu quero.
—Eu amo você!
Porra!
Estava na expectativa de ouvir isso, mas ouvir assim, não sei explicar,
respiro fundo olhando envolta de um jeito apressado.
Nunca me senti amado na vida a não ser pela minha mãe então ainda
é estranho saber que ela me ama, ainda mais porque pensei que Maria só
sentia um breve gostar por mim.
—Estou numa reunião —digo quase sem voz. —Eu te chamo assim
que sair.
—Está bem.
—Fala mais uma vez?
Só para eu ter certeza.
—Pedante!
—Maria?
—Eu te amo, Jack, até mais.
Então ela desliga a ligação e a essas alturas, meu coração está pulando
no peito, estou sorrindo feito um trouxa apaixonado, retorno a mesa.
Ela me ama!
Isso é o que importa.
Farei o possível e o impossível para voltar o mais rápido que posso
para Maria, para minha Maria.
A mulher que eu amo e que me ama.
Dias sem ela
Recebi várias ligações do meu pai durante esses dias, ele me pediu
que fosse vê-lo antes de voltar ao Brasil no início da semana, mas logo
desmarcou dizendo que teria algumas palestras para dar, não queria que ele
ficasse perambulando por ai do jeito que ele está, mas ele não combina muito
com a palavra “obediência”.
Tentei agilizar o máximo os negócios para poder voltar para a minha
mulher, até evitei ficar olhando muito o chat, porque eu sabia que quanto
mais eu conversasse com ela, mais ficaria agitado e irritado por não estar lá.
Acho também que a Maria precisa desse tempo, eu a sufoco e isso não
é bom para ela, quero poder voltar e poder conversar com ela sobre tudo, ter a
certeza de que meus sentimentos são correspondidos me deixou mais
empolgado durante esses dias, ainda que longe dela.
Júlia me telefonou dizendo que já sabia que eu iria ao Brasil e que por
isso queria uma carona, ela quer ver o Alejandro, e mesmo eu sabendo que é
desculpa esfarrapada para que apenas venha bisbilhotar não me recusei, eu
não queria acabar afastando ela de mim como da última vez.
Então avisei para que me esperasse no aeroporto em Nova York para
que possamos fazer um embarque tranquilo, foram dias bem puxados, mal
dormi, estava pensando e pensando em várias formas de começar a permitir
que a Maria me veja, quero falar olhando nos olhos dela o quanto a amo, o
quanto é especial para mim, pela primeira vez na vida não senti tanto medo
de permitir que ela supostamente me olhasse.
Meu telefone toca, atendo, é a Júlia.
—Eu já estou chegando, o que você quer?
—É que tem uma coisa, melhor, uma pessoa.
—Fala logo Júlia.
—É que a Gil, ela tá meio que de licença do hospital e quer ver a
Duda, você se importa de que eu a leve?
—Não.
—E tem outra coisa, não consegui ainda ir para o aeroporto, passa
aqui e nos pega?
Reviro os olhos.
—Tá, tá, fica pronta que já te pego.
—Obrigada Jack.
—Tem dez minutos.
Desligo, eu desembarquei a duas horas no aeroporto mas precisei ir a
uma última reunião na filial da empresa aqui, encontrei apenas Joanne e um
investidor, uma das grandes vantagens de se ter uma prima nos negócios é
essa, ela é competente, deixou tudo pronto, foi uma decisão rápida e prática.
Me peguei pensando também no Nando, ele me mandou algumas
mensagens e fotos dela, deles na praia, Maria parecia mais feliz e alegre
durante esses dias, eu sabia que era porque eu não estava ali porque se
estivesse ela provavelmente estaria angustiada e irritada, por isso decidi que
vou tentar tomar todos os remédios e antidepressivos de forma correta agora,
eu quero estar bem para ela, para nosso relacionamento.
Eu sei que nunca serei normal, mas dentro do possível vou tentar.
Me peguei pensando também em uma nova casa, eu quero poder
morar com a Maria e oficializar nosso casamento em breve no civil, ela
merece morar numa casa maior e melhor, segura, o Fernando precisa de uma
escola melhor também, quero fazer tantas coisas por eles dois, os planos
fervilham a minha mente, eu sei que ela provavelmente vai tentar me impedir
de dar o melhor mas é isso o que eu farei.
Pedi a Alejandro que a segurasse lá por mais alguns dias pois sei que
ela ainda está de férias, quero poder tirar esses dias para que sejamos eu e ela,
para que possamos nos resolver.
Quando estou com ela nada mais parece me causar dor, pensamentos
negativos, Maria me leva para esse canto que me trás paz e calma, nunca
ninguém conseguiu me trazer calma, ela me ouve, conversa comigo, ainda
que note um medo e julgamento em sua forma de se referir a mim ela não me
rejeita, eu tenho certeza absoluta que é ela.
Não sei explicar o porquê, mas é ela, ela é a mulher que é perfeita
para mim.
O carro mal para diante dos portões do prédio onde papai mora e vejo
a Júlia vindo correndo, o porteio trás suas malas cor de rosa, atrás dela a Gil
usando um vestido marrom e sapatos baixos, destravo a porta e Júlia entra,
Olaf sai do carro e vai ajudar o porteiro a guardar as malas.
—Oieee! — Júlia fala toda sorridente — Papai disse para você não
ficar “nervoso”.
—Ah é — digo com deboche.
Nem sei sobre ao que o papai fala, mas já imagino que seja por causa
da Júlia mesmo, Gil entra no carro e se senta no banco da frente, ela é mais
discreta, mas acho que no fundo papai deve tê-la mandado para cuidar da
Júlia.
—Aí, eu vou amar Andra — diz minha irmã entusiasmada.
—É Angra! — corrijo.
—Que seja, Andra, Angra, eu vou amar.
Eu meio que percebi que durante esses dias o Olaf está mais calado,
na dele, mais do que já é, não conversou muito nem falou nada, tiro o cinto.
—Gil, pode vir aqui atrás com a minha irmã?
—Está bem—Gil fala e abre a porta.
Não costumo ter um interesse profundo pela vida do meu motorista,
mas sei reconhecer quando as coisas não vão bem, saio do carro depressa e
espero que a Gil se acomode no banco de trás, então me sento e puxo o cinto.
—Está acontecendo algo que eu deva saber? — pergunto para o Olaf.
—Não senhor. — Ele fala e liga o carro.
Não acredito.
—O que foi Olaf? Alguém em Paris te disse alguma coisa?
—Não senhor — Olaf mal me olha na cara e manobra o carro. — É
que essa semana fez dez anos desde a morte dos meus filhos, não é algo que
se esqueça senhor Carsson.
Um silêncio desconfortante se instala no carro, fico realmente sem
saber exatamente o que falar, o Olaf tinha dois filhos, mas os perdeu em um
acidente de carro a alguns anos, eram ainda crianças, a mãe das crianças já
era divorciada dele, eu sei disso porque consta na ficha dele, ele serviu ao
exército por anos e é aposentado, mas se aposentou mesmo por conta disso.
—Eles estão num lugar melhor Olaf — digo e dou duas batidas de
leve em seu ombro. — Eles sabem que você os ama, onde quer que estejam,
você foi um excelente pai.
—Obrigado senhor Carsson — Olaf diz ainda emburrado.
—Nós somos sua família agora né Jack? — Júlia pergunta. — E a
Duda e o Nando, nós vamos cuidar de você Olaf.
—Sim — concordo.
Olaf permanece calado, sei que sofre com isso, numa proporção bem
complexa e ruim, eu também sei o que é perder pessoas, perdi meus pais
ainda muito pequeno, e um filho... bem, acho que posso chamar o bebê que a
Soraia perdeu de filho, era meu.
Não sei se haveria espaço na minha vida para criar uma criança ainda
adolescente, mas sofri muito quando ela me disse que perdeu o bebê, não é
como perder um filho já nascido e criado, mas foi muito ruim.
Espero que eu e Maria saibamos como cuidar do Nando, eu quero
poder ser uma figura paterna na vida do garoto, confesso que estou animado
com isso, animado de saber que enfim vou voltar para ela, sempre que me
afasto é como sentir que algo fica para trás, algo que é parte de mim.
Chegamos ao aeroporto alguns momentos depois, Olaf estaciona o
carro perto da pista de voo, meu avião está no mesmo canto de sempre, já
deve estar abastecido.
—Jack — escuto a Gil chamar — Porque chamou o Ph para a
viagem?
Ph?
Vejo além do para brisa a figura alta segurando um bebê conforto, ao
lado dele a mulher do Jonas e o próprio Jonas usando boné, jeans e camisa
folgada.
—Lembre-se — Júlia se inclina e coloca um beijo no meu rosto. —
Não fique “nervoso”.
Merda, o que essa gente faz aqui?
Não consigo ficar longe
—Onde ela está?
—Ali perto daquelas rochas, mas você não vai entrar e se trocar...
—Não, eu prefiro ver a Maria primeiro.
—Tá, mas...
Deixo Alejandro falando sozinho.
É que viajar com os meus irmãos não estava sendo nada bom, agora
só para piorar constatar que eles vão ficar aqui durante minha estadia no
Brasil é algo que consegue me deixar ainda mais irritado.
Eu queria dizer poucas e boas, mas a Júlia ficou entrando na frente da
conversa e a Gil estava muito nervosa com tudo, não querida deixá-la ainda
mais desconfortável do que ela já estava porque sei o quanto o divórcio dela
com o PH foi complicado.
Eu tentei afrontar o Jonas por duas vezes durante o voo, mas sempre
que me aproximava ele se afastava, percebia seu esforço em se manter longe
de mim, eu liguei para papai antes de embarcarmos, ele disse que pediu que
eles viessem e que eu deveria me acertar com os meus irmãos, mas acabou
que acho que nós três estamos bem longe de nos aproximarmos.
Porque não devemos nem queremos!
Claro que isso foi ideia do papai.
Enquanto me afasto até o local que Alejandro me indicou, sinto o
vibrador do celular no bolso, desbloqueio me mantendo longe da areia
molhada, é uma mensagem da Maria, no entanto antes que eu a visualize,
meu celular toca, é o meu pai, respiro fundo tentando achar paciência, atendo.
—Ah, agora quer dizer que o senhor quer falar comigo?
—Sabia que estava furioso, ainda estão os três vivos?
—Não graças ao senhor.
—Jack, tem que se acertar com seus irmãos.
—Por quê?
—Eu estou velho, doente do coração...
—Vira essa boca para lá papai, o senhor não vai morrer e sabe muito
bem que não quero eles dois por perto.
—Filho...
—Foi errado o que o senhor fez.
—Quero que se reaproximem.
—As custas de quem papai? O senhor sabe que eles me odeiam, me
rejeitam, que nunca vão me aceitar como irmão legítimo, é desperdício de
tempo tentar fazer o Jonas e o Ph se aproximarem de mim, eles só ligam
para si mesmos.
—Eu espero que você tenha paciência, eu comprei este lugar para
Maria.
—A Ilha?
—Sim.
Enquanto caminho sinto vontade de quebrar alguma coisa, papai as
vezes é tão impulsivo, eu sei que ele fez merda demais no passado com a
velha Mirna, mas ele sempre foi uma pessoa bem generosa.
Não mede esforços para agradar as noras.
—Está bravo?
—Papai a Maria não vai aceitar.
—Por que não?
—Papai, a mulher nem um carro tem para dirigir, o que te faz pensar
que ela iria querer uma ilha?
—Bom, eu já transferi, trate de se manter na linha filho, eu preciso...
—Pai, pai não desliga...
Mas antes que eu fale escuto ele rindo e então ele desliga.
—Merda!
Tento respirar fundo, sem paciência alguma, então leio a mensagem
dela.
“Oi Jack, sou eu, bem, estou com saudades e espero te ver em breve,
aqui tem sido um lugar bom e de grande reflexão, mas ainda assim desejo
muito que esteja conosco, mesmo que isso não me ajudasse a pensar no que
me pediu, sinto que amo você e estou pronta para ficar ao seu lado. Se me
aceitar assim, prometo que vou tentar entender tudo isso, mas é muito
repentino, então, tenha um pouco de calma. Com amor, SUA ESPOSA,
DUDA”
Claro que eu aceito, porra, se não aceitasse o que estaria fazendo aqui
debaixo desse sol usando terno e gravata? Por que viria?
Minhas necessidades não estão acima das necessidades da minha
mulher, mas seu tom de insegurança me faz perceber que ela tem muito medo
disso tudo, entendo que ela não queira nada disso, que não seja fácil, mas
ainda sim acho que seja questão de tempo até ela aprender a lidar com esse
meu lado.
Decido que não quero falar disso agora, me aproximo e passo por
algumas rochas, tão logo chego perto, vejo ela sentada na areia de costas para
mim, meu coração quase vem a boca.
“Também estou com saudades, como está o tempo aí?”
“Está nevando, Senhor Carsson, bom dia”
E eu quem sou temperamental não é mesmo?
Me aproximo querendo rir de sua postura, os ombros dela sobem e
descem enquanto ela digita, está mais bronzeada, os cabelos presos, usa um
biquíni, cada curva do corpo dela vai me fazendo sorrir, pensar em várias
coisas...
“Não está não”
“Está”
“Não está”
“Está sim, muita neve, Senhor Carsson”
Fico bem atrás dela.
—Não está, Senhora Carsson.
Maria respira fundo, ainda de costas, mas sei que está contrariada, ela
digita.
“Jack, eu digo que está nevando, agora pare de me assombrar”
—Não está nevando, querida!
Ela se levanta toda irritada, observo o quanto seu corpo mudou nesses
poucos dias, abaixo o olhar e me sinto um pouco idiota por conta da situação,
burro e cego pela vaidade que os Carsson me fizeram ter durante boa parte da
minha vida, Maria emagreceu, ela fez isso por si mesma e pela saúde, mas sei
que se ela soubesse meus motivos ficaria muito magoada.
Eu a amo de toda e qualquer forma, seja ela rechonchuda ou mais
magra, aprecio seu corpo como ele é, natural, ela se aproxima do mar e dou
dois passos ouvindo seus fungados cheios de raiva.
—Já chega com isso, eu não preciso disso para viver, fique aí com a
sua Condessa, seu merda!
Sua voz é chorosa e cercada de soluços, se ela soubesse que eu se
quer cheguei perto de falar com Condessa durante esses dias, que desde que
eu a conheci ela tem tomado e preenchido todo e qualquer pensamento que eu
tenha.
—Você é muito ciumenta!
Ela sabe que sim.
Mas não resisto mais por um segundo, eu a abraço, aperto ela, não
penso duas vezes antes de virá-la para mim e dar um beijo, não importa se ela
me ver, não importa se ela quer me ver, o que importa é que ela me ama, ela
me aceita do jeito que eu sou e eu a amo por isso, acima de tudo e qualquer
coisa.
Maria me vê de uma forma que ninguém nunca viu ainda que desde
nosso primeiro encontro juntos, ela não tenha mais me visto. Ela me enlaça
pelo pescoço toda sem ar, os olhos fechados, mas chora, odeio isso.
—Vida! — Ela me toca as faces como se não acreditasse.
—Também senti sua falta. —Beijo toda sua face porque não consigo
resistir aos próprios impulsos.
É bom estar aqui, é bom estar com ela, enquanto a aperto percebo o
quanto minha ausência a afeta, ela me quer por perto e eu a quero só para
mim.
—Você está mais magra.
—Te amo.
Ah, porra Maria, não fala isso assim logo de cara.
Provo de novo seus lábios com vontade, também amo essa mulher,
bem mais talvez do que ela imagina, eu a puxo para cima e ela se pendura em
mim, sentir ela entre meus braços, provar seus lábios, ter seu corpo colado ao
meu ainda é a sensação mais prazerosa do mundo, a mais deliciosa eu diria.
—Acabei de chegar —informo. —Não aguentava mais.
—Nem eu. — Ela encosta a testa na minha. —Você não disse que
viria semana que vem?
—Fiz de tudo para vir antes — dou outro beijo. —Não suporto ficar
longe de você.
—Você já viu o Nando?
—Ainda não, o iate acabou de zarpar.
Não conseguia pensar em mais nada desde que desci do iate, só queria
ver ela.
—Vamos para casa, fiz uma viagem muito longa.
—Você está com fome?
—Também.
Maria vai para o chão e pego seu celular, passo o braço envolta de sua
cintura e ganho um abraço, mal vejo a hora de estarmos sós, só eu e ela,
quero ver o garoto e dar um abraço nele também, estar com eles me traz
aquela sensação que eu nunca experimentei perto da minha própria família,
estive perto de sentir isso quando minha mãe era viva, meu pai não tinha nada
a me oferecer além de um sorriso cansado e olhos profundos, mamãe era só
uma mulher que abandonou tudo para viver seu grande amor com um
jardineiro, mas sempre que estávamos nós quatro naquela pequena casa numa
comunidade do Rio, eu estava bem, seguro, vestido.
Estar perto de Maria e do Nando me faz sentir isso, algo próximo do
significado de lar, de estar feliz por eles estarem por perto. Eu a olho e a olho,
ela sorri abraçada a mim, tão feliz que eu esteja aqui que me sinto lisonjeado.
—Aliás, você fica deliciosa nesse biquíni.
Ela nem responde, fica constrangida é claro.
—Como foram esses dias?
—Bons.
—Você está bem?
—Dentro do possível sim, Sah e Sandy estão me mantendo na linha,
nem sorvete eu posso tomar.
—Bom, você precisa controlar as suas taxas.
Isso me faz lembrar uma coisa, porque estamos deixando o mar para
trás e começando a ir no rumo da casa onde meus odiados irmãos nos
esperam.
—Temos muito o que falar.
—Eu sei.
—Gil veio, e a minha irmã, e os meus irmãos mais velhos.
Maria não deveria se preocupar com isso, mas me irrito em pensar
que eles estão aqui, esse deveria ser um momento só nosso e do Nando, por
mim nem o Alejandro e a Sarah estariam aqui, mas eu precisei muito deles
porque sei que a Maria não aceitaria ficar aqui sozinha com o Nando.
—Meu tio vê isso como uma chance de aproximação, eu chamo isso
de merda!
—Calma.
—Calma? —pergunto chateado. —Você não conhece essa gente.
—Jack, são a sua família, pelo amor de Deus.
—Grande família, tudo o que eu precisava era minha semana com a
minha mulher, não um bando de merdas que adoram se exibir.
—Você os trouxe?
—Eu não trouxe, só trouxe a Júlia e a Gil, quando chegamos no
aeroporto eles dois estavam lá, Phelipe com um bebê e Jonas com a esposa
babaca dele.
—Eles querem se aproximar de você.
—Para que?
—Jack, eles são seus irmãos.
—Não foram meus irmãos quando a minha mãe morreu, eles mal me
queriam por perto.
Nos odiamos e isso é um fato.
—Calma —escuto seu berro nervoso. —Nada se resolve assim, não
adianta ficar se estressando, são seus irmãos eu já disse que não precisa odiá-
los.
Me irrito ainda mais em escutar isso, porque sei que se desde o início
meus irmãos não tivessem me rejeitado eu nunca teria ido para casa da Clair,
eu moraria com meus avós, tudo o que aconteceu comigo de ruim na vida foi
culpa deles dois.
Nunca passaram metade do que eu passei na vida.
—Você concorda com isso?
—Acho que o seu tio não merece ver a família tão separada, ele já é
velho, pare com isso.
É só que ela está coberta de razão e eu sei que a conversa evoluiu para
uma discussão bem rápido por minha culpa, não quero que Maria se veja
nessa briga e acabar magoando-a, já temos problemas demais, vou me
resolver com os dois idiotas depois.
—Sabe, se não fosse por você, eu não concordaria com tudo isso. —
Eu a puxo para mim. —Não quero brigar.
—Nem eu —diz ela e me abraça. —Tenha um pouco de paciência.
—Ah Maria. —Eu a beijo. —Só você mesmo para me suportar.
—Vamos para o nosso quarto. — Ela convida, sua língua se enrosca
na minha. —Quero você só para mim.
—Nosso quarto? —apalpo ela. —Não sabe o quanto estou me
segurando agora.
—Não segure então.
—Ah, Maria, preciso disso.
—Eu também.
Chegada
Concordamos que ambos precisamos disso.
Ela vem subindo enquanto procuro algum lugar mais longe do campo
de visão da casa, caminho com ela até uma parte atrás de algumas rochas,
minha boca não sai da dela, seus quadris sobem e descem e ela vem se
esfregando toda em mim.
Ela está pedindo.
Seus quadris sobem e sei que ela está pronta para mim, puxo o zíper
da calça vendo sua boca entreaberta, posso sentir seu desejo esquentando seu
corpo, puxo o pau para fora da calça e não penso duas vezes antes de deixar
ela deslizar sob ele, escuto seu gemido, ela crava as unhas nos meus ombros e
me beija mais uma vez com vontade.
Enfio o pau todo dentro dela adorando sentir o calor de sua carne,
Maria sobe e desce se segurando em mim, eu a olho e aperto sua bunda
vendo ela descer e subir assim em mim, meu pau entrando e saindo de dentro
dela bem rápido, observo seus seios pulando no biquíni e puxo a peça
abocanhando o mamilo ouriçado, a cabeça do meu pau começa a latejar mais
e mais.
Chupo o peito e mordisco o biquinho ouvindo-a gemer ainda mais
alto, seus olhos estão fechados quando nos beijamos, ela gosta, ela não tem
vergonha, ela adora uma trepada improvisada.
Ah porra, que mulher do caralho!
Seguro sua face deixando que ela se mova sozinha no meu pau, latejo
observando seus lábios cheios e vermelhos, da vontade de morder eles com
força, devorá-los, ela abre a boca e lambo seus lábios ouvindo o som da
buceta dela batendo em mim, lambo sua língua e ela parece impaciente, ela
geme ainda mais alto e não resisto a beijo mais uma vez sem saber como lidar
com os meus próprios impulsos.
Vou fazer merda antes do tempo, não vou aguentar.
—Porra Maria, vou gozar.
Ela treme toda para mim, ela enfia a língua na minha boca e não
consigo controlar, meto com força dentro dela ouvindo os gritos altos, as
pernas dela ficam tremendo enquanto seu orgasmo se intensifica, os gritos
vão se espalhando e em minha cabeça ecoam me dando ainda mais prazer.
Eu a olho e a puxo para cima, a porra se espalha pela barriga dela,
tento respirar, encosto a cabeça entre seus seios deixando que saia todo o
prazer frustrado dentro de mim, queria que durasse mais, queria poder
arrancar mais suspiros e gemidos, mas sou incapaz.
Não conseguiria com ela pulando assim no meu pau.
—Te amo! —Maria sussurra.
Fecho os olhos, ouvir isso ainda é e sempre será a coisa mais
maravilhosa que alguém poderia me dizer na face da terra.
—Amo você!
Ela sabe que sim, que faço tudo por ela, que eu amo acima de
qualquer outra coisa na face da terra, ela é tudo o que eu tenho desde que a
conheci, adoro cada momento com ela e estar longe machuca.
Nos acalmamos, sei que teremos bastante tempo e um lugar mais
decente para transar em alguns momentos.
—Melhor limpar isso, Senhora Carsson.
Maria me solta e fica de pé, eu a vejo um pouco constrangida pelo que
fizemos, mas tem muito mais satisfação nela do que vergonha, ela arruma o
biquíni e pego um lenço no meu bolso, limpo a barriga dela imaginando o
quanto seria muito pior se fôssemos pegos por alguém aqui, dobro o lenço e
jogo no mar, eu a beijo e a puxo para mim, Maria passa o braço envolta da
minha cintura e começo a conduzi-la para o rumo da casa.
Não consigo pensar em nada para falar, nem explicar, senti muita falta
dela, achei que os dias não passariam e que não conseguiria ter paciência para
saber lidar com a minha depressão, minha ansiedade e todos os meus
conflitos internos, mas eu consegui.
Tenho conseguido muitas coisas depois que ela entrou na minha vida.
—Jack!
O Garoto vem correndo na nossa direção, a perna lenta, mas ele vem,
vou sentindo aquela coisa dentro de mim que não sei explicar, ele sorri todo
feliz, os cabelos bagunçados e aquela coisa que me diz claramente que de
alguma forma eu sempre serei ligado ao garoto, que ele é minha
responsabilidade e que devo a ele tanto quanto devo a mãe dele.
Eu o ergo no colo assim que ele chega perto, Nando se agarra a mim e
me abraça com tanta força que faz meu coração transbordar, me seguro para
não acabar chorando e passando uma vergonha na qual não quero ter.
—Não corra —digo. —Está bem?
—Tudo bem —o garoto correu tanto que está arfante. —Que bom que
veio, cara.
—Você cresceu um pouco garoto!
—Você achou?
—Claro que achei, e esse cabelo?
Passo o braço envolta dela, Maria sorri toda contente, é bom poder
voltar para eles, me sentir amado e querido por alguém que faz questão de
mim.
—Mamãe quer que eu corte, hei, eu terminei a câmara Secreta.
—Você está cuidando da sua mãe como pedi?
—Claro que sim, cara, eu não deixei nenhum homem chegar perto.
—Legal.
E é bom mesmo que nenhum tenha se aproximado.
—Eu disse que compensaria esperar até a quarta, Duda — escuto a
voz da Sarah falando.
Mas vê-la se aproximando me faz lembrar dos meus irmãos e eu não
estou nenhum pouco a fim.
—Preciso de um banho —confesso. —Pode preparar algo para eu
comer?
—Aham, você quer um sanduíche ou comida? Sandy está fazendo o
almoço hoje.
—O que fizer está bom, vou subir com o Fernando, você não demore.
—Está bem.
Dou um beijo em sua testa,
Melhor subir mesmo, acho que a Maria é melhor em ter que lidar com
eles, sei que ela os receberá muito bem a contragosto e mesmo que não
mereçam, papai jogou essa bomba para mim e agora terei de lidar com isso
mesmo que não queira, mas não importa, o que importa é que eu enfim estou
em casa.
Estresse
—Ainda bem que você chegou cara, a minha mãe já estava deprimida.
—Ela não deveria ficar.
—É que ela sente sua falta, mesmo que não demonstre né.
—Eu também senti falta de vocês garoto.
E você não sabe o quanto.
—Você vai viver viajando?
—Eu espero que não.
Fernando está encostado na janela do quarto, subimos a pouco,
observo a vista daqui o mar e toda a ilha, eu nem quero imaginar como a
Maria vai reagir quando souber que papai comprou esse lugar para ela.
—Seria legal se você ficasse mais com a gente — Nando comenta. —
Estou feliz que tenha voltado.
—Eu também estou Fernando — admito. — Eu quero sempre poder
ficar o máximo de tempo com vocês.
—Aquelas pessoas lá embaixo são seus outros irmãos?
—Infelizmente.
Nando ri, analiso o semblante contente desse garoto, se um dia Maria
tiver filhos comigo quero que se pareçam um pouco com ele porque ele é
como ela quando sorri.
—Você não gosta muito da sua família né Jack?
—Não, nenhum pouco e quem disser o contrário está mentindo.
—Mamãe fala que não devemos odiar as pessoas, é pecado.
—Sua mãe é uma boa pessoa.
—Você também ora.
Gosto do otimismo na voz do garoto, me faz sorrir, mexo nos cabelos
dele.
—Você é um bom garoto Fernando, pode contar comigo para tudo o
que precisar, vou pedir que o Olaf compre uns brinquedos para você.
—Eu não quero brinquedos Jack — Nando nega. — Já está bom que
esteja conosco, ver a mamãe feliz assim me deixa até alegre porque assim ela
não pega no meu pé.
—Garoto esperto.
Ele ri e sai correndo do quarto, enfio as mãos no bolso da calça e fico
por alguns momentos refletindo sobre as palavras do Fernando em não odiar
meus irmãos, isso é tão inevitável quanto somar dois mais dois e dar cinco,
eu os odeio e é recíproco, não acho que a minha vida melhoraria nem pioraria
com o fato de que sou afastado deles.
Decido tomar um banho rápido, Olaf já trouxe a minha mala para o
quarto, pego uma roupa qualquer e vou para o banheiro, Maria deixou
shampoo, condicionador e sabonete dentro do box, a casa é muito grande e
bem espaçosa, acredito que não seja nenhum problema acomodar mais
pessoas.
Enquanto tomo banho sinto o corpo mais relaxado e calmo, próximo
de uma paz que não sinto a dias. Não demoro, termino e me seco logo, me
visto, fico um pouco sentado na cama esperando que ela suba, mas ela não
sobe, Percebo a demora da Maria, também começo a sentir um pouco de
fome, quero descansar, mas sinto que preciso dela mais perto, quero ela
comigo, olho para a cama e já começo a pensar num bocado de besteira.
Desço e vou para a cozinha ciente de que todos estão lá, sei que a
Maria quer ser muito gentil e receptiva com todos, mas não quero ela
andando de biquíni perto dos meus irmãos e da Patrícia, quem sabe o que eles
falariam? Eu conheço muito bem os Carsson para saber como podem ser
cruéis com quem quer que seja.
Foram comigo e com o Alejandro, somos sangue do sangue, carne da
carne e ainda assim não fomos aceitos, imagino que não entendam que eu
gosto de mulheres como Maria, me sinto atraído por ela, eu já passei da
época de me importar com o que eles pensam.
Entro na cozinha vendo Maria com Blair no colo, Ph sentado ao lado
de Jonas tomando café e a mulher dele, essa garota sem sal que não entende
que o que ele não gosta de mulher, é um casamento de conveniência eu
realmente nem sei porque ela não desiste logo dele, nenhum deles presta para
nada essa é a verdade, acho que de nós o menos pior é o Alejandro quando
não está tentando pular de uma ponte de um metro de altura eu acho.
—Você não subiu —falo. —O que está havendo?
—Ela precisa tomar banho —Maria não me olha, cora.
—Ela não é nossa responsabilidade.
—Ela é a sua sobrinha. Gil, pode preparar um sanduiche para esse
mal-amado?
—Claro — Gil sorri.
Mal amado? Porra! Cadê a ajuda? Não era na alegria e na tristeza?
—Eu vou preparar um banho para a Blair, e você espera aqui, Jack.
Júlia, você me ajuda?
—Aham.
Maria vai para o terraço e coloca Blair dentro da pia de lavar roupas
do lado de fora da casa, nos fundos tem uma vegetação extensa e com
plantações de coco e manga, Ph fica me olhando com cara de merda enquanto
Jonas me ignora.
—O que foi? Nunca me viu não? — pergunto com uma ponta de
estresse.
Ph não responde, me afasto e vou até onde Maria está.
—Não sou mal-amado!
Eu a abraço, beijo seu pescoço, quero ela comigo agora, não quero
esperar, foram muitos dias longe, é injusto que deixe de ficar comigo para
ficar com eles.
—Ela não tem nada a ver com essa rixa.
—Eu sei, só estou cansado, quero que suba logo.
—Pode deixar que eu assumo por aqui —Gil pede. —Cuido dela.
—Gil, sei que pode ser... — Maria começa.
—Maria, eu sei separar as coisas, pode ficar tranquila, sou enfermeira
também, sei cuidar de bebês.
O Ph nunca mereceu a Gil, talvez nunca mereça ser realmente feliz,
sou um lixo de pessoa, não presto, sou abusivo um fodido na vida, mas nunca
fui desleal com nenhuma das mulheres com quem me envolvi, pelo contrário
acho que foi justamente meu excesso de lealdade a Soraia que me fez sofrer,
ela é outra que não merece nem o trabalho de ser lembrada. Puxo Maria para
longe deles e vamos caminhando para a escada.
—Cuidado com o degrau — comunico quando nos aproximamos.
Ela vem subindo, mas é lenta, não tenho muita paciência então a pego
no colo, subo os degraus com pressa, eu a beijo, resistir é difícil.
—Fernando já desceu, quero você só para mim agora.
—Estava morrendo de saudades.
—Eu também.
Chuto a porta do quarto assim que entramos, eu a carrego para o
banheiro.
—Te dou um banho vida.
—Sem tirar proveito?
—Eu não prometo não tentar.
Beijo os lábios sem pressa agora, observo o biquíni e isso me faz
lembrar de algo.
—Não quero você andando assim perto deles.
—Não sabia que eles viriam.
Eu também não queria que eles viessem de nenhuma forma, não vejo
propósito nisso, me estresso de pensar que vieram sem a minha permissão,
coloco Maria no chão diante do box, ela está cabisbaixa com os olhos
fechados.
—Estou nervoso, entre no box.
Começo a tirar a roupa que a pouco coloquei, não queria que isso
fosse um estresse para nós dois, de nenhuma forma. Observo ela tirar o
biquíni e ligar o chuveiro, os cabelos já estão soltos, a bunda redonda e
volumosa.
—Não fique brava.
—Eu não estou brava —afirma. —Entendo que tem o direito de odiar
os seus irmãos, mas isso não faz mal para eles, faz mal para você.
E você não sabe o quanto.
Coisas ótimas
Sei que prometi não tirar proveito, mas é algo que se torna bem
difícil.
Coloco a camisinha com pressa, ela está distraída, fico calado
observando-a enquanto ela toca os cabelos, puxo os laços que prendem a peça
do biquíni inferior e caí no chão, eu a abraço com toda a intensidade e toco a
buceta sem pensar duas vezes, é quente, ainda quente e toda minha.
Me inclino abaixando e meu pau lateja mais uma vez enquanto
encontro o caminho dela, toco seu ponto sensível querendo não machucá-la,
mas parece inevitável, cada gesto meu é descontrolado.
Me deixo levar pelos instintos.
—Senti falta de você —lambo seu pescoço sem receio algum. —Você
me deixa descontrolado, vida.
Ela tem um gosto meio salgado, a pele está mais morena, entro mais
dentro da cavidade feminina apreciando cada segundo dela, suas mãos vem
para o meu corpo e ela toca a minha bunda causando ainda mais excitação,
Maria sobe enquanto meto mais fundo, tento manter a calma, mas é
complicado.
Suas mãos se encostam na parede e meus dedos estão pressionando
seus quadris, vou metendo assim dentro dela ouvindo-a gemer baixinho um
simples:
—Mais, quero mais.
A buceta treme e é quente, receptiva, esfrego o saco nela enfiando até
o talo do meu pau, e meus dedos se enfiam em seus cabelos, Maria súplica e
isso é maravilhoso.
—Por favor, por favor, mais!
A voz é de uma gata chorosa, seus olhos fechados se contraem, os
seios dela sobem e descem e a visão da bunda enquanto enterro nela me
causa arrepios pelo corpo todo.
Não respeito os meus ímpetos, não controlo meu desejo, com ela não
dá.
Puxo seus cabelos ouvindo soluços baixos, meto um pouco mais de
pressa, mas percebo que o que quero fazer não é para ser feito aqui,
impaciente e apressado começo a puxar ela pelos cabelos para o rumo do
quarto, escuto o som do gemido de dor e isso incrivelmente também me
excita.
Tudo com ela é excitante, desde um simples beijo até essa trepada
maravilhosa.
Eu a empurro para o rumo da cama, Maria cai de bruços e a bunda
fica exposta, sinto vontade de morder ela toda, morder com força, judiar...
Porra!
—Preciso disso, Maria — dou um tapa bem servido na bunda, ela
aperta a colcha de cama se encolhendo. —Vem cá.
Quero muito mais.
Seguro suas pernas e a viro na cama, as separo e começo a chupar a
buceta do jeito que gosto, chupo o ponto sensível e me ergo, então fodo com
força na buceta, as mãos dela estão fixadas em meus ombros, franzo a testa
me sentindo apertado pela buceta dela, respiro fundo e vou metendo como
quero.
Meu corpo está quente demais, puxo ela pela cintura preso a visão do
prazeroso sorriso que se forma em seus lábios, ela se segura em mim e sei
que lhe dou prazer, seus quadris vem se movendo mais uma vez para mim
bem depressa, olho para a buceta e ver ela metendo assim comigo me faz
sentir como se fosse um louco.
Como se quisesse fugir e estivesse preso e somente com seu
consentimento pudesse sair.
Ela tenta me beijar, mas não é algo do qual queira agora, quero trepar
com ela, quero matar a ânsia que me queima todo desde que fui embora,
aproveitar cada segundo ao seu lado, mordo seus lábios.
—Rebola para mim, isso, querida, assim.
Maria obedece metendo comigo, me deito na cama segurando ela
firme pelos quadris e movo ela em mim adorando o jeito como ela se senta no
meu pau, ela desliza e fica sentada até o talo, e então se move rebolando nele
num vai e vem bem gostoso.
Ela quer gozar, esquenta e esquenta mais em mim, começa a
estremecer, seu movimento é mais curto e rápido.
—Jack, por Deus, pare... eu... aí....
Não!
Eu a observo se contorcer toda e estremecer, eu não a solto e dou um
tapa na buceta, ela pula e libera todo seu orgasmo só para mim, seus quadris
param e alcanço bem depressa o clímax também, sinto cada músculo do meu
corpo latejando, pulando, sorrio vendo-a morder os lábios e gozo.
A porra sai bem rápido e fica presa na camisinha, Maria permanece
com os olhos fechados, depois de alguns instantes ela caí em cima de mim,
me ajeito deixando que o gozo saia todo.
Ela se esfrega em mim e se aquieta. Fico imaginando como as coisas
serão de hoje em diante e a abraço.
Serão ótimas.
Novidades
—Você já acordou?
Sei que sim.
Ela se estica toda preguiçosa, beijo sua cabeça, vai para o lado na
cama, eu a olho e ainda a quero comigo ela passa o braço envolta do meu
corpo e toca minha nuca com carinho.
—Te machuquei?
—Não.
Não me convenço, sei que sai do controle e é algo que não queria,
odeio sentir que a machuca.
—Puxei seu cabelo.
—Tudo bem, Jack, foi tudo ótimo.
—Tem certeza?
—Tenho.
—Senti muito sua falta.
—Eu sei, é inevitável, as pessoas me conhecem e sei lá, elas não
desgrudam de mim.
Mesmo que seja verdade me faz sorrir e eu a beijo por isso, eu a
adoro, é inevitável mesmo, mas tudo o que ela representa para mim.
—Já entardeceu, tem que comer alguma coisa.
—Não quero.
—Você tem que se alimentar.
—Você já desceu?
—Não, pensei em te pedir para buscar alguma coisa para gente.
—Vamos acender uma fogueira, você não quer vir junto?
Me chateia a ideia de que seja ideia de alguém da minha família.
—Isso é ideia do meu irmão?
—Sah e Sandy, vamos?
—Melhor não.
—Está bem.
Maria me beija e se levanta, pouco se importa com o que eu quero,
acho que nem passa pela cabeça dela que essa situação toda é bem complexa,
que meus irmãos já me julgam demais e que se agora ela tem que se sujeitar a
ficar vendada perto deles também será julgada severamente por eles, pior,
sem que entendam.
Eu a puxo e a aperto desejando que tudo isso chegue perto de ser
normal, que as coisas se encaixem e tudo encontre um rumo, sei que não será
fácil, mas me afastar dela se torna um desafio doloroso todos os dias desde
que a conheci, posso deixá-la mesmo ficar longe de mim e perto dos meus
irmãos?
Não!
—Você não vai sozinha.
Seus lábios tremem e ela oprime o sorriso.
—Vamos logo, convidei Joseph também.
—Tem certeza de que não será constrangedor?
Ela sabe que me refiro a máscara.
—Não quer ir por causa disso?
—Também porque não suporto olhar para cara dos meus irmãos.
—Então fique.
—Não quero você perto deles.
E ela não gosta de saber disso também.
—Então vem comigo.
—Está bem.
—Sem ficar estressado.
—Vou tentar não matar ninguém, eu prometo.
Ganho um beijo quente quando ela se deita em cima de mim, toco seu
corpo e rolamos na cama, beijo sua mão e a olho.
—Senti sua falta —toco seus lábios com a língua e arranco mais um
beijo dela.
—Você vai ficar até que dia?
—Até o domingo.
Quero dizer que ficarei com ela todos os dias da minha vida, mas nem
precisa, a mulher fica gritando feito doida no quarto, me beija agitada, quero
rir e compartilhar com ela dessa felicidade, é tão verdadeiro, só que não
consigo ser assim.
—Senhora Carsson, controle-se.
—Não — responde e me aperta com força.
Sorrio e vou para cima dela, estou apaixonado feito um louco por essa
mulher, o que posso fazer? Só não consigo colocar isso em palavras, não sei
mais como explicar.
—Você precisa aprender a se controlar.
—Desculpe—Maria pigarreia e para de sorrir. —Agora já podemos
descer, Jack?
—Não.
Mordisco seu seio, e rolo para o lado, puxo ela.
—Banho, Senhora Carsson?
—Não mesmo.
Ela sabe que não tomaremos outro banho, mas que merda, preciso de
desculpas mais convincentes para transar com ela, ser menos óbvio.
—Vou me trocar no banheiro, desça na frente e providencie para que
tenha algo para o seu marido comer.
Eu a vejo ficar vermelha, dou um beijo na cabeça e me afasto indo
para o banheiro, olho para a cama enquanto isso, sei que se começarmos de
novo ficaremos aqui a tarde toda — que é o que eu quero é claro —, mas não
será “certo”.
Melhor me trocar logo, mais tarde contínuo de onde parei com a
senhora Carsson.

—Você fez o que eu pedi?


Ela dá um pulo toda assustada.
—Sah disse que guardaram o nosso almoço, pode ir comer se quiser.
—Você vem comigo.
—Claro.
Sei que deixo ela tensa, mas não gosto de pensar que Maria está perto
deles, me sinto inseguro, ela também não tem que ficar fazendo nenhum tipo
de agrado para eles. Eles não merecem. Maria entrega Blair para Gil estão
todos na sala, ela passa por mim cabisbaixa, estendo o braço e enlaço sua
cintura, olho para Ph, para a Júlia minha irmã parece ficar muito
constrangida.
—Deveria ter colocado uma calça.
—Aham.
—Não precisa ficar com eles.
—Tem razão, mas preciso ser educada e gentil.
Não, não tem!
—Por quê?
—Porque são sua família.
Não, não são!
—Essa gente não é nada minha.
—Amo você, Jack, mas tem hora que você passa dos limites, não
estrague a nossa semana com o seu orgulho idiota.
Merda, não estraga tudo com um “amo você” mulher.
—Pode repetir de novo?
—A parte do orgulho idiota?
Estou nervoso isso me estressa.
—Você entendeu.
—Você não falou.
—Você tocou no assunto.
Maria parece refletir bastante.
—Amo você. — Ela fala. —Não tenha medo.
—Você é irritante — protesto tenso, mas porra. —Também te amo.
Eu a beijo, percebo a movimentação da Sarah na cozinha.
—Já coloquei a salada de vocês — Sarah fala. —Já vamos acender a
fogueira, vamos levar chocolate quente.
—Ok, já estamos indo, Sah, obrigada.
—Adoro quando você faz sexo, fica tão boazinha.
Sarah é um poço de discrição...
Conduzo Maria até a mesa e me sento puxando-a para o meu colo,
vejo minha irmã entrando na cozinha toda sorridente, ela as vezes é insistente
demais, teimosa, não entende que quero distância.
—Duda, obrigada por nos convidar —Júlia se senta na cadeira de
frente a que estou com Maria no colo. —Podemos conversar em inglês?
—Devagar. — Ela responde. —Eu estou tendo aulas há duas
semanas.
—Gostei da prima do Jack —minha irmã comenta. —Você está linda.
—Obrigada.
Fatio a salada, olho para a minha irmã, mas acho que a Júlia já está
perdendo o medo que sentia de mim, começo a comer, dou comida para
minha mulher.
—Esse lugar é incrível.
—Eu também acho —Maria concorda. —Você vai adorar Angra.
—Você gostou do presente?
—Que presente?
—Ué, a ilha.
—Que ilha?
Porra Júlia!
—Ela gostou, Júlia, pode avisar para o tio Gerald — digo.
—Vou ligar para ele, já volto.
Eu mesmo queria falar sobre isso a sós com Maria e explicar tudo
com calma, mas só do jeito como ela fica dura no meu colo sei que está
irritada, beijo seu pescoço e ela não se mexe.
Grande merda!
—É presente de casamento —seguro sua face e a ergo. —Não
comece.
Ela balança a cabeça em sinal positivo.
—Mas ele colocou no seu nome, né?
—Não.
Percebo o quanto isso a deixa nervosa.
—Você está fria.
—Você acabou de falar que eu ganhei uma ilha de presente de
casamento. —Maria comenta.
—Você não gostou?
—Eu não quero.
Eu sei.
—Você não tem que querer —respondo. —Sabia que reagiria assim,
por isso eu me certifiquei de que a Sarah não falasse nada.
—Mentiram para mim?
—Se falasse que era sua, não teria vindo —digo e volto a comer.
—Como...
—Não me culpe, foi o meu tio.
Ao menos agora tenho alguém a quem culpar.
— E ele iria adivinhar que eu gosto daqui?
—Pode perguntar para ele quando formos visitá-lo um dia desses.
—Jack!
—Já disse, não tenho culpa.
Maria fica calada, mas é algo do qual não posso ter controle, eu não
poderei devolver algo que não é meu, sei que o meu tio extravasou, mas só
dessa vez também acho que é justo com ela que fique com o presente, é algo
que ela poderá ter em seu nome, algo para o Fernando.
—Você vai continuar brava?
Deixo o prato vazio de lado e pego o outro, começo a dar a salada
para ela novamente.
—Não estou brava, apenas surpresa.
—Então o que gostaria de ganhar de presente de casamento?
—O meu liquidificador está velho, acho que isso bastaria.
Que pensamento mais medíocre, mas ao mesmo tempo tão valoroso!
Poderia dar qualquer coisa para essa mulher e ela quer um
liquidificador? Sério?
—Você está falando sério?
—Acho que isso é o mais próximo do que o pai do meu marido
poderia me dar.
—Você é notável, Senhora Carsson.
E isso me enche de orgulho.
—Você quer suco?
—Você pegou o meu celular?
—Você tem muita sorte que eu seja um marido muito atencioso —
digo e coloco o celular dela na mesa.
—Mamãe vai me ligar, ela fica me ligando, preocupada e tal.
—Entendo ela, isso não vai se repetir.
Ela me beija e sinto vontade de tirar ela daqui ir para o quarto.
—Temos mesmo que ir?
—Temos.
Nível 16 da atração
—Duda — Sarah chama—Você quer café ou chocolate quente?
—Choco...
—Café — Corta Sandy. —E com adoçante.
Maria suspira.
—Uou — Sarah diz.
Maria a abraça e fico imaginando o quanto a mudança e a transição
será algo complicado para ela, porque são como irmãs.
Não queria estar aqui, não é o tipo de coisa que eu queira fazer, não
sou bom em programas em família, confesso que a minha apatia pela situação
deixa tudo e todos mais tensos, mas quero que fique claro que não os queria
aqui no início e não vou querer eles aqui nunca.
Em nenhuma hipótese, em nenhuma circunstância iria querer o Ph e o
Jonas por perto, porque é por culpa deles que eu sofri tudo aquilo na infância,
que mamãe foi rejeitada e humilhada pelos Carsson, que ela abandonou o
meu pai biológico e ele acabou se suicidando, se eles houvessem aceitado
meu pai desde o começo e as decisões da minha mãe nada daquilo teria
acontecido.
Eu nunca tive se quer a chance de ter o que eles tiveram, foram
acolhidos, amados, desejados, crianças mimadas, eu e o Alejandro não, nós
sempre fomos as crianças que ninguém queria e eu nunca os perdoarei por
isso, não gosto muito de lembrar porque me machuca, mesmo que na época
fossem adolescentes eles não deveriam ter agido daquela forma, nem nos
anos que sucederam a morte da nossa mãe.
—Vem cá —Sarah puxa Maria e ela se deita com a cabeça em suas
coxas. —Minha bebezona.
Maria sorri e sei que isso é a coisa mais normal que ela fez desde que
eu apareci em sua vida, ela evita me olhar, ela anda cabisbaixa, expor ela
assim não era o que eu queria, se estivéssemos só nós dois, Sarah, Alejandro
e o garoto ela não estaria assim.
—Mãe—Fernando chama. —Posso fazer uma pergunta?
—Claro.
—Você vai me dar uma irmãzinha como a Blair?
Maria não responde.
Eu sei que ela nunca vai querer ter filhos com um louco como eu, as
vezes tento ser otimista mas essa é uma missão complicada diante dos fatos,
eu quero estar um pronto um dia para ter filhos, mas eu sei que ela não quer
filhos comigo, nem ela nem uma pessoa normal.
Como seria isso? Eu seria um péssimo pai! Eu nem sei por que
cheguei a planejar isso, o garoto é filho dela e eu também quero criar ele
como um filho, mas não acho que ela queira ter um bebê comigo.
—Você precisa entender que eu estou na parada, Nando — Sarah
responde. —Nada de bebês, eu ainda não fiz trinta anos.
—A vovó mataria a mamãe —Fernando afirma. —Ela disse que se a
tia Juh engravidar, vai entregar ela para o conselho tutelar.
—Ela não poderia fazer isso, ela tem obrigação legal com a Juh até
ela fazer dezoito anos, sem falar que se ela engravidasse, a vovó seria
responsável pelo bebê dela também, acho que o juiz mandaria prender a
mamãe por isso —Maria diz. —Já pensou que judiação para as presas,
dividirem uma cela em regime fechado com ela?
—Vamos pensar em nomes para os possíveis filhos da Duda — Sarah
faz a sugestão.
—Se for menina, o nome dela será Emanuela — Fernando alega. —
Eu posso trocar a fralda dela, mamãe?
Como seria uma menina? Se pareceria com ela?
As chamas da fogueira estão baixas, mas queimam intensamente, eu a
olho e Maria está com os olhos fechados, sorri, eu a invejo por ser querida,
por ter tanta sorte de ao menos rir de situações tão banais.
—Eu prefiro Stefanny —Sarah comenta. —É autêntico.
—Fernanda, hein, mamãe? Que tal?
—Também não — Maria responde.
—Se for menino, se chamará Epaminondas!
Maria ri, Sandy também, não conheço muito esse nome, mas parece
comprido demais para uma criança.
—Prefiro José, José é legal, meu colega da escola.
—Eu prefiro que vocês dois parem agora.
—E o que sugere, Duda?
—Eu voto em José!
Maria se ergue, Fernando protesta, Sarah responde e eu fico vendo
uma discussão sem fundamento entre uma mulher feita e uma criança de dez
anos, eu riria se não estivesse tão estressado.
—Quando eles dois vão parar? — pergunto para ela discretamente.
—Quando um dos dois se cansar — Maria diz. —Ou quando ele
começar a fazer cara de choro.
—Ela parece o Alejandro quando começa a discutir, não para.
Sei que ela concorda comigo, olho para a garrafa de café na areia.
—Quer o café?
—Quero o chocolate.
—Café!
Me ergo pego a garrafa e um copo, coloco café para ela e retorno, me
sento novamente ao seu lado, Maria segura a minha mão e entrelaça os dedos
nos meus, calada.
—Não colocaremos esses nomes nos nossos filhos, Maria — digo só
para puxar assunto.
—Não mesmo!
Isso não é um sim, mas não é um não, posso ter alguma esperança
então.
Bebês
Eu a vejo respirando com dificuldade, deitada de bruços na cama,
colo meu corpo no dela recuperando o fôlego dessa transa, solto seus cabelos
e tiro a máscara de sua face, analiso suas feições, estão vermelhas e
relaxadas, beijo sua nuca e me aquieto.
—O que vamos fazer hoje? — pergunto por que ela está calada
demais.
—Já amanheceu?
—Já.
—Acho que a Sandy vai querer correr, você pode ficar com o Nando?
—Claro, Joseph está aí, também tenho que trabalhar.
Gostaria de poder ficar aqui, mas tenho coisas a fazer, Maria também
terá o dia dela com seus afazeres.
—Podemos almoçar juntos? Nós três?
—Acho que seria melhor almoçar com a sua família.
—Por quê?
—Porque seria muito grosseiro da nossa parte.
Adoro você, mas as vezes você quer forçar a barra demais.
Reviro os olhos pensando em toda a merda que é para mim ter que
lidar com tantas coisas ao mesmo tempo, minha vida está mudando muito
rápido, tenho que me adaptar porém é um desafio diário saber lidar com ela,
com suas decisões, não estou acostumado a ter ninguém mandando desde...
Soraia.
—Você não sabe o quanto essa situação é constrangedora — digo
vagamente. —Não quero te expor ao ridículo.
—Eu não me importo —Maria replica. —E acho que é uma chance
muito boa de se aproximar deles.
—Não quero.
—Jack, seus irmãos eram jovens quando tudo aconteceu, todos
erram...
—Eles não nos queriam antes, por que devo confiar neles?
—Se eu falhar com você, vai me afastar para sempre? Vai me banir da
sua vida?
Não, mas sou bom em fazer isso de um jeito bem repentino.
Irritado, mordo seu ombro, tento controlar ao máximo meus instintos,
a pessoa que sou, observo ela nua, as curvas femininas e o seio, o pau mal
sossegou já começou a subir.
—Você tem sorte que gosto muito dessa sua bunda —beijo onde
mordi.
—Só dá bunda?
—Ah, Maria, não me sujeite a isso —peço e começo a beijar suas
costas. —Por favor.
—Não estou te sujeitando —responde. —Jack eu, estou esgotada.
Não importa.
—É? —penetro ela. —Você não quer?
—Quero—sussurra. —O que você tem?
—Sua culpa.
Ela se segura na cabeceira e fica sentada no meu pau, sem cerimônia
começo a forçar mais dentro dela, seus seios pulam enquanto vou metendo,
ela esquenta toda ainda lubrificada por conta das nossas transas, aperto seus
quadris e movo ela comigo, em meu ritmo, ela pula para cima e desce
apertando os olhos, inclinando a cabeça para trás, querendo mais.
—Você é muito gostosa.
Toco o clítoris dela, massageio e o meu pau entra todo nela dando
mais e mais prazer, ergo os dedos e ela os lambe de forma instintiva, seus
quadris no vai e vem rápido, depressa se move, a dança extrema que me
deixa perdido em sensações intensas.
Também quero sentir seu gosto, também quero provar de sua carne.
—Vem cá.
Puxo seus cabelos e me deito novamente puxando suas pernas, coloco
a cabeça entre elas, Maria vem para cima de mim e tira a camisinha, começa
a me chupar divinamente, lhe dou um tapa forte na bunda e não resisto em
morder a buceta dela, mordo e beijo como quero.
Sua boca é faminta e quente, úmida, ela desce lambendo toda a
extensão do meu cacete e eu chupo a buceta sem conseguir me concentrar
direito, abrindo suas pernas vou seguindo os impulsos do meu corpo, ela
chupa do jeito que eu gosto.
Porra!
Gosto de chupar, culpado!
Maria é alguém que me faz perder as estribeiras porque nunca fui
assim com nenhuma mulher, eu nunca tive pudor alguém quando se trata de
sexo, mas com ela... com ela é inexplicável.
—Jack, por favor...
Não consigo.
Ela estremece mais uma vez se entregando ao orgasmo, isso me deixa
louco, minha boca a explora enquanto a boca dela explora a mim, suas mãos
me arranham as coxas e isso me dá ainda mais prazer, escuto seus soluços,
um choro baixo, encontro seu corpo enquanto me ergo e a beijo, penetro de
novo, eu a olho.
Eu nunca consegui amar tanto alguém assim, nunca!
—Amo você — confesso num sussurro. —Amo você.
E talvez ela nunca entenda que enquanto transamos me sinto
intensamente conectado, que o meu coração sempre vai pertencer a ela em
todos os momentos da minha vida, que é tudo tão forte que estou fora de
controle, que por mais que eu tente não consigo ser diferente, eu a amo, eu a
desejo, eu a quero.
Saio de dentro dela e gozo, ela sorri colocando mais um beijo quente
nos meus lábios.
—Você me deixa louco —digo e me acomodo com a cabeça entre
seus seios. —Sujei você.
—É a sujeira do amor.
Rio, ganho um beijo na cabeça.
—Não quero que engravide agora —não é bem mentira, mas também
não é bem verdade. —Quero aproveitar ao máximo com você.
Muito, mas... bom, quem sabe?
—Mas vamos ter filhos, quero que você esteja primeiro no nosso
apartamento.
—Semana que vem, minha menstruação já desce.
—Você não quer filhos, não é?
Seu silêncio diante a minha pergunta é a resposta definitiva.
—Ainda é um pouco cedo para isso, Jack.
—Quero tudo com você, Maria, posso esperar, ainda somos jovens.
—Você é jovem, eu não —responde—, mas ainda tenho uns dois anos
para decidir se quero filhos.
Ah então é isso? Você se sente velha demais para mim?
—Não comece.
Essa diferença de idade para mim é ridícula, simples: sou jovem, mas
já vivi tantas coisas na minha vida que não me sinto assim, ela me forçou a
ser maduro, a crescer desde muito pequeno.
Batem a porta, saio da cama e a observo, jogo o cobertor em cima
dela cobrindo-a, vou até a porta.
—Duda, você tem dez minutos para descer —Sandy diz do lado de
fora do quarto. —Seu café está aqui na porta.
Espero que Sandy se afaste e abro a porta, pego o café, me aproximo
da cama, deixo em cima do criado, puxo os cobertores e pego Maria no colo.
—Te dou banho.
—Eu mal consigo andar.
—Você está com preguiça.
—Ah é? Você vai ver a minha preguiça hoje à noite — pragueja
fazendo bico e me faz sorrir. —Será que se eu fingir que morri, ela me
esquece?
Me aproximo de sua orelha e sussurro:
—Não.
Levo ela para o banheiro, quando ligo o chuveiro Maria fica
assustada, a água começa a molhar seu corpo, pego o sabonete.
—Vou dar uma corrida também —começo a lavar ela. —Depois eu
vou para o escritório, pode tomar um sol e descansar.
—Está bem —diz com desgosto. —Você pode dar uma olhada no
Nando para mim?
—Claro.
Hora de tomar banho, mais tarde quero continuar a conversa sobre
bebês.
Ela se esconde
Estou casado com uma mulher que corre, surfa—sim, surfa—e que
dança como a Beyoncé, só que de um jeito esquisito e engraçado.
Mal ouvi os gritos que se espalhavam pela casa e desci, os risos, ouvir
Maria rindo me faz sorrir, fico imaginando como ela reagiria se tivesse me
notado correndo na praia, ela parecia tão focada, tão destinada a completar
sua corrida que não me notou.
Não sabia bem se estava aliviado ou nervoso com aquilo, porque
percebo que a real importância da máscara na verdade é algo que está cada
dia mais e mais distante de nós dois, eu ainda não perdi o medo, mas confio
tanto nela que sei que por mais que eu aparecesse ali ela não me olharia.
Maria mal ouviu o garoto falando meu nome e deu um jeito de correr
para o quintal ao lado de Sarah, tenho que admitir que ver ela feliz é uma
coisa que ainda me impressiona, porque quando estou por perto noto somente
sua tensão, o jeito no qual ela está sempre nervosa.
—A mamãe dança bem né Jack? — Nando pergunta ainda
gargalhando.
—Demais! — respondo e mexo na cabeleira do menino.
Nando me abraça de repente, fico rindo bem surpreso com esse gesto
de carinho, depois ela e se afasta e vai para a mesa.
—Vem? —Alejandro chama.
Eu o sigo em silêncio, estava resolvendo algumas coisas da BCLT via
internet, Joanne não disse, mas sei que ela achou ruim que me ausentei,
porque tem muita coisa a fazer, parece que por mais que eu procure deixar
sempre tudo pronto, nunca dá realmente para ficar meio folgado.
Tenho uns negócios paralelos também e isso não ajuda.
—Você ainda está chateado porque eles vieram?
Alejandro está, sei que tanto quanto eu chateado comigo, estou me
mantendo longe porque odeio que o Jonas ou o Ph estejam perto, agora pior
na minha própria casa.
—Era para estar feliz?
—Papai faz com que me sinta mal por tratá-los assim.
—Papai nunca vai nos entender Alejandro, ele nunca sofreu o que
sofremos por causa deles.
—É verdade.
Queria que não fosse assim, mas é a verdade, papai é um bom
homem, em muitos sentidos da vida meio cínico, não é santo, mas acho
demais ele exigir isso a essas alturas das nossas vidas.
—Quero dar um passo mais importante com a Sarah, assumir algo
mais sério.
—Espero que dê certo para você.
—A Duda é uma pessoa tão diferente do que eu pensei.
—E o que pensou?
—Você sabe.
Eu o encaro.
—Pensei que ela te daria um golpe.
—Ah é.
Em Las Vegas, é uma lembrança mais afastada, porém me lembro
bem dela.
—Às vezes não acredito que você está namorando uma mulher como
ela.
—Não deveria Alejandro?
—É que ela não é como a Soraia.
—Ainda bem que ela não é como nenhuma outra.
Odeio perceber o tom superficial na voz do meu irmão mais novo.
—Acho ela cativante e legal, mas ela não é tão bonita.
—É uma pena que veja as coisas dessa forma Alejandro.
Caminhamos por entre as plantas dos fundos da propriedade, sei que
não estamos tão longe delas, posso escutar vagamente as vozes de Maria e
Sarah, mas meio distantes.
—É que você nunca disse que gostava de mulheres como ela e tal,
acho que todos temos que concordar que ela não é um exemplo de beleza
clássica.
—Sabe Alejandro, eu pensei mesmo que você era diferente — digo,
mas não estou tão bravo. —, mas quando você fala essas coisas é como ouvir
o Jonas falando de todas as mulheres com quem ele saiu na adolescência.
Alejandro não responde.
—Para mim ela é linda e perfeita, eu adoro a Maria e nunca trocaria
ela por nenhuma mulher diferente dela, sabe porque? Porque ela me aceita do
jeito que eu sou, mesmo eu sendo toda essa merda e um fudido
emocionalmente, se estiver se envolvendo com a Sarah porque ela é bonita eu
aconselho que pense seriamente nisso, porque nada nunca vai mudar o fato de
que ela será só bonita, é oca por dentro.
—A Sarah não é assim, eu garanto.
—Então cuida da beleza dela que eu cuido da minha esposa tá bem?
—Eu só quis dizer...
—Eu sei o que quis dizer Alejandro, não estou tão irritado com você,
mas faça um favor quando for falar merda, pensa bem, você não esta se
referindo a qualquer pessoa e sim a minha mulher, eu a amo e aceito ela do
jeito que ela é.
Alejandro começa a rir, nega com a cabeça.
—Apostei 20 mangos com a Júlia que você não diria isso.
—Então pague o que deve para ela.
—Você mudou mesmo por causa dessa garota, acho que desde que
nos reencontramos seu vocabulário aumentou de 0 a 10 palavras por segundo.
Ignoro ele, me apresso e vou me aproximando do caminho por onde
Maria e Sarah seguem, eu as escuto falando sobre nomes ou coisa assim.
—... Alejandro Carsson Bezerra — Sarah fala.
—O sobrenome deles é Bezerra?
—Claro, ah e eu tenho uma coisa para te contar sobre o Jack.
Maria está comendo uma manga.
—Sabe qual é o nome do Jack?
—Nome?
—É, o Alejandro me falou, foi assim, nasceram aqui aí o pai dos
outros veio buscar a mãe deles, só que eles já tinham sido registrados aqui,
com nomes diferentes.
—Nossa.
—Então preparada para saber o nome verdadeiro do seu amor?
Olho para o Alejandro, ele dá de ombros.
—É João Lucas!
Me aproximo e passo o braço envolta dela, Maria está surpresa, não
gosto desse nome, na verdade aprendi a odiar com o passar dos anos.
—Meu tio achou melhor chamar a gente por nomes em inglês —meu
irmão explica. —Denzel era o nome do marido da minha mãe, e Jack é a
tradução de João para o inglês.
—Nome de batismo, mas todos me tratam por Jack — esclareço. —O
que achou do meu nome?
—É bonito, você não ia trabalhar?
—Ia, não vou mais, o “Alê” me pediu para ficar com ele.
—Idiota! — pragueja Alejandro.
—E os seus irmãos?
—Infelizmente não saem de perto, Jonas sugeriu que fossemos pescar
—me lembro da sugestão que Jonas fez mais cedo quando estávamos
correndo. —Odeio pescar.
—Acho legal —Alejandro comenta. —Eles querem ser nossos
amigos, Jack, ontem Phelipe me chamou para uma conversa, o tio está
preocupado, você sabe que ele não pode ficar se preocupando.
—Coitado — Sarah me olha sensibilizada. — É por causa do
marcapasso, não é?
—É — estou irritado com a sugestão do meu irmão. —Tudo bem
então, mas eu não vou pescar.
—Vou colocar um calção. —Alejandro avisa. —Vem, Sah.
—Eu estou velha demais para correr... — ele a ergue e a joga por
cima do ombro —Alejandro, me coloque no chão... agora.
Enfim Sós.
Nível 17 da atração
—Você dança muito bem, Senhora Carsson.
De olhos fechados ela cora.
—Obrigada.
—Você está muito gostosa nesse biquíni.
—Você acha?
Tenho certeza.
—Acho —beijo sua cabeça e puxo ela para mim. —Não precisa ter
vergonha do Alejandro, ele não tira os olhos da Sarah.
Maria fica ainda mais vermelha.
—Aham.
—Maria, você vai começar? —pergunto. —Não precisa ter vergonha.
—Foi ridículo.
—Você não é assim quando eu estou por perto, e também não me
falou que surfava.
Não sei se é relevante, mas já percebi que quando estou por perto ela
trava, ela não se abre totalmente comigo, não me fala sobre seus hobbys,
tantas coisas que eu não sei sobre ela, isso me magoa, quero a mesma Maria
que vi na cozinha dançando por perto, a mulher que surfa e que fica
rebolando pela casa por perto, quero que ela seja ela mesma.
—Maria, você não precisa ter vergonha de mim, eu sou o seu marido
e adoro cada parte de você, sua personalidade é incrível, eu gosto muito do
seu humor, mas quando eu estou por perto, você fica muito travada e fechada.
—Claro, eu morro de vergonha do meu jeito, eu sou muito esquisita.
—Esquisita?
Que?
—É, e infantil, eu sou exagerada e as vezes eu meio que não me
controlo.
—Não quero que se controle, quero que seja você mesma.
—Talvez não goste depois, sou muito sem graça, Jack.
—Por que você se diverte com a sua família? Por que faz piadas? Ou
por que você tem hobby diferentes das outras pessoas?
—Não combina com você.
—Acho que eu que tenho que falar se combina ou não.
Eu quero conhecer ela verdadeiramente, mas Maria é assim, quando
eu a pressiono ela se cala, é como se ela tivesse medo de mostrar quem ela
realmente é para mim. Ela tem vergonha de mim quando não deveria.
—Maria?
—Apenas não falei do surf porque não achei algo demais, eu gosto
para relaxar, e sobre ser eu mesma, eu sou eu mesma com você, apenas não
quero estragar nossos momentos juntos com algumas manias minhas.
—Que manias?
—Você não tem defeitos?
—Muitos —toco o canto de seu ombro, tem uma pequena marca de
mordida, deixei isso aqui mais cedo, não deveria. —Você sente na pele a
minha personalidade, é algo que eu tento não expor, porque eu sei que o meu
temperamento machuca as pessoas.
—Teve algum momento em que você perdeu a cabeça por minha
causa?
—Muitos momentos —admito. —Quando você desapareceu em Las
Vegas eu quase tive um ataque de nervos.
—Você parece muito controlado.
Mas eu não sou, nunca fui e duvido que seja.
—Só pareço —argumento. —Não me teste, Maria, eu já quebrei uma
sala inteira numa crise de raiva uma vez, hoje eu sou mais controlado, mas
me corroo por dentro quando algo me frustra.
—E o que te frustra?
—Você!
Porque eu não acho que você deveria se esconder de mim, nem omitir
as coisas de mim, deveria ser você mesma, um pouco mais de você na minha
vida é tudo o que tenho mais precisado.
Mas ainda sim sinto que não te conheço o suficiente, e eu te amo! Isso
me frustra.
—Você me deixa irritado, mas ao mesmo tempo é tudo o que eu mais
desejo —confesso um pouco afastado dela. —Você é a única pessoa no
mundo da qual eu tenho certeza que não se interessa por mim pelo o que eu
tenho, e sim pelo o que eu sou, mesmo eu sendo um louco, e mesmo que isso
a machuque muito, você fica tão feliz quando estou por perto..., as pessoas
não reagem assim com a minha presença.
—Elas não enxergam você como deveriam —Maria se vira
cabisbaixa, os olhos fechados. —Elas só preferem ver o nosso pior e isso não
é sua culpa.
É minha culpa, a verdade é que ninguém nunca me quis por perto e
duvido que queira, porque eu sou assim, eu sou complicado demais.
—Sinto como se assustasse as pessoas as vezes.
—Tem que permitir que elas o vejam Jack, que elas o conheçam
como você realmente é.
—Mas... talvez elas não gostem de mim muito além da minha
aparência.
—Então, não será sua culpa e sim algo que elas decidiram e não você.
Sofro com isso, vê-la de olhos fechados, sofro em saber que a oprimo
e que a machuco com meu jeito, mas sofro mais por ser assim porque não é
algo que eu controle.
—Pode abrir os olhos quando desejar...
—Não é isso. — Ela me interrompe. —Acho que você não entende o
porquê eu aceitei a sua doença.
—Porque sabe que isso me afeta.
—É porque não importa como você é por fora, me importa como você
é por dentro.
—Talvez eu seja podre.
—Jack, isso é uma conversa adulta ou uma disputa de egos?
—Ego?
—Você quer tentar me convencer de que não vale apena ficar com
você, mas não quer que eu te largue.
—Estou apenas avisando.
—Eu sei, acho que estamos lidando muito bem, dentro do possível,
nessas semanas.
—Faço qualquer coisa para que fique ao meu lado.
—É?
—Sim.
—Qualquer coisa?
—Sim, tudo.
—Então me ame.
Sempre te amei Maria, sempre irei amar.
—Pode me amar todos os dias que eu não vou achar ruim, pode ser
você mesmo, que eu vou tentar lidar com isso, pode cometer erros e falhar
comigo que ainda estarei aqui, mas não se submeta a fazer tudo o que eu
quero, eu não quero nada além do que você tem para me dar nesse momento
—sua voz é cheia de relutância e sinceridade. —Nós acontecemos muito
rápido, isso ainda me assusta, mas eu não quero você longe de mim.
—É péssimo — digo com receio.
—Às vezes as pessoas nos pedem muitas coisas que não temos a
capacidade de dar, tudo o que podemos dar para elas é o nosso amor e um
pouco de paciência.
E eu tenho medo exatamente disso: que se um dia deixar de ter amor e
paciência comigo as coisas desandem.
—Amor não é tudo.
—Se eu não o amasse, eu não estaria com você.
—Você... você está falando que já estava apaixonada por mim?
—Acho que eu sempre fui, desde quando fomos para Malibu, apenas
tinha medo e incertezas, não é algo que eu procure, pelo contrário, eu não
queria casar nem nada, eu adoro a minha liberdade.
Liberdade para que? Para me abandonar?
—Para sair com outras pessoas? —pergunto por impulso.
—Acho que para ser eu mesma, para não ter que ficar agindo como
um robô na frente dos outros, e porque as vezes eu adoro ficar só, eu adoro
ter tempo para minha vida, criei uma certa independência.
—Foi uma pergunta idiota.
—Eu sei, você é idiota.
É verdade.
—Eu amo você!
Silenciosa ela não se move.
—Amo muito mais do que deveria.
—Por que você me ama?
—Porque você me vê como realmente eu sou, me aceita por isso.
—Ela não o aceitava.
Falar disso toca em muitas feridas, não queria chegar nesse assunto de
novo, mas é inevitável, é parte de um passado que me fez sofrer e ter
momentos de dor e tristeza.
Sinto uma tremenda vontade de chorar e sair andando para que ela
não perceba, para que ela não veja o quanto isso ainda me machuca, sou só
um merda que nunca soube lidar comigo mesmo.
—Era a minha única chance de tentar ser normal.
—Você é normal, Jack.
—Você sabe ser doce quando quer —garanto. —Estou envergonhado
por isso.
Isso me faz lembrar de um bocado de coisas, me faz lembrar do jeito
como Maria ficou mal com as minhas exigências, a forma como ela encarou
tudo aquilo, me sinto péssimo ao lembrar do quanto minha proposta lhe fez
mal.
—Você é a minha única chance de ser feliz, Maria, por favor, não...
não fuja de mim quando eu pedir as coisas —falo, choro, é complicado,
limpo minhas faces. —Me senti horrível quando a vi naquele estado de
nervos.
—Não era sua culpa.
—Claro que era —corto. —Eu sempre estrago tudo, é incrível.
—Jack, não foi sua culpa —Maria insiste. —Apenas fiquei nervosa.
—Claro, porque isso não é uma proposta que se faça para sua mulher,
alguém que merece respeito, me sinto um lixo, pensei que pediria o divórcio,
tive tanto medo disso —começo a me estressar. —Eu prometo que não vou
mais fazer nenhuma proposta do tipo, juro que...
Maria respira fundo, sei que a machuco, mas precisamos ter essa
conversa, deixar tudo claro.
—Jack, não foi sua culpa!
—Foi.
—Não foi, eu fui estuprada.
Coisas que devem ser ditas
Parece que os meus pulmões vão explodir quando consigo respirar
novamente, eu a olho incrédulo diante do que ela acabou de falar.
—Estuprada?
Parece impossível de acreditar, como em Malibu quando ela falou
isso.
Achava que Maria havia dito apenas para me assustar e afastar a Júlia,
para nos deixar aterrorizados, mas não e eu queria tanto acreditar que era só
uma invenção que não me atentei aos sinais claros de sua objeção durante
aqueles dias.
—Sim.
Não consigo pensar em nada, olho envolta, aqui não é seguro para
falar, a qualquer momento o Fernando pode aparecer ou qualquer pessoa, isso
é muito grave e particular para estar nos ouvidos alheios.
—Vamos, vamos para casa, conversamos lá.
—Quero que vá se divertir com os seus irmãos.
—Não mesmo.
—Explico para eles que não posso ir, agora vamos para dentro
conversar.
Seguro sua mão e Maria vem comigo em silêncio, não falamos nada
no percurso de volta para a casa, não poderia estar mais nervoso, tenso...
quebrado. Eu sei como é isso, sei como é ser violado e abusado desde muito
pequeno, era ainda um menino quando fui estuprado pelo marido da minha
tia, mas não gosto nem de imaginar algo assim acontecendo com ela, com ela
não!
Ela não merece isso.
É desumano pensar que alguém colocou suas patas nojentas nela, eu
nunca poderia imaginar que ela passou por isso de verdade, que alguém a
tocou sem que ela quisesse, que a violou, sinto calafrios em pensar de falar
sobre mim, mesmo que não se trate de mim é algo que me atinge muito.
Passamos pela cozinha onde Nando e a Sandy conversam sobre algo,
não dou muita atenção, logo que entramos no quarto eu a pego no colo, sei
que ela não quer falar, mas temo que tenhamos chegado num ponto em que
falar não é mais um querer e sim uma necessidade.
—Vamos tomar um banho.
A coloco no box e ligo o chuveiro logo depois de despi-la, me dispo,
eu a olho, seus ombros caídos e olhos fechados o semblante tenso e fechado,
ainda que não me olhe sei que está cercada de dor.
Sei que vou me arrepender do que vou pedir, mas...
—Pode começar a falar, Maria.
Respirando fundo ela se enfia embaixo do chuveiro, aperta os olhos e
não fala nada, se quer emite um som.
—Eu ainda estou esperando.
—Foi numa festa lá em casa, tinha dezesseis anos, ele era amigo do
Vandersson na época. —Ela diz e pega o shampoo. —Já havia frequentado
nossa casa algumas vezes, mas nunca demonstrou nenhum sinal de mal
caráter.
Um amigo da família? Amigo?
—Ele sabe disso?
—Ninguém sabe, bem, a Sah contou para minha mãe sem a minha
autorização, é claro —Maria despeja shampoo na cabeça e começa a lavar os
cabelos. —Eu estava no meu quarto lendo, ele entrou sem que eu visse,
trancou a porta e começou a tortura.
Tortura!
—Ele espancou você?
—Ele colocou um travesseiro na minha cabeça, a todo momento
falava que se eu gritasse, me mataria, ele me estuprou na vagina, e no meu
ânus — Maria diz e começo a ficar ainda mais irritado. —Ele também me
bateu bastante durante o ato, disse que se eu contasse para minha mãe, me
mataria e mataria o Van... que faria o mesmo com a Júlia.
Que tipo de gente não vê algo desse acontecendo dentro de casa com
a própria filha?
O mesmo tipo de gente assim como a Clair que fechava os olhos e me
segurava a minha mão antes de me entregar ao marido dela, exceto pelo fato
de que parece que o Senhor Vanderson e a Senhora Francisca, só serviram
para criticar e culpar a Maria toda vida.
—E a incompetente da sua mãe não viu?
—Usei roupas compridas durante um mês, ele também me cortou um
uma gilete no ombro, mas foram cortes superficiais. —Maria responde. —
Contei para Sah, e fomos no médico escondido, descobri que estava grávida.
—Do Fernando?
—Claro que sim, Sah me convenceu a procurá-lo e forçá-lo a assumir
a criança, ele me deu dinheiro para o aborto, disse que se eu não tirasse, iria
me matar, eu não tirei e menti para ele. Sah manipulou um ultrassom dela,
entreguei para ele e disse que se ele continuasse a me ameaçar, iria à polícia
— sua voz não esconde o choro, ela me dá as costas. —Depois eu contei para
minha mãe, mas não disse que foi um estupro, só confessei que ele era o pai
do Nando porque a vó do Nando por parte de pai nos viu na rua, e ela acha
ele muito parecido com o Jorge.
Jorge, nunca vou esquecer esse maldito nome.
Meu sangue esquenta nas veias e fecho os pulsos, começo a sentir que
tremo em pensar que esse sujeito molestou Maria, que ele bateu nela, que a
machucou e que a engravidou, o Fernando é uma criança indesejada então? É
fruto de um abuso?
Isso é tão injusto!
—E depois disso?
—Depois disso a vó dele o vê sempre, ela não sabe que ele não foi
planejado...
—Ele é fruto de um estupro.
—Ele é o meu filho — sua voz sai cheia de frustração, meio alta. —
Não fale assim dele, sabia que falaria isso.
Foi da boca para fora, os pensamentos falaram mais altos, não quis
me referir ao garoto dessa forma.
—Desculpe —digo. —Eu não me importo com isso, apenas estou
nervoso.
—Eu amo o meu filho, não importa a forma como ele foi concebido
—isso a machuca muito. —Ele é tudo o que eu tenho, meu motivo para
prosseguir, meu motivo para tentar ser feliz, eu não quero que se refira a ele
assim nunca mais.
—Maria...
—Eu não preciso da sua pena. — Ela replica. —Saia!
Não sinto pena, queria tanto não ser tão empático, poder dizer “já
passei por isso, eu te entendo”, mas não consigo, talvez eu nunca consiga
falar para ela ou ninguém sobre isso.
—Não —determino. —Não vou sair, eu não estou com pena de você,
Maria, estou preocupado, isso é muito diferente.
—É? — Ela soluça.
Sei que está zangada por ter que me falar, que está envergonhada
porque foi assim que eu me senti por toda a minha vida e ainda me sinto,
afetado, envergonhado, constrangido, com medo.
—Mataria ele com as minhas mãos se algum dia o visse.
—Não importa, já passou, antes eu tinha medo dele, hoje, só tenho
nojo.
—Você ainda o vê?
—Não, e a Sueli só leva o Nando para a casa dela, quando ele está lá
o Jorge não vai, ele maltratou muito o Fernando quando ele era pequeno.
Maltratou o meu garoto?
—Maltratou? —porra —Maria, por Deus, esse homem... ele é pior
que eu.
—Ele desprezava o Nando, quando o Nando o abraçava ele o
afastava, Sueli logo percebeu que ele não queria o Nando, ele sempre tratou o
meu filho como se ele fosse um nada —Maria chora. —Da última vez foi a
gota.
—O que ele fez?
—Ele chamou o Fernando de aleijado, disse que não gostava dele e
que tinha nojo dele, aquele animal o meu filho só tinha seis anos, depois
disso eu não o deixo ir muito para a casa da vó, ela o visita lá em casa.
Maldito! Esse maldito não merece o Nando, ele nunca iria merecer e
que Deus me livre de ver ele um dia na minha frente.
—Se um dia eu ver esse cara, eu tenho coragem de matar ele com as
minhas próprias mãos.
Maria se encolhe, começo a tentar entender tudo isso um pouco mais.
—Não acha que deveria ter me dito desde o começo?
—Eu disse.
—Mas..., mas eu não acreditei.
Caralho.
—Estava muito nervosa, em parte porque você estava me
pressionando, quando você deu a entender que não acreditara, preferi me
manter em silêncio, morro de vergonha disso.
—Tem vergonha? —me irrito em pensar. —Ele deveria ter vergonha,
ele deveria estar preso.
—Nem todos os homens do mundo iriam aceitar alguém como eu.
Você vai me largar por causa disso?
—Maria, por Deus, eu não vou te largar — protesto tentando pensar
direito. —Eu já disse que não vou te deixar nunca.
Nunca faria isso, nem antes de saber e nem agora
—Você é a minha esposa.
—Eu sei.
—Então não fique agindo como se por qualquer, coisa a qualquer
momento, eu fosse largá-la.
—É que mal nos conhecemos.
—Foi por isso que eu vim essa semana, para nós dois acertarmos
nossas diferenças.
—Está bem.
Ainda tenho um bocado de dúvidas.
—Depois dele você teve mais alguém?
—Não, eu sempre evitei ter namorados, também acho que os homens
me evitam bastante, você vem tomar banho?
—Você nunca teve relações depois disso?
—Não.
—Então eu fui o primeiro?
—Tecnicamente, sim.
Não posso me sentir assim, eufórico e orgulhoso, não devo, mas sinto.
—Poderia ter sido um pouco mais especial, não é mesmo?
—Não precisava que fosse diferente comigo por causa disso, quero
que seja sempre você mesmo.
—Um pouco mais romântico.
Me enfio embaixo do chuveiro, ela não quer mais falar disso.
—Foi romântico.
—Foi?
—Sim, as vezes você é meio romântico.
—Tem certeza de que está bem?
—Estou cansada.
Eu entendo o que quer dizer, não insisto no assunto, não agora,
melhor parar por aqui.
Teremos muito tempo para falar disso, mas sem que nos
machuquemos, nem ela a mim nem eu a ela.
Nível 18 da atração
Desligo o chuveiro e seguro sua mão, eu a conduzo para fora do
pequeno box, Maria está tensa, mas o cessar da conversa faz seus ombros
caírem dando sinais de que ela não está mais tão nervosa.
Não consigo nem imaginar toda essa merda acontecendo com ela,
ainda uma garota se submetendo a isso, engravidando de um estuprador e
tendo que cuidar de um bebê sozinha, sendo rejeitada pela família e esconder
tudo isso de todos, deve ter sido tão difícil para ela.
Ela não quer falar sobre isso por agora e devo respeitar seus limites.
—Você corre muito — comento.
—Estava concentrada hoje.
—Eu vi.
E eu tenho certeza de que do jeito que ela estava concentrada se quer
me notou por perto, se quer cheguei perto de ficar tenso ou nervoso e foi uma
experiência bem nova permitir estar perto dela sem a máscara, eu sei que ela
não me olharia, ela respeita essa merda de regra, mas não é por isso, é que
enfim sinto que aos poucos estou aprendendo a lidar com a Escopofobia.
—Acho que você nem me viu.
—Jack, você estava na praia correndo?
—Avisei que iria correr.
—Mas..., mas...
—Vi você mordendo a língua na aula de ioga e vi você sorrindo
enquanto surfava, também vi você provocar a Sarah e entrar correndo dentro
de casa.
—Esteve lá o tempo todo?
—Passei na sua frente e você nem viu.
E ver você irritada por causa disso me faz querer rir, mas não rio,
porque se fosse comigo também ficaria puto de raiva.
Lhe dou um beijo leve e passo uma toalha envolta dela, a puxo e colo
nossos corpos fechando o tecido também envolta de mim, ela se afasta, reviro
os olhos. Também odiaria perceber que o Jonas e o Phelipe estavam perto
demais dela, não gosto deles, não quero eles por perto e sou doente de
ciúmes, tenho meus motivos.
—Não —determino e a beijo mais uma vez, os lábios se contraem. —
Não quero nenhum deles perto de você, morro de ciúmes, tinha que vigiar.
—É? —irritada ela questiona. —Como eu não te vi?
—Coisa do Mister “M”.
Ela não veria porque estava distraída, eu sabia no fundo no fundo que
Maria provavelmente me confundiria com algum dos meus irmãos, com
Alejandro até porque eu e ele somos meio que parecidos em alguns quesitos,
exceto pela cor dos olhos e ele ser um pouco mais novo, mas de costas e
fisicamente somos bem parecidos.
Ela fica vermelha, sabe que odeio a ideia de ter que ficar dando
explicações sobre as merdas que faço e sobre as loucuras que acabo fazendo
quando se trata dela.
—Quero que fique assim, está bem? Vou buscar o seu café — digo.
—Nua?
—É vida, nua, gosto do seu corpo.
—Vou arrumar a cama então.
—Já fiz isso.
—Não precisava, eu mesma...
—Eu tenho o hábito de arrumar a minha própria cama e você não vai
me convencer do contrário, coloquei os dois colchões no chão, assim teremos
mais espaço.
É o melhor, arrumei o quarto enquanto ela estava conversando com
Sarah.
—Eu já volto.
—Ok.
—Seque o seu cabelo.
—Eu não trouxe o secador.
—Sarah trouxe, está no lavatório.
Não queria ter que ser assim e pensar em tudo, mas é quem eu sou e
aos poucos espero que ela se adapte a isso, que ela entenda que eu tenho esse
lado obsessivo em muitos sentidos da minha vida, mas que apesar de tudo eu
a amo e quero ver ela bem.
Lhe dou um beijo na cabeça e saio do banheiro, ouço o som do
secador alguns segundos depois, me seco e procuro alguma cueca dentro da
minha mala, coloco um calção e decido descer e buscar algo para Maria
comer, assim que chego a sala Nando vem na minha direção todo sorridente,
o passo curto e lento, mas que me faz cada dia ser mais grato em tê-lo por
perto.
Ele não foi uma criança concebida com amor, ele não foi desejado
nem querido pelo próprio genitor, um desgraçado que maltratou tanto a mãe
dele e fez de sua vida um inferno por conta de um estupro, mas ele é os
motivos de fazerem ela sorrir, de trazer vida e sentido aos dias dela e se
tornou os meus motivos de sorrir, de me sentir capaz e querer melhorar, por
ela, por ele.
—Tá tudo bem Jack?
—Está sim garoto, vem cá.
Seguro seu braço e o puxo, aperto o menino com força, Fernando
merece muito mais do que seu pai lhe ofereceu durante toda a vida.
—Jack, está me sufocando — diz ele sem fôlego.
—Essa é a minha forma de dizer que gosto de você garoto — digo e
deposito um beijo na cabeleira dele, me ergo e o solto. — Por quê? Não gosta
de abraços quentinhos?
—Tipo Olaf?
—Olaf, Olaf? — pergunto confuso.
—O Olaf de Frozen Jack — Nando ri — Poxa, você não conhece
mesmo os desenhos da Disney.
—Preciso de um bom instrutor, que tal me passar uma lista dos livros
e filmes que mais gosta? Assim quando eu estiver viajando podemos
conversar sobre isso, o que acha?
—Será o máximo — Nando comemora todo contente. — Eu já vou
começar, te passo até a hora do jantar ok?
—Certo.
E sai correndo antes mesmo que eu veja, sorrio.
Eu sei que posso ser muito melhor que isso para ele, quero ser o seu
único pai, quero que ele aprenda a me amar e a gostar de mim, não vou
decepcioná-lo nem machucá-lo.
Suspiro e percebo a presença do Phelipe perto da porta da sala, ele
está me olhando como se houvesse visto um fantasma ou coisa assim, fecho a
cara.
—O que foi? Nunca me viu?
—Ahhh, bem... é...
—Foda-se — digo.
Me afasto e vou para a cozinha.
Eu não teria tanta raiva dele se todas as vezes que olhasse para a cara
dele não me lembrasse das implicâncias, dos nomes feios que ele dirigia a
mim, ele e Jonas foram adolescentes terríveis e irmãos horrendos para mim e
o Alejandro, eles não merecem consideração alguma.
Me chamavam de bastardo, diziam que meu pai era um morto de
fome, quando mamãe não estava por perto eles faziam tantas ameaças que eu
acabava me mijando todo e quando mamãe me perguntava o que tinha
acontecido, eu não conseguia falar.
Tive uma merda de infância por culpa deles, minha maior mágoa é
saber que o curto tempo que passei nos últimos meses com mamãe por perto,
eles viviam fazendo de tudo para que ela não me desse atenção, e quando ela
morreu eu era uma criança medrosa e paranoica, tudo só piorou com a
rejeição e oposição deles a minha estadia na casa do meu tio, se eles não
houvessem me tratado daquela forma eu e o Alejandro não teríamos ido para
a casa da Clair e nada daquilo teria me acontecido.
—Jack — escuto o chamado atrás de mim.
Estou na cozinha pegando os ingredientes para montar uma bandeja
para Maria, ela merece depois da manhã puxada.
—O que quer Phelipe? — pergunto sem nem me dar ao trabalho.
—Sinto muito por tudo o que eu e Jonas fizemos na infância, sei que
isso me machucou e você não merecia nada daquilo.
É só que depois de tantas coisas eu nem consigo acreditar mais nessas
desculpas.
—Sei que falhei...
—Tá, tá, já pode ir Phelipe, não faz diferença, não preciso de vocês
para nada.
—Só queria pedir perdão.
—Não importa.
Fico tenso de lembrar que o Phelipe me tratava com muita
hostilidade, mas pior era saber o quanto ela e todos os Carsson me
desprezavam ao ponto de me negligenciar, de não quererem me reconhecer
como um legítimo, essa rejeição é uma coisa que nunca, nunca vou esquecer
em toda a minha vida.
Vejo Sarah entrando na cozinha ao lado do Alejandro, sei que o
Phelipe ainda está aqui, mas finjo que não me importo.
—Tudo bem por aqui? — Sarah pergunta — E a Duda?
—Ela está lá em cima — respondo. — Poderia terminar de montar
essa bandeja com café da manhã para ela?
—Claro — Sarah responde.
Acho que ela já percebeu que eu não estou muito a fim de ficar aqui e
falar com o Phelipe.
—Deixo na porta do quarto em dois minutos.
—Obrigado Sarah, com licença.
Me afasto e saio da cozinha, subo para o quarto e ao entrar fico
ouvindo o som do secador, me sento na cama e olho envolta me questionando
o porquê dessas alturas na vida meu tio me submeter a isso, permitir que
Jonas e Phelipe estejam perto de mim.
Como poderia esquecer de tudo e perdoá-los? Nunca conseguirei!
Simplesmente eu não conseguirei esquecer todos os traumas aos quais
fui sujeito por causa da rejeição deles, meu pai se suicidou porque por causa
deles mamãe voltou para o pai deles, eu fui abusado durante meses porque
eles fizeram meu tio me despachar para a casa da Clair, só Deus sabe o que
teria acontecido a Alejandro se eu não houvesse sido um escudo humano para
ele, sempre escondendo das garras daquela mulher nojenta, do ex marido
dela.
O que mais poderia ter acontecido de ruim da minha vida se eles
houvessem me aceitado? Me abraçado quando mamãe morreu, usado
palavras de carinho e afeto? Hoje sou um cara fodido emocionalmente por
culpa dessas coisas que aconteceram e eu nunca vou esquecer disso, é isso o
que me faz alimentar a vontade de vencer na vida e nunca precisar de nenhum
Carsson.
Escuto duas batidas na porta e percebo que minutos se estenderam,
vou até lá e ao abrir me deparo com o Alejandro, quando o olho é como se
visse um bocado do olhar de mamãe, generoso, calmo, alguém que é capaz de
tudo para fazer o próximo feliz, eu não sou assim.
—Tudo bem? — Ele questiona.
—Sim.
—Se quiser conversar...
—Eu não quero, obrigado por trazer, se puder ficar de olho no garoto
eu agradeço.
—Pode deixar.
Fecho a porta e deixo a bandeja em cima da mesa, o som do secador
cessou, tranco a porta na chave enquanto me dispo e vou até o banheiro.
—Vida! — bato na porta.
Maria abre com um sorriso com os olhos fechados me abraça e cobre
meu peito de beijos, isso faz com que o meu coração cheio de melancolia se
abra, se alivie e fique mais leve, ela é a minha cura, ela é a melhor coisa que
me aconteceu na vida, mesmo com tantos problemas ela ocupa meus
pensamentos vinte e quatro horas por dia e me faz rever tantas coisas.
Rever minhas atitudes, minha doença, tantas coisas, sei que agora
acima de tudo muito mais do que antes ela merece algo além do que posso
oferecer, eu a olho.
—Maria.
—Hum.
—Abra os olhos, sim? — peço concreto do que quero.
—Eu não quero.
Não?
—Por que não?
—Porque você não está pronto.
—Estou e quero que abra, eu pensei sobre isso, é uma decisão minha.
—Vamos fazer assim, vamos marcar uma data, e vamos a um jantar,
lá você pode aparecer para mim.
Acho que agora, Maria quem não se sente pronta, mas o importante é
que estamos dando passos em nosso relacionamento.
—Está bem, quando eu vier no mês que vem, então.
Espero que o mês passe rápido e que até lá eu consiga lidar com isso.
Nível 19 da atração
—Odiei a oitava série — escuto ela falar.
—Odiava o internato.
—Era solitário?
—Bastante.
Tomamos café, agora estamos deitados na cama, seu corpo junto ao
meu, Maria está tão relaxada que me sinto a vontade para falar sobre o que
quer que seja a meu respeito.
—Quando a minha mãe morreu, eu me tranquei no quarto por um dia
inteiro, meu tio quase enfartou de preocupação.
Ela toca a minha nuca, faz com que me sinta bem, alguém que merece
mais atenção e cuidado, adoro isso nela.
—Ele achou que eu havia fugido, me escondi dentro do guarda roupas
—continuo e lhe faço carinho nas costas. —Nesse dia, eu e Alejandro
ficamos o dia todo agitados, ele era apenas um menino de três anos.
—Devem ter sofrido um bocado.
—Foi difícil —cheiro seu nariz, é um pequeno hábito, minha forma
de dizer “aceite que sou estranho” —Você é parecida com ela.
—Sou? —questiona constrangida. —Fala a personalidade?
—É, você é uma mãe maravilhosa para o seu filho, minha mãe era
assim comigo e com Denzel —admito. —Quando morávamos com o nosso
pai, não tínhamos muito, mas éramos felizes.
—Eles eram felizes.
—Sim, mas eu sempre notei que mamãe não era completamente feliz
por causa dos meus outros dois irmãos mais velhos.
—Não tem como escolher entre um filho e outro.
—Ela se sentia culpada por não ter trazido eles, então, o marido dela
nos achou, ele começou a perseguir ela quando o meu pai não estava por
perto, fez com que ela ficasse com consciência pesada, depois ela deixou meu
pai e levou nós dois, ela o amava, mas não poderia deixar mais os dois filhos
para trás.
—O seu pai era um bom homem!
—Os dois eram, não tenho nada para falar sobre Denzel, o pai dos
meus irmãos eram um homem correto e muito bom, seu único defeito era que
ele tinha uma reputação a zelar e se importava mais com isso, do que com o
que as pessoas a sua volta queriam.
—Imagino que tenha sido difícil.
—Amava meu pai.
Amava muito ainda que fosse só uma criança pequena quando ele
partiu, sinto que se papai estivesse vivo nada daquilo teria acontecido
comigo, com Alejandro. Eu a olho, sei que não estou pronto para isso, mas
não quero sentir que não estou, quero os sentimentos de Maria, quero viver
isso com ela, ainda que não mereça por conta de tudo o que sou e fiz no meu
passado.
—Você me dá tanta paz.
—Dou?
—Dá, você é ótima, vida.
Seu sorriso vem acompanhado de um beijo.
Eu a quero só para mim, hoje e todo o sempre.
—Amo você, Maria.
—Também amo você.
—Para sempre.
—Para sempre.
Eu a puxo ciente que sorrio, a beijo, quero ela comigo em todos os
momentos, me sinto mais leve quando ela está ao meu lado, eu a observo
depois de alguns momentos, a abraço, me deito em cima dela.
—Você é linda.
—Eu sei.
Rio de sua falsa modéstia.
—Quero que você tenha absolutamente tudo.
—Já tenho tudo o que quero bem aqui.
Porra Maria, seria ótimo que isso tudo durasse muito tempo, que você
não falasse isso da boca para fora, mas sei que quando souber de toda a
verdade por trás de quem eu sou, as coisas talvez não continuem assim.
—Com a loucura?
—Com os problemas.
—Você sabe que eu preciso te levar ao menos uma vez no mês na
casa do meu tio, certo?
—Mirna?
—Meu tio também quer conhecer o Fernando.
—Falou dele para o seu tio?
—Claro que falei, ele é como um filho para mim.
Quero que o garoto tenha uma oportunidade de ir a um bom médico, a
um psicólogo, que ele cresça e seja alguém muito melhor do que eu consegui
ser.
—Não sei, quando eu o vi foi automático, ele é uma criança cativante.
—O Nando é um menino muito bom.
—Ele é doce e adorável, não por sua limitação, mas pela vontade que
ele tem de fazer as pessoas aceitá-lo.
—Ele não entende que isso não é um problema para mim.
—Ele te ama e quer ver você bem, ele precisa de uma psicóloga, vai
ter uma para acompanhá-lo, você também.
—Ah, Jack, eu.
—Já sabe a resposta, não sabe?
Lhe dou um beijo e ganho uma mordida na boca.
—Depois que a gente mudar para a América, eu quero trabalhar.
Ouvir isso é reconfortante, significa que ela aceita a ideia.
—Até lá, você poderá aproveitar para descansar todos os anos que
trabalhou sem férias.
—Vou sentir falta da minha família.
—Sua família ficará muito bem, segura, e podermos vir sempre nas
férias, ou eles irem nos ver, isso não é um problema.
Não quero que tenha dúvidas disso, porque significará que não me
ama o suficiente para vir comigo e eu sei que a minha vida será um
verdadeiro inferno se não tiver ela e o Fernando comigo, eu sei que nunca
será a mesma coisa, porque eles são parte da minha vida agora, parte de mim.
—Não imagina o quanto é ruim quando estou longe de você, Maria.
—Não precisa se sentir tão ansioso.
—Não paro de pensar um segundo em você.
—Você não me falou o que fez essa semana.
—Fiquei toda semana em Paris, na sexta fui à casa do meu tio vê-lo,
trabalhei muito para poder tirar esses dias com você.
—Você trabalhou quantas horas por dia?
—Entre 20 e 22 horas.
Ela se espanta, mas é algo normal.
—Não tenho dificuldade em ficar acordado, sou um pouco ansioso
demais, quando eu tiro algum tempo para dormir é porque eu já estou muito
cansado.
—Isso seria...
—Umas cinco horas por noite, se chegar a isso tudo.
—Eu durmo seis.
—Tem que dormir oito.
—Você também.
—Agora que estou aqui, acho que vou conseguir descansar.
—É? Deveria ter começado ontem.
—Não espere dormir muito bem a noite essa semana, Senhora
Carsson.
Ainda que esteja rindo, faço uma careta porque ela me belisca, eu a
beijo, quero mais, sempre.
—Desde que te conheci, não consigo querer mais nada.
—Você não tinha namorada há muito tempo?
—Alguns meses.
—Da agência?
—Sim.
Está surpresa, mas nem imagina que para mim foi bem complicado
ficar todos esses dias longe dela.
—Não é a falta de sexo, Maria, é você, você me deixa assim, nunca
tive uma libido tão forte.
—Por quê?
—Querida, me sinto atraído.
—Por quê?
—Não tem como você explicar por que o seu pau sobe toda vez que
vê uma mulher, Maria.
Ela não gosta do que eu falo, estou rindo da cara de brava.
—Quanto tempo consegue ficar sem sexo?
—Três a quatro meses, isso varia muito, já fazia uns seis meses que
eu não tinha nenhuma relação, estava muito focado nos negócios.
—Você é muito ocupado.
—Viajo bastante em algumas épocas do ano, mas tento ficar na
empresa, ela precisa muito de mim.
—Você vai ficar com a gente?
—Claro que vou, não deixaria vocês com a diversão sozinhos por
nada.
—Você sabe ser legal as vezes, Jack Carsson.
—Apenas finjo.
—É? Então finge muito bem.
—Só para parecer bonzinho as vezes, o Alê não pode ficar com todos
os créditos.
Queria ser bonzinho, mas bonzinho não sou, nunca serei.
Maria ri sem fazer ideia do quanto sou verdadeiro, mas não ligo, eu a
beijo assim, toco sua perna, anseio por um pouco mais dela em mim, vou
para o lado e ela vem me beijando com desejo, toco seus seios atiçado
demais, ela traça beijos por meu pescoço, meu peito, meu abdômen, mas eu a
puxo para cima sem esperar que faça nada, continuo a beijá-la como quero.
—Sua boca me deixa louco.
Mas antes quero que descanse um pouco.
—Durma um pouco.
Ela assentiu, vai para o lado e me abraça, os olhos fechados, os lábios
vermelhos, tudo o que mais quero bem aqui, ao meu lado.
Outras brigas
Entro na sala escutando a conversa, observando Maria segurar a filha
do Phelipe como se fosse de louça, não queria ela perto deles, mas pelo visto
ela já é bem familiarizada.
—Boa noite, Maria, você pode preparar o meu jantar, por favor?
—Aham —Maria se levanta. —Gil, você vem?
—Claro.
Ambas saem de braços dados, Maria carregando Blair, vou para a
poltrona perto da janela, acabo de acordar, achei que Maria estava lá. Mas ela
não estava então desci, todos estão reunidos na sala, Alejandro parece um
pouco mais a vontade entre Jonas e Phelipe... bom para ele.
Quero distância.
Acho que eu nunca vou realmente saber lidar com ninguém, mas
ainda é muito pior pensar em ter que lidar com eles, coço a barba por fazer,
espero alguns minutos esperando enquanto Maria arruma o jantar.
Ninguém fala nada, ninguém diz nada, apenas silêncio.
—Nossa pescaria ainda está de pé para amanhã Jack? — escuto Jonas
perguntar.
—Não — respondo secamente. — Eu não me lembro nem de ter
combinado pescaria alguma com vocês.
Me levanto e vou para a cozinha, Phelipe vem atrás de mim em
silêncio, não estou muito a fim.
—...Ela dormiu comigo ontem, acho que hoje será do mesmo jeito —
Gil fala e para de sorrir.
E eu que achava que era o único da família que arrancava os sorrisos
dos lábios das pessoas...
—Você acha que o meu inglês está bom? — Maria está distraída.
—Sim, você fala muito bem.
—Obrigada, Senhorita Gil.
Ela já colocou meu jantar num prato, um copo com suco de laranja,
me sento atrás dela, Phelipe se senta na outra ponta da mesa, ele fica olhando
para o Gil calado, pensativo, Maria está sentada de costas para mim ainda que
ao meu lado, ela fez de propósito se sentou de costas para a porta da cozinha
e está sentada de frente para Gil.
—Quando você irá me visitar na América? — Gil pergunta para
Maria.
—Em breve, eu espero, onde você mora?
—Eu moro em Nova York.
—Você é enfermeira do Senhor Carsson?
—Sim, eu sou enfermeira chefe.
—Que chique!
Começo a comer, Maria beija Blair e a entrega para Gil, fico
imaginando como seria se ela tivesse um outro filho nosso, sei que ela seria
uma mãe perfeita, maravilhosa, não posso dizer o mesmo de mim.
—Você é muito engraçada, Maria.
E você não sabe o quanto.
—Eu sei, eu sou demais. —Ela mexe nos cabelos e isso é engraçado.
—Obrigada.
—Desde que te vi, tive a impressão de que você é uma pessoa muito
tímida. —Gil também ri. —Você é, mas quando está perto da sua amiga,
você é muito diferente.
—É que eu e a Sah somos quase irmãs, eu sou muito na minha, mas
em casa eu sou mais tranquila, gosto que as pessoas se sintam felizes perto de
mim.
—Gosto de pessoas assim.
—Eu sei —Maria faz um gesto costumeiro com a mão. —Todo
mundo me adora!
Convencida!
Quero rir, mas me detenho.
—Você mora no Rio há muito tempo?
—Nasci no Rio, mas tenho parentes em vários outros lugares.
—Você conhece o Cristo?
—Aham, eu ia muito quando criança, a Sah vive levando o Nando,
eles dois vivem muitas aventuras aos domingos.
—E você?
—Preciso estudar, e eu pego os casos do corpo jurídico da faculdade,
então, já viu.
—Você trabalha na faculdade?
—De graça, na vara de família, não é um trabalho, eu pago horas na
minha grade, vou aos sábados para o núcleo com alguns outros alunos e
organizamos palestras.
—Você está concluindo?
—Graças e glórias em nome de Deus Coroado, Sim!
—Amém! —Sarah berra da sala.
Acabo rindo, é inevitável.
—Eu termino esse ano, um pouco tarde, mas tive um professor que
me disse uma vez, que quando queremos o conhecimento, tempo é apenas um
pequeno detalhe.
—Você foi mãe muito cedo.
—Tive que trabalhar, mas eu aprendi muitas coisas.
—É? Do que trabalhava?
—Eu trabalhei de caixa um tempo, depois eu fui para Meta e lá estou
há uns quatro anos.
—Gosta do trabalho?
—Aham, mas eu quero logo me formar, mal vejo a hora de prestar um
concurso, quero ganhar um dinheiro sabe, levar o Fernando para Disney, é o
sonho dele.
—E o seu sonho?
—Eu o realizei quando entrei para faculdade, ainda realizo em suaves
parcelas mensais, mas para mim, começar a estudar foi um sonho
concretizado.
—Seu sonho era estudar?
—Sim, para ter uma profissão, algo do qual a minha mãe se
orgulhasse, sempre quis retribuir para ela tudo o que fez por mim, dar
conforto e tudo o que eu pudesse, ela me criou sozinha, hoje ela vive melhor
graças ao Van, o meu padrasto, mas o meu sonho é me formar e colocar o
meu diploma na parede da sala dela —Maria diz com sotaque arrastado, mas
fala muito bem para uma iniciante. —Errei alguma palavra?
—Nenhuma —Gil responde. —Você é muito diferente do que eu
pensei, Maria.
—É? —Ela ergue os ombros intrigada. —O que você pensou?
—Achei que você era dessas metidas e tal.
—Acho que é porque eu não sou muito de ficar puxando assunto.
—Eu também sou assim.
Ela chama Gil com a mão e Gil se inclina para o rumo dela toda
confusa.
Maria cochicha algo para ela isso faz Gil gargalhar, depois pega a
Blair do colo de Gil e volta a beijá-la.
—Minha amorzinha, você é a bebezinha da titia?
Sei que ela seria uma ótima mãe para outro bebê, ela é tão terna com a
Blair.
—É a fofinha? Você é a minha princesa? —a filha de Ph sorri no colo
dela. —Que coisa mais gostosa da tia.
Gil se levanta e vai para o rumo da geladeira.
—Se você não tratar os meus filhos assim, eu juro que te mato —
Sarah vem da sala e se senta onde Gil estava sentada. —Posso pegar ela?
—Cuidado —Maria aconselha entregando a menina para a amiga. —
Ela não é um anjo de Deus?
—Ela é perfeita, você lembra como ele era pequenininho quando
nasceu?
—Aham, ela é muito dócil.
—Acho que quero uma dessas daqui um tempo.
E eu tenho certeza de que até lá o Alejandro vai ter um treco porque
se conheço bem aquele lá...
—Acho que a única vantagem de ter um filho de alguém dessa
família, é que os olhos são azuis.
—Amanhã a Gil vai correr com a gente —Sarah determina. —A Júlia
vai ficar com ela para a gente.
—Eu posso ficar —Phelipe fala.
—A Júlia disse que não se importa, e, mulher tem mais jeito com
bebês. A Gil precisa ficar sarada para o namorado dela.
Não sabia que a Gil estava namorando ninguém, não resisto em olhar
para o idiota do Phelipe, é tão bom ver ele sofrendo...
—Ele não é o meu namorado, Sarah...—Gil replica entregando o copo
de água para Maria.
—Ah, mas você disse que ele é um médico muito gato que trabalha
com você e tal.
—Gente, ele é o meu amigo, o Doutor Simpson.
—Benny? —Phelipe está sério —Você está saindo com ele? Que
bom!
—Somos amigos — Gil replica.
Fala que estão namorando!
—Acho melhor eu ir para o meu quarto, hoje eu durmo com ela, pode
ficar tranquilo —Gil pega Blair para si e se afasta apressada. —Boa noite a
todos.
Ah, agora que estava ficando divertido?
Sarah sai da cozinha toda alegre, semeou a discórdia é claro, ao
menos para alguma coisa serve.
—Sabia que ela estava saindo com ele —Phelipe fala então Sarah
retorna e se senta novamente na cadeira. —Ele é um cara legal.
—O que você tem a ver com isso? — pergunto.
—Nada —Phelipe fala. —Apenas soube pelo tio, ele disse que Benny
pediu permissão para sair com a Gil, você sabe que a mãe dela morreu há
dois anos, ela é só desde então.
—Ela é só desde sempre —corrijo. —Não se aproxime dela.
—Acho que não preciso que fale, ela já deixou bem claro que não me
quer por perto.
—Que bom.
—Eu acho que você deveria conversar com ela —Maria fala de onde
está. —Já que não tem jeito com a Blair, para ela te ajudar.
É o que?
—Tem razão—Phelipe concorda. —Vou agradecer por ela ajudar.
—Por que não sobe e não conversa com ela? —Maria indaga.
Me irrito, deixo os talheres caírem no prato.
A última coisa que a Gil precisa nesse momento é de um idiota como
ele perto dela, papai mesmo nunca aprovaria isso depois de tudo o que ele fez
a ela, ela merece coisa melhor do que viver com um cara como Phelipe
Carsson.
—É algo difícil, Gil nunca me perdoou —Phelipe diz. —Jack, você
não precisa ficar irritado, vou dar um jeito de ir embora amanhã mesmo.
Ainda bem...
—Isso é que não —Maria fala. —É a minha casa, pode ficar.
Que?
—É uma situação constrangedora.
—Jack entende que vocês querem uma aproximação, amanhã mesmo
irão pescar.
Não, eu não entendo Merda.
—Eu não concordei com isso — consigo falar em meio a raiva que
sinto.
—Ele iria hoje, mas eu não me senti bem, então, adiou, amanhã
mesmo podem ir pescar os quatro, levem o Joseph.
—Está bem —Phelipe se ergue. —Obrigado.
—De nada —Maria fala e Sarah se levanta também. —Põe o Nando
na cama? Eu e o Jack já estamos subindo.
—Ok —diz Sarah e ambos saem da sala.
Fico engolindo toda a raiva que sinto e tentando ponderar, mas não
consigo.
—Por que fez isso? —explodo. —Você não pode tirar a minha
autoridade na frente dos meus irmãos, de ninguém.
—Apenas expliquei o que aconteceu...
—Não faça mais isso —corto. —Idiota.
—Está bem.
Estou extremamente irritado com a decisão dela, ela não deveria ter
feito isso, ela se levanta e vai andando para o rumo da porta. Percebo que
gritei com ela e não queria isso, ainda que esteja com muita raiva.
—Maria...
—Não se aproxime de mim.
—Me desculpe — falo com raiva, mas de forma sincera.
—Não.
Merda!
—Eu não queria.
—Acho que um pouco de respeito seria bom, também, que não ficasse
gritando assim com as pessoas na nossa casa, e terceiro, eu não sou idiota—
Maria fala chateada. —Vamos subir, o Nando precisa de um pouco de
atenção.
—Não quis fazer isso.
—Eu sei, eu acho que você só precisa aprender a se controlar.
—Não fique magoada.
—Eu acho que já percebeu que eu não estou acostumada com pessoas
gritando comigo a todo momento, eu não sou de louça, mas eu não gosto
desse tipo de coisa, tenho um filho de dez anos e eu não quero que ele
presencie esse tipo de situação.
—Sinto muito, eu vou fazer o possível para que não aconteça.
—Acho bom.
Ela se afasta de mim, tensa, ainda sinto dentro de mim como se tudo
tremesse, é involuntário, não é algo que eu controle sempre, mas no fundo me
sinto mal porque não queria que acabássemos discutindo de novo.
Nível 20 da atração
—Vocês brigaram?
—Não vem bancar o irmão bondoso, isso não combina com você
Phelipe.
—Posso me sentar aqui?
—Não.
Mas ele se senta mesmo assim, acho que até que não queria ouviu
minha briga com a Maria ontem, ela saiu para correr com a Sandy e respeitei
a distância porque sei o tamanho da merda que fiz ontem, ignoro eles
totalmente.
—E a nossa pescaria? Ainda tá de pé?
—Não.
—Jack eu sei que você não gosta de mim, mas não foi legal o que fez
com a Maria ontem.
—Ah entendi, você acha que serve de base para me dar sermão.
—Ela só queria ser gentil conosco.
Acho que não tem justificativa mesmo, fico estressado e ela não tem
culpa disso, infelizmente nem sempre consigo me controlar na mesma
proporção que quero, eu também não estou tomando os remédios então as
coisas meio que saem do controle, não gosto de me sentir dependente demais.
Phelipe dobra as pernas e passa os braços envolta, fico parado sem
saber o que dizer e como agir, sei que de todos nós o único que ainda passa
perto da normalidade é ele, sempre foi um homem responsável e consciente,
diferentemente de mim, Jonas e Alejandro ou até mesmo da Júlia.
Eu fico tentando imaginar como seria nossas vidas se mamãe
estivesse aqui conosco, ao menos ela, sei que todo esse buraco familiar foi
constituído a partir do momento em que ela deixou eles, eu sempre fui
consciente disso, mas que muito pior do que ela ter partido, foram as coisas
que aconteceram quando ela voltou para a casa de Flora depois de ter fugido
com o meu pai.
Porque ela morreu e todos nós crescemos num lar dividido, eu não, eu
fui para um internato, porque me tornei uma criança intragável e complexa,
mas ele, Jonas, Alejandro e Júlia foram crianças que cresceram tendo que
lidar com Mirna e aos olhos dos hipócritas da família.
Eu queria não ter sido fruto da divisão da família porque sei que
mamãe meio que abandonou ele e o Jonas por minha culpa, mesmo que isso
não justifique o fato deles terem me tratado com tanto descaso na infância.
—Ela é uma boa mulher.
—Eu sei que é Phelipe, eu sei que não mereço ela e que sou um puto
de um merda por sujeitar ela a tudo isso, o que mais quer que eu saiba? Por
que nada do que você falar vai fazer com que eu mude do dia para a noite?
Acha que eu não tento? Que eu não me esforço para ser um bom esposo para
ela?
—Eu sei que está dando o seu melhor, sei que é difícil para você lidar
com a síndrome e com a depressão Jack, acho que deveria trocar de
psicólogo, quem sabe um psiquiatra possa te ajudar melhor?
—Lane me ajuda.
—Maria já sabe que você teve um caso com ela?
—Eu não tive um caso com a Lane, quem te disse isso?
—Você acha que nós não nos importamos com você ao ponto de não
sabermos da sua vida Jack? Papai, eu e Jonas sempre nos preocupamos muito
com vocês três.
—Não me venha com essas lições de moral...

—Não é lição de moral, só estou dizendo que queremos você bem,


sabemos que no passado por causa do que fizemos isso causou marcas em
você e Alejandro, mas eu estou disposto a mudar isso, não posso fazer isso
sozinho.
Fico calado refletindo sobre cada palavra, sei que é sensato o que ele
fala, mas são apenas palavras, não posso dar credibilidade a isso.
—Maria não sabe de tudo sobre mim Phelipe, ela não sabe de metade
das coisas ruins que eu fiz na vida, mas eu quero ir aos poucos falando com
ela sobre isso, tem coisas que eu não sei se conseguirei falar para ela, mas eu
e Lane não tem nada além de uma relação paciente e médica.
—Eu sei que hoje você está mudado Jack, você é um bom rapaz.
—Eu não sou um rapaz, sou um homem.
—Tudo bem, homem.
Viro a cara zangado pela forma como ele ri, Phelipe passa o braço
envolta do meu ombro e dá duas batidinhas, fecho a cara, mas não me afasto,
duvido muito que consiga perdoar ele tão fácil, mas é isso, pela primeira vez
na vida parece que alguém dessa família se importa um pouquinho comigo.
Eu não queria ir, então foi uma boa pescaria, mas tive que ficar
aturando as piadas de pescador do Alejandro e as piadas sem graça do Jonas
sobre sereias, então decidimos vir para onde Maria decidiu tomar sol com as
outras mulheres, fiquei me perguntando se deveria vir também por alguns
momentos até que decidi que não posso me privar de ficar com ela só porque
não gosto muito da companhia dos demais.
Sei que Maria ainda está muito chateada por ontem, mas quero me
reconciliar com ela.
Apostamos uma corrida até o mar, estava pela primeira vez me
sentindo um pouco mais familiarizado com o Jonas, ele parece um pouco
mais contente e disposto hoje, as vezes tenho a impressão de que ele vive
meio cansado ou coisa assim.
Saímos a pouco, Alejandro ficou de trazer uma cerveja, mas está
demorando, me aproximo observando Maria deitada só de biquíni.
Ela está inquieta e Sarah não parece das mais amistosas, fico
observando a bunda dela redondinha no biquíni, a cintura mais fina, os
quadris mais largos, salivo, tenho um mulherão da porra do meu lado.
Levo uma cotovelada da Gil e fico sem graça.
Me inclino e a pego no colo, Maria usa um óculos de sol e tem um
pano na cabeça.
—Vem Eduarda, vamos dar um mergulho.
Eu não quero que ela continue brava comigo, eu quero fazer as pazes,
eu a amo demais para continuarmos assim, mas principalmente porque sei
que devo me reparar com ela. Carrego ela para longe e tiro o óculos do rosto
dela junto do pano, ela aperta os olhos.
—Uma hora você vai ter que me ver.
—Não quero.
Sabemos que isso não é verdade.
—Eduarda, eu já disse que pode abrir os olhos.
—Temos um acordo, mês que vem, no nosso encontro.
Entro no mar, Maria suspira se agarrando a mim.
—Quero que me veja — insisto.
—Não queria até esses dias atrás.
—Não tinha percebido que isso é necessário para nossa relação.
—Eu não me importo mais.
—Então, não vai se importar de abrir os olhos.
—Mês que vem no meu jantar.
—Está brava por ontem?
Que pergunta mais idiota, sei que ela está, mas não sei como tocar no
assunto.
—Mais ou menos.
—Não fique brava.
—Já passou.
—Não queria gritar, me descontrolei, me desculpe por ter chamado
você de idiota.
—Eu entendo que seja difícil ser assim, Jack, mas não somos apenas
nós dois, tenho um filho.
—Eu sei, farei de tudo para que não se repita, nem que não tivesse
ele, eu não deveria ter falado aquilo, vida, me desculpe.
—Tudo bem.
Eu a beijo, isso faz com que me sinta melhor, ao menos um pouco, eu
a solto e Maria se segura em mim, ainda sinto um pouco de receio de que
quando ela me veja, entre em pânico, mas quero que as coisas aconteçam
mais entre nós, quero que ela me veja como eu sou, mesmo que o excesso de
defeitos não permita que ela veja algum lado bom em mim.
—Não tem peixe nesse lugar, mas achamos uma cachoeira.
—Mesmo? — Ela sorri. —Quero ir lá.
—Amanhã eu te levo. —coloco um beijo em sua cabeça. —Esse
biquíni ficou muito bom em você.
—Obrigada.
—Você está bebendo?
—Estava, acho que não nasci para isso, também estou começando a
ficar com fome, as meninas querem aproveitar o dia na praia.
Acho que posso tentar preparar algo para ela, tentar compensar mais a
Maria por tudo o que ela tem feito por mim.
—Quer que eu prepare o nosso almoço?
—Acho que seria pedir demais, eu mesma faço, e, hoje tem que ter
comida, claro, está muito quente, mas é muita gente.
—Está bem, vou ficar com o Fernando.
Eu a beijo, quero poder superar isso, eu a aperto enquanto nos
beijamos, ela me abraça tocando minhas costas, posso sentir a atração nos
queimando pouco a pouco, o desejo que sentimos quando estamos muito
perto.
—Quero você.
—Eu também quero você, mas o Fernando está vindo aí com a
Júlia.
Maria afunda e fico um bocado constrangido porque o meu pau está
completamente duro, Maria vai para longe e respiro bem fundo várias vezes
antes de me reaproximar, o garoto vem correndo todo feliz para perto.
—Tava namorando né?
—Um pouquinho só garoto, você aprova?
—Um pouquinho só Jack.
Fico rindo enquanto carrego o garoto para fora da água, coloco o
garoto no chão e me aproximo de Maria e de Júlia, passo o braço envolta da
minha mulher, beijo-lhe a cabeça, abraço a Júlia também.
—Vamos, Juh dois!
Gosto mais é de você.
—Gostei do apelido.
Grato
Empurro ela contra a porta e a beijo sem conseguir segurar por mais
um segundo se quer, Maria vem puxando minha camisa entendendo o recado,
mostrando que também quer levar surra na buceta, eu não sei como consegui
segurar tanto tendo ela por perto, olhando-a a cada segundo usando biquíni.
Quase não conseguimos ter tempo para nós dois, a porra da tensão
sexual estava acabando comigo.
Puxo ela para cima e Maria se livra do biquíni, ela lambe meu queixo
de um jeito ousado e não hesito em penetrar ela, seu corpo sobe e meu pai
entra todo nela sendo revestido pela carne quente.
Ela abre a boca querendo a minha, me inclino enfiando a língua na
boca dela e nos beijamos, meus quadris descem e sobem e provo da deliciosa
sensação que é meter dentro dela, Maria aperta as pernas envolta de mim e
quanto mais entro mais enlouquecido fico.
Ergo suas mãos e as pressiono contra a porta, olho o pau saindo
vagarosamente e entrando mais uma vez, provando a sensação de ser
pressionado pela buceta dela, gosto de sentir que ela é só minha, de controlar
ela, ela está sob meu total controle.
Mordo seu seio devagar e prendo o mamilo entre os dentes estocando
com força, a bunda dela bate na porta fazendo um barulho alto, Maria gosta
disso, ela adora, está tão ou mais excitada que eu, a prova disso é a forma
como seu calor me faz deslizar para dentro dela.
Eu a olho e coloco mais uma vez a língua em sua boca, Maria a
prende e a chupa me fazendo soltar um gemido, meto com mais rapidez
ouvindo o som que a bunda dela faz na porta se espalhar pelo quarto.
A metida é gostosa e intensa, ela é firme enquanto me deixa foder
com ela, aguenta a metida toda molhada, viscosa para mim, os seios dela
pulam enquanto fazemos isso de um jeito muito bom.
É um prazer que nunca compartilhei com ninguém, algo que me faz
me sentir fora de controle e ao mesmo tempo contido, quero mais, com ela
quero sempre mais, quero tudo e além disso.
Vontade de morder essa buceta...
Eu a ergo para cima ouvindo o som de um grito cheio de manha,
começo a lamber ela apoiando suas pernas em meus ombros, ela morde os
lábios de olhos fechados e puxa meus cabelos, chupo toda ela sentindo que
estremece bem na ponta da minha língua.
Ela goza rapidinho e adoro isso.
Sorrio puxando ela para baixo, coloco ela no meu pau novamente, a
buceta vem deslizando e me melando todo, ela se segura em mim.
—Você não vale nada, Jack Carsson.
—Você está salgada, deliciosa.
—Me deixe provar.
Ela me beija de forma instintiva, aperto a bunda com força e ela se
move comigo, escuto seus sorrisos e isso me dá prazer, seus beijos me
enlouquecem, eu a vejo mais uma vez estremecer em um segundo orgasmo
mais lento e a cabeça do meu pau começa a ficar mais sensível, tiro, Mas
Maria não quer parar, ela ergue os quadris mais uma vez e segura meu pau
colocando ele dentro dela de novo.
—Não vou segurar, eu não consigo.
—Consegue.
Respiro fundo e procuro a parede mais próxima, apoio as mãos na
parede e tento me manter calmo, o máximo que posso, ela se move sozinha,
os quadris serpenteando no meu pau, a boca explorando a minha sem pressa.
Olho para baixo e me contraio, franzo a testa vendo a buceta
deslizando no meu pau, é muito foda essa sensação, a porra está presa.
Ela me tortura... isso me traz algumas recordações das quais não
quero lembrar nesse momento.
—Vou gozar. —aviso. —Maria, por favor...
—Não.
Porra Amor, não ferra!
Lhe dou um beijo, ela rebola em mim metendo com mais lentidão, ela
me aperta e sorrio negando com a cabeça, eu adoro isso nela, adoro que ela
queira me dar muito prazer. Ela me aperta e os quadris dela tremem, tiro o
pau sem conseguir segurar por mais um segundo se quer, enquanto gozo sinto
essa coisa me tomando todo dos pés à cabeça, fico parado recebendo o
prazer. Demoro alguns minutos até que consiga me recuperar.
—Banho, Senhora Carsson?
—Aham.
Eu a levo para o banheiro, reflito um pouco sobre tudo enquanto a
coloco dentro do box, ligo o chuveiro e começo a lavar ela, Maria lava os
cabelos e sei que ela está mais relaxada, sinto que meu corpo também se
rendeu ao êxtase, agora posso descansar um pouco mais.
Tomo banho e ela me espera, num canto do box de costas para mim,
sorrio, amo tanto essa mulher, tanto, acho que ela não imagina o quanto me
sinto bem em saber que pude tirar esses dias para ela.
Termino meu banho e a conduzo para fora do box, eu a seco com
cuidado, ela sempre primeiro, me seco e a pego no colo, levo ela para os
colchões que colocamos no chão do quarto, não quero discutir hoje, apesar de
ter sido um dia basicamente em “família” não tenho nenhuma vontade de
discutir sobre isso.
Maria recebeu uma ótima notícia pela manhã do Brasil, vai ter um
evento importante na faculdade, não quero estragar seu dia depois de vê-la
tão feliz, me orgulho muito dela, sei que ela merece cada conquista, ela é uma
mulher muito batalhadora.
—Quer alguma coisa? —pergunto.
—Não, quero que fique aqui comigo.
—Vou pegar uma roupa para você, talvez o Fernando venha.
Me afasto e pego uma camisa para ela, visto uma camisa e coloco
uma cueca, retorno aos colchões e visto a camisa nela, Maria não se queixa,
em nenhum momento durante o dia ela ousou meu olhar, ela respeita muito
isso mesmo que agora seja diferente. Me inclino e coloco um beijo em seus
lábios, vou me deitando sob seu corpo, ela me toca e me sinto grato, tenho
tanta sorte.
—Você é só minha.
Maria afasta meus cabelos para trás, sorrio olhando-a.
—Fico muito feliz pela sua conquista na faculdade.
—Ainda não é nada certo. —diz intimidada. —Vamos ver se
convenço Iago.
—Ele é apaixonado por você.
Não gosto nenhum pouco disso, ouvi o tal do David falando e fiquei
enciumado, mas não quis estragar seu momento com aquilo.
—David só estava exagerando.
—Disse que não tinha amigos homens.
—Ele é gay.
—E esse Iago?
Preciso saber, quero ele longe de você.
—Ele é diretor da faculdade, não tenho muito contato com ele. —
Maria diz. —Ele vai no conselho as vezes, mas muito raramente converso
com ele.
Agora é que eu não quero mesmo você perto dele.
—Tenho muito ciúme.
—Tudo bem.
—Quando vai ser?
—Costuma ser na segunda semana de julho, mas se eu não ganhar,
quem tomará de conta é a Fabi.
—Todos ficaram felizes por você, você consegue.
Maria fica reflexiva, sei que deixar tudo para trás será complicado
para ela.
—Você vai sentir falta da sua vida no Brasil, não é?
Ela fica calada por longos momentos.
—Vou, não tenho tantos amigos e nem nada, mas eu acho que seria
bem pior não ter você por perto.
Maria faz com que me sinta suficiente, importante, útil para ela, me
sinto feliz de saber que ela também apesar de tudo quer estar comigo. Isso me
faz lembrar algo.
—Sábado faremos um mês juntos —digo. —Quero que você venha
comigo no iate, para um passeio só nosso.
Maria concorda com um breve assentir de cabeça.
—Obrigado por aceitar.
—Não precisa agradecer.
— Você está feliz?
—Sim. —eu a beijo. —Muito mesmo.
—Que bom!
—E você?
—Também.
—É?
—Sim.
Eu a beijo, um completo louco por essa mulher, apaixonado como
nunca estive, mordo seus lábios.
—Você é diferente de tudo o que eu conheço, mas eu não quero que
você se afaste de mim Jack, eu amo você.
Porra, eu também te amo amor.
—Também amo você. —minha garganta se fecha. —Muito obrigado
por ter aceitado.
—Não precisa agradecer, Jack.
—É que eu sei que as vezes passo dos limites, passei dos limites com
você, se ao menos eu fosse normal, talvez nós dois não tivéssemos brigado
tanto.
—Você é diferente, eu já aceito isso, não me importo.
—Sinto que a exponho.
—Eu não me importo.
—Me desculpe.
—Não comece.
A vontade de rir com esse “não comece” sempre vem de forma
involuntária, me deito de costas e fico olhando para ela.
—Phelipe me deu uns conselhos, ele serve para alguma coisa, acho
que a morte da mulher o deixou um pouco maduro.
—Que bom que está mais próximo do seu irmão.
—Eles são uns merdas.
Ela ri, a coitada nem sabe o que eles sofrem nas minhas mãos.
—Você é o máximo—digo.
—Eu? —Maria ri ainda mais. —Acho que você se enganou.
—Você não sabe o quanto a minha vida mudou depois que te conheci.
—Por exemplo.
—Não permitiria que eles ficassem, não deixaria você no controle.
—Minha ilha, minhas regras.
Será mesmo?
Medo aniquilador
—Meu tio gosta de agradar as noras dele.
—Entendi o recado.
—Deu a Jonas um haras, ele se formou em veterinária, gosta de
cavalos.
—Eu também.
Não paro de rir, toco o cantinho dela com cuidado, Maria está
relaxada. Sei que posso falar sobre o que quer que seja com Maria, ela acima
de tudo é minha melhor amiga, a minha única amiga que tenho, nunca tive
nenhum amigo.
Fico me lembrando da conversa que ouvi o Jonas tendo com o Ph e o
Alejandro, eu fingi que não vi, mas tive a impressão de que o Jonas estava
com os olhos cheios de lágrimas, parece que ele e a Patrícia brigaram.
Não lembro de ter visto ele chorando nunca, nem ele nem o Ph, mas
isso me deixa intrigado.
—Posso perguntar uma coisa?
—Claro, Jack.
—Patrícia, ela falou alguma coisa para você?
—Sobre o quê?
—Jonas, você sabe que o casamento deles é convencional, certo?
—Sim, ela falou.
Ah que alívio!
—Ela falou?
—É, disse que eles dois são amigos e decidiram se casar.
—Sabe que Jonas é louco por ela, certo?
E eu não acredito que estou falando isso, porque o Jonas não merece
um pingo de consideração, nem de ajuda, mas a Maria insiste tanto que devo
me reaproximar que mesmo a distância me sinto na obrigação de tentar ajudar
os dois imbecis de alguma forma.
Brigamos por causa do Ph, talvez quem sabe esse não seja um começo
para ela me desculpar por eu ter gritado com ela? Sei que ela odeia que eu
afaste eles, não tem dado muito certo fazer do meu jeito.
—É? Acho que pelo o que ela me falou, eles estão passando por
alguma crise, ela disse que ele tem medo de ter filhos.
—Vi ele conversando com Phelipe durante a “pescaria”, ele estava
chorando.
Ela fica surpresa.
—Por quê?
—Disse que acha que Patrícia o trai.
—Não estou entendendo mais nada.
—Por quê?
—Bem, pelo o que ela falou, ela gosta muito dele, mas Jonas... não
tem tanto interesse nela.
—Jonas saia com homens antes de conhecê-la, é isso o que você quer
dizer?
—Uou!
Rio, mas é de nervoso.
—A família toda sabe, Jonas se apaixonou por ela, parou de sair com
homens quando se envolveram.
—Ele sempre foi, homoxessual?
—Não sei, sei o que a Júlia fala.
—Patrícia sabe, mas ela é totalmente apaixonada por ele.
Não foi isso o que o Jonas disse enquanto molhava os olhos no ombro
do Ph, eu nem queria ter ouvido, mas o Alejandro fofoqueiro ficou me
cutucando, ele sabia que mais cedo ou mais tarde me sentiria responsável.
Como se fosse minha culpa do casamento dele ser uma merda e do Ph
ter feito tudo o que fez com a Gil, quanta hipocrisia!
—Ela não demonstra—falo.
—Acho que se o meu casamento fosse uma união de bens e, o meu
marido gay, eu também teria medo de demonstrar qualquer coisa.
—Ele está com medo dela pedir o divórcio, sua culpa.
—Minha culpa?
—Você com aquele papo de “tenham filhos”.
—Eu não tenho culpa se o seu irmão tem medo de ter filhos.
—Ele tem medo de não ser um bom pai.
—Patrícia quer um filho, dá para ver de longe que ela só se recusa por
causa de Jonas.
—Você quebrou o coração de gelo dela, nunca vi ela agindo assim na
minha vida, ela nunca foi tão sorridente.
—Eu só acho que se o seu irmão fosse um pouquinho parecido com
você, ela sorriria mais.
Ah.
—É? —Dou um tapa forte na buceta, ela pula. —Você gosta, não
gosta?
—Você me transformou numa perdida.
Maria vai ficando toda vermelha, sorrio mais que satisfeito.
—Acho que Jonas mudou quando decidiu se casar com ela, ele levava
uma vida muito vazia, em parte porque ele não se aceitava, saia com
mulheres, com homens, ele nunca soube bem o que queria, ele é muito
superficial —reflito, papai falava muito sobre isso e sobre uma namorada
dele que morreu. — Se apaixonou pela aparência dela, porque Patrícia é
muito parecida com a primeira namorada dele.
—Nossa.
—Ela morreu quando ele tinha dezesseis anos.
—Coitado.
—Ele idealizou a mulher perfeita, o meu tio ficou aliviado com o
casamento, mas ele tem medo de Jonas voltar as práticas satânicas.
Maria ri à beça, não posso dispensar meu sarcasmo assim de uma hora
para outra, não seria eu.
—Mirna cuidou de tudo, ela controla a vida deles em todos os
sentidos, eles moram na casa do meu tio.
—Deveriam mudar.
Teria feito isso sem pensar duas vezes.
—Eu também acho, mas Jonas é muito apegado à Mirna, ela os criou
depois que mamãe morreu.
—Você acha que ele trai a Patrícia com homens?
—Não, ele não quebra os votos, acho que ele apenas não sabe como
lidar com tudo, e ela é muito fria.
Maria está pensativa.
—Jonas apenas não sabia o que queria da vida, acho que ele se quer
teve relações com um homem na vida, ele.
—Jack, não precisa se explicar, não tem que ter vergonha, é o seu
irmão, se ele é homoxessual ou não, é a vida dele, eu jamais recriminaria ele,
pelo contrário.
Não me importo, mas é difícil falar.
—A família morre de vergonha, sou indiferente a isso, mas não gosto
que fiquem tratando-o mal por isso, ele sempre é excluído de tudo.
Eu a olho e começo a lembrar dos momentos em que me sentia um
lixo e não sabia como lidar comigo mesmo, da agência e de todas as coisas
absurdas que eu fiz para tentar encontrar prazer naquilo tudo, prazer e
companhia.
—Vida, você, você teria vergonha se eu já tivesse saído com homens?
A pergunta saiu sem que eu percebesse, mas é uma coisa da qual sei
que devo falar com ela, nem chegou a acontecer nada, mas ela deve saber.
—Maria, por favor.
—Não sei.
—Eu já sai com homens.
Ela entra em pânico.
—Você disse que não saia com homens.
—Não saio mais, isso foi no começo.
Maria respira fundo e sei que se irrita.
—Eu não gosto de homens —falo de imediato. —Me desculpe.
Isso me traz lembranças ruins, lembranças de um monstro.
Merda.
—Tudo bem.
Não, não está tudo bem, se estivesse você estaria falando alguma
coisa.
—Maria, fale alguma coisa.
—Tudo bem.
Começo a ficar nervoso.
—Não, não está tudo bem, você vai me largar?
—Eu não —Maria retruca. —Tudo bem, Jack, entendo que tenha seu
passado, foram suas escolhas.
—Apenas não sabia, eu me desculpe.
O que posso falar?
Houveram momentos na minha vida em que nem eu mesmo sabia
para onde ir, achava que de alguma forma tentar me encontrar iria sanar meus
problemas internos, o término com Soraia, a perda do nosso filho e tantos
outros problemas que minha vida teve por influência dela, mas não foi de um
jeito fácil nem normal.
Eu encontrei alguns homens em circunstâncias estranhas, mas não
consegui se quer chegar perto de algum deles.
—Tudo bem.
Maria não quer falar, provavelmente se sente enojada com o que eu
falei. Talvez seja melhor me afastar.
—Vou lá embaixo.
—Ok.
Eu sei que não importa o que eu diga, ela não vai entender nem
aceitar, então saio do quarto tentando evitar uma discussão, chego ao
corredor e passo as mãos nos cabelos me questionando sobre o porquê que as
vezes eu falo as coisas para Maria, nunca disse isso para ninguém além da
Lane, eu nem consigo imaginar como ela se sentiria se soubesse que eu já fui
estuprado quando criança.
O que pensaria de mim?
Me sinto mal por ter que sujeitar ela a tantas coisas, egoísta,
mesquinho, sou tão problemático e sei que não mereço essa mulher, mas
ainda assim, não posso deixar que ela saia da minha vida, nunca, por nada.
Nem mesmo por meu passado.
Volto ao quarto, me sinto agoniado, quero ao menos alguma resposta
da parte dela.
—Você precisa entender —consigo falar. —Vai aceitar, ok?
—Ok!
Ok?
—Fale alguma coisa —exijo começando a ficar mais nervoso, ando
de um lado para o outro. —Vamos, pode falar.
—Não tenho nada a falar.
—Não? —me irrito. —Nada mesmo?
—Você mentiu para mim. —Maria responde toda apavorada. —Disse
que só saiu com mulheres.
—Se falasse, você não entenderia.
—Que você gosta de homens?
—Não gosto de homens.
—Então, por que saiu com homens?
—Só queria companhia.
—E transava com eles?
—Eles também são pessoas, Maria, como quaisquer outras no mundo.
—Não disse isso, apenas acho que você deveria ter dito no dia que me
contou da Agência.
—Sabia que reagiria assim.
—Assim como?
—Com nojo de mim.
—Não estou com nojo de você, Jack, estou decepcionada, e estou
magoada porque você mentiu para mim.
—Não queria que sentisse nojo de mim, não mais do que já sente.
—Não tenho nojo de você, só que não é fácil ter que lidar com tudo
isso e todos os dias ir descobrindo coisas que eu não estou acostumada a ver.
—Me desculpe.
Eu não sei o que falar, não sei o que argumentar, eu só sei que se hoje
Maria disser que vai embora, eu não sei se conseguirei em algum momento
me recuperar, sei que eu sou uma pessoa complicada e com um bocado de
defeitos e um passado que nenhuma mulher aceitaria, mas eu amo tanto.
—Maria, eu amo você mais do que qualquer coisa na minha vida, se
você desistir de mim, eu não quero mais nada, eu não tenho mais cura, não
tenho mais salvação, para mim só tem um jeito, esse jeito é você —minha
garganta se fecha porque meus olhos se enchem de lágrimas. —Eu me sinto
mal com tudo, mas é o meu passado e não posso mudar isso, mesmo que isso
a deixe magoada, quero que você conviva comigo e com o que eu fui.
—Você não precisava mentir.
—Apenas tive medo.
Não sei o que dizer para explicar que as coisas não foram tão graves,
só quero mesmo que ela entenda que fiz tudo aquilo em uma outra época da
minha vida, mesmo que tenham sido só conversas com desconhecidos e
desconhecidas que a agência me arrumava.
—Só tenho você — explico. —Você tem que me aceitar.
Ela não está disposta a isso, começo a sentir um desespero aniquilador
me tomando.
Nível 21 da atração
—Por favor, dou tudo para você, faço tudo, apenas não me abandone.
—Não quero que se sinta assim em relação a mim, Jack, isso é uma
doença, você está confundindo amor com atração, com alguma obsessão que
desenvolveu por mim.
Me machuca ouvir isso, Maria não sabe o quanto.
—Você não sabe o que está falando.
—Eu não sei o que você viu em mim.
—Eu sei.
Eu vi você.
Exatamente do jeito que você é e eu te amo por isso, não imagino que
queira estar longe de mim, não mais do que já ficamos durante esses dias, não
para sempre.
Me aproximo do colchão e seguro os pés dela, me ajoelho e começo a
beijá-los.
—Por favor não me abandone, está bem?
—Jack, não precisa fazer isso.
—Eu faço tudo por você, Maria, qualquer coisa, basta pedir.
E essa coisa dentro de mim que me deixa inquieto deixa claro que não
tenho orgulho, não tem medo, não tem nada que me faça querer desistir dela,
mas se ela desistir de mim, eu desisto de todo o resto.
—Por favor..., não me abandone.
—Ok, mas pare de ficar beijando os meus pés.
Eu a beijo e me deito sob seu corpo pressionando o meu contra o dela,
não sei dizer em qual parte de mim consegui perder ainda mais minha
sanidade, mas me vejo novamente me entregando a ela, querendo ela um
pouco mais, desejando que seu corpo seja meu.
Tiro a camisa dela e ela tira a minha, busco o meio de suas pernas
com urgência e penetro ela com força, a angústia me deixa tenso, meu corpo
todo se enche das boas sensações, não sei pensar em controle quando se trata
dela, mas nesse momento, só quero que ela me perdoe, que diga que me
entende e me aceita, que me ama o suficiente para ficar comigo.
Porque é assim que me sinto em relação a ela.
Maria encontra meu ritmo e enquanto meto ela vai deslizando e
rebolando gostoso, me arranha as costas e isso me dá prazer, quase um
conforto estranho de ser punido também porque estou sujeitando-a a isso.
A transa é rápida e gostosa, ela se entrega a mim facilmente, aperto
seus seios, ela pula enquanto firmo a metida, Maria aperta os olhos e seu
rosto todo se contorce, sinto o orgasmo dela se espalhando em seu corpo, ela
dobra as pernas e os pés tremem com a força disso.
—Um.
Enquanto sussurro ela geme baixinho, continuo a meter, ela se contraí
mais uma vez e sei que alcança seu segundo rápido orgasmo.
—Dois...
Me ergo e a olho afundando dentro dela, sua viscosidade fazendo meu
pau latejar, não tem limites para nós dois quando estamos juntos.
—Três...
Digo baixinho e mordo sua orelha, ela se ajeita e abre mais as pernas,
mergulho nela e meto como se montasse em algo, rebolo provando toda ela e
mais uma vez, fico surpreso com a rapidez.
—Quatro?
Ela afunda a cabeça entre os travesseiros e treme, paro observando-a
gozar, se mover sozinha no meu pau, então saio e me permito liberar meu
próprio clímax, ofegante ela solta um choro baixo e coberto de prazer, me
deixo cair em cima dela coberto de tesão.
Maria coloca um beijo na minha têmpora e me aperta, respiro com
dificuldade, eu a olho e a aperto, nosso silêncio se estabelece novamente, mas
ainda me sinto incomodado com a situação.
—Você se importa?
—Você gostou de transar com “ele”?
—Eu não transei com “ele”, Maria.
Eu riria com o choque que toma seu semblante se não me sentisse um
pouco ofendido.
—Eu disse “eu saí com homens”, eu não disse “transei com homens”.
Maria se irrita e me belisca, não tiro a razão dela, mas nem me dou ao
trabalho de me mover.
—Isso dói —protesto. —Precisava ter certeza de que não me sentia
atraído por homens.
—Por quê?
—Talvez uma mulher não aceitasse a minha doença.
—Isso é extremo!
—Eu sei, eu tive três encontros com homens, e em nenhum eu
conseguia me sentir confortável ou bem.
—Porque pessoas são pessoas, Jack, independente do sexo.
—Foi difícil entender isso, como eu poderia me apaixonar por alguém
sem ter certeza de que não sentiria atração pela pessoa? Adoro nossa química
na cama.
—Foi assim na noite do nosso casamento?
—Foi assim quando eu vi você, assim que a vi, eu a desejei
profundamente.
—Por quê?
—Eu não sei, Maria, mas não foi assim quando eu jantei com os três
sujeitos.
—Por que você não falou no começo da conversa que não houve
sexo?
—Porque queria saber se você aceitaria os meus segredos, por piores
que eles fossem.
—E fez esse drama?
—Não foi drama, ainda estou com medo de que me largue, eu te
avisei que o meu passado é muito ruim.
—Poderia ter evitado toda essa discussão.
—Se evitasse, não saberia como você reagiria, não saberia o quanto
isso a afeta, e, não faria sexo com você.
Dou um tapa no braço dele, dessa vez Jack ri, ah Jack, você não
PRESTA!
—Talvez, alguém conseguisse me amar com o tempo, quem sabe,
mas eu não consigo imaginar como seria uma relação entre mim e outro
homem.
—Se a pessoa te aceitasse?
—O primeiro eu lembro que odiava crianças, eu quero ter filhos, o
segundo não parava de falar um segundo, silêncio é algo que eu aprecio
bastante e o terceiro gostava de sexo a três.
—Com outras mulheres?
—Com outros homens.
Acabo por rir em vê-la rir, me sinto tão idiota por ter me sujeitado a
tanto por tão pouco, aquelas pessoas nunca, jamais me veriam como algo
além de uma escapada para um fetiche, não precisava conhecê-las
profundamente, mas teve momentos em minha vida que o trauma me fez
duvidar até da minha sexualidade.
Nunca me atraí por homens, mas queria ter certeza.
—Eu tenho medo de Jonas se divorciar de Patrícia, se assumir, as
pessoas não aceitam a escolha sexual dos outros.
—Porque você o ama e é seu irmão!
—Seria uma decepção muito grande para o meu pai.
—Por que não conversa com ele sobre isso?
—Não tenho intimidade, Phelipe me pediu, ele acha você meio
bocuda.
Depois da conversa com o Jonas o Ph me pediu para pedir para Maria
conversar com Patrícia, já que ela é mais próxima dela, e com o Jonas.
—Converso com ele então, mas você acha que ele não vai reagir mal?
—Talvez, Jonas é muito na dele.
—Os quatro são.
—É, funciona bem entre a gente.
—Vocês conversaram muito durante a pescaria?
—Alejandro não parava de falar um segundo, não aguentava mais,
tive que colocar ele no lugar dele, depois ele começou com aquela
brincadeira na cachoeira, os idiotas tentaram me afogar, me jogaram na água.
E foi assim que eu cheguei à conclusão de que não estávamos ali para
pescar, xinguei muito o Alejandro e o Ph, não vi graça alguma naquela
brincadeira.
—Não teve graça!
—Sei.
—Hum, você tem sorte, porque eu estou exausto.
—Mamãe!
Puxo os cobertores de imediato, Fernando entra no quarto logo em
seguida, faz cara de choro.
—Mãe —Fernando chama. —Mãe, a tia Juh não quer me deixar ficar
na rede com ela.
—Não? —Maria indaga. —Filho... tudo bem?
—Não —Fernando vem para o colchão. —Ela disse que tem medo de
machucar a minha perna, fiquei mal.
Fernando se deita ao lado dela, é natural para ele isso, mas não sei se
devo me sentir tranquilo, não posso reclamar, o menino quer a mãe e merece
toda atenção do mundo, minha compreensão, mesmo que ele tenha nos
pegado nesse momento de intimidade, é nosso filho e merece toda
compreensão do mundo.
—Ela só se preocupa com você, Fernando —digo. —Não fique triste.
—Tudo bem. —Fernando responde. —Mãe, o seu cabelo está
parecendo um ninho.
Maria o olha toda cheia de carinho.
—Às vezes a tia Juh se preocupa demais com você, ela não se importa
com a sua perninha, ninguém se importa, Nando, todos só querem que você
fique bem.
—Mãe, posso fazer uma pergunta?
—Pode.
—Você e o Jack estavam fazendo bebês?
Se eu mentir pode até ficar pior.
—Estávamos — digo. —Por quê?
—Quero uma irmã logo —Fernando boceja. —Vou dormir aqui só
um pouquinho, mãe, eu bloqueei seu Iphone de novo, desculpa.
Ele se deita de costas para nós dois e abraça o travesseiro, Maria fica
olhando-o toda cativada, ela ama tanto o Fernando, está em sua forma de vê-
lo, de tratá-lo, também quero amá-lo assim, como a um verdadeiro filho.
—Precisa explicar para ele as coisas — Jack fala baixinho. — Ele é
homem.
—Não sei como explicar, até hoje ele nunca falou comigo sobre isso,
Sah é a sexóloga.
Eu a puxo e ela se deita em cima de mim, nos mantenho cobertos até
o pescoço, Maria beija meu peito.
—Quer descer? — pergunta.
—Vamos ficar mais um pouco aqui, está bem?
Ela não discorda.
—Mas eram caras interessantes! — falo apenas para descontrair.
—Aposto que sim!
Nomes que não devem ser ditos
—O que você está fazendo aí?
Acordei e estava sozinho na cama, Maria está sentada no vaso com a
venda nos olhos, pela primeira vez desde que eu pedi para ela colocá-la me
sinto incomodado, ela parece estar sentindo dor ou coisa assim.
—Ouvi um gemido—falo.
—É, eu bati com o dedo na porta.
Ela toca o pé, faço uma careta, porque acredito piamente que ela não
olharia, ela já teve chances demais e não olhou, isso é algo que apesar de ser
cômodo no começo, agora começa a ser o oposto e bem intrigante.
Não quero que ela se machuque por usar a máscara.
—Vida, poderia ter tirado a máscara.
—Eu estou bem.
Me aproximo e seguro sua mão, eu a puxo e quando ela fica de pé dou
um beijo na cabeça, Maria se afasta um pouco, levanto a tampa do vaso e
começo a mijar, ela se afasta, os dias aqui tem sido um bocado desafiadores
por conta das pessoas da minha família, mas eu estou bem.
Só quero poder agora ter mais intimidade com Maria, quero que nós
dois e o Fernando tenhamos mais momentos a sós, com a nossa família.
—Você quer que eu te leve na cachoeira? — pergunto, porque
falamos sobre isso ontem.
—Aham, quero tirar umas fotos.
—Então vamos eu, você e o Nando.
—Ah.
Não gosto de desapontar a minha mulher, mas não quero que eles
sejam inclusos nisso também, começaria sendo um ótimo passeio se ela
respeitasse ao menos uma vez na vida o que eu quero ao invés de tentar
forçar a barra para o lado dos meus meio irmãos.
—Você quer que eu chame a Sarah? — sugiro.
—Queria que chamasse sua família, a Júh iria amar.
De novo?
Eu acho que ela não reconhece meus esforços para tentar fazer tudo
ficar bem, já é um grande milagre que eu os deixe ficar, se aproximar, eu não
quero que meus únicos dias ao lado dela e do Nando sejam cercados pelos
problemas do Jonas e do Phelipe, achei inclusive que ontem Maria tinha
ajuda ele a se resolver com a Patrícia, ao menos para que ele me deixe em
paz.
Dou descarga, penso numa boa desculpa.
—Pensei que poderíamos transar lá — insinuo vagamente.
—Com o Nando?
Rio, nunca fui bom em mentir para essa mulher, não tem jeito.
—Ok, mas eu pensei em termos um tempo só nosso.
—Teremos, assim que estivermos no nosso apartamento.
—É?
—É!
Analiso o caso e ainda continuo sorrindo com a ideia do nosso
apartamento, quero logo poder resolver as pendências da BCLT e me instalar
no Rio de janeiro, nosso lar precisa dela, do Fernando, sei que nós ficaremos
muito bem morando lá.
Maria me faz ter sonhos dos quais eu nunca tive, mas quando ela quer
fazer parte deles me sinto inflado pelas boas sensações, um romântico
sentimental que não consegue nem pensar em ficar longe dela, do nosso
garoto, eles merecem toda proteção e carinho do mundo.
Sei que estou longe de ser um sol e de oferecer o que um sol oferece
para ela, mas quero sempre tentar ser algo melhor em sua vida.
—Está bem, mas, se eles começarem, você já sabe.
—Ok, vou explicar para eles que você está de péssimo humor.
—Boa garota.
Dou um tapa forte na bunda, ela dá um pulinho e faz cara feia.
—Vem para o nosso banho —eu a agarro e beijo seu ombro. —Você
se sente bem?
—Claro. —Suas bochechas ficam vermelhas. —E você?
—Eu estou, reflexivo.
Fazia muito tempo que eu não transava com tanta frequência, saber
que ela gosta me deixa louco e é inevitável que nós não acabemos indo para a
cama, com ela me sinto como um bicho movido pelos sentidos, adoro isso
nela, como me excita, como me faz carinho, ela é quente e receptiva, gosta do
sexo comigo do jeito que eu faço.
Meu pensamento se volta para o primeiro dia em que estivemos juntos
dentro do meu carro, porque agora ela é confiante e sensata demais, a
algumas semanas Maria mal confiava em mim, no entanto agora nós ficamos
muito bem juntos, foi um enorme passo para nós dois, mesmo ainda havendo
a máscara e toda a carga que carrego nas costas.
—É? Qual é a escolha da vez, Senhor Carsson?
—Algo sobre carros.
—Ah.
Eu a puxo pela cintura e entramos no box do banheiro, ligo o chuveiro
e a observo enquanto começo a lavar ela com o sabonete, o corpo dela é
quente, amistoso demais, Maria pega o sabonete da minha mão e começa a
me lavar também, gosto da nossa intimidade, aprecio muito observar ela
tentando fazer as coisas para me agradar, isso a torna próxima de mim.
Faz minha imaginação fluir, faz com que eu deseje ir por caminhos
que não levei ela.
—Você me chupa? Por favor, sim? — é um pedido simples,
espontâneo.
—Aham.
Talvez Maria só queira que eu seja mais eu mesmo, talvez fingir ser
alguém que eu não sou não seja a melhor coisa a fazer.
Ela se inclina e começa a me chupar devagar, eu a olho e meus dedos
se enfiam em seus cabelos afastando-os para trás, movo sua cabeça sem
pressa adorando que ela chupe meu cumprimento, sua boca molhada e quente
a cavidade úmida que me suga e vai me enlouquecendo poro por poro, me
arrepio achando incrível sua entrega.
—Você é maravilhosa, querida.
Ela geme baixinho e me segura pelos quadris chupando um pouco
mais, me deixando mais alucinado enquanto observo, ela mordisca a pontinha
do meu pau fazendo ele saltar, fico tenso. Maria se ergue me dando as costas
como se já soubesse para qual rumo meus pensamentos vão, ela me segura as
coxas se inclinando para frente, seguro suas ancas e projeto a força na frente
do meu corpo metendo com firmeza dentro dela, seu gemido é baixo
novamente, seu corpo trepida enquanto ela fica na ponta dos pés adorando a
metida.
Seguro seu quadril e o pau entra deslizando pela cavidade que me
aperta, a bunda dela bate com força em mim fazendo aquele barulho que só a
nossa fudida faz, observo o rabo dela enquanto meto e me arrepio todo com a
hipótese de foder o cu dela.
—Quero a sua bunda —t oco o canto com o polegar, e mente se fecha
enquanto olho, enquanto fantasio em minha mente com esse momento. —Ah,
Maria, isso pode ser maravilhoso.
—Amor, depois, está bem?
Fecho os olhos.
Minha mente vai para um lugar sublime e intenso do qual a algum
tempo não recorro, enquanto transo com Maria meu corpo se enche de
expectativa, uma vontade insana de meter no cu dela com força e de foder
com ela como nunca fodi com nenhuma outra.
Nem mesmo com Condessa.
Franzo a testa, meu pau lateja enquanto fodo com Maria, por alguns
segundos preso a sensação de que ela está no controle de tudo sempre, de que
ela quem sempre será dona de mim, gostaria de não me sentir assim, gostaria
de sair desse lugar onde me enfio quando me vem a sensação de ser
dominado, mas é assim que me sinto.
O sexo é tão forte que me causa quase uma sensação de dor e isso é
bom, não quero parar, sinto vontade que ela me puna através disso, porque
era assim que Condessa fazia, ela me punia, ela judiava de mim...
Começo a gozar, meu corpo todo entregue ao frenesi de ser de Maria
e somente dela.
—Amor o que está fazendo? — a voz dela ecoa baixinho na minha
cabeça.
—Obedecendo—respondo baixinho.
—Obedecendo a quem, amor?
A única pessoa que obedeci por toda a minha vida.
—Você, Condessa.
Maria me empurra e levo alguns segundos para me recuperar, para
voltar para o presente momento, para o que fazemos.
Condessa não é Maria, João Lucas! Digo para mim mesmo.
—Maria.
—Não!
Parece tarde demais, eu a olho ela nega com a cabeça, nem eu mesmo
sei o que eu estava fazendo com ela no momento, mas isso despertou em mim
algo que eu não queria que saísse.
Uma melancolia apressada me toma, perco o fôlego quando percebo
que a machuquei muito, que falei o nome de outra pessoa que não é ela num
momento que era nosso e não meu com o da outra pessoa.
—Me desculpe.
—Não.
—Desculpe, eu estava distraído.
Eu não sei o que falar, não consigo nem me mover, começo a sentir
medo da situação.
—Estava pensando nela.
—Não, não estava.
—Me chamou de CONDESSA!
O Grito dela é coberto de dor, de tristeza, de raiva e com uma razão
que me enche de medo, de dor e tristeza também.
—Desculpe, isso não vai acontecer.
—Não vai mesmo, por favor, me deixe sozinha.
—Maria, foi involuntário...
—Saia agora!
—Amo você.
—Isso não funciona depois de ter me chamado pelo apelido da sua
Ex, Jack, saia!
Maria não me quer aqui, Maria me quer longe dela.
Meus pensamentos são mais lentos do que os meus movimentos,
começo a chorar enquanto saio do box, escuto o choro alto dela, um grito
angustiado e isso faz com que me sinta envergonhado, medroso, alguém que
eu nunca quis ser perto dela.
Coloco uma calça qualquer, uma camisa e saio do quarto depressa,
começo a perceber que estou correndo quando saio da casa, me sinto
sufocado, como se apertassem meu pescoço e não me deixassem respirar.
Só me senti assim uma vez na vida, foi o pior dia da minha vida.
Sinto um puxão no braço enquanto estou indo em direção ao mar,
olho para trás, é o PH, ele fala, fala, mas parece que eu não escuto nada.
Merda.
Ph me encara e me sacode pelos ombros, Jonas vem correndo ao lado
de Alejandro, nego com a cabeça e sinto vontade de sair correndo daqui, não
consigo parar de chorar, não consigo pensar em voltar.
O que eu poderia dizer para ela? Ela não vai me perdoar por isso, não
vai!
Conheço Maria, o que eu fiz?
E agora?
Não tem volta
Não consegui voltar.
Não me despedi nem do garoto.
Ninguém conseguiu me deter e agora eu estou aqui, muito longe de
onde queria e deveria estar.
Parece que eu levei uma surra, isso seria um exagero se não fosse
verdade e se meu corpo não reagisse tão mal a tudo o que houve ontem,
Phelipe me passou um calmante assim que entrei no iate, mas não surtiu
efeito e nem vai surtir. Queria voltar, mas não conseguia, porque estava
exausto.
Phelipe disse que eu tive uma crise de pânico, Jonas disse que seria
melhor que eu ficasse mais calmo antes de conversar com ela, mas é a última
coisa da qual eu poderia conseguir.
Antes dessa crise de pânico, eu tive uma, no dia em que meu tio me
disse que o avião de mamãe havia caído, foi o pior dia da minha vida, me
senti indefeso e fiquei trancado num armário me escondendo de tudo e todos
durante três dias, sempre que alguém tentava me tirar de lá eu tinha uma crise
de choro.
Foi uma coisa que me machucou completamente.
Sei que talvez isso nem chegue perto do sofrimento que eu causei em
Maria, mas não conseguia voltar porque não tinha explicações para dar, eu
não sabia nem por onde começar a tentar explicar a forma como eu estava
vendo tudo aquilo.
A merda já foi feita, agora só me resta tentar lidar com tudo da melhor
forma, mesmo que ainda esteja péssimo, mesmo que eu saiba que não tem
volta.
Não vou voltar para os Estados Unidos enquanto não conversar com
ela, mas o grande problema talvez seja o fato de que eu não sei como me
aproximar e falar, como dizer como sinto por ter dito aquilo, ciente de que
Maria não merecia aquilo.
Não consigo sair da cama e é literalmente uma merda, uma merda se
sentir insuficiente para alguém, a depressão tomando tanta forma dentro de
mim que mal sei pensar direito em tudo.
Queria que as coisas para mim não fossem assim, reagir melhor a
algumas situações na minha vida, tudo teria sido melhor se eu não tivesse
feito isso, estraguei tudo.
Escuto o som de batidas na porta e logo em seguida Olaf entra no
quarto, pedi que fosse na farmácia comprar os meus remédios.
—Patrão, não seria melhor falar com um médico antes? Faz tempo
que o senhor não toma remédios assim.
—Eu vou ficar bem — garanto e me ergo, me sento na cama. —
Todos já foram?
—Sim senhor.
—E ela? — limpo as faces. — O menino está bem? Ela está bem?
—Claro que estão patrão, eu estou sempre olhando eles, não seria
melhor que o senhor saísse desse quarto e fosse conversar com a senhora?
—Ela não entenderia Olaf — replico.
—Faz tempo que o senhor não fica ruim assim.
Não gosto de depender do Olaf assim, da última vez que ele me
resgatou, eu estava sendo ressuscitando numa ambulância pelas mãos dele,
Olaf foi o bombeiro que me ajudou a voltar a respirar, graças a ele e
Alejandro eu voltei para vida de merda que me cercava antes de tentar me
enforcar.
—Pois é Olaf, mas não adianta que fique aqui me olhando com pena,
melhor voltar e ir cuidar da Maria, ela precisa ser bem vigiada.
—O senhor fez algo errado não foi? Foi por causa da senhora Soraya?
—Foi Olaf — respondo impaciente. — Vai!
Olaf abre os vidros de Pondera, Tegretol, Leponex, Navotrax e
Tofranil, olha a receita que eu tenho a alguns anos e retira dois comprimidos
de dois frascos, me entrega um comprimido de Tegretol que é o para
bipolaridade e o Pondera que é o da Ansiedade, ele sabe que eu não posso
tomar tudo de uma vez, porque se eu tomar eu posso ter uma overdose, o que
não seria uma má ideia...
—Deixa os meus remédios...
—Não! — Olaf faz cara feia. — E eu acho muito bom que levante
dessa cama e vá tomar um banho, coma alguma coisa e vai atrás da sua
mulher.
Suspiro, aceito a garrafa de água e os dois comprimidos, Olaf tampa
os outros e enfia tudo no bolso, faz cara feia.
—Seja o que for, sei que o senhor vai conseguir resolver.
—Isso o que eu fiz, talvez não tenha solução Olaf, não parou para
pensar que ela talvez não queira?
—E desde quando o senhor faz o que as pessoas querem senhor
Carsson?
Respiro fundo.
—Melhor o senhor tomar um banho e ir atrás da sua mulher, dar um
jeito de resolver as coisas, todos já se foram, porque o senhor expulsou todos
aos berros, entendo que sua família é complicada, mas a senhora Maria não
merece ser tratada dessa forma.
—Eu não sirvo para ela — argumento e isso me dói. — Eu não a
mereço.
—Se não servisse o que ainda estaria fazendo aqui? Por que ela
estaria esperando que o senhor voltasse? Não precisa ter medo nem orgulho
Senhor Carsson, ela vai aprender a lidar com a sua depressão.
—Maria nem sabe que eu tenho depressão Olaf, só ansiedade e
síndrome bipolar, ela não sabe do resto.
—Se ela te aceita do jeito que o senhor é, ama o senhor de verdade,
mas não adianta ficar aqui assim nesse estado.
—Ela não quer me ver.
—Eu também não iria querer ver o senhor, não nesse estado, melhore!
E sai do quarto, olho para a cama do hotel, demoro um pouco até que
consiga me sentir seguro, então pego meu celular e ligo para ela, o celular dá
desligado, ligo para Sarah, mas ela também não atende, então só me resta
uma opção, ligar para Dona Francisca, ela atende bem rápido.
—Alô.
—Dona Francisca, tudo bem?
—Tudo Jack, e com você?
Ela não faz a menor ideia do que está acontecendo, não sei o que
falar, Maria está com raiva e com razão. Parece que faz uma semana que eu
não vejo ela, mas tudo isso aconteceu ontem, me sinto idiota.
—Poderia deixar um recado para Maria? Eu esqueci de falar
algumas coisas para ela antes nos despedirmos.
—Claro, já peguei o papel — a voz dela é bem humorada. — Pode
falar.
—Diga que... que...—eu a amo muito, que sinto muito por ter
estragado as coisas — que ela poderá continuar com as aulas de inglês e
com a Sandy, mas que ela poderá combinar os dias.
—Anotando — Dona Francisca fala. — A Duda já está vindo?
—Sim, aconteceu um inesperado e eu tive que resolver algumas
coisas aqui no Rio.
—Ah.
Não me resta opções se não continuar com o que eu e ela já havíamos
combinado, eu só queria poder dizer algo diferente, mas a mãe dela não tem
nada a ver com isso, reforçar o que Maria e eu combinamos talvez seja a
minha única chance de saber que continuaremos casados.
—Fale para ela para ela não esquecer de mudar a grade da
faculdade e pagar as matérias faltantes, vou repassar o valor para Sarah
pagar na faculdade para ela.
—Tá anotado — Dona Francisca diz. — Jack, eu quero agradecer
pela oportunidade que você está dando para o Van, ele está muito feliz com a
chance.
—Não precisa agradecer Dona Francisca, Maria é minha esposa —
eu acho. — Vocês merecem sempre o melhor.
—Obrigado mesmo assim.
—Tudo bem, eu preciso ir, obrigado dona Francisca.
—De nada rapaz, até logo.
Desligo a ligação.
Olho para a cama e depois para o rumo da porta do banheiro, levanto.
—Quem caí levanta João Lucas — repito para mim mesmo —
Levanta!
Onde as coisas devem ficar
Queria ter acordado hoje e ter me deparado com Maria ao meu lado,
mas não, ela não estava na cama e eu percebi que não durmo desde que eu me
afastei dela, mesmo tomando os remédios, ainda sim continuo me sentindo
feito um zumbie, consigo cochilar por duas no máximo três horas e no
momento seguinte estou procurando me ocupar.
Mandei mensagens para ela, mas ela não me responde, telefonei mas
ela não atende deixando claro que definitivamente não quer assunto, tive que
recorrer a outros meios para estar perto dela, não me arrependerei porque já a
alguns dias eu recebi algumas notícias sobre essa empresa, comprei ela.
Meta.
Entrei aqui a pouco como novo dono, tive uma reunião com alguns
diretores, é uma empresa pequena mas que eu sei que com o investimento em
tecnologia correto irá deslanchar, eu sei que nunca nem que eu me explicasse
conseguiria entrar nesse lugar para poder ver ela, conversar, gostaria de não
estar aqui e de não me sentir tão nervoso, mas enfim, eu decidi fazer isso.
Por Maria, porque sei que precisamos falar, preciso consertar toda a
merda que fiz.
Sei que ela está machucada e ficar deitado numa cama chorando não
vai conseguir fazer com que nada mude.
Exatamente nada.
Comprar a Meta foi relativamente fácil, a empresa tem que ser
melhorada e foi uma pechincha, o problema do Brasil é apenas a quantidade
de imposto, mas eu pago, eu pago o preço que for para poder sentir que estou
mais perto de Maria.
A supervisora dela já foi comunicada de que deve dar a demissão dela
hoje e eu vim para poder tentar conversar com ela sobretudo.
Entro no lugar onde ela atende, está cheio de pessoas, sinto um
calafrio estranho na espinha, já foi bem complicado fazer a reunião, agora me
sinto como um bicho novo que chega a uma atração de zoológico.
Me disseram que a supervisora dela se chama Lorena e que fica numa
das ilhas mais cheias, mas este lugar é uma bagunça, pensando bem e
analisando a estrutura, consigo entender porque os donos nem recusaram a
oferta, o prédio é velho, o lugar tem muitos equipamentos quebrados, os
funcionários estão basicamente deitados nas cadeiras atendendo.
Parece um chiqueiro.
Me aproximo da mesa na qual fui indicado, a supervisora de Maria
está sentada mexendo no computador, alguns papéis espalhados sob a mesa e
canetas.
—Bom dia — falo tentando não parecer tenso.
Ela se ergue e me olha toda admirada, as vezes eu sinto medo da
forma como algumas mulheres me olham.
—Bom dia. — Ela responde. — O senhor deve ser o novo cliente.
—Sim — digo, ciente de que ainda não comunicaram aos
funcionários sobre eu ter comprado a empresa. — Quero acompanhar sua
melhor vendedora.
—Sim, seja bem-vindo, ela já está em atendimento, me avisaram que
o senhor viria o nome dela é Maria Eduarda, está bem ali—Lorena diz e abre
a gaveta do pequeno armário que fica embaixo da mesa, me entrega um head
fone mais conservado. — Basta que se sente ao lado dela ela irá ajudá-lo a se
acomodar.
—Sim, obrigado — digo.
Me afasto e entro no corredor procurando Maria, ela está sentada ao
lado de um homem alto e bem bonito, não gosto disso.
—Duda, o cliente vai pegar carona com você — escuto Lorena falar.
—Ok —Maria responde atenta ao computador.
Me sinto aliviado, como se algo dentro de mim ficasse
instantaneamente bem, assim que me aproximo, puxo uma das cadeiras e me
sento entre ela e o sujeito, ele fica me encarando com cara de quem comeu e
não gostou, Maria está digitando algumas coisas rapidamente enquanto fala
com algum cliente.
—Olá, Senhora Margarida, tudo bem? Meu nome é Maria Eduarda,
eu falo em nome dos cartões...
Sorrio, ao mesmo tempo que me detenho, uma vontade imensa de
puxar ela e abraçar, de pedir que me ouça e de que me entenda, seria tolice
minha acreditar que ela me perdoaria logo de cara, eu não sei como reagiria
se fosse comigo, mas sei que ao menos mereço uma chance de ser ouvido e
de explicar.
Tudo o que houve foi tão confuso.
Não era Soraya que estava em meus pensamentos, mas as sensações
que ela me proporcionou quando me sujeitou a tudo aquilo, eu nem faço ideia
do porquê chamei por ela, porque Maria é dona de tudo o que há em mim, ela
é dona do meu coração e dos meus sentimentos, ela é a minha mulher e ocupa
em minha vida essa exata função.
Desde que a conheci só vi Soraia uma vez, não falo com ela e não
quero contato com ela, eu amo a minha mulher e ponto.
Não tenho dúvida alguma disso, não me sinto dividido.
—Senhor, peço um pouco de respeito pelo meu trabalho, eu não sou
uma vagabunda, eu estou trabalhando — escuto Maria dizer de um modo
rude e não me movo. — O Senhor poderia me ouvir ao menos? — Ela faz
uma pausa para ouvir o cliente — Quando o Senhor comprar.
Muito persuasiva!
—Por que eu deveria comprar? — Ela pergunta com desdém, sempre
atenta a tela.
Ela não percebeu que eu não estou aqui.
—Boa — o outro diz.
Maria estende a mão e bate na dele por cima das divisórias da PA.
Não gostei.
—Ouça, pense em todas as pessoas do mundo que nesse momento
estão precisando de algum tipo de serviço, esse serviço é para o Senhor
Victor, já vi que o Senhor tem um excelente histórico aqui na nossa empresa,
o Senhor gasta muito, precisa de um seguro que o respalde o Senhor nos
momentos do aperto.
Olho para o cara ao lado e faço cara feia, ele revira os olhos de um
jeito debochado e volta a falar com o cliente dele balançando a cabeça para os
lados feito uma cobra.
Começo a ficar vermelho com a minha constatação, Maria continua a
falar com os clientes, sempre inflexível e didática, uma mulher que eu
conheci em Mali e nem em Angra, alguém disposta e incisiva que deixa claro
que não vai desistir do que quer.
Percebo seu interesse na aliança de casamento que está em seu anelar
esquerdo, ao menos essa ela usa, ela fica olhando vidrada no momento em
que parece ter uma folga de ligações, reflexiva, séria, de alguma forma isso
me dá medo.
Porque sei que ela ainda usa aliança, mas não sei se ela quer ficar
comigo.
Queria não ter feito essa merda.
Maria fica olhando para o dedo e depois de alguns momentos ela tira
o anel do dedo, ela o analisa a joia mais de perto toda atenta, eu me apresso
porque esse simples gesto me causa um pavor e tanto.
—João Lucas — escuto Lorena chamar, mas ignoro.
Seguro sua mão, pego o anel da mão dela e analiso seus dedos.
—Não tire.
Enfio o anel em seu dedo, porque é aqui que ele tem que ficar e
permanecer, hoje e sempre.
Nível 22 da atração
Vim para o outro lado porque a todo momento o “amiguinho” da
Maria ficava falando com ela, me senti incomodo de ficar entre eles então
vim para o outro lado, ela não me olha.
Incrivelmente não quebra a nossa regra.
—Você vai continuar me ignorando?
Já não suporto mais, ela está agindo feito um robô desde que percebeu
que eu estou aqui, me ignorando.
Odeio isso!
—O que você está fazendo aqui?
—Achei que tínhamos um acordo.
—Que acordo?
—A parte em que você não ficava sem me responder.
—Você fugiu.
—É? Que novidade!
Não é o momento, mas conheço muito bem a Maria para saber que ela
não perderia a chance de passar na minha cara as coisas, ela é boa nisso, em
viver dando lição de moral e sendo a pessoa mais certa do mundo, mesmo
que odeie reconhecer dessa vez e de todas as outras vezes ela estava certa,
mesmo que me irrite saber que fui fazendo uma merda atrás da outra, eu
deveria ter ficado e tentado explicar, não contava com o fato de que eu
entraria em pânico e teria uma crise de nervos, me assustei com a situação
porque nem eu entendi bem o que aconteceu.
Eu me sinto como um louco que teve um acesso de loucura e acabou
fazendo merda perto da única pessoa para qual nunca deveria ter mostrado
esse lado.
—Inferno, fiquei preocupado — retruco.
—Inferno? Já falei para parar de me chamar desses nomes.
Você não é o inferno, inferno é só uma expressão, mas não tenho
paciência para explicar.
—Droga, estou nervoso, não me aborreça.
—Vá embora — ordena ela com autoridade.
—Não, eu não vou.
—Você disse que voltaria mês que vem.
—Eu disse que ficaria até o domingo.
—Hoje é segunda.
—Assim como em Angra neva.
Não tenho mesmo paciência e estar cercado de tantas pessoas me
deixa ainda mais aflito.
—Precisamos conversar, as coisas não vão ficar assim.
—Claro que não vão, você vai embora!
—Eu sou o cliente, Maria, eu só vou embora quando eu quiser!
Maria fica em alarde depois disso.
—Você é um cachorro.
—Sou? Que novidade!
—Está fazendo pouco de mim?
—Não, eu não estou.
Eu só não sei como agir, ela recebe outra ligação, fico sem saber
como lidar com isso, quero conversar com ela e me dispus a vir aqui e
resolver isso, mas pensei que conseguiria como das outras vezes, lugares
lotados me deixam ainda mais nervoso, lotado e estressado.
Só uma vez na vida de verdade queria ser diferente.
Maria se levanta de repente e eu a acompanho, o amiguinho vem
junto e essa intimidade ainda me desagrada, porque vai lá que ele só está
fingindo que não gosta de mulher, não confio.
Sigo ela em silêncio, nos aproximamos da mesa de Lorena Xavier, a
supervisora dela.
—Vou acompanhar a sua funcionária, Senhorita Xavier.
—Tudo bem.
E ela vai na frente ignorando tudo e a todos, Maria não faz muito o
estilo arrogante, mas ela está me tratando exatamente assim desde que ela
percebeu que eu estava ao seu lado, como se eu fosse um ninguém.
Entendo ela, mas quero ao menos uma oportunidade de conversamos
com mais calma.
Maria vai na direção das escadas assim que saímos do site de
atendimento, me apresso.
—Vai continuar?
Seguro sua mão, ela para, estou um pouco trêmulo, não queria estar
assim nesse momento, mas esse foi o único em que eu sabia que ela falaria
comigo, talvez eu fosse a casa de sua mãe e ela não quisesse me receber
ainda.
—Ok! — ela fala. —Você está com o Olaf?
—Estou com a empresa.
—Que empresa?
—A minha empresa.
—Ah. — Ela chega a algumas conclusões, em momento algum olha
para trás. — Vem tomar um café comigo, então, fica calmo.
—Eu estou tentando — falo —, mas essa gente não deixa.
Descemos de mãos dadas, ela me conduz até a lanchonete do lugar,
infelizmente o lugar está bem cheio, não parece o melhor lugar do mundo
para se fazer uma refeição pois é pequeno, mas é limpo, Maria me conduz até
uma mesa, o amigo dela começa a limpar a mesa e nos sentamos lado a lado.
—Aécio, poderia buscar um café para o Senhor Carsson?
Aécio ok.
—Ah, claro, você quer alguma coisa, mulher?
—Um café também, eu esqueci a minha bolsa, poderia pegar um...
—O que você quer? —pergunto. —Você tomou café hoje?
—Tomei — Maria olha para Aécio —, mas costumo comer alguma
coisa na primeira pausa.
—Então peça algo mais leve, pode ser uma fruta, por favor — tento
ser educado com o sujeito. —Por favor, algo leve para ela.
—Ok.
Aécio se afasta indo em direção a cantina.
Sei que Maria não se alimenta porque ontem liguei e Sarah ainda
conversou comigo, mas era cedo, desde então não atende as minhas ligações,
provavelmente atendeu porque não notou que eu estava ligando.
—Vida, você não está comendo direito.
—Estou bem.
—Você tem que se alimentar, Sarah disse que não anda comendo.
—Sah não sabe de nada.
—Fiquei preocupado, você está conseguindo dormir?
—Não muito.
—Nem eu.
Dormir é uma coisa que eu só faço quando estou com a Maria.
—Você está brava?
Mas que merda de pergunta é essa? Mas nem sei por onde começar.
—Não é o momento, Jack.
Eu sei que não, porra, mas eu queria ao menos que você me ouvisse.
—Sinto muito por tudo, me perdoe.
—Você vai lá em casa hoje à noite?
—Você quer que eu vá?
—Sinto sua falta, não deveria, mas, enfim, se quiser ir por mim tudo
bem.
Me alívio ao menos um pouco.
—Vou passar o dia aqui, vamos juntos para casa.
—Está bem.
Seguro sua mão com firmeza, Maria permanece dura onde está, tensa,
ter vindo não foi a melhor ideia pelo visto, mas sei que se eu não estivesse
vindo ficaria ainda pior do que eu estava.
—Voltei, menina!
Aécio retorna com salada de frutas e copos de café.
—E então, Duda, como foram as suas férias, querida?
—Foram boas, eu gostei muito de Las Vegas —Maria responde. —E
como foi aqui?
—Você invicta, Lorena reclamando, como sempre, essas coisas.
Acho que Maria gostou de Las Vegas, ela só não gostou de mim
mesmo.
Decepcionante me sentir assim, como se a opinião dela fosse a coisa
que mais me motivasse e me fizesse sentir bem, agora eu percebo que não
tenho um pingo de amor por eu mesmo desde que eu a conheci, isso não é
bom, não mesmo.
Eu até estava começando a aprender a gostar e a aceitar um pouco
mais minha personalidade, mesmo que eu não preste e tudo mais, contudo é
um trabalho lento e doloroso demais, se aceitar é muito mais difícil do que
aceitar qualquer pessoa que cruze seu caminho.
—Você está noiva, ou coisa assim?
—É, eu me casei.
Ainda estamos casados, graças a Deus!
—Casou? Com quem? — Aécio parece não acreditar.
—Comigo! — respondo.
—Fico feliz por você, amiga.
Ele não acredita, mas não ligo, somos casados e pronto... por
enquanto.
—E então, como que o Nando está? Sua mãe? O Van Delícia?
—Estamos bem, o Nando está ótimo, o Van também.
—E a faculdade?
—Volto hoje.
—Não pilha, menina, você é muito preocupada.
—Aécio, eu vou me demitir hoje, iria fazer isso na segunda quinzena,
mas apareceu uma coisa da faculdade para fazer e tal.
—Você vai pedir conta?
Não.
—Sim, você acha que a Lorena vai reagir mal?
—Ela vai ter um enfarte.
Também não.
—Duda, você vai perder os seus direitos, você se dedicou muito para
ter que sair assim da empresa.
—Mas eu preciso, eu fui convidada para ser palestrante na semana
jurídica da faculdade.
—Pela magia do Iago!
Quem é Iago?
—Mais ou menos isso.
—Duda, tem certeza de que é isso o que você quer?
—Aham.
Maria come a salada sem interesse, está pensativa.
—Acabando a pausa, vou passar no banheiro, nos vemos lá em cima.
Aécio sai da mesa e se afasta.
—Você não está bem.
—Eu vou ficar bem.
Maria está sendo dura comigo, mas sei que ela sofre muito mais com
tudo.
—Vamos, minha pausa já acabou.
Ela se ergue e me levanto também, saímos do lugar de mãos dadas,
pedi o café, mas nem tomei, me sinto na obrigação de me desculpar.
—Me desculpe.
—Tudo bem, Jack, um dia passa!
Não, as coisas não são assim, eu sei que você não vai deixar que isso
passe, você merece muito mais que isso.
—Não estava pensando nela.
—Isso é irrelevante — responde secamente.
—Você sofre com isso.
—Claro, acho que se eu falasse o nome de algum ex enquanto
transava com você, isso o machucaria profundamente.
—Maria, eu amo você.
Sua descrença é visível, sou tomado por essa sensação de perda, coisa
ruim, sentir que ela não me quer, sentir que terei que me afastar, estar longe é
complicado para mim e muito doloroso.
—Também amo você, Jack, mas isso não significa que posso ficar
aceitando essas coisas.
—Você é muito madura.
—É, infelizmente não tem uma praia por perto para eu sair correndo.
—Amo você, não se esqueça.
—Está bem.
Sei que as coisas não estão bem, só espero que até o fim do dia,
melhorem um pouco mais.
Nível 23 da atração
Retornamos ao site, nos sentamos no ponto de atendimento de Maria,
todos esses olhares me deixam realmente incomodado, mas tento de todas as
formas ignorá-los, Maria não é um exemplo de simpatia, mas algumas
pessoas a cumprimentam.
Ela é uma ótima funcionária, sei que tem um histórico impecável, e
vendo ela trabalhar assim me faz perceber os motivos pelos quais ela é a
melhor vendedora de sua equipe.
—O que você faz nesse caso? — pergunto olhando para a tela.
O sistema é básico e bem prático, se a Meta vingar e Maria aceitar
todos os planos que tenho para com a empresa, posso até aperfeiçoar os
programas, expandir mais o sistema para que os funcionários não fiquem
sobrecarregados, mesmo que seja um trabalho manual relativamente fácil,
parece que eles tem que ir a muitas telas para incluir informações.
—Bem, ela tem um limite muito alto, eu procuro ver os últimos
gastos, e o score.
—Essa é a frequência de compras dela — indico a tela.
—É, todas as vezes que ela usa os nossos cartões.
—Por quê?
—Porque é necessário saber se ele é cliente assíduo, claro que essa é
uma exceção, o score dela é muito baixo, mas eu consigo.
—Você tem uma autoconfiança incrível, Senhora Carsson.
Maria continua a olhar para a tela, séria.
—Obrigada.
Depois disso ela volta a atender, coloco a escuta no equipamento dela,
me sinto deslocado, acho que até que consiga ter algum tipo de conversa com
ela terei que ficar aqui acompanhando.
—A Senhora vai me deixar falar? —Maria pergunta num tom de voz
duro.
—Não!
—Então, Senhora, como eu dizia seria muito bom que adquirisse
nossos serviços, Senhora Deth, posso te chamar assim?
—Que seja.
Maria aperta o botão do mute, mas está tranquila.
—Um pouco de educação ajudaria —aperta novamente o botão —
Como eu dizia, Deth, já que a Senhora não se interessa pelo nosso seguro,
que tal fazer um upgrade no seu cartão?
—E o que é isso?
Ela é rápida na digitação, enquanto analisa as telas, Maria mentiu para
mim quando disse que era apenas uma atendente, ela não é, é uma excelente
vendedora.
—É para Senhora receber um cartão melhor, com mais benefícios, um
cartão com um status mais acima desse.
—Moça, o meu é platinum.
—É, mas ele tem limite, a Senhora já pensou em ter um cartão sem
limite? Um Black? Tenho certeza que aonde a Senhora chegar com esse
cartão, a Senhora vai arrasar!
—Arrasar?
—É, chegar nos lugares, tem uma máquina específica para esse
cartão, ele é exclusivo para clientes assim. — Ela pigarreia— Digamos,
alguém que tenha bastante dinheiro.
Sinto vontade de rir, eu riria, porque essa mulher que fala no telefone
com uma cliente, toda cheia de lábia se quer se parece com a mulher que
convivi no último mês, apesar de reconhecer o tom autoritário.
—É o que não me falta.
E eu aqui, sofrendo para comprar essa empresa por 3 milhões...
—Então, por mais R$ 195,00 a Senhora leva o nosso melhor seguro
residencial, incluindo seguro de carro por mais R$ 240,00.
—Isso tudo?
Mas não era Rica a dois segundos atrás?
—Senhora, pense nos benefícios, a Senhora já imaginou a segurança
que pode ter? Qual o carro da Senhora?
—É um Porsche.
Bom Carro
—Então, ele tem seguro?
—Moça, eu não preciso de seguro.
—Claro que precisa, todos temos que pensar no amanhã, e se pelas
ruas de Copacabana—Maria replica—, bem aí onde a Senhora está, alguém
bater na traseira do carro da Senhora e fugir? Pense nas possibilidades, sem
falar que o cartão já vem com seguro de perda e roubo inclusos por apenas
R$ 5,99 ao mês, é uma oportunidade única.
—Ok, faz logo esse inferno.
—A Senhora é um amor, Senhora Deth!
Aécio se inclina na direção de Maria e aponta para tela, Maria franze
a testa.
—Senhora, posso passar só mais uma última informação?
—Claro.
—A Senhora tem uma casa de bebidas?
—Eu mexo com eventos.
—A Senhora já tem o nosso cartão business?
—Corporativo? Está louca? E as taxas?
—Que taxas, Senhora Deth? A Senhora não paga taxa alguma
adquirindo o seguro próprio para sua empresa.
—E quanto custa, minha filha?
—Fica por R$ 399,00 apenas.
—Isso tudo?
Não consigo entender por que gente “rica” reclama de preço alto, não
consigo mesmo, não sei se é porque eu nunca tive pena de gastar um tostão
com o que eu quero.
—Senhora, Deth, sei que a Senhora pensa nos seus negócios, a crise
está feia, pense na sua empresa respaldada contra roubo, prevenção de perdas
e danos, a Senhora viu na TV aquele caso da dentista que morreu queimada?
—Vi, horror!
—Então, já pensou em poder ter um segurança na porta de sua
empresa duas vezes por semana? O seguro cobre para Senhora.
—Mesmo?
—É, eu estou falando —Maria bate na mão de Aécio mais uma vez
comemorando. —Vou fechar para Senhora.
—Fecha logo que eu estou com pressa, você me tomou tempo, garota.
—Que isso, Senhora Deth, eu me preocupo com a Senhora, sei que a
Senhora precisa estar segura de qualquer evento fortuito.
—Obrigada querida!
—Imagina.
Estou um pouco impressionado confesso, Maria ganhou essa mulher
de um jeito rápido e simples. Ela digita várias coisas nas telas rapidamente,
retorna na linha com a mulher.
—Olha, foi um prazer conversar com a Senhora, eu estou sendo
monitorada, a Senhora será transferida para nossa qualidade, eu peço que a
Senhora aguarde só mais um momento na linha, Senhora Deth o que a
Senhora precisar, estou a sua total disposição...
—Quero mais dois adicionais, um para minha mulher e um para o
meu filho.
—Claro, a Senhora quer que eu inclua o seguro?
—Claro que sim, e para os carros também, você me abriu os olhos,
minha filha.
—Sua esposa tem muita sorte.
—Ela tem vinte anos, é jovem ainda.
—A Senhora também, a Senhora é uma mulher de firmeza, gosto de
gente assim, decidida.
—É, eu tento, vai, me fala aí de você, gracinha.
Maria nega com a cabeça, visivelmente descrente.
—Então Senhora, a Senhora é casada há muito tempo?
—Dois anos, ela é estudante de Engenharia, é muito jovem.
—Ela tem sorte de ter alguém que se preocupa com ela, como a
Senhora.
—Vou conhecer os pais dela esse fim de semana, eles vieram do Sul e
tal, estou nervosa.
—Imagino, é um passo muito importante.
—Acha que eu dou um presente para ela?
—Se eu ganhasse um adicional Black sem limites, eu não precisaria
de mais nada.
—O meu filho tem dezenove anos, fico em cima, nunca se sabe, mas
a minha Gilda é louca por mim e não nega, sabe como é, né filha.
—Com certeza!
Sorrio, a falta de empatia dela me faz querer rir mais e mais.
—Pronto —Maria diz.
—Como você faz isso? —Aécio pergunta. —Vaca!
Maria lhe mostra o dedo do meio enquanto informa o script padrão
pós venda, Aécio ri, mas acho bem feito, não gostei dele chamando ela de
vaca também.
—Até logo, Senhora Deth, tudo de bom para Senhora e toda a sua
família.
—Para você também, filha, fica com Deus!
E ela transfere para outro setor.
—Quero saber o que a Lorena vai fazer sem você — Aécio comenta.
—Ela vai contratar outra pessoa mais jovem e competente.
—Duda, você não sabe o que está falando.
—É assim que as coisas funcionam.
Maria aponta para a Tela e continua a transferência com o outro setor,
então desliga a ligação.
—O que você analisa para conseguir converter um “não” em venda,
Senhora Carsson? — questiono.
Sinto vontade de rir do esforço que ela faz para parecer profissional
perto de mim, ela nem se quer faz menção de piscar para o lado.
—Eu escuto o cliente, o tom de voz dele.
—Tom de voz? — indago. — Como pode saber?
—Eu não sei, apenas eu o escuto, em parte porque enxergo no cliente
algo que ele queira, nas informações da base.
—E se não tiver informações?
—Eu furto dele, faço perguntas a respeito da família, até do cachorro,
as pessoas têm receio de falar pessoalmente, mas por telefone elas vão
soltando seus problemas.
—Você é muito incisiva.
—Eu ignoro muita coisa, não adianta ficar batendo boca, você precisa
ter foco e ser firme, ter o domínio na ligação.
—Qual a sua média de seguros por dia?
—Quarenta.
—Isso é muito?
—A média é quinze —Aécio diz, percebo certa inveja no jeito de
falar dela e admiração. — E a média de fidelidade dela é de trinta.
—O que é fidelidade?
—Os que não ligam para cancelar ou não desistem do seguro em
menos de dois anos.
—Silêncio —Maria diz, e faz um gesto com a mão, outra ligação que
entra. —Oi, tudo bem? Nesse número eu falo com a Bia?
—Sim.
—Oi, Bia, tudo bem? Aqui é a Maria, dos cartões.
Enquanto ela atende essa cliente checo meu celular, recebo um e-mail
formalizando o almoço com a gerente da operação dela e demais gerentes da
empresa, eles querem comunicar a venda, formalizar algumas coisas, vou
dispensar o almoço, procurar algum lugar para ficar bem longe dos olhares
alheios.
Se Bea e Joanne estivessem aqui, provavelmente fariam isso por mim,
mas foi uma decisão de última hora, nem mesmo Alejandro ficou.
—Vou para o almoço com a sua gerente — falo, assim que a ligação
dela se encerra. —Volto em uma hora.
—Aham, estarei aqui quando voltar, Senhor Carsson.
—Eu sei que sim, obrigado.
—De nada.
Me levanto e sigo pelo corredor, só quero ter que voltar aqui para
buscar Maria e Deus queira que depois disso ela não me expulse de sua
presença de novo.
E que eu não fale mais nenhuma merda.
Última despedida
Parece que faz uma eternidade desde que eu deixei Maria no site, mas
enfim ela está vindo, espero que ela tenha gostado das flores, sei que de toda
forma só agora poderemos conversar com calma, eu espero que a conversa
não acabe com algum tipo de discussão.
Comprei a empresa e sei que terei um bocado de trabalho pela frente,
mas nesse exato momento, eu a vejo entrando no carro, olhos fechados um
pequeno sorriso no rosto, talvez seja um bom sinal.
—Oi — falo.
—Oi, João Lucas!
—Gostei do seu óculos.
—Obrigada.
Olaf já entrou no carro e já está dando ré, Maria seca as mãos no
jeans, sei que apesar de estar mais calma, ainda está nervosa.
—Vamos para casa? — pergunto.
—É.
—E o Fernando?
—A Sah deve ter ficado com ele, as aulas dele voltam amanhã.
—Ele está bem?
—Sim.
—Que bom.
Me sinto envergonhado pela forma que agi, o Fernando precisava de
um pouco mais do que eu sempre ofereci e acabei fazendo merda, ambos
precisam de alguém equilibrado e dentro do possível normal, eu não sou
nenhum dos dois e ainda sim aqui estou disposto a tudo por eles.
Comprei um presente para o garoto, pedi que Olaf comprasse
enquanto estava na reunião, quando retornei ao carro o pacote já estava
pronto, eu quero que o garoto me desculpe também por ter me afastado deles,
por não ter me despedido e avisado que teria que ir embora.
Eu mal conseguia me controlar, mal conseguia pensar direito e estar
longe deles tem sido uma grande tortura, parece exagero, mas estar longe me
machuca tremendamente, me apeguei rápido demais a ela, me apaixonei pela
atração que senti em Vegas e quando conheci seu filho eu percebi que
também o amaria, que não conseguiria ficar longe demais do garoto, eu os
amo muito para conseguir me afastar.
Quero seu perdão, quero que ela entenda como as coisas aconteceram,
mas acima de qualquer coisa quero que ela fique ao meu lado.
—Maria, você tem que me perdoar!
—As coisas não são assim, Jack.
—Foi apenas um erro.
—Eu sei, foi um grande erro.
—Sou idiota.
—Com certeza.
Não sei como explicar, como justificar, só sei que preciso resolver
isso.
Tento respirar fundo, estou tenso, nervoso, diria apavorado, fiquei
durante toda a manhã esperando por isso, por essa conversa.
—Precisa entender.
—O que eu preciso entender?
—Nunca me apaixonei por outra pessoa ou pensei que havia me
apaixonado, na minha vida.
—Entendo, você transa com as pessoas imaginando que todas elas são
a Soraya.
Não imaginei, mas é tão louco tentar explicar isso e colocar em
palavras.
—Não, na verdade não.
—Não consigo te entender.
—Ninguém me entende.
—Aham.
—Apenas falei da boca para fora, Maria, eu... eu sou um grande
merda.
Já é complexo demais ser eu, quem dirá tentar explicar minhas
ações...
—Por favor, me desculpe, isso não vai voltar a se repetir.
—Não vai mesmo.
Não? Porra!
—O que quer dizer com isso?
E me vem essa sensação de pânico no peito, uma vontade imensa de
fazer merda porque sei que Maria apesar de tudo tem muitos motivos para me
expulsar da vida dela de uma vez por todas. Seguro sua mão, estou com medo
do que ela possa responder.
—Pare com isso, Jack.
—Não é algo que eu controle, já disse, você quer o divórcio?
Maria fica calada, observo sua face ela fica cabisbaixa.
—Por que você veio a empresa?
Fico impaciente, não respondeu minha pergunta sobre o divórcio.
—Já disse, negócios!
—Não precisa berrar, está bem?
Não consigo perceber que perdi o controle, tento respirar fundo.
—Desculpe.
—Olha, tudo bem, eu não me importo com o seu passado, eu tento
aceitar a sua doença, mas não pode me pedir para que ame você sem que
corresponda, sem que se entregue a mim por completo.
Ouvir isso faz com que meu coração vá ficando apertado demais,
porque eu nunca em toda minha vida amei tanto alguém.
—Você não sabe o que está falando.
—Eu sei —Maria se vira para mim, olhos fielmente fechados. —Tem
momentos que você me enlouquece, Jack, você é sufocante e você sempre
quer dar a última palavra.
Enrijeço com a acusação.
—Só penso no que é melhor para você, eu não sou perfeito.
—Eu não entendo por que você faz isso comigo.
Me sinto mal em ouvir isso também, porque é verdade e porque eu
desejo mesmo não ser assim, mas é da minha natureza, estou sempre tentando
controlar, mudar quando se trata dela.
Mas minha doença e minhas personalidades nada dóceis permitem.
—Eu não sou bom em expressar os meus sentimentos.
—Eu não sou boa em nada, mas isso não significa que eu vou ficar
agindo feito uma estúpida com as outras pessoas.
—Me desculpe.
—Não!
Ouvir não, não é pior do que sentir que é definitivo.
—Quer que eu vá embora?
—Eu não sei.
—Eu não vou.
Maria se irrita, passa as mãos no rosto toda agitada.
—Por quê? Pode me dar um tempo, não pode? — questiona
impaciente.
Sei que se eu deixar que ela se afaste ela não vai querer voltar, é isso.
—Não, porque senão, você vai querer me largar.
—Se eu quisesse te largar, eu não teria me demitido nem continuado
com o nosso plano de morar no seu apartamento.
Não faria sentido mesmo, mas e se ela estivesse fazendo isso apenas
para que eu fosse embora e depois ela sumisse?
—Se você soubesse o quanto tudo isso está sendo rápido para mim...
—Eu sei que está, eu não quero que se sinta sufocada, por isso você
deve se manter focada apenas nos estudos e no Fernando.
—Está bem.
Maria fecha a cara e cruza os braços não disposta a conversar.
—Vida...
—Não me chame de vida!
—Desculpe.
Limpo as faces, eu a olho e a olho e não consigo pensar em nada para
fazê-la mudar de opinião, ela não me quer por perto porque eu a machuquei,
ela quer que eu vá embora porque eu quebrei sua confiança, feri seus
sentimentos e ela tem total razão, quero tentar fazer ela me perdoar porque sei
que se eu for e não tiver ao menos uma chance as coisas na minha vida vão
desandar.
Sei que sim.
Mas não posso obrigá-la a me perdoar nem sujeitar ela por um
segundo se quer a lidar com o que eu fiz sem que ela sinta que deve me
perdoar verdadeiramente, ela merece isso, ela precisa disso.
—Se eu for embora, você promete que vai me responder?
—Prometo.
Terei que partir e agora não sei se poderei voltar para a vida dela.
—Quanto tempo, Maria?
—O meu mês.
—Quando nos reencontrarmos, você vai me ver e vai dar a sua
resposta definitiva.
—Está bem.
—Se você não responder...
—Eu vou responder, Jack.
—Ok.
Ficamos calados por alguns momentos, a dor vai me tomando mas
também dando lugar a um sentimento de vazio logo em seguida.
—Eu te amo, João.
—Eu também te amo.
Eu a puxo para meu colo, Maria toca a minha face e me beija, os
sentimentos fluem e sei nesse instante que ainda não perdi ela, mesmo que
saiba que ela me ama eu ainda tenho um grande receio que acima desse amor
esteja a mágoa, eu a abraço sentindo muita falta disso.
Ficaremos longe por um mês, para ela será algo bem rápido, gostaria
de que para mim também fosse assim, mas sei que não será. Minha boca
explora a sua com força, com intensidade, do jeito íntimo que sempre nos
beijamos quando estamos a sós, apesar de tudo, sei que é o melhor para
Maria.
Acho melhor eu nem ir para a casa dela, não entrar, se eu entrar eu
não vou conseguir ir embora.
—Trouxe algo para o Nando, não verei ele, por favor, aceite está
bem?
—Tudo bem.
Maria me abraça e o carro para, beijo sua cabeça, eu a aperto e sinto
seu cheiro, uma imensa vontade de chorar dentro de mim.
Não queria que as coisas fossem assim, mas provoquei isso, nem que
involuntariamente.
—Atenda o celular.
—Está bem, João Lucas.
—Hum.
—Lembra que eu te falei sobre te dar um presente?
—Lembro.
—Quando nos vermos de verdade, eu vou te dar, está bem?
—Está bem.
—Amo você, para sempre, mas você precisa disso, eu também.
—Eu sei.
—Não fique triste, estarei com você para onde você vá.
—Você sempre está comigo, Maria.
—Te amo.
—Também te amo.
Maria me beija mais uma vez, é um beijo sofrido para ambos, Olaf sai
do carro e abre a porta para ela.
—Nos vemos em um mês.
—Eu te amo, Maria Eduarda.
—Eu te amo, João Lucas.
Mais um beijo.
Mais uma despedida.
Foram tantas em tão pouco tempo, mas em todas eu sabia que voltaria
para ela, dessa vez mesmo que ela me dê certezas, ainda tenho receio de que
não seja assim, Maria abandona meu abraço, sai do carro e não olha para trás,
Olaf fecha a porta e eu a vejo se afastando, indo para longe.
Um mês...
Será que eu suporto?
Pai
Eu sei que ela está arrumando a mudança, mas custava me responder?
Isso me irrita.
Estou do outro lado do mundo tentando arrumar motivos para não
largar tudo e dar meia volta e Maria se quer se dar ao trabalho de atender
minhas ligações, já saí do brasil a força, quando o avião decolou, eu estava
tão tenso que acabei tendo um enjoo e vomitei até as tripas, eu não como
direito a três dias.
Tenho tomado os remédios, bebido água, café, alguns biscoitos, só
que não consigo pensar em comer nada nesse momento.
Sarah me disse mais cedo que Maria estava enrolada com os afazeres
da faculdade e eu compreendo, mas achei que ela priorizaria ao menos nosso
acordo.
Me enganei.
Estou estressado desde que retornei a Dubai para mais algumas
formalidades com o governo do país referente a um futuro investimento. A
mudança de fuso acabou comigo e nesse momento estou exausto fisicamente.
Envio uma mensagem, aqui já são 04:54 da manhã, lá é noite.
“Oi, boa noite”
“Oi, boa noite, Jack”
“Como está?”
“Bem, e você?”
“Em Dubai”
“Você viajou?”
“É o meu trabalho, querida”
“Estou arrumando a minha mudança, amor”
Só esse “amor” já deixa claro que ela está muito bem sem que eu
esteja por perto.
Me irrito ainda mais.
Começo a digitar algumas coisas como “você está feliz agora que se
livro de mim”, mas acabo desistindo, sei que só vou piorar ainda mais a
situação se eu não respeitar a decisão dela.
O que é quase um milagre vindo de mim, mas realmente, ela precisa
disso.
“Que bom”
“Bom mesmo, preciso entregar o seu presente para o Nando, o que
é?”
“Surpresa”
Maria precisa ficar longe de mim porque quando estou perto demais
só faço merda.
“Um dia passa, Maria”
“É, quem sabe um dia eu desculpo?”
“:)”
“:)”
“Amo você, vida”
“Amo você”
Suspiro.
Tenho algumas reuniões logo cedo, mas decidi trabalhar algumas
horas a mais, não tenho expectativas de que consiga dormir ainda hoje,
mesmo que esteja bem cansado, que uma dor de cabeça infernal comece a me
ameaçar, eu sei que se eu tentar dormir não vai dar certo.
Vou ter merda de pesadelo.
Em alguns segundos recebo uma mensagem da irmã dela. Estou
surpreso que ela tenha me chamado no chat.
“O Nando gostou do seu presente, está exibindo para todo mundo
cunhado”
Sorrio, mando uma mensagem para Maria.
“Ele gostou”
“Coisa de Mister “M”? “
“Coisa de pai”

“Eu adorei Jack, muito obrigado mesmo”


Fico rindo feito bobo quando leio a mensagem do garoto, ele nem
abriu o pacote direito e já está se comunicando comigo.
“Que bom Nando”
“Nem sei o que falar, seu número é o primeiro na minha lista”
“Obrigado”
De todas as formas estou constrangido por ter partido e não ter me
despedido do menino.
“É muito legal mesmo, mamãe nem acreditou quando eu abri”
“Aposto que não garoto”
“Quer fazer vídeo chamada?”
“Estou meio ocupado aqui garoto”
“Jack, você e a mamãe brigaram né?”
Merda.
Por que eu achei que ele não notaria?
“Não exatamente, porque?”
“Ela anda chorando pelos cantos sabe? A casa não é tão grande, ela
fica chorando escondido”
“Eu sinto muito Fernando, eu e sua mãe estamos passando por
algumas coisas”
“Mas você vai voltar né?”
“Vou pode ter certeza”
“Tá se cuidando?”
“Como assim me cuidando garoto?”
“Comendo ué, mamãe quem arruma sua comida aqui, ela quem cuida
de você”
É verdade.
Isso me faz sorrir, fico cativado.
“Obrigado por se preocupar garoto”
“É para voltar logo Jack, mamãe e eu morreremos de saudades”
“Pode apostar que eu farei de tudo para voltar logo”
“Se quiser eu posso ir mandando fotos nossas, que tal?”
“Seria ótimo”
“Para matar as saudades que você sente da gente né?”
“Com certeza”
“Jack, cuidado”
“Eu vou tomar, cuida da sua mãe e se cuida garoto, em uns dias eu
volto”
“Tá bom, vou escovar os dentes”
“Tudo bem filho, vai lá”
“Boa noite Jack”
“Boa noite Nando”
Ele fica off, deixo o celular sob a cama e respiro fundo, Olaf aparece
com os remédios e um saco com comida vegana, reviro os olhos.
—Vai comer ou eu tenho que te obrigar?
—Não tem medo de perder a porra do seu emprego?
—Na verdade, não.
Ele me entrega os comprimidos e o saco de papel, não queria ter que
me submeter a isso, mas pelo visto o Olaf está determinado a me tratar feito
um incapaz.
Mas pensando bem, eu sou um, então, estamos empatados.
Que o mês acabe logo
—O que você quer Alejandro? Estou bastante ocupado.
—Queria saber se você melhorou.
—Estou ótimo.
Tenho muita coisa a fazer, ainda terei que viajar para a Índia e a
Joanne disse que virá ao meu encontro para colocarmos algumas coisas em
pauta, eu não tenho atendido ligações de ninguém pelo simples fato de que
não acredito que isso vá ajudar em nada, além do que eu também não devo
satisfação a nenhum Carsson da minha vida. Mesmo que eu saiba que depois
da crise que passei, o Ph deve ter falado para papai e para todo o resto da
família o quão suscetível eu estou.
—Papai está preocupado com você.
—Diga que estou bem.
—Acho que não, acho inclusive que você e a Duda não vão voltar
porque você é um baita orgulhoso.
—O que você acha não me importa, morre.
E desligo.
Pego o celular, tomado pela insegurança, mas concreto de que as
coisas não foram assim, eu acho que as pessoas pensaram que eu briguei com
a Maria e que eu a abandonei e que não tive humildade para me desculpar e
voltar para ela. Mal sabem eles que eu acabei fazendo uma merda bem maior
e que ela deixou claro que só vai me perdoar se tiver o tempo dela.
Envio mensagens para ela, sei que me equivoquei em nossa outra
conversa, estava estressado.
“Muito trabalho, espero que dê tudo certo aí”
Ela não responde.
“Você está muito ocupada?”
“Maria, fala comigo”
Ela só visualiza, acho que agora é a hora em que ela está se
apresentando na faculdade, queria poder estar lá com ela, acompanhar esse
momento de sua vida, mas infelizmente não estou.
“Maria, eu sei que eu sou difícil e um completo asno, mas, por favor,
responda”
“Vida”
“Amor, desculpe por ontem, estava chateado”
“Fala comigo”
“Oi”
Oi?
Envio um emoji irritado, fico pilhado quando ela demora para
responder ou quando faz pouco caso de mim.
“Estava ocupada, Jack, desculpe, algum problema com a sua
família?”
“Sim, todos acham que você me largou, isso é verdade?”
“Não, claro que não”
“Aliviado”
“Estou ouvindo a rival, ela é bem incisiva”
“Você consegue”
Maria ainda é a mulher que eu vou esperar todos os dias da minha
vida dizer que me ama todas as vezes que estivermos juntos, mas quando
estamos afastados consigo me sentir ainda pior.
“Você não está esquecendo de me falar nada, Senhora Carsson?”
“Te amo, muitas saudades”
“Nossa, já estava demorando”
“Preciso ir, nos falamos depois, beijo”
“Ok”
Sei que está ocupada, mas me irrito mesmo assim.
Segundos depois o Nando está me ligando, uma chamada de vídeo no
chat, atendo a ligação e tão pouco vejo a imagem trêmula começo a sorrir, me
encosto e me endireito observando essa bela e jovem mulher subindo a um
palco usando roupas sociais, assim do jeito que eu nunca vi na vida.
—Boa noite, Doutores e Doutoras da Gama, meu nome é Maria
Eduarda, eu estou no oitavo período e esse é o meu trabalho, espero que
gostem da minha defesa e que desfrutemos de uma noite muito agradável de
grande conhecimento e aprendizagem, bem, vamos lá...
Enquanto ela fala, observo sua postura impecável, o sorriso em sua
voz, as curvas que aprendi a amar a ter um orgulho imenso de respeitar,
deixei tantas coisas de lado por ela que as vezes parece impossível de
acreditar que mesmo que nada na minha vida tenha mudado eu mudei.
Mudei muito.
Talvez não para o melhor, mas fiz alguns avanços, espero ver esse
sorriso pessoalmente logo, logo.
Estou ansioso quando Maria fica online horas mais tarde, falei com
Sarah, ela me avisou a pouco que tinha acabado e que eles iriam sair para
comemorar a apresentação da Maria.
Apesar de tudo estou feliz por ela, tenho certeza de que ela foi muito
bem, não consegui acompanhar todo o vídeo, o garoto é meio novo nisso
também e ficou um pouco empolgado demais, toda hora se animava e
conversava com Sarah e com o tal do David.
Nem sei quem é, mas ouvi um pouco da voz dele, aprendi a não ter
nada contra, Maria está cercada por homens que nunca se aproximariam dela
em outro sentido, simplesmente porque eles gostam de outros homens.
É machista eu sei, é doentio eu sei, é o cúmulo, mas porra, como eu
me sentiria bem dentro do possível com outro cara perto dela?
“Hei como foi?”
“Estou ansioso, fale como foi?”
“Você foi bem!”
“Vida eu sei que já acabou, Sarah me falou, responde”
“Ah, vocês estão num restaurante Japonês”
“Ninguém me convida”
Envio uma foto de duas barras de cereal, não consegui comer nada e
só estou comendo essas porque o Olaf ficou rosnando para mim feito
cachorro no cio.
“Dieta”
“Ok, estou com inveja de você”
“Amor?”
Ela visualiza minhas mensagens.
“Oi, estamos sim, por que dieta?”
“Estou sem tempo mesmo”
“Você tem que comer”
Recebo uma foto de uma barca lotada de comida japonesa e do garoto
devorando um sashimi.
“Ele gosta de comida japonesa?”
“Adora”
“Sinto falta de vocês”
“Também sentimos sua falta”
Ainda bem.
“Esse mês tem que acabar logo”
“Tem mesmo”
“Me manda uma foto sua para minha coleção”
Maria demora alguns instantes até enviar a foto, o garoto está sentado
na frente dela e ela o abraça com um sorriso imenso, meu coração vai se
contraindo aos poucos e logo em seguida, ele se abre.
“Sinto sua falta, não vejo a hora de te ver, Duda”
“Eu também, não vejo a hora de te ver, João Lucas”
Não gosto desse nome e ela fala só para me provocar, envio um emoji
irritado novamente, depois me vejo sorrindo e olhando para a foto deles dois,
envio para a impressora.
—Vou deixar bem aqui, pertinho de mim, minha Vida e o meu garoto.
Espero que logo seja algo mais que uma foto.

Assisti o vídeo e fiquei muito puto, depois de alguns momentos


mandei mensagem para Maria, para Sarah, para Sandy, ninguém falava nada.
Fiquei super nervoso de ver ela naquele estado de nervos. Olho para a tela do
celular esperando por respostas.
“O que está havendo?”
“Maria, você está nervosa, fique calma”
“Se eu estivesse aí, isso não aconteceria”
“Fique calma”
“Só me fale o nome dessa garota”
Leva alguns minutos até que Sarah me responda.
“Jack, a Duda já está bem, ela ofendeu a Duda no meio da aula”
“E quem é essa mulher?”
“É a Fabi”
Vou até o pv da Maria e digito:
“Fabi? Entendi”
“Amor, sei que está mal, fale comigo”
Retorno para a conversa com a Sarah, visualizo.
“Ela é uma garota bem complicada, ela chamou a Duda de vadia na
frente de todos, a Duda está meio abalada porque se sentiu ofendida”
Fico ainda mais puto de raiva.
“Porque ela fez isso?”
“Porque ela é uma vagabunda”
Você também hein...
“Você não conhece a Fabi, ela sempre fez tudo para prejudicar a
Duda, ela tem inveja porque a Duda tem boas notas”
“Eu quero saber quem ela é e quem são os pais dela, se tem dinheiro,
eu quero saber tudo sobre essa garota”
“Nossa, que ameaçador, amei”
Nego com a cabeça.
“A Maria tá bem mesmo?”
“Já, já estamos indo para casa”
“Pede para ela falar comigo”
“Vou avisar, mas não conte com isso logo, ela está bem abalada”
“Está bem, manda logo as informações sobre essa tal de Fabi”
E ela que me aguarde.

“Vida, bom dia”


“Bom dia, Jack”
“Você está melhor?”
“Sim, e você?”
Quero mais que mensagens, sei que ela está péssima.
“Vou te ligar, está bem?”
“Não”
Ligo mesmo assim, Maria atende logo.
—Oi amor! — falo e escuto um fungado. — O que foi?
—Nada.
Não estou convencido.
—Você está chorando —retruco. —Maria, por favor, não diga que
você está chorando por causa daquela idiota.
—Sinto sua falta.
Suspiro, ouvir isso é algo que me quebra todo, do começo meio e fim.
—Também sinto sua falta, querida, gostaria tanto que estivesse aqui
comigo.
—Jack, o que você sente por mim?
—Muitas coisas.
—Mas você sente como se eu fosse brilhante? Sente amor? Me acha
linda?
—Eu te acho fora de série, Maria, o que está havendo?
—Tenho medo de que isso não seja o suficiente para mim.
—O meu amor?
—Talvez não seja amor.
Porra, se não for amor, o que é isso? Essa merda toda que evoluiu ao
ponto de eu entrar em contato com um juiz do Rio de Janeiro para comprar
briga por você?
—É amor, Maria, não fale isso, estou me controlando ao máximo
para não ir, ontem depois daquele vídeo, eu quase mandei arrumarem o
avião, eu não suporto que sofra.
—Você está em Dubai?
—Sim, daqui vou para Índia.
—Está bem, hoje é a mudança.
—Eu sei, você vai gostar do lugar.
—Espero que sim.
—E aquele... grupo?
—Apenas para nos comunicarmos, acho que não consigo falar com
várias pessoas ao mesmo tempo, e todos tem meu número.
—Pode bloqueá-los.
—Jack, é a sua família.
—E daí?
—Já falamos sobre isso.
—É, infelizmente essa gente tem o meu sangue, se sentem no direito
de invadir a minha vida.
—Preciso ir, nos falamos depois.
—Está, você vai para faculdade hoje?
—Não, eu não estou bem, prefiro ficar no novo apê —Maria
responde. —Fica bem, ok?
Sei que nossa conversa já a fez melhorar um pouco, me alívio.
—Na medida do possível...
—Amo você João Lucas.
—Amo você e não me chame por esse nome.
Ela desliga, envio um coração no chat, aquela sensação de
tranquilidade me toma, respiro fundo e de novo, Joanne já chegou e já
começou a mexer na minha agenda, mas decidi tirar três horas para tentar
dormir, acho que ao menos agora eu vou cochilar um pouco e não ter
pesadelos.
Nível 24 da atração
—E então?
—Oi, Jack, eu estou bem e você?
—Por Deus, Maria, fale se gostou!
—É bonito.
—Só bonito?
—Você entendeu.
Ela suspira, sei que gostou, Nando me mandou uma mensagem
avisando que eles já haviam mudado, tem sido dias corridos para Maria e
para mim, nos falamos pouco também porque os negócios estão sempre me
lotando, queria me sentir mais próximo dela e a cada dia que passa eu me
sinto melhor por saber que estaremos juntos logo em breve, mas quero que
esses dias passem bem mais depressa.
—É perfeito.
Estava tenso demais, porque queria que ela gostasse do novo lar, o lar
onde eu e ela viveremos quando eu voltar.
—Que bom que gostou.
—Tem um piano, isso é muito clichê!
—Para eu tocar quando eu for aí, amor.
Posso ouvir um pequeno pigarreio vindo de sua garganta, fico sem
graça por ter dito isso, parece tão romântico.
—Ok, parei, então, você já entrou no nosso quarto?
—Sim, a cama é enorme.
—Precisamos de espaço.
—Aham, eu gostei daqui, é simples, porém, chique.
—Eu mesmo mandei redecorar.
É um bom apartamento, sei que ela e o Nando ficarão bem
acomodados, sem falar da segurança que todo o condomínio tem, por ficar
bem localizado.
—Que bom que gostou, vida.
—Eu achei tudo perfeito, obrigada, João Lucas.
—Maria, não me teste.
Acabo por rir, ela também, sabe que eu odeio esse nome ainda sim me
provoca.
—E o Nando?
—Ele está jogado na cama dele, ele mal acreditou que seja de casal.
—É para ele ter mais espaço quando você quiser dormir com ele ou a
Sarah.
—Você sabe como se desculpar, Jack.
Não quero perdão, quero que vocês fiquem sempre bem e seguros
porque amo demais vocês, porque sem vocês não sei como seria minha vida.
É exagerado e extremo, mas é assim que me sinto.
—Não faço isso por perdão, Maria, faço isso porque quero que
tenham o melhor.
—Desculpe!
—Tudo bem, você não quer tirar a roupa e relaxar um pouco?
—Tenho meu inglês daqui a pouco.
—Tem academia no prédio, pode descer e fazer seus exercícios com a
Sandy diariamente lá, e como a cobertura é nossa, pode usar a piscina.
—Que piscina?
—A da cobertura amor, é só subir as escadas, toda a área é nossa.
Estou feliz mesmo que ela tenha gostado, quando Maria está feliz me
sinto feliz também.
—Obrigada mesmo, Jack, não tenho palavras para agradecer sua
generosidade.
—No final do mês você poderá agradecer pessoalmente.
E eu espero que dê tudo certo quando eu retornar, ainda me sinto
inseguro sobre uma porrada de coisas, mas com certeza não sobre isso.
—Jack, não me importo com a sua aparência, aceito sua doença.
—Isso precisa acabar, vida.
—Está fazendo isso por você mesmo?
Também.
—Sim, acho que já passou da hora de mudar a minha vida, quero
tudo com você, e para isso, preciso perder o medo de estar com você, medo
de que me veja.
—Eu te amo Jack, amo mais que tudo, sinto que essa distância te faz
bem, para você refletir.
Queria poder usar isso como motivação para tentar melhorar minha
qualidade de vida, estou aqui enfiando a cabeça no trabalho e nada parece
mudar, mesmo tomando os remédios a ansiedade não diminui, meu humor
não melhora e nada funciona.
—É, mas isso me causa uma dor emocional muito forte, sinto sua
falta e fico a todo tempo preocupado.
—Mas está aprendendo a lidar com isso, não está?
—Sim.
—E acha que pode ser que sinta mais amor do que preocupação, ou
essa mania feia de me perseguir?
—Maria, o que eu sinto é muito mais forte que amor, não comece,
está bem? Estou tão feliz que tenha gostado, isso significa muito para mim.
É ruim sentir que ela não confia em mim, mesmo que esse seja o
preço que eu pague por ter feito merda, porque não é perseguição, é amor, eu
a amo tanto.
—Eu te ligo mais tarde.
—Está bem, vou esperar.
—Cuidado com o blindex, mas já mandei colocarem redes por causa
do Fernando.
—Obrigada.
—Amo você, Maria, não esqueça, esse louco perseguidor sente muito
sua falta.
—Também amo você, muito.
—Cuida do nosso Fernando.
—Ok, se cuida.
Louco
—Não acha que poderíamos conhecer algumas outras partes da
cidade?
—Eu não queria ter saído do hotel tanto quanto você, ou você acha
que eu gosto Joanne.
—Eu queria vir sozinha.
—Seria indelicado com o prefeito.
E eu também não gostaria de ter saído, quanto mais num dia como
este, estou cansado e tenho ainda muitos afazeres, tem sido dias corridos e
cansativos, mas até para mim que sou o antissocial sei que não seria benéfico
para meus negócios recusar o convite.
Conheci um bom desenvolvedor aqui, quero investir em negócios no
país então preciso estar aqui e conhecer sua cultura, Joanne ao invés de vir de
tênis inventou de vir de saia e sapatos altos, eu nem consigo imaginar como
estarão os pés dela ao fim do passeio, já estamos andando a alguns minutos
enquanto um tradutor explica sobre a cultura local, os bairros e o prefeito não
para de falar.
Estamos descendo alguns degraus em direção a um imenso rio, mas
eu acho que nem mesmo em minha infância nunca vi tamanha sujeira, eu não
gostaria de descrever uma cena tão desagradável, mas o rio Ganges me
parece muito mais poluído do que o rio Tietê.
Não conheço muito a cultura do país, mas conheço São Paulo,
desembarquei lá rapidamente algumas vezes e sei muito bem o quanto eles
conseguiram matar rapidamente o rio num percurso de 20 anos, também
estudei bastante sobre o Brasil durante a minha infância.
Agora o rio Ganges realmente está me desagradando muito mais.
Visualmente é deplorável, percebo que a movimentação na beira do
rio é comum, ainda que veja bastante lixo encostado, lixo em meio a pessoas
transitando como se fosse a coisa mais normal do mundo.
—Meu Deus! — Joanne diz chocada.
—Blasfêmia — digo com sarcasmo.
—Ora Jack, não é hora para suas ironias.
—Você fala demais Joanne.
—Meus pés estão me matando.
Vim de sandálias, porque aqui faz muito calor, o tempo é abafado e
seco, o tradutor não para de falar sobre a história do Rio Ganges, do quão é
sagrado e dos rituais que são feitos no lugar.
Eu só consigo me sentir grato porque ainda não vi nenhum corpo
boiando, o que é comum, já que muitas pessoas morrem e são jogadas no rio.
É sagrado, mas não é respeitado, tão pouco as pessoas que vivem
envolta dele.
Meu celular vibra e continuamos andando pelo lugar, Nando me
manda uma foto da Maria usando biquíni na praia.
“Dia na praia... você nunca me convida para nada”
Apesar de tudo estou aliviado porque ela está no nosso apartamento,
porque tem conversado comigo.
“Você está linda com esse biquíni”
“Mas TEM QUE USAR UM MAIÔ”
“Biquíni só quando eu estiver por perto”
Olho envolta enquanto algumas crianças se aproximam, o Prefeito faz
cara feia para elas, é um homem que usa roupas sociais, mas um turbante na
cabeça de cor laranja, parece bastante apego ao tradicionalismo, decido
enviar uma foto para Maria do lugar.
“Na Índia”
—Dalit! — escuto o Tradutor falar enquanto o prefeito indica uma
criança afastada. — Aqui na Índia é comum o sistema de Casta, os intocáveis
não podem ser tolerados no mesmo meio das pessoas comuns.
Eu olho para o garoto, ele é meio magro e não parece desenvolvido,
nem ele nem metade de outras crianças que correm pelo lugar, tiro uma foto
dele e envio para Maria, ele parece se quer se importar comigo, apesar de ter
olhos expressivos de cor verde, só parece... triste.
“Dalit”
Fico parado olhando para ele por alguns instantes, até que o prefeito
começa a nos conduzir para longe das margens do rio, Joanne suspira
olhando envolta anda meio que mancando, aposto que os pés estão cheios de
bolhas, Olaf está por perto, mas conversa com alguns comerciantes, eu
definitivamente não sei como ele consegue se comunicar com as pessoas
assim, mas enfim, é o Olaf.
“Acho um absurdo o descaso que eles fazem com essas crianças”
“O que é um Dalit?”
Ah, agora decidiu me responder?
“São crianças abandonadas, aqui tem sistemas de castas”
“Não entendi”
“Vida, são crianças que eles abandonam por acreditar que elas são
alguma espécie de intocáveis”
“Você pegou ele, não pegou?”
Eu tinha que pegar?
Paro e olho envolta, já estamos um pouco afastados das margens do
rio, mas a pergunta me faz refletir.
Eu tinha que ter pego o garoto?
Essa pergunta fica ecoando na minha cabeça e realmente eu não sei o
que fazer. Decido ser sincero com Maria, porque foi algo que nem me
ocorreu.
“Não peguei, por quê?”
“Você deixou ele nesse estado?”
“O que eu poderia fazer?”
“Acabei de falar, Jack, é uma criança abandonada”
“Tem dezenas delas aqui, se eu for pegar todas, serei preso pelas
autoridades”
“Que descaso”
“Você pega toda criança que vê nas ruas do Rio? Acho que não”
“Deu comida a ele?”
“Não”
“Jack!”
“O quê?”
“Quer saber, deixa”
Me irrito.
“ÓTIMO”
“ÓTIMO”
—Merda!
Sinto vontade de quebrar alguma coisa, mas ao mesmo tempo me
pego olhando envolta e procurando o caminho até a parte das margens.
—Jack — Joanne chama fazendo uma careta. — Vamos? O prefeito
quer que nós almocemos com eles.
—Chama o Olaf, dispensa o prefeito tá bem? — me aproximo dela e
tiro as chinelas, lhe entrego as chinelas. — Na próxima vez vê se usa
chinelas.
Joanne me olha meio chocada, me afasto descalço, na minha mente só
me vem aos poucos a bronca que acabei de levar de Maria e um enorme
receio pela minha falta de preocupação com aquelas crianças.
Sei que sempre fui insensível, dou dinheiro para a caridade e boas
quantidades, mas de verdade agora consigo me sentir ainda mais egoísta
porque não parei para pensar um segundo naqueles meninos.
—Obrigada — Joanne berra enquanto me afasto.
—De nada.
Me apresso e desço apressado pela rua observando o jeito como
pareço um completo louco, viro no sentido direito percebendo mais a descida
perto das margens, tomo cuidado com os degraus, tão logo me aproximo sou
cercado por umas três crianças, todos meninos, olho envolta e vejo o outro
menino andando entre as pessoas, se afastando.
—Hei, menino, volta aqui! — berro.
Francamente depois de ter corrido na praia atrás da Maria essa é a
segunda maior loucura que eu estou fazendo em toda a minha vida.
O menino olha para trás todo desanimado, fico parado sentindo seu
olhar através de mim, algo como se dissesse que eu deveria olhar com mais
cuidado algumas coisas em minha vida, depois ele se afasta me dando as
costas e começa a se apressar.
Acho que ficou com medo.
Começo a me afastar das outras crianças, elas vão ficando para trás
enquanto vou correndo atrás do menino, tentando subir os degraus, por
alguns segundos perco ele de vista, até que consigo achá-lo, algumas pessoas
esbarram em mim enquanto corro, demoro um pouco para conseguir achar
ele, em meio a tanto lixo jogado no canto, ele está perto do que parece ser um
bueiro de esgoto, tira alguma coisa de dentro da toga que usa e estende para o
rumo da boca do bueiro, então percebo uma mão saindo de lá.
Respiro fundo e a cena é meio difícil de se processar.
O menino está dando um pedaço de alguma coisa para uma outra
criança menor comer, me apoio no joelho e sinto vontade de vomitar, ao
mesmo tempo me sinto medíocre por minhas ações.
É uma cena desumana, algo triste demais de se ver.
—Tudo bem? — Olaf pergunta e bate no meu ombro também arfante.
— Aconteceu alguma coisa?
—Aconteceu — digo ainda olhando para as duas crianças. — Chame
o prefeito, eu quero aquelas duas crianças para mim.
—Você só pode estar louco.
—Você está falando com o próprio.
Novo futuro
—Será que em algum momento, eles irão parar de comer?
—Eu não sei, mas é melhor do que ver eles comendo lixo.
Olaf faz uma careta.
Levei os dois ao hospital mais próximo, liguei para o Alejandro e pedi
que viesse imediatamente para resolver as burocracias, ainda não sei bem
como a Maria vai reagir, mas eu também não quero que eles fiquem aqui,
nem que seja algo temporário, nem eles nem aquelas outras crianças, Joanne
está resolvendo isso para mim, agora de sapatilhas.
Ela sabe o que deve fazer.
As crianças estavam assustadas, mas a menina chorou um pouco mais
que o menino durante os exames, colheram sangue, um enfermeira deu
vacinas neles e lhes deu banho, eu acompanhei tudo me sentindo tenso, o
menino ficava me olhando a todo instante receoso, pareceu demorar para
entender que eu não os machucaria.
Só para tirar eles daquele lixão foi uma luta, Olaf e eu saímos dali
muito sujos, levei a menina e ele o menino, o tradutor apareceu alguns
minutos depois ao lado do prefeito, o homem ficava me olhando como se a
ideia de pegar nas crianças fosse absurda.
Ignorei, pedi que ele arrumasse um lugar temporário para acolher
todas as crianças na rua até eu mesmo conseguir, quero fazer isso, porque
devo fazer, porque é meu dever de tentar ajudar e porque acima de tudo não é
certo.
Saímos do hospital e ambos usavam roupas de lá, mas ao menos estão
mais limpos agora, trouxe eles para o hotel onde estou hospedado, o prefeito
mandou um e-mail formalizando que conseguiu um prédio em Nova Deli
para eles e que vai funcionar como um abrigo, pedi a Olaf que arrumasse
comida para eles e que providenciasse para que tivessem cobertores, ainda
não tenho tanta noção do que fazer mas vou tentar arrumar tudo por aqui.
—Posso ir para o abrigo e passar a noite com eles lá — Olaf sugere.
— Porque não liga para o seu irmão Phelipe? Ele é médico, pode ajudar?
—Bem capaz — respondo e observo as duas crianças comendo com
as mãos sentados diante da mesa, estão famintos. — Maria tem razão, me
sinto egoísta.
—Vocês brigaram de novo?
—Apenas uma discussão.
—E contou para ela sobre as duas crianças?
—Quero falar pessoalmente, até lá, vou ter que organizar as coisas
aqui.
—Entendo.
—Se quiser ir tomar um banho patrão, eu olho eles.
—Pode ir para o abrigo, me liga quando chegar lá.
—Sim senhor.
Ele se levanta e sai do quarto, me pego olhando para as duas crianças
que comem com vontade, eu nem consigo imaginar toda a dor causada aos
dois devido ao abandono e a fome, eu sou uma pessoa que tem marcas
irreversíveis na vida por causa das dores que sofri na infância, dos abusos, eu
não quero que nenhuma criança seja submetida a isso.
A menina me olha com a boca cheia e depois lentamente sorri, olhos
como os do irmão, cabelos escuros e lisos, mas um olhar marcado pela dor da
fome, é magra demais, pequena, acho que não deve ter mais de três anos, o
menino uns cinco.
—Vocês vão morar comigo até eu resolver tudo — digo. — Minha
esposa vai surtar.
Talvez ela dê um chilique, mas ainda acredito que há amor e
humanidade no coração dela, Maria poderá lidar com eles nem que
temporariamente.
—Eu vou cuidar de vocês até achar um lar adotivo para vocês ou pais,
bons pais.
Sei que eles não entendem, o menino franze a testa e diz algo para a
menina, depois dela se ergue e vem correndo para perto, ela me estende dois
pedaços de frango, faço que não com a cabeça.
—Eu não como carne, obrigado.
Ela enfia tudo na boca, o menino empurra o prato para o canto ao lado
do meu na mesa de refeições do hotel e depois puxa o prato da menina, ela
empurra a cadeira e sobe nela muito rápida, se senta, o menino se senta a
minha esquerda.
Eles querem ficar perto de mim.
Sorrio.
Eu os espero comerem e logo em seguida indico o quarto, o menino
nega com a cabeça.
—Vocês têm que dormir — digo. — Vamos? Eu prometo que vou
vigiar.
Ele segura a mão da menina e eu estendo a mão para ele, ele segura a
minha mão e eu os conduzo até a cama, ambos tiram as chinelas e sobem no
colchão olhando envolta, duvido que ao menos uma vez na vida eles tenham
tido uma oportunidade dessas, ao menos de dormir num lugar quente e
confortável.
Puxo os lençóis e os cubro indicando os travesseiros, a menina me
olha toda satisfeita, pego o controle da tv e a ligo, me sento na poltrona ao
lado da cama.
Ambos arregalam os olhos, escolho um canal de desenhos animados,
o menino engatinha na cama de forma curiosa, aponta para a tv e diz algo
para a menina, ela sorri, são sorrisos repletos de caries, sorrisos quebrados.
Precisam de um dentista, de roupas, de exames melhores com outros
médicos, do básico, direito a uma vida digna e segura.
Mesmo ainda que sejam crianças, o menino revela um olhar carregado
pelo cansaço de talvez ter que cuidar da menina, são irmãos, isso é óbvio pela
semelhança, mas ele parece muito protetor em relação a ela.
Respiro fundo.
Terei uma nova longa jornada pela frente e que Maria entenda e aceite
dentro do possível.
Nível 25 da Atração
Não fiquei muito chocado quando vi fotos no grupo da “família” da
comemoração que houve no novo apartamento, mas me surpreendi em saber
que a minha sogra está grávida, eu estava menos ansioso e mais ocupado
tentando resolver toda a burocracia que é tentar ajudar crianças nesse país.
Infelizmente o Estado ainda é o maior empecilho quando se trata de
interferir na cultura e na forma das pessoas viverem, sou católico, não vivo
dentro de uma igreja, mas aqui ao que me parece eles dão muito mais valor a
superstição do que em si a algum tipo de valor moral em outros sentidos.
Não pude sair do quarto porque não queria deixar as duas crianças
sozinhas, a menina tem pesadelos durante o sono, ela acordou duas vezes
chorando um choro tão pesaroso que eu tive que chamar alguém do serviço
de quarto para entender, segundo a funcionária que me atendeu que é
bilíngue, a menina ficava dizendo toda hora que um bicho estava atrás dela.
Aquilo foi algo que mexeu para caramba comigo, porque sentia
dentro de mim uma familiaridade estranha com os próprios monstros que
tenho dentro da minha vida, ela não me deixava se aproximar dela e meu
coração ficou agoniado em imaginar que algum homem nojento a tocou, ela
ficava encolhida abraçando o irmão e chorando, na segunda vez foi do
mesmo jeito, a funcionária do hotel ficou a total disposição e sempre que eu
chamava ela aparecia com chá, as duas crianças ficavam acuadas, a menina
assustada e o menino também, porque acordava com o choro dela todo
alarmado.
Consegui imaginar rapidamente que o pobre menino mal dormia a
noite tentando proteger a irmã, que ele ficava o tempo todo em alerta e isso
me fez lembrar de todas as vezes que o Richard entrou na minha frente para
me proteger e de todas as vezes que eu entrei na frente do Alejandro para
protegê-lo das garras do marido de Clair.
Hoje eu e o Richard nos detestamos, mais porque ele se tornou
alguém de ego inflamado e arrogante, eu também sou, mas ele as vezes é
desumano em alguns quesitos, não posso reclamar também, não presto, eu
ficava lembrando de todas as merdas e tentava entender como as coisas
funcionavam em nossas mentes, hoje em dia eu só tento lidar com isso e
sobreviver a todas as consequências que me machucam.
As crianças na Índia são tratadas com muito descaso pelas
autoridades, não foi meu caso porque aconteceu comigo dentro da minha
própria casa, aqui muitas são abandonadas a própria sorte para conseguir
sobreviver, outras são vendidas, principalmente meninas.
O gesto protetor do menino sempre que a menina está por perto
denuncia o quanto as duas crianças já são acostumadas com esse próprio
descaso, com a fome e a dor, sem proteção alguma contando apenas com a
sorte, isso mexeu comigo.
Por isso vou ficar mais duas semanas para tentar ajudar todas as
crianças que eu encontrar pelo caminho, é o mínimo que posso fazer.
Quando enfim a noite turbulenta acabou, ambos estavam calados e
com cara de cansados, liguei a tv e pedi o café da manhã, a menina não
comeu direito e o menino estava deprimido, fiquei mais no note e os deixei a
sós porque sentia que se eu insistisse em ficar mais perto, talvez eles
rejeitassem a ideia de ficar e começassem a chorar, e eu sabia que se eles
chorassem, daquela vez talvez eu não conseguisse não chorar.
Alejandro já está vindo, ele me disse que o Ph e mais alguns amigos
do hospital do meu tio decidiram vir para um mutirão de residentes, claro que
não queria que o Ph viesse, mas sei que precisarei de muita ajuda.
Já pedi ao Olaf que levantasse as origens das duas crianças, porque
quero saber sobre eles, ele conhece muitas pessoas no serviço secreto, sei que
vai conseguir achar alguém que saiba ao menos de onde vieram.
Sei que em boa parte, meu tio tem influência nisso, ele me ligou
também ainda ontem perguntando se eu estava bem e se eu precisava de
ajuda, disse que estava bem e que iria começar um novo projeto na minha
vida, não me sinto animado, mas aliviado de saber que de alguma forma
ajudo, eu não sou a pessoa mais empolgada do mundo em nenhum sentido da
minha vida.
Abro o grupo da família, Olaf apareceu depois do almoço e saiu
novamente, deixou os remédios e me mandou comer, Joanne tem tentado
resolver tudo da melhor forma quanto a toda burocracia em relação a montar
um abrigo, já entrou em contato com a embaixada e o consulado, dei carta
verde para que gaste quanto precisar desde que ajude as crianças.
Uma foto de Maria surge, cabelos molhados, sorriso aberto, o
semblante relaxado, mas só consigo pensar em uma coisa.
“Seque o CABELO”
Alejandro responde:
“Quem é vivo sempre aparece”
“Cala a boca, seu merda, vai trabalhar”
Jonas digita:
“Animais”
Me irrito, nunca falo nada nessa merda de grupo, quando decido falar
alguma coisa eles começam com essa babaquice.
“Cuida da sua vida, seu merda”
Gil, Patrícia, Júlia, Sandy, todas vão mandando emojis com risadas,
não gosto, Júlia por sua vez envia um:
“Paz e amor, gente”.
Gil manda uma foto trocando uma fralda da Blair.
“Vocês não tem o que fazer”
Retruco.
Maria digita, digita e enfim a mensagem aparece:
“Ninguém tem culpa se você é milionário e ocupado Senhor Carsson,
por que não vai para um baile indiano e relaxa?”
Me irrito, não estava aqui nem a brincadeira, agora mesmo é que não
estou.
“Alguém precisa trabalhar para te sustentar, Maria”
“Grosso”
“Seque o Cabelo”
Alejandro envia:
“Jack, não fale assim com a Duda, vai assustar ela”
Jonas Envia:
“Cuidado como fala com ela, cara”
Gil e Júlia mandam enojis irritados, reviro os olhos, mesmo que não
me surpreenda que sempre estejam contra mim, fico surpreso por perceber o
quanto todos os Carsson gostam da Maria.
“Está bem, vida, me desculpe”
Júlia não perde a chance:
“Uh, vida”
Suspiro e aos poucos me vejo sorrindo, sinto um puxão na camisa e
me deparo com um olhar arregalado e um sorriso desconfiado.
—O que é? — pergunto.
Ela fala e fala e eu não entendo nada, segura a minha mão, deixo o
celular em cima da mesa e vou com ela para o quarto, o menino não está na
cama, mas ela me puxa pela mão e indica o banheiro, entramos, fico
alarmado em ver o menino basicamente entalado dentro do vaso, a menina
aponta para ele e fala milhares de coisas ao mesmo tempo, toda brava, me
apresso e enfio as mãos dentro das axilas dele depressa, eu o puxo e ele sai
sem dificuldades, a menina pragueja apontando para o irmão e continua a
reclamar, olho para trás dele e faço uma careta.
—Melhor tomar banho rapaz — digo e indico o box. — Vamos?
Eu nunca gostei de tocar em ninguém e nem de ser tocado, muito
menos em crianças, mas pelo visto essa regra é uma coisa da qual vou ter que
aprender a quebrar. Ajudo o menino a ir para o box a menina continua a
ladainha.
—Deus me livre! — digo enquanto tento tirar a camisa dele, está
ensopada de cocô, olho para o menino. — Ela não tem botão de desliga?
O garoto parece entender, me dá um pequeno sorriso, a menina entra
no box e começa a abrir a torneira do chuveiro, a voz é fina enquanto ela
reclama, consigo livrar o menino das roupas, as deixo jogadas num canto do
box e pego o sabonete, lavo as minhas mãos, e estendo para ele.
—E você vem comigo — digo apontando para fora do box, olho para
a menina. — Vamos.
Ela empina o nariz e sai do box toda irritada, franzo a testa surpreso.
—Onça!
No final das contas, enquanto saio do banheiro começo a rir da
situação.
—Mas que menina mais atrevida!
Indo para casa
“Chego na sexta para o jantar, se organize, até”
Enviei a mensagem, mas Maria não responde, nem visualiza.
Hoje assim como os outros dias têm sido bem cansativos, eu tive que
literalmente sair da minha zona de conforto, as duas crianças não ficam com
ninguém e não querem ninguém, eles têm medo de muitas pessoas.
Alejandro chegou com Ph e mais uma equipe de residentes, claro que
papai patrocinou a viagem de todos que se ofereceram para vir, mas tem sido
desgastante num período tão rápido montar um abrigo para essas crianças,
decidimos que iremos depois de amanhã, na quinta pela noite, para chegar ao
Rio na sexta a tarde.
Estou bastante cansado, mas a ansiedade tem crescido cada dia mais
com a aproximação da minha partida para o Brasil, mesmo com os remédios
eu tenho tido dias sem sono, não tive crises de pânico, mas ando cochilando
menos, também porque eu tenho estado ocupado demais em tentar não matar
nenhum dos homens com quem conversei durante todos esses dias.
Burocracia, estresse, estresse, raiva, insônia somados com ansiedade
de ver a Maria e todos os outros problemas que eu tenho, estão se mostrando
de fato um momento na minha vida que eu nunca vivi, nunca estive mais
consciente e responsável, não é nem um peso da metade dos conflitos que já
enfrentei, mas realmente a ideia de ir embora sem dar ao menos a essas
crianças um abrigo com comida, segurança e conforto está me deixando cada
momento mais tenso.
Claro que eu quero ver a minha mulher, mas agora que comecei parar
vai me fazer ficar muito frustrado.
Joanne tem conseguido organizar o prédio, ele já pertence a Carsson,
comprei por uma mixaria, o problema mesmo tem sido a burocracia que
temos enfrentado e as ondas opressivas vindas de boa parte de pessoas que
tem poder na cidade, presas a superstição elas acreditam que aquelas crianças
não tem direito a um lugar para ficar, para elas eles devem ficar na rua.
Tive que apelar para a ONU, mandei uma carta formalizando meu
pedido de ajuda, o cônsul e o embaixador se reuniram comigo ontem para
tentar resolver isso, uma vez que os residentes já começaram a atender as
crianças, mas com isso outras crianças chegam e fazer tudo num período de
duas semanas é rápido demais.
Ainda tem a questão de eu ter que tirar as duas crianças do país, não
quero deixá-las para trás e não vou, sinto que elas precisam de mim, não é
porque tenho pena, ainda não sei explicar, mas esses dias com eles tem me
dado uma força tremenda nessa missão que decidi abraçar.
Quero que eles tenham pelo menos agora no começo uma casa para
ficar, sei que comigo e Maria eles vão ficar seguros e bem.
A Menina já está se habituando a mim, ela vem para o meu colo nas
horas das refeições e eu já ensinei para o menino como se sentar no vaso, eles
sorriem mais e estão mais ativos, mesmo que ainda magros e abaixo do peso.
Ainda hoje terei mais uma reunião importante, receberei um
representante Indiano, quero poder resolver isso o mais rápido possível.
Fico impaciente ao ver que Maria não me responde a mensagem,
decido ligar, ela atende com demora.
—Por que você não me responde?
—Ah, estava cansada!
—Sei, e como foi a apresentação?
—Foi boa.
—Chego na sexta, se organize.
Desligo.
Sarah me mandou mensagem falando da apresentação, sei que Maria
foi muito bem, mas de todas as formas, nesse momento só consigo pensar em
resolver tudo, para ir embora, para voltar para ela.

Alejandro não havia visto as crianças antes, mas para ele foi uma
surpresa muito maior me ver segurando a menina, eu acho que sempre será
uma surpresa para as pessoas da minha família me verem demonstrando afeto
para quem quer que seja, não me importo é claro, mas é chato.
Eu consegui a guarda dos dois, também consegui deixar tudo bastante
encaminhado no lar, ontem foi a inauguração, eu quem escolhi o nome e
com a ajuda de um representante da ONU consegui abrir o primeiro Lar
Maria Carsson para crianças desabrigadas da índia, eu estive com pressa no
lugar, mas gostei do que vi.
O prédio está até em bom estado, foi dividido em duas alas, uma
feminina e uma masculina, a maioria das residentes são mulheres então me
senti um pouco mais seguro em um bocado de sentido, Ph ficou surpreso em
me ver com as duas crianças, mas me recebeu bem, explicou sobre os
atendimentos, o prefeito também foi, o embaixador do Brasil no lugar e o dos
Estados Unidos, eu fiz questão que ambos viessem, não teve nenhuma
comemoração, mas foi muito bom sentir que eu saia e tudo estava num bom
caminho.
Joanne estava no celular resolvendo outras coisas, comprou
mantimentos, medicamentos, camas, cobertores e já está providenciando a
reforma, Ph tem outros amigos que chegarão até sábado, foi bom ver aquele
bocado de criança usando roupas decentes, ainda que Radesh o Prefeito,
ficasse torcendo o nariz.
O tradutor nos acompanhou por todo o caminho, as crianças vinham
atrás, me olhavam cheias de esperança e felicidade, já montaram um
refeitório e tem banheiros separados também, o Lar tem atualmente 30
crianças, mas já deixei claro que as portas vão ficar abertas para quantas
quiserem vir, o prefeito irá encaminhar as que encontrar para cá.
Também quero que sirvam refeições para as pessoas que não tem
condições de comprar comida, inclusive adolescentes e adultos, papai disse
que enviará mais pessoas e voluntários para ajudar, fiquei contente de contar
com seu apoio, Jonas doou bastante dinheiro e leiloou um quadro para a
causa, Patrícia pediu ajuda de algumas estilistas, ela conhece muitas pessoas,
logo aquelas crianças também terão mais roupas e bons pares de tênis, aulas,
vou tentar enviar alguns dos meus estagiários para dar aulas para eles,
dobrarei o salário.
Agora estamos no voo a caminho do Brasil, infelizmente chegarei
somente amanhã, porque tive um problema imenso no aeroporto para fazer
embarque das duas crianças, Alejandro teve que recorrer novamente ao
embaixador, não queriam deixar as crianças embarcarem pois não tinha
certidões de nascimento, tudo se resolveu com um telefonema, mas até o
telefonema partir do embaixador, o avião ficou parado.
A menina dorme em meu colo toda empacotada por cobertores e o
menino também na outra poltrona, ela não quer ninguém desde que
decolamos, na verdade, ela não quer ninguém mesmo, o menino é medroso e
ela arisca.
—Você é um bom homem Jack — escuto Alejandro falar do banco da
frente. — Você é um bom homem!
Deve estar delirando ou dormindo.
Pouco me importo, só quero chegar logo e ver a minha mulher, poder
explicar para ela sobretudo, pedir desculpas pelo atraso e abraçá-la, abraçar o
meu filho.
Eu só quero a Duda e o Nando perto de mim, para me sentir melhor,
para me sentir em paz.
Para me sentir feliz.
Fim da atração
Eu realmente achei que me sentiria ansioso ao ponto de começar a
entrar em pânico, mas não pensei que ficaria tão apavorado com meu retorno,
é o que eu mais quero, mas é o que mais me dá medo.
Estive pensando em todas as coisas que vivemos nesse mês cheio de
loucuras, brigas, revelações e amor e acho que não queria estar em mais
nenhum lugar nesse momento, não longe dela, não longe do Nando, porque é
ao lado dela que eu devo estar.
Maria atravessou a rua e eu estava lá observando-a, ela foi para um
hotel e fez amor comigo e eu estava observando-a dormir, ela foi comigo para
Malibu e se entregou ao que eu tinha que oferecer e mais uma vez eu a
olhava e ela não se lembrava de mim, ela não lembrava de tudo o que
vivemos em Vegas, de todas as coisas que fizemos e nem da nossa impulsiva
decisão de nos casarmos.
Vivemos tantas coisas nesse mês.
Olho para o anel preto no meu mendinho antes de conseguir pensar
em me sentir observado mais uma vez por ela, estou atrasado, as crianças
ficaram com o Alejandro na recepção, eu não sabia se deveria trazê-los sem
antes avisar, não assim do nada, sei que iria assustar ela.
Então quero poder falar primeiro para depois mostrar ambos para ela.
Ainda sinto o medo latejando dentro de mim, mas sei que apesar dela
não me ver fisicamente no último mês, Maria me enxerga como eu realmente
sou, mesmo um ferrado emocionalmente que só faz merda atrás de merda, sei
que ela conseguiu me ver como ninguém nunca me viu.
Estou de volta para ela e só para ela, porque sempre foi e sempre será
assim, nunca estive tão convicto disso.
Respiro fundo e toco a campainha, tento esvaziar minha mente, sei
que ela esperou muito por isso, o quanto foi um processo doloroso para ela se
adaptar a escopofobia, nem passou pela minha mente desistir, eu só queria
chegar logo tomado por esse baita aperto no peito causado pela ansiedade e
poder ver ela, ver o garoto.
Tem sido dias bem complicados, cansativos, voltar para casa
representa muito para mim, também porque sei que agora Maria e eu teremos
que nos resolver de vez, precisamos conversar e preciso que ela ao menos me
dê mais essa chance de provar meus sentimentos.
Escuto o som da tranca e logo em seguida ela abre a porta, é tão de
repente que não me dá nem tempo para pensar, Maria não ergue o olhar, está
cabisbaixa, meu primeiro impulso é de querer tocá-la e abraçá-la, mas nem da
tempo.
—Oi, Alejandro, a Sah avisou que você viria, entra aí.
Sua voz está baixa.
Ela usa um vestido preto que a deixa deliciosa, porém não tenho
tempo, Maria me dá as costas e sai andando, levo alguns segundos para ir
atrás, porque não esperava por esse tipo de recepção.
Eu a sigo até nosso quarto, os cabelos soltos e lisos emolduram a
cintura mais fina, ela funga e sei que não está bem, mas só não consigo
entender bem o porquê, ela vai para o quarto e entra no banheiro, vou logo
atrás me perguntando sobre o fato de ela achar que eu sou o Alejandro.
Avisei que viria..., mas não que chegaria tão atrasado.
Não dormi no voo, mas não consegui encontrar tempo nem para
avisar com os problemas que tivemos para embarque das duas crianças, eu só
queria chegar logo em casa, não conseguia parar de pensar nisso.
Olho envolta, a cama está arrumada, todo o quarto cheira a velas
doces ou coisa assim, passo a mão nos cabelos e vou até o banheiro, logo,
observo Maria lavando o rosto, tirando das faces toda a maquiagem que usa.
Ela se arrumou assim para me receber, ela ficou linda só para mim, se
arrumou e se maquiou e eu nem consegui chegar perto de podermos ter
algum reencontro decente.
Fico parado perto da porta sem saber como agir, sei que devo
desculpas por tantas coisas que já nem sei por onde começar, ela está
chorando enquanto escova os dentes, ergo a mão, mas desisto.
Eu a vejo secar as faces e chorar em silêncio, o pé teimoso batendo no
chão enquanto está inclinada no lavatório, penso em me aproximar e abraçar
ela por trás, mas sei que isso assustaria ela, abro a boca para falar, mas não
consigo de repente, porque vejo um reflexo no espelho de um olhar cor de
âmbar.
Ela me viu.
—Oi — é o que eu consigo falar.
De repente me sinto engasgado, sufocado pelo jeito como ela me olha,
Maria fica me encarando através do espelho toda séria, meu coração dispara e
as sensações fortes retornam ao meu corpo, ela me olha e me olha e não fala
nada.
—Jack, você chegou, Cara!
Nando entra correndo no banheiro e vem para cima de mim, eu o ergo
no colo e não consigo parar de olhar para ela, aperto o garoto e meu coração
fica mais tranquilo, me sinto seguro, perto de ambos, eu me sinto em casa
perto da mulher que mais amo, com alívio me aproximo dela, estendo a mão
e não resisto, toco sua nuca, a puxo para mim, Maria estende os braços e me
abraça com força.
Estou onde devo estar, sob o olhar de quem eu amo e confio, eu estou
nos braços da minha esposa.
—Vida!

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