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O QUE É O PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO

SERVIÇO SOCIAL?
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL

O que é um projeto? 

Um projeto indica a direção que uma sociedade ou uma categoria constrói para concretizar o
que idealizou, o que sonhou e sonha. 

Os projetos coletivos se relacionam com as diversas particularidades que envolvem vários


interesses sociais presentes em uma determinada sociedade. Questões culturais, políticas e
econômicas articulam e constituem os projetos coletivos.

Os projetos coletivos de maior abrangência são chamados de projetos societários, constituem-


se em projetos macroscópicos, para o conjunto da sociedade. Apresentam uma imagem de
sociedade a ser construída, que reclamam determinados valores para justificá-la e que
privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizá-la. Podem ser de
transformação ou conservadores.

Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão; elegem os valores que a


legitimam; delimitam e priorizam seus objetivos e funções; formulam os requisitos (teóricos,
institucionais e práticos) para o seu exercício; prescrevem normas para o comportamento dos
profissionais; estabelecem as balizas da sua relação com os usuários dos serviços, com as
outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas; são
construídos por um sujeito coletivo – a categoria profissional; e através da sua organização
(que envolve os profissionais em atividades, as instituições formadoras, os pesquisadores, os
docentes e estudantes da área, seus organismos corporativo e sindicais) que a categoria
elabora o seu projeto profissional (NETTO,1999).

O QUE É O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL?

O termo  PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL significa uma projeção coletiva


que envolve sujeitos individuais e coletivos (daí a ideia de projeto) em torno de uma
determinada valoração ética (daí  o termo ético) que está intimamente vinculada
a determinados projetos societários (daí o termo político, no seu sentido mais amplo)
presentes na sociedade que se relacionam com diversos projetos coletivos em disputa na
mesma sociedade (daí o termo profissional, expressando a particularidade de uma categoria).

O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL não foi construído de maneira


efêmera. Sua gênese se localiza na segunda metade da década de 70 e teve como marco o III
CBAS, conhecido como "Congresso da Virada". Esse mesmo projeto avançou nos anos
80, num processo de redemocratização da sociedade brasileira, recusando o conservadorismo
profissional ainda presente no Serviço Social brasileiro. Constata-se o seu amadurecimento na
década de 1990, período de profundas transformações societárias que afetam a produção, a
economia, a política, o Estado, a cultura, o trabalho, marcadas pelo modelo de acumulação
flexível e pelo neoliberalismo. O projeto ético-político profissional hoje ainda se encontra em
construção e fortemente tensionado pelos rumos neoliberais da sociedade e por uma nova
reação conservadora no seio da profissão.

Condição Segundo Yasbeck, o processo de construção do projeto ético-político envolve:


(...) um conjunto de componentes que necessita se articular: são valores, saberes, e escolhas
teóricas, práticas, ideológicas, políticas, éticas, normatizações acerca de direitos e deveres,
recursos políticos organizativos, processos de debate, investigação, interlocução crítica com o
movimento da sociedade, da qual a profissão é parte e expressão (2004,p.12)

As condições necessárias para desenvolver e aprofundar o projeto ético-político são:


Política, que teve na luta pela democracia seu principal rebatimento, onde as aspirações
democráticas e populares foram incorporadas e intensificadas pelas vanguardas do Serviço
Social.
 Espaço legitimado na academia, que permitiu a profissão estabelecer fecunda
interlocução com as Ciências Sociais e criar e revelar quadros intelectuais respeitados no
conjunto da categoria.

 Debate sobre a formação profissional, cujo empenho foi dirigido no sentido de


adequá-la às novas condições postas, em um marco democrático da questão social. Em suma,
a construção de um novo perfil profissional.
No interior da categoria profissional, modalidades prático-interventivas tradicionais foram
resinificadas e novas áreas e campos de intervenção foram emergindo devido, sobretudo, às
conquistas dos direitos cívicos e sociais que acompanharam a restauração democrática na
sociedade brasileira (práticas interventivas junto a categorias sociais como criança,
adolescente, mulheres e outras.

ESTRUTURA BÁSICA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO:

Núcleo: 
 Reconhecimento da liberdade como valor central

 Compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos


sociais.

 Vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social

Dimensão política: se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da


universalização; a ampliação e consolidação da cidadania. Este projeto se reclama
radicalmente democrático – socialização da participação política e socialização da riqueza
socialmente produzida.
Do ponto de vista profissional: o projeto implica o compromisso com a competência, cuja
base é o aprimoramento profissional – preocupação com a (auto) formação permanente e uma
constante postura investigativa.
Usuários: o projeto prioriza uma nova relação sistemática com os usuários dos serviços
oferecidos – compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, a
publicização dos recursos institucionais e sobretudo, abrir as decisões institucionais à
participação dos usuários.
Articulação com os segmentos de outras categorias profissionais que partilhem de propostas
similares e com os movimentos que se solidarizam com a luta geral dos trabalhadores.

COMPONENTES QUE MATERIALIZAM O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO:

Dimensão da produção de conhecimento no interior do Serviço Social: é a esfera da


sistematização das modalidades práticas da profissão, onde se apresentam os processos
reflexivos do fazer profissional.

Dimensão político-organizativo da profissão: fóruns de deliberação e as entidades


representativas (conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS e as demais associações político-
profissionais, movimento estudantil representado pelo conjunto dos CA’s e DA’s e pela
ENESSO). É aqui que são tecidos os traços gerais do projeto, quando são reafirmados (ou
não) determinados compromissos e princípios.

Dimensão jurídico-política da profissão: aparato político-jurídico estritamente profissional


(Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação da Profissão – Lei 8.662/93 e as
novas Diretrizes Curriculares do MEC; aparato jurídico-político de caráter mais abrangente
(conjunto das leis advindas do capítulo da Ordem Social da Constituição Federal de 1988).

DESAFIOS IMPOSTOS AO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

Com a consolidação e expansão do neoliberalismo que conduz a perdas dos direitos sociais já
conquistados, induzindo a massa trabalhadora a um aumento da precariedade de suas
condições de vida e de trabalho, diminuindo a empregabilidade, a remuneração, em
contrapartida, aumentando a miséria e o Estado tirando sua responsabilidade sobre o
investimento nas  políticas sociais. Esse é o desafio posto aos assistentes sociais nos dias
atuais:
Como reforçar e consolidar este projeto político profissional em um terreno profundamente
adverso; como atualizá-lo ante o novo contexto social, sem abrir mão dos princípios
éticos políticos que o norteiam. Ora, a vitalidade deste projeto encontra-se estreitamente
relacionada à capacidade de adequá-lo aos novos desafios conjunturais, reconhecendo as
tendências dos processos sociais, de modo que torne possível a qualificação do exercício e da
formação profissional na concretização dos rumos perseguidos. (Iamamoto:1998,p.113-114)
http://servicosocial-erenilza.blogspot.com.br

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