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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ---- VARA DO

TRIBUNAL DO JURI DA COMARCA DE CONTAGEM-MG

Processo nº ...

JOAQUIM DAS DORES, já qualificado nos autos da ação penal


epigrafado, por seu (a) advogado (a) que a esta subscreve, vem respeitosamente à presença
de Vossa Excelência, tempestivamente, com fundamento no art. 581, IV do Código de
Processo Penal, propor

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Em face de decisão de pronúncia mantendo a prisão preventiva do


réu, pelo qual pede primeiramente a retratação, nos termos das razões anexas, com
fundamento no art. 589 do CPP.

Na hipótese de Vossa Excelência não considerar os argumentos e


manter a r. Sentença de pronúncia, que seja encaminhado, com as razões inclusas, ao
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Nesses termos, pede deferimento.

Cidade , data____ de _____ de ____

ASSINATURA ADVOGADO
OAB Nº
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS DE GERAIS

RAZÕES DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

RECORRENTE: JOAQUIM DAS DORES

RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO

PROCESSO Nº XX

Colenda Câmara;

1. SÍNTESE DO PROCESSO

O recorrente foi denunciado e preso preventivamente em razão da


suposta prática do crime de homicídio doloso, incurso no art. 121 do Código Penal, da
vítima João da Couves de Andrade.

O Meritíssimo Juiz competente negou o pedido da defesa de revogação


de prisão, e determinou que o réu continuasse preso preventivamente com base na garantia
da ordem pública.
Entretanto, Excelência, não há motivos para a manutenção da prisão do
Recorrente, merecendo ser revisto, pelos fatos e motivos que passa a expor.

2. DOS FUNDAMENTOS

Nos termos do art. 413 do CPP, “o juiz, fundamentadamente, pronunciará


o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de
autoria ou de participação.”
No presente caso, a impronúncia é medida que se impõe, pois a decisão
de pronúncia manteve o réu preso provisoriamente sem fundamentação. O juiz se limitou a
dizer que manteria a prisão preventiva sob todos os seus fundamentos. No entanto, em
respeito aos regramentos constitucionais e legais, nenhuma decisão pode carecer de
fundamentação.
Sendo assim, não há completa fundamentação que ampare a decisão em
manifesta afronta à Constituição Federal em ser art. 93, inciso IX in verbis:

Art. 93 (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão


públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;  

Este raciocínio é amplamente reforçado pela doutrina:

O dever de fundamentação das decisões judiais é inerente ao estado


Constitucional e constitui verdadeiro banco de prova do direito ao contraditório
das partes. Sem motivação a decisão perde duas características centrais: a
justificação da norma jurisdicional para o caso concreto e a capacidade de
orientação de condutas sociais. (MITIDIERO, Daniel. ARENHART, Sérgio
Cruz. MARRIONI, Luiz Guilherme. Novo Código de Processo Civil Comentado
– ED. RT, 2017. E-book, art 11).

A fundamentação da decisão, portanto, não é uma faculdade, uma vez


que inerente e indispensável ao pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, sendo
requisito fundamental de validade da decisão.
Dessa forma, a prisão preventiva deve ser imediatamente revogada, por
falta de fundamentação legal para a sua manutenção.
Além disso, a pronúncia foi baseada apenas em reconhecimento
fotográfico com desobediência às formalidades legais. A própria testemunha se sentiu
insegura para realizar o reconhecimento fotográfico, já que, além de seu estado emocional
estar comprometido, o local do delito estava escuro, tornando o reconhecimento difícil.
Isso nos faz crer que a única prova utilizada para pronunciar o réu e mantê-lo preso é frágil
e ilegal.

Apesar de não estar especificado em lei, o reconhecimento fotográfico


tem sido aceito pela doutrina e jurisprudência, mas trata-se de uma prova frágil, que deve
ser utilizada apenas quando não for possível o reconhecimento pessoal.

Sendo assim, deve ser a prova desentranhada do processo como previsto


no art. 157 do CPP.
Art. 157.  São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas
ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou
legais.

Considerando que a decisão não se mostra devidamente fundamentada, e


a pronúncia foi baseada apenas em reconhecimento fotográfico com desobediência às
formalidades legais, a prisão preventiva deve ser imediatamente revogada, por falta de
fundamentação legal para a sua manutenção.

De acordo com os artigos 311 e 312 do Código de Processo Penal: “A


prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei
penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de
perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.”

Acontece que no caso concreto, por ausência de fundamentação, e a falta


de provas concretas, não resta dúvida sobre a materialidade e indícios suficientes de autoria
do crime pelo acusado, cabendo a revogação da prisão nos termos do artigo 316 do CPP e,
caso não se entenda pela revogação, que seja estabelecida cautelar diversa da prisão
presente no art. 319 do CPP, sob pena de violação da dignidade do réu.

O art. 321 do CPP dispõe que:

Art. 321.  Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão


preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso,
as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os
critérios constantes do art. 282 deste Código. 

O dispositivo reitera o comando do art. 282, § 6º do CPP que diz que:

Art. 282 (...)§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for
cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste
Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser
justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de
forma individualizada”

Código de Processo Penal, em seu artigo 319, dispõe claramente sobre a


possibilidade de medidas cautelares diversas da prisão, com a mesma finalidade:

Art. 319.  São medidas cautelares diversas da prisão:


I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo
juiz, para informar e justificar atividades; 
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer
distante; 
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; 
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;          
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais;           
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou
semi-imputável e houver risco de reiteração;        
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a
atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;             
IX - monitoração eletrônica. 

Sendo assim, necessário se faz que seja concedido a liberdade provisória


do Requerente admitindo-se que aguarde, como é de regra, o término do processo em
liberdade, com a decretação se for o caso, de medidas cautelares, diversas da prisão.

3. DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer seja conhecido e provido o presente


recurso para que a decisão de pronúncia seja reformada, revogando a prisão preventiva do
recorrente JOAQUIM DAS DORES expedindo-se o alvará de soltura, a fim de que possa
aguardar em liberdade o deambular processual, mediante assinatura do termo de
comparecimento aos atos processuais cumuladas ou não com outras medidas cautelares
previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal.

Nesses termos, pede deferimento.

Cidade , ____ de _____ de ____

ASSINATURA ADVOGADO
OAB Nº

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