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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA 14ª VARA

DO TRABALHO DE APARECIDA DE GOIÂNIA-GO.

PROCESSO Nº: 0010459-61.2021.5.18.0014


RECLAMANTE: CARLINE SAMARA MATOS DE SOUSA
RECLAMADA: REDEMOB CONSÓRCIO e outra

REDEMOB CONSÓRCIO, consórcio operacional dotado de


personalidade jurídica, regularmente inscrito no CNPJ: 10.636.142/0001-01, com
sede administrativa na Avenida Independência, nº. 4.533, por seus procuradores
abaixo assinados nos autos da Reclamação Trabalhista que lhe move Jonathas
Alves Pires, vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 847 da CLT,
apresentar a presente CONTESTAÇÃO, o que faz nos termos seguintes:

I – DA SÍNTESE DA INICIAL

Alega a Reclamante que o Reclamado cometeu irregularidades no


contrato de trabalho, alegando que foi dispensada por ter utilizado de forma errônea
seu sit-pass, o que a nega veementemente.

Alega que o Reclamado para cortar gastos devido a pandemia vem


demitindo seus colaboradores usando deste artificio (demissão por justa causa),
sendo que quando não existem motivos para tal, a empresa inicia um processo de
perseguição para com seus funcionários.

Ao final pede a reversão da rescisão motivada, que seja reconhecida


a rescisão indireta por culpa do Reclamado e que sejam realizados os pagamentos

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das verbas rescisórias: saldo de salário, aviso prévio, 13º salário proporcionais,
férias integrais e proporcionais, multa de 40% do FGTS e liberação das guias para
levantamento do FGTS e habilitação no seguro desemprego, bem como a anotação
da CTPS com projeção do Aviso Prévio.

III – DO MÉRITO

1 – DO CONTRATO DE TRABALHO

A Reclamante foi contratada em 09/07/2018 para exercer a função


de Atendente de Terminal, conforme correta anotação em sua CTPS, contrato de
trabalho e descrição do cargo ora juntada, tendo como último salário o valor de R$
1.082,49 (um mil e oitenta e dois reais e quarenta e nove centavos).

A Reclamante tinha como tarefas em sua função: organizar as filhas,


ou embarques solidários nas plataformas do Terminal, orientar e atender os usuários
no acesso do Terminal, coibir uso indevido dos cartões de passe e( beneficio
tarifário), orientar usuários quanto a evasão de receitas, auxiliar o encarregado na
condução dos trabalhos.

A Reclamante fora dispensada motivadamente em 13/04/2021 por


falta grave, por não observar a ética e suas obrigações no local de trabalho, agindo
contrariamente para o que fora contratada e o que prevê a Lei, o que será melhor
argumentado em linhas à frente.

2 – DA JUSTA CAUSA APLICADA

Como visto a Reclamante alega que a dispensa motivada foi


irregular, injusta e indevida, pois teria “utilizado de forma errônea seu sit-pass, o que
a nega veementemente”.

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,
Diz ainda que Sendo a justa causa foi uma atitude do Reclamado
nesta época de pandemia para “cortar gastos”, ainda, de modo a incidir “um
processo de perseguição para com seus funcionários” quando não eé o caso de
justa causa.

Ocorre que totalmente sem razão a Reclamante. Impugna-se as


suasestas declarações.

Excelência, de início, a Reclamante em sua inicial sequer especifica


o que teria ocorrido – ou pensa que ocorreu – para que o Reclamado “entendesse
que ela estava utilizando seu sit-pass de forma errônea”. Que conclusão errônea o
Reclamado chegou? Por quê?? O que ocorreu??

No mais, a Reclamante narra fato totalmente teratológico e


inverídico na condução da sua dispensa por justa causa.

Teratológico à realidade fática porque a Reclamante não foi


dispensada por usar “erroneamente seu sit-pass”, mas sim por ter
comercializado/utilizado o cartão passe livre de Idoso, ou seja, de terceiro, que
não poderia sequer ser comercializado, mormente pelo próprio empregado do
Reclamado, fomentando atitude ilícita.

Inverídico porque o Reclamado não usa do artifício da justa causa


para “cortar gastos”, ou para “perseguir seus empregados”. Não! Isso não ocorre e
como não ocorreu com a Reclamante.

Do processo disciplinar anexo extrai-se cabalmente a atitude ilícita e


antiética da Reclamante em vender passagens inseridas nocrédito de viagens de
Cartão de Passe Livre de uma idosa, que além de apurada pelas câmeras de
segurança do novo sistema de bilhetagem, foi, ainda, confessada pela Reclamante.

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Havendo a denúncia nNo dia 07/04/2021 houve denúncia de que
utilização indevida de cartão benefício (um pPasse Livre de uma iIdosa) estava
sendo utilizado indevidamente começouiniciando então a apurarção d os fatos. Ao
final da apuração , foi sendo constatado que a Reclamante entre os dias 31/04/2021
a 07/04/2021, em diferentes horários, utilizou-se do cartão benefício (Passe Livre
Idoso) de titularidade de Eunice Maria da Silva o passe Livre da idosa em
momentos diferentes, dando indício de uso indevido e para fins de comercialização
das de créditos de viagens (venda de passagens), em total desencontro com o
termo de uso de cartão benefício (em anexo), bem como ao Código de Conduta
Ética da Reclamada. , o que foi confessado pela mesma.

Assim, no curso do processo disciplinar, em anexo, foi dada a


oportunidade para a Reclamante de se explicar/defender, onde ela mesma confessa
a comercialização/venda dos créditos de viagem (venda das de passagens) viagens
doe um cartão benefício (Passe Livro Idoso) da idosa, vejamos:

Veja que a Reclamante claramente confessa que a


comercialização/venda dos créditos de viagem (venda de
passagens)comercializou/vendeu as passagens do cartão da idosa, e,

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independentemente do gesto, da atitude altruísta que a Reclamante pode ter
intentado, é crimeo fato cometido, além, de fereir o código Código de Conduta ética
Ética do Reclamado, vai e na vai de contramão do termo de uso de cartão benefício
(Passe Livro Idoso). Vejamos: às obrigações da Reclamante em suas funções . Suas
supostas intenções não a justifica e nem a autoriza a tais atos!

As supostas intenções da Reclamante não justificam e nem a


autoriza a tais atos!

Foi No curso do procedimento de apuração foi traçado realizado o


cruzamento dos dados de da quem étitular do cadastrado como beneficiário do
Cartão do Idoso com as imagens das câmeras do sistema de bilhetagem eletrônica
nos dias e horas de utilização, o que, realmentede fato, constatou que foi a
Reclamante quem utilizou o cartão para terceiros, e não a titular do benefício
( idosaSra. Eunice). Vejamos algumas imagens a titulo título de amostragem:

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Com efeito, todo o processo disciplinar comprova que a Reclamante
agiu inapropriadamente, até mesmo em possível ato ilícito ( crime), acarretando a
dispensa por justa causa.

De se ressaltar que o Cartão Passe Livre do Idoso é


personalíssimo e intransferível, não podendo ser utilizado por qualquer
pessoa, ainda que parente, que não seja o idoso, quiçá serem comercializadas
suas passagens.

É um benefício concedido ao idoso que não pode ser disposto ou


comercializado por ele a mais ninguém, conforme se denota no termo de uso em
anexo.

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No caso, a Reclamante, sendo empregada do Reclamado, cabendo
a ela o dever ético e obrigacional de coibir orientar os clientes (usuários) tais fraudes
e/ou uso indevido correto do cartão benefício na verdade ela mesma comercializava,
fomentava o ilícito, o que é falta gravíssima a acarretar de plano a rescisão indireta.

A Reclamante na função de Atendente de Terminal tinha ciência de


que uma de suas atribuições era o controle de acesso dos clientes ( usuários) nos
terminais e ônibus, bem como de orientar, os clientes (usuários), no uso correto do
cartão benefícioa coibição de utilização indevida dos Cartões de passagens e a
evasão de receita.

Com efeito, a Reclamante descumpriu totalmente o contrato de


trabalho, agindo contrariamente para o que foi contratada, fora da legalidade,
compromisso e ética que se espera.

O Código de Conduta e Ética em seu Item 3 (três) estabelece:

3. Responsabilidades
...
 protegemos a reputação e integridade do RedeMob Consórcio,
demonstrando nosso compromisso com os mais elevados padrões
de conduta ética e comportamento profissional, desenvolvendo
nossas atividades de forma integra, imparcial e honesta;

Veja que a Lei 7.418/85 que instituiu o vale transporte prevê, em


seu artigo 1º, que deve ser utilizado efetivamente pela pessoa certa com fim
específico:
 
“Art. 1º Fica instituído o vale-transporte, que o empregador, pessoa
física ou jurídica, antecipará ao empregado para utilização efetiva

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em despesas de deslocamento residência-trabalho e vice-versa,
através do sistema de transporte coletivo público, urbano ou
intermunicipal e/ou interestadual com características semelhantes
aos urbanos, geridos diretamente ou mediante concessão ou
permissão de linhas regulares e com tarifas fixadas pela autoridade
competente, excluídos os serviços seletivos e os especiais.”

Já o Decreto nº 95.247/87, que regulamenta a Lei 7.418/85, prevê


que o uso indevido do vale transporte constitui falta grave:
 
"Art. 7° Para o exercício do direito de receber o Vale-Transporte o
empregado informará ao empregador, por escrito:

I - seu endereço residencial;


II - os serviços e meios de transporte mais adequados ao seu
deslocamento residência-trabalho e vice-versa.

§ 1° A informação de que trata este artigo será atualizada


anualmente ou sempre que ocorrer alteração das circunstâncias
mencionadas nos itens I e II, sob pena de suspensão do benefício
até o cumprimento dessa exigência.

§ 2° O benefício firmará compromisso de utilizar o Vale-Transporte exclusivamente


para seu efetivo deslocamento residência-trabalho e vice-versa.O Decreto Estadual
nº 4.253/94, que regulamentou a Lei nº 12.313/94, assim previu:

§ 3° A declaração falsa ou o uso indevido do Vale-Transporte


constituem falta grave.” (grifo acrescido)
 

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Se assim agisse a Reclamante para com seus passes livres
emutilizando seu seu Cartão Funcional de forma indevida já é seria suficiente para
acarretar a falta grave, agindo, com agiu, assim parautilizando indevidamente cartão
de terceiros na utilização indevida, agravada pela comercialização das passagens
gratuitas, não só equipara ao comportamento indevido regulamentado nas
referidas leis mas, como dito, vai de encontro à ética e a própria função da
Reclamante.

Além do mais, quem vende irregularmente créditos de cartões-


transporte, mormente créditos recebidos gratuitamente para uso pessoal do titular,
intransmissíveis e indisponíveis, pode se enquadrar no crime de estelionato (Artigo
171 do Código Penal Brasileiro e Lei 2.848/40), ainda, ser enquadrado nos crimes
de falsidade ideológica (Artigo 299) e apropriação indébita (Artigo 168). 

Assim, o mau procedimento é aquele que atenta contra as regras


legais ou que fere a própria moral, ética ou conduta a ser seguida. É o modo de vida
ou comportamento desregrado, inconveniente, ofensivo aos bons costumes e à
decência.

Nossas jurisprudências também dão guarida à dispensa frente ao


mau procedimento do empregado:

MAU PROCEDIMENTO E INDISCIPLINA. JUSTA CAUSA


CONFIGURADA.

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Comprovados os fatos narrados na peça defensiva quanto ao
cometimento de ato de mau procedimento e indisciplina pelo
trabalhador, evidencia-se motivo forte o suficiente para a ruptura
do liame por justa causa, a teor do disposto no art. 482, alíneas 'b' e
'h' da CLT. Apelo autoral a que se nega provimento. (Processo: RO -
0000769-90.2016.5.06.0313, Redator: Maria das Gracas de Arruda
Franca, Data de julgamento: 20/03/2017, Terceira Turma, Data da
assinatura: 20/03/2017)
(TRT-6 - RO: 00007699020165060313, Data de Julgamento:
20/03/2017, Terceira Turma)

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RECURSO ORDINÁRIO. JUSTA CAUSA CONFIGURADA. MAU


PROCEDIMENTO.
O mau procedimento se caracteriza pelo comportamento
inadequado do empregado, violando regras de conduta. Ainda
que o empregado tenha vida pregressa ilibada, se demonstrada a
gravidade da conduta, causando prejuízo no ambiente laborativo
ou das obrigações contratuais, é justificada a aplicação da justa
causa. Demonstrado, ainda, que a empresa tentou reverter o
contrato de trabalho à normalidade, aplicando advertências ao
empregado e este não demonstrou interesse e reiterou o mau
comportamento. Recurso provido no tópico. (Processo: RO -
0001333-94.2014.5.06.0101, Redator: Paulo Alcantara, Data de
julgamento: 11/08/2016, Quarta Turma, Data da assinatura:
11/08/2016)
(TRT-6 - RO: 00013339420145060101, Data de Julgamento:
11/08/2016, Quarta Turma)

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DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA. PROPORCIONALIDADE DA
PENA TRABALHISTA. CONFIGURAÇÃO.
A PROVA DEMONSTROU QUE O RECORRENTE DESCUMPRIU
REGRAS DAS QUAIS SABIA OU DEVERIA
OBRIGATORIAMENTE SABER RELATIVAMENTE AO CÓDIGO
DE ÉTICA DO BANCO NO ASPECTO RELATIVO AO CONFLITO
DE INTERESSES QUANDO DA CONCESSÃO DE CRÉDITO
ENVOLVENDO CÔNJUGE OU PARENTES.
É CERTO, AINDA, QUE O PROCESSO DISCIPLINAR BEM
DEMONSTROU AS IRREGULARIDADES COMETIDAS, AS QUAIS
AUMENTARAM OS RISCOS DE PERDAS FINANCEIRAS PARA A
INSTITUIÇÃO BANCÁRIA, CIRCUNSTÂNCIAS QUE SEM DÚVIDA
AUTORIZAM A APLICAÇÃO DA PENA TRABALHISTA CAPITAL -
DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA (ART. 482 ,"A", DA CLT )- ANTES
MESMO DE QUALQUER ADVERTÊNCIA OU SUSPENSÃO
PRÉVIA, DADA A GRAVIDADE DA CONDUTA E A QUEBRA DA
FIDÚCIA INDISPENSÁVEL À CONTINUAÇÃO DO LIAME
EMPREGATÍCIO.
RECONHECIDA A DISPENSA POR JUSTA CAUSA, DE MODO
ALGUM PODE PROSPERAR QUALQUER PEDIDO DECORRENTE
DO AFASTAMENTO DE TAL MODALIDADE RESCISÓRIA.
RECURSO DESPROVIDO.
(TRT-19 - RO: 00000176920175190007 0000017-
69.2017.5.19.0007, Relator: João Leite, Data de Publicação:
04/07/2018)

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JUSTA CAUSA CONFIRMADA. QUEBRA DE FIDÚCIA E isso


porque, conforme se verifica do relatório supra, a reclamante
expressamente reconhece que "violou um preceito do Código de
Ética Profissional do seu Conselho de Classe", adotando

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comportamento que, sem sombra de dúvida, poderia gerar reflexos
negativos na esfera jurídica de seu empregador. A reclamante, à
toda evidência, traiu a confiança da reclamada, estando mais que
justificado o despedimento por justa causa.
(TRT-1 - RO: 00110070520145010047 RJ, Relator: IVAN DA
COSTA ALEMAO FERREIRA, Data de Julgamento: 20/03/2018,
Gabinete do Desembargador Ivan da Costa Alemão Ferreira, Data
de Publicação: 05/04/2018)
(destaques nossos)

Vale destacar que a situação foi encaminhada para a análise da


Comissão de Ética e Disciplina – CED para apuração da falta grave cometida peloa
reclamante Reclamante e aplicação da penalidade, sendo aplicada a dispensa
motivada.

Frisa-se que a apuração da desídia para a justa causa ocorreu em


tempo extremamente razoável, logo que recebida a denúncia no dia 07/04/2021
houve a apuração ouvindo a Reclamante perante o RADAR (Canal de Atendimento
e Acolhimento do empregado), apuradas as imagens internas, sendo aplicada a
justa causa em 13/04/2021, ou seja, em menos de 30 (trinta) dias defendidos pela
doutrina e jurisprudências, observando o princípio da imediatidade.

Tal prazo, é perfeitamente aceitável, até porque necessária é a


devida apuração formal e material da falta grave, ainda mais para empregado que
detém certa estabilidade. Vejamos entendimentos neste sentido:

DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA. DESÍDIA. IMEDIATIDADE. A


imediatidade não significa no mesmo instante, há que se ter em
conta a realidade dos fatos, bem como a existência de trâmites
internos para a concretização da medida que pode levar
determinado tempo, notadamente se considerado que a

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Reclamada se trata de uma pessoa jurídica de direito público. No
caso concreto, tem-se que o Reclamante acumulou 42 (quarenta e
duas) faltas durante o período aquisitivo, ou seja, em menos de um
ano (03.11.2010 à 19.10.2011), sendo a última falta 7 (sete) dias
antes da demissão por justa causa. Tal lapso temporal não
significa perdão tácito, uma vez que, como dito, se trata de pessoa
jurídica de direito público, necessário um prazo para os trâmites
internos. Portanto, correta a demissão com justa causa por desídia.
Acolhe-se o apelo
(TRT2 – Processo: RO 18391820125020 SP 20130010872 - Orgão
Julgador: 14ª TURMA – Publicação: 10/05/2013 – Julgamento: 2 de
Maio de 2013 – Relator: FRANCISCO FERREIRA JORGE NETO)

======

JUSTA CAUSA. IMEDIATIDADE DA PUNIÇÃO. PRESUNÇÃO DE


PERDÃO.
Os critérios da atualidade da falta, imediatidade da punição e
presunção de perdão sinaliza que a punição deve guardar
imediatidade. Isso significa que a falta deve ser punida tão logo o
empregador dela tome conhecimento, admitindo a doutrina o
prazo máximo de trinta dias entre o conhecimento da falta e a
punição. Embora haja elastecimento do prazo em caso de
procedimento administrativo interno, a falta não punida até trinta dias
após a conclusão do procedimento administrativo interno presume-
se perdoada.
...
Recursos conhecidos e parcialmente providos.
(TRT-10 - RO: 265200502010000 DF 00265-2005-020-10-00-0,
Relator: Juíza CILENE FERREIRA AMARO SANTOS, Data de
Julgamento: 24/08/2005, 1ª Turma, Data de Publicação: 02/09/2005)

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JUSTA CAUSA - IMPROBIDADE - IMEDIATIDADE E IMEDIATISMO


- FATOS NÃO PRATICADOS EM AMBIENTE FÍSICO, MAS
VIRTUAL - APURAÇÃO DOS FATOS INICIADA NO MESMO DIA E
FINDA TREZE DIAS APÓS AUSÊNCIA DE PERDÃO TÁCITO.
A imediatidade não é mensurada por lei, não sendo estabelecido
por lei um prazo determinado para que o empregador exercite o
seu poder disciplinar antes da configuração do perdão tácito. Nada
que configure manifestação da vontade fictícia em Direito do
Trabalho ocorre com menos do que a fluência do prazo de 30
(trinta) dias, a exemplo do que ocorre com o abandono de emprego
pelo empregado. A própria doutrina e jurisprudência trabalhista
recomenda ao empregador que apure os fatos que dão ensejo à
justa causa antes de deliberar sobre a demissão do empregado.
Imediatidade não se confunde com imediatismo, pois este
ignora a razão, implantando a cultura do mero arbítrio ignorante
e apressado, desconsiderando seis milênios de evolução do direito
escrito, desde o Código de Hammurabi, e muitos outros milênios de
evolução do direito consuetudinário, para submeter o imediatismo ao
império da racionalidade civilizada. Se o fato ocorreu no dia
27/02/2013 (uma quarta-feira) e foi detectado pelo RH no mesmo
dia, com envio de email ao seu suposto remetente, no mesmo dia à
tarde ou na manhã do dia seguinte (uma quinta-feira), significa que a
investigação dos fatos teve início imediatamente e encerrou no dia
12/03/2013 (uma terça-feira), 13 (treze) dias após, incluindo os
sábados e os domingos intercorrentes, sendo inquestionável a
imediatidade da reação do empregador ao tomar conhecimento dos
fatos. Há de ser ponderado que a apuração dos fatos concernentes
a uma justa causa por improbidade requer muito mais cautela e
temperança do que uma falta leve, especialmente quando esses
atos não foram praticados em ambiente físico, mas virtual.

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(TRT-3 - RO: 00502201314603002 0000502-26.2013.5.03.0146,
Relator: Milton V.Thibau de Almeida, Quinta Turma, Data de
Publicação: 09/12/2013 06/12/2013. DEJT. Página 189. Boletim:
Sim.)
(destaques e grifos nossos)

Com efeito, não há que falar em reversão da justa causa, pois as


provas documentais são claras, robustas e contundentes em comprovar o
comportamento antiético e mau procedimento da Reclamante, os quais poderão
ainda a ser corroborados pelas oitivas a serem colhidas.

Com efeito, houve falta grave da Reclamante que justificou o


rompimento do contrato de trabalho por justa causa, a qual deve ser mantida.

3 – DOS PRESSUPOSTOS DA RESCISÃO INDIRETA e VERBAS RESCISÓRIAS

Alega o Reclamante que com a reversão da justa causa teria direito


ao recebimento das verbas: saldo de salário, aviso prévio, décimo terceiro salário
proporcional, férias vencidas e proporcionais, levantamento do FGTS e sua multa de
40% e documentos para habilitação no Seguro Desemprego.

Razão não lhe assiste, ficando impugnadas as verbas e valores


pleiteados e devendo manter-se a justa causa.

Excelência, diante das alegações impugnadas e da ausência de


provas pela Reclamante, não há que falar em reversão da justa causa para a
rescisão indireta por culpa do Reclamado.

Ora Excelência, para aplicação de toda e qualquer justa causa pelo


empregado, nos moldes do artigo 482 da CLT, além de ser observada a existência

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da falta e sua gravidade, a falta deve ser atual e guardar imediatidade entre a
sua ocorrência e a aplicação da pena, sob pena de ser afastada.

Data vênia, com a rescisão indireta pleiteada pelo empregado os


requisitos são exatamente os mesmos, sendo imprescindível a observância de
todos os requisitos legais, dentre eles, a prova cabal do fato alegado pela parte
que o invoca, sua gravidade e imediatidade, sendo que in casu, conforme já
explicitado, não há que se cogitar em rescisão indireta do contrato de trabalho por
qualquer fato alegado pela Reclamante, pois sequer existiram.

E por fim, inexistindo qualquer irregularidade praticada por seu


empregador, compete a Reclamante o ônus de comprovar os fatos constitutivos de
seu pedido, nos termos do disposto nos Arts. 818 da CLT, pois tais fatos são
constitutivos de seu pedido. Vejamos:

EMENTA: RESCISÃO INDIRETA. ÔNUS DA PROVA.


Tratando-se de fatos constitutivos do direito postulado, cabe à
parte autora o ônus de provar os descumprimentos contratuais
atribuídos à empregadora, suficientes a ensejar a rescisão indireta
do contrato de trabalho. Tendo se desincumbindo do seu encargo
probatório, impõe-se a manutenção da sentença que deferiu o pleito
da empregada, deferindo as verbas rescisórias decorrentes dessa
modalidade de ruptura contratual. Recurso da reclamada a que se
nega provimento, neste ponto.
(TRT18, RO - 0011287-16.2016.5.18.0052, Rel. PLATON TEIXEIRA
DE AZEVEDO FILHO, 2ª TURMA, 23/06/2017)
(destaque nosso)

Por todo o exposto, resta comprovado que não houve


descumprimento do contrato de trabalho pelo Reclamado capaz de ensejar a
rescisão do contrato de trabalho prevista em qualquer das alíneas do Art. 483 da

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CLT, devendo ser declarada a improcedência de qualquer pedido – direto ou reflexo
– de rescisão indireta do contrato de trabalho.

Vejamos nossa jurisprudência neste sentido:

RESCISÃO INDIRETA. Para o reconhecimento da despedida


indireta é preciso que a motivação seja relevante e dificulte
sobremaneira a continuidade da relação de emprego, o que não
acontece quando as supostas anormalidades apontadas são
insuficientes para caracterizar falta grave patronal capaz de abalar a
preservação do vínculo empregatício.
(TRT18, RO - 0011227-66.2014.5.18.0261, Rel. GENTIL PIO DE
OLIVEIRA, 1ª TURMA, 03/12/2014)

===

RESCISÃO INDIRETA. PERIGO MANIFESTO DE MAL


CONSIDERÁVEL NÃO CONFIGURADO.
A justa causa do Empregador, por se tratar de exceção ao que
ordinariamente ocorre (dispensa sem justa causa) e decorrente de
uma infração praticada, capaz de quebrar a relação de fidúcia
existente as partes, tal qual se exige no caso de dispensa por justa
causa (CLT, Artigo 482), deve ser cabalmente comprovada pelo
Empregado (CLT, Artigo 818 e CPC, Artigo 333). Não logrado êxito
em comprovar à submissão a perigo manifesto
(TRT-15 - RO: 14975720125150108 SP 040006/2013-PATR,
Relator: HELCIO DANTAS LOBO JUNIOR, Data de Publicação:
17/05/2013)

===

RESCISÃO INDIRETA. FALTA GRAVE DO EMPREGADOR.

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Forma de cessação indireta do pacto laboral, a rescisão indireta
exige, para a sua configuração, prova robusta e convincente
quanto a ação ou omissão do empregador que se enquadre em
uma das hipóteses arroladas no art. 483 da CLT, adotada no
pedido. Quando esta prova não se faz, lógico é o indeferimento do
pedido.
(TRT18, RO - 0010060-46.2013.5.18.0003, Rel. EUGÊNIO JOSÉ
CESÁRIO ROSA, 1ª TURMA, 29/04/2014)
(destaques nossos)

Portanto, requer a improcedência do pedido de rescisão indireta


por culpa deste Reclamado, e, consequentemente, do pedido de pagamento
das verbas trabalhistas e rescisórias decorrentes desta modalidade de
rescisão contratual, pleiteadas pela Reclamante, tais como: saldo de salário,
aviso prévio, férias vencidas e proporcionais + 1/3, décimo terceiro salário
proporcional, depósitos do FGTS e multa de 40% e guias para seguro
desemprego, os quais restam veemente impugnados os valores pleiteados na
exordial com seus reflexos. É o que requer!

Das Verbas Rescisórias e do TRCT: de acordo com o TRCT ora


juntado verifica que as verbas rescisórias frente à dispensa motivada foram
devidamente computadas: saldo de salário, férias vencidas e seu 1/3, bem como
outras verbas trabalhistas devidas.

Veja que foram descontados os valores da previdência social e o


vale alimentação dos demais dias não laborados, sendo que todas as deduções são
lícitas.

a) Saldo de Salário – impugna o valor de saldo de salário apontado


pela Reclamante, haja vista, segundo o TRCT juntado, o mesmo foi computado em
14 (quatorze) dias e pagos.

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Assim, ainda que cogitasse a reversão da justa causa, não há que
falar em pagamento de saldo de salário, pois já foi pago.

b) Aviso Prévio Indenizado – não cabe aviso prévio quando há


dispensa motivada. Impugna-se!

c) Férias Vencidas e Proporcionais + 1/3 – no bojo de sua exordial


a Reclamante requer o pagamento de férias vencidas e proporcionais
correspondente a 11/12 avos, todas acrescidas de seu 1/3.

Como se vê no TRCT juntado as férias integrais acrescidas de seu


1/3 foram devidamente pagas. Já as férias proporcionais com seu 1/3 são indevidas
frente à modalidade da dispensa motivada. Impugna-se!

E mesmo que fosse cogitada a reversão da justa causa, o que


apenas argumenta-se, não seriam devidas férias proporcionais de 11/12 avos,
mesmo que levasse em conta a projeção do aviso prévio como requer a
Reclamante. Ora, do inicio de novo período em 08/07/2020 a data da dispensa em
14/04/2021 são apenas 9/12 avos, não tendo que falar em projeção do Aviso Prévio,
pois este seria indenizado. Impugna-se o pedido da Reclamante.

d) 13º Salário Proporcional – não há que falar em pagamento de


13º salário proporcional em caso de dispensa motivada. Impugna-se!

E mesmo que fosse cogitada a reversão da justa causa, o que


apenas argumenta-se, não seriam devidos 13º salário de 5/12 avos, pois não
haveria que falar em projeção do Aviso Prévio, pois este seria indenizado. Impugna-
se o pedido da Reclamante.

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e) Do FGTS e Multa Rescisória – conforme vem se discutindo, a
Reclamante não tem direito ao levantamento do FGTS em virtude da modalidade de
rescisão do contrato de trabalho, ou seja, dispensa motivada.

Contudo, vale ressaltar que o recolhimento do FGTS ocorreu


regularmente no contrato de trabalho (extratos anexos), não tendo que falar em
qualquer depósito ou integralização/complemento neste momento processual (o que
também não é pedido).

A multa de 40% sobre o FGTS também é indevida na dispensa


motivada. Assim, não há que falar em liberação de guias, TRCT e chave de
conectividade para o levantamento do saldo em conta vinculada.

Portanto não deve prosperar o pedido de liberação do saldo do


FGTS e tampouco no pagamento da multa fundiária, nem mesmo na entrega de
documentos a serem apresentados para seu levantamento.

f) Do Seguro Desemprego – igualmente ao que ocorre com o


FGTS, não há que falar em liberação de guias para habilitação e percepção do
seguro desemprego, uma vez que na dispensa motivada não há direito sobre tal
benefício.

Noutro norte, quanto à indenização substituta esboçada na inicial, na


verdade caberia a Reclamante sua habilitação no órgão previdenciário para a
percepção do benefício e não o pagamento pelo Reclamado de tal verba, restando a
este tão somente a liberação de documentos para a devida habilitação, o que, com
visto no caso, não é cabível.

Com efeito, deve ser julgado improcedente o pedido de pagamento


de Seguro Desemprego por este Reclamado, bem como a liberação de documentos
pelo mesmo.

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g) Da Baixa da CTPS: a Reclamante pleiteia a anotação da baixa
na CTPS “devendo constar em sua CTPS como o último dia de trabalho a data de
13/04/2021, pela projeção do aviso prévio de 36 dias até o dia 19/05/2021...”

De início a Reclamante não deixa claro qual data pretende a


anotação, se 13/04/2021 ou se 19/05/2021 devido a projeção. No mais, impugna-se
qualquer data que não seja o dia da dispensa (14/04/2021) como no Aviso de
Dispensa, tendo em vista que o seu desligamento ocorreu nesta data e a aplicação
da dispensa por justa causa ocorreu de forma lícita.

Assim, improcede o pedido de anotação da CTPS como querido pela


Reclamante a qual leva em consideração a projeção do Aviso Prévio, devendo a
mesma disponibilizar sua CTPS para anotação conforme Notificação de
Dispensa, ou seja, com data de 13/04/2021.

De ressaltar que não foi anotada a baixa na CTPS da Reclamante


porque ela não compareceu à sede do Reclamado para tanto, pois conforme
informado na Notificação de Dispensa no dia 23/04/2021 ela deveria comparecer à
sede deste Reclamado, no entanto, como informado, não compareceu, sendo ainda
assim realizado o pagamento das verbas rescisórias conforme TRCT e documentos
anexos.

4 – DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

A Reclamante pleiteia de honorários sucumbenciais no percentual


máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor de seus pleitos, e, ainda que não
seja deduzido nenhum valor, caso haja condenação e saldo para a Reclamante.

Sem razão. Impugna-se!

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De início a Lei Trabalhista já tem regramento próprio definindo a
condenação de honorários sucumbenciais, conforme estabelecem Art.’s 790-B, § 4º,
art. 791-A, § 4º, e art. 844, § 2º da CLT, com alterações da Lei 13.467/2017.

Para o caso, não há que falar em não dedução de possível valor de


honorário sucumbencial sobre as possíveis verbas trabalhistas, porventura deferidas
ao empregado, pois a i. Corte Superior do trabalho já tem precedentes no sentido de
que não há inconstitucionalidade no Art. 791-A, § 1º da CLT, porque a condenação
do empregado ao pagamento dos honorários sucumbenciais, em todo caso e
sentido, submete-se sim à existência de valores ao mesmo para tanto.

Neste sentido a 3ª e 4ª Turmas daquela i. Corte Superior já


manifestaram no seguinte entendimento:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A


ÉGIDE DAS LEIS Nos 13.015/2014, 13.105/2015 E 13.467/2017.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. AÇÃO AJUIZADA APÓS A
VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 791-A,
§ 4º, DA CLT.
1. A Reforma Trabalhista, implementada pela Lei nº 13.467/2017, sugere
uma alteração de paradigma no direito material e processual do trabalho.
No âmbito do processo do trabalho, a imposição pelo legislador de
honorários sucumbenciais ao reclamante reflete a intenção de
desestimular lides temerárias. É uma opção política.
2. Por certo, sua imposição a beneficiários da Justiça gratuita requer
ponderação quanto à possibilidade de ser ou não tendente a suprimir o
direito fundamental de acesso ao Judiciário daquele que demonstrou ser
pobre na forma da Lei.
3. Não obstante, a redação dada ao art. 791, § 4º, da CLT, demonstrou
essa preocupação por parte do legislador, uma vez que só será exigido do
beneficiário da Justiça gratuita o pagamento de honorários advocatícios se

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ele obtiver créditos suficientes, neste ou em outro processo, para retirá-lo
da condição de miserabilidade. Caso contrário, penderá, por dois anos,
condição suspensiva de exigibilidade. A constatação da superação do
estado de miserabilidade, por óbvio, é casuística e individualizada.
4. Assim, os condicionamentos impostos restauram a situação de isonomia
do atual beneficiário da Justiça gratuita quanto aos demais postulantes.
Destaque-se que o acesso ao Judiciário é amplo, mas não incondicionado.
Nesse contexto, a ação contramajoritária do Judiciário, para a declaração
de inconstitucionalidade de norma, não pode ser exercida no caso, em que
não se demonstra violação do princípio constitucional de acesso à Justiça.
Agravo de instrumento conhecido e desprovido.
(Processo n. AIRR - 2054-06.2017.5.11.0003 – 3ª Turma do TST - Relator
Min. ALBERTO BRESCIANI – PUBLICADO NO DJ EM 31/05/2019)

====

"RECURSO DE REVISTA DO AUTOR - CONDENAÇÃO DO


BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA AO PAGAMENTO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS -
COMPATIBILIDADE DO ART. 791-A, § 4º, DA CLT COM O ART. 5º,
CAPUT , XXXV e LXXIV, DA CF - TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA
RECONHECIDA.
...
3. Conforme se extrai do acórdão recorrido, o Autor, que litiga sob o
pálio da justiça gratuita, foi condenado ao pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais em benefício da Reclamada, no
percentual de 5% sobre o valor liquidado dos pedidos julgados
improcedentes na presente reclamação trabalhista.
4. Como é cediço, a Reforma Trabalhista, promovida pela Lei
13.467/17, ensejou diversas alterações no campo do Direito
Processual do Trabalho, a fim de tornar o processo laboral mais

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racional, simplificado, célere e, principalmente, responsável, sendo
essa última característica marcante, visando coibir as denominadas
"aventuras judiciais", calcadas na facilidade de se acionar a Justiça,
sem nenhum ônus ou responsabilização por postulações carentes
de embasamento fático.
5. Não se pode perder de vista o crescente volume de processos
ajuizados nesta Justiça Especializada, muitos com extenso rol de
pedidos, apesar dos esforços empreendidos pelo TST para redução
de estoque e do tempo de tramitação dos processos.
6. Nesse contexto foram inseridos os §§ 3º e 4º no art. 791-A da CLT
pela Lei 13.467/17, responsabilizando-se a parte sucumbente, seja a
autora ou a demandada, pelo pagamento dos honorários
advocatícios, ainda que beneficiária da justiça gratuita, o que reflete
a intenção do legislador de desestimular lides temerárias, conferindo
tratamento isonômico aos litigantes. Tanto é que o § 5º do art. 791-A
da CLT expressamente dispôs acerca do pagamento da verba
honorária na reconvenção. Isso porque, apenas se tiver créditos
judiciais a receber é que terá de arcar com os honorários se fizer jus
à gratuidade da justiça, pois nesse caso já não poderá escudar-se
em pretensa insuficiência econômica.
7. Percebe-se, portanto, que o art. 791-A, § 4º, da CLT não colide
com o art. 5º, caput , XXXV e LXXIV, da CF, ao revés, busca
preservar a jurisdição em sua essência, como instrumento
responsável e consciente de tutela de direitos elementares do ser
humano trabalhador, indispensáveis à sua sobrevivência e à da
família.
8. Ainda, convém ressaltar não ser verdadeira a assertiva de que a
imposição de pagamento de honorários de advogado àquele que se
declara pobre na forma da lei implica desvio de finalidade da norma,
onerando os que necessitam de proteção legal, máxime porque no
próprio § 4º do art. 791-A da CLT se visualiza a preocupação do
legislador com o estado de hipossuficiência financeira da parte

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vencida, ao exigir o pagamento da verba honorária apenas no
caso de existência de crédito em juízo, em favor do beneficiário
da justiça gratuita, neste ou em outro processo, capaz de
suportar a despesa que lhe está sendo imputada, situação,
prima facie , apta a modificar a sua capacidade financeira, até
então de miserabilidade, que justificava a concessão de
gratuidade, prestigiando, de um lado, o processo responsável, e
desestimulando, de outro, a litigância descompromissada.
9. Por todo o exposto, não merece reforma o acórdão regional que
manteve a imposição de pagamento de honorários advocatícios ao
Autor sucumbente, restando incólumes os dispositivos
constitucionais apontados como violados na revista, valendo o
registro que, à luz do art. 896, § 9º, da CLT e da Súmula 442 do
TST, a indicação de afronta a dispositivo de lei nem sequer daria
ensejo ao apelo, por se tratar de recurso submetido a procedimento
sumaríssimo. Recurso de revista não conhecido"
(RR-1000231-60.2018.5.02.0046, 4ª Turma, Relator Ministro Ives
Gandra Martins Filho, DEJT 06/12/2019).
(destaques nossos)

Assim, nenhuma decisão que contrarie o que já decidido pela


Corte Superior, por mais que tenha outros fundamentos, não serve para vedar
a condenação do empregado nos honorários sucumbenciais e sua dedução
das possíveis verbas deferidas a ele.

Não se pode deixar de levar em consideração a natureza dos


honorários sucumbenciais, que, segundo o § 14º do Art. 85 do NCPC atingiu
plenamente, e sem discussão alguma, a natureza alimentar. Vejamos:

Art. 85...

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§ 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza
alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da
legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de
sucumbência parcial.

Veja que os honorários sucumbenciais foram reconhecidos como


alimentares, similares aos créditos trabalhistas, ou seja, gozam dos mesmos
benefícios que a condenação trabalhista confere ao reclamante empregado.

Com efeito, dizer que os créditos da Reclamante porventura aferidos


na condenação são maiores e mais especiais do que os créditos dos honorários
sucumbenciais é vilipendiar a isonomia que ambas as verbas têm: natureza
alimentar.

No mais, se houver condenação de honorários advocatícios, esta


deverá ser em favor dos advogados do Reclamado, pois improcedentes os pleitos
da Reclamante.

Ora, os pedidos da Reclamante são infundados e devem ser


julgados improcedentes. Ainda, mesmo que fosse julgado procedente algum pedido
da exordial, o que não se espera, a Reclamante não faria jus ao valor da
sucumbência.

Isto porque o Reclamado certamente decairia em parte mínima dos


pedidos da Reclamante, e com isto a Reclamante não faria jus a qualquer percentual
aos seus patronos, mas sim, pagaria os honorários aos patronos do Reclamado por
este decair minimamente nos pedidos.

Alternativamente, em caso de eventual condenação, o percentual


deve observar os preceitos do Art. 791-A da CLT, que estabelece grau mínimo de
5% (cinco por cento) e grau máximo de 15% (quinze por cento).

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Assim, improcede também o pedido de honorários advocatícios para
os patronos da Reclamante, ainda mais em grau máximo (15%), com ela requer.
Caso ocorra condenação neste sentido, o que não se espera, mas argumenta-
se, deve ser observada a gradação mínima para a presente lide, observado
ainda o limite legal

E por fim, como visto, sucumbente a Reclamante, ainda que seja


agraciada com os benefícios da assistência judiciária, já que os honorários
sucumbenciais atingiram o patamar de verba alimentícia (§ 13º do Art. 85 do NCPC),
não há que falar em suspensão da cobrança dos mesmos, podendo os honorários
serem abatidos da verba porventura deferida à Reclamante em seus pleitos. É o que
desde já se pede.

5 – DOS DOCUMENTOS JUNTADOS PELA RECLAMANTE e VALORES DOS


PEDIDOS

Inobstante as impugnações já realizadas nos tópicos acima,


impugnam-se todos os documentos juntados com a Inicial em sua totalidade,
vez que em nada corroboram as alegações da obreira, não fazendo qualquer prova
a favor da Reclamante.

Ademais, outros documentos que ilidem as pretensões da


Reclamante estão sendo juntados com a presente peça.

Ainda, impugna-se todos os valores apontados pela Reclamante em


seus pedidos, bem como reflexos pedidos, haja vista que são indevidos e não
condizem com a realidade dos fatos.

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Se houver deferimento de alguma verba pleiteada, que os valores
sejam apurados de acordo com os documentos dos autos e a instrução que se
realizar, em especial com as folhas de ponto e contracheques.

6 - DA CORREÇÃO MONETÁRIA

Ainda que se pudesse imaginar a procedência de algum dos pedidos


da Reclamante, o que se admite apenas a título de argumentação, deverá ser
considerado o disposto na Súmula nº 381, do C. TST. Assim, no caso de eventual
condenação, o valor devido deverá ser corrigido somente a partir do 5º dia útil do
mês subsequente ao trabalhado.

Assim, deve ser aplicada TR como índice de correção!

7 - JUROS DE MORA

Mesmo que da presente reclamatória advenha a condenação da


Reclamada, o que se admite somente por amor ao debate, correto afirmar que sobre
tal montante somente incidirá juros em sua modalidade simples, nos exatos termos
da Lei nº 8.177/91.

8 - DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS

Em caso de eventual condenação da Reclamada, os encargos


previdenciários e fiscais deverão, vênia permissa, ser descontados de eventual
montante a ser auferido pelo Reclamante. Deve, portando, ser observado o disposto
na Instrução Normativa nº 01/96, bem como na Súmula nº 368, do C. TST,
notadamente no que se refere ao critério de cálculo do IR e do INSS.

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IV - CONCLUSÃO

Ex positis, REQUER o acolhimento das matérias de defesa, para


ao final:

a) Seja julgado IMPROCEDENTE o pedido de reversão da justa


causa, mantendo a justa causa aplicada;

b) Seja julgado IMPROCEDENTE o pedido de pagamento das


verbas rescisórias, com requer a Reclamante, uma vez foram
devidamente apuradas e pagas conforme TRCT e documentos da
rescisão;

c) Em caso de reversão da justa causa , o que não


espera, mas argumenta, que seja julgado
IMPROCEDENTE o pedido de pagamento de saldo de
salário e férias integrais com seu 1/3, pois já pagos,
bem como seja improcedente a projeção do Aviso
Prévio para fins de rescisão e pagamento de férias
proporcionais com seu 1/3 e 13º salário, como
pretendido pela Reclamante;

d) Seja julgado IMPROCEDENTE o pedido de pagamento de


honorários sucumbenciais no percentual de 15% (quinze por
cento), devendo ser condenada a Reclamante ao pagamento dos
honorários;

e) Caso haja condenação em favor dos patronos da


Reclamante, o que apenas argumenta-se, que seja
estabelecido patamar entre o mínimo legal e o máximo,

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rechaçando de plano o pedido de pagamento já em grau
máximo realizado pela Reclamante;

f) Caso haja sucumbência reciproca a título de honorários


sucumbenciais, que seja indeferido o pedido da
Reclamante de não dedução de seus créditos, posto que
a dedução é constitucional;

g) Caso seja deferido algum dos pedidos de pagamento, que seja


realizada a compensação das verbas já pagas a Reclamante, tudo
conforme descrito no TRCT e documentos anexos;

h) Que todas as intimações sejam realizadas tão somente em nome


da advogada Dra. Margareth Feitas Silva, inscrita na OAB/GO
sob o nº 21.362, nos termos do art. 236, § 1º do CPC, sob pena de
nulidade plena.

Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, em


especial pelo depoimento pessoal da Reclamante, sob pena de confesso (Enunciado
74 do TST), bem como a juntada de novos documentos, oitiva de testemunhas,
pericial, expedição de ofícios, além de outras que se fizerem necessárias.
 

Goiânia, 04 de junho de 2021

Margareth de Freitas Silva Vinícius Renner S. V. Rodrigues


OAB/GO 21.36 OAB/GO 28.497

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