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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ….

VARA CÍVEL
DA COMARCA DE …

Tathiana Gisele dos Santos, [estado civil], [nacionalidade], [profissão], portadora da cédula
de identidade RG nº…, inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas sob o nº …, residente e
domiciliada no endereço… e Afra Maria Nogueira de Paula, [estado civil], [nacionalidade],
[profissão], portadora da cédula de identidade RG nº…, inscrita no Cadastro de Pessoas
Físicas sob o nº …, residente e domiciliada no endereço…, vem, por intermédio de seu
advogado (DOC. 1), respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no
artigo 5º, incisos V e XXXV da Constituição Federal e artigos 319 e seguintes do Código de
Processo Civil, propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. INDENIZAÇÃO

em face de HPP EMPRENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica sob o nº…, com sede no
endereço…, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

I. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

1. Em março de 2017, as autoras compraram um apartamento residencial do


Condomínio Residencial HPP VII, comercializado pela empresa HPP EMPRENDIMENTOS
IMOBILIÁRIOS LTDA. (DOC. 2).

2. O pagamento se deu pelo valor de R$ 218.000,00 (duzentos e dezoito mil


reais), pagos com financiamento pela Caixa Econômica Federal, em alienação fiduciária pelo
programa Minha Casa Minha Vida (DOC. 3).

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3. Ocorre que a ré constatou que existiam diversas falhas no imóvel, mas
garantiu que seriam realizados os devidos reparos (DOC. 4), a saber:

(i) a porta de entrada estava instalada de maneira incorreta, de modo que havia
um grande feixe por onde entrava luz e ar (DOC. 5);

(ii) havia um cano aberto na parte da lavanderia do imóvel, que exalava cheiro
de esgoto (DOC. 6);

(iii) a pia do banheiro estava mal fixada e chegou a cair no pé de uma das
autoras (DOC. 7);

(iv) não havia reboco ou massa corrida suficientes (DOC. 8);

(v) não havia calha instalada para vazão da água da chuva – o que foi
providenciada pelos próprios condôminos, em rateio e, ainda, o cavalete de
água estava invertido, de modo que o cavalete da unidade 09 é o que pertence
à unidade 11, e vice versa – essa confusão fez com que, por muito tempo, as
autoras pagassem a conta de água da unidade 09 (DOC. 9)

(vi) a laje foi construída sem impermeabilização, em dias de muita chuva,


algumas telhas saíram do lugar e a água causou danos em diversos móveis e
objetos pessoais das autoras, além de mofar as paredes (DOC. 10).

4. Contudo, importa ressaltar que desde a compra do imóvel as autoras sofrem


com os defeitos em referência e a construtora nada fez de efetivo para resolvê-los, muitas
vezes permanecendo silente.

5. Importa ressaltar que, em razão dos inúmeros problemas verificados, há 2


(dois) anos o condomínio está em obras de reparo constantes (DOC.11).

6. Logo, tendo em vista as falhas encontradas, o prejuízo das autoras e a inépcia


da ré, há de se admitir a necessidade da propositura da presente demanda.

2
II. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

7. Inicialmente, cabe destacar que o tema ora em apreço enquadra-se como


relação jurídica de consumo, a qual é regulamentada pelo Código de Defesa do Consumidor.
Vejamos:

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

8. A relação jurídica de consumo é definida como a relação firmada entre


consumidor e fornecedor, e possui como objeto a aquisição de um produto ou contratação de
um serviço.

9. Nas palavras de Luiz Antonio Rizzatto Nunes, “o CDC incide em toda relação
que puder ser caracterizada como de consumo. Insta, portanto, que estabeleçamos em que
hipóteses a relação jurídica pode ser assim definida. (...) haverá relação jurídica de consumo
sempre que se puder identificar num dos polos da relação o consumidor, no outro, o
fornecedor, ambos transacionando produtos e serviços” 1

9. Dentro deste mesmo contexto, o artigo 12, § 1º do Código determina que um


produto é considerado como defeituoso quando não oferece a segurança que dele se espera.

12. Nas palavras de Sérgio Cavalieri Filho, “a palavra-chave neste ponto é


defeito. Ambos decorrem de um defeito do produto ou do serviço, só que no fato do produto
ou do serviço o defeito é tão grave que provoca um acidente que atinge o consumidor,
causando-lhe dano material ou moral. O defeito compromete a segurança do produto ou
serviço”.2

1
NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Curso de direito do consumidor. 4ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 71.
2
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor, p. 288

3
12. Conforme disposto nas fls. …. , o imóvel possui diversos defeitos e ainda
carece de reparos. Entende-se, portanto, que há o dever legal da ré de assegurar pela perfeição
da obra, pois é essencial ao serviço contratado, sendo certo que deve responder pelos danos
causados, conforme será demonstrado.

III. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONSTRUTORA

13. Estabelece o Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

14. Do mesmo modo, o Código de Defesa do Consumidor é expresso ao


determinar que, nas relações jurídicas de consumo, a responsabilidade jurídica deve ser
objetiva:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos. [grifo nosso].

15. Assim, ao comercializar um produto no mercado, a ré criou um risco de dano


aos consumidores e, concretizado este, surge o dever de repará-lo, independentemente de
comprovação de dolo ou culpa.

16. Cumpre salientar que o ato ilícito gera o dever de indenizar, conforme
determina o Código Civil:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem.

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17. A obrigação é de resultado, portanto caberia a ré garantir a salubridade e
segurança da obra, que deveria ter sido entregue em perfeito estado.

18. O inadimplemento da ré consiste na falta da prestação devida da obrigação,


pois é indiscutível a existência de defeitos que há muito se postergam, e que ocasionaram
diversos danos ao imóvel.

19. A respeito do tema, firmou o Eg. TJ-SP:

EMENTA: APELAÇÃO. Indenização por danos materiais e morais. Defeitos de


construção. Rachadura na fachada do edifício que gerou grande infiltração de
água no apartamento do autor. Improcedência. Danos materiais. Aproveitamento
da prova pericial elaborada em outro processo movido pelo condomínio contra a
construtora. Utilização como prova emprestada que contou com expressa
concordância da requerida. Prova pericial, aliada aos depoimentos do perito
judicial e do zelador do prédio, que demonstram a existência de grande rachadura
na parede do quarto do apartamento do autor, entre a viga e a alvenaria de
fechamento, decorrente da utilização de material inadequado (rígido).
Responsabilidade da ré reconhecida. Vício que ocasionou grande infiltração de
água na unidade do autor. Danos materiais correspondentes que devem ser
reparados (CC, art. 927). (...). Por tudo isso, de rigor reconhecer a responsabilidade
civil da requerida pelos danos sofridos pelo apelante sendo devida, pois, a sua
reparação (Cód. Civil, art. 927).3

EMENTA: Prestação de serviços. Empreitada. Ação de indenização por danos


morais e materiais. Parcial procedência. Se a prova pericial, que constatou que os
vícios na edificação foram provocados por falhas construtivas, forneceu subsídios
suficientes para a solução da lide e não foi infirmada por nenhum outro elemento
probatório, procede a ação de obrigação de fazer ajuizada pelo dono da obra em
face da empreiteira. Recurso não provido. Não se pode olvidar da relação de
consumo presente no caso que carreia a apelante, construtora, a responsabilidade
objetiva (art. 14, § 3º, II, do CDC). Desse modo, caberia a ré a prova da culpa
exclusiva do autor ou de terceiros, ou a inexistência de vícios, o que não ocorreu.
(...). Na hipótese dos autos, os vícios narrados na inicial e também avaliados pelo
perito, restaram amplamente demonstrados, evidenciando que a requerida não
cumpriu com sua obrigação de entregar a obra em perfeito estado.4

20. No presente caso, os defeitos na construção não apresentam riscos que estão
dentro dos limites da normalidade e previsibilidade, razoavelmente esperados pelo
consumidor. Eles consistem em falhas extremamente sérias, que podem repercutir na

3
TJ-SP. Apelação nº 1003327-68.2016.8.26.0100. Relator Des. RÔMULO RUSSO. Julgado em 22/05/2019.
4
TJ-SP. Apelação nº 0058115-52.2011.8.26.0576. Relator Des. CESAR LACERDA. Julgado em 02/05/2019.

5
segurança das proprietárias dos imóveis e originaram diversos prejuízos para as autoras,
conforme observado em fls…., como o cheiro de esgoto em razão do cano aberto na
lavanderia, a falta de massa corrida suficiente na estrutura, a laje sem impermeabilização, que
inundou o apartamento, danificando os móveis, dentre outras falhas.

21. Destarte, tem-se como claro o nexo de causalidade, vez que o evento danoso,
decorreu, de forma única e exclusiva, de atos ilícitos praticados pela empresa ré, outrora
mencionados.

21. Por fim, não resta dúvida senão a responsabilidade da ré no presente caso, em
que há de se impor a obrigação de indenizar as autoras.

IV. DO DANO MORAL

22. A garantia da reparabilidade do dano moral está amparada no artigo 5º da


Constituição Federal:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização


por dano material, moral ou à imagem;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação

22. A respeito do tema, Carlos Roberto Gonçalves leciona que “dano moral é o
que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra
os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, intimidade, a imagem, o bom nome,
etc., como se infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal, e que acarreta ao
lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação”.5

23. Nesse mesmo sentido, Maria Helena Diniz estabelece o dano moral como “a
lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo ato lesivo”6

5
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 3ª. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 359.
6
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. 19 ed. São Paulo: Saraiva,
2005. p. 84.

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24. No caso em tela, os fatos narrados fogem à normalidade, posto que o bem
imóvel está repleto de defeitos, que certamente causam sensação de frustração, angústia e
estresse nas autoras.

25. Ao adquirir o imóvel, havia diversas expectativas em relação ao bem. Mas este
acabou por causar aflições, pois as autoras ficaram impedidas de utilizar de seu patrimônio
em razão do descumprimento contratual da ré, e isto ocorre desde 2017.

26. Neste sentido, é o entendimento jurisprudencial:

EMENTA: COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. Indenizatória. Caixa de


gordura coletiva instalada na área de lazer de unidade autônoma. Sentença de
procedência. Irresignação da parte ré. Cabimento em parte. Pedido do consumidor
que tem natureza condenatória. Hipótese em que não se aplica o prazo decadencial.
Não exaurido o prazo prescricional quinquenal previsto no artigo 27 do CDC.
Inexistente nulidade no laudo pericial. Unidade autônoma térrea que tem área
externa de lazer como diferencial. Instalação de caixa de gordura coletiva na área
em referência. Consumidor que não foi devidamente informado. Violação ao
princípio da informação. Art.6º, III, do CDC. Desvalorização relativa do imóvel
comprovada por prova pericial. Dano material configurado. Instalação da caixa de
gordura que resulta na emissão de odores indesejados, submetendo o proprietário a
autorizar a entrada de terceiros para manutenção periódica. Dano moral
igualmente configurado. 'Quantum' indenizatório reduzido para R$10.000,00.
Recurso provido em parte. (...). Inequívoco o dano moral sofrido pela parte autora,
pois, como visto, a área que seria utilizada para lazer foi destinada à instalação de
caixa de gordura coletiva, com emissão de odores indesejados, insalubridade
sanitária e submissão a acesso de terceiros para manutenção periódica. No que
tange ao valor da indenização, para atender aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade na fixação do quantum a ser pago pelo dano moral causado,
deve-se ter em conta os fatos que ensejaram o abalo à vítima, o nível econômico do
ofendido e o porte econômico do ofensor. Isso porque o arbitramento deve ser
significativo de modo a não só compensar a dor, a angústia, o vexame, o abalo
psicológico da vítima, mas também a penalizar o causador do dano, considerados,
pois, a sua contribuição para o sofrimento daquela, o grau de sua culpa e sua
capacidade econômica.7

27. Assim, o comportamento silente da empresa ré e o descaso quanto aos danos


ultrapassam os limites do mero aborrecimento, posto que ocasionou angústia e desgosto na
espera das autoras pela reparação, configurando os danos morais.

7
TJ-SP. Apelação nº 1001686-25.2017.8.26.0451. Relator Des. WALTER BARONE. Julgado em 29/05/2019.

7
V. PEDIDOS

Pelo exposto, requer-se:

a) Que seja julgada procedente a ação, condenando a empresa ré a obrigação de fazer,


consistente em reparar todos os defeitos do imóvel;

b) Seja a empresa ré condenada a indenizar pelos danos materiais, decorrentes dos


prejuízos causados, que até a presente data perfaz o valor de... , acrescidos os devidos
juros legais até o efetivo pagamento;

c) Seja a empresa ré condenada ao pagamento de indenização por danos morais, no valor


de…, atualizado e corrigido monetariamente.

d) A condenação da ré ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários


advocatícios;

e) A produção todos os meios de prova em direito admitidos, na amplitude dos artigos


369 e seguintes do Código de Processo Civil.

Dá-se o valor da causa o valor de …

Temos em que,
Pede deferimento.

Cidade... , 29 de maio de 2019.

______________________
NOME DO ADVOGADO
OAB nº…

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DOC. 1: Procuração
DOC. 2: Contrato de Compra e Venda
DOC. 3: Contrato de Alienação Fiduciária com a Caixa Econômica Federal
DOC. 4: Ciência da empresa ré em relação aos defeitos.
DOC. 5 a 10: Fotos e laudas referentes aos defeitos sinalizados.

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